Em Contato com o Trono
por T. Austin-Sparks

 

Capítulo 1 - A Base Divina de Toda Oração Aceitável 

Na medida em que contemplamos o grande ministério da oração, penso que seria de muita ajuda se de início fôssemos lembrados sobre a base Divina de toda oração aceitável. Antes de chegarmos ao que pode ser mais técnico, precisamos reconhecer o fundamento espiritual da oração, e isto tem a ver com as especiarias e a sacralidade do incenso que devia ser queimado sobre o altar referido em Êxodo 30, verso 34 em diante.

Não é minha intenção tomar esses ingredientes para exposição, mas simplesmente observar que o Senhor estipulou certas coisas para o aroma da composição, e, então, fez uma declaração muito séria em relação a elas: “...não fareis para vós mesmos conforme a composição do incenso; santo será ao Senhor. Quem fizer composição semelhante, com o mesmo aroma, será cortado dentre o povo”. Esta é a base de toda oração aceitável. Como sabemos os ingredientes aromáticos, a composição do incenso tipifica as excelências morais do Senhor Jesus: Sua graça, Suas virtudes, Seus méritos e Sua dignidade. O incenso não são as orações dos santos, mas é o mérito e a dignidade do Senhor Jesus colocado nelas, misturado às orações, fazendo com que as orações se tornem eficazes e aceitáveis na presença de Deus.

Há uma totalidade aqui, visto que os ingredientes são quatro: a perfeição da graça e as virtudes e excelências morais de Cristo. E, então, como você observa, o sal (que sempre fala da preservação das coisas na vida) é misturado a esses outros ingredientes, e isto me parece sugerir que até mesmo a apresentação das excelências morais do Senhor Jesus é para estar sempre livre de mera formalidade fria, que significa morte, e precisa permanecer algo vivo. É muito possível que uma contemplação do Senhor Jesus se torne algo mecânico e formal, algo que aceitamos em nossas mentes como necessário e verdadeiro, de modo que chegamos mecanicamente sobre os méritos do Senhor Jesus, quando o Senhor quer que a coisa esteja continuamente viva.

Com cada nova ida ao Senhor deveria haver uma nova apreciação em vida do Senhor Jesus. O sal preserva as coisas da morte, para mantê-las vivas, para mantê-las frescas e ardentes, e nos é requerido ter um entusiasmo de apreciação vivo e permanente dessas excelências do Senhor Jesus. Se for desta forma, então a oração é aceitável e eficaz. O sal não é um dos ingredientes, mas é algo adicionado a eles, e este algo é aquilo que é incorruptível.

Então temos a própria condição de que nada disso era para ser fabricado pelo homem para si próprio. Não era para haver imitação, e não era para haver nenhuma apropriação particular ou pessoal por parte do homem. Era para ser apresentado somente ao Senhor e ser santo ao Senhor, e uma infração a esta regra significava morte. Como sabemos, numa ocasião, a oferta de fogo estranho resultou em julgamento e morte. Assim, somos aqui avisados de que se esta composição fosse fabricada pelo homem, uma imitação dela feita para si próprio e para seus interesses particulares, ele seria cortado de entre o seu povo. As excelências morais do Senhor Jesus não podem ser imitadas. O homem não pode tê-las em si mesmo, e tudo que é fingido não é aceito por Deus. Não há excelências, e não há glória semelhante as do Senhor Jesus.

Aqui temos Deus muito definido e positivamente dizendo em efeito que há uma singularidade, uma exclusividade sobre o caráter do Senhor Jesus que é inalcançável pelo homem e que está completamente separada do melhor que o homem possa fazer de si mesmo. Deus vê no Senhor Jesus aquilo que não está em nenhum outro lugar, e, para qualquer homem que se aproxime, imitando os méritos do Senhor Jesus, isto significa morte para este homem. Não há nenhum terreno de aproximação a Deus em nossas próprias glórias morais, e é uma blasfêmia terrível falar sobre o sacrifício e entrega de vida do homem em favor de seus iguais, separado do sacrifício do Senhor Jesus. Isto é uma blasfêmia absoluta, e deve sofrer o mais sério juízo de Deus. Não! Deus não enxerga coisa alguma semelhante as excelências morais de Seu Filho e nos proíbe de tentar trazer qualquer coisa que seja uma imitação delas, algo fabricado pelo homem, que não reconhece a singularidade do Senhor Jesus.

Assim, a base de toda oração aceitável sobre a qual nos aproximamos do Pai é aquela das excelências, glórias, graça, virtudes, méritos e dignidade do Senhor Jesus. Isto é muito simples, mas é básico, e precisamos reconhecer isto antes de podermos chegar a algum lugar em questão de oração. 

Os Cinco Aspectos da Oração 

Agora estamos aptos para prosseguir com a questão da oração propriamente dita. Em primeiro lugar quero falar um pouco sobre a natureza da oração, ou daquilo que a constitui, a partir de seus diferentes pontos de vista. E, embora possa haver muitos outros aspectos, penso que podemos dizer que a oração possui cinco aspectos principais: comunhão, submissão, petição, cooperação e conflito. Oração é cada um deles, e a oração, em sua plenitude, requer ou envolve todos eles. 

Oração como Comunhão 

Primeiramente, oração é comunhão, é companheirismo, é amor abrindo o coração a Deus, e este é o fundamento de todas as formas verdadeiras de oração. Podemos associá-la às duas atividades principais do nosso corpo humano. Quando falamos do corpo físico, falamos de algo que é orgânico, e, então, do que é funcional. Um problema orgânico é algo muito sério, mas um problema funcional pode não ser tão sério, e a oração, como comunhão, toma o lugar daquilo que é orgânico em nosso corpo. Uma parte de nossa constituição orgânica é o nosso fôlego, que chamamos de respiração.

Agora, você nunca para a fim de pensar nisto! Nunca questiona, dizendo: ‘Será que irei dar outra respirada?’ 'Será que irei respirar?’ ou 'Quantas respiradas mais irei dar hoje?’ Você pode fazer isto sobre uma refeição, pois isto é algo funcional, mas jamais sobre a sua respiração, pois é orgânico. Você pode discutir se irá caminhar, ou falar, ou pensar, e pode dizer a si mesmo que irá parar de pensar, ou caminhar, ou falar. Isto é funcional. É controlado e deliberado, mas você não faz isto com a sua respiração. Ela continua. Mas, se a sua respiração pudesse parar, o seu caminhar, falar e pensar iria parar também, de modo que a respiração é fundamental para o resto.

E a oração, como comunhão, é na vida espiritual o mesmo que a respiração é na vida física. A comunhão com Deus é algo sustentado, algo como a respiração que prossegue, ou que deveria prosseguir. Ela difere completamente das atividades funcionais periódicas tais como a alimentação. A respiração é completamente involuntária; é algo não deliberado. Nós podemos chamá-la de hábito, e um hábito é algo que facilmente foge da consciência plena de alguém que está viciado nele. Nós fazemos coisas habitualmente sem estarmos conscientes no momento em que as estamos fazendo. Quando um hábito está plenamente formado, ele simplesmente passa a fazer parte do nosso procedimento, e a comunhão com Deus é isto – algo que prossegue. Oração como comunhão é simplesmente isto: nós estamos em contato com o Senhor e, de forma espontânea e involuntária, abrimos o nosso coração para Ele. Esta é a primeira coisa fundamental em toda oração, e é algo na qual precisamos prestar atenção. Embora nunca discutamos se vamos respirar ou não, existe a coisa semelhante a desenvolver uma respiração correta, e neste sentido precisamos prestar atenção em nossa respiração.

Penso que, de todas as pessoas que já conheci, que tivesse exemplificado esta vida orgânica de comunhão com Deus, o Dr. F. B. Meyer foi notável. Não importava onde ele estivesse, ou quais fossem as circunstâncias, ele parava de repente, talvez ao estar ditando uma carta, ou numa conversa, ou numa reunião de negócios, e apenas dizia: ‘Pare um minuto!’ e orava. E este era o seu hábito na vida. Ele parecia estar a todo o momento em contato com o Senhor. Era como a respiração para ele, e creio que isto representou um dos segredos de sua vida frutífera e do valor de seu julgamento nas coisas do Senhor. Somente aqueles que tinham contato íntimo com ele, especialmente nas reuniões executivas difíceis, sabiam o valor daquele julgamento espiritual que ele trazia para suportar as situações, e parecia chegar a ele simplesmente desta forma, como que do Senhor.

Bem, isto é oração em sua base. É comunhão, é companheirismo e abertura espontânea de coração ao Senhor. Não é toda a variedade de oração, mas é a vida vivida em suporte a todas as atividades deliberadas, é vida em contato com o Senhor, e é algo muito, muito valioso. Todas as demais orações só são eficazes se tivermos esta. É muito diferente daquele tipo de vida que apenas ora devido a uma emergência, e as emergências muito freqüentemente são mais críticas do que precisariam ser porque precisamos encontrar o nosso caminho de volta a Deus, ao invés de já estarmos lá. Penso que muito freqüentemente o Senhor permite que as emergências cheguem a nós, a fim de restaurar a nossa comunhão com Ele, comunhão esta que foi perdida, e, na mente do Senhor, o fruto que fica de tal emergência é que nós não possamos perder esta comunhão novamente. Precisamos preservá-la.

Oração como Submissão 

Então, em segundo lugar, oração é submissão, e aqui precisamos estar conscientes da possibilidade de uma contradição, em termos. Oração é submissão. A inércia passiva, chamada de confiança, não é oração. Temos ouvido pessoas falarem sobre confiança, que para eles significa apenas passividade e inação, porém, isto não é oração. Submissão é sempre algo ativo, nunca passivo. A submissão sempre envolve a vontade; ela não descarta a vontade. Agora, preste muita atenção nisto. Muitas pessoas pensam que apenas se apoiar confiantemente no Senhor é submissão, e suas palavras ao Senhor assumem suas características a partir de tal estado, porém, isto não é oração. Aquiescência cega às coisas não é submissão. Submissão significa alinhar-se ao propósito Divino. Isto pode significar conflito, e irá, quase que invariavelmente, significar ação, e irá trazer a vontade. A oração, seja qual for o ponto de vista a que você se referir a ela, é sempre positiva. Jamais passiva. Confiança é uma outra coisa, e não entra no campo da oração. A fé entra no campo da oração, mas a fé é sempre algo ativo, nunca passivo. A fé pode exigir uma batalha, e muito freqüentemente exige, para se chegar a um lugar de descanso, porém, o ‘descanso da fé’ não é o que temos chamado de aquiescência cega. O ‘descanso da fé’ significa que o último estágio de ajuste ao propósito Divino foi alcançado. Submissão não é meramente a supressão do desejo, mas o trazer o desejo alinhado à vontade de Deus, e, se for necessário, mudar o desejo. O desejo pode ser algo muito forte, uma poderosa força propulsora, porém tal força precisa estar totalmente sob controle, a fim de que possa se ajustada na direção de outra força maior. Para puxar um trem, uma tremenda quantidade de força é exigida, porém, um trem moderno está tão arranjado que uma poderosa força propulsora que o leva adiante pode, num instante, ser direcionada para os freios, a fim de pará-lo. Na oração, onde a submissão está em vista, isto é o que muito freqüentemente acontece. A força do desejo tem que ser detida numa direção e ser trazida para outra, talvez de nos impedir de avançar, trazer-nos a uma parada na vontade de Deus. Isto é submissão. Você sabe, submissão é algo ativo, positivo.

Eu antecipo que haverá muitas questões em relação a isso, mas é muito importante reconhecer que a oração, em seu segundo aspecto, é submissão, que é algo positivo. Não é apenas se prostrar diante de Deus e dizer: ‘Bem, eu creio que tudo irá sair bem. Eu apenas concordo com as coisas do jeito que estão e as deixo com o Senhor.’ Submissão é estar positivamente alinhado à vontade de Deus, ao propósito de Deus. Isto muito freqüentemente significa profundo conflito, e, algumas vezes, pesar, mas é necessário. Iremos falar sobre isto mais adiante. 

Oração como Petição 

Em terceiro lugar, oração é petição, solicitação, pedido. Tudo é a mesma coisa, seja qual for a palavra que você preferir. Aqui nós tocamos aquilo que é, talvez, o maior aspecto na atividade da oração. Sem dúvida alguma, este tipo de oração tem um espaço amplo na Escritura, e define o significado da palavra ‘oração’.

Do ponto de vista escriturístico, a oração é corretamente tomada como significando petição, e, se você percorrer a Palavra de Deus, irá descobrir que a oração representa petição numa quantidade esmagadora. Talvez não precisemos de muitos argumentos ao longo dessa linha para provar ou persuadir que é desta forma, mas estou muito convencido de que, antes de prosseguirmos, iremos ver que uma nota de ênfase é necessária, pois, afinal de contas, nossos maiores problemas surgem na direção do pedir, no campo da petição. Iremos continuar orando, naturalmente, e iremos continuar pedindo, apesar de tudo. Acredito que iremos, porém, é bom termos a base bem colocada para a petição, reconhecermos claramente, e estarmos totalmente certos de que há um objetivo eficaz na oração. Eu não tenho dúvida de que todos nós, em algum momento ou outro, temos alcançado muito pouco com as nossas orações de petições devido a um pouco de coisa mental que entra e enfraquece a certeza. O que estou falando é sobre a eficácia objetiva da oração, isto é, oração que tem poder para mudar as coisas objetivamente, e não meramente ter uma influência sobre nós interiormente, a oração que traz respostas exteriores a nós, petições, pedidos estabelecidos contra todos falsos argumentos, tais como: a onisciência Divina torna a oração desnecessária; Deus conhece tudo; sabe o que irá fazer, como irá fazer, e conhece o fim de todas as coisas desde o início, assim, para que orar? Ou, novamente: a bondade Divina torna a oração supérflua. Deus é bom, compassivo, misericordioso e longânimo. Ele somente irá fazer o melhor, pois Ele é amor, assim, a oração é supérflua. Por que pedir ao Senhor para fazer o bem, para ser gracioso, para mostrar benignidade e para fazer o melhor para nós? Por que não confiar na bondade de Deus? A oração é supérflua. Ou mais: a preordenação Divina torna a oração inútil. Se Deus estabeleceu as coisas eternamente, então é inútil orar. Ou, seguindo esta linha da soberania de Deus – o fato de Deus controlar e governar, de estar no trono do governo e possuir todas as coisas em Suas mãos e em Seu poder – isto torna a oração em falta de fé. Por que pedir, por que orar, quando todas as coisas estão nas mãos de Deus e Ele está governando e dirigindo tudo em Sua soberania? Mais ainda: a vastidão da lei e do propósito de Deus torna a oração presunçosa. É presunção pedir a Deus para mudar as coisas quando Ele tem fixado todas as coisas de acordo com as Suas leis eternas, e as coisas estão se movendo conforme a ordem estabelecida. É presunção esperar que o Senhor saia de Sua ordem, ou pedir a Ele para assim fazê-lo. (Ver capítulo 4).

