O Caminho do Crescimento
de T. Austin-Sparks

 

 

 

Capítulo 1 _ Vivendo “Diante do Senhor” e “Para o Senhor”

"Porém Samuel ministrava perante o Senhor, sendo ainda jovem,... E o jovem Samuel ia crescendo, e fazia-se agradável, assim para com o Senhor, como também para com os homens. E o jovem Samuel servia ao Senhor perante Eli;... E ele (Eli) disse: Qual é a palavra que te falou? Peço-te que não mo encubras; assim Deus te faça, e outro tanto, se me encobrires alguma palavra de todas as que te falou.... E crescia Samuel, e o Senhor era com ele, e nenhuma de todas as suas palavras deixou cair por terra. E todo o Israel, desde Dã até Berseba, conheceu que Samuel estava confirmado por profeta do Senhor. E continuou o Senhor a aparecer em Siló; porquanto o Senhor se manifestava a Samuel em Siló pela palavra do Senhor." (1 Sam. 2:18,26; 3:1,17,19-21).

Esses fragmentos servem para indicar o crescimento de Samuel, e nos trazer para a questão do aumento, do crescimento espiritual. As marcas são bastante simples, porém, contudo, bastante fundamentais.

 

"Perante o Senhor"

"Samuel ministrava perante o Senhor, sendo ainda jovem." "Perante o Senhor." Ele cresceu perante o Senhor, e isto é de importância maior do que pode ser sugerido pelo pequeno fragmento de três palavras. Isto é a primeira coisa que deve ser verdade em nós _  que toda a nossa vida não seja vivida perante homens, mas primeiramente perante o Senhor; que sempre haja isso sobre nós que fala de uma vida interior diante do Senhor. Quando estamos sozinhos, fechados em nosso quarto com o Senhor, então tudo é muito puro. Sabemos muito bem que lá diante Dele não há qualquer decepção, não há fingimento, não há fantasia. Sabemos muito bem quando estamos a sós com o Senhor  que toda artificialidade é  desnudada. Lá nós sabemos que somos vistos por dentro, somos conhecidos completamente; não podemos colocar nenhuma camuflagem, nenhum disfarce, na presença do Senhor. Lá somos o que somos, e sabemos isto, e não fazemos qualquer pretensão. E isto é algo que tem que ser trazido em nossas vidas quando vimos do lugar secreto com o Senhor _ que tudo deve ser da mesma maneira que é diante Dele, tão transparente, tão claro, tão sincero como é em Sua presença; sem fingimento, sem máscara, sem fantasia, sem falsos caminhos.  Não podemos ficar num pedestal na presença do Senhor. Quando estamos com as pessoas, podemos vestir muitas coisas para nos cobrir, a fim de que as pessoas acreditem em nós; podemos nos tornar muito artificiais. Até mesmo quando estamos orando na presença de outras pessoas, podemos ser qualquer outra coisa, mas não naturais. Estamos tão conscientes delas, e começamos a orar por elas em nossas orações.  Não agimos da mesma maneira como quando estamos a sós com o Senhor, nós não preparamos nada, então.  Ficamos exatamente na base daquilo que somos, com naturalidade; nós não podemos ser diferente a não ser perfeitamente naturais. Aquilo que somos quando estamos na presença do Senhor  devemos ser quando estamos diante das pessoas, na vida pública. É importante, é essencial. Você vê, qualquer coisa colocada entre as pessoas, qualquer coisa artificial, não é a nossa medida, absolutamente; é uma falsa medida, e isto pode estar nos impedindo de crescer na vida espiritual.

"Samuel servia perante o Senhor." Podemos aplicar isto para cada esfera e para cada situação da vida.  “E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens” (Col. 3:23). Deus falou para Abrão, “... Anda na minha presença..." Isto pode ser muito simples nesses termos, porém é algo que tem a ver com trabalhar a terra para o crescimento espiritual.  Pessoas assim irão prosseguir, irão crescer. 

O resto da afirmação sobre Samuel é somente uma ênfase sobre o que aquilo significa “ser uma criança”. O próprio Senhor Jesus colocou o seu dedo sobre isso numa ocasião. Os seus discípulos, homens adultos, estavam conversando sobre grandes coisas, e altas posições; Jesus tomou uma criança e a colocou no meio deles, e disse: “Se não vos tornardes como crianças, de forma alguma entrareis no Reino dos céus”. (Mat. 18:3). 'Este é o caminho para o crescimento. Você está pensando sobre posição, lugar, influência; você tem grandes pensamentos; você tem grandes idéias; porém este é o caminho para a verdadeira grandeza - uma pequena criança: sem suposições, sem pretensões’.  "Samuel servia perante o Senhor, sendo uma criança"; e então, naturalmente, você não fica surpreso em que ele tenha crescido. 

 

"Ao Senhor"  

Então, a próxima coisa _  "Samuel servia ao Senhor diante de Eli." Se pudéssemos nos colocar no lugar de Samuel, poderíamos achar que não foi fácil  para ele naqueles dias. Lembre-se, Hofni e Finéias, os dois filhos de Eli, estavam lá. Algo muito iníquo e corrupto estava acontecendo, pois no final eles foram mortos no julgamento de Deus _  uma situação extremamente deplorável.  Samuel poderia muito bem ter se tornado um cínico, ele poderia ter se tornado amargurado e crítico. É muito fácil ser crítico numa situação como aquela, ficar desgostoso, e perder o interesse no que estamos fazendo, muito embora nós mesmos não estejamos de forma alguma nos comprometendo com o Diabo. Se estivermos nessa situação, simplesmente fazemos as coisas porque é o nosso emprego. As outras pessoas envolvidas no serviço são corruptas e erradas; porém o serviço tem que ser feito, assim, sem qualquer interesse absolutamente, nós apenas fazemos o serviço. Porém parece que  Samuel fechou os seus olhos para tudo aquilo, e apenas olhava para o Senhor, e a sua atitude era: “Tudo ao meu redor é mal, porém eu estou aqui por causa do Senhor; não estou fazendo isso por causa dessas pessoas, nem apenas para manter o serviço em andamento; estou aqui, no meio de tudo isto, por causa do Senhor”. Desta maneira o seu espírito foi mantido livre do mau humor, da amargura e do cinismo.  "Para o Senhor." Ele não ministrava a Eli, e não a  Hofni e Finéias, e não a um mero procedimento, a fim de manter as coisas, mas ao Senhor. 

