A Clínica Espiritual (1946)
por T. Austin-Sparks

Capítulo 1 - Paralisia

 
A Paralisia de Expectativas Desiludidas

 

Não são poucos os exemplos típicos da paralisia causada por expectativas desiludidas na Palavra de Deus. Alguns são percebidos por meio de expressões arremessadas e fragmentadas, como a usada por Jó: “se malograram os meus propósitos” [Jó 17:11]; ou na expressão daqueles dois discípulos na estrada para Emaús: “nós esperávamos” [Lc 24:21], ou, nas palavras de João Batista: “És tu aquele que estava para vir ou havemos de esperar outro?” [Mt 11:3]. E aquele homem que ficou conhecido como o “Rico Insensato”, existem dois fragmentos na narrativa: “E disse…Mas Deus lhe disse…” [Lc 12:18;20]. Em cada situação havia um chegar ao fim, a um beco sem saída, uma paralisia. Cada uma delas era representada por uma expectativa falsa.

Pelo menos dois exemplos (como o de João Batista e dos discípulos na estrada de Emaús) foram considerados por uma concepção errônea. Essa concepção é muito abrangente hoje e se tornou responsável por muito engano; e ele funciona duas formas. Por um lado muitos desistem em desespero - como João Batista - porque as questões nas quais eles vieram a crer eram inseparáveis de uma certa aceitação de uma linha de ação que não se seguiu; de resultados que não aconteceram e de um sucesso que não se materializou. Por outro lado muitos são iludidos por essa falsa concepção a pensar que um certo tipo de sucesso, crescimento, popularidade e conquista é O alvo, enquanto que - de fato - o supremo espiritual valor está quase que totalmente ausente.

Nos dois casos temos pelo menos duas concepções errôneas fundamentais que causaram a paralisia. Uma foi a falha em reconhecer a natureza primária, inicial e essencialmente espiritual da missão e obra de Cristo. Na mente deles o temporal e terreno se sobrepunha no horizonte, excluindo o espiritual e celestial. Achamos desnecessário mostrar o quanto isso acontecia. É uma das coisas mais óbvias nos Evangelhos, e foi um dos maiores problemas do Mestre com Seus discípulos. Repetidamente, Ele tentou trazer luz para corrigir essa concepção errônea, e sabia que isso seria uma base sob a qual eles finalmente ficariam ofendidos, a dificuldade pela qual todos tropeçariam, quando O vissem como uma vítima aparentemente indefesa na Cruz.

Também houve um equívoco total com relação à ordem dos eventos, como Atos 15:14-16 claramente demonstra. Havia uma completa incapacidade de reconhecer o propósito, método, meios, tempo, instrumento, base e paixão Divinas. Isso deixou entrar em cena os interesses pessoais, preocupações, ambições e falsas ansiedades. A frustração desses interesses, e a desilusão da Cruz esmagaram-nos e a todo o seu esquema.

“Nós esperávamos”, disseram eles; mas o pensamento deles era terreno. Algo da “visão celestial” é essencial para vida, certeza, fé e ascendência. Vamos descobrir que antes que possa haver uma manifestação da soberania de Cristo em relação à terra e ao mundo em um senso proporcional; haverá uma intensa gravitação celestial e espiritualidade na vida e obra daqueles que são chamados para compartilhar o trono.

Independente do que estivesse passando pela mente de João levando a sua mensagem patética e desesperadora, é quase certo que sua própria condição apresentava um problema gerado por uma ideia equivocada. Poderia ser algo assim: “Se Ele é realmente Cristo, e tudo que foi profetizado a respeito Dele é verdade - tudo que é dito sobre libertar os prisioneiros e oprimidos - por que tendo eu tal relacionamento com Ele, e tendo-O servido como servi, deveria ser deixado nessa masmorra? Há relatos de milagres e obras poderosas. Por que me resta sofrer assim?” Esse problema chega bem próximo do coração de muitos do povo do Senhor. Sabemos da parte do próprio Mestre que Ele estava longe de ignorar ou esquecer João. No caso de João, é certo que, não foi devido ao pecado nem foi por esquecimento Divino, que ele foi deixado em sua tribulação sem livramento. A razão será encontrada em outro lugar.

Seria bom ouvir alguém que teve uma expectativa diferente, sem desespero: “o Espírito Santo, de cidade em cidade, me assegura que me esperam cadeias e tribulações” [At 20:23]. Esse tinha muito a dizer sobre a fecundidade espiritual de suas cadeias. “Para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra, para, com intrepidez, fazer conhecido o mistério do evangelho, pelo qual sou embaixador em cadeias” [Ef 6:19,20].

