Cristo – tudo
e em todos
Theodore Austin-Sparks
(republicado como livreto, 2001)
Cl 1:18 = “Ele é a cabeça do corpo,
da igreja. Ele é o princípio, o primogênito de entre os
mortos, para em todas as coisas ter a primazia”.
Cl 3:11 = “no qual não pode haver
grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro,
cita, escravo, livre; porém Cristo é tudo em todos”.
Muito tem sido feito nos últimos dias
para trazer as grandes magnitudes do universo à compreensão
do homem e mulher comuns. Isto significa que muitas pessoas
estão interessadas na explicação do universo e, sem dúvida
alguma, do curso desta Terra e da criação e história do
homem; mas cremos ter a resposta final e positiva para esta
investigação. Para nós há somente uma definida e conclusiva
explicação do universo, e esta explicação é uma Pessoa – o
Senhor Jesus Cristo, com tudo que é eternamente relacionado
a Ele. Não importa quanto leiamos e estudemos, nunca teremos
a explicação do universo, no todo ou em parte, até que
venhamos a enxergar o lugar do Senhor Jesus no eterno
propósito de Deus. As simples contudo abrangentes palavras
“Cristo é tudo em todos” resumem toda a matéria desde a
eternidade, através de todos os estágios de tempo, até a
eternidade.
Primeiramente, então, vemos que
“Cristo é tudo em todos” significa:
1. A explicação da própria criação
Esta carta aos colossenses faz esta
mesma declaração em outras palavras. Ela nos diz que “pois,
nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a
terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam
soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi
criado por meio dele e para ele. Ele é antes de todas as
coisas. Nele, tudo subsiste” (1:16-17). Esta é uma
declaração abrangente, e claramente mostra que Cristo sendo
tudo em todos é a explicação de toda a criação. Por que
foram todas as coisas criadas? Por que Deus por meio dele
trouxe o universo à existência? Por que este grande sistema
universal existe e se mantém? Qual é a explicação do mundo?
A resposta é para que Cristo possa ser tudo e em todos.
A intenção no coração de Deus ao ter
trazido este universo à existência era que, ao final, toda a
criação pudesse apresentar a glória e a supremacia de Seu
Filho, Jesus Cristo. E este específico pequeno fragmento “e
nele tudo subsiste” diz muito claramente que, se não fosse o
Senhor Jesus Cristo, o universo inteiro se desintegraria,
desmembrar-se-ia; ele estaria sem seu fator unificador; ele
cessaria de ter uma razão para ser mantido como uma completa
e concreta unidade. Seu subsistir, sua falha em se
desintegrar e acabar é por causa disto: Deus tem determinado
que o Senhor Jesus será o centro – o centro governante –
deste universo inteiro, e Ele, o Filho de Deus, é a
explicação da criação. Se não fosse por Ele, nunca teria
havido uma criação. Tire-o fora e a criação perde seu
propósito e seu objeto, e não precisa mais ir adiante.
“Cristo é tudo, e em todos” era o pensamento – o pensamento
dominante – na mente de Deus durante a criação do universo.
Isto pode deixá-los indiferentes em
certa medida e não levá-los muito longe, mas eu arrisco
pensar que o que irei dizer irá levá-los um pouco mais
adiante e aquecerá seus corações. Pois a perspectiva é esta,
que quando Deus tiver as coisas como na eternidade passada
determinou tê-las – e Ele irá tê-las assim – cada átomo
deste universo inteiro irá mostrar a glória de Jesus Cristo.
Vocês não serão capazes de olhar para algo ou alguém sem ver
Cristo glorificado. Uma abençoada perspectiva!
É algo feliz quando, como um grupo de
filhos do Senhor, nós podemos estar juntos por horas a fio
ou mesmo dias a fio; quando nós estamos ocupados com o
Senhor como nosso único interesse comum e todos estão
enlevados nele. Quando temos um tempo como este e voltamos
ao mundo, que atmosfera diferente encontramos! Como nos
sentimos frios! É algo agradável encontrar o Senhor em seus
filhos e estar enclausurado com Ele desta forma; contudo
mesmo isto é apenas em parte. Todavia o eterno dia está
chegando quando não haverá o voltar para o mundo em uma
manhã de segunda-feira depois de um dia nos átrios do
Senhor; quando estaremos tocando ninguém mais além do
Senhor, e o universo inteiro estará cheio dele – “Cristo,
tudo em todos”! Este é o alvo de Deus. Isto é o que Ele tem
determinado; tudo mostrando o Senhor Jesus; tudo para Ele.
Agora vemos uns nos outros muitas
outras coisas que não o Senhor Jesus; o dia está chegando
quando vocês nada verão exceto o Senhor Jesus em mim, e eu
nada verei exceto o Senhor Jesus em vocês; nós seremos
“conformados à imagem do Seu Filho”: Sua glória moral
brilhará e será mostrada; Cristo será “tudo em todos”. Deus
o determinou, e o que Deus determinou, Ele terá. Esta,
então, é a explicação da criação, que Cristo seja tudo, e em
todos, e sobre tudo tenha a preeminência.
Em Romanos, o apóstolo Paulo tem uma
declaração muito notável dentro deste contexto: “A ardente
expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de
Deus. Pois a criação está sujeita à vaidade, não
voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na
esperança de que a própria criação será redimida do
cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos
filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação, a um só
tempo, geme e suporta angústias até agora” (8:19-22).
Notem o que isto realmente diz e
implica. A criação está imbuída por uma expectativa ardente.
Esta expectativa é com gemidos tais como em árduo trabalho,
uma expectativa de esperança – não da dissolução do
universo, sobre o quê certos cientistas tanto falam.
Contudo, a esperança e os gemidos até o momento estão
deliberadamente colocados sob um reinado de vaidade – feitos
para ser tudo em vão – até um tempo e alvo fixados. Este
clímax é em duas partes: uma, a revelação dos filhos de
Deus; a outra – ligada com aquela – o livramento da criação
de estar sujeita à corrupção.
Tudo isto é levado de volta à
eternidade passada e unido com o Senhor Jesus como Filho:
“Porquanto aos que de antemão conheceu, também os
predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a
fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”
(8:29).
Na passagem anterior há uma declaração
definida e uma clara implicação. A declaração é que a
criação estava sujeita à vaidade, e seu estado é o cativeiro
da corrupção. Claramente, a implicação é que houve um tempo
definido quando, por causa de sua corrupção, a criação
inteira foi levada a uma condição na qual é forçada a gemer
e se esforçar em direção a um alvo que não pode ser
alcançado. É em conexão com isto que surge espaço para toda
a gama e a natureza da interferência satânica na criação, a
qual objetiva a desafiar o propósito divino final na criação
e a frustrá-lo ao trazer corrupção. Tão universal foi esta
corrupção que uma sentença de vaidade foi pronunciada sobre
“toda a criação”. O efeito disto foi, e é, que a criação
nunca pode atingir o objetivo de sua existência, salvo no
campo da santidade e semelhança divina.
Aqui também se encaixa toda a gama da “redenção que está em
Cristo Jesus”; a obra universal que Ele consumou por meio de
Sua cruz destruindo a obra do diabo e, potencialmente, o
próprio diabo; com todo o poder destruidor do pecado e
destruidor da corrupção advindos de Sua natureza e vida sem
pecado, a eficácia de Seu incorruptível sangue, e a provisão
de justificação e santificação para todos os que crêem,
estes por regeneração se tornando uma nova criatura em
Cristo Jesus (2Co 5:17).
Apenas por este meio a criação pode
ser liberta. Quando estes filhos de Deus forem manifestos –
seu número completo – e todos que têm recusado esta salvação
forem rejeitados do domínio de Deus, então a criação será
liberta e sua intenção original será atingida, Cristo sendo
tudo, e em todos.
2. A explicação do homem
Depois, em seguida, como uma parte
central da criação, temos o homem. Qual é a explicação do
homem? Qual é a explicação de Adão como o primeiro homem? Há
uma pequena passagem da Escritura que responde a isto: “...