Lembre-se, isto é um crescimento secreto. Todos podemos ter razão para dizer: ‘Há muita coisa ao meu redor com as quais eu não concordo, as quais eu sei que são contrárias ao Senhor; e que muitas pessoas ao meu redor são erradas e difíceis, até mesmo aquelas que são do Senhor. Se eu fosse me importar com elas, iria desistir e ir embora; mas estou aqui para viver para o Senhor, eu apenas faço isso por causa Dele, e assim é que pretendo permanecer’.  Este é o caminho do crescimento. Eli representava a corporificação de uma ordem religiosa de sua época, ele ocupava uma posição de autoridade e naquele tempo ele era reconhecido como tal, e Samuel  era submisso. Ele não estava tentando se livrar de Eli, nem condená-lo; ele não estava de forma alguma dizendo: ‘Está tudo errado, eu não tenho lugar para Eli' -  Samuel não saia por aí fofocando e espalhando coisas sobre Eli. É tão fácil fazer isso; porque você encontra algo errado, e você pode facilmente se tornar sem afeto e crítico.  Samuel era submisso. Mais tarde, mesmo quando não concordava com o desejo do povo a respeito de um rei,  Samuel recebeu ordem do Senhor para ir e ungir  Saul, e ele obedeceu, e depois fez tudo que podia tornar fácil a Saul fazer a coisa certa e cumprir a sua missão.  Samuel não aceitava  Saul, mas ele não se atravessava em seu caminho; ele não espalhava coisas más sobre Saul. Samuel deu a Saul uma boa oportunidade. A atitude de  Samuel para com  Saul é maravilhosa. Ele não tinha aceitado Saul, contudo ele se submetia pelo tempo necessário; e aqui diante de Eli, com o mesmo espírito, ele toma uma posição submissa e ministra ao Senhor. Não é de se maravilhar que ele tenha crescido. 

Você não irá crescer se estiver observando as faltas e as falhas, e os erros ao seu redor, especialmente nas pessoas que detêm posições superiores, e, se estiver espalhando coisas sobre elas. O Senhor irá dizer: “Se... os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz. Se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!" (Mat. 6:22,23). Cuidado para não ter maus olhos sobre alguém _  isto irá interromper o seu crescimento.  Assim, Samuel não reparava em Eli; ele deixava Eli para o Senhor, e ele mesmo seguia com o Senhor. Guarde esta lição em teu coração.  Samuel ministrava ao Senhor perante Eli, em sujeição e em paciência, esperando até que o Senhor se movesse, a fim de lidar com aquela situação tão difícil, que devia consumir o coração de Samuel a cada dia. É o nosso espírito que importa _ pureza, simplicidade, seriedade, realidade. É isto que significa crescer, e continuar crescendo. 

 

Capítulo 2 _ A Revelação  “do Mistério” 

“... fazendo-nos conhecer o mistério da Sua vontade..." (EF. 1:9).

"... Como me foi dado este mistério manifestado pela revelação... a minha compreensão do mistério de Cristo... E demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve oculto em Deus” (Ef. 3:3,4,9).

Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja.” (Ef. 5:32).

"... E por mim; para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra com confiança, para fazer notório o mistério do evangelho, (Ef. 6:19).

Salientamos através da carta aos Efésios esta característica – “mistério”. Qual é o seu significado? 

Há dois lados. Primeiramente, “mistério” significa algo que tem sido mantido escondido, que não poderia ser reconhecido, claramente visto ou entendido. Era um assunto escondido _ o que chamamos de segredo; e nos é dito que Deus guardou este segredo, este mistério, escondido por todos os séculos e gerações, mas que agora o tornou conhecido. Algo que estava oculto, um mistério, tem sido agora declarado. 

Mas, então, há o outro lado disto, que também é perfeitamente claro _ que mesmo após o segredo ter sido declarado, as pessoas não conseguem enxergar, a menos que Deus lhes dê iluminação a respeito. Embora este seja o tempo no qual ele é declarado, ele ainda é um mistério até que Deus abra os olhos e dê iluminação. Paulo disse: “por revelação foi me feito conhecer o mistério”; "vocês podem perceber a minha compreensão do mistério”; de modo que é uma questão de mistério sendo explicado, ou iluminado aos nossos corações, e em nós enxergarmos isso é que chegamos a uma expansão espiritual. Movemo-nos em direção à plenitude quando enxergamos “o mistério”.

 

Dois Mistérios

A palavra “mistério” é usada em diversas conexões no Novo Testamento, mas há duas conexões maiores. Você pode dizer que elas incluem as outras. Primeiramente, há o mistério de Cristo. Lemos a frase _ “o mistério do evangelho” _ mas aquele vem dentro deste, que é uma parte do mistério de Cristo. E, em segundo, há o mistério da iniqüidade.  O que o mistério vem a ser quando você olha no Novo Testamento? Bem, em cada caso  - o mistério de Cristo e o mistério da iniqüidade _  você descobrirá que é uma encarnação de um grande ser espiritual e sobrenatural. Isto é perfeitamente claro e simples com relação a Cristo. Deus estava em Cristo _ este é o mistério. Nos dias de Sua carne, ninguém entendeu este mistério, estava oculto. Eles sentiram que havia algo misterioso sobre Ele, algo que era diferente, ‘um outro’, superior. Eles não podiam alcançar as profundezas Dele, como dizemos; eles mal podiam compreendê-Lo. ‘Existe algo sobre este homem que não podemos compreender. Ele é diferente, Ele frustra todas as nossas tentativas de explicação. Há um mistério sobre Ele’.  "O mundo não o conheceu” (Jo. 1:10). É o mistério de Deus em Cristo, Deus aparecendo na forma de homem, Deus feito à semelhança do homem. 

O mistério da iniqüidade é a mesma coisa _  um outro ser espiritual, sobrenatural vindo na forma humana; o Anticristo. O mistério da iniqüidade é que existe algo na humanidade, que a encabeça, um homem ou homens, o qual não é simplesmente o homem em si. Existe algo sobre isto que é maligno, que é sinistro, que é nefasto. Você não consegue explicar isso no campo puramente natural. Há um mistério sobre isso. É a encarnação de um ser espiritual e sobrenatural que é o mistério, seja de Cristo, seja do Anticristo. 

 

O Duplo Mistério de Cristo 

Mas quando você vem a Cristo, você descobre que o mistério é duplo. Primeiramente, é Ele em Si, como dissemos; Deus pessoalmente em Cristo, de modo que Cristo é Deus encarnado. Mas, então, você descobre que, pelo que foi revelado para e através de Paulo, que Cristo toma um Corpo; mas não um corpo físico, mas um corpo espiritual _ “a igreja que é o Seu corpo”. Ef. 1:22-23); e a Igreja sendo o Seu Corpo novamente se torna o mistério de Cristo; isto é, aqui está Deus em Cristo  morando numa companhia de pessoas, os eleitos, o Corpo de Cristo; e a carta aos Efésios é particularmente tomada neste aspecto de Cristo _  que você tem aqui um corpo de pessoas chamado de Igreja, no qual Deus habita. Há um mistério sobre este povo, sobre esta particular Igreja, há algo aqui que é sobrenatural, algo que é espiritual. Não é apenas uma sociedade de pessoas chamadas de cristãs, um número de pessoas que se reúnem na fé cristã e crêem em certas doutrinas. Há algo mais do que isso sobre essas pessoas. Se você apenas soubesse e compreendesse isto, na realidade mais profunda e interior do ser dessas pessoas são sobrenaturais; elas não são meramente pessoas naturais. Há algo escondido dentro delas que não pode ser explicado em nenhuma área, e você tem que dizer, 'É Deus, é o Senhor’. Quando você encontra essas pessoas, quando elas se reúnem até mesmo em pouco número, se você entrar lá você descobre algo a mais nessas pessoas, algo mais do que elas são; você encontra o Senhor. Há um mistério acerca disso, e o mistério de Cristo do qual Paulo está falando aqui não é apenas o mistério de Cristo, mas é o mistério do Cristo Corporificado, de Cristo em Seu Corpo, a Igreja.

Assim, Paulo está falando sobre este mistério, e ele está dizendo, ‘Agora, isto é uma coisa celestial, uma ‘coisa espiritual’; isto não é algo que está sobre esta terra, que você pode explicar, do modo como você pode explicar as outras coisas terrenas. Isto é algo celestial, e você não consegue explicar isto por meio de padrões terrenos, absolutamente’. 

Esta é a afirmação do fato, mas, naturalmente, isto é um desafio para a Igreja. É assim a Igreja?  Exatamente, uma vez que somos aquilo que fomos chamados para ser, esta é a nossa medida. Medida espiritual é aquilo que somos em Cristo, aquilo que Cristo é em nós.

 

O Mistério Conhecido Somente por Revelação 

Então, chegamos a este outro ponto - não é o fato que nos faz crescer; isto é, não é a verdade do Corpo como verdade, os fatos afirmados sobre a Igreja como informação, que nos leva a um crescimento espiritual. Podemos ver tudo isso nas Escrituras, e contudo,  isso não faça qualquer diferença pra nós, em relação à nossa medida espiritual; nunca resultando num crescimento espiritual. Há muitas pessoas que conhecem toda a verdade do mistério de Cristo e da Igreja, toda verdade do Corpo de Cristo, porém são pessoas muito pequenas. Muitas delas conhecem a verdade e ainda estão vivendo na condição dos Coríntios, onde tudo é muito terreno e centrado no ‘eu’; e muitas outras estão vivendo como os gálatas, onde tudo é muito legalista. Para que essa verdade signifique um crescimento espiritual, ela tem que estar no campo dos Efésios. 

Qual é a situação dos Efésios? É esta: Paulo diz que havia sido revelado a ele o mistério. E agora ele fala que ora por essas pessoas. Elas são cristãs, não há qualquer dúvida sobre isso, porém ele diz que ora por elas, "Para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê em seu conhecimento o espírito de sabedoria e de revelação; tendo iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais qual seja a esperança da sua vocação, e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos; e qual a sobreexcelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder, que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e pondo-o à sua direita nos céus." (Ef. 1:17-20). Tudo isso tem a ver com a verdade, com a eterna vocação e o destino deste Cristo Corporificado.  O conhecimento Dele não é o conhecimento de Cristo como uma pessoa separada. É o conhecimento de Cristo agora, em tudo o que Ele representa de um modo corporificado. Este é o conhecimento que ele ora para que eles adquiram; e, havendo orado desta maneira pelos efésios, Paulo se volta para a questão do crescimento espiritual. Ele chega finalmente ao grande ponto no quarto capítulo _ “até que cheguemos... à medida da estatura da plenitude de Cristo”. Como você chega a esta plenitude? O que é crescimento espiritual? Isto é o resultado da iluminação dos olhos do seu coração, em relação a real medida e significado de Cristo, como expresso no Seu Corpo, a Igreja. O ponto é que você veja, que isto seja revelado a você. Então imediatamente você sairá da posição dos Coríntios e dos Gálatas, da igreja meramente terrena, com suas ordenanças, cerimônias, etc. Você está numa posição celestial, e, então, irá crescer. 

