EM CRISTO
por T. Austin-Sparks
Capítulo 1 - O Todo Inclusivo "EM"
Não há nenhuma frase ou fórmula que ocorra com
maior freqüência no Novo Testamento do que esta,
“em Cristo”. Algumas vezes ela varia nas
traduções quando “por”, “através” e “com” são
usados, e algumas vezes no texto original ela
muda na forma, “em Cristo Jesus”, “Nele”, etc.,
mas em todas as duzentas vezes de sua
ocorrência, o princípio é o mesmo. Em toda a
doutrina cristã não há nada mais precioso, e,
contudo, não há nada menos compreendido e
apreciado.
Numa declaração consumada é-nos dito que Deus
propôs congregar todas as coisas em Cristo (Ef.
1:10) e que fora dEle não há nada que tenha
qualquer lugar no Seu propósito eterno. O plano,
o método, os recursos, os tempos, as coisas
eternas, são Cristosféricas.
A Criação está EM Cristo.
A Vida está EM Cristo.
A Aceitação está EM Cristo.
A Redenção está EM Cristo.
A Justiça está EM Cristo.
A Santificação está EM Cristo.
A Esperança está EM Cristo.
As Bênçãos Espirituais estão EM Cristo.
A Consolação está EM Cristo.
A Paz está EM Cristo.
A Oração Eficaz está somente EM Cristo.
A Força e as Riquezas estão EM Cristo.
O Propósito Eterno está EM Cristo.
A Nova Criação está EM Cristo.
As Promessas estão EM Cristo.
O Escape da Condenação está EM Cristo.
O Um Corpo está EM Cristo.
A Perseverança está EM Cristo.
O Ser Um está EM Cristo.
Os Limites do Sofrimento dos Cristãos estão
EM Cristo.
A Não Separação está EM Cristo.
O Homem Perfeito está EM Cristo.
O Auxílio Mútuo está EM Cristo.
Há as Igrejas EM Cristo.
Há os Mortos EM Cristo.
Há o Novo Homem e o Homem Perfeito EM
Cristo.
Estamos Completos EM Cristo.
O contexto desta fórmula varia de eternidade,
através dos séculos, a eternidade. Na eternidade
passada fomos escolhidos e eleitos EM Cristo. Ef.
1:4; 1 Ped. 5:13. Durante o tempo, pela Cruz,
este fato celestial eterno é trabalhado em forma
literal e experimental, expressado por
diferentes termos, implicando verdades
espirituais progressivas e específicas, mas
sempre o mesmo princípio.
"Plantados juntamente na semelhança de Sua
morte. Rom. 6:5.
"nos vivificou juntamente com Cristo." Ef. 2:5.
"nos ressuscitou juntamente com Cristo." Ef.
2:6.
"nos fez assentar … em Cristo." Ef. 2:6.
"de tornar a congregar todas as coisas em
Cristo." Ef. 1:10
"Ajustados em Cristo. Ef. 2:21.
"Unidos" Col. 2:2.
"Edificados" em Cristo. Ef. 2:20.
"Vivamos juntamente com Ele." 1 Tes. 5:10.
"Cooperando com Ele." 2. Cor. 6:1.
"Combatendo juntamente." Fil. 1:27.
Então vem o clímax, ao final deste tempo, quando
tudo acima citado é concluído e somos
“juntamente arrebatados”. 1 Tes. 4:17.
Finalmente a eternidade por vir salta à vista e
vemos que seremos ‘glorificados juntamente’ com
Ele. Rom. 8:17.
Então trazemos à mente a parelha de versos
paulinos – que estritamente não são Paulinos,
mas do Espírito Divino da verdade – a saber “em
Adão” e em “Cristo”. De um lado – a nossa
relação com Adão, a velha criação, por natureza
- vemos um conjunto de condições, e por outro
lado - por nossa inclusão em Cristo - vemos um
novo e diferente conjunto.
"EM ADÃO"
"O Senhor Deus... soprou em suas narinas o
fôlego de vida." Gen. 2:7.
"O primeiro Adão tornou-se alma vivente." 1 Cor.
15:45.
"No dia em que dela comerdes certamente
morrerás." Gen. 2:17.
"Como em Adão todos morrem." 1 Cor. 15:22.
"A lei do pecado e da morte." Rom. 8:2.
"Ele também é carne." Gen. 6:3.
"A carne para nada aproveita." Jo. 6:63.
"EU" - Fracasso. Rom. 7.
"O velho homem que se corrompe." Ef. 4:22.
"A inclinação da carne." Rom. 8:6.
"Na carne... não há bem algum." Rom. 7:18.
Da carne... corrupção." Gal. 6:8.
"O que é carne é carne." Jo. 3:6.
"O fim... morte." Rom. 6:21.
"EM CRISTO"
"Assoprou-lhes, e disse: Recebei o Espírito
Santo." Jo. 20:22.
"O último Adão... espírito vivificante." 1 Cor.
15:45.
"Novidade de vida." Rom. 6:4.
"Em Cristo todos serão vivificados." 1 Cor.
15:22.
"A lei do Espírito da vida." Rom. 8:2.
"Espírito" - Vitória. Rom. 8.
"O novo homem... criado em verdadeira justiça e
santidade." Ef. 4:24.
"O novo homem." Col. 3:10.
"Novidade de espírito." Rom. 7:6.
"À semelhança de Sua ressurreição." Rom. 6:5.
"Crucificaram a carne." Gal. 5:24.
"Nosso velho homem foi crucificado." Rom. 6:6.
