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A Clínica Espiritual (1946)
por
T. Austin-Sparks
Capítulo 1 - Paralisia
A Paralisia de Expectativas Desiludidas
Não são poucos os exemplos típicos da
paralisia causada por expectativas
desiludidas na Palavra de Deus. Alguns são
percebidos por meio de expressões
arremessadas e fragmentadas, como a usada
por Jó: “se malograram os meus propósitos” [Jó
17:11]; ou na expressão daqueles dois
discípulos na estrada para Emaús: “nós
esperávamos” [Lc 24:21], ou, nas palavras de
João Batista: “És tu aquele que estava para
vir ou havemos de esperar outro?” [Mt 11:3].
E aquele homem que ficou conhecido como o
“Rico Insensato”, existem dois fragmentos na
narrativa: “E disse…Mas Deus lhe disse…” [Lc
12:18;20]. Em cada situação havia um chegar
ao fim, a um beco sem saída, uma paralisia.
Cada uma delas era representada por uma
expectativa falsa.
Pelo menos dois exemplos (como o de João
Batista e dos discípulos na estrada de Emaús)
foram considerados por uma concepção
errônea. Essa concepção é muito abrangente
hoje e se tornou responsável por muito
engano; e ele funciona duas formas. Por um
lado muitos desistem em desespero - como
João Batista - porque as questões nas quais
eles vieram a crer eram inseparáveis de uma
certa aceitação de uma linha de ação que não
se seguiu; de resultados que não aconteceram
e de um sucesso que não se materializou. Por
outro lado muitos são iludidos por essa
falsa concepção a pensar que um certo tipo
de sucesso, crescimento, popularidade e
conquista é O alvo, enquanto que - de fato -
o supremo espiritual valor está quase que
totalmente ausente.
Nos dois casos temos pelo menos duas
concepções errôneas fundamentais que
causaram a paralisia. Uma foi a falha em
reconhecer a natureza primária, inicial e
essencialmente espiritual da missão e obra
de Cristo. Na mente deles o temporal e
terreno se sobrepunha no horizonte,
excluindo o espiritual e celestial. Achamos
desnecessário mostrar o quanto isso
acontecia. É uma das coisas mais óbvias nos
Evangelhos, e foi um dos maiores problemas
do Mestre com Seus discípulos.
Repetidamente, Ele tentou trazer luz para
corrigir essa concepção errônea, e sabia que
isso seria uma base sob a qual eles
finalmente ficariam ofendidos, a dificuldade
pela qual todos tropeçariam, quando O vissem
como uma vítima aparentemente indefesa na
Cruz.
Também houve um equívoco total com
relação à ordem dos eventos, como Atos
15:14-16 claramente demonstra. Havia uma
completa incapacidade de reconhecer o
propósito, método, meios, tempo,
instrumento, base e paixão Divinas. Isso
deixou entrar em cena os interesses
pessoais, preocupações, ambições e falsas
ansiedades. A frustração desses interesses,
e a desilusão da Cruz esmagaram-nos e a todo
o seu esquema.
“Nós esperávamos”, disseram eles; mas o
pensamento deles era terreno. Algo da “visão
celestial” é essencial para vida, certeza,
fé e ascendência. Vamos descobrir que antes
que possa haver uma manifestação da
soberania de Cristo em relação à terra e ao
mundo em um senso proporcional; haverá uma
intensa gravitação celestial e
espiritualidade na vida e obra daqueles que
são chamados para compartilhar o trono.
Independente do que estivesse passando
pela mente de João levando a sua mensagem
patética e desesperadora, é quase certo que
sua própria condição apresentava um problema
gerado por uma ideia equivocada. Poderia ser
algo assim: “Se Ele é realmente Cristo, e
tudo que foi profetizado a respeito Dele é
verdade - tudo que é dito sobre libertar os
prisioneiros e oprimidos - por que tendo eu
tal relacionamento com Ele, e tendo-O
servido como servi, deveria ser deixado
nessa masmorra? Há relatos de milagres e
obras poderosas. Por que me resta sofrer
assim?” Esse problema chega bem próximo do
coração de muitos do povo do Senhor. Sabemos
da parte do próprio Mestre que Ele estava
longe de ignorar ou esquecer João. No caso
de João, é certo que, não foi devido ao
pecado nem foi por esquecimento Divino, que
ele foi deixado em sua tribulação sem
livramento. A razão será encontrada em outro
lugar.