Mesmo sob o risco de uma repetição indevida _ por causa  da importância deste assunto, permita-me dizer novamente aquilo que o Apóstolo diz para  si mesmo, e para aqueles crentes da sua época, como também para nós, que o caminho para o crescimento espiritual é através dos olhos do coração sendo iluminados. Paulo jamais teria orado por isso, se esta não fosse a vontade do Senhor, que isto pudesse ser assim; e, se é a vontade do Senhor, então podemos ter os olhos do nosso coração iluminados para conhecer da mesma maneira que Paulo conhecia _ por revelação.

 

A Igreja Celestial e Corporativa 

Agora, retornando àquilo que disse acima, concernente a real medida e natureza da Igreja, eu me pergunto se você percebeu em “Romanos”, “Coríntios” e “Gálatas”, a conexão do batismo? Em Romanos 6  o batismo resulta num caminhar numa nova vida. “Fomos sepultados... com Ele pelo batismo na morte: para que, assim com Cristo ressuscitou dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida”. Isto é muito simples; isto é o início; através do significado espiritual do batismo você simplesmente anda numa nova vida, você tem uma nova vida. Quando você sai de “Romanos” e vai para “Coríntios”, você descobre que a união com Cristo crucificado significa  que a mistura da vida velha com a vida nova tem que ser tratada; você possui uma nova vida, porém, você não deve misturar a ela a vida velha. Assim “Coríntios” ensina que você deve viver totalmente e somente na vida nova, e não trazer a vida velha juntamente com a nova. Veja II Coríntios 5. Quando você vai para “Gálatas”, Paulo diz, “Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo." (3:27). Em “Gálatas”, o batismo é o vestir-se completamente do novo homem; e para indicar que isto é um avanço sobre a posição dos Coríntios, ele segue imediatamente dizendo “Onde não há nem judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher; pois todos somos um em Cristo Jesus”. Você se veste do novo homem. As divisões dos coríntios se acabam; o batismo, em relação à posição dos gálatas significa que nós não conhecemos ninguém segundo a carne. Mas, ainda em “Romanos”, “Coríntios” e “Gálatas”, é como se estivéssemos vivendo como cristãos numa nova vida diante do Senhor aqui, sobre a terra.

Você vai para “Efésios” e lê _ "Deus... Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos),... E nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus;" (2:4-6), Agora aqui, o “nós” é corporativo. Quando você vem para “Efésios”, você chega num terreno que eu chamo de batismo corporativo. Isto tem uma aplicação individual, porém, “Efésios” vê a Igreja como um todo, como algo que foi batizado. É como se todo este Corpo de Cristo, a Igreja, tenha sido corporativamente batizado, e não mais é algo terreno; é um Corpo celestial. Tudo aqui, nesta primeira metade da carta aos Efésios, é corporativo. É a igreja que foi pré-conhecida, pré-ordenada, predestinada. Apenas se torna um desafio individual e pessoal para nós em relação ao todo, mas é a Igreja que está em vista, e o “nós” que foram vivificados e ressuscitados são uma coisa corporativa; de modo que, em “Efésios”, o batismo vê a Igreja localizada nos céus, através da morte e da divina vivificação e ressurreição, juntamente com Cristo. É algo muito mais pleno do que apenas uma vida cristã individual. Você pode ser batizado como um indivíduo, porém deve reconhecer que Deus nunca pensa em você como um indivíduo, nesse sentido; Ele nunca se refere a você como uma pessoa isolada. Ele olha pra você a partir do ponto de vista do Corpo como um todo, e diz: “Quando você foi batizado, não foi batizado apenas como um indivíduo; você foi batizado como parte da Igreja, e na sua ressurreição, você é visto do céu em sua relação com a Igreja”. Por isso a posição mais elevada de “Efésios” é esta _ que agora, sendo vivificados e ressuscitados juntamente com Cristo, e sentados nos lugares celestiais, é uma questão aos outros crentes, e nessa relação, você encontrará a sua plenitude. Você jamais achará crescimento espiritual apenas como um indivíduo separado, isolado, mas em relação com os outros crentes.  "Deus faz com que o solitário viva em família”.  (Sal. 68:6), e não há qualquer dúvida sobre isto, independentemente de você entender ou não, de aceitar ou não esta doutrina, você pode provar rapidamente em experiência que o nosso crescimento espiritual realmente vem por meio de uma relação espiritual e celestial verdadeira com os demais crentes. Isto é provado pelo fato de que não é sempre fácil para os coríntios viverem juntos por muito tempo. Isto parece algo  terrível  de dizer, mas você tem uma porção de outros fatores com os quais terá que lidar. Se você fosse uma pessoa comum neste mundo, poderia se sair muito bem, porém, sendo cristão, você tem que enfrentar toda força de Satanás trabalhando sobre qualquer pedacinho de vida natural que ele possa encontrar. Assim, ele gera dificuldade entre os cristãos, os quais eles não teriam se não estivessem numa posição celestial. Eles estão encontrando forças nos lugares celestiais.  Há o atrito e a fricção, e todas as correntes da cruz que tentam dividir os cristãos, mas que não tentam dividir as outras pessoas, porque há tanta coisa envolvida nessa unidade espiritual verdadeira entre o povo do Senhor _ pelo Senhor e contra Satanás. Satanás quebraria esta unidade espiritual se ele pudesse. Ele sabe o que essa unidade representa para ele, e o Senhor sabe o que ela representa para Si próprio _ e daí as dificuldades de os cristãos viverem juntos, especialmente por um longo tempo.