Adão, o qual prefigurava aquele que havia de vir” (Rm 5:14),
que é Cristo. Uma figura daquele que havia de vir; esta é a
explicação do homem. Deus planejou que cada homem ingresso
neste mundo seja conformado à imagem de Seu Filho, Jesus
Cristo. Multidões perderão isto, mas haverá multidões tais
que nenhum homem poderá enumerar, de cada tribo, raça, nação
e língua, que alcançarão isto. Que alto chamado! Que
concepção diferente do homem esta é daquela que é
popularmente aceita, e que tremenda coisa a ser perdida! E
ainda assim, há muitos que dizem reclamando que se tivessem
podido escolher, nunca teriam vindo a este mundo. Tem havido
aqueles que, numa hora de eclipse, maldizem o dia em que
viram a luz. Ah! Mas algo deu errado aí; isto não é como o
Senhor planejou que fosse. E não importa quantos dias
depressivos tenhamos: quando nos perguntarmos depois de tudo
se realmente vale a pena, retornemos em nosso íntimo ao
pensamento de Deus. É nosso tremendo privilégio, a mais alta
honra que podia ser conferida a nós do ponto de vista
divino, que tenhamos nascido.
Nem sempre nos sentimos ou falamos
deste jeito, mas constantemente somos compelidos a nos
voltarmos ao ponto de vista de Deus sobre isto e a nos
lembrarmos que Seu propósito é o de ter um universo povoado
com tais que sejam conformados à imagem de Seu Filho, Jesus
Cristo, um povo que é uma manifestação universal do Cristo
glorificado com a glória do Pai. Este é um privilégio, uma
honra, algo para o qual vale a pena ter nascido! Esta é a
explicação do homem.
Podemos apenas tocar levemente muitos
destes assuntos, e caminhar adiante.
3. A explicação da redenção
Além disso, esta palavra “Cristo é
tudo em todos” é a explicação da redenção. As coisas, é
claro, deram errado: o propósito de Deus sofreu
interferência. Ele não poderia nunca ser frustrado
completamente, mas houve outro que determinou, tanto quanto
estivesse em seu poder, que aquela apresentação universal de
Jesus Cristo – o “ser-tudo-em-todos” do Senhor Jesus – nunca
acontecesse. Houve alguém que desejou ter aquilo para si
mesmo – que ele pudesse ser o senhor universal da terra e
céu. Esta interferência tem feito uma grande diferença por
certo tempo. Ela tem interferido com o homem e o
transformado em outro, aquém do que Deus pretendia que ele
fosse. Ela tem arruinado a imagem.
No entanto, há redenção através da
cruz do Senhor Jesus. Qual é a explicação da cruz? Por um
lado, qual é a explicação de toda aquela expiação, aquela
obra redentiva do Senhor Jesus ao tratar com o pecado, em
tomar o pecado universal sobre Si, e ser feito uma maldição
por nós, em nosso lugar?
E ainda, por outro lado, como
complemento disto, qual é a explicação daquela cruz sendo
operada no crente de forma que o crente se torne unido com
Ele na semelhança de Sua morte e enterro como uma
experiência espiritual? – toda aquela aplicação do Calvário
que é tão dolorosa, tão terrível de passar através: sim, a
desintegração do “velho homem”, o cortar fora do “corpo da
carne”, aquele conhecimento interior do poder da cruz, tão
terrível à carne. Qual é a explicação? Amados, é que Cristo
seja tudo, e em todos.
Por que somos quebrados? Para dar
lugar ao Senhor Jesus. Por que somos trazidos ao pó pelo
Espírito Santo quando Ele opera a morte do Calvário sobre
nós? De forma que o Senhor Jesus possa tomar o lugar que nós
na carne temos ocupado. Algumas vezes entendemos errado esta
aplicação da cruz. O inimigo está sempre em nosso ombro,
insinuando e sugerindo a inclemência de Deus em nos esmagar,
nos humilhar, nos reduzir a nada, e dizendo que não há fim
nisto, tentando assim nos derrubar.
Amados, a cruz foi pretendida somente
para fazer o Senhor Jesus tudo em todos, para nós. Devido ao
modo como o Senhor tem tratado conosco, o modo pelo qual Ele
tem aplicado a cruz, nos plantando naquela morte e enterro,
não é verdade que nós O conhecemos de um modo que nunca O
conhecêramos antes? Não é por este modo que Ele tem se
tornado o que é para nós, cada vez mais e mais amado dos
nossos corações? O aumento do Senhor Jesus em nós e para nós
é pelo caminho da cruz. Sabemos muito bem que o nosso
principal inimigo é o nosso eu, a nossa carne. Esta carne
não nos dá descanso, nem paz, nem satisfação; não temos
alegria nela. Ela é obsessiva, nos absorve, constantemente
se pavoneia atravessando nosso caminho para nos roubar a
verdadeira alegria de viver. O que deve ser feito com ela?
