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Companheiros
Theodore Austin-Sparks
(transcrito de uma mensagem de
1958)
Hebreus 3:1: “Por isso, santos
irmãos, que participais da vocação celestial, considerai
atentamente o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa confissão,
Jesus”
Eu desejo enfatizar aquela expressão: "que participais" – da
vocação celestial. Este é, para o momento, o propósito desta
breve meditação, seu ponto focal. Mas, como se vê, decorre
de uma continuação sugerida pelas primeiras palavras da
sentença: "Por isso". É matéria de comum conhecimento que
esta carta aos hebreus é cheia de comparações e contrastes.
Há vários deles. Neste ponto, enfoca-se duas casas e duas
pessoas responsáveis por e pertencentes a estas duas casas.
Duas casas, como se percebe nas palavras imediatamente
seguintes: de um lado, em primeiro lugar, a de Moisés em que
ele era fiel como um servo; de outro lado, a casa de Jesus
na qual Ele é Filho e sobre a qual Ele é cabeça.
A palavra "casa", é claro, é mais literalmente uma
“economia" ou “ordem” de Deus nesta dispensação. Assim, de
um lado há a casa terrena; do outro, a celestial em
contraste. De um lado a temporal, do outro a espiritual. De
um lado, como diz: "a que veio por meio de anjos"; do outro,
a que veio pelo Filho de Deus. A carta inteira tem este
objetivo: a superioridade, a grandeza da última sobre a
primeira.
Estas palavras com as quais o capítulo inicia nos dizem ou
indicam algo quanto à constituição desta casa celestial,
espiritual e tão mais superior. Faz isto usando as palavras:
"Por isso, santos irmãos, que participais da vocação
celestial". Santos irmãos: são eles que constituem esta
casa. A casa santa, portanto, é composta daqueles que foram
separados de um sistema, domínio e natureza para Deus; para
uma outra ordem. Separados do mundo, do pecado, da morte;
este é o sentido da palavra "santos" - separados.
Irmãos - santos irmãos. Bonito título para a casa de Deus! A
família dos santos, dos separados. Esta é a natureza
superior DESTA casa. Gostaria de permanecer nisto pois há
muito dito sobre isto antes, sobre Cristo cantando no meio
de Seus irmãos e não se envergonhando em chamá-los de
irmãos, dizendo: "Eu e os filhos que Deus me deu" e assim
por diante, tudo conduzindo a isto: "santos irmãos". A casa
celestial, espiritual, é uma casa de irmãos e irmãs
santificados. É uma FAMÍLIA SANTA.
Mas então chegamos ao ponto especial
para este momento, a designação particular daqueles que são
desta casa. "Por isso, santos irmãos, que participais..." -
uma tradução infeliz. No original a expressão “que
participais” é "companheiros" (NT: ou “parceiros”).
Companheiros - a mesma palavra ocorre em Lucas 5:7 sobre os
discípulos e os peixes: "fizeram sinais aos companheiros".
Esta é exatamente a mesma palavra aqui. Por que a mudaram
para "que participais" em vez de dizer "Por isso, santos
irmãos, companheiros na vocação celestial"? Há muitas
designações na Palavra de Deus a respeito dos servos do
Senhor. Estamos familiarizados com escravos de Jesus Cristo,
ministros de Cristo, mordomos do mistério, cooperadores; e
assim podemos ir adiante - um grande número de títulos e
concepções dos servos do Senhor na casa do Senhor. Mas aqui
está uma outra designação. E se pudermos capturar seu
peculiar e particular sentido, veremos que ela vai um pouco
além que muitas das outras... Praticamente todos estes
outros títulos trazem a idéia de responsabilidade delegada.
Um servo, por exemplo, é encarregado em seu serviço com
responsabilidade. A um mordomo lhe são confiados recursos, é
algo delegado a ele. E assim todos os outros títulos têm
esta idéia embutida neles. Mas aqui está algo que vai além -
COMPANHEIROS! Companheiros na vocação celestial... trazidos
ao companheirismo com Cristo e uns com os outros a respeito
desta casa. Esta casa é um companheirismo, uma parceria.
Estou bem certo, caros amigos, que vocês percebem quase todo
dia a diferença entre um empregado e um parceiro. Todos
percebemos isto, pois salta aos olhos em todo lugar. Estive
numa casa durante esta semana, enquanto este evento
transcorria. Os empregados estavam trabalhando. Eles não
relacionam o ir embora após o trabalho e o deixar TODAS as
luzes acesas. Eu vi um jovem pondo seu casaco para sair,
deixando uma grande lâmpada acesa. Eu lhe disse: "Aonde você
vai?" "Pra casa jantar". "Por que deixa a luz acesa?" "Oh,
eu nunca pensei sobre isto!". Veja, ser "empregado" é uma
coisa – eu é que senti a ofensa, pois partilharei as contas
a pagar e tudo o mais. Se tivesse sido um companheiro - um
parceiro, um co-proprietário - ele teria sido muito, muito
cuidadoso sobre a casa, sobre toda sorte de detalhes, porque
como um companheiro ele está envolvido em todas as contas a
pagar. Há toda esta diferença. Parece simples, mas há TODA
esta diferença na casa de Deus entre empregados (servos, num
sentido) e companheiros. E percebendo que o companheirismo
de que se fala aqui é de um tipo familiar, a família está em
companheirismo sobre a casa, a economia, a ordem; uma
responsabilidade familiar de parceria - é isto que temos
aqui. Uma responsabilidade FAMILIAR de parceria por esta
casa.
Isto traz a casa para bem perto do coração, não? Para uma
preocupação legítima, um cuidado real, um ciúme verdadeiro.
Estamos envolvidos como companheiros! Veja, as perdas serão
as nossas perdas, não são as perdas do patrão, do
proprietário, de alguém para quem trabalhamos e que tem que
arcar com isso; são NOSSAS perdas. Os ganhos são NOSSOS
ganhos! Estamos tão envolvidos nos assuntos desta casa que o
que a toca, nos toca. As perdas e os ganhos, tudo que tem a
ver com ela é um assunto da nossa própria vida.
Uma responsabilidade conjunta porque, e é tremendo ouvir
isto dito aqui, a casa de DEUS é a nossa casa - sim, é a
casa de Deus e também é a nossa casa. De que casa somos? É
dito que somos herdeiros de Deus e co-herdeiros com Jesus
Cristo. Esta é a nossa casa, somos co-proprietários.
Pertence a nós em um sentido espiritual, é parte de nós e
somos co-participantes em todos os interesses desta casa.
Enfatizo esta palavra "companheiros". Isto é tudo que desejo
dizer, pense nisto. Isto convém muito. Penso que vai até o
coração de tudo, vai mesmo. É uma idéia linda. Não somos
mais apenas empregados do Senhor - servos no sentido oficial
ou profissional - nós somos companheiros.
Pense sobre os discípulos em parceria no lago. Tenho certeza
de que o que afetava um bote, afetava todos os parceiros. O
que afetava um parceiro afetava os outros. Era uma parceria
e a perda de qualquer parte era uma perda para todos; o
ganho de qualquer parte era o ganho de todos. E quando o
bote estava quase afundando pela abundância da pesca, eles
não guardaram para si, como sua bênção; eles sinalizaram aos
parceiros e repartiram a bênção. Esta é a casa de Deus.
Possa Ele justamente aplicar a nós Seu próprio entendimento
nisto: "santos irmãos, companheiros na vocação celestial".
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Em
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