Tudo isto, que nada mais é do que citar a
Escritura, irá servir para enfatizar a
inclusividade e a exclusividade Divina, e irá
ajudar, cremos, a reconhecer o grande fato de
que NENHUM HOMEM PODE VIVER A VIDA CRISTÃ; HÁ
SOMENTE UM QUE PODE VIVER ESTA VIDA, E ESTE
HOMEM É O PRÓPRIO CRISTO. Precisamos ter tal
inclusão experimental Nele para que Ele viva a
Sua vida em nós como membros do Seu Corpo, de
modo que “para mim o viver é Cristo” e “não mais
EU, mas Cristo." Do mesmo modo que a barra de
ferro do ferreiro está no fogo e também o fogo
está nela, assim devemos primeiramente entender
a nossa posição em Cristo através da Cruz para
que Cristo possa se manifestar em nós.
CRISTO A SER EXPRESSADO ATRAVÉS DOS FIÉIS
É muito importante reconhecer uma verdade sobre
a qual Cristo depositou muita ênfase, isto é,
que num certo sentido, Ele nunca pretendeu se
ausentar deste mundo novamente durante a era,
após ter uma vez vindo a ele com o Seu legítimo
direito de herança. Ele veio para redimi-lo,
para garantir o direito judicial de soberania
sobre ele, e para iniciar, continuar e completar
a restauração dele para o Seu próprio domínio.
Isto tudo é para ser realizado por meio de Sua
própria presença nele em uma ou outra das formas
de Sua manifestação. Embora Ele falasse muito
sobre a sua partida, e de Seu retorno ao Pai,
também deixou a Sua permanência muito clara nas
seguintes palavras: "Eis que estou sempre
convosco, até a consumação dos séculos”. Paulo,
mais tarde, disse que o aspecto central ou a
realidade do “mistério oculto durante os séculos
..." é "Cristo em vós, a esperança da glória."
A presença física de Cristo no mundo foi
primeiramente para manifestar a natureza, o
método, os meios, as leis, o propósito e o poder
de Sua presença permanente após os dias de Sua
carne; e, segundo, para tornar isto possível e
real através da obra da Sua Cruz. Ele que nasceu
de Deus mostra qual é a necessidade e a natureza
do “nascer do Espírito” para que a vontade de
Deus seja feita na terra e nos céus. Então, bem
no início do Seu ministério, Ele coloca a Cruz
na figura do batismo. A partir daquele momento
tudo o que Ele disse e fez foi à luz e no poder
da Cruz. O ensino de Cristo jamais pode ser
efetivo, e as Suas obras jamais podem ser
continuadas, a menos que a Cruz esteja na base.
Tentar propagar “o ensino de Jesus” ou efetuar a
Sua obra sem ter como base tudo aquilo que Ele
quis significar por meio da Sua Cruz, é
trabalhar em vão e sem a aceitação do Pai. Será
necessário retornar a este assunto novamente
mais tarde. Por ora, contudo, isto nos leva ao
ponto onde vemos que, tendo a Sua presença
física estabelecida a base e a natureza de Sua
obra permanente, Jesus, por meio da Cruz,
efetuou aquilo que tornou possível levar os
homens para o mesmo plano ou para o mesmo campo,
e, então, trocou a presença separada e
individual para uma presença corporativa e
universal. Assim “a igreja, que é o Seu corpo”
foi trazida à existência como o instrumento da
habitação de Sua encarnação no mundo. Este é o
único tipo de “igreja” que Ele reconhece,
formada por aqueles que foram “unidos no
Senhor... um só espírito”. A natureza desta
união fica também para uma consideração
posterior. A palavra ou o termo “Corpo” não é
mera metáfora. Os membros do Seu Corpo estão em
relação a Cristo exatamente como nossos corpos
físicos estão em relação a nós mesmos – o meio
de manifestação, de expressão, e de transação.
Esta verdade é muito penetrante, e vai à raiz de
todas as questões sobre a vida e sobre o
serviço. "Trabalhar para o Senhor”, "orar ao
Senhor”, etc., será visto ter uma lei mais
profunda que governa sua eficácia.
Não podemos assumir a obra para Cristo –
planejar, esquematizar, maquinar ou entrar numa
empreitada cristã – e assim controlar a
aprovação e a benção Divina. Não podemos orar
como nos dispomos, ainda que seja ao ponto das
lágrimas, a fim de garantir a resposta Divina.
Falhar em reconhecer isto é levar multidões de
pessoas ao desespero devido a não aprovação de
seus ardentes labores, e da não resposta às suas
orações. Na revelação das leis de Sua própria
vida eficaz o Mestre coloca tremenda ênfase no
fato de que as palavras que Ele falou, e nas
obras que Ele fez, não eram dEle mesmo, mas de
Seu Pai, tanto falando as palavras como
realizando as obras. Um estudo completo do
evangelho de João irá nos convencer de que era
desta forma. Disse Jesus: “O Filho nada pode
fazer de Si mesmo, mas o que Ele tem visto o Pai
fazer…” e este conhecimento das transações do
Pai quanto ao que, ao como, e ao quando – tudo
muito importante – era, como Ele deixou claro,
porque Ele estava no Pai. Assim, para todo o
futuro da Sua obra Ele orou para que os Seus
discípulos pudessem permanecer nEle. Assim, a
lei da eficácia e da vida frutífera, do serviço,
da oração, etc., é que haja tal unidade de modo
que façamos – mas façamos de verdade – aquilo
que Ele está fazendo. Precisamos conhecer em
nosso espírito exatamente o que Cristo está
fazendo, como Ele está fazendo, quais os meios
que Ele irá usar, e qual o Seu tempo para isto.
Além de que, as nossas orações devem ser as
orações do próprio Senhor feitas em nós, e
através de nós, pelo Espírito Santo. Este é
claramente o terreno no qual a Igreja no tempo
apostólico vivia. Isto irá exigir uma
considerável peneira em todos os empreendimentos
em nome de Jesus, e irá exigir que nada seja
feito até que a mente do Senhor seja conhecida.
Porém isto irá garantir cem por cento de
eficácia, e resultados que jamais irão perecer.