Bem, na cruz e pela cruz somos libertos de nós mesmos; não
apenas de nossos pecados, mas de nós mesmos; e sendo
libertos de nós mesmos somos libertos para Cristo, e Cristo
se torna muito mais que nós.
É um processo doloroso, mas gera um
fim abençoado; e aqueles dentre nós que tenham tido a maior
agonia ao longo deste caminho testificariam, eu creio, que o
que isto nos trouxe do conhecimento e das riquezas do Senhor
Jesus faz todo o sofrimento valer a pena. Assim é a obra do
Senhor por nós! E a obra do Senhor em nós, pela cruz,
somente é pretendida no pensamento divino para abrir espaço
para o Senhor Jesus.
O altar de bronze do tabernáculo,
assim como o do templo, era um altar bem grande. Era
possível pôr toda a mobília restante do tabernáculo inteiro
dentro dele. Sim, o altar tem que ser bem grande; deve haver
um grande espaço para Cristo Crucificado. Ele irá preencher
todas as coisas e Ele será a plenitude de tudo, e não haverá
lugar para nós no final de tudo. Isto o deixa atônito?
Certamente não. Assim a cruz, a obra de redenção através
daquela cruz, tem como sua explicação simplesmente isto, que
Cristo seja tudo, e em todos; que em todas as coisas Ele
possa ter a preeminência.
Isto, pois, é a explicação de nossas
experiências – o porquê do Senhor tratar conosco como Ele
trata; o porquê dos crentes passarem através das
experiências que atravessam; o porquê eles passam por coisas
que ninguém mais parece chamado a atravessar; o porquê de
algumas vezes eles quase invejarem os incrédulos pela vida
fácil que tantos deles têm. Isto explica os tratamentos do
Senhor com Israel no deserto. Mesmo após sua libertação do
cativeiro e tirania do Egito, houve quebrantamento de
corações e agonia. Por que esta disciplina? No deserto, eles
ainda pensavam no Egito. A obra que o Senhor estava fazendo
neles era de forma que Ele pudesse ser tudo neles e para
eles. Se Ele cortava seus recursos naturais, era apenas para
mostrar quais eram seus recursos celestiais. Se Ele cortava
seu poder natural, era para que eles pudessem vir a conhecer
o poder dos céus. O que quer que seja que Ele pudesse tirar
deles ou os conduzir a, era com vista a tirá-los de si
mesmos e com vista a que Ele mesmo pudesse ser tudo em
todos.
Esta é a explicação de nossas
dificuldades. O Senhor conhece como melhor tratar com cada
um de nós, e Ele não usa métodos padronizados. Ele trata com
você de um modo e comigo de outro. Ele sabe como nos
conduzir a experiências que são bem calculadas para nos
trazer à posição aonde o Senhor é tudo e em todos.
4. A explicação do crescimento
cristão
O que é crescimento espiritual? O que
é maturidade espiritual? O que é caminhar no Senhor? Temo
que tenhamos idéias embaralhadas sobre isto. Muitos pensam
que maturidade espiritual é um conhecimento mais abrangente
da doutrina cristã, uma compreensão mais larga da verdade
das Escrituras, uma ampla expansão do conhecimento das
coisas de Deus; e muitas destas características são
registradas como marcas de crescimento, desenvolvimento,
maturidade espiritual. Amados, não é nada disso. A marca
distintiva do verdadeiro desenvolvimento e maturidade
espiritual é esta: que nós tenhamos crescido bem
pouco e que o Senhor Jesus tenha crescido muito mais. A alma
madura é aquela que é pequena a seus próprios olhos, mas em
cujos olhos o Senhor Jesus é grande. Isto é crescimento. Nós
podemos saber muitas coisas, podemos ter uma maravilhosa
compreensão da doutrina, do ensino, da verdade, até mesmo
das Escrituras, e ainda ser espiritualmente muito pequenos,
muito imaturos, muito infantis. (Há muita diferença entre
ser infantil e ser semelhante a uma criança). O crescimento
espiritual real é somente isto: eu diminuo, Ele cresce. É o
Senhor Jesus se tornando mais. Vocês podem testar o
crescimento espiritual através disto.
Então, de novo, esta palavra é:
5. A explicação de todo o serviço
O que é o serviço cristão de acordo
com a mente de Deus? Não é necessariamente termos uma
programação cheia de atividades cristãs. Também não é que
estejamos sempre ocupados naquilo que denominamos “coisas do
Senhor”. Não é a medida e a quantidade de nossa atividade e
trabalho, nem o grau de nossa energia e entusiasmo nas
coisas do reino de Deus. Não são nossos esquemas, nossos
projetos para o Senhor. Amados, o teste de todo serviço é
seu motivo. Será que o motivo é, do começo ao fim,
que em todas as coisas Ele possa ter a preeminência, que
Cristo possa ser tudo em todos?
Vocês conhecem as tentações e a
fascinação do serviço cristão; a fascinação de estar
engajado, de estar ocupado com muitas coisas; ter sua
programação, esquemas, projetos; estar envolvido nestas
coisas e sempre presente a elas. Há um perigo aí que tem
apanhado multidões dentre os servos do Senhor. O perigo é
que isto os leva à projeção, torna a obra deles; é a
obra deles, interesses deles, e quanto mais
governam e caminham nisto mais satisfeitos ficam.
Não, há uma diferença entre passar o
dia no serviço cristão como mero desfrutar da atividade, com
a fascinação disto e todas as vantagens e facilidades que
isto provê para nós mesmos, e a gratificação disto à nossa
carne – há uma grande diferença entre isto e “Cristo, tudo
em todos”. Algumas vezes este último é alcançado ao sermos
postos fora de ação. Pois então, este é o teste: se estamos
ou não completamente satisfeitos de sermos colocados
totalmente fora de ação para que tão somente o Senhor possa
ser mais glorificado deste modo. Se tão somente Ele puder
vir ao que é seu, não importa nada se somos vistos ou
ouvidos. Estamos alcançando um lugar, na graça de Deus,
aonde ficamos bem contentes em ser largados num canto, sem
ser vistos ou notados, se deste modo o Senhor Jesus puder
vir para o que é seu mais rápida e completamente.
De algum modo temos sido pegos nisto e
pensamos que o Senhor somente pode vir ao que é Seu se nós
formos o instrumento. A rivalidade na plataforma e no
púlpito; a sensibilidade porque um é posto antes do outro,
porque o sermão de um recebe mais atenção que o do outro; os
comentários favoráveis feitos todos em uma só direção, etc!
Conheço bem tudo isto. Afinal de contas, o que nós estamos
buscando? Estamos buscando impressionar nossa audiência pela
nossa habilidade ou fazer conhecido nosso Senhor? É uma
grande diferença! Algumas vezes o Senhor ganha mais de
nossos maus momentos do que pensamos, e pode ser que quando
temos bons momentos Ele não tenha obtido o máximo. É por
causa disto que há a necessidade de sermos postos de lado,
mantidos fracos e humildes, para que Ele possa ter a
preeminência.
O desafio do serviço conforme o
pensamento de Deus é somente este – por que o estamos
fazendo? Queremos estar na obra porque gostamos de estar
ocupados? Ou é absolutamente e somente para que, por
qualquer meio, Ele possa vir ao que é Seu, para que o alvo
de Deus possa ser concretizado? Se Ele puder ser tudo, e em
todos, pela nossa morte assim como pela nossa vida, será que
chegamos ao ponto onde realmente desejamos que “Cristo seja
glorificado em meu corpo, quer pela vida ou pela morte” (Fp
1:20)? Esta é a explicação do serviço do ponto de vista de
Deus.
É claro, isto é a explicação de muitas
outras coisas. É também...
6. A explicação de todo o Antigo
Testamento
Nós não nos demoraremos examinando em
detalhes como é isto, mas apenas o indicaremos e passaremos
adiante. O que é o Antigo Testamento? Ele está todo resumido
em grandes representações de Jesus Cristo. Veja as duas
principais, o tabernáculo e o templo. Estas são
representações abrangentes do Senhor Jesus tanto em Sua
pessoa como em Sua obra e elas ocupam, desta forma, o lugar
central na vida do povo escolhido, cuja vida é unida a elas.
