A FÉ QUE OPERA EM DIAS DE TREVAS
T.Austin-Sparks
Nosso
lema para 1970 foi baseado na declaração de
Jeremias, no capítulo 32, verso 17: “Ah, Senhor
Jeová ... não há nada demasiadamente difícil
para Ti”. Esta declaração foi feita em
circunstâncias de extrema dificuldade. Veja qual
era a situação.
Jeremias estava sozinho na prisão, talvez numa
masmorra. Seu ministério, após 40 anos, estava
interrompido, talvez pessoalmente acabado.
Jerusalém estava sitiada pelos Caldeus, e a
ponto de ser tomada, e a terra conquistada e
destruída. O povo estava prestes a ir para o
cativeiro, e Jeremias sabia que seria por 70
anos.
Naquela situação de aparente desesperança, o
Senhor falou a Jeremias que o seu primo Hanamel
iria vir a ele, como o mais próximo parente que
tinha o direito de resgate, a fim de lhe pedir
que comprasse – redimisse – a terra da família,
o campo em Anatote. Poderia ter sido um ótimo
negócio para Hanamel, pois Jeremias
provavelmente seria morto e o campo estaria
perdido, se não fosse redimido. Talvez Hanamel
não estivesse acreditando nas profecias
fantasiosas de Jeremias e ainda acreditasse que
a nação seria salva. Contudo, para Jeremias a
realidade era outra; ele sabia que as suas
profecias estavam para se cumprir. Comprar o
campo seria uma insensatez, ou uma questão de
fé. Ele prosseguiu com fé, e efetuou a transação
meticulosamente, não deixando nenhuma dúvida
sobre o direito de propriedade sobre a terra.
Assim fez Hanamel, e o Contrato da Compra foi
assinado, selado e firmado. Jeremias, por
direito de resgate, era o proprietário de um
campo que, por longos anos, ficaria sob o
domínio de estrangeiros. Ele próprio sabia que
nunca iria ocupar a terra. Estaria ele – talvez
– encenando uma parábola que tinha um contexto
muito mais amplo? Estaria o Espírito de Deus
dando a Jeremias uma profecia? Haveria um outro
Redentor em sua linhagem por trás desta
transação de Jeremias, Um que iria redimir seu
direito de herança, mas que teria que esperar
por longos anos, enquanto o inimigo – o príncipe
deste mundo – governasse sobre a terra? Estaria
Jeremias apenas cedendo à pressão das
circunstâncias?
Não,
duas coisas conduziram sua ação. A primeira,
Deus tinha falado a ele para comprar o campo, e
o seu sonho e visão a respeito de Hanamel veio a
acontecer. Segundo, suas profecias continham um
intervalo no distante horizonte, 70 anos
adiante, e aquilo era um raio de esperança na
escuridão atual. Sua fé agiu em direção aquele
raio de luz, e, não pensando em si próprio, ele
agiu pela posteridade.
REAÇÃO
Jeremias foi provado. Ele parece ter saído vivo
das implicações que tinha feito, e uma batalha
ocorreu. Ele teve que pedir ajuda ao Onipotente
Deus. “Ah, Senhor, Jeová, eis que Tu criastes os
céus e a terra com o Teu grande poder, e com o
Teu braço estendido; não há nada demasiadamente
difícil para Ti.” Jeremias 32.17. Isto,
seguramente, é um prenúncio da “fé no Filho de
Deus.” Agora, há algumas lições valiosas para
nós neste incidente:
Há
tempos nos quais estamos tão seguros de que o
Senhor têm nos conduzido por um certo caminho,
para fazer algo, ou para um certo propósito.
Isto vem a nós de forma muito viva e segura.
Quando isso acontece, parece haver uma certeza
real de que tudo vem do Senhor. Até mesmo
aparecem os nossos Hanameis nessas horas.
Fazemos o nosso compromisso, respondemos à
chamada, e a fé segue conosco. Então, somos
invadidos por forças contrárias, somos presos.
Parece que os exércitos Caldeus nos cercam.
A
tentação nos leva a pensar se por acaso não
cometemos um engano. Uma batalha nas trevas é
travada e toda a questão sobre a fidelidade de
Deus é levantada. Quão verdadeiro para a
história é o fato de que o povo do Senhor, e
seus servos em particular, jamais podem tomar
uma posição com Ele sem – mais cedo ou mais
tarde serem provados severamente. A atitude de
Jeremias deve estar em nossa mente. Ele agiu sem
que qualquer interesse pessoal estivesse
influenciando-o. Ele se anulou em sua ação, pois
sabia que poderia não estar vivo para ver a
redenção da terra. Sua fé não foi egoísta, mas
olhou para muito além do seu período de vida.
Isto foi um verdadeiro teste de que aquela fé
era genuína. As dúvidas jamais enfraqueceram sua
ação.
Talvez
as muitas reações da dúvida sejam até
permitidas, afim de provar a qualidade da fé.
Uma masmorra e um exército inimigo são
suficientes para provar a veracidade da visão.
“Enquanto olhamos, não para as coisas que são
vistas, mas para as que não são vistas”.
Jeremias tinha uma quantidade esmagadora de
impossibilidades, o “demasiadamente difícil” é a
sua situação aparente. Teria sido muito fácil, a
qualquer momento, render-nos às condiões
existentes. Cada servo de Deus, a quem tem sido
dada a “visão celestial”, e que tem conhecido os
“propósitos eternos”, tem, após um período de
compromisso, e algumas corroborações
encorajadouras, chegado a um tempo em que é
severamente provado pelas circunstâncias, as
quais os levam a muitos questionamentos. As
condições mostram que a fé é vã; a vida irá
passar por um desapontamento.
Pense
sobre a visão de Pedro, João, Paulo, e então
considere o estado das igrejas. Eles devem ter
tido alguma visão que ofuscaram e transcenderam
“as coisas que eram vistas”. Paulo disse:
“...olhamos para as coisas que não são vistas.”
“Coisas”, não imaginações, fazem a fé, mas
coisas não vistas. Coisas “eternas”, e, como
Jeremias, o horizonte de realização está além da
presente hora. Quão fácil- para o nosso tempo
presente – seria dizer que a Igreja está em
ruínas irreparáveis; trabalhamos em vão ,
lançando nossas vidas por um ideal. Bem, os
santos da antiguidade, os profetas, os
apóstolos, e acima de tudo, nosso Senhor Jesus
em sua humilhação, nos replicam. “A fé é o
título de propriedade das coisas que não se
vêem”. Jeremias com o Contrato de compra de
Anatote obteve o seu direito. Jeremias ligou
toda esta questão com o trono de Deus. Este é o
refúgio daquele cuja fé está sendo provada. “Não
há nada demasiadamente difícil para Ti”.
Devemos pedir ao Senhor que primeiramente
purifique os nossos corações de qualquer
interesse pessoal e motivações mundanas; e
também que crucifique as ambições de nossas
almas, e então nos capacitar a “comprar o campo”
com toda confiança.
De Uma
Testemunha e um Testemunho” Janeiro-Fevereiro,
1970.
*A
tradução deste estudo foi feita voluntariamente por Valdinei N. da
Silva, que, por reconhecer a excelência do conteúdo, coloca o mesmo ao alcance da Igreja de
Cristo, para sua edificação. Peço aos irmãos que possuírem
conhecimentos mais aprofundados em tradução, que colaborem, enviando as
suas preciosas observações e retificações para:
valdineibr@gmail.com
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