Para os propósitos práticos de Deus nesta era
Cristo é o Corpo que se liga a Cabeça, e o
assunto de cada membro é entender mais e mais o
pleno significado desta incorporação e unidade
de identidade.
Expressamente nos é dito na Palavra que temos
que “nos vestir do novo homem” e que este “novo
homem” é Cristo. Esta não é senão uma outra
maneira de expressar a verdade sobre “em
Cristo”, mas também carrega consigo uma completa
revelação de provisão prática.
Cristo é a nossa Redenção. Ele “foi feito para
nós redenção” 1 Cor. 1:30; Rom. 3:24; Ef. 1:7;
Col. 1:14.
Cristo é a nossa Justiça. 1 Cor. 1:30; Ef. 4:24;
Fil. 3:9.
Cristo é a nossa Santificação. 1 Cor. 1:2,30.
Cristo é a nossa Fé. Mar. 11:22 ("Tenha a fé de
Deus," literalmente); At. 26:18; Gal. 2:20 (R.V.);
Ef. 1:15; Fil. 3:9; Col. 1:4.
Cristo é a nossa Paz. Jo. 14:27; Jô. 16:33; Ef.
2:14.
Esta linha de raciocínio pode ser seguida em
inúmeras características, por exemplo, Amor,
Esperança, Sabedoria, Poder, Autoridade, Glória.
Sugerimos uma comparação de traduções nas
referências, melhor de todas no original. O
ponto é o seguinte, que em todas essas questões,
sob dadas condições, o traje natural irá se
romper e terá que ser colocado de lado, mas em
Cristo nós temos uma nova vestimenta em todo
aspecto. Por exemplo, a nossa fé não irá
suportar a pressão das exigências de uma
experiência profunda de prova e de adversidade,
mas, se “vivermos pela fé do Filho de Deus”, a
questão será muito diferente. Todos as provas
irão revelar se estamos vivendo pela fé de
Cristo, a qual deve se tornar a nossa fé, ou se
há uma fraqueza em nossa união com Ele. O mesmo
é verdadeiro em todos os aspectos. É bendito
entendermos que “em Cristo” temos um legado
completamente novo e inesgotável de virtude e
graça. De modo que “nos despimos do velho homem…
e nos vestimos do novo homem, que segundo Deus é
criado em verdadeira justiça e santidade” (Ef.
4:22-24).
ALGUMAS PREPOSIÇÕES SIGNIFICATIVAS
Até aqui temos sido conduzidos em nosso tema por
três preposições gregas, a saber: ek –
de(procedência); en – em(dentro); and sun -
junto.
Esses três fragmentos realmente resumem a
verdade e a natureza da união corporativa com
Cristo, e estabelecem as leis essenciais e os
princípios vitais de toda vida e de todo serviço
espiritual verdadeiro e eficaz. Alguma
consideração a mais sobre isto será boa antes de
prosseguirmos. Cristo teve grande zelo no
sentido de repudiar qualquer sugestão e de
remover qualquer coisa que caracterizasse que a
sua missão como Filho do homem era algo
originário dEle mesmo.
1. "EK"
(a) Quanto a Si próprio. Ele repetidamente
afirmou: “Eu vim de Deus”. (João 7:29; 8:42;
17:8, etc.).
(b) Quanto ao seu apostolado (Heb. 3:1), Ele
descreveu a si mesmo como o “enviado” de Deus
(Gr. apostello) (João 3:17,34; 5:36; 6:29,57;
7:29; 8:42; 10:36; 11:42; 17:3, 8, 18, 21, 23,
25; 20:21).
(c) Quanto a sua visão: "O que Ele vê o Pai
fazer... isso o Filho faz." (João 5:19).
(d) Quanto as suas obras: "As obras do meu Pai"
(João 5:36; 9:3,4; 10:25,32,37; 14:10).
(e) Quanto as suas palavras: "Não falo de mim
mesmo" (João 8:28,38; 12:49; 14:10; 17:8,14).
(f) Quanto ao seu reino: "Meu reino não é deste
mundo" (João 18:36).
(g) Isto tudo pode ser reunido numa sentença em
que uma preposição diferente é usada no grego,
mas uma que carrega um pensamento similar:
"Agora eles sabem que todas as coisas provem de
Ti" (João 17:7.).
O principio mais importante que essas
declarações estabelecem é que apenas aquilo que
procede de Deus é reconhecido por Deus, cumpre o
propósito de Deus, alcança o padrão de Deus, e
retorna para Deus. Isto implica que existem
outras fontes além de Deus. Em contraste com as
declarações anteriores sobre as origens Divinas
o Mestre colocou outras fontes tais como:
1. "Vós tendes por pai o Diabo” "Vós fazeis as
obras do vosso pai”, etc. (João 8:44,41).
2. "Não de mim mesmo" (João 14:10). Isto foi
dito, naturalmente, em sua capacidade de
representar o homem como “tornado à semelhança
da carne pecadora”, não como Filho de Deus do
lado da Deidade. Sempre foi a tentativa do
inimigo fazer com que Jesus agisse na carne,
como um homem agiria, a fim de que pudesse obter
terreno para derrotá-lo, mas Jesus se recusou a
agir sob o princípio da carne. Isto é muito
claro – e todas as Escrituras concordam em
mostrar isto – que a carne é a fonte das coisas
que não têm aceitação diante de Deus, mesmo que
operem através de formas religiosas e esforços
‘cristãos’.
3. Ainda, constantemente é falado sobre o mundo
como produzindo muito daquilo que Deus rejeita e
relega ao julgamento. Veja as ocorrências de
"de" (procedente do) em relação ao mundo em João
17, e veja mais nas cartas de João, com uma
comparação com o ensino de Pedro e Paulo.
Assim somos levados a ver que um significado
especial Divino é atribuído aquilo que é “de
Deus”.