Seria bom ouvir alguém que teve uma
expectativa diferente, sem desespero: “o
Espírito Santo, de cidade em cidade, me
assegura que me esperam cadeias e
tribulações” [At 20:23]. Esse tinha muito a
dizer sobre a fecundidade espiritual de suas
cadeias. “Para que me seja dada, no abrir da
minha boca, a palavra, para, com intrepidez,
fazer conhecido o mistério do evangelho,
pelo qual sou embaixador em cadeias” [Ef
6:19,20].
“De maneira que as minhas cadeias, em
Cristo, se tornaram conhecidas de toda a
guarda pretoriana e de todos os demais” [Fp
1:13].“E a maioria dos irmãos, estimulados
no Senhor por minhas algemas, ousam falar
com mais desassombro a palavra de Deus” [Fp
1:14]. “Que gerei entre algemas” [Fm 1:10].
Pode parecer injusto fazer uma comparação
entre esses dois homens, mas apenas faço
isso porque ele encontrou tanto onde João
esteve; e quem sabe se Paulo algumas vezes
não foi tentado a se sentir como João? Os
fatos são que frequentemente existe um
serviço mais amplo por meio de um
encurtamento, uma vida mais plena por meio
de uma morte mais profunda, um maior ganho
através de uma perda mais aguda; e
precisamos olhar para o impacto da operação
de Deus em nós na esfera que o olho do homem
não pode ver. O Mestre disse que João foi o
maior dos profetas; e ele, que não foi menor
do que eles, precisou entregar sua vida e
sofrer até a morte pelo seu testemunho. Há
evidentemente aos olhos de Deus uma virtude
em certos sofrimentos de Seus servos que tem
uma maior importância para Ele, do que uma
efêmera glória que pode ser dada a Ele por
libertá-los. Existe uma bem-aventurança
peculiar, à qual o Senhor referiu em Sua
resposta a João, que pertence àqueles que
sob severas provas “não se escandalizam
Nele” [Mt 11:6]. De uma maneira estranha,
João estava relacionado à Cruz e ao
“Cordeiro de Deus”, e assim ele foi trazido
à esfera da “ofensa da Cruz”.
O que esperamos em nosso relacionamento
com “o testemunho de Jesus”? Supondo que os
profundos propósitos de Deus somente podem
ser realizados por meio Dele ocultar de
nossa carne tudo o que ela anseia em seu
desejo de sobrevivência, e mais, ao supor
que Sua obra em nós, sob a qual fé e
obediência triunfante assumem sua forma mais
elevada, necessita de Seu ocultamento,
aceitando o risco de ser considerado infiel?
Não há dúvida que a maioria daqueles que
foram chamados em algumas das mais vitais
expressões do “propósito eterno” foram
treinados na escola da aparente contradição,
adiamento, retardo e trevas Divinas. Paulo
escreveu aos santos de Tessalônica que
“ninguém se inquiete com estas tribulações.
Porque… estamos designados para isto”
[1 Ts 3:3].
Jó, que clamou “se malograram os meus
propósitos”, aprendeu que isso não importava
muito, visto que os grandiosos propósitos de
Deus permaneciam firmes. Tudo depende de
sabermos se estamos em “Seu propósito” e no
Seu caminho de realização, se no dia da
provação triunfaremos ou ficaremos
paralisados. Jó encontrou forças em
reconhecer que “ele cumprirá o que está
ordenado a meu respeito e muitas coisas
como estas ainda tem consigo”[Jó 23:14], a
despeito dessas coisas serem bem diferentes
de suas próprias expectativas.