Agora, você pode não ter colocado as coisas dessa maneira, e essas questões podem nunca ter surgido em sua mente desta forma, porém eu me atrevo a sugerir que, tenham aquelas palavras estado ou não em sua mente, tenha você colocado ou não as coisas desta maneira, o que está contido nelas têm, de tempos em tempos, penetrado sutilmente em sua vida de oração, tem afetado-a, tem tirado um pouco da sua força. Quando você se coloca em oração, algo indefinível tem entrado: 'Bem, o Senhor sabe o que Ele irá fazer, então por que irei pedi-Lo? O Senhor é bom e gracioso, assim, por que devo eu pedir? O Senhor conhece o fim desde o princípio, então, por que não deveria eu confiar nele? O propósito do Senhor está estabelecido, então, por que deveria eu começar a lutar com Ele para mudar as coisas? Ele irá realizar o Seu propósito, e a Sua mente está determinada, então, quem pode mudá-la?’ A oração é afetada, se não pela própria definição da linguagem mental, por este senso de contradição que surge. Todas essas coisas entram na mente, ou no coração, e têm uma tendência de impedir ou enfraquecer a oração, e nós temos que lidar com elas mais plenamente na medida em que avançamos. Precisamos reconhecer que o modernismo do nosso tempo realmente põe de lado a eficácia objetiva da oração, e apenas lhe dá um valor subjetivo, isto é, sua influência salutar sobre aquele que ora, fazendo uma troca de, talvez, comportamento, mente, ou razão, por certas qualidades de reverência e coisas semelhantes.

Antes de abordarmos algumas dessas coisas mais plenamente, deixe-me dizer que há duas coisas para sempre se ter em mente na oração peticional. A primeira é a necessidade dos outros dois aspectos, comunhão e submissão. Por oração peticional, após tudo o que dissemos, creio eu, e com o qual, afinal de contas, iremos prosseguir, porém a necessidade básica é comunhão com o Senhor de modo que a oração não se reduz meramente a pedir coisas, mas é fruto de um companheirismo sincero com Ele. E isto requer submissão, de modo que as nossas petições não são para os nossos próprios fins ou interesses pessoais, mas, tendo sido trazidas pela submissão em alinhamento à vontade de Deus, estão baseadas na comunhão com a vontade de Deus. Você irá ver que estou apenas colocando de outra forma aquilo que está perfeitamente claro na Palavra de Deus, a saber: ‘Se pedirdes alguma coisa segundo a Sua vontade’. Isto é submissão.

Em seguida a outra coisa a se ter em mente na oração peticional é que, à vista de todas as dificuldades mentais que mencionei, torna-se proeminentemente um ato de fé. São essas dificuldades mentais que muito amplamente tornam a oração peticional um ato de fé. Sim, decida se você irá seguir ao longo dessas linhas, sobre a soberania de Deus, e predestinação, e assim por diante; contudo, cremos que Deus irá mudar as coisas. Apesar de todos os argumentos que iriam minar e enfraquecer a oração, iremos continuar pedindo. Isto torna a oração peticional um ato proeminentemente de fé. Você pode dizer que é uma maneira muito barata de sair dela. Bem, nós ainda não terminamos, mas esta é a conclusão a que temos que chegar. Não queremos sair disto facilmente.  

Oração como Cooperação 

Há ainda outros dois aspectos da oração, um dos quais iremos tratar neste capítulo, e outro que deixaremos para mais tarde.

O quarto aspecto é cooperação, e este é o principal objetivo da oração. E fica por trás de tudo mais e irá nos posicionar corretamente quanto à oração em todos os seus aspectos. Comunhão, submissão, petição e conflito são todos ajustados quando reconhecemos que orar é cooperação, pois todos esses outros aspectos e fases da oração visam à cooperação. Cooperação é o motivo, a verdade, a vida, a liberdade, o poder e a glória da oração. O motivo da oração é a cooperação com Deus. O que a oração é na verdade é cooperação com Deus. Para termos vida na oração precisamos reconhecer que ela é cooperação com Deus, e obtemos vida quando a oração entra em cooperação com Deus. Se não estamos em cooperação com Deus, podemos estar certos de que não temos vida na oração. Se estivermos de fato cooperando com Deus, saberemos que temos vida na oração.

A liberdade na oração vem ao longo da linha da cooperação com Deus, e não será até que tenhamos este ajuste, este estar alinhado ao propósito de Deus, que nós ‘teremos êxito’, como dizemos. Imediatamente ao nos alinharmos ao propósito de Deus e ativamente cooperarmos com Ele, aí, então, entramos em movimento e obtemos liberdade.

De certa forma o poder da oração está relacionado à cooperação com Deus. Cooperação com Deus é poder na oração. Pense em Elias, e outros, vindo em cooperação com Deus e da eficácia resultante de suas orações. O que é realizado!

E, então, a glória da oração. A oração se torna algo glorioso quando é inteligente e espiritualmente uma questão de cooperação com Deus. Cooperação elimina o egoísmo e tudo o que é meramente particular. Este é um de seus principais valores, pois significa que a oração deve nos trazer para o propósito Divino, para o método Divino, para o tempo Divino, e para a disposição de Deus. Todas essas coisas são importantes – não apenas conhecer o plano, mas o método de Deus para cumprir o Seu plano; não apenas conhecer o plano e o método, mas entrar no tempo de Deus; e, então, não apenas estar neste lado executivo, mas estar num espírito correto quando o tempo chegar, fazer a coisa no Espírito, do modo do Senhor. Tudo isso é cooperação. Podemos estar na coisa certa, no modo correto, no tempo correto, e, contudo, não estarmos ajudando o Senhor porque estamos numa disposição errada, não na disposição(espírito) do Senhor. Oração em cooperação com Deus é para fazer um ajuste em todas essas questões.

Há três fatores que são essenciais à oração. Em primeiro lugar, desejo; em segundo, fé; e em terceiro, vontade. Acabei de fazer esta declaração e a deixo como está.

Então, quando colocamos juntas a comunhão, a submissão e a petição, temos cooperação. Quando essas coisas seguem juntas e estão ajustadas umas às outras, alinhadas umas às outras e à vontade de Deus, então você tem cooperação.

Talvez, ao encerrarmos esta fase de coisas, precisemos lembrar a nós mesmos de que muito freqüentemente o Senhor nos chama para um exercício inicial de nossa parte antes que Ele venha para o nosso lado. Ele, muito freqüentemente, requer de nós uma iniciativa na questão do desejo, da fé e da volição. É como a gota de água que tem que ser colocada na velha bomba para produzir o fluxo de água, e você não recebe o fluxo até que dê algo a bomba. E o Senhor apenas pede isto de nossa parte o que pode ser, em comparação, muito pouco, mas que possibilita a Ele aparecer em Sua plenitude. Muito freqüentemente a oração em seu início representa exercício de vontade e de fé da nossa parte, e, então, o Senhor responde a isso. Pode ser que o Senhor não responda até que Ele veja o desejo colocado em ação deliberada de fé para se chegar a Ele. Muito freqüentemente há uma grande quantidade de desencorajamento envolvido no início da oração, e o perigo é que podemos desistir muito cedo por parecer que não estamos chegando a lugar algum. O Senhor está apenas pedindo aquela gota de água a fim de começar a fluir!

Até agora mencionamos apenas quatro aspectos da oração, e mencionamos algumas dificuldades que surgem em relação a elas, porém não esclarecemos essas dificuldades. Vamos dar dois capítulos inteiros ao quinto aspecto da oração, e, então, continuaremos a tratar grandemente das dificuldades visando buscar respostas a elas. Essas dificuldades, contudo, estão realmente somente no campo da mente, e, embora possam, algumas vezes, atravessarem-se no caminho da fé, a fé irá triunfar sobre elas, e irá deixar para trás uma história de coisas poderosas, apesar deles. 

Capítulo 2 – Oração de Guerra 

Ler: Neemias 4:9,17,20. Efésios 6:18.

A vida cristã muito freqüentemente tem sido comparada a uma guerra, e o apelo tem sido feito para se entrar e aderir às fileiras e entrar na batalha do Senhor’. Mas há uma irregularidade a respeito de tal apelo, porque, embora seja verdade que exista tal batalha e tal companhia militante, a real consciência dessa luta, dessa batalha, não existe até que sejamos salvos e estejamos ‘do lado do Senhor’. Quem não é convertido não sabe nada sobre esta batalha. Para eles ela é algo meramente relatado, algo que se fala a respeito, algo objetivo – que está fora deles, algo sobre o qual eles possuem idéias completamente erradas. Não é até que estejamos realmente em Cristo que passamos tanto a conhecer a realidade da batalha como entender a sua real natureza.

Mas não é somente com a guerra da vida cristã no sentido geral e comum que estamos interessados aqui neste momento. É com aquela guerra que está especialmente ligada e relacionada ao pleno testemunho do Senhor Jesus. A concepção geral da guerra cristã é aquela que tem a ver com os males, os erros, os vícios e as coisas neste mundo, e com as condições humanas que deveriam ser de outra maneira, e é aí que a concepção equivocada de homens e mulheres inconvertidos é encontrada. Eles pensam que entrar para o exército cristão significa sair em batalha contra as maldades, os erros, e os vícios que abundam neste mundo. Mas quando você realmente entra em contato com o pleno testemunho do Senhor Jesus, logo desenvolve uma outra consciência: aquela de que não é meramente contra maldades, erros, e pecados que você tem lutado, mas contra forças espirituais – forças inteligentes, astutas, venenosas e maliciosas – que estão por trás de tudo mais. É nesta guerra que estamos interessados agora, aquela que está relacionada ao pleno testemunho do Senhor Jesus, ao Seu absoluto e perfeito senhorio neste universo, e esta guerra não é contra coisas, mas contra entidades espirituais chefiadas por um grande personagem espiritual, o maligno.  

Conflito Espiritual Implica uma Posição Espiritual

Esta guerra está relacionada a uma posição. É uma consciência que somente chega a nós em um determinado campo. Você pode ser um cristão, e como cristão pode perceber que há adversidades, dificuldades, oposições e coisas que tornam a vida cristã difícil e cheia de conflito, desafiando todos os aspectos combativos da vida, e, contudo, você pode ainda não ter entrado nas últimas coisas do testemunho do Senhor Jesus e no campo final da batalha dos santos. Mas, se você, como crente, chegar à revelação da plenitude de Cristo em Seu senhorio pessoal, à grandeza da obra de Sua cruz em cada área, e à luz da Igreja que é o Seu Corpo, então você entra imediatamente em um novo campo de conflito, a batalha muda a sua característica, e você começa a desenvolver uma consciência, ou uma nova consciência começa a crescer em você, de que você está contra algo muito mais sinistro, muito mais inteligentemente maligno do que aqueles males que abundam no mundo. Você fica cada vez mais consciente de que é diretamente contra o maligno e suas forças que você está lidando.

Mas esta consciência está ligada a uma posição específica, e a experiência dos crentes é que quanto mais eles avançam com o Senhor (o que significa transcender do terreno para o celestial, cada vez mais para longe da velha criação para a nova vida criada, da carne para o espírito) mais intimamente eles entram em contato com as últimas forças espirituais do universo, e o conflito assume novas formas e a guerra assume uma nova característica. É uma guerra associada a uma posição específica a que o cristão chega, e à consciência que entra somente num certo campo. É, em ampla medida, uma guerra espiritual, e, sendo assim, ela pressupõe um estado espiritual da parte do cristão.

Para colocar isto de outra maneira: quanto mais espirituais nos tornamos, mais espiritual se torna a guerra; e mais espiritual a guerra passa a ser em nossa consciência, de modo que poderemos perceber que temos nos tornado mais espirituais. Quando somos carnais nossa guerra é carnal, e eu me refiro a crentes, e não a descrentes. O infiel não é chamado de carnal. Ele é natural. Quando somos crentes carnais, nossa guerra e nossas armas são carnais. Isto é, enfrentamos os homens em seus próprios níveis e respondemos as provocações deles com aquilo que eles nos provocam. Se eles vêm com argumento, nós respondemos com argumento; se eles vêm com a razão, nós os enfrentamos com a razão; se eles vêm com a força do temperamento, nós reagimos a eles no calor da carne; e se eles vêm a nós com críticas, bem, nós damos a eles aquilo que eles dão a nós, enfrentando-os sempre em seus próprios níveis.