Agora, aquilo que é verdade sobre Cristo tem que
ter uma contrapartida em todo aquele que é usado
por Deus para o cumprimento de Seu propósito
eterno.
Eles devem ser:
(a) Nascidos de Deus.
(b) Comissionados por Deus.
(c) Ter uma revelação espiritual e sabedoria de
Deus.
(d) Falar as palavras de Deus.
(e) Fazer apenas as obras de Deus.
(f) Buscar primeiro o reino de Deus.
(g) Assegurar-se que “todas as coisas procedem
de Deus”. (2 Cor. 5:18).
Esta era a base apostólica. O Espírito Santo
tinha vindo para que isto fosse tanto possível
quanto real. Isto aponta, portanto, para a
eficácia do testemunho e dos trabalhos deles.
Eles sabiam o que significava ser batizado “em
um só Espírito … em um só Corpo”, do qual Corpo
Cristo é o Cabeça, de modo que realmente a
Cabeça Soberana desempenhava a Sua obra através
dos membros assim incorporados. Eles não tinham
nenhuma ação independente, nenhum plano
particular, nenhum esquema ou nenhum
empreendimento que fosse produto de seus
próprios pensamentos, arrazoamentos, idéias, ou
entusiasmos, mesmo que fosse “para Cristo”, ou
“para o Reino”, ou “em Seu nome”. Tudo tinha que
vir pela revelação do Espírito proveniente da
Cabeça.
Agora, a segunda preposição mostra como foi no
caso de Cristo e deve ser também conosco.
2. "EM”
Para Cristo, ‘em’ representava uma posição
espiritual na qual Ele estava. Esta posição
espiritual é sugerida em passagens tais como as
que se seguem: "O Filho … que está (não estava)
no céu.” (João 3:13). "Eu estou no Pai" (João
14:10).
Deve, naturalmente, ser reconhecido que este
relacionamento era obra do Espírito Santo. A
partir do momento da iluminação do Espírito
sobre Ele no Jordão, todos os movimentos foram
no Espírito; até mesmo a Cruz foi assumida
"através do Espírito Eterno." Ele estava em
Deus, e do lado de sua humanidade isto era
mantido pelo Espírito. Havia sugestões,
tentações, oportunidades, possibilidades,
métodos, meios, idéias, provocações, emoções,
sentimentos, e todas as atividades do intelecto,
da alma, do corpo, mas era Seu procedimento
manter essas coisas no Espírito Divino e não
aceitar agir baseado neles. Ele não iria se
engajar a qualquer um deles ou a qualquer homem,
salvo se tivesse o testemunho do Espírito de que
tudo procedia de Deus. Assim Ele era salvo do
remorso, da confusão, do desapontamento, da
vergonha, do fracasso, e do caos, que sempre se
segue ao levantar do “homem natural (almático,
Gk.)" no mundo espiritual. Assim, tendo sido
ungido pelo Espírito, Ele permaneceu em Deus e
se recusou a ser tirado desta posição. Isto é
tudo na questão de vida abundante e eficácia de
serviço.
3. "JUNTO"
Não vamos tentar, neste breve tratado, lidar com
cada detalhe do significado particular desta
preposição. Ela se refere de modo especial ao
caráter corporativo do Corpo de Cristo. Sua
importância é imensa, mas este não é o lugar
para embarcarmos num tema tão amplo. Apenas
observe aqui que o seu uso enfatiza o fato de
que, no pensamento de Deus, aqueles que são
“nascidos do alto” não são simplesmente muitos
indivíduos, mas estão associados uns aos outros
como membros de um Corpo. Eles estão “ligados”
uns aos outros e a Cristo como Cabeça do Corpo,
e como tal foram considerados por Deus em cada
fase da obra redentora de Cristo. As palavras de
Salmo 139:15,16 expressam este mistério. O
resultado prático desta verdade é tratado em
mais detalhe em outra parte.
O grande território de “em Cristo” tem sido
apresentado, porém, devemos enfatizar esta
contrapartida essencial da vida de Cristo. Como
o Pai é a Cabeça do Filho, assim o Filho é a
Cabeça do Corpo; e do mesmo modo como Ele
permanece no Pai, assim Ele declara que devemos
permanecer nEle. Não podemos ser levados a
agirmos baseados em nada que proceda da nossa
vida natural até que tenhamos julgado que aquilo
está no espírito. Isto se aplica especialmente a
questões religiosas, pois é nesta área que
podemos cometer os maiores erros. A resposta de
nossas emoções naturais, dos nossos
arrazoamentos, da nossa vontade, ao impacto de
algumas sugestões pode conduzir a muito erro. O
perigo de muita obra evangelística, de muito
ensino espiritual e de muita propaganda
missionária está em sua tendência em atiçar as
emoções e de se ganhar prêmios espirituais, ao
invés de trazer a nota imperativa de Cristo e
dos apóstolos.
Muitas decisões têm sido tomadas baseadas nessas
condições as quais têm se mostrado incapazes de
suportar a inevitável tensão da prova, sendo
algo menor do que uma obra real do Espírito
Santo.
Talvez nunca existiu um tempo quando houvesse
mais do chamado ‘serviço cristão’, quando
houvesse tanta organização, tanto maquinário,
tanta propaganda, tanto consumo de tempo e de
energia e de meios na empreitada ‘cristã’, ou
quando houvesse mais pessoas interessadas; porém
é duvidoso – falando comparativamente – se já
tenha havido tanta ineficácia espiritual. A raiz
da questão é a seguinte, quanto de tudo isso
procede diretamente de revelação e da iniciativa
de Deus pelo Espírito Eterno? Quanto pode ser
verdadeiramente dito que a coisa surgiu pela
revelação do Espírito Santo, ou que ‘o Espírito
Santo disse’, ou que "pareceu bem ao Espírito’?