“De maneira que as minhas cadeias, em Cristo, se tornaram conhecidas de toda a guarda pretoriana e de todos os demais” [Fp 1:13].“E a maioria dos irmãos, estimulados no Senhor por minhas algemas, ousam falar com mais desassombro a palavra de Deus” [Fp 1:14]. “Que gerei entre algemas” [Fm 1:10].

Pode parecer injusto fazer uma comparação entre esses dois homens, mas apenas faço isso porque ele encontrou tanto onde João esteve; e quem sabe se Paulo algumas vezes não foi tentado a se sentir como João? Os fatos são que frequentemente existe um serviço mais amplo por meio de um encurtamento, uma vida mais plena por meio de uma morte mais profunda, um maior ganho através de uma perda mais aguda; e precisamos olhar para o impacto da operação de Deus em nós na esfera que o olho do homem não pode ver. O Mestre disse que João foi o maior dos profetas; e ele, que não foi menor do que eles, precisou entregar sua vida e sofrer até a morte pelo seu testemunho. Há evidentemente aos olhos de Deus uma virtude em certos sofrimentos de Seus servos que tem uma maior importância para Ele, do que uma efêmera glória que pode ser dada a Ele por libertá-los. Existe uma bem-aventurança peculiar, à qual o Senhor referiu em Sua resposta a João, que pertence àqueles que sob severas provas “não se escandalizam Nele” [Mt 11:6]. De uma maneira estranha, João estava relacionado à Cruz e ao “Cordeiro de Deus”, e assim ele foi trazido à esfera da “ofensa da Cruz”.

O que esperamos em nosso relacionamento com “o testemunho de Jesus”? Supondo que os profundos propósitos de Deus somente podem ser realizados por meio Dele ocultar de nossa carne tudo o que ela anseia em seu desejo de sobrevivência, e mais, ao supor que Sua obra em nós, sob a qual fé e obediência triunfante assumem sua forma mais elevada, necessita de Seu ocultamento, aceitando o risco de ser considerado infiel? Não há dúvida que a maioria daqueles que foram chamados em algumas das mais vitais expressões do “propósito eterno” foram treinados na escola da aparente contradição, adiamento, retardo e trevas Divinas. Paulo escreveu aos santos de Tessalônica que “ninguém se inquiete com estas tribulações. Porque… estamos designados para isto” [1 Ts 3:3].

Jó, que clamou “se malograram os meus propósitos”, aprendeu que isso não importava muito, visto que os grandiosos propósitos de Deus permaneciam firmes. Tudo depende de sabermos se estamos em “Seu propósito” e no Seu caminho de realização, se no dia da provação triunfaremos ou ficaremos paralisados. Jó encontrou forças em reconhecer que “ele cumprirá o que está ordenado a meu respeito e muitas coisas como estas ainda tem consigo”[Jó 23:14], a despeito dessas coisas serem bem diferentes de suas próprias expectativas.

Um relacionamento verdadeiro e correto com o Senhor é a base sobre a qual há absoluta confiança, segurança e esperança quando nossos propósitos e expectativas são despedaçados. Não foi assim no caso do “rico insensato”. “Ele disse…” - Ele tinha seus propósitos não relacionados à Deus. “Mas Deus disse…” que esse era o fim de todo o propósito. Se tivermos a vida de Deus em nós podemos sobreviver a qualquer coisa. O Senhor não está lá fora para caprichosamente frustrar nossas esperanças ou desapontar nossas expectativas, mas Ele deseja mudá-las para as Suas ou satisfazê-las em uma esfera cada vez mais elevada.

