A SUPREMA AMBIÇÃO DE UM APÓSTOLO
T. Austin-Sparks
“Para
que eu possa conhecê-Lo, e o poder da Sua
ressurreição, e a comunicação dos Seus
sofrimentos, conformando-me a Ele na Sua morte”.
Filipenses 3.10
Há
muitas palavras nos escritos de Paulo que
revelam o quão comprometido este homem estava
com o Senhor Jesus. Todo o contexto é um
derramamento consumado do seu coração diante
daquele que o tinha feito “prisioneiro”, e ele
resume tudo em uma pequena sentença: “Para que
eu possa conhecê-lo”
O que
impressiona a respeito dessa expressa ambição é
o tempo na qual ela é feita. Aqui está um homem
que tem tido uma revelação e um conhecimento de
Jesus Cristo maior do que qualquer outro teve
até aquele tempo. Tal conhecimento teve início a
partir do momento em que ele disse: “quando
aprouve a Deus revelar o Seu Filho em mim”. Este
início devastou o apóstolo, e o levou para o
deserto, a fim de que compreendesse todas as
implicações. Mais tarde ele “foi arrebatado ao
paraíso, e ouviu palavras inefáveis, as quais
não eram lícitas ao homem referir”. Entre, e ao
redor dessas duas experiências, há uma evidência
de um conhecimento de Cristo cada vez mais
crescente. Aqui, após tudo aquilo, já próximo do
final da vida, ele está desejando fervorosamente:
“Para que eu possa conhecê-lo”
O
mínimo que podemos dizer sobre isto é que o
Cristo que se estava em vista era de fato um
Cristo muito maior, e que superava qualquer
capacidade de compreensão humana. Isto é um
tremendo contraste ao limitado Cristo que
reconhecemos e aprendemos! O quanto mais há de
Cristo além do que nós já temos! Vamos analisar
melhor o versículo. Ele está dividido por suas
principais palavras, e pode ser declarado
através de quatro frases:
1) O
sentimento que predomina: “Para que eu possa
conhecê-lo”.
2) O
poder efetivo: “O poder da Sua ressurreição”
3) A
base essencial: “A comunicação de Seus
sofrimentos”
4) O
princípio progressivo: “Conformado à Sua morte”
1. O SENTIMENTO QUE PREDOMINA
“Para
que eu possa conhecê-lo”
Aqui,
um pequeno estudo sobre a etimologia das
palavras é ao mesmo tempo útil quanto necessário.
Na língua original do Novo Testamento, há duas
palavras para “saber” ou “conhecer”. Elas
aparecem em inúmeras ocasiões e conexões em todo
Novo Testamento.
Uma
dessas palavras significa “conhecimento através
da informação”; ser avisado através da leitura
ou através de alguém. É mais um conhecimento que
vem pela observação, pelo estudo, pela pesquisa,
ou conversa. É um conhecimento sobre coisas,
pessoas, etc. A outra palavra tem o sentido de
uma experiência pessoal, conhecimento íntimo; um
conhecimento interior. Algumas vezes há um
prefixo que dá o significado de “conhecimento
total” (epi). E é esse o sentido que Paulo está
usando aqui: “Para que eu possa ter ou ganhar
mais do conhecimento Dele”; é uma experiência
pessoal, através de uma relação pessoal, de vida,
de um relacionamento em primeira mão com Ele.
Isto remove qualquer coisa do terreno da mera
teoria, do intelecto, do ouvir dizer. É o
resultado e o efeito da ação do Espírito Santo
que está dentro de nós. Este é o porque de Paulo
ter associado este conhecimento com o do “poder
da Sua ressurreição, e a comunicação dos Seus
sofrimentos”. É um conhecimento poderoso, que
nasce a partir de uma profunda experiência. E
este é o único e verdadeiro conhecimento de
Cristo! Que é plantado e profundamente forjado
na vida interior.
2. O PODER EFICAZ
“O
poder da Sua ressurreição”
Embora
haja um aspecto futuro na afirmação como um todo,
isto é, da consumação em glória, devemos
compreender que, em cada uma dessas frases,
Paulo está pensando sobre a vida presente. Até
mesmo no versículo seguinte, onde ele fala em
alcançar esta “ressurreição dos mortos”,
primariamente ele está se referindo a uma
ressurreição moral e espiritual presente. Ele já
tinha conhecido algo deste poder. Sua conversão
foi um exemplo disso. Muitas e muitas vezes,
aquilo que ele chamou de “morte diária” , ele já
tinha experimentado. Talvez as suas maiores
experiências foram na Ásia e Listra (IICor. 1.9;
Atos 14.19,20) O poder da ressurreição e a vida
são o conhecimento de Cristo. É assim que nós o
conhecemos, e isto está disponível para cada
cristão. Sua finalidade é o de produzir
resistência, força para vencer, para cumprir o
ministério, para manter o testemunho do Senhor
neste mundo; para cada necessidade que seja
exigida, em relação aos interesses de Cristo, e
de Sua glória. O poder da ressurreição põe a
vida sobre uma base sobrenatural. O poder de Sua
ressurreição é o maior milagre da história.