Por outro lado, quanto disso é produto de
discussão humana, de concepção, de impulso, de
entusiasmo, de imaginação, de filantropia, de
interesse numa boa causa, etc.? A medida da
identificação do instrumento com Cristo numa
união corporativa é a medida da obra real de
Deus realizada através dele. Pode haver muito
que pareça sucesso e que dê uma sensação de
realização real, porém, quando ‘o fogo’ faz o
seu serviço, descobre-se que a realidade por
detrás do aparente é muito pequena. Ao longo da
corrida ‘a carne se mostra como NADA", embora
possa parecer que alcança resultados. Não é o
que é feito para Deus, mas o que é feito por
Deus que irá permanecer. A nós cabe vermos que
estamos completamente em Cristo, e vivendo pelo
Espírito. Todo o resto será espontâneo. Não pode
haver um permanecer até que tenha havido uma
real identificação, e isto nos traz para onde
podemos prosseguir a fim de mostrar como esta
união é eficaz.
Capítulo 2 - "Na Semelhança de Sua Morte"
Frequentemente tem sido salientado que a morte
de Cristo tinha, e tem, um aspecto duplo.
Primeiramente, há a substituição, que é única,
isolada e conclusiva. Nada pode ser acrescentado
a ela, nem pode ela ser compartilhada em sua
eficácia vicária e redentora. Nós recebemos o
benefício dela como um presente pela fé e somos
justificados.
Mas há um segundo aspecto, a saber, o
representativo. Neste, nós, na natureza de Adão,
em seu estado caído, somos incluídos. O nosso
pecado é tratado no aspecto substitutivo, porém
nós próprios somos tratados no aspecto
representativo. Embora ambos sejam vitais e
estejam fundamentalmente relacionados à nossa
salvação, o último aspecto encontrará a ênfase
Divina quando chegarmos a viver a vida de Cristo
e a cumprir o propósito de Cristo.
O Antigo Testamento está repleto desta última
ênfase em tipo e em ensino. Abraão precisa ser
separado da ‘terra’ (o mundo), da ‘parentela’
(os relacionamentos naturais), e da ‘casa dos
pais’ (o ‘velho homem’). Como salientou um
escritor, toda a sua vida foi uma aplicação
constante do princípio da morte às muitas fases
do homem natural. Ele deu o primeiro passo
quando saiu da terra dos Caldeus, porém, o seu
progresso foi limitado a Harã, até que seu pai
morresse. O ‘velho homem’ não pode ser levado
para além do Jordão (da cruz). A vida velha não
pode chegar às fronteiras dos ‘lugares
celestiais’. O referido escritor salientou o
significado dos muitos relacionamentos e
incidentes na vida de Abraão em sua natureza
carnal, e do problema, impedimento e tragédia
que eles trouxeram; e mais, como eles precisaram
ser eliminados e abandonados. Alguns deles
foram:
1. Egito – o terreno dos sentidos; a tentativa
de se encontrar força espiritual e capacitação
através do tangível, do aparente, e do presente.
2. Ló - "a mente natural." "A mente espiritual e
a mente natural parecem a princípio tão unidas
que é difícil fazer distinção entre elas. A
diferença entre a mente espiritual e a natural é
vista em todo o curso e conduta de Abraão e de
Ló. Foi somente após Ló ter se separado dele que
o Senhor disse para Abraão levantar os seus
olhos”.
3. Os Cananeus – a falsa religião; espiritual,
porém satânica; ritos acompanhados por canções e
maravilhas, porém demoníacas.
4. Hagar e Ismael – o expediente; tentar obter
fins espirituais por meios naturais; tentar ser
frutífero, e isto por meio do esforço próprio,
de meios carnais, em terrenos naturais.
O princípio pode ser seguido em outros detalhes
de sua vida, porém limitamo-nos a salientar
isto.
Abraão, a fim de entrar nos termos e na
frutificação da aliança eterna, precisa ser um
homem do Espírito, um homem espiritual, e isto
na base da fé.
Do mesmo modo Moisés teve que ser disciplinado e
preparado. Uma das mais notáveis e – para muitos
– mais perplexas afirmações na Escritura está em
êxodo 4:24: "O Senhor o encontrou, e procurou
matá-lo"; e isto após a visão e comissão.
Sabemos que isto teve relação com a circuncisão,
mas devemos nos lembrar que a circuncisão era o
símbolo da retirada de todo o corpo da carne, e
isto está relacionado à nossa identificação com
Cristo na morte (Col. 2:11,12). Quarenta anos
mais tarde, Moisés, tendo uma concepção do
serviço Divino, tentou fazer a coisa por meios
carnais, de sua própria vida natural. Isto
trouxe o inevitável fracasso e estagnação. O
princípio da morte precisou ser aplicado por
mais quarenta anos, até que somente a honesta
expressão em relação ao serviço espiritual fosse
“eu não posso”. O senhor tinha deliberadamente
se utilizado da dor para trazê-lo ao nada. A
verdade fundamental, contudo, deve tomar alguma
forma literal de reconhecido testemunho, deve
haver uma expressão definida de um fato
espiritual – se você quiser, uma ordenança;
porém a ordenança não é nada em si mesma,
somente como uma confissão da aceitação da
realidade espiritual. A circuncisão era isto em
Israel, a circuncisão de sangue, separando o
homem natural do homem espiritual, o velho do
novo; daí o incidente mencionado. O progresso de
Moises foi repentinamente obstruído, e com um
abalo ele foi levado à necessidade de fazer em
um ato uma declaração definida e concreta da lei
do fim da carne. Podemos ficar certos de que, se
ensaiarmos carregar a carne incircuncisa, ou o
homem natural para o terreno da vida espiritual
ou do serviço, seremos esmagados – o homem
natural irá se deparar com o desafio do
julgamento do calvário.