As duas são uma. Enquanto o povo eleito se mantém num
relacionamento correto com aquele objeto central (o
tabernáculo ou o templo), enquanto lhe dá seu lugar de honra
e reverência e o mantém em seu lugar da mais alta santidade,
enquanto eles são verdadeiros ao seu espírito, suas leis e
seu testemunho, e embora sejam entre todos os povos da terra
os menos capazes naturalmente de cuidar de seus próprios
interesses, ainda assim são o povo supremo da terra: não há
uma nação ou povo na terra capaz de permanecer diante deles.
Eles nunca foram treinados na arte da guerra, não têm uma
longa história de armas e estratégia militar, e são em si
mesmos um povo indefeso, ainda assim eles tomam ascendência
não apenas sobre nações individuais maiores e mais fortes
que eles, mas sobre uma combinação de nações. E embora todos
se unam contra eles, enquanto verdadeiros àquele objeto
central, eles são supremos. Aquele objeto central é uma
representação do Senhor Jesus em Sua pessoa e obra.
A interpretação espiritual disto é que
quando o Senhor Jesus tem Seu lugar há supremacia; há
absoluta supremacia quando Ele em todas as coisas tem a
preeminência em, através e por meio de Seu povo. “Cristo é
tudo em todos”. Quando isto é verdade em Seu povo não
existem forças capazes de lhes resistir. O segredo da
absoluta supremacia e soberania é o Senhor Jesus ter Seu
lugar nas vidas e nos corações, em todos os afazeres e
relacionamentos do Seu próprio povo; então os portões do
inferno não poderão prevalecer.
Além disto, é também...
7. A explicação do Novo Testamento
O Novo Testamento traz diminutos
grupos, pequenos entre os povos da terra, desprezados,
expulsos, dificilmente permitidos a falar sem serem
amargamente molestados, e sobre os quais eventualmente vinha
a ira e o ódio organizado das nações deste mundo, culminando
em que todos os recursos do grande império de ferro foram
explorados e postos em operação para destruir a memória
deste humilde e desprezado povo.
A história é exatamente esta, que os
impérios quebraram, e os poderes mundiais cessaram de
existir. Nós rodamos o mundo agora para olhar as relíquias e
ruínas destes grandes impérios; mas onde está aquele povo do
Caminho do desprezado Nazareno? Uma grande multidão que
nenhum homem pode numerar! O céu está cheio deles, e aqui na
terra há dezenas de milhares que conhecem e amam o Senhor
Jesus, que são deste Caminho. A explicação é que Deus
determinou que Seu Filho seja tudo, e em todas as coisas
tenha a preeminência.
Tenha um relacionamento vivo com o
Filho de Deus, e homens e inferno podem fazer o que quiserem
– Deus irá atingir Seu alvo e tal povo será triunfante.
Uma palavra mais. Isto também é...
8. A explicação da Igreja
O que é a igreja? O pensamento de Deus
não é o Cristianismo; não é o de ter igrejas como centros
organizados do Cristianismo; não é a propagação do ensino e
empreendimento cristãos. O pensamento de Deus é o de ter um
povo na terra no qual, e no meio do qual, Cristo é tudo em
todos. Esta é a igreja. Temos que revisar nossas idéias. No
pensamento de Deus a igreja começa e termina com isto – a
absoluta supremacia do Senhor Jesus Cristo. E o que Deus
está sempre buscando é juntar aqueles de Seu povo que mais
completamente concretizarão este pensamento dele, e serão
para Ele a satisfação de Seu próprio desejo eterno: o Senhor
Jesus em todas as coisas tendo a preeminência e sendo tudo
em todos. Ele ignora a grande instituição, a assim chamada
“Igreja”, e está com aqueles que em si mesmos são de um
humilde e contrito espírito e que tremem diante de Sua
palavra, e nos quais o Senhor Jesus é o único objeto de
reverência e adoração. Estes satisfazem o coração de Deus.
Estes, para Ele, são a resposta à Sua eterna busca.
Vocês percebem que a Palavra de Deus
diz isto. Vejam novamente Cl 3:11: “no qual não pode haver
grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro,
cita, escravo, livre; porém Cristo é tudo em todos”. Eles
têm se revestido “do novo homem, que se refaz para o pleno
conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou”.
Observem atentamente estas palavras e vocês entenderão que
este é o homem corporativo, a Igreja, o Corpo de Cristo, “a
plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas” (Ef
1:23). E ali, naquele homem corporativo, não pode haver
grego ou judeu. Note as palavras. Não diz que gregos e
judeus se unem em uma abençoada comunhão. Não, não há
nacionalidades na igreja; temos nos livrado de todas as
nacionalidades, e agora temos um novo homem espiritual, uma
nova criação, onde não pode haver grego, judeu, escravo,
livre. Todas as distinções terrenas se foram para sempre – é
um novo homem. O braço direito não é um judeu e o braço
esquerdo um grego!
Não, isto passou. Nesta Igreja há
apenas um novo homem – não uma combinação onde anglicanos,
metodistas, batistas, congregacionais e todo o resto se
juntam e esquecem suas diferenças por um tempo; isto não é a
Igreja. Na Igreja estas diferenças não são meramente
cobertas por um tempo – elas não existem. Há um
Corpo, um Espírito. A Igreja é isto, “Cristo é tudo
em todos”. Tenha isto e tem-se a Igreja. Chamar qualquer
outra coisa de Igreja e deixar isto de fora é uma
contradição. Testem-na através disto.
Se é verdade que a vida cristã
conforme o pensamento e a mente de Deus é somente isto,
“Cristo, tudo em todos”, então somos eu e você verdadeiros
cristãos? Pois temos visto que mediante a cruz nós
desaparecemos para dar lugar para o Senhor Jesus. Agora, se
professamos ter vindo pelo caminho do Calvário até o Senhor,
a implicação é que desaparecemos por intermédio desta cruz,
para que Cristo seja tudo em todos.
O que pensar? Queremos nós um
pedacinho do mundo? Nós ainda voluntariamente nos apegamos a
esta ou aquela coisa fora do Senhor, porque o Senhor Jesus
não tem nos satisfeito plenamente e precisamos ter um
contrapeso? Um cristão mundano é uma contradição de termos.
Ter um pouquinho de algo fora de Cristo é negar o Calvário e
permanecer diretamente em oposição ao eterno propósito de
Deus referente a Cristo. Você assume esta responsabilidade?
Deus determinou isto desde toda a eternidade no referente a
Seu Filho. Podemos nós professar pertencer ao Senhor Jesus e
ao mesmo tempo ainda não ser verdade que Ele é tudo em todos
para nós? Se podemos, há algo errado, há uma negação, uma
contradição. Estamos nos opondo ao pensamento e propósito de
Deus. É verdade que Ele é tudo em todos? Ele será isto se
tomarmos todo o caminho.
Oh! Estas sugestões sutis que estão
sempre sendo sussurradas em nossos ouvidos, que se
desistirmos disto ou daquilo iremos nos arruinar, e a vida
será mais pobre, e seremos reduzidos até que nada tenha
restado. É uma mentira! É isto que contrapõe o grande
pensamento de Deus sobre nós. O pensamento de Deus sobre nós
é que alguém, nada menos que Seu Filho, Jesus Cristo, em
Quem toda a plenitude da divindade habita em forma corpórea,
seja a nossa plenitude. Toda a plenitude de Deus em Cristo
para nós! Você nunca obterá isto ao rejeitá-lo. A vida será
muito menos do que precisa ser se você não for até o fim com
o Senhor. E o que se obtém em matéria de nossa consagração
ao Senhor, nosso inteiro e completo abandono a Ele em nossa
vida, nosso deixar completamente tudo que não é do Senhor,
isto se obtém no domínio do serviço. Esta carne ama se
jactar na obra cristã, e nos diz que se passarmos a ser
dependentes do Senhor nós passaremos a ter um tempo de
ansiedade. Mas uma vida de dependência de Deus pode ser uma
vida de contínuo romance. É ali que fazemos descobertas que
são constantes maravilhas.
Você pode estar quase morto num minuto
e no seguinte o Senhor lhe dá algo para fazer e você fica
muito vivo, dependendo dele para cada respiração sua. Assim
você vem a conhecer o Senhor. Mas, depois daquela
experiência, você se torna de novo inútil e morto por um
tempo, contudo você se lembra de que o Senhor fez algo.
Então Ele faz de novo; e a vida se torna um romance. Ninguém
pensaria que você estava dependendo do Senhor para sua
própria respiração. É algo muito abençoado saber que o
Senhor está fazendo isto, quando você não pode fazê-lo de
jeito nenhum – é humana e naturalmente impossível, mas o
Senhor o está fazendo!
Prossigamos, amados, no assunto da
Igreja. Apliquem o teste. Não estou falando com julgamento
ou censura, nem tenciono discriminar num sentido errado, mas
deixe-me ser fiel – para nós, nossa comunhão deve estar onde
o Senhor Jesus é mais honrado. Nossa comunhão deve estar
onde Deus tem o que é seu mais plenamente, onde Cristo é
tudo em todos. Nós não podemos estar presos por tradições,
por coisas que levantam um clamor e assumem uma denominação.
Onde o Senhor é mais honrado, aí é onde nossos corações
devem estar; onde tudo o mais é feito subserviente a apenas
isto: “Cristo, tudo em todos”. Este é o pensamento de Deus
sobre a Igreja, e este deve ser o lugar aonde nossos
corações gravitam. O lugar onde Deus vai registrar Seu
testemunho e trazer o impacto deste testemunho sobre outros
será encontrado onde o Senhor Jesus é mais honrado. E vocês
perceberão que onde houver pessoas famintas vocês terão
oportunidade de ministério se vocês estiverem completamente
em acordo com o propósito de Deus referente a Seu Filho.
9. Vivenciando tudo
Lembre-se que tudo relacionado ao
cristão é experimental. Tudo em relação ao Senhor Jesus é
essencialmente experimental. Não é apenas doutrina. Não é
questão de credo. Não é que aceitemos certas declarações de
doutrina ou credo, e que somente por isto sejamos trazidos a
um relacionamento com o Senhor Jesus. Nós não nos tornamos
cristãos por aceitar declarações doutrinárias ou credos
ortodoxos, ou fatos sobre o Senhor Jesus. A Igreja não se
constitui sobre estes parâmetros, embora a Igreja defenda
certos princípios. A experiência tem que ser operada na
vida, você deve ser tornar parte dela e ela parte de você.
Não é suficiente crer que Cristo morreu na cruz. Isto deve
se aplicar aqui em nossas vidas tornando-se uma experiência,
uma poderosa e operante força e fator em nosso ser. A igreja
não é constituída sobre uma base de declarações
doutrinárias. Você não pode juntar pessoas e dizer: “isto
parece perfeitamente confiável, constituiremos nossa igreja
sobre esta base”. Você não pode fazer isto.
A Igreja é aquela na qual a verdade
tem sido operada, na qual ela tem se tornado experimental.
Credos não podem nos manter juntos quando o inferno se
levanta para nos dividir. Não, o credo mais
ultra-fundamentalista não tem conseguido manter as pessoas
juntas. A unidade do Espírito é algo trabalhado lá dentro. A
menos que seja assim, nada pode resistir contra os espíritos
de divisão e cismas que estão por aí. Tudo precisa ser
experimental, não apenas doutrinário ou confessional.
Agora, é aqui onde você chega à
realidade de Deus. É uma coisa cantar hinos sobre Cristo ser
tudo em todos, olhar para isto como algo objetivo e
concordar com isto; mas é outra coisa ser trazido
experimentalmente ao lugar onde a verdade realmente opera.
Há muitos que dirão hoje “sim, isto está certo. Cristo é
tudo em todos”, e amanhã de manhã, quando você os toca sobre
algum assunto melindroso em que suas preferências estão
envolvidas, você percebe que Cristo não é tudo em todos.
Temos que chegar a isto pela experiência. Que o Senhor
nos dê graça para isto.
O apelo final que faço é que nós todos
busquemos novamente a entronização do Senhor Jesus como
supremo Senhor em nossos corações, em cada parte de nossa
vida, em todos os nossos relacionamentos; que se houver algo
que temos segurado, que deixemos ir; se temos tido qualquer
reserva, que a quebremos agora; se temos sido menos que
completamente comprometidos com Ele, de agora em diante isto
não seja mais assim, mas que Ele seja tudo em todos, a
partir de agora. Este deve ser nosso entendimento, nosso
compromisso com o Senhor. Fará você isto? Peça ao Senhor
para quebrar cada amarra que está no caminho de Ele ser tudo
em todos. Estamos preparados para isto?
Que o Senhor nos dê graça.
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