Um relacionamento verdadeiro e correto
com o Senhor é a base sobre a qual há
absoluta confiança, segurança e esperança
quando nossos propósitos e expectativas são
despedaçados. Não foi assim no caso do “rico
insensato”. “Ele disse…” - Ele tinha seus
propósitos não relacionados à Deus. “Mas
Deus disse…” que esse era o fim de todo o
propósito. Se tivermos a vida de Deus em nós
podemos sobreviver a qualquer coisa. O
Senhor não está lá fora para caprichosamente
frustrar nossas esperanças ou desapontar
nossas expectativas, mas Ele deseja mudá-las
para as Suas ou satisfazê-las em uma esfera
cada vez mais elevada.
Vamos acrescentar algo de conotação mais
geral? Muitas coisas inesperadas, e bem
contrárias às expectativas, podem acontecer
conosco tanto nas esferas da experiência
espiritual como do serviço Cristão, mas uma
das formas mais amargas e fatais dessa
paralisia surgem por meio de expectativas
desapontadas relacionadas à pessoas. Davi
disse em sua perturbação “todo homem
é mentiroso” [Sl 116:11]; e muitos outros
chegaram perigosamente perto de sentir que
não ousam confiar em ninguém. A experiência
de colapso de Davi, e pior, do amigo
familiar que foi para a casa de Deus com
ele, é a experiência de muitos outros.
Líderes de confiança e altamente estimados,
homens de Deus nobres e grandemente usados,
aqueles que confiamos, admiramos e
consideramos como autoridades e
conselheiros, santos e profundamente
instruídos, todas essas coisas de muitas
maneiras diferentes nos fazem tremer sob o
choque da desilusão. Uma manifestação de mau
humor, irritabilidade, ciúme, interesse
pessoal, orgulho, respeito às pessoas,
suspeita, preocupação por uma posição,
prestígio, aprovação, ser influenciado por
boatos, relatos, críticas, preconceitos,
parcialidade, transigência, e muitas outras
coisas. Qualquer pessoa que ler isso
entenderá o que estou dizendo e será capaz
de compreender o agudo sofrimento e
resultante dormência e paralisia de uma
experiência como esta, que ataca os sinais
vitais da fé, comunhão e confiança. Existem
tantas pessoas amarguradas e céticas, ácidas
e desconfiadas por causa de expectativas
decepcionadas, e que muitas vezes permitem
que estas atinjam sua fé em Deus.
Mas a primeira coisa a dizer é que o
Senhor prescreveu cuidadosamente algo para
essa forma de paralisia, tanto para a sua
prevenção como para a cura. Ele apontou o
antídoto tanto em palavras e com em ações.
Na palavra, com quanta dor Deus precisa nos
advertir a “não colocar a confiança no
homem”? Repetidas vezes o perigo e
insensatez de tornar o homem como suporte e
base de confiança foram enfatizados. No
sentido prático, por que - se não com esse
propósito - o Senhor não impediu que o
desapontador e, às vezes vergonhoso colapso
de Seus melhores servos fosse registrado? Se
a Bíblia é inspirada por Deus, então temos
que assumir que o registro é intencionado
por Deus. É estranho que tão freqüentemente
extraiamos conforto para nós mesmos desse
fato, mas ficamos chocados quando
descobrimos “paixões semelhantes” em alguns
outros.
Devemos compreender de uma vez por todas
que - em sendo gratos como devemos e
precisamos por toda a graça de Deus
distribuída em meio aos Seus filhos,
valorizando toda ajuda recebida por meio
deles, e estimando-os altamente por seu
serviço - o Senhor nunca permitirá que
sigamos por muito tempo com fundamentos e
muletas humanas, mas nos libertará para ver
que somente Ele é nossa Rocha, e que nossa
educação e crescimento espirituais devem se
apoiar e originar sobre o conhecimento
pessoal e direto Dele mesmo.
Quanto maior for a utilidade ao Senhor de
qualquer vida, maior será a experiência de
solidão. Ele nos conduz com
frequência a lugares onde outros não podem
ir, interpretar, compreender, ajudar. Ao
contrário, por seu jogo mental sobre nossa
estranha experiência, e de suas
interpretações, são trazidos ainda maiores
sofrimentos e angústias para nós. Mais cedo
ou mais tarde estamos fadados a nos
desapontar com o homem, mas isso pode nos
conduzir a um mais rico e profundo
conhecimento de Deus, se não ficarmos
amargos e paralisados por essa experiência.
Isso pode também se tornar ocasião de uma
grande e saudável desconfiança em nós
mesmos, por um lado, e uma profunda
solicitude e simpatia pelo sofrimento pelo
outro. O Mestre na hora de angústia
“espera por alguém que tivesse compaixão,
mas não houve nenhum” [Sl 69:20 - ARC].
Podemos nos permitir apenas dar um gole no
copo para saber algo da ajuda de Deus, que
ninguém mais pode dar.
Capítulo 2 - A Paralisia de uma Irregularidade
Espiritual
A partir da
observação das enfermidades que vêm sobre o
povo de Deus e aprisionam a Sua obra através
deles, ficamos muito impressionados com o
fato de que a violação de uma ordem Divina é
a causa de muitos problemas. Se é verdade
que o que Deus está fazendo nesta era não é
apenas salvar indivíduos como tais, mas
constituir um "Corpo" e construir uma "Casa"
pela adição de cada um, então a posição
correta dessas pessoas é vital para o
perfeito funcionamento e a ordem celestial.
Existe uma ordem e existe uma posição para
cada membro. Não nos é dada a liberdade -
digamos com ênfase - para designar o lugar
ou manipular em posição de cada um. Essa é a
obra do Espírito Santo. O que nós dizemos é
que cada membro tem o seu lugar, e Deus sabe
qual é. Sob a soberania do Espírito Santo,
cada membro deve se posicionar nesse lugar.
Se eles não o fizerem, ou estiverem em um
lugar errado, perderão seu ministério
essencial e perturbarão a eficácia do Corpo.
“Mas Deus dispôs os membros” (1 Co 12:18).
Articulação essencial para a vida.“E a graça
foi concedida a cada um de nós segundo a
proporção do dom de Cristo” (Ef 4:7).
“Tendo, porém, diferentes dons segundo a
graça que nos foi dada” (Rm 12:6).
Temos diversas ilustrações de
irregularidade e desarticulação nas
Escrituras:
Datã e Abirão e seu grupo (Nm 16).
Aarão e Miriã (Nm 12).
Saul passando por cima da autoridade de
Samuel (1 Sm 13:9).
Uzias se infiltrando no serviço sacerdotal
(2 Cr 26:16).
Paulo tem muito a dizer sobre assuntos
relacionados à ordem na Igreja, e não é algo
meramente relacionado à posição individual,
que é de grande importância, mas também do
fator e elemento relativo. Ação independente
é uma desarticulação perigosa, roubando a
cobertura, proteção, e expondo às forças
inimigas. Existe uma ordem celestial, um
sistema espiritual, e relacionamentos e
ministérios dos crentes devem estar de
acordo com esses princípios espirituais como
um reflexo daquela ordem celestial. O que
Paulo diz sobre o lugar da mulher no
ministério e relações domésticas dos santos
pode ser apreciado e compreendido à luz
disso.
Quando alguém chamado por Deus para a
obra de evangelista assume o papel de
mestre, ou vice-versa, ou alguém marcado
para um função em particular tenta realizar
outra, ou se estende além do escopo e assume
qualquer prerrogativa que não é sua pela
ordenação Divina, está seguindo um caminho
na direção de um ministério aprisionado; e
mais, desembarcará em séria confusão.
Pessoas e coisas - que outrora ocupavam uma
posição vital no plano Divino - colocada nos
lugares errados, tem a unção Divina retirada
delas. Isso se torna manifesto, e as pessoas
sem discernimento espiritual concluem que
aquela pessoa está fora do propósito Divino
a tirando da posição. Assim muita confusão e
perda se seguem.
Sem dúvida, nos tempos do Novo
Testamento, havia o reconhecimento da
natureza corporativa da Igreja, e a oração
definitiva que seguia o batismo de todos que
dessem testemunho de sua identificação com
Cristo era o ponto de partida inicial dessa
posição relativa e dessa verdade de
articulação, ajuste e função. O Espírito
Santo veio e tomou a superintendência a
partir daquela época, e qualquer desordem a
partir de então era diretamente contra Ele.
Nessas poucas linhas, passamos por um campo
muito amplo e importante da verdade e
pleiteamos por um retorno passo a passo, com
oração, para a Palavra. O método do Espírito
Santo é colocar o Seu selo sobre nós à
medida que nos movemos de acordo com Sua
liderança, e não de acordo com nossa
fantasia, escolha, aptidão, predileção ou
ambição.
Capítulo 3 - Neurastenia Espiritual
No mundo da
medicina, esse mal é descrito como "uma
condição de fraqueza e exaustão do sistema
nervoso, dando origem a várias formas de
ineficiência mental e corporal. O termo
abrange um grupo heterogêneo de sintomas mal
definidos, que pode ser uma expressão geral
e desarranjada de todo o sistema, ou pode
ser algo local, limitado a certos órgãos ".
Há uma quantidade impressionante dessa
queixa hoje, e uma prevalência terrível
disso entre os obreiros cristãos. Isso é
significativo em várias panes espirituais,
que vamos nos referir a seguir. Antes de
lidarmos com o lado espiritual, pode ser bom
e útil se dissermos apenas uma palavra sobre
o natural. Esse é um desses problemas tão
intimamente relacionados com a mente, que
forma um solo peculiarmente frutífero para o
inimigo.
Por exemplo, além de quaisquer fatores
espirituais, aqueles que sofrem de
neurastenia estão sujeitos a muita
depressão, "baixo astral" e desânimo;
incapacidade de executar uma quantidade
normal de trabalho mental; perda de
capacidade de atenção fixa, de modo que, por
exemplo, uma lista de números não possa ser
somada corretamente, o ditado ou a escrita
de algumas letras seja uma fonte de
preocupação, pequenos detalhes sejam um
esforço doloroso. A insônia é frequentemente,
mas nem sempre, uma característica. Às
vezes, sensações de dor, geralmente
localizadas, estão presentes - uma
articulação, um músculo, um tendão, um
membro, a pele, os olhos; às vezes uma
vertigem, quase como na meningite. Outros
sintomas peculiares dessa enfermidade são
especialmente interessantes, pois chegam tão
perto daquilo que também caracteriza casos
sobrenaturais ou demoníacos.
Em alguns casos, há um prazer malicioso
em tornar as pessoas mais felizes,
desconfortáveis ou infelizes. Então um
sintoma bem conhecido é a presença de uma
outra coisa. Quando a mente está ocupada -
ou se esforçando para se ocupar - outra
coisa ou presença está sombreando a
consciência mental como um espectro. Então,
novamente, a intrusão de pensamentos
incontroláveis, estranhos à vida normal e,
muitas vezes, à constituição moral do
paciente - causam sofrimento intenso. O
desejo de fugir e fugir de todos é muito
comum, e também a tendência de se atirar em
desespero. De fato, os sintomas são inúmeros
e variam de acordo com o grau ou forma
particular da queixa. Nós só mencionamos
isso porque é possível levar para o reino
espiritual aquilo que não é especificamente
espiritual, e relacionar ao Senhor ou ao
inimigo aquilo que pode ser apenas a
enfermidade deste corpo de corrupção. Pelo
menos é assim que reconhecemos isso, e
sabemos que nosso caso é de entendimento
comum entre aqueles que o conhecem; porque
um elemento muito geral desse problema é que
o paciente sempre sente que é completamente
incompreendido por todos.
Confusão do Natural com o
Espiritual
Quando esta condição de aflição acomete
alguém dentro do círculo do povo de Deus, o
inimigo se torna especialmente ativo para
tentar lhe dar implicações espirituais. Que
angústia terrível existe exteriormente por
causa da incapacidade de concentrar a mente
em oração por um momento que seja! Que
sofrimento por causa da depressão que é
interpretada pelo “acusador” como sendo o
resultado do pecado, estabelecendo assim uma
falsa condenação! Que devastações, devido ao
fato de ter sido dado à outra presença um
caráter sinistro, como se o maligno tivesse
recebido direito sobre alguém! Que angústia
por causa desses pensamentos incontroláveis
e estranhos! Que sensação de ter perdido a
salvação, estar além do perdão; questionando
toda a verdade e realidade da fé cristã,
etc., etc.!
Onde podemos começar a ajudar esses
aflitos?
Em primeiro lugar, digamos a todo o povo
do Senhor que temos uma das mais sérias
advertências contra viver a vida cristã na
esfera da alma e não na do espírito. Parece
que o inimigo facilitaria esse
"cristianismo" em um grau tremendo. A
imersão mental, emocional e volitiva nas
coisas "espirituais”, à parte ou além de uma
verdadeira energização do Espírito Santo,
trará seu próprio Nêmesis, e o fim pode ser
desespero [Nêmesis - substantivo
masculino com origem no grego que indica
vingança, também sendo usada com sinônimo de
inimigo].
"A mente da carne é a morte; mas a mente
do espírito é vida e paz." [Rm 8:6 -
tradução literal da versão ARV]. Assim,
diríamos que o que é verdadeiramente do
Espírito permanece, e permanece quando todo
o domínio da alma (natureza psíquica) e do
corpo se desfaz e contradiz.
Você realmente nasceu do alto? Foi
obediente à visão celestial, à luz que
recebeu? Quando fracassou e caiu, você se
arrependeu, confessou e fez o que poderia
ser feito para produzir fruto para
arrependimento? Você apelou para a eficácia
do Sangue de Jesus Cristo, o Filho de Deus?
Manteve contato com Deus quando convencido
do erro? Então se posicione em seu espírito,
mesmo contra sua própria alma e corpo, se
necessário, e contra todo o inferno. Assuma
o fato de que Aquele em Quem você depositou
sua confiança é "maior que nosso coração" [1
Jo 3:20].
Então, uma palavra mais. Mantenha seus
olhos fora. Recuse que a introspecção
permaneça sobre você, sua condição, seus
sentimentos, seus sintomas. Não procure por
esperança em si mesmo. Não busque virtudes
em seu próprio coração. Deixe de esperar
qualquer bem de si mesmo, mas lembre-se de
que Ele é a sua justiça, a sua segurança, a
sua aceitação em Deus, o seu mérito, o seu
Intercessor.
Capítulo 4 - Unidade com Cristo e Afinidade
Mútua
“Eis a
razão por que há entre vós muitos fracos e
doentes e não poucos que dormem” (1
Coríntios 11:30).Nas palavras acima,
o apóstolo traz a nota que fez depois de
realizar uma consulta clínica espiritual
relacionada às doenças e debilidades dos
crentes de Corinto. De fato, ele foi além
disso, e deu a razão para a morte de "não
poucos". Evidentemente as coisas eram muito
ruins lá quanto ao físico. Acidentalmente, e
ainda assim como uma parte impressionante do
todo, é impressionante que tanta doença
física e - aparentemente - morte
desnecessária, devessem estar entre aqueles
que diziam que "não faltava nenhum dom”,
incluindo o dom de curar (1:7; 12:9).
Agora vamos esclarecer este ponto dizendo
enfaticamente que havia uma razão definida
para essa condição, e evidentemente uma que
se baseava em um estado de coisas que
deveria reconhecido como errado. Isso
significa apenas duas coisas.
Um - toda enfermidade, doença e e
morte não se deve a um pecado
específico da parte do aflito. Isso
certamente seria algo desnecessário de
mencionar, mas dizemos com veemência para
que algum sofredor não assuma a condenação
desnecessariamente. Temos muitos sofredores
"na vontade de Deus".
A outra coisa é que deve ter havido algum
conhecimento que colocou esses crentes em
categoria daqueles que sabiam algo e não
estavam pecando em ignorância. De fato seria
uma coisa dolorosa se os conselhos Divinos
decidissem que tal pronunciamento definido
fosse feito onde as pessoas fossem
totalmente ignorantes de seus pecados e atos
errados.
Todo o tom desta carta mostra que o
estado das coisas tal que demandava por
palavras severas e não conselhos suaves.
Isso nos leva ao ponto exato dessa palavra
em particular. Existe um princípio que
queremos indicar. A natureza real de "não
discernir o corpo" não é o objeto de nossa
investigação. O princípio é este:
Se qualquer um ou qualquer parte do corpo
do povo do Senhor vier a conhecer a verdade
divina em geral ou em particular, e
permanecer definitiva ou ostensivamente com
ela, eles entrarão em contato, não com a
doutrina abstrata, mas com o Deus vivo, e
com aquilo que O envolve. O efeito deve ser
positivo para a vida ou a morte. Eles nunca
podem permanecer como eram antes; mais cedo
ou mais tarde haverá um problema. Se essa
verdade Divina tiver surgido, ou eles
tiverem seguido o seu caminho, em algo mais
do que uma mera tradição, isto é, por uma
verdadeira obra de primeira mão do Espírito
Santo, as questões serão mais imediatas e
positivas. Se tal povo - como neste caso
básico em Corinto - conhecer por um
ministério do Espírito Santo a verdade de:
a) A essencial unidade vital dos crentes
com um Cristo crucificado e ressurreto -
implicando em sua própria morte para a vida
do ego, e ressurreição para viver "de agora
em diante" para Ele - então ao trazer sua
velha natureza positivamente para aquele
novo reino, implica que eles precisariam
encarar o impacto do golpe mortal da cruz.
Ou eles devem saber a verdade de:
b) A unidade essencial e afinidade de
todos os crentes como "um só pão, um só
corpo", e então agem de qualquer maneira
definitivamente violando esse parentesco.
Tais pessoas devem sofrer as conseqüências
de se afastar da "cobertura" e salvaguarda
que, de maneira muito real - está ligada à
vida espiritual corporativa. Se entendemos
as leis e o funcionamento dos valores
protetores de nossos corpos físicos, e
percebemos como um relacionamento perturbado
em sua função conduz ao sofrimento e à morte
- a menos que seja correto - devemos saber
que Deus constituiu todo o universo físico
sobre princípios espirituais. Além disso,
devemos perceber que o termo "Corpo", usado
para a Igreja, não é uma mera metáfora, mas
algo muito real.
Não é possível aceitar qualquer revelação
Divina sem estar envolvido em seus
princípios e sofrer as consequências se
esses princípios forem violados. Assim, o
apóstolo diz “Eis a razão”, ou seja, essa é
a causa. Você não pode professar que Cristo
é o Senhor, e então ser seu próprio Senhor.
Você não pode ser membro de uma família e
ignorar a família, e ser como se fosse da
família. Você não pode ser um membro de um
corpo e, em seguida, fazer seus próprios
planos e realizar seus próprios arranjos sem
levar em conta as leis de relacionamento.
Isto carrega suas próprias leis de
retribuição, e temos o Espírito Santo a ser
levado em conta e tomado em consideração.
Podemos escorregar, abandonar e as correções
do Senhor podem ser gentis, mas a questão da
responsabilidade varia de acordo com a
oportunidade, privilégio e posição.
*A
tradução deste estudo foi feita voluntariamente por Valdinei N. da
Silva, que, por reconhecer a excelência do conteúdo, coloca o mesmo ao alcance da Igreja de
Cristo, para sua edificação. Peço aos irmãos que possuírem
conhecimentos mais aprofundados em tradução, que colaborem, enviando as
suas preciosas observações e retificações para:
valdineibr@gmail.com
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Em
consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo
que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos
não possuem copirraite. Portanto, você está livre para
usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você
desejar compartilhar escritos deste site com outros, por
favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de
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