Assim, vemos como a verdade da inclusão na morte
representativa de Cristo está na raiz da
experiência do Velho Testamento, e isto pode ser
visto através das Escrituras. A história de
Israel é um longo comentário sobre isto. O Mar
Vermelho é a morte substitutiva, o deserto é a
revelação da necessidade do Jordão como a morte
representativa, ou a identificação na morte.
Tendo chegado às bênçãos da obra substitutiva de
Cristo, e ao gozo da justificação pela fé,
começaremos – se a nossa vida espiritual for
pura e progressiva – a aprender quão grande é a
fenda entre a velha criação e a nova, entre o
homem natural e o espiritual. Isto virá a nós
somente progressivamente, e linha a linha,
porém, para Deus já é algo concluído. Para Deus
não há sobreposição do natural com o espiritual,
eles são pólos separados. Trazer os dois juntos
está para Deus na natureza da fornicação
espiritual e os frutos da vida e serviço são
iniqüidades.
É Seu propósito tornar isto cada vez mais claro
para nós, e, embora a nós possa parecer muita
mistura e entrelaçamento, Deus irá nos mostrar
com clareza cada vez maior que Ele tem conduzido
as dimensões da Cruz entre os dois. Nós temos
dado muita Escritura nos preciosos capítulos que
mostram as diferenças fundamentais entre esses
dois, o natural e o espiritual.
Ser um cristão não é apenas mudar a direção dos
nossos interesses – não é desviar todas as
nossas faculdades, habilidades, energias,
recursos, emoções, perspicácia, etc., do eu ou
do mundo para o cristianismo, para a religião,
para o evangelho ou para o reino de Deus.
No terreno da vida e das coisas de Deus há duas
palavras proferidas sobre o homem natural por
Deus, "Nada" e "Não posso". Falhar em reconhecer
o significado dessas duas palavras é chegar à
desesperança, ao coração dividido, ao estéril
terreno de Rom. 7. Luta infrutífera irá resultar
se houver qualquer aspiração espiritual; e haja
tal ou não (a noção no último evento sendo
meramente aquele do homem natural direcionado à
empreitada cristã) o serviço será ineficiente em
toda realização espiritual. Nenhuma carne irá se
gloriar em Sua presença, e a carne religiosa não
é mais aceitável do que a carne do irreligioso.
Quantos há que estão buscando alcançar um padrão
de satisfação espiritual, ou fazer a obra de
Deus, com suas próprias fontes de intelecto, de
vontade, de emoção, de razão, de energia e de
paixão. Daí toda a organização, maquinário e
propaganda não apostólica.
Não! Para aceitação e para o serviço precisa
haver um novo homem, e este novo homem possui
uma nova vida, uma nova mente, um novo espírito,
um novo caminho, uma nova capacidade, uma nova
consciência, na verdade “tudo se fez novo”. A
pessoa em questão chega a perceber mais e mais
quão diferentemente Deus faz as coisas do modo
como os homens as fazem; sim, e que coisas
diferentes Deus faz. O propósito, os métodos, os
meios e os tempos de Deus são um aprendizado e
frequentemente uma disciplina para este homem em
Cristo. Até que o “velho homem” esteja bem
crucificado, os meios, os caminhos, os tempos e
os objetivos de Deus são uma prova dolorida para
ele, e ele ou irá se revoltar e se romper em si
mesmo, ou irá descer às profundezas; mas de
qualquer modo irá ver que na vontade de Deus o
homem natural precisa ir para a cruz, onde Deus
conclusivamente o coloca no homem representativo
Jesus, o Cristo. O contato do homem natural com
as coisas do Espírito é morte e desolação; por
isso o Senhor está sempre tomando precauções
contra esta vida natural em seus próprios
filhos, passando-os através daquilo que os traz
para baixo e os coloca, no lado natural, fora de
ação. Ele colocou um espinho na carne de Paulo
como precaução contra a exaltação de sua vida da
alma; a fim de que não pudesse haver qualquer
impedimento, pelo contrário, um aumento da
utilidade espiritual. Temos um conhecimento
muito limitado das nossas próprias fontes
naturais – as motivações, a natureza dos nossos
desejos, até mesmo para benção espiritual; os
interesses pessoais no reino de Deus; a ânsia de
possuir, de ficar satisfeito, de ter influência,
reconhecimento, liberdade; e uma multidão de
outros elementos constitucionais. O Senhor sabe
como todas as nossas fontes de vida e de
expressão estão contaminadas e estragadas. Ele
não nos quer introspectivos e nos
auto-analisando, mas Ele nos dará o Seu próprio
veredicto sobre o “homem natural”, e nos pedirá
para aceitarmos as exigências Divinas, que o
homem natural deve ser crucificado. Quando, por
fé em Seu julgamento e palavra, aceitamos a
cruz, Ele prossegue em efetivar a morte em nós,
e temos uma percepção crescente de tal
necessidade. Então nos recusamos a nos mover,
exceto no Espírito, no terreno do fato de Deus
em Cristo - "Estou crucificado com Cristo e vivo
não mais eu” (Gal. 2:20). Assim como o óleo
santo da unção não podia vir sobre a carne do
homem no Velho Testamento, assim também o
Espírito Santo, tipificado aí, jamais virá sobre
a carne não crucificada nesta era do Espírito. O
calvário precede o pentecostes na história e na
experiência. A verdadeira revelação da
inutilidade do homem natural diante de Deus tem
sempre sido um prelúdio da unção para o serviço.
O “eu não posso” de Moisés, o “ai de mim” de
Isaías, o “eu sou uma criança” de Jeremias, o
“eu sou um homem pecador” de Pedro, o “em mim
não habita bem algum” de Paulo, são típicos de
todos aqueles que têm sido chamados por Deus, e
essas expressões são fruto da aplicação do
verdadeiro significado da cruz. E embora eles
tenham sido entusiastas religiosos, e devotos a
Deus no campo de sua alma natural. É sempre o
amor de Deus que conduz por meio do calvário,
por mais amargo que possa ser o cálice quando a
alma (não o espírito) é derramada na morte, pois
só assim pode haver aquela vida de emancipação
das limitações do natural para as dimensões
universais do espiritual.