Agora, qual é a conclusão? Quando essas dificuldades aparecem, devemos dizer: ‘É evidentemente necessário para eu alcançar uma nova posição espiritual, chegar ao topo disto. Se eu não desistir e largar mão, devo chegar a um crescimento espiritual; tenho que conhecer o Senhor numa forma nova, a fim de obter mais graça, amor, paciência’. Isto é crescimento espiritual,  e isto vem através de relacionamento.  (Naturalmente, esta é apenas uma forma; existem muitas outras pelas quais o aumento espiritual vem por meio do relacionamento) Se nós tão somente nos mantivermos juntos em oração, há aumento espiritual.

Você quer aumento espiritual? Reconheça que o seu batismo não é apenas uma coisa individual e pessoal, mas, do ponto de visto da plenitude de  Deus, é algo corporativo. Você pode, em ‘Romanos’, ser batizado individualmente para caminhar numa nova vida, porém, quando você chega em ‘Efésios’, é corporativo; a Igreja foi batizada, é uma Igreja batizada; uma Igreja crucificada e ressuscitada, e uma Igreja nos lugares celestiais que é de significância espiritual; não uma coisa aqui; e lá você chega no campo da grande plenitude de Deus _ ‘Poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus’. (Ef. 3:18-19). Isto é plenitude, mas observe, isto é corporativo. Devemos orar ao Senhor nos termos da oração do apóstolo Paulo, para que os olhos do nosso entendimento sejam iluminados. Quando enxergarmos, está feito. O que precisamos é enxergar, para que possamos conhecer a esperança do nosso chamado.

 

Capítulo 3 _ Sujeição a Cristo como Cabeça 

"Nele habita corporalmente toda plenitude da Divindade, e estais perfeitos nEle”  (Col. 2:9-10).

"E Ele é a cabeça do corpo, a igreja é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência." (Col. 1:18).

"que é a cabeça de todo o principado e potestade;" (Col. 2:10).

“... E não ligado à cabeça, da qual todo o corpo, provido e organizado pelas juntas e ligaduras, vai crescendo em aumento de Deus." (Col. 2:19).

“... Onde não há grego, nem judeu, circuncisão, nem incircuncisão, bárbaro, cita, servo ou livre; mas Cristo é tudo em todos." (Col. 3:11).

 

A Preeminência Absoluta de Cristo  

Colossenses 1 é a maior e a mais magnífica afirmação na Bíblia a respeito do Senhor Jesus, e, numa palavra, este versículo resume tudo em Cristo. É um maravilhoso descortinar do lugar que Cristo ocupa em relação a todas as coisas, e, naturalmente, este é o ponto de vista do qual tudo tem que ser visto em relação ao Senhor Jesus - Sua relação com todas as coisas; e o que o apóstolo está procurando deixar bem claro, devido àquilo que tinha se levantado para originar esta carta, é que Cristo de forma alguma é o segundo no universo de Deus. Ele não vem num grau ligeiramente abaixo do lugar de absoluta preeminência, muito embora fosse grande a posição reconhecida a ele por aqueles contra quem o apóstolo estava escrevendo. Eles estavam muito bem preparados para dizer coisas maravilhosas e grandes a respeito de Jesus, e para conferir a Ele um lugar muito elevado; porém, contudo, aquele lugar era menos do que a absoluta preeminência. Assim, o apóstolo escreveu esta carta com o objetivo principal de revelar e declarar que o Senhor Jesus é Supremo. 

Você observa as passagens acima fazendo referência à Sua preeminência, e esta preeminência é vista nas várias conexões como completa. Não há duas cabeças, ou três cabeças no Deus do universo; apenas uma cabeça é possível, e Cristo ocupa esta posição em cada aspecto. Assim, é afirmado aqui - “para que em tudo Ele tivesse a preeminência”. Você não pode ter menos do que isto. Quando você diz “tudo”, isto é final. Ele é a cabeça de todas as coisas.

 

Nossa Posição nessa Preeminência 

O capítulo  2 nos traz primeiramente para a nossa posição nessa preeminência. Verso 9 e 10 são declarações da nossa posição.  "Nele habita corporalmente toda plenitude de Deus, e nEle estais plenos” Agora, isto é uma plenitude posicional. Isto apenas significa que, por estarmos em Cristo, nós chegamos ao lugar de plenitude, e fomos feitos para permanecer em Cristo; estamos posicionados nEle.

 

Nosso Progresso na Posição 

Porém, quando você passa para o verso 19 do capítulo 2, é uma questão de progresso, progresso na posição e em razão desse relacionamento.  "E não ligado à cabeça, da qual todo o corpo, provido e organizado pelas juntas e ligaduras, vai crescendo em aumento de Deus." "Estais perfeitos Nele”, porém Nele você tem que crescer. Isto não é uma contradição. Você está perfeito por causa de sua posição, porém crescendo nessa plenitude por causa do seu progresso espiritual. O progresso é uma questão de se apropriar de tudo aquilo que está em sua posição. Vemos em Efésios a correspondência entre esta carta e o livro de Josué. Quando o povo chegou a terra, eles estavam na terra que manava leite e mel, eles estavam num lugar onde toda plenitude habitava, porém eles tinham que fazer algo a respeito daquilo; e assim, descobrimos que era uma questão de se tomar posse da herança, avançando em plenitude para aquilo que eles já tinham sido colocados posicionalmente; e isto é exatamente o que temos aqui. "Crescer com o aumento de Deus” é uma questão de se avançar para se apropriar daquela posição, de aplicar e fazer nosso a plenitude que herdamos em Cristo; ou, para colocar isto mais próximo à figura do Corpo e da Cabeça aqui nesta carta, é reter tudo do Cabeça.