Isto é guerra carnal, é usar armas carnais. Quando cessamos de ser carnais e deixamos todo o terreno carnal, tornando-nos completamente espirituais, encontramos a nós mesmos num novo terreno que está por detrás dos homens, lidando diretamente com forças espirituais e não meramente com forças carnais. Entramos em contato com algo que está por trás do homem carnal, e o homem carnal é completamente impotente na presença de um homem espiritual pela simples razão de ele não conseguir fazer com que o homem espiritual desça para o seu nível. Por isso ele fica desarmado e, mais cedo ou mais tarde, terá que reconhecer que o homem espiritual é seu superior. Mas a superioridade não é apenas que o homem espiritual está em um novo nível. É que ele não está enfrentando o homem natural, mas as forças por detrás dele. Agora é guerra espiritual. Cessamos de lutar após a carne; cessamos de lutar contra o homem; cessamos de batalhar contra a carne; nossa guerra se dá num outro terreno. Isto representa avanço espiritual, crescimento espiritual, e representa espiritualidade. E quando nós entramos na guerra espiritual, um novo estado é pressuposto. Nesse terreno os recursos naturais do homem são completamente inúteis. São descartados porque para esta guerra somente equipamento espiritual é admitido e eficaz. A guerra, então, é com armas espirituais, recursos espirituais. Assim Efésios 6 nos vê nos lugares celestiais, lutando, não contra carne e sangue, mas com os principados e potestades, porém estamos equipados com a armadura espiritual, a armadura de Deus. 

A Vida de Oração – O Alvo do Inimigo 

Isso tudo é preliminar. Aquilo a que estamos chegando imediatamente como a coisa de importância básica para nós, haja vista a natureza da nossa guerra, é que o campo desta batalha é a oração. Quando o Apóstolo Paulo nos mostrou a completa armadura de Deus, em todas as suas partes, e nos exortou a nos revestirmos dela e a resistirmos, ele estende o terreno sob os nossos pés e diz: “com toda oração e súplica no Espírito, vigiando nisto com toda a perseverança por todos os santos”. O campo de batalha dessa luta é a oração. O que quero dizer é o seguinte: que esta batalha é vencida no terreno da oração, essas forças são enfrentadas e derrotadas no campo da oração, e, sendo assim, o principal objetivo do inimigo é a vida de oração do cristão. Este é o ponto focal de toda a atenção e estratégia do inimigo.

Agora, se não disséssemos mais nada, além disso, esta é a coisa suprema para nossa compreensão e reconhecimento. Dissemos a coisa mais importante que podia ser dito nesse sentido. O ponto focal de toda a atenção e estratégia do inimigo é a vida de oração do cristão. Se ele puder destruir isto de alguma maneira, ele ganhou o dia, derrotou os santos e frustrou os propósitos de Deus. O inimigo combate a oração persistente, enérgica, violenta e astutamente, e ele combate a vida de oração do cristão. Ele combate de várias formas. Primeiro ele combate ao longo de linhas preventivas, na direção da prevenção, e tem que haver uma tremenda batalha e conflito para começar a orar - não apenas orar, mas ter a oração, começar a oração – e não há nada em toda gama de sua perspicácia, de sua astúcia, de sua artimanha, e de sua desenvoltura que o inimigo não irá explorar para impedir a verdadeira oração espiritual. Penso que provavelmente será suficiente para nós se nos concentrarmos sobre isso agora mesmo.  

A Batalha da Oração 

Estou muito certo de que tenho a concordância da maioria do povo do Senhor quando digo que uma das coisas mais difíceis, se não a mais difícil, é ser capaz de chegar à oração, de nos dar à oração. Quando contemplamos a oração, encontramos uma hoste de dificuldades inesperadas e imprevistas que de repente surgem como forças de tocaia que se lançam sobre nós. Tudo para impedir a oração! Não estou dizendo algo que você não sabe, mas estou dizendo isto a fim de que você o reconheça clara, definitiva e deliberadamente, e enfrente o fato de que não são apenas circunstâncias ordinárias, mas um esquema intencional, bem colocado do inimigo para impedir a oração. O inimigo, ao invés de se opor, irá promover ocupação com mil e uma coisas para o Senhor se por meio disso ele puder impedir a oração. Ele não se importa com o quão ocupados estejamos na obra do Senhor, nem com o quão freqüentemente estejamos pregando, conduzindo reuniões, e fazendo a obra do Senhor, como podemos chamá-la. Ele sabe muito bem que toda a obra para o Senhor que não é fundada na oração espiritual triunfante irá valer muito pouco, ou nada, na longa carreira e irá sucumbir. Digo que ele não se importa com a sua obra. Trabalhe para o Senhor tão duro quanto possa, mas, se você deixar a oração, não irá ter muito êxito. Uma das sutilezas do inimigo é nos fazer ficar ocupados, tão ocupados, tão em movimento e sobrecarregados com – como pensamos – as coisas do Senhor e com a obra do Senhor que nossa oração fica reduzida e limitada, se não quase que inteiramente descartada; e o Senhor jamais irá aceitar a desculpa: ‘Senhor, estou muito envolvido em Teus negócios para orar’. O Senhor jamais aceita uma atitude como essa’.

Você irá se lembrar que, quando os filhos de Israel começaram a falar sobre seu êxodo do Egito, e a contemplá-lo, a reação do inimigo foi dobrar o serviço deles, isto é, fazê-los ficar tão ocupados com o serviço que não haveria mais tempo algum para contemplar um êxodo. Imediatamente ao você começar a contemplar ou a se propor a uma vida de oração mais plena, o inimigo lança um novo esquema para mantê-lo mais ocupado, acumulando o serviço e as demandas de modo que você não tenha tempo ou oportunidade para orar.

Penso que devemos enfrentar isto muito decisivamente. Naturalmente há muitos argumentos sobre o dever, a obrigação e a responsabilidade, e isto às vezes parece como que, colocar algumas coisas de lado para orar seria negligenciar o dever, ou faltar com a obrigação, ou com a responsabilidade, mas há um momento em que devemos lançar essas questões sobre o Senhor, e orar.

Agora, evidentemente, é muito difícil aplicar isso. Há sempre riscos em dizer algo como isto, porque sempre há pessoas que estão mais do que prontas para abandonar as suas responsabilidades, ou que não gostam de assumir responsabilidades seriamente. Elas simplesmente estariam prontas e felizes para transferir suas tarefas domésticas para outra pessoa enquanto cultivassem uma vida devocional. O Senhor precisa salvaguardar esta palavra. Mas nós temos que reconhecer o seguinte: que o inimigo irá construir os seus melhores argumentos sobre responsabilidade, sobre o dever para nos impedir de orar, e há um momento em que, se virmos que a oração está completamente descartada, ou reduzida a ponto que seja completamente inadequada para uma vida espiritual ascendente e de vitória, temos que dizer: ‘Senhor, vou entregar a responsabilidade a Ti enquanto oro, confio que o Senhor não irá permitir que a minha interrupção por este momento tenha resultados danosos, e que o Senhor irá guardar esta hora de oração – em que busco por Tua glória - da invasão do inimigo’.

O princípio do dízimo realmente funciona, até mesmo neste terreno. Dê a Deus a Sua porção, o Seu espaço, e você irá descobrir que quando você tiver dado ao Senhor o Seu décimo, você será capaz de fazer mais com os nove décimos do que poderia fazer com os dez. Este princípio funciona. Mas há uma batalha para orar, e a necessidade é de um forte, poderoso, deliberado e determinado permanecer em Cristo, pela vitória de Sua Cruz, para começar a orar, trazer o valor pleno da vitória da cruz do Senhor Jesus para garantir a oração e remover o inimigo do terreno da oração, de modo que esteja guardado para a oração. É como Samá, quando ficou no terreno cheio de lentinhas com a espada em suas mãos e, sozinho, lutou contra os Filisteus e salvou aquele terreno de lentilhas, e o Senhor operou um grande livramento. O terreno de lentilhas pode representar o nosso terreno de oração, que precisa ser defendido contra o inimigo na plenitude da vitória do Calvário. Há uma luta para orar. Temos, temo eu, muito freqüentemente aceitado a situação de que não é possível orar agora mesmo, ou que as coisas são tais que torna quase que fora de questão orar. Sim, elas serão, se o Diabo tiver o seu espaço; elas serão sempre tais de modo a tornar a oração fora de questão. Esta é uma de suas táticas. Temos que limpar o terreno para a oração na vitória do Seu nome e da Sua Cruz. A Cruz é tão eficaz em guardar o momento da oração, se nós a aplicarmos, como é em qualquer outra área.

Porém, temos que conduzir a oração no terreno da vitória. Temos que assumir esta atitude, e iremos achar mais e mais necessário assim fazer: 'Agora preciso orar. Tudo torna a oração impossível no lado humano, mas, Senhor, suplico na vitória do Calvário por um tempo de oração, um espaço livre para oração’. Temos que permanecer nesta vitória, o que pode significar ter que perseverar antes de chegarmos lá. Não são apenas as muitas coisas que podem nos pressionar ao longo da linha das circunstâncias e acontecimentos externos, para não deixar nenhum espaço para a oração. Quão verdadeiro é que, quando realmente caímos de joelhos a oração é resistida! Pode não ser nada exterior. Pode não ter campainha ou telefone tocando, nem alguma pessoa chamando. Podemos estar confinados no silêncio do nosso próprio quarto e estarmos de joelhos, e, então, uma poderosa atividade perturbadora começa. Pode não ser física. Podemos subitamente desenvolver uma consciência física que não estava ali momentos antes, e isto irá ameaçar todo o nosso momento de oração, de modo que descobrimos que fisicamente temos que levantar um tremendo fardo, um fardo opressivo. Podemos até desenvolver sintomas de doenças das quais não tínhamos consciências antes. São fatos. E, então, condições mentais podem aparecer, as quais simplesmente não existiam antes. Oh, imediatamente, uma invasão de mil e uma coisas que não nos incomodavam até aquele momento! A mente fica ocupada com reflexão e com coisas que não nos incomodavam até então. E o que dizer sobre aquele senso de dormência, de frieza, de distância e irrealidade que desce sobre você em alguns momentos? Se você orar audivelmente, sua voz parece estranha e distante, e você parece estar falando ao vento. Todas essas coisas, e muitas outras, sobrevêm quando nos propomos a orar. Elas surgem bem no início, e por um momento nós enfrentamos todo tipo de desencorajamento e restrição para orar, e, se tomarmos os primeiros cinco, dez ou quinze minutos como nosso critério, iremos desistir, iremos parar e continuar com outra coisa.

Sim, o inimigo está pronto para impedir a oração, e há uma fase da batalha que tem que ser vencida a fim de se conseguir orar. Novamente digo, isto não é nada novo para você – a menos, naturalmente, que você nunca tenha tido uma vida de oração, ou seja alguém que nunca assumiu seriamente o negócio da oração. Mas não estou falando tudo isto para informá-lo. Estou falando isto para você e para mim mesmo, a fim de que possamos reconhecer que isto é uma coisa que nos chama para a batalha. Entrar na oração é a batalha dos santos, e não apenas vencer na oração. Há este aspecto da atividade do inimigo que é o de impedir a oração, e conseguir isto é uma batalha. Tem que haver um permanecer firme, um assumir de posição, um resistir em oração em favor da oração.

Espero que a menção de tudo isto, que é tão real às suas experiências, venha a ter, contudo, o efeito desejado de fazê-lo reconhecer que no futuro a sua vida de oração não irá se desenvolver se o inimigo puder impedi-la, e se você for tê-la, e se ela for se desenvolver, então você terá que agüentar firme. A coisa não irá simplesmente vir. Você não irá achar que simplesmente se lança nela. Você jamais irá achar que é levado por uma poderosa vida de oração, ou que você caminha com facilidade em tal coisa. Você irá descobrir que há conflito e batalha para consegui-la, que todo tipo de coisas será utilizado pelo inimigo para impedi-la, e tudo o que ele tem ao seu comando de sobrenatural será usado. Você e eu, caro amigo, temos que lutar pela nossa vida de oração, e, quanto mais avançarmos com o Senhor espiritualmente, mais descobriremos que a coisa é dessa maneira. Não é que o inimigo esteja pronto para nos impedir de ter uma vida pessoal de oração. Não é contra isto que ele se opõe. É o testemunho do Senhor Jesus que está muito intimamente ligado à vida de oração do povo do Senhor que ele procura destruir. Você e eu, como indivíduos, como seres humanos, não significamos nada para o inimigo. É aquilo que está associado a nós, e aquilo com que estamos associados em Cristo – Seu senhorio e Sua glória.  

O que Está Envolvido na Oração 

Agora, não ocorre a você, ou até mesmo não lhe atinge com força considerável, que esta resistência à vida de oração por parte do inimigo implica, ou mais do que isto, positivamente declara e proclama que a glória e a honra do Senhor, Seu nome e Seu testemunho são proeminentemente assegurados pela oração? Se este é o ponto focal da atividade do inimigo, então significa que os interesses mais elevados do Senhor são servidos pela oração. Isto coloca a oração em primeiro lugar. Isto, novamente, não é novidade para você, mas sim uma ênfase a mais sobre o fato de que o inimigo está sempre tentando colocar a oração em último lugar. Ele irá tentar apresentar qualquer outra coisa em relação ao Senhor antes da oração, e colocar a oração em último lugar. E não importa como você coloca a questão, ou o que você diga para o povo de Deus sobre isto, você não pode obter isto em casa para eles. 'Oh, é apenas uma reunião de oração esta noite!’ No domingo à noite, quando há o ministério da Palavra e a pregação, você terá uma presença maciça, mas na reunião noturna de oração você vai para corredor lateral que estará, talvez, com pouco mais da metade da capacidade. E isto embora no domingo à noite você tenha dito que o nosso principal ministério é a oração e que tudo mais desaparece se a nossa vida de oração fracassar! Você pode falar tudo o que quiser ao longo desta linha, enfatizar e acentuar isto, porém, isto não faz qualquer diferença. Devo confessar que fico muitas vezes perplexo com o fato de que muitas pessoas realmente espirituais – e dou-lhes crédito por serem – se espremam em reuniões de pregações e conferências, mas sejam raramente vistas numa reunião de oração e deixem tão poucos fazerem-na na vida da oração coorporativa da assembléia.