Vamos acrescentar algo de conotação mais geral? Muitas coisas inesperadas, e bem contrárias às expectativas, podem acontecer conosco tanto nas esferas da experiência espiritual como do serviço Cristão, mas uma das formas mais amargas e fatais dessa paralisia surgem por meio de expectativas desapontadas relacionadas à pessoas. Davi disse em sua perturbação “todo homem é mentiroso” [Sl 116:11]; e muitos outros chegaram perigosamente perto de sentir que não ousam confiar em ninguém. A experiência de colapso de Davi, e pior, do amigo familiar que foi para a casa de Deus com ele, é a experiência de muitos outros. Líderes de confiança e altamente estimados, homens de Deus nobres e grandemente usados, aqueles que confiamos, admiramos e consideramos como autoridades e conselheiros, santos e profundamente instruídos, todas essas coisas de muitas maneiras diferentes nos fazem tremer sob o choque da desilusão. Uma manifestação de mau humor, irritabilidade, ciúme, interesse pessoal, orgulho, respeito às pessoas, suspeita, preocupação por uma posição, prestígio, aprovação, ser influenciado por boatos, relatos, críticas, preconceitos, parcialidade, transigência, e muitas outras coisas. Qualquer pessoa que ler isso entenderá o que estou dizendo e será capaz de compreender o agudo sofrimento e resultante dormência e paralisia de uma experiência como esta, que ataca os sinais vitais da fé, comunhão e confiança. Existem tantas pessoas amarguradas e céticas, ácidas e desconfiadas por causa de expectativas decepcionadas, e que muitas vezes permitem que estas atinjam sua fé em Deus.

Mas a primeira coisa a dizer é que o Senhor prescreveu cuidadosamente algo para essa forma de paralisia, tanto para a sua prevenção como para a cura. Ele apontou o antídoto tanto em palavras e com em ações. Na palavra, com quanta dor Deus precisa nos advertir a “não colocar a confiança no homem”? Repetidas vezes o perigo e insensatez de tornar o homem como suporte e base de confiança foram enfatizados. No sentido prático, por que - se não com esse propósito - o Senhor não impediu que o desapontador e, às vezes vergonhoso colapso de Seus melhores servos fosse registrado? Se a Bíblia é inspirada por Deus, então temos que assumir que o registro é intencionado por Deus. É estranho que tão freqüentemente extraiamos conforto para nós mesmos desse fato, mas ficamos chocados quando descobrimos “paixões semelhantes” em alguns outros.

Devemos compreender de uma vez por todas que - em sendo gratos como devemos e precisamos por toda a graça de Deus distribuída em meio aos Seus filhos, valorizando toda ajuda recebida por meio deles, e estimando-os altamente por seu serviço - o Senhor nunca permitirá que sigamos por muito tempo com fundamentos e muletas humanas, mas nos libertará para ver que somente Ele é nossa Rocha, e que nossa educação e crescimento espirituais devem se apoiar e originar sobre o conhecimento pessoal e direto Dele mesmo. Quanto maior for a utilidade ao Senhor de qualquer vida, maior será a experiência de solidão. Ele nos conduz com frequência a lugares onde outros não podem ir, interpretar, compreender, ajudar. Ao contrário, por seu jogo mental sobre nossa estranha experiência, e de suas interpretações, são trazidos ainda maiores sofrimentos e angústias para nós. Mais cedo ou mais tarde estamos fadados a nos desapontar com o homem, mas isso pode nos conduzir a um mais rico e profundo conhecimento de Deus, se não ficarmos amargos e paralisados por essa experiência.

Isso pode também se tornar ocasião de uma grande e saudável desconfiança em nós mesmos, por um lado, e uma profunda solicitude e simpatia pelo sofrimento pelo outro. O Mestre na hora de angústia “espera por alguém que tivesse compaixão, mas não houve nenhum” [Sl 69:20 - ARC]. Podemos nos permitir apenas dar um gole no copo para saber algo da ajuda de Deus, que ninguém mais pode dar.

Capítulo 2 - A Paralisia de uma Irregularidade Espiritual

A partir da observação das enfermidades que vêm sobre o povo de Deus e aprisionam a Sua obra através deles, ficamos muito impressionados com o fato de que a violação de uma ordem Divina é a causa de muitos problemas. Se é verdade que o que Deus está fazendo nesta era não é apenas salvar indivíduos como tais, mas constituir um "Corpo" e construir uma "Casa" pela adição de cada um, então a posição correta dessas pessoas é vital para o perfeito funcionamento e a ordem celestial. Existe uma ordem e existe uma posição para cada membro. Não nos é dada a liberdade - digamos com ênfase - para designar o lugar ou manipular em posição de cada um. Essa é a obra do Espírito Santo. O que nós dizemos é que cada membro tem o seu lugar, e Deus sabe qual é. Sob a soberania do Espírito Santo, cada membro deve se posicionar nesse lugar. Se eles não o fizerem, ou estiverem em um lugar errado, perderão seu ministério essencial e perturbarão a eficácia do Corpo.

“Mas Deus dispôs os membros” (1 Co 12:18). Articulação essencial para a vida.“E a graça foi concedida a cada um de nós segundo a proporção do dom de Cristo” (Ef 4:7).
“Tendo, porém, diferentes dons segundo a graça que nos foi dada” (Rm 12:6).

Temos diversas ilustrações de irregularidade e desarticulação nas Escrituras:

Datã e Abirão e seu grupo (Nm 16).
Aarão e Miriã (Nm 12).
Saul passando por cima da autoridade de Samuel (1 Sm 13:9).
Uzias se infiltrando no serviço sacerdotal (2 Cr 26:16).

Paulo tem muito a dizer sobre assuntos relacionados à ordem na Igreja, e não é algo meramente relacionado à posição individual, que é de grande importância, mas também do fator e elemento relativo. Ação independente é uma desarticulação perigosa, roubando a cobertura, proteção, e expondo às forças inimigas. Existe uma ordem celestial, um sistema espiritual, e relacionamentos e ministérios dos crentes devem estar de acordo com esses princípios espirituais como um reflexo daquela ordem celestial. O que Paulo diz sobre o lugar da mulher no ministério e relações domésticas dos santos pode ser apreciado e compreendido à luz disso.

Quando alguém chamado por Deus para a obra de evangelista assume o papel de mestre, ou vice-versa, ou alguém marcado para um função em particular tenta realizar outra, ou se estende além do escopo e assume qualquer prerrogativa que não é sua pela ordenação Divina, está seguindo um caminho na direção de um ministério aprisionado; e mais, desembarcará em séria confusão. Pessoas e coisas - que outrora ocupavam uma posição vital no plano Divino - colocada nos lugares errados, tem a unção Divina retirada delas. Isso se torna manifesto, e as pessoas sem discernimento espiritual concluem que aquela pessoa está fora do propósito Divino a tirando da posição. Assim muita confusão e perda se seguem.

Sem dúvida, nos tempos do Novo Testamento, havia o reconhecimento da natureza corporativa da Igreja, e a oração definitiva que seguia o batismo de todos que dessem testemunho de sua identificação com Cristo era o ponto de partida inicial dessa posição relativa e dessa verdade de articulação, ajuste e função. O Espírito Santo veio e tomou a superintendência a partir daquela época, e qualquer desordem a partir de então era diretamente contra Ele. Nessas poucas linhas, passamos por um campo muito amplo e importante da verdade e pleiteamos por um retorno passo a passo, com oração, para a Palavra. O método do Espírito Santo é colocar o Seu selo sobre nós à medida que nos movemos de acordo com Sua liderança, e não de acordo com nossa fantasia, escolha, aptidão, predileção ou ambição.

Capítulo 3 - Neurastenia Espiritual

No mundo da medicina, esse mal é descrito como "uma condição de fraqueza e exaustão do sistema nervoso, dando origem a várias formas de ineficiência mental e corporal. O termo abrange um grupo heterogêneo de sintomas mal definidos, que pode ser uma expressão geral e desarranjada de todo o sistema, ou pode ser algo local, limitado a certos órgãos ".

Há uma quantidade impressionante dessa queixa hoje, e uma prevalência terrível disso entre os obreiros cristãos. Isso é significativo em várias panes espirituais, que vamos nos referir a seguir. Antes de lidarmos com o lado espiritual, pode ser bom e útil se dissermos apenas uma palavra sobre o natural. Esse é um desses problemas tão intimamente relacionados com a mente, que forma um solo peculiarmente frutífero para o inimigo.

Por exemplo, além de quaisquer fatores espirituais, aqueles que sofrem de neurastenia estão sujeitos a muita depressão, "baixo astral" e desânimo; incapacidade de executar uma quantidade normal de trabalho mental; perda de capacidade de atenção fixa, de modo que, por exemplo, uma lista de números não possa ser somada corretamente, o ditado ou a escrita de algumas letras seja uma fonte de preocupação, pequenos detalhes sejam um esforço doloroso. A insônia é frequentemente, mas nem sempre, uma característica. Às vezes, sensações de dor, geralmente localizadas, estão presentes - uma articulação, um músculo, um tendão, um membro, a pele, os olhos; às vezes uma vertigem, quase como na meningite. Outros sintomas peculiares dessa enfermidade são especialmente interessantes, pois chegam tão perto daquilo que também caracteriza casos sobrenaturais ou demoníacos.

Em alguns casos, há um prazer malicioso em tornar as pessoas mais felizes, desconfortáveis ​​ou infelizes. Então um sintoma bem conhecido é a presença de uma outra coisa. Quando a mente está ocupada - ou se esforçando para se ocupar - outra coisa ou presença está sombreando a consciência mental como um espectro. Então, novamente, a intrusão de pensamentos incontroláveis, estranhos à vida normal e, muitas vezes, à constituição moral do paciente - causam sofrimento intenso. O desejo de fugir e fugir de todos é muito comum, e também a tendência de se atirar em desespero. De fato, os sintomas são inúmeros e variam de acordo com o grau ou forma particular da queixa. Nós só mencionamos isso porque é possível levar para o reino espiritual aquilo que não é especificamente espiritual, e relacionar ao Senhor ou ao inimigo aquilo que pode ser apenas a enfermidade deste corpo de corrupção. Pelo menos é assim que reconhecemos isso, e sabemos que nosso caso é de entendimento comum entre aqueles que o conhecem; porque um elemento muito geral desse problema é que o paciente sempre sente que é completamente incompreendido por todos.

Confusão do Natural com o Espiritual

Quando esta condição de aflição acomete alguém dentro do círculo do povo de Deus, o inimigo se torna especialmente ativo para tentar lhe dar implicações espirituais. Que angústia terrível existe exteriormente por causa da incapacidade de concentrar a mente em oração por um momento que seja! Que sofrimento por causa da depressão que é interpretada pelo “acusador” como sendo o resultado do pecado, estabelecendo assim uma falsa condenação! Que devastações, devido ao fato de ter sido dado à outra presença um caráter sinistro, como se o maligno tivesse recebido direito sobre alguém! Que angústia por causa desses pensamentos incontroláveis e estranhos! Que sensação de ter perdido a salvação, estar além do perdão; questionando toda a verdade e realidade da fé cristã, etc., etc.!

Onde podemos começar a ajudar esses aflitos?

Em primeiro lugar, digamos a todo o povo do Senhor que temos uma das mais sérias advertências contra viver a vida cristã na esfera da alma e não na do espírito. Parece que o inimigo facilitaria esse "cristianismo" em um grau tremendo. A imersão mental, emocional e volitiva nas coisas "espirituais”, à parte ou além de uma verdadeira energização do Espírito Santo, trará seu próprio Nêmesis, e o fim pode ser desespero [Nêmesis - substantivo masculino com origem no grego que indica vingança, também sendo usada com sinônimo de inimigo].

"A mente da carne é a morte; mas a mente do espírito é vida e paz." [Rm 8:6 - tradução literal da versão ARV]. Assim, diríamos que o que é verdadeiramente do Espírito permanece, e permanece quando todo o domínio da alma (natureza psíquica) e do corpo se desfaz e contradiz.

Você realmente nasceu do alto? Foi obediente à visão celestial, à luz que recebeu? Quando fracassou e caiu, você se arrependeu, confessou e fez o que poderia ser feito para produzir fruto para arrependimento? Você apelou para a eficácia do Sangue de Jesus Cristo, o Filho de Deus? Manteve contato com Deus quando convencido do erro? Então se posicione em seu espírito, mesmo contra sua própria alma e corpo, se necessário, e contra todo o inferno. Assuma o fato de que Aquele em Quem você depositou sua confiança é "maior que nosso coração" [1 Jo 3:20].

Então, uma palavra mais. Mantenha seus olhos fora. Recuse que a introspecção permaneça sobre você, sua condição, seus sentimentos, seus sintomas. Não procure por esperança em si mesmo. Não busque virtudes em seu próprio coração. Deixe de esperar qualquer bem de si mesmo, mas lembre-se de que Ele é a sua justiça, a sua segurança, a sua aceitação em Deus, o seu mérito, o seu Intercessor.

Capítulo 4 - Unidade com Cristo e Afinidade Mútua

“Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem” (1 Coríntios 11:30).

Nas palavras acima, o apóstolo traz a nota que fez depois de realizar uma consulta clínica espiritual relacionada às doenças e debilidades dos crentes de Corinto. De fato, ele foi além disso, e deu a razão para a morte de "não poucos". Evidentemente as coisas eram muito ruins lá quanto ao físico. Acidentalmente, e ainda assim como uma parte impressionante do todo, é impressionante que tanta doença física e - aparentemente - morte desnecessária, devessem estar entre aqueles que diziam que "não faltava nenhum dom”, incluindo o dom de curar (1:7; 12:9).

Agora vamos esclarecer este ponto dizendo enfaticamente que havia uma razão definida para essa condição, e evidentemente uma que se baseava em um estado de coisas que deveria reconhecido como errado. Isso significa apenas duas coisas.

Um - toda enfermidade, doença e e morte não se deve a um pecado específico da parte do aflito. Isso certamente seria algo desnecessário de mencionar, mas dizemos com veemência para que algum sofredor não assuma a condenação desnecessariamente. Temos muitos sofredores "na vontade de Deus".

A outra coisa é que deve ter havido algum conhecimento que colocou esses crentes em categoria daqueles que sabiam algo e não estavam pecando em ignorância. De fato seria uma coisa dolorosa se os conselhos Divinos decidissem que tal pronunciamento definido fosse feito onde as pessoas fossem totalmente ignorantes de seus pecados e atos errados.

Todo o tom desta carta mostra que o estado das coisas tal que demandava por palavras severas e não conselhos suaves. Isso nos leva ao ponto exato dessa palavra em particular. Existe um princípio que queremos indicar. A natureza real de "não discernir o corpo" não é o objeto de nossa investigação. O princípio é este:

Se qualquer um ou qualquer parte do corpo do povo do Senhor vier a conhecer a verdade divina em geral ou em particular, e permanecer definitiva ou ostensivamente com ela, eles entrarão em contato, não com a doutrina abstrata, mas com o Deus vivo, e com aquilo que O envolve. O efeito deve ser positivo para a vida ou a morte. Eles nunca podem permanecer como eram antes; mais cedo ou mais tarde haverá um problema. Se essa verdade Divina tiver surgido, ou eles tiverem seguido o seu caminho, em algo mais do que uma mera tradição, isto é, por uma verdadeira obra de primeira mão do Espírito Santo, as questões serão mais imediatas e positivas. Se tal povo - como neste caso básico em Corinto - conhecer por um ministério do Espírito Santo a verdade de:

a) A essencial unidade vital dos crentes com um Cristo crucificado e ressurreto - implicando em sua própria morte para a vida do ego, e ressurreição para viver "de agora em diante" para Ele - então ao trazer sua velha natureza positivamente para aquele novo reino, implica que eles precisariam encarar o impacto do golpe mortal da cruz.

Ou eles devem saber a verdade de:

b) A unidade essencial e afinidade de todos os crentes como "um só pão, um só corpo", e então agem de qualquer maneira definitivamente violando esse parentesco. Tais pessoas devem sofrer as conseqüências de se afastar da "cobertura" e salvaguarda que, de maneira muito real - está ligada à vida espiritual corporativa. Se entendemos as leis e o funcionamento dos valores protetores de nossos corpos físicos, e percebemos como um relacionamento perturbado em sua função conduz ao sofrimento e à morte - a menos que seja correto - devemos saber que Deus constituiu todo o universo físico sobre princípios espirituais. Além disso, devemos perceber que o termo "Corpo", usado para a Igreja, não é uma mera metáfora, mas algo muito real.

Não é possível aceitar qualquer revelação Divina sem estar envolvido em seus princípios e sofrer as consequências se esses princípios forem violados. Assim, o apóstolo diz “Eis a razão”, ou seja, essa é a causa. Você não pode professar que Cristo é o Senhor, e então ser seu próprio Senhor. Você não pode ser membro de uma família e ignorar a família, e ser como se fosse da família. Você não pode ser um membro de um corpo e, em seguida, fazer seus próprios planos e realizar seus próprios arranjos sem levar em conta as leis de relacionamento. Isto carrega suas próprias leis de retribuição, e temos o Espírito Santo a ser levado em conta e tomado em consideração. Podemos escorregar, abandonar e as correções do Senhor podem ser gentis, mas a questão da responsabilidade varia de acordo com a oportunidade, privilégio e posição.

 

*A tradução deste estudo foi feita voluntariamente por Valdinei N. da Silva,  que, por reconhecer  a  excelência do conteúdo, coloca o mesmo ao alcance da Igreja de Cristo, para sua edificação. Peço aos  irmãos  que possuírem conhecimentos mais aprofundados em tradução, que colaborem, enviando as suas preciosas observações e retificações para: valdineibr@gmail.com

 

   

 

 

Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos não possuem copirraite. Portanto, você está livre para usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você desejar compartilhar escritos deste site com outros, por favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de custos e livres de direitos autorais.

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