Agora, a tentação que estava sendo apresentada a esses crentes colossenses era abrir mão de Cristo como Supremo, e o apóstolo deixou perfeitamente claro que abrir mão da posição suprema de Cristo era abrir mão da plenitude,  e que eles tinham que reter firme não apenas o Cristo pessoal - todas essas pessoas estavam preparadas para reter firme a Cristo, não o deixando escapar -  mas também a Ele como Cabeça, e assim reconheceram que tudo vem da liderança de Cristo, somente assim eles chegariam experimentalmente a Sua plenitude.

 

A Aplicação Prática do Senhorio de Cristo

Esta é apenas uma declaração, porém o que ela significa é mostrado no capítulo 3. 

"Se ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas de cima, onde Cristo está, assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima e não nas que são da terra. Pois morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então vos manifestareis com ele em glória”.

Esta é a aplicação prática do senhorio. “Morrestes”.  – é necessário colocar Cristo no Seu lugar. “fostes ressuscitados juntamente com Cristo”  - não separados Dele; não deixando algum espaço para o governo próprio, para a direção própria, para a auto-suficiência, ou seja qual expressão possa ser.  "Morrestes"; o teu próprio senhorio sobre a tua vida morreu com você. Todos os outros governos de tua vida morreram quando  você morreu. Você morreu para quaisquer outras autoridades, para qualquer outro governante; para qualquer outro tipo de direção, de governo, de senhorio em princípio; você morreu para tudo, exceto para o senhorio de Cristo; e na ressurreição, você ressuscitou com Cristo. “Juntamente com Cristo”; e agora, na ressurreição, é Cristo quem é o Cabeça do Corpo, da Igreja.

Enquanto isto tem uma aplicação pessoal e individual, é a Igreja que está em vista novamente. Este corpo eleito de pessoas chamado de Igreja morreu para todos os demais governos, da mesma forma como Israel foi colocado a parte e sepultado na Babilônia. Foi a crucificação - a morte e o sepultamento - de Israel quando o cativeiro aconteceu. Eles foram enviados para fora do local da benção da Aliança, o local onde o Senhor estava,  o local da herança, o local onde tudo havia sido providenciado para a sua existência. Eles foram tirados dali, e por isso morreram e foram sepultados, simplesmente porque seguiram outras cabeças. A idolatria foi a causa; isto significou que uma outra liderança, aquela de Satanás, por meio dos deuses das nações, tinha tomado o lugar de Deus, e Deus não iria tolerar nenhuma outra liderança, de qualquer outro tipo. Assim,  Ele aniquilou e os enterrou na Babilônia, e, quando houve um levantamento daquela sepultura de um grupo que tinha voltado, isto se deu debaixo do absoluto governo do Senhor, e somente isso.  Este é o princípio. Era uma coisa corporativa, uma ressurreição corporativa, e em sujeição a apenas uma cabeça. A partir daquele momento, seja lá o que Israel tinha se tornado, embora tivessem falhado, nunca mais a idolatria foi encontrada entre eles. Israel foi curado da idolatria -  isto é, de uma outra cabeça. Você percebe o princípio. 

Agora, aqui está a Igreja, o povo eleito, que morreu e foi sepultado para todos os outros governos;  e estar na Igreja ressurreta implica nisso, que não é algo opcional absolutamente. Não é uma opção - quer gostemos ou não - é algo estabelecido, você não pode entrar verdadeiramente no significado do Corpo de Cristo e ter qualquer outro governo além do governo de Cristo, qualquer outra liderança além da liderança de Cristo. Isto está implícito na ressurreição. Assim, “Se... ressuscitastes juntamente com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus”. Aqui Cristo como Cabeça está assentado à direita de Deus. Isto significa que Ele recebeu a posição de absoluta autoridade. Não há mais nada a ser feito sobre isto, nada a ser acrescentado. Está acabado, é final. Ele está assentado na mais completa autoridade. Ele está no trono. E esta é a posição da Igreja, e a Igreja em cada aspecto tem que ser trazida a esta posição onde toda direção, todo governo, todas as decisões, são tomadas a partir da Cabeça, tudo faz referência à Cabeça, a vida como um todo tem que estar submissa à Cabeça. Não pode haver vontade própria, nem escolha própria, nem direção própria, nada que venha de outro comando. Não há divisão na mente de Deus entre a nossa vontade natural e a vontade de satanás - elas são a mesma. Satanás colocou a sua vontade na essência da criação caída. É uma criação egoísta trabalhando contra Deus, e isto vem do Diabo. Assim, tudo agora tem que ser transferido para a Cabeça, e tomado a partir da Cabeça, para que haja qualquer crescimento espiritual. 

É prático.  "Morrestes”.  "Ressuscitastes"; "Cristo que é a nossa vida”.  Essas são afirmações de fato, extremas e absolutas. Por isso,  "buscai as coisas de cima"; por isso  "mortificai os vossos membros que estão sobre a terra... pois já vos despistes do velho homem, e vos revestistes do novo”. Col. 3:5-10. Você vê as coisas que devem ser colocadas de lado, porque você se vestiu do novo homem. É uma nova posição com um novo governo em todas as áreas, e uma completa submissão a Ele em todas as coisas. Esta é a maneira de progredir na plenitude para a qual fomos trazidos posicionalmente. 

 

Capítulo 4 _  Vivendo nos Lugares Celestiais

Ef. 1:3,20; 2:6; 3:10; 6:12; 1:6,9-10; 3:11,21. 

Meditando no assunto de crescimento espiritual, como visto nas epístolas de Paulo, quando passamos por esta carta aos Efésios, entramos num campo inteiramente novo. É como passar de um mundo para o outro. Em ‘Coríntios’ encontramos tudo ligado à terra, de uma forma carnal e almática, e todas as características que encontramos aí é devido à uma vida cristã terrena. Em ‘Gálatas’ encontramos ainda coisas ligadas à terra, porém desta vez numa forma religiosa. Quando passamos para ‘Efésios’, as amarras terrenas acabam. A única palavra que governa é ‘os lugares celestiais’. É um novo campo com um novo fator de tempo. Passamos das coisas terrenas para as celestiais, e do tempo para a eternidade. Queremos compreender, tanto quanto nos é possível, o que isto significa. 

 

O Efeito Limitador das Coisas ‘sobre a Terra’

Podemos, naturalmente, concluir de imediato que, se os nossos horizontes ficam para traz e se esta é a nossa condição, isto pode seguramente significar crescimento espiritual. Mas como? Se quisermos interpretar esta palavra ‘celestiais’ de uma forma prática, encontramos a chave no verso 3 do primeiro capítulo da carta _  "...nos abençoou com toda sorte de bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo”.  Significa que agora, neste campo da vida do cristão, os valores espirituais são preeminentes. Isto é facilmente visto pela comparação com as duas cartas anteriores. Em ‘Coríntios’ os valores espirituais não eram realmente preeminentes. Interesses pessoais governavam aí. Tudo era julgado a partir do ponto de vista da vantagem para as pessoas em questão, e do seu efeito sobre elas aqui nesta vida terrena. Até mesmo as coisas espirituais eram puxadas para baixo, os dons espirituais eram arrastados para o campo onde as pessoas podiam tirar proveito elas mesmas.

Na carta de  gálatas a mesma coisa é verdadeira, porém do ponto de vista da religião. Tudo é trazido para baixo, para a terra. O Apóstolo coloca o seu dedo sobre o coração da questão quando disse dos judaizantes que estavam capturando os crentes gálatas, pois queriam se gloriar na carne (Gal. 6:13); isto é; a fim de que eles pudessem ser capazes de levantar a cabeça e dizer, ‘ Vejam quantos convertidos nós temos! Vejam que sucesso é o nosso movimento, quantas pessoas estão se juntando a nós!' E ele coloca isto contra a ofensa da cruz. A ofensa da cruz é que não há nada do que se gloriar na carne. Toda glorificação na carne, até mesmo de forma religiosa, é removida pela cruz. Há uma vida religiosa terrena que quer fazer do cristianismo algo daqui, visto e sentido. É uma ‘igreja terrena’. 

 

Somente o Valor Espiritual Conta para Deus 

Assim, aqui, quando chegamos à posição de ‘Efésios’, somos imediatamente apresentados à preeminência de valores espirituais. É isto o que significa ‘nos lugares celestiais’ - como as coisas são vista de cima; não o que elas parecem ser do ponto de vista terreno, não como nós as medimos e as  pesamos aqui de baixo, na terra, mas como elas são do ponto de vista do céu, como o Senhor elevado nas alturas as vê.  É isto que governa toda esta carta, em cada ponto - valor espiritual; não números, não o que os homens chamam de sucesso, não todas essas coisas que são de muita importância para as pessoas aqui, mas apenas aquilo que tem valor para Deus; e isto é valor espiritual. 

"Tem-nos abençoado com toda sorte de bênçãos espirituais”, ou, mais propriamente e literalmente, “todas as bênçãos do Espírito”.  Vimos como Paulo buscava, tanto com os coríntios quanto com os gálatas, levá-los para a posição onde o Espírito era a grande e dominante realidade.  Agora aqui esta realidade é trazida plenamente à vista, onde o espiritual importa mais do que qualquer outra coisa. Assim, se quisermos crescimento espiritual, se realmente estivermos indo para esta plenitude maior, teremos que abandonar esses padrões terrenos, e julgamentos e interesses, e chegar à posição onde, afinal de contas, nada mais importa do que o valor espiritual. Até que ponto uma coisa tem valor aos olhos do Senhor? Podemos tomar como certo de que somente o valor espiritual importa para Deus.

 

Conhecimento de Cristo no Céu, a Medida do Valor Espiritual.

Cristo está no céu. Devemos conhecê-Lo agora apenas de uma forma espiritual, e não mais segundo a carne. Não O conhecemos como os homens se conhecem uns aos outros na terra. Ele verdadeiramente disse: “O mundo não me verá mais, mas vós me vereis" (Jo 14:19). Para o momento, isto levantou uma questão para os discípulos: eles não podiam entendê-Lo. Eles disseram: “Senhor, de onde vem que te hás de manifestar a nós, e não ao mundo?” Eles entenderam isto mais tarde perfeitamente. Cristo somente pode ser verdadeiramente conhecido agora somente de forma espiritual; Ele está no céu. Assim, aqui novamente a grande frase é “nos lugares celestiais em Cristo”; isto é, o grande valor espiritual é Cristo conhecido numa forma espiritual. Crescimento é uma questão de conhecimento de Cristo. “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.  (Jo 8:32). Paulo tentou fazer os gálatas verem isto. Suas epístolas estão cheias do nome ‘Cristo’  - a epístola aos gálatas mais do que qualquer outra.