3. A BASE FUNDAMENTAL
“A
comunicação dos Seus sofrimentos”
Em
conexão a isto, há algumas coisas que devemos
distinguir. Houve sofrimentos de Cristo que nós
não experimentamos, e também não somos chamados
para experimentar, muito embora, algumas vezes,
pareça haver uma linha muito fina entre eles.
Nós não experimentamos os sofrimentos
expiatórios de Cristo. São sofrimentos que foram
só Dele. A obra de redenção do homem foi somente
Dele, por nós. Quando Ele, que era sem pecado,
foi feito pecado por nós, Ele estava sozinho,
até mesmo Deus o abandonou naquele momento
eterno. Sobre este fato de Sua pessoa, depende
toda a Sua verdade, e também repousa todo
sistema do sacrifício perfeito; o Cordeiro
imaculado. Mas, quando tudo isso é aceito e
estabelecido, há sofrimentos de Cristo nos quais
temos que experimentar junto com Ele. Nós também,
por causa Dele, podemos ser desprezados e
rejeitados pelos homens. Podemos ser
desacreditados, banidos, perseguidos,
ridicularizados, torturados, e até mesmo mortos.
Paulo fala do resto das aflições de Cristo que
ele estava procurando completar, “por causa do
Seu corpo, que é a igreja”. Esta é uma outra
área, que é diferente. Paulo olhou para isto
como sendo uma honra e algo do qual devia se
regozijar, porque era por causa daquele a quem
ele amava tão profundamente. Mas ele também viu
que este sofrimento “com” e “por causa” de
Cristo colocava a base para se conhecer Cristo e
o poder da Sua ressurreição. Este Apóstolo
concordaria que apenas aqueles que conhecem esta
“comunicação” (dos sofrimentos de Cristo) é que
realmente conhecem o Senhor. Nós sabemos disso!
É bem evidente que toda aquela utilidade no
caminho espiritual procede da pressão, e
“aqueles que mais têm sofrido possuem muito para
dar”. Não há nada artificial a respeito do fruto
de Cristo.
4. O PRINCÍPIO PROGRESSIVO
“Conformado à Sua morte”
É
importante, nessa compreensão do Apóstolo,
perceber que ele não estava pensando que
conformar-se à morte de Cristo seria o fim de
todas as coisas. Seu real significado era que
ele deveria crescer no conhecimento de Cristo,
conhecer o poder da Sua ressurreição e
experimentar os Seus sofrimentos à medida em que
fosse sendo conformado à Sua morte. Sua morte –
a morte de Cristo – estava por detrás, era algo
pertencente ao início, e a história espiritual
do cristão é uma obra de se voltar ao real
significado daquela morte. Aquela morte
significou o fim do “velho homem”, uma
crucificação dos desejos e da mente mundana; um
fechar de porta para todo o sistema que não está
centrado em Cristo, e que não é governado por
Ele. Tudo isso tinha sido afirmado e apresentado
nas cartas mais recentes de Paulo; mas era um
sentido que tinha que ser progressivamente
tornado real e verdadeiro na experiência
espiritual. O significado da morte de Cristo –
ensinou Paulo – tinha que ser a experiência mais
profunda do cristão, e isto somente funcionaria
– progressivamente – no poder da Sua
ressurreição e pela comunicação de Seus
sofrimentos. Para que, em sendo conformado à Sua
morte, ele pudesse chegar ao pleno conhecimento
Dele e daquele poder divino. É sempre assim. O
sentimento que predomina abre o caminho para o
poder efetivo, por uma base essencial, através
do princípio progressivo de se conformar à Sua
morte.
De
“Uma Testemunha e um testemunho”,
setembro-outubro, 1969
*A
tradução deste estudo foi feita voluntariamente por Valdinei N. da
Silva, que, por reconhecer a excelência do conteúdo, coloca o mesmo ao alcance da Igreja de
Cristo, para sua edificação. Peço aos irmãos que possuírem
conhecimentos mais aprofundados em tradução, que colaborem, enviando as
suas preciosas observações e retificações para:
valdineibr@gmail.com
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