Sim, é bem assim, como se ouvir uma pregação fosse a coisa principal, e como se obter ensino bíblico fosse mais do que tudo. Não, caro amigo! Não absolutamente! Tudo isso pode se tornar vital, vivo e eficaz desde que nossa vida de oração, individualmente e coorporativamente, seja mantida forte e em primeiro lugar. Assim, suporte tudo o que possa ser de correção na palavra, pois é verdade, não é? Oh, todos nós temos sido culpados. Todos nós temos que dizer a nós mesmos: 'Você é a pessoa!' Precisamos realmente ter a mesma estimativa do Senhor sobre o valor da oração, e, se você percorrer através da Palavra, irá descobrir que Ele estima a oração em valor maior do que qualquer outra coisa em Seu povo. Olhe para a própria vida Dele! Oh, espantoso que Ele na qualidade de Filho de Deus, em tudo o que Ele era, pudesse ainda manter tal vida de oração! "De manhã bem cedo, quando ainda estava escuro," ou "continuou durante toda a noite." Sim, Ele orava!

E tem ocorrido a você que algumas das revelações mais gloriosas da verdade que temos na Bíblia vieram em orações? Leia aquelas orações de Paulo em Efésios e Colossenses! "Por esta causa eu me ponho de joelhos diante do Pai…", e daí ele prossegue dando-nos a sua oração, e nesta oração você tem uma revelação que é incomparável. Veio em oração, de modo que o ensino que você tem está baseado na vida de oração de um homem. Sua luz, em seu verdadeiro valor, vem da oração, e não há nenhuma luz de real valor que não seja nascida de oração. Todo o valor da verdade depende da oração que está por trás dela, de modo que nossas conferências, nossas reuniões, nossas palestras, e toda a verdade que vem apenas permanecem algo muito negativo se não houver uma vida de oração proporcional da nossa parte em relação a ela. Temos que orar antes e orar depois, e sinto que após uma conferência a coisa a fazer é começar a orar mais do que nunca no terreno do que foi dito, e apresentar tudo ao Senhor. Se fizéssemos isto, quanto mais fruto haveria a partir de nossas conferências! Ao invés de ter a verdade em nossos cadernos, deveríamos tê-la em nossas vidas. Ao invés de tanta verdade com a qual estamos agora familiarizados, estaríamos entrando no poder operante dessa verdade, se nos voltássemos ao Senhor em oração. Ninguém está mais consciente desta necessidade, de ter as coisas ditas a Ele nesta questão, do que eu neste momento, mas nós estamos falando juntos dessas coisas e creio que todos nós estamos guardando-as no coração. Oh, para o dia quando, não por causa de números (pois não é uma questão de contra as cabeças), mas por causa do reconhecimento do lugar proeminente da oração, a reunião de oração ficar tão lotada como qualquer conferência! Apenas é necessária a compreensão do valor que Deus dá a oração, e nós iremos nos referir a ela como sendo pelo menos tão importante quanto qualquer conferência. Que o Senhor queime isto em nossos corações, pois esta é a obra proeminente – a oração.

Não é muito o que foi dito, mas é muito importante, e vamos nos lembrar da palavra em relação a determinação do inimigo para impedir a oração. Vamos prosseguir para mostrar a você que, se o inimigo não puder impedi-la, ele irá tentar interrompê-la; e, se ele não puder interrompê-la, ele tentará destruí-la posteriormente. Há outros aspectos, mas vimos, talvez, o suficiente para nos colocar em alguma posição muito definida em relação a nossa vida de oração em assumi-la em nome do Senhor. 

Capítulo 3 – Oração como Batalha 

Ler: 1 Reis 18:30-32, 36-38, 42-45. Tiago 5:17-18. Efésios 6:18.

Observamos que aquilo que é verdadeiro sobre a atividade do inimigo ao longo da linha da prevenção da oração é, também, verdade ao longo da linha de sua interrupção. Eu não apenas quero dizer que enquanto você estiver orando você terá interrupções, mas que o inimigo tem uma maneira sutil de interferir na continuidade da vida de oração. Você triunfalmente pode garantir períodos de oração por talvez uma semana, ou mais, e, então, algo é introduzido que interrompe aquela continuidade, a ponto de você perdê-la, e você descobre que, após um período de tempo, uma batalha tremenda tem que ser travada para se recuperar aquela vida de oração. Para muitos de nós a nossa história é aquela de uma vida irregular de oração, cheia de remendos, uma história repleta da necessidade de ocasionalmente recuperar o terreno perdido após um revés – a interrupção do inimigo. Assim temos que prestar atenção aí, e vigiar especialmente contra reações a períodos de oração intensa, afrouxando e sentindo que agora, após aquele tempo ardoroso, podemos tomar um feriado espiritual. Há sempre um perigo muito grande aí, como provou Davi. Num tempo quando os reis saíam para guerrear, ele subiu ao terraço. Então, aquilo que o inimigo não pode prevenir ou interromper, ele finalmente irá destruir. Isto é, ele irá direcionar sua atenção para arruinar a vida de oração. Nós podemos ter tempos fortes, ou uma série de tempos fortes, mas, se o inimigo não puder atacar diretamente a nossa vida de oração, estará sempre pronto a arruiná-la por outro ângulo que não pareça estar imediatamente relacionado a ela, mas que indiretamente somos mutilados. Nossa vida de oração pode ser muito forte, boa e consistente, porém, algo acontece em algum outro departamento de nossa vida, talvez num relacionamento em alguma outra parte, e, quando vamos orar, descobrimos que a coisa representa um golpe direto em nossa vida de oração, e não conseguimos prosseguir até que aquilo seja tratado.

Precisamos reconhecer que todas essas coisas são apenas esforços do inimigo, é um esquema altamente organizado para destruir, seja direta ou indiretamente, a nossa vida de oração, ou para interferir nela. Assim, descobriremos que a nossa vida de oração é o ponto focal de tudo.

É quando realmente chegamos para orar, ao real negócio da oração, que descobrimos onde estamos exatamente em todos os relacionamentos da nossa vida. A iniqüidade que acolhemos em nossos corações pode não ter nada a ver diretamente com a nossa vida de oração, porém ela vem indiretamente como um golpe terrível sobre nós. Coisas que podem ser menos importantes podem vencer a nossa vida de oração. O inimigo está sempre colocando essas coisas ao nosso redor para destruir a nossa vida de oração. Percebemos o estado das coisas quando chegamos para orar. Podemos não reconhecer no momento o que determinada coisa significa, seja lá o que possa ser. Pode ser um relacionamento interrompido, um relacionamento hostil, um propósito alheio, ou uma brecha em algum lugar, e podemos não reconhecer exatamente o que aquilo significa até que chegamos para assumir a nossa forte vida de oração. Então descobrimos que aquela coisa afetou a parte vital da oração e não podemos prosseguir. A coisa está lá, e assim somos roubados; e, então, descobrimos que tem havido uma obra sutil na circunferência da nossa vida que golpeia o próprio centro. O inimigo iria destruir a nossa vida de oração, iria, por assim dizer, jogar coisas nela a partir do exterior para torná-la impossível. Penso que você é capaz de entender aquilo que quero dizer, pois a experiência confirma isto. 

A Universalidade da Oração 

Agora vamos nos estender um pouco mais neste conflito espiritual. Essas passagens que lemos nos mostram uma posição muito abrangente. Em 1 Reis 18 a história da batalha de Elias no monte Carmelo é, sem dúvida alguma, uma ilustração do Velho Testamento da verdade do Novo Testamento, especialmente de Efésios 6. Essas duas coisas caminham juntas como tipo e antítipo, como parte e contraparte, e o que é comum a ambos é que a esfera do conflito são os lugares celestiais. O que Tiago diz conduz toda esta questão para os céus: o abrir e fechar dos céus, o governo dos céus. Os céus são o principal objetivo em vista aqui, e este conflito se relaciona com o céu e com os lugares celestiais: “Nossa luta está ..nos lugares celestiais.” O conflito de Elias era de um modo muito real um conflito nos céus onde as forças celestiais estavam envolvidas. Isto, penso eu, é patente, e isto é um aspecto comum nessas duas porções da Palavra.

Este particular conflito espiritual no qual você e eu somos encontrados quando chegamos ao pleno propósito e testemunho de Deus em Cristo está, em sua última análise, relacionada ao governo dos céus. Quem irá governar os céus? Há os principados, as potestades, os dominadores deste mundo tenebroso e as hostes espirituais da maldade que têm assumido o lugar de governo. Eles estão num lugar que foi usurpado, pois este não é o propósito eterno de Deus, nem é Sua vontade. Cristo é o Cabeça, e Sua Igreja com Seus membros são, no propósito de Deus, chamados para governar nos céus, para governar a partir dos céus. É uma questão de saber o que são os céus nesta questão, se eles são para ser satânicos, ou para ser a expressão do absoluto senhorio do Senhor Jesus na Igreja e por meio dela, que é o Seu Corpo. São os lugares celestiais, as realidades governantes, que estão envolvidas, e é lá que se dá o nosso conflito. Esta é a esfera desta batalha, e nossa vida de oração tem a ver com isto. Não tem a ver meramente com os incidentes de nossas vidas aqui na terra. Oh, que o povo de Deus possa reconhecer a imensidão disso, pois muito freqüentemente a generalidade de nossa oração está no campo de coisas meramente triviais, e uma grande parte do tempo é tomada para se dizer ao Senhor tudo sobre essas pequenas coisas de nossa vida ordinária e terrena que, embora possam ser importantes para nós, e possam ter valor em nossa vida terrena, não tocam as coisas mais importantes no propósito de Deus.

Há uma grande diferença entre orar pelas coisas de baixo e orar contra as forças imensas do universo, alcançando as coisas celestiais. O povo do Senhor precisa ser levantado em oração para onde o poderoso, celestial, eterno e universal são afetados, tocados e obtidos. Há uma grande necessidade de sermos levados à nossa posição celestial em questão de oração, onde as questões realmente espirituais que estão por trás das outras sejam tocadas. Geralmente o Senhor não permite que nossas orações sejam eficazes em detalhes meramente terrenos de nossas vidas porque Ele quer que enxerguemos que há algo por trás dessas coisas que importam muito mais. Você algumas vezes ora para que algo aconteça, que uma mudança aconteça, ou que um evento cesse, porém nada acontece. O Senhor busca – após você ter se lançado tão plenamente quanto possa sobre a questão – mostrar-lhe que há uma chave espiritual para aquela situação, e Ele não pode simplesmente fazer a coisa terrena para você, pois aquilo não seria de modo algum para o seu aumento espiritual de inteligência, compreensão, conhecimento ou valor, e estaria simplesmente fazendo coisas porque você pediu a Ele. Ele está tentando lhe instruir e lhe ensinar, para que você entre na possessão de situações espirituais.

Bem, são os lugares celestiais que são a esfera deste conflito. 

A Igreja – a Ocasião do Conflito 

Qual é a ocasião do conflito? Para que é o conflito? Bem, a partir do contexto em ambas as passagens, 1 Reis 18 e Efésios 6, você vê que a ocasião do conflito é a Igreja. A Igreja é o objeto imediato em vista. Em 1 Reis 18, naturalmente, é o povo de Deus, e a questão da oração de Elias é que os seus corações pudessem voltar atrás. O povo do Senhor está em vista e a sua oração é em favor deste povo, assim ele traz todos eles para perto e os envolve nesta questão, e os associa a isto, porque este é o assunto deles. Sabemos que a coisa que está em vista na carta aos Efésios é a Igreja que é o Seu Corpo, e esta é a ocasião do conflito. É uma batalha nos lugares celestiais em relação a Igreja, o Corpo de Cristo.

Há duas coisas a serem ditas a respeito disso. Primeiro, que não é meramente uma questão pessoal, mas uma questão coletiva, coorporativa. Este conflito diz respeito ao Corpo de Cristo, e o conflito de cada indivíduo é um conflito relacionado ao restante dos santos, de modo que há aquela relatividade espiritual que significa que, se um membro sofre, o Corpo como um todo também sofre espiritualmente. Ele pode não saber por que, nem estar consciente de seu sofrimento particular, mas, em relação à Cabeça, há uma perda a todo o Corpo quando um membro é vencido. O conflito está relacionado; e assim, o inimigo procura isolar os membros do Corpo e trazer tal pressão sobre eles, a fim de esmagá-los, pois ele sabe que não é apenas o valor de um membro isolado, mas a relatividade de cada membro. É por isso que há tanta ênfase espiritual por parte da inteligência do Espírito Santo sobre a necessidade de se orar por todos os santos, pela oração coorporativa, pela oração de comunhão do povo do Senhor. Há perda a Cristo, o Cabeça, se não houver esta oração por todos os santos. 

Cristo em Glória – o Objeto do Conflito 

Outra coisa a ser dito sobre isto é que não é nem mesmo a Igreja como o Corpo que é a coisa mais importante, embora seja a ocasião imediata. Não devemos colocar a Igreja, o Corpo de Cristo, no lugar de preeminência. Ela é uma ocasião, mas não é a coisa final. A Igreja, o Corpo de Cristo, é o Seu instrumento, Seu vaso para o Seu testemunho. Seu testemunho está depositado no Corpo. E foi assim que em Sua ressurreição e no Pentecoste o testemunho de Sua vitória, o testemunho de Sua exaltação, o testemunho de Sua glorificação e o testemunho de Sua autoridade universal no céu e na terra foi depositado na Igreja. Como o templo no Velho Testamento era o relicário da glória de Deus, assim o Corpo de Cristo no Novo Testamento é o relicário de Sua glória, de Seu testemunho e de Seu Nome, e é finalmente para atacar esta glória, este Nome, e esta exaltação que o inimigo concentra sua atenção no vaso eleito, na Igreja, o Corpo de Cristo. E assim a Igreja se torna a ocasião do conflito, embora não o fim, mas o inimigo chega a Cristo, ao Nome e a glória através do Corpo. Sabemos que isto era verdadeiro no Velho Testamento.

Quando Israel estava em estado de declínio, a glória a honra do Senhor, o Seu Nome e a Sua majestade ficavam encobertos, anuviados e perdidos de vista. Quando a vida espiritual de Israel estava em ascendência, então o testemunho de Jeová era mantido em plena força. No Novo Testamento, e em nosso próprio tempo, nesta era do Novo Testamento, a maneira de o inimigo desonrar o Senhor é destruindo a vida de oração do povo do Senhor, ou quebrando a comunhão dos santos.

Assim a Igreja, o Corpo, torna-se a ocasião do conflito por causa daquilo que está em sua vocação divinamente ordenada, propósito e objetivo. O ódio amargo do inimigo e a violenta oposição estão direcionados contra a vida coorporativa do povo do Senhor. Ele irá procurar de qualquer maneira destruir isto, romper a comunhão dos santos, colocar o povo do Senhor uns contra os outros, e introduzir coisas fragmentadas – mas, oh, quão sutil são os seus caminhos nisto! 

O Valor Estratégico da Vigilância 

Aqui nós realmente sentimos, caro amigo, que você e eu temos que fazer o que Neemias fez, e o que o Apóstolo nesta mesma porção nos exorta a fazer: "Vigiai”; "vigiai pois," porque como você percebe em ambas as conexões, são as astúcias do inimigo que estão em vista. São as atividades sutis do inimigo, e vigiar contra as astúcias do inimigo na prática irá, pelo menos numa direção, significar o seguinte: que devemos nos certificar de que os rumores que ouvimos e que as informações que nos chegam são absolutamente fidedignas. Devemos nos certificar – “provar todas as coisas". Podemos nos dividir por um rumor, e nos separar por uma informação. Podemos ser colocados em discórdia ou nos separar por causa de uma simples insinuação. Nesses dias, quando a atmosfera está sobrecarregada de medo e suspeita, você precisa apenas sugerir a possibilidade de alguém estar ‘doente’ e uma brecha espiritual de comunhão é criada e uma fenda é feita. Se apenas vigiássemos e nos certificássemos, descobriríamos que grande parte daquilo foi desnecessário e injustificado, e representou uma grande perda para o próprio Senhor e para o Seu povo, pois quando chegamos para pinçar e peneirar aquelas coisas, descobrimos que não há nada nelas, ou, se há alguma coisa, existe uma explicação e não podemos falhar, em toda honestidade de coração, em aceitar aquilo como sendo correto. É assim que geralmente as coisas funcionam.

Mas, oh! Vigiar contra essas astúcias do Diabo! Seus métodos de romper a vida coorporativa do povo do Senhor estão além do nosso poder para enumerar, e é aí que a oração e a vigilância são necessários. A oração deve resultar em inteligência sobre as astúcias do inimigo, e ‘vigiar em oração’ é vigiar e orar para que você consiga descobrir em oração o que o inimigo procura e como ele está trabalhando.

Não queremos ficar obcecado com o inimigo, sempre ter os nossos olhos nele, mas precisamos reconhecer os fatos como eles são, e esses fatos são que durante todos esses quase dois milênios o inimigo tem realizado seu grande negócio incessantemente para destruir a comunhão do povo de Deus. É isto verdade? É isto história? Se é verdade, o que significa? Que você jamais pode ter algo que realmente, em alguma medida, represente aquilo que é precioso para o Senhor, algo de característica espiritual, que incorpore algum elemento precioso do Seu testemunho, mas aquilo que é o objetivo da malignidade satânica que tem a única intenção de rachar a coisa, causando cismas e divisões de alguma forma, por verdades ou por mentiras. Isto é história, e certamente isto revela o segredo, que uma Igreja em comunhão, um Corpo bem ajustado e ligado, que se move junto na vontade de Deus, é uma grande ameaça aos principados espirituais e dominadores que há no universo.

Assim, é para isto que devemos voltar a nossa atenção. Vamos nos dispor à comunhão espiritual! Isto não significa se comprometer com coisas que são contrárias à Palavra de Deus, e não significa descer de nenhuma posição espiritual a que o Senhor tem, por muito custo, nos trazido. Devemos estar onde Neemias estava quando seus inimigos diziam: ‘Desça e vamos discutir esta questão. Precisamos conferenciar a respeito.' Neemias disse: "Estou fazendo uma grande obra de modo que não posso descer." Não pode haver nenhuma descida para se discutir as coisas que estão além do ponto da discussão quanto a necessidade espiritual. Porém, caro amigo, qualquer posição espiritual alcançada através de muito custo e de profunda obra interior da cruz deve ser assumida somente em relação a todos os santos. Não pode estar dissociada da relação com os santos, nem podem aqueles que possuem esta posição serem tornados em alguma coisa separados do resto. Não! Seja qual for a diferença de posição espiritual em relação ao grau, a comunhão com todos os santos precisa ser obtida e mantida no que for possível, e deve ser buscada. Eu realmente quero colocar isto a você cada vez mais, da mesma forma como é colocado sobre o meu próprio coração, porque o propósito do Senhor em dar luz e verdade pode ser impedido se a recepção desta posição constituir aqueles que a tem como sendo algo separado do resto dos santos. O Senhor tem dado isto para o Corpo; se for mantido em separado, então o propósito para o qual Ele deu foi perdido. Guarde isto no coração definitivamente!

Assim a ocasião do conflito é a Igreja, pela razão de sua chamada e vocação celestial. Isto não é uma coisa particular, nem algo local: É universal. O Corpo de Cristo é uma realidade universal. 

A Base da Vitória 

Apenas uma palavra, ou duas, em relação à base da vitória neste conflito. A base da vitória aqui em 1 Reis 18 foi sem dúvida alguma o altar, e em efésios é o mesmo. Antes de você alcançar sua posição nos lugares celestiais para o conflito celestial e triunfo, você precisa passar pelos primeiros capítulos de Efésios e reconhecer que uma morte aconteceu, que um altar estava ali, e que, tendo morrido, você foi ‘vivificado e ressuscitado juntamente.' Todos os aspectos da cruz, o altar, estão implícitos no início da carta aos Efésios, de modo que tanto na representação como naquilo que é representado a base da vitória é a cruz, o altar. Elias pegou doze pedras, e a constituição do altar com doze pedras imediatamente traz o aspecto administrativo em relação ao altar, pois doze é o número da administração. O altar formado por doze pedras torna-se o instrumento administrativo, o princípio governamental neste conflito nas mãos de Deus. O governo está na cruz, e pela cruz, pois pela cruz Ele triunfou, e em Sua cruz Ele despojou os principados e potestades, e os expôs publicamente’. Eu me pergunto se, ao ler esses fragmentos de 1 Reis 18, você ficou impressionado com os termos: “…conforme o número das tribos dos filhos de Jacó, a quem veio a palavra do Senhor, dizendo: Israel será o teu nome”. O que significa isto? Bem, Israel significa ‘um príncipe com Deus’, assim, no verso 31 nós temos os filhos de um príncipe de Deus representado no altar, na cruz.

Simbolicamente isto nos fala muito claramente da base de nossa chegada a nossa posição de príncipe, de nossa posição governamental em Cristo, que é o Príncipe com Deus. Ele é maior que Israel, pois Ele é o Príncipe com Deus, e nós somos filhos Nele e participamos da Sua Realeza. Isto nos traz para uma posição de autoridade espiritual em Cristo nos lugares celestiais, mas tudo está ligado ao altar, à cruz. A cruz é a base da vitória, e isto é confirmado novamente, não apenas pelo testemunho do céu, a Palavra de Deus, mas pelo testemunho do inferno. Satanás é uma testemunha não usual, relutante – e às vezes eu me pergunto se ele é uma testemunha inconsciente – da verdade neste sentido, pois está perfeitamente claro que ele odiava a cruz, e tentou num primeiro momento manter o Senhor Jesus longe dela: “...isto de modo algum acontecerá a Ti. Porém Jesus virou-se e disse: Para trás de Mim Satanás." Este é Satanás tentando manter o Senhor Jesus longe da cruz, e então, tendo fracassado, ele tentou tirá-Lo da cruz: “Se Tu és o Filho de Deus, desça da cruz”. Aquelas sugestões sutis "...deixe-O descer da cruz e iremos crer Nele.” Foi para ser crido pelo mundo que Ele tinha vindo, mas, não, o segundo método do inimigo não teve êxito.

O inimigo, tendo fracassado ao longo dessas linhas, e tendo a cruz sido efetivada apesar dele, ele irá procurar agora mudar e alterar a pregação da cruz, a fim de torná-la sem efeito. Ele irá fazer com que as pessoas preguem-na, e na própria pregação, torná-la vazia. Isto é extraordinariamente sutil! É, também, para reconhecer quão longe o inimigo irá. Ele irá promover a pregação da cruz, e a cruz pregada pela sua instigação e sob a sua influência é tornada ineficaz. O Apóstolo nos fala disto em sua primeira carta aos Coríntios, que a cruz pregada na sabedoria dos homens torna-se sem efeito, ou vazia. Homens pregando a cruz em sua própria sabedoria estão simplesmente tirando o verdadeiro significado e poder da cruz. Oh, sim, você ouve muito sobre o caminho da cruz, mas não é o caminho da cruz. O próprio poder da cruz está em seu registro contra o inimigo e todas as suas obras. Contra o pecado como um princípio, e contra o mal como um estado, uma natureza. O poder da cruz é retirado quando você fala sobre os heróis da cruz, e sobre o caminho da cruz como, bem, qualquer homem que negue a si mesmo e renuncia a sua vida por seu País está na mesma categoria que Jesus Cristo, que, afinal de contas, renunciou a Sua vida como qualquer soldado tem feito. Esta é a cruz no modernismo.

Outra coisa que o inimigo procura fazer em relação a cruz é manter os cristãos ignorantes de seu pleno significado. É um grande dia para o Senhor, e um terrível dia para o inimigo, quando um cristão recebe revelação do significado pleno do Calvário. Este dia marca um novo pedaço da história no campo do conflito. Você pode enfrentar certo tipo de oposição no terreno da obra substitutiva do Senhor Jesus, mas, acredite, você irá enfrentar dez vezes mais quando chegar no terreno da obra representativa do Senhor Jesus, e quando você assumir o seu lugar na identificação com Cristo na morte, no sepultamento e na ressurreição no sentido espiritual. Aí começa uma nova história de conflito, de batalha e de antagonismo satânico, porém, você entrou num campo novo e num lugar novo, e você tem novos poderes ao seu dispor. O inimigo perdeu seu terreno. Multidões crêem na obra substitutiva e se alegram nela, mas ainda estão se movendo na energia do homem natural, mesmo como cristãos. Não representam uma ameaça ao inimigo naqueles níveis mais elevados, mas, quando a cruz é aceita desta maneira e plantada em nossas vidas de modo que a vida natural é colocada de lado - "Estou crucificado com Cristo e vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim” – então há um novo campo de significado para o Senhor e de significado para o inimigo, e por isso, um novo campo de conflito. O inimigo está pronto para tirar este lado da cruz dos cristãos, e dissemos anteriormente, e é verdade, que você freqüentemente enfrenta mais oposição nesta linha por parte de cristãos do que de quaisquer outros. É algo estranho. Imediatamente ao seguir com o Senhor em toda plenitude do significado do Calvário, você descobre que a sua principal dificuldade está no campo dos cristãos, e, via de regra, cristãos ‘oficiais’. Os líderes não aceitarão isto, e você descobre que o seu caminho fica infinitamente mais difícil. É verdade que o inimigo de fato odeia a plenitude da cruz, e ele irá procurar de todos os meios destruir o seu valor para os crentes, ocultar o seu significado deles, e, se possível fazê-los abandonar a posição e descer da cruz, ou persuadi-los a não aceitá-la.

Bem, este é o seu testemunho do valor da cruz! Ele é uma testemunha do seu significado. A cruz, então é a base da vitória, e o inimigo sabe disto muito bem.

Não irei mais longe por ora. Precisamos tomar isto, pensar sobre isto e aplicá-lo, mas lembre-se desta grande e conclusiva coisa: Satanás é um inimigo derrotado para todo aquele que realmente está crucificado com o Senhor Jesus Cristo, porque o Calvário não significa a Sua derrota, e, assim como fomos plantados na morte de Cristo, assim também permanecemos com Ele naquela derrota do inimigo, naquela vitória do Senhor Jesus. Assim, embora ele possa rugir, esbravejar, lutar, afligir, pressionar e assediar, o fato que permanece é que para aquele que é um com Cristo em Sua cruz, Satanás é um inimigo derrotado. 

Capítulo 4 – Algumas Dificuldades Mentais na Oração 

Tendo considerado as cinco fases da oração, principalmente a comunhão, submissão, petição, cooperação e o conflito, iremos agora avançar um pouco mais, a fim de ver alguns dos problemas que estão relacionados à oração. Como dissemos, muito freqüentemente um senso indefinido de contradição ou incerteza nos bastidores de nossas mentes tem o efeito de mutilar, ou de paralisar, a oração, e nós, algumas vezes, somos estorvados por certas dificuldades mentais que nunca nos propusemos seriamente a analisar ou definir. Nosso objetivo agora é procurar definir algumas delas, analisá-las, e resolve-las, de modo a limpar o terreno para a oração em certeza e confiança. 

A Oração e a Vontade de Deus 

Nesta conexão uma das principais dificuldades na oração surge em relação a vontade de Deus. Isto, naturalmente, é uma esfera muito ampla de contemplação e consideração, e inclui um grande número de diferentes fases, aspectos e pontos, mas nós iremos procurar estreitá-la, e, na medida em que avançarmos, veremos muito mais envolvido naquilo que dizemos.

Quanto à vontade de Deus, a questão básica parece-me ser esta: É ela absoluta ou relativa? O que estamos tratando é aquela questão se a vontade de Deus para nós é absoluta ou relativa. Quando ela é colocada assim você pode não ser ajudado muito. Soa muito acadêmico, mas irei explicar o que quero dizer.

Será que Deus permite as coisas porque elas são Sua vontade absoluta, ou porque Ele nos atrairia por meio delas para uma determinada posição? Neste último caso a vontade de Deus é relativa e não absoluta, isto é, as coisas não representam o que é absolutamente a vontade de Deus, mas Ele as permite para outros propósitos, e assim, elas representam a vontade relativa de Deus. Agora você tem o fundamento e a base para uma consideração mais abrangente da vontade de Deus em relação à oração. Se estamos tratando com a vontade relativa de Deus, a questão será se essas coisas, tendo cumprido os seus propósitos, são colocadas de lado e cessam de ter algum espaço na vontade de Deus, ou é permitido que elas permaneçam, ficando nós numa posição de ascendência sobre elas e elas se tornam nossas servas. Elas estão lá não porque Deus, na plenitude de Sua vontade e propósito, deseja que estejam, mas porque Ele vê que elas são coisas necessárias para nos manter numa certa posição. Se fôssemos criaturas perfeitas, a vontade de Deus seria sempre absoluta. Não haveria lugar para a vontade relativa de Deus, pois seria desnecessário a Ele permiti-las para nos fazer alcançar novas posições. Porém, sendo imperfeitos, criaturas caídas, a vontade de Deus para nós é muito mais freqüentemente relativa do que absoluta. 

Conflito entre Submissão e Importunidade 

Assim, o problema surge a nós ao longo da linha da submissão e da importunidade. Essas duas coisas parecem ser antagônicas uma à outra, parecem representar conflito e contradição. Como você pode reconciliar importunidade com submissão? A impertinência não exclui a submissão? A submissão não exclui a importunidade? Elas parecem mutuamente uma contra a outra, e, contudo, isto não é assim. O problema que surge na oração é o de se manter a martelar na porta, continuar batendo, e, contudo, ser submisso. A submissão não enfraquece a força de sua batida à porta? A força de sua batida não implica que você ainda não aprendeu a submissão? Nem sempre isto pode ser definido desta maneira em sua mente, mas rasteja para dentro, permanecendo lá no fundo, e muito freqüentemente tende a tirar aquela positividade, aquela certeza e determinação da oração de modo que você se descobre numa terra de ninguém.

Bem, isto é um problema, e nós temos que resolvê-lo tão definitivamente quanto for possível. A resolução deste problema, penso eu, está ao longo da linha de se reconhecer que entra o elemento moral, e que Deus está muito mais interessado nos elementos e questões morais. Há algo a ser superado, ou a ser realizado, em nós, e isto significa que na vontade relativa de Deus existirão muitas coisas que são apenas permitidas, ou que podem até mesmo serem enviadas pelo Senhor, com o objetivo de, e para o propósito de, comunicar certas coisas em nós, ou nos fazer passar por certas coisas em nós mesmos por que certos fatores morais estão em vista. (Estou usando a palavra ‘moral’ no sentido amplo agora, e não mais no sentido restrito) Precisamos reconhecer que a nova criação é uma questão moral e não está terminada em relação a nós. Ela está perfeita e completa em si mesma, mas não está completa em nós. A velha criação ainda existe. É objetiva e externa à nova criação, mas tem grande influência sobre ela. O pecado não está extinto para o cristão, nem é o mundo algo hipotético. E você não precisa que eu lhe diga que o mal não está extinto para o cristão! Mas bem ao centro da velha criação está a nova criação, que é uma coisa moral. Mas é uma coisa moral – podemos dizer – em sua infância, e todos os seus elementos e fatores têm que ser desenvolvidos para nos tornarmos criaturas morais, no sentido pleno da palavra – isto é, criaturas responsáveis, inteligentes, com uma nova consciência, com um novo padrão de valores e um novo reconhecimento de princípios. Um mundo celestial completamente novo chegou, e seu conhecimento e a sua sabedoria precisam ser possuídos de forma inteligente. Seus segredos têm que ser conhecidos e suas virtudes serem trabalhadas em nosso interior. Pela regeneração o Senhor não nos torna simples máquinas, a serem acionadas sem qualquer consideração a nossa vontade, sentimentos, desejos, razão e inteligência, carregadas de cá para lá e forçadas a fazerem coisas sem qualquer referência a nós mesmos. Isto é completamente contrário às Escrituras.

Mas o que Senhor nos constituiu foi em criaturas morais segundo uma nova moralidade, um novo sistema celestial e uma inteligência completamente nova que não pertence ao homem natural. Temos um sistema inteiramente novo de julgamentos, valores e avaliações, e em todas as coisas o Senhor irá agora se reportar a nós. Ele irá nos chamar para exercitarmos a nós mesmos em relação a nova impressão, consciência, convicção do interior da nova criação. Assim, a nova criação é algo moral, mas devido à velha criação ainda estar circundando-a e envolvendo-a, a nova criação irá crescer por meio da conquista, do conflito, e do exercício árduo para vencer a velha criação, sujeitando-a, triunfando sobre ela, isto por meio de aplicação deliberada, ardorosa, devotada e persistente. A vontade renovada, energizada pelo Espírito Santo, não será mecanicamente operada, mas irá ser convidada a se exercitar no Senhor. Orar na vontade de Deus não significa que o Espírito Santo vem e toma posse de sua vontade e de sua volição, e força você a falar coisas sem a sua inteligência. Este é um terreno completamente falso. Há muito disso hoje onde a inteligência do homem é varrida de um lado e ele começa a fluir com todo tipo de coisas que nem ele nem ninguém mais consegue entender, porém a nova criação não é assim. O Espírito Santo não suspende a inteligência e compreensão de alguém que Ele usa, mas Ele convida ao exercício do entendimento. 'Orarei no espírito, mas também orarei no entendimento’ disse o Apóstolo, e orar no Espírito Santo não significa que nós cedemos a Ele a ponto de perdermos a nossa própria vida moral (usando esta palavra novamente em seu sentido amplo). 

Oração como Educação 

Vendo, então, que as questões morais são proeminentes no propósito do Senhor, em relação a nós, a oração se torna uma educação, um treinamento. Falamos da ‘escola da oração’, e esta é uma designação muito correta. Educação e treinamento não são coisas semelhantes. Educação tem a ver com o obter conhecimento, e treinamento tem a ver com o valor moral na expressão prática. Guarde esta definição, pois ela é muito importante. Falamos de uma ‘pessoa educada’, e queremos nos referir a alguém que conhece muito, porém, fale de ‘alguém bem treinado’ e pensamos em alguém que representa alguma coisa com valor prático. Há uma porção de pessoas educadas que são perfeitamente inúteis. Somos, portanto, levados à oração, e o Senhor Jesus olha para isto que somos levados e nos prolongamos em oração, e isto representa, de um lado, a aquisição de conhecimento espiritual. Nós não conseguimos este conhecimento espiritual a menos que sejamos levados à oração. É notável como, quando há uma expansão na oração, aprendemos coisas, alcançamos segredos e entramos no conhecimento de coisas. E, então, por outro lado, esta atração para a oração tem o efeito de treinamento, trazendo-nos para uma posição moral e para um nível moral mais elevado. Iremos ver o que isto significa atualmente. Pessoas que não oram serão tanto ignorantes quanto fracas, deseducadas e destreinadas. Não irão conhecer o propósito de Deus, nem serão capazes de fazer conforma a Sua vontade.

Portanto, temos que reconhecer ainda que a oração não é meramente uma vantagem pessoal, mas é o tomar parte numa campanha. Há um esquema Divino de coisas a ser descoberto. A oração não é meramente para valor pessoal e subjetivo. É objetivo, coletivo e relativo, mesmo em valores morais que resultam de orações individuais. 

A Natureza da Importunidade 

Agora vamos procurar resumir um pouco as coisas. Há três lados na oração impertinente – mas você entende por que a impertinência é exigida, é necessária e correta? E você entende que não há contradição entre sujeição e impertinência? Sujeição, como salientamos anteriormente, é algo ativo, positivo, e não passivo. É estar alinhado ao propósito Divino; e, então, a impertinência busca o desenvolvimento dos aspectos morais. 

As Excelências Morais de Cristo Trabalhadas 

Como acabamos de dizer, há três lados na oração de impertinência. Primeiro, há o lado moral, e este tem os seus próprios dois aspectos. Falamos dos ingredientes do incenso a ser oferecido sobre o altar de ouro, e dissemos que esses ingredientes representavam as virtudes morais de Cristo. Por um lado, essas virtudes precisam ser apreendidas e apropriadas pela fé, e este é um aspecto do lado moral da oração de impertinência: que a fé deliberada e persistentemente apreende e se apropria das virtudes morais e glórias do Senhor Jesus. Isto é exercício, e freqüentemente significa colocar para trás a intromissão daqueles argumentos que surgem do nosso homem natural e que iriam desencorajar a oração. Quando entramos na presença do Senhor, deveríamos certamente entrar com um senso de nossa própria indignidade, vazio e fraqueza, mas este não é o terreno do nosso exercício, pois a coisa precisa ser estabelecida. Embora geralmente positiva, a oração eficaz é interferida, paralisada e até mesmo impedida pela obsessão persistente com os nossos próprios pecados, fraquezas e impotência, e há uma necessidade de um exercício positivo nas virtudes morais e nas excelências de Cristo, a fim de que possamos tê-las em nossas mãos para nos achegarmos diante de Deus.

O inimigo irá fazer acusações e condenações diante de Deus, mas precisamos nos agarrar com ambas as mãos nas excelências do Senhor Jesus, e até que façamos isto, não iremos conseguir chegar até o trono, porque não podemos chegar lá sem essas excelências. Tem que haver uma resposta deliberada para por fim a acusação. Sabemos de alguns cuja vida de oração tem se tornado uma coisa distante, algo impossível, porque imediatamente ao se porem em oração sobrevém uma invasão de introspecção, de análise própria, e consciência de si mesmo, de coisas erradas sobre eles mesmos de modo que nunca conseguem alcançar algo positivo absolutamente.

De um lado, então, há o exercício da fé, a persistência da fé na apropriação daqueles ingredientes, daquelas excelências e virtudes do Senhor Jesus, para chegarmos diante de Deus.

Então há o outro lado do fator moral: Aquelas excelências e virtudes precisam ser trabalhadas em nossas próprias almas pelo Espírito Santo. O Senhor Jesus na presença de Deus é o Homem representante segundo o próprio coração de Deus, porém Ele não é apenas o Homem representante, Ele é o Homem de Quem todos os membros da nova criação em Cristo precisam assumir o caráter, e Seu conteúdo pleno de virtudes e excelências como Homem perfeito tem que ser distribuído a todos os Seus membros, de modo que eles tomem seus caracteres a partir do Dele e se tornem participantes de Sua natureza em suas próprias almas. Essas virtudes de Cristo foram virtudes provadas, testadas, são triunfantes, e são agora virtudes poderosas, e não simplesmente virtudes passivas. O Senhor Jesus (eu posso dizer isto reverentemente) não foi colocado num museu como um modelo, a espécime supremo apenas para ser olhado e admirado, mas há uma força e uma realidade Nele. Ele vive. Ele não é um modelo, ou uma estátua. Ele é o Cristo vivo que comunica a Si próprio, que é ministrado pelo Espírito Santo a nós, Seus membros. Sua fé não é apenas algo que foi completada, aperfeiçoada e polida, algo para ser observado como um espécime bonito. É uma fé pela qual nós devemos viver. Sua paciência é a mesma coisa. Somos chamados para sermos companheiros e participantes da paciência de Cristo. Como acabamos de mencionar, essas coisas você terá uma porção de Escrituras passando em sua mente: "Acrescentai a vossa fé...” Acrescentai, acrescentai, acrescentai – e essas virtudes de Cristo sendo acrescentadas em nós.

Somos chamados, diz o Apóstolo, para sermos “participantes de Cristo”. Assim, Sua fé, Sua paciência, Sua devoção, Sua obediência, Seu sofrimento e Seu amor foram todos provados, e triunfaram, mas não como coisas separadas de nós, mas ligadas a nós. "Ele nos tem concedido grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina...”

O lado moral da oração impertinente, então, é que as virtudes e excelências de Cristo são trabalhadas em nós. Quando a impertinência representa a necessidade de paciência por Deus não responder de imediato, hoje, amanhã, por uma semana, um mês, ou um ano, o que está Ele fazendo? Ele está trabalhando em nós as excelências morais de Seu Filho, uma fé aperfeiçoada e triunfante, uma paciência aperfeiçoada e triunfante, uma devoção aperfeiçoada e triunfante e uma obediência a Ele que não tem nenhum outro fundamento senão aquele que Ele tem requerido. A oração é um treinamento escolar de fato! Essas virtudes vêm por meio de exercício. Vamos nos lembrar de que Deus tem um propósito em vista, e que nossa participação com Cristo a que somos chamados finalmente será moral. Terá a ver com caráter; daí a vontade relativa de Deus. O pecado não é a vontade absoluta de Deus, mas Ele o tem permitido. Ah, sim, mas o relacionamento é por meio de conquista nossa, e do desenvolvimento da vida moral da nova criação. O sofrimento não é a vontade absoluta de Deus, mas Ele o tem permitido, e Ele realmente permite. É, portanto, Sua vontade relativa, que significa que Sua permissão e consentimento têm um propósito. Quando este propósito é alcançado, o sofrimento pode ir embora, ou pode ser permitido que continue para nos manter numa certa posição, mas a posição para a qual a pessoa foi permitida foi alcançada, de modo que a vontade relativa de Deus foi feita. E isto se aplica a tudo mais. As circunstâncias, por exemplo. Muitas circunstâncias que chegam às nossas vidas não são a vontade absoluta de Deus. Um acidente não é a vontade absoluta de Deus, mas como nada pode acontecer a qualquer filho Seu sem o Seu consentimento, é Sua vontade permissiva. 

Entendimento Espiritual Assegurado 

Agora, isto suscita a nós a questão toda do buscar, em oração, conhecer o que Deus quer significar com as coisas. Esta é a nossa educação. Vir a conhecer o que Deus quer significar com as coisas através do exercício profundo no coração e provas este é o nosso treinamento. Alcançamos um padrão mais elevado de vida. Assim, a segunda coisa na oração de importunidade é o conhecimento. Em primeiro lugar a vida moral, e o conhecimento em segundo lugar. Há aqueles que se colocam inteiramente nas mãos de Deus, e são levados a experiências estranhas de aparente contradição. Pode haver um senso claro do que o Senhor deseja fazer, mas uma impossibilidade absoluta para fazê-lo! Nenhum caminho é aberto e todas as portas são fechadas. É demora após demora! O que o Senhor está fazendo? O primeiro efeito seria nos levar para a oração, nos estender na impertinência. Não podemos deixá-la ir. Podemos decidir deixar tudo com o Senhor, mas encontramos a nós mesmos voltando ao assunto vez após vez, e o Senhor não irá permitir-nos ficar indiferente. Bem, Ele busca um conhecimento mais pleno da nossa parte. Isto está associado com todos os caminhos do Senhor para conosco, e uma coisa, que, naturalmente, conhecemos por experiência, mas que talvez seja melhor termos mais claramente definido em nossas mentes, é que não podemos aprender princípios Divinos, ou obter conhecimento espiritual a partir de livros ou palestras. Eles apenas podem ser conhecidos na medida em que seguirem o processo de geração. Acima de tudo precisa haver a concepção, que é algo interior; então, deve haver a formação, e, então, tem que haver o trabalho de parto. É o processo da vida. Não podemos aprender coisas Divinas e espirituais a partir de manuais, nem mesmo da Bíblia. Podemos apenas aprender o que está na Bíblia ao longo da linha da experiência viva. A Bíblia não é um gramofone; é um microfone. Qual é a diferença? Um gramafone é algo armazenado em si mesmo. Um microfone é aquilo que transmite algo adiante. A Bíblia não é um gramophone. Tem que vir através da nossa leitura da Palavra algo que está além da nossa compreensão. Podemos ter o conhecimento da Bíblia do tipo gramophone, isto é, podemos conhecer a Bíblia como um livro de ponta a ponta, podemos ter as análises e diagramas mais maravilhosos, e ainda ser – para todos os propósitos práticos e espirituais de forma viva - de muito pouco uso para o Senhor.

Porém, se tivermos uma compreensão da Palavra tipo microfone, temos as Escrituras, sim, porém mais do que isto, Deus nos fala através das Escrituras e temos algo vivo. Temos todos nós, como crianças na praia, apanhado conchas e as colocado na orelha para ouvir o rumor do mar. Trazemos as conchas para as nossas casas na cidade e as colocamos aos nossos ouvidos, e ainda ouvimos o barulho do mar. É isto algo real? É uma desilusão infantil. Pensamos da mesma forma quando éramos crianças e tínhamos a concha na cidade e ouvíamos o barulho do mar, que o barulho do mar está todo contido dentro da concha e precisamos apenas colocá-la aos ouvidos e lá está – nós ouvimos. Este é um pensamento infantil sobre a concha, mas a coisa não funciona desta maneira. Aquela concha está apenas agindo como um funil que coleta as vibrações dos sons atmosféricos e nos faz ouvir aquilo que não ouviríamos somente com os ouvidos. A concha não passa de um transmissor de algo maior.

A Palavra de Deus tomada como um livro é exatamente como aquela concha. Se estivermos no Espírito ela irá nos trazer a mente do Senhor, mas, separados da operação do Espírito em nós, a Bíblia pode ser livro qualquer e nós podemos lê-la e não obter nenhuma luz dela mais do que qualquer outro livro. A necessidade é de conhecimento espiritual, porém muitos fazem da Bíblia apenas um manual.

Agora, o que estamos querendo dizer é que não podemos conhecer princípios Divinos ou obter conhecimento espiritual a partir de livros ou palestras. Esses princípios somente vêm a nós ao longo da linha da vida e da experiência. Algo de caráter vivo é realizado em nós, uma vida é formada em nós e desenvolvida, e, então, ela nos traz as provas para sua obra plena. É assim que obtemos conhecimento espiritual. Isto vem por meio de oração persistente, e este é o porquê de Deus exigir e tornar a oração persistente necessária. Começamos a conhecer coisas espirituais a partir das provas de nossas almas diante de Deus, ao longo da experiência de angústia. Muitas vezes a pressa apenas significa perda de tempo, e somos obrigados a voltar a fim de obter conhecimento mais pleno porque estávamos com muita pressa. O Senhor tem que trazer muitas pessoas de volta para trás e amarrá-las a ponto de não poderem se mexer, e mantê-las lá em exercício profundo por um longo período. Então, elas aprendem aquilo que na mente do Senhor era indispensável. Há aqueles que aprendem antes de saírem, mas, seja antes de você ir, ou seja, em você voltar atrás, a mesma coisa está em vista pelo Senhor _ que você possa conhecer.

Assim, a demora do Senhor é o Seu tempo de nos arrastar para a oração persistente por causa do conhecimento espiritual. 

Assumindo Responsabilidade na Oração 

Então, em terceiro, há o aspecto coletivo. Neemias falou da oração que ele fez dia e noite, mas aquela oração era relativa, pois ela tinha a ver com o povo do Senhor. As orações de Cristo tinham o mesmo caráter. Elas não eram somente em favor de Si mesmo, mas estavam relacionadas a Si próprio e foram estendidas dia e noite por eles. As orações de Paulo claramente eram da mesma ordem: “não cesso de orar por vós”; "orando sempre com toda oração e súplica... por todos os santos”. Há persistência e impertinência, mas é coletiva, algo relativo. Aquela mulher da qual falamos e que está em nossa lembrança, como usamos a palavra ‘importunar’, ou ‘impertinência’, é a pessoa que confronta o juiz injusto, e ela representa a Igreja. O comentário de Cristo sobre esta palavra foi: “E não fará Deus justiça aos Seus eleitos, que clamam a Ele de dia e de noite...”

Qual é a justiça a favor dos santos em suas adversidades? Bem, é a grande coisa coletiva ao final, a grande questão quando o acusador dos irmãos for expulso, aquele que os acusava de dia e de noite diante de Deus. O grande Juiz irá fazer justiça em relação ao acusador, o atormentador da Igreja, e isto têm o seu aspecto coletivo. O incidente do amigo à meia noite era novamente uma coisa relativa, não apenas algo pessoal. O homem levantou-se porque seu amigo iria continuar batendo. O homem foi tirado da cama pela impertinência do seu amigo, mas isto estava relacionado a outras pessoas. Tudo isto representa um esquema, um plano, uma campanha, na qual todo o povo do Senhor está envolvido. Deus não está apenas nos colocando individualmente numa posição, mas está nos colocando nessa posição relativa junto com todo o Seu povo: “até que todos cheguem...” Nossa labuta, ou treinamento moral, essas contradições e demoras que nos arrastam e se estendem sobre nós estão operando em nós em relação ao Corpo. Torna-se algo relativo, pois é do interesse do Corpo.

O Senhor está procurando aperfeiçoar todo o Seu Corpo, e cada parte deve ter uma justa operação em relação ao todo. Um dia o efeito cumulativo de nossas provas, dificuldades e perplexidades serão vistas no Corpo aperfeiçoado, e nós, então, iremos ver que, quando sofremos, não sofremos isoladamente, que os nossos sofrimentos não eram coisas isoladas, mas coletivas, relacionadas, uma parte do todo, e eles contribuíram para algo maior do que os nossos próprios interesses. Precisamos permitir que o pleno propósito de Deus dê um colorido às nossas experiências pessoais. Isto pelo qual passamos não é simplesmente porque o Senhor nos marcou para sermos sofredores apenas, mas porque o Corpo todo é o Seu objetivo e nós sofremos em relação ao Corpo. Por causa do Corpo nós preenchemos aquilo que está faltando dos sofrimentos de Cristo. Os sofrimentos são relativos, você sabe. Eles não são a vontade absoluta de Deus, mas relativa neste sentido mais amplo que eles estão se movendo para um propósito maior de Deus. Quando este propósito maior for alcançado, então, esta vontade relativa de Deus nos sofrimentos irá desaparecer, e não haverá mais dor, nem sofrimento. Precisamos enxergar o plano maior de Deus e descobrir a nossa persistência e impertinência em oração afeta essas três coisas. A vida moral pessoal do cristão baseado num padrão celestial, e o aumento do conhecimento espiritual estão por trás das demoras que nos levam à oração impertinente. Há algo que iremos conhecer que ainda não conhecemos. Iremos aprender algo sobre o qual nada sabemos, e esta força que nos arrasta é a maneira pela qual chegamos a conhecer o que ainda não conhecemos.

Este exercício, esta labuta, está relacionado ao pleno propósito de Deus e tem seu lugar em relação a todos os Seus santos. Não há tal coisa de coerção na vontade de Deus. Isto é estranho ao pensamento de impertinência. Impertinência é – embora possa não parecer isso – cooperação com Deus. Podemos achar que o seu efeito é o de coagir Deus e persuadi-Lo a fazer as coisas, mas Deus tem apenas nos atraído desta forma para nos fazer cooperar com a Sua vontade. Isto é o que eu quis dizer quando disse que havia coisas a serem vencidas em nós, e todos os tipos de coisas da velha criação têm que ser vencidas – nossos desejos, nossos sentimentos, nossas preferências, nossos julgamentos, nossas concepções, nossas estimativas. No exercício, atividade e labuta da oração temos entrado em cooperação com Deus, e temos visto que, ao longo da carreira, aquilo que achávamos que estávamos tentando persuadir o Senhor a fazer coisas era o Seu modo de nos fazer chegar à posição onde Ele pudesse fazer o que Ele queria. O Senhor tem caminhos estranhos, porém, no final Ele é justificado, e “a sabedoria é justificada por todos os seus filhos". 

Capítulo 5 – A Espada da Palavra, e Oração 

Ler: Juizes 7:1-7. 1 Samuel 13:2-7, 19-23. Efésios 6:17-18.

Chegamos ao final de nossa meditação sobre oração, apenas há uma, ou duas, coisas que precisam ser ditas, e estão bastante relacionadas às passagens da Escritura dadas acima.

Juntando o conteúdo dos capítulos 13 e 14 de I Samuel, a situação é simplesmente esta: Saul, que oficialmente representa o povo, está numa posição onde a fé em Deus está quase negativa. O resultado é o domínio do medo, e em toda a parte há uma trágica ausência de coesão e unidade. O inimigo está em ascendência. O povo é incapaz de fazer alguma coisa, porque, por um movimento estratégico do inimigo, todas as armas de guerra foram removidas e as forjas destruídas. No meio de tal situação há pelo menos um homem que tem fé em Deus, e cuja fé coloca-o em oposição às condições predominantes. Jonatas ainda crê profundamente em Deus, e, portanto, não apenas denuncia o estado de coisas, mas repudia este estado ao colocar a si próprio positiva e ativamente contra ele. Assim ele se torna o pequeno instrumento de Deus para derrotar o poder do inimigo numa época de declínio quase universal. Ele ergue um testemunho no meio de muita fraqueza espiritual. Tais exemplos são encontrados espalhados nas Escrituras, e através da história da Igreja desde os tempos bíblicos. Há duas coisas que são significantes principalmente para serem observadas nesta história. Uma é:  

A Estratégia do Inimigo 

Esta estratégia significava que o povo do Senhor estava virtualmente derrotado antes que houvesse qualquer guerra. As armas tinham sido confiscadas e os meios para se produzi-las tinham sido removidos e destruídos.

Este foi um movimento astuto, e realmente uma das astuciais geniais do inimigo. Não podemos nós ver que neste incidente na história literal do povo de Deus há uma indicação de como o inimigo do testemunho de Deus está sempre tentando trabalhar? E não é esta a mesma coisa que acontece hoje? Vimos em nossa meditação anterior que as armas do povo de Deus são principalmente a oração e a Palavra. Trazendo isto para o nosso caso, imediatamente fica claro que o golpe de mestre do inimigo é impedir-nos nesta direção dupla. Não é de pouca importância lembrarmos que o nosso adversário não espera até a hora da batalha para colocar suas forças em ação, mas está sempre a postos bem à frente em antecipação daquela hora. Para ele, fazer diferente seria fatal. O mesmo se aplica a nós. Temos descoberto muito freqüentemente que, quando temos realmente chegado a lidar com uma situação, estamos desequipados, pois o equipamento essencial foi nos tirado com antecedência. Naquela hora de emergência não há meios de se conseguir equipamento, e aprendemos lições amargas de impotência numa hora de grande necessidade ou de oportunidade. A exigência é que devemos manter uma vida firme e forte de oração e na Palavra quando não haja nenhuma necessidade, pois somente assim estaremos no lugar certo e espiritualmente equipados quando a necessidade especial aparecer.

Esta condição despreparada significa desonra espiritual e perda de posição diante de Deus. Ficou você comovido com a mudança de título dado ao povo do Senhor nesses capítulos? Algumas vezes eles eram chamados de ‘os Hebreus’; outras vezes de ‘Israel’. Se você olhar mais de perto, irá descobrir que o Espírito do Senhor chama-os de ‘Hebreus’ quando estão do lado dos Filisteus, e ‘Israel’ quando não estão. Eles perdiam a dignidade do nome ‘Israel’ – um príncipe com Deus – quando estavam do lado dos Filisteus. Quando eles não estão do lado do Senhor, em graça, ainda os chama de ‘Israel’, embora possam estar em condição de fraqueza, e muito longe do que o Senhor queria que eles estivessem. Porém, os Filisteus sempre os chamava de ‘Hebreus’, e o Senhor permite que este título permaneça quando eles estão nas mãos dos Filisteus. A dignidade deles como ‘um príncipe com Deus’ tinha desaparecido. O que é isto que nos trona príncipes com Deus? É aquela vida de oração e aquela vida na Palavra. Nós perdemos nossa dignidade, nossa posição e nossa ascendência se o inimigo roubar a nossa vida de oração e a nossa vida na Palavra. Não é isto verdade na experiência? Naturalmente! Provavelmente fomos ensinados sobre isto quando éramos novos convertidos, mas há uma atividade e determinação especial e particular do inimigo para que não oremos nem cheguemos à Palavra de Deus naquele terreno mais amplo do conflito e batalha espiritual onde o testemunho do Senhor esteja envolvido, naquela ‘posição avançada’ do povo de Deus onde ele saia do campo terreno, como cristãos, e entrem nos lugares celestiais, como membros do Corpo de Cristo. Prevenindo, impedindo, frustrando e destruindo a vida de oração e a vida na Palavra, o inimigo irá logo desmoralizar a Igreja e seus membros espiritualmente, e irá roubar sua ascendência.

Que o Senhor possa novamente trazer aos nossos corações a força e a ênfase da necessidade de se permanecer contra as astúcias do Diabo! Pois elas estão voltadas, não somente para se opor à vida de oração que temos, mas para nos impedir de ter mais vida de oração e vida na Palavra. Por favor suporte esta repetição, pois estou certo de que ela é necessária. Você percebe que, se o inimigo puder ter o seu espaço, você não irá ter uma vida de oração. Ele irá colocar qualquer coisa concebível, natural e sobrenatural, no caminho da oração, a fim de impedi-la, e no caminho de sua vida na Palavra de Deus. Essas são as duas armas mais poderosas da nossa batalha. Precisa haver um despertamento em relação aos ardis do inimigo que nos coloque também na posição de sermos capaz de nos antecipar. O Apóstolo disse: "Nós não ignoramos os seus ardis”, e estar consciente do que o inimigo está para fazer é metade da batalha. Oh! As coisas vêm muito frequentemente para impedir a oração e a vida na Palavra! Vêm de maneira tão natural, de maneira tão simples e despretensiosa que parecem apenas ser o tipo de coisa que naturalmente iria acontecer e, talvez, fossem até mesmo esperadas em nossas vidas, porém, quando caminhamos por algumas semanas, descobrimos que a nossa vida de oração se foi. Como se foi? O inimigo não fez uma demonstração, nem veio de alguma maneira óbvia para anunciar que ele iria destruir nossa vida de oração com isto ou aquilo, mas simplesmente a coisa aconteceu. 

Vigiando em Oração 

Vigiar em oração! Vigiai e orai neste sentido é vigiar para que você possa orar, é vigiar contra as coisas que impediriam você de orar. E deve haver um ‘para que’ em nós: "para que Satanás não leve vantagem”. Você vê, uma antecipação, prevenção, de nossa parte, um permanecer contra as astúcias do inimigo. Precisamos ter um questionamento fresco a respeito das ocorrências naturais, ordinárias, para ver se não há alguma arma nelas, alguma estratégia sutil do inimigo para nos furtar da oração. O que é isto que impede a vida de oração necessária, essencial? Vamos perguntar se, afinal de contas, trata-se de algo a respeito do qual temos que tomar uma posição. Vamos interrogar a coisa. Tem que haver uma grande vigilância de nossa parte contra movimentos estratégicos do inimigo nesta direção, para que nossas armas não sejam roubadas, ou inutilizadas. Bem, estou certo de que esta é uma nota que precisa ser tocada cada vez mais. Vigie contra as astúcias do inimigo que são direcionadas para levar as suas armas, a sua vida de oração, a sua vida na Palavra! 

O Lugar da Palavra na Oração 

Essas duas coisas estão ligadas pelo Espírito Santo: “a espada do Espírito que é a Palavra de Deus; orando...” O Espírito Santo ligou essas duas coisas intimamente. Ele poderia ter colocado a espada no início, ou poderia tê-la colocada em qualquer outro lugar. Você teria achado que o Apóstolo, baseando-se no soldado romano, vendo a espada presa à cinta, teria colocado a espada junto à cinta e dito: 'Tomando o cinto da verdade e a espada do Espírito’. Mas, não, ele tomou o cinto separado da espada, e prossegue com as outras partes da armadura que são protetivas e defensivas, e, então, ele traz as duas coisas ofensivas juntas no final: a Palavra e a oração. Ambas são básicas para a vida, não somente de serem capazes de resistir e ter a defesa, mas de uma vitória real, de conquista, uma vida que é progressivamente agressiva. É isto o que se depreende de 1 Samuel 14. Havia uma espada com Jonatas, e havia um movimento em suas mãos e pés. Havia de sua parte a atividade da fé com as armas da guerra, e ele vencia. Dissemos que é algo tremendo ser capaz de chegar com a Palavra de Deus sustentando a sua oração e dizer ao Senhor: "...segundo a Tua Palavra." É uma grande força ser capaz de dar ao Senhor a Sua Palavra.

Tomemos o salmo 119 como ilustração e vamos salientar quão frequentemente o salmista usava esta mesma frase: “Vivifica-me segundo a Tua Palavra" ... "Fortalece-me segundo a Tua Palavra" (versos 25, 28). Então prossigamos para completar a palavra que corresponde à petição: "Mas se o Espírito Daquele que ressuscitou Jesus da morte habita em vós, Aquele que ressuscitou a Cristo da morte também vivificará os vossos corpos mortais pelo Seu Espírito que habita em vós" (Rom. 8:11). Esta é a Palavra de Deus. É uma grande coisa ter a Palavra de Deus com você na oração, de modo que você pode apresentá-la diante do Senhor. Ela lhe dá uma posição de força. E também é uma grande coisa ser capaz de enfrentar o inimigo com a Palavra de Deus. O próprio Senhor foi para o deserto e foi tentado pelo inimigo por quarenta dias. Como ele enfrentou o Diabo? Apenas com a Palavra de Deus! A Palavra de Deus era a Sua arma, e no final Ele venceu com esta arma. Não é que você enfrenta o inimigo objetivamente e começa a citar a Escritura audivelmente para ele. Isto pode ser necessário algumas vezes, e pode algumas vezes ser um bom exercício enfrentar o inimigo com uma declaração audível daquilo que Deus disse, mas, caro amigo, é necessário ter a Palavra de Deus em nossos corações para que permaneçamos nas promessas em todos os momentos de tentação e pressão e de assalto espiritual interior. Não podemos permanecer nelas se não as conhecemos. Há um grande fortalecimento de posição quando você caminha na Palavra de Deus. Uma vida na Palavra é algo muito importante para a oração eficaz, e estas duas coisas caminham juntas numa positive e agressiva vitória sobre o inimigo. 

A Oração e os Vencedores 

Então esta última coisa aparece nesta porção: Que é uma pequena companhia que está lá nesta posição. Jonatas diz: “porque para com o SENHOR nenhum impedimento há de livrar com muitos ou com poucos. " (1 Samuel 14:6). É uma companhia comparativamente pequena, mas ela representa a chave para a situação toda para o Senhor. Eles representam os demais numa posição relativa, e o Senhor sabe que os demais dificilmente se lançariam nisto se não fosse por esta pequena companhia. O Senhor precisa deles por causa dos demais. No final da questão os demais entram no benefício que esta pequena companhia tem assegurado a eles. É o que muito frequentemente chamamos de ‘a companhia de vencedores’, um pequeno grupo – comparativamente falando – que permanece firme na posição e mantém sua vida de oração e sua vida na Palavra. Esses representam a esperança do povo do Senhor, e o povo do Senhor não tem qualquer esperança separado deles. Eles são a chave do Senhor para a situação, e Ele precisa tê-los por causa dos demais. É Benjamin, o elo entre os irmãos alienados e distantes e aquele que está no trono. É o pequeno que é a ocasião para eles serem trazidos para dentro da benção plena. É uma posição de privilégio, embora seja difícil, custosa e cheia de luta e sofrimento. Preciso dizer mais a mim mesmo, e você precisa dizer mais para si mesmo, sobre o privilégio de ser um vencedor. Temo que fiquemos muito impressionados com o sofrimento e o custo disto, mas é um privilégio estar numa posição que irá significar muito para o Senhor numa grande quantidade de outros que pode não estar nesta posição no momento que poderia nos impressionar.

Se o Senhor está para trazê-los, Ele não faz isto, nem pode fazê-lo, diretamente. Ele faz isto através da ministração daqueles que estão nesta comunhão íntima com Ele que representa uma poderosa vitória sobre a estratégia do inimigo. É uma posição de privilégio, e é por isto que aqueles que estão seguindo este caminho com o Senhor tornam-se o objeto central do ódio e malicia do Diabo, e porque é uma batalha para eles manter a posição para a qual o Senhor os tem chamado. Muito depende deles por causa de suas responsabilidades em virtude do elo, e o valor deste elo, entre eles e – talvez – multidões de pessoas. Assim Jonatas e seu escudeiro (e esta é a parte da história que gosto muito) tinham um entendimento secreto. Havia aqueles dois maciços e ameaçadores penhascos de ambos os lados, e os Filisteus estavam em lugar de vantagem. O entendimento secreto deles era este: 'Se eles disserem que irão descer a nós, tudo bem, iremos esperar por eles. Mas se disserem: "Venham a nós," então saberemos que o Senhor os tem entregado em nossas mãos.' Você teria pensado que eles teriam colocado a coisa de outra maneira, pois, então, eles teriam tido todas as vantagens e teria sido comparativamente mais fácil. Mas crer que ser chamado para escalar aquelas dificuldades, aqueles penhascos ameaçadores era o sinal do Senhor da vitória, bem, torna a situação muito forte, não torna? E os Filisteus disseram: 'Subam a nós!” Assim Jonatas disse: “O Senhor os tinha entregue na mão de Israel”, e, enquanto avançavam com as mãos e com os pés, pois era uma subida muito difícil, eles diziam: “A vitória é nossa.” Eles subiam em vitória, e não para uma vitória. Eles tinham suas armas, eles tinham fé em Deus, eles permaneciam numa vitória e prosseguiam nela. E Jonatas derrotou os Filisteus. Eles caíram diante dele e de seu escudeiro. Então o Senhor mandou um terremoto. Quando a fé tinha ido tão longe quanto podia, Deus cooperou e enviou consternação entre os Filisteus. Então os pobres e fracos Hebreus viram a sua chance e atacaram os Filisteus. Isto não foi muito nobre, nem muito honroso, mas Jonatas foi o instrumento para tirar força da fraqueza deles, um claro testemunho da falta de distinção deles, e, do lugar onde o testemunho havia se perdido proporcionando agora um lugar onde eles podiam se apoiar. E muitas pessoas simplesmente precisam de um Jonatas para trazê-los para um lugar desembaraçado. Eles irão entrar se o Senhor tiver um instrumento forte o suficiente para enfrentar o inimigo em favor deles, mas eles não entrarão até que haja alguma coisa que comece a golpear os Filisteus para eles. Irá você ser um desses? 

A Companhia Peneirada 

Preciso encerrar, porém quero dizer apenas uma palavra sobre o Senhor passar a peneira até conseguir algo parecido com isto, sobre a necessidade de obter efetividade. Jonatas, seu escudeiro e uma pequena companhia representava um povo selecionado. Eles foram peneirados nesta questão de fé no Senhor, e eles foram peneirados para que a oração e a Palavra fossem a própria vida deles. A companhia de Gideão representou isto: uma companhia peneirada trazida para uma posição de absoluta fé em Deus, pois isto é o que Deus buscava - "Para que Israel não se glorie contra Mim dizendo: ‘Minha mão me livrou. (Juízes 7:2). Eles tinham que estar numa situação onde Deus fosse o único bem deles, e a fé Nele fosse o terreno onde eles permanecessem. Então cada homem tinha que colocar sua espada ao seu lado e permanecer a postos. Você tem um belo quadro nos trezentos de Gideão que formavam uma companhia selecionada que permaneciam na oração e na Palavra de Deus. “A Espada do Senhor" – a Palavra do Senhor. O Senhor viu que todos os medrosos voltaram para casa, pois um coração medroso é inútil. A fé é necessária aqui. Um coração dividido é inútil e desqualifica o seu dono. Um coração medroso foi o primeiro teste, e uma grande turma voltou para casa porque tinham o coração temeroso. Um coração dividido foi o primeiro teste, e aqueles que se ajoelharam para beber água mostraram que não estavam totalmente preparados para este negócio. Aqueles que lamberam a água estavam ansiosos, pois permaneceram sobre seus pés, e apenas beberam água porque era necessário.

Aqueles que lamberam a água tinham o coração determinado e estavam completamente neste negócio. Um coração dividido desqualifica, e o Senhor olha para isto e o descarta. No final o Senhor tem a Sua companhia, e eles estão todos com Ele na fé do Filho de Deus, tendo uma vida de profunda comunhão com Ele em oração e na Palavra. Será sempre uma companhia peneirada, e nós não deveríamos nos desencorajar ou pensar que uma coisa estranha tenha acontecido quando o Senhor começa a passar a peneira e muitos voltam para casa. Esta é a maneira de o Senhor obter efetividade. Ele precisa peneirar. Ele próprio, quando esteve aqui na terra, nos deu bastante em Seu ensino pessoal nesse mesmo sentido. Ele chama, e as reações a Sua chamada são: “Senhor, permite primeiro enterrar o meu pai”. Então há outros interesses: “Comprei cinco juntas de boi e preciso experimentá-las”; "Casei”; "Adquiri uma propriedade, e preciso ir vê-la”. Este é um coração dividido! E, então, temos a Sua palavra: “Se alguém vem após Mim e não aborrecer seu pai, e sua mãe, e filhos, e irmãos e irmãs, e ainda, a sua própria vida, não pode ser Meu discípulo; "Aquele, pois, que não toma a sua cruz e vem após Mim não pode ser Meu discípulo”. Isto é, nada de coração tímido! O Senhor chama para isto, e por trezentos Ele entregou os Midianitas em nossas mãos, e Ele salva Israel. Eles são a salvação dos demais. 

FIM

 

 

*A tradução deste estudo foi feita voluntariamente por Valdinei N. da Silva,  que, por reconhecer  a  excelência do conteúdo, coloca o mesmo ao alcance da Igreja de Cristo, para sua edificação. Peço aos  irmãos  que possuírem conhecimentos mais aprofundados em tradução, que colaborem, enviando as suas preciosas observações e retificações para: valdineinascimento@uol.com.br 

 

 

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