 

Formas Terrenas não devem Governar

Agora, a carta aos Efésios começa - não apenas termina - com isto: “...todas as bênçãos espirituais em Cristo”.  Isto é, conhecer Cristo de forma espiritual é o caminho do crescimento espiritual; não há outra forma na qual podemos verdadeiramente conhecê-Lo. Assim, em ‘Efésios’  encontramos esta idéia do espiritual. O Espírito e “espiritual” ocorrem freqüentemente nesta carta. O toque terreno, temos dito, é severo.  Este toque terreno visto na carta aos Coríntios significa divisão - “Eu sou de Paulo, de Apolo, de Pedro”: partidos, círculos, sectarismos, dividindo o Corpo. Este é o aspecto terreno e o toque terreno, e nós sempre entramos nesta área de divisões se tocarmos uns aos outros neste nível terreno. Em ‘Coríntios’ e em ‘Gálatas’ é - Judeu e Grego, servo e livre, macho e fêmea (Gal. 3:28). Este é o toque terreno, as divisões da vida terrena. Mas ‘nos lugares celestiais’ não há toque terreno, e isto resulta em não haver homem terreno. Aqui em ‘Efésios’ temos contato com o homem espiritual, Cristo, e, então, com o ‘novo homem’. Aqui não há judeu, nem grego: não é Judeu e Grego trazido juntos em amizade; aqui não há servo e livre; aqui não há nenhuma daquelas divisões absolutamente, mas um novo homem em Cristo.  "Ele nos fez um, e derrubou a parede de divisão... para criar em Si mesmo dos dois um novo homem”. (Ef. 2:14) Assim, isto espiritualmente e celestialmente significa que conhecemos os crentes somente em Cristo. Nós não os conhecemos por aquilo que eles são em si mesmos, nem pelo que são religiosamente - se pertencem a esta ou a aquela, ou não pertencem a este ou a aquele.  Essas coisas não entram em consideração absolutamente. Conhecemos os irmãos em Cristo, e a medida da nossa unidade prática será a medida de Cristo. Nós vamos até onde podemos com a medida espiritual de cada um;  fazemos disso a coisa que governa. 

Agora,  se temos que nos aprofundar e ampliar na comunhão, devemos crescer em medida espiritual. O crescimento espiritual resultará numa expressão mais plena de comunhão. Este é o ensino desta carta.

O crescimento espiritual, então, é uma questão de se distanciar do nível do velho homem, ‘das coisas terrenas’, no sentido dos coríntios  - e  até mesmo religiosamente, no sentido dos gálatas _ para as coisas celestiais, neste sentido, de modo que Cristo conhecido na forma espiritual seja o terreno onde vivemos. Outras coisas não governam, absolutamente; é o próprio Senhor e as coisas que são espirituais que predominam conosco. Este é o terreno celestial.  Há muito mais, naturalmente, nesta carta, porém isto é apenas um começo. 

 

Apenas Valores Espirituais nos Importam  

Bem, agora, o que é mais importante para mim? Onde estou vivendo?  É neste miserável campo terreno de pessoas e coisas aqui em baixo, ou é no campo de Cristo? É a vida espiritual e os valores espirituais que interessa? Se pudermos nos levantar aí e verdadeiramente dizer ‘não me importa nem um pouquinho como alguma coisa me afeta pessoalmente; a questão é:  - Quanto do Senhor há nisto? Quanto pode haver para Ele? Eu não sou influenciado pelo relacionamento com as pessoas aqui em baixo;  tomo o campo mais elevado dos lugares celestiais e os encontro, não como isto, aquilo ou alguma coisa mais de acordo com a designação  terrena, mas eu os encontro em Cristo, o novo homem’.

Naquele nível não há nada que impeça o crescimento espiritual. A medida espiritual não é uma questão relacionada aqui em baixo, mesmo que para o Senhor - seu sucesso, seu apoio, - mas apenas quanto se está respondendo ao pensamento pleno de Deus de uma forma espiritual. É isto o que importa, e isto é um terreno espiritual.  Nós bem sabemos que se as pessoas estiverem mais preocupadas com a manutenção de alguma coisa para o  Senhor  nesta terra - manter as coisas caminhando, construir, fazer que sejam bem sucedidas - essas pessoas estão num campo de limitação espiritual, e enquanto elas não forem completamente libertas de tais considerações com apenas uma questão. Até que ponto isto está respondendo à mente plenamente revelada do Senhor? E se não  forem governadas somente por isso, não pode haver real progresso e crescimento espiritual. Não é verdade?

E é impressionante que as pessoas que estão realmente amarradas com alguma coisa - alguma organização, alguma obra, alguma sociedade, alguma missão, alguma instituição - mesmo que seja para o Senhor com toda sinceridade - se este for o horizonte dessas pessoas, se isto constituir o mundo delas, elas estão limitadas espiritualmente. Elas irão até um certo ponto espiritualmente, não mais. Estão amarradas às suas próprias cercas terrenas, as cercas de algo em particular. Saia dessas coisas,  vá para  a vastidão eterna de Deus, do propósito eterno, e verá que todas as cercas vem abaixo e o crescimento espiritual toma lugar. É a única forma. 

O que o Senhor procura?  Não apenas coisas boas para Ele mesmo, embora sejam boas; Ele procura nada menos do que a grande síntese de todas as coisas que está em Cristo. Ef. 1:10).

 

FIM

 

*A tradução deste estudo foi feita voluntariamente por Valdinei N. da Silva,  que, por reconhecer  a  excelência do conteúdo, coloca o mesmo ao alcance da Igreja de Cristo, para sua edificação. Peço aos  irmãos  que possuírem conhecimentos mais aprofundados em tradução, que colaborem, enviando as suas preciosas observações e retificações para: valdineibr@gmail.com

 

   

 

Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos não possuem copirraite. Portanto, você está livre para usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você desejar compartilhar escritos deste site com outros, por favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de custos e livres de direitos autorais.

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