Vamos olhar novamente a Palavra e manter este
pensamento diante de nós, e, quando virmos que a
Sua morte é a nossa morte, vamos dizer “Amém”:
Senhor, opere isto"; e, então, estaremos prontos
para “conhecê-Lo, e conhecer o poder de Sua
ressurreição... sendo conformados em Sua morte."
Capítulo 3 - "Na Semelhança de Sua
Ressurreição"
"Que no morrer de minha carne a vida com a qual
Jesus venceu a morte possa mostrar o seu poder"
(2 Cor. 4:11 - Conybeare).
Que fique bem compreendido que, embora a
ressurreição como um todo possa estar aqui
mencionada e alistada, não é a ressurreição
futura do corpo, mas o imediato significado
ESPIRITUAL para o cristão que particularmente
domina a nossa consideração. A abrangência é
muito grande, mas deliberadamente iremos
procurar nos manter dentro dos estritos limites
da verdade essencial e prática, usando tais
ilustrações escriturísticas mais abrangentes
quando parecer muito útil e necessário. Sentimos
que Deus queria que colocássemos uma base para a
oração e inquirição espiritual tão concisa e
definida quanto possível nas mãos do Seu povo, e
não que nos estendêssemos num tratado. O tempo é
curto, as responsabilidades são muitas e
prementes, os problemas são cruciais, e “ajudas”
espirituais são poucas no terreno da vida e do
serviço cristão. Por isso a nossa necessidade é
a de termos princípios básicos vitais
enfatizados como sinalizadores para a eficiência
e vitória.
É muito importante que, de início, reconheçamos
o grande objetivo e a tremenda ênfase que o
assunto da ressurreição tem na Palavra de Deus.
Como um princípio, é patente ou latente,
conforme a medida do nosso discernimento, do
início ao fim da revelação Divina da Escritura.
Sem dúvida, todas as coisas que estão em Deus
têm o seu início e valor vital desde “a queda”
na e por meio da ressurreição representativa e
inclusiva de Jesus Cristo. Observe o quanto está
envolvido na atestação Divina de Seu Filho na
ressurreição. Observe a atestação específica em
si mesma. Não em Seu nascimento, nem em Sua
morte, não em Belém, nem no calvário, é esta
declaração especial feita a partir do céu – a
coisa é verdadeira lá, sabemos – mas a atestação
é reservada para a ressurreição. "Declarado
Filho de Deus em poder ... pela ressurreição
dentre os mortos" (Rom. 1:4). Salmo 2 prefigura
o conselho maligno contra o Ungido. Este
conselho é colocado em ação até o seu limite
máximo; Ele é morto. A última questão é a
possessão das nações; a questão imediata na
ressurreição é um decreto (verso 7) "Tu és meu
Filho; hoje Te gerei." Ele é o “primogênito
dentre os mortos” representativo de um
específico e peculiar tipo de filiação.
A esta mesma passagem a companhia de fiéis na
presença de um posterior conselho maligno fez o
seu apelo (Atos 4:25) e receberam imediatamente
um reconhecimento Divino; o lugar tremeu, eles
foram todos cheios do Espírito Santo, e houve
outras questões triunfantes. Similarmente um
testemunho eficaz nasceu em Antioquia da Pisídia
com esta mesma passagem no centro da pregação
(At. 13:33), com a clara referência Divina à
ressurreição. Então, novamente, esta filiação
transcendente de Cristo acima dos anjos e de
tudo mais tem esta mesma passagem citada em sua
base em Hebreus 1:5. Iremos ver mais tarde que
isto está relacionado ao domínio no universo da
raça em Cristo, e também ao destronamento do
‘senhor da morte’. (Heb. 2:5-15).
Agora, isto foi dito simplesmente a fim de
mostrar onde o dedo de Deus traz o seu enfático
selo, e como Deus é zeloso pelo testemunho da
ressurreição de Cristo. Estamos, então, aptos
para chamar a atenção ao princípio vital na
experiência cristã como saindo da verdade
Divina. Você já percebeu que isto que teve, e
tem, a sua origem em Deus, que é trazido à
existência por um ato sobrenatural de Deus, tem
que passar pela morte a fim de que pela
ressurreição possa ter seu supremo selo e
atestação Divina?
O Velho Testamento está cheio de tipos desta
verdade. Reflita apenas em Isaías. Ele foi
trazido ao mundo por meio de um milagre. Não
havia nenhum terreno natural a ser considerado
nele. (Veja Rom. 4:19.) Contudo, Ele deve
morrer, e (como é dito do corpo de Abraão) ele
estava “bem morto” quando a faca foi levantada;
mas por todo o tempo, a ressurreição é o ponto
da ênfase Divina em sua história, especialmente
na vindicação da fé de Abraão. Isaque era o tipo
de Cristo e, como dissemos, embora Cristo fosse
um milagre em seu nascimento, e verdadeiramente
o Filho de Deus encarnado, contudo a morte
prepara o caminho para um testemunho superlativo
do céu. Sem rastrear este princípio (o que você
pode fazer por você mesmo) em relação à Palavra,
vamos observar a sua aplicação na experiência
quanto a nós mesmos. Somos nascidos de Deus, e
somos filhos no Filho por direito devido ao
nosso nascimento do alto; mas quão verdadeiro é
que o curso da nossa experiência espiritual
parece ser um batismo cada vez maior na morte –
Sua morte – a fim de que mais e mais do poder de
Sua ressurreição possa ser conhecido por meio de
nós e manifestado em nós. Parece existirem
ciclos, ou marés, de morte e de vida, e, embora
cada ciclo ou maré pareça circundar nosso fim
mais completamente, ou nos deixar numa maré mais
baixa do que nunca, lá vem, com uma plenitude
cada vez mais crescente, um renascer de vida, de
conhecimento e de poder espiritual. Assim,
embora a morte destrua “o velho homem”, vivemos
cada vez mais por meio desta vida, “o novo
homem”, que não é humano, mas Divino, e somente
sobre o qual – o selo de Deus repousa. Este é um
curso deliberado tomado por Deus conosco.
Veja mais disto no serviço e na obra. Não é
verdade que muitos, se não todos, dos pedaços da
obra levantados por Deus a fim de cumprir algum
ministério em Seu propósito eterno tiveram
primeiramente toda evidência de terem nascido de
Deus, porém, mais tarde, passaram por um tempo
de profunda e terrível morte, desintegração,
rompimento, perda, até parecer que não sobraria
nada? Algumas vezes isto se dá por meio de
perseguição, de massacre, e daquele conselho
maligno; algumas vezes por meio de uma série
daquilo que nós humanos chamamos de catástrofes,
tragédias, desgraças. Algumas vezes as causas
não são aparentes; elas estão no interior, como
alguma coisa maligna exaurindo a própria
vitalidade. Algumas vezes, novamente, é uma
inexplicável prisão e pressão, uma paralisia e
uma neutralização, e é difícil saber se a coisa
é de dentro ou é de fora. Tudo o que sabemos é
que a morte reina. Aplique esta regra ao longo
de algumas grandes missões no exterior ou em
nosso próprio país, e veja quão verdadeiramente
isto se aplica. O que é verdade no maior é
também verdade no menor – uma comunidade local,
uma classe Bíblica ou dominical, ou outro pedaço
da obra. Provado sempre que a iniciação da obra
foi dEle, que fomos colocado nela por Ele, e que
ela tem sido mantida em tais linhas que são
consistentes com Sua mente e propósito, tal
experiência de morte não é um argumento de que o
Senhor não está em tal obra, mas pode ser vista
como evidência do Seu cuidado em tornar a obra
cada vez mais plena onde a sua atestação maior
possa ser dada.
O princípio vale na questão da verdade recebida.
O Senhor pode nos revelar uma verdade que seja
de grande importância e que se destina a ser
tremendamente frutífera na vida e no ministério.
Ela vem com o poder de uma revelação, e, por um
momento, nós nos alegramos em sua luz, não
falamos de outra coisa, e descobrimos que
funciona. Então, algo acontece. Seja o que possa
ser, o resultado é que descemos para a morte com
e por causa dessa verdade. Por um tempo ela
parece ter perdido seu poder, e toda esperança
de que seremos salvos é abandonada. Ficamos a
imaginar se honestamente seremos capazes de crer
nessa verdade novamente, muito menos pregá-la.
Porém, por um toque de vida que nos leva como
aqueles que sonham (Sal. 126:1) e, apesar de
todos os nossos medos passados, essa mesma
verdade é a nossa principal ênfase, porém agora
com uma solenidade e realidade não conhecida
antes. Além do que o Senhor está tornando o seu
ministério um poder para os outros que é
completamente novo e anteriormente desconhecido.
Assim, em tudo isso parece que Ele obtém mais
para Si mesmo pela ressurreição do que Ele fez
pelo nascimento. Isto pode parecer um grande
mistério, mas é evidente e verdadeiro na
experiência. Há outras direções em que isto se
aplica, uma das quais podemos mencionar. É nos
relacionamentos. Quão frequentemente temos nos
deparados com esta perplexa experiência. Entre
os referidos – algumas vezes nos limites mais
profundos – por algum motivo, geralmente sem
qualquer terreno natural, tem vindo a pressão
mais severa. Parece que o velho terreno do
relacionamento é inteiramente quebrado e
perdido. Pode ser devido a alguma crise
espiritual na vida de um daqueles afetados,
algum chamado para o serviço, ou para se ir um
pouco mais longe com o Senhor, ou alguma prova
de fé, ou de lealdade a Deus. Seja qual for a
causa, visível ou não, tal experiência não é
incomum. A primeira questão é um fim do tipo ou
do nível de relacionamento existente até então.
Poderia parecer algumas vezes que a coisa toda
desmoronou e desapareceu para sempre. Em tais
horas surgem sérios questionamentos em relação
ao aparente antagonismo entre a idéia concebida
sobre o que Deus exige e o que parece
manifestadamente ser óbvio, dever comum para com
os outros.
Esta é uma hora amarga e crucial para a vida da
alma. A última questão – se tem havido uma
aceitação definitiva em se sofrer a perda de
todas as coisas por causa do Senhor, e um
apegar-se a Deus, embora cegamente e com muita
fraqueza – é que a coisa toda é trazida de volta
novamente, mas, contudo, não a mesma. "Quando
semeias, não semeias o corpo que há de nascer,"
(1 Cor. 15:37). A coisa está sobre um plano mais
elevado; algo mais puro, mais santo, mais forte,
mais profunda e capaz de uma maior frutificação
espiritual. Em suma, na sepultura tem-se deixado
muito do humano, e na ressurreição a coisa tem
se tornado muito mais Divina. Os elementos que
são temporais e naturais foram suplantados pelo
espiritual e eterno.
Tendo dado este espaço para afirmar e ilustrar
um fato, e enunciar ou divulgar uma lei
duradoura, devemos agora dizer algo sobre a
natureza da ressurreição.
O que é a ressurreição? É o poder da vitória
sobre a morte. Qual é o fator central na
ressurreição? É a vida que não pode conhecer a
morte, uma vida que é indestrutível. Tal é a
natureza da ressurreição a qual voltamos nossa
atenção. Há uma ressurreição que não passa de
uma reanimação do corpo por um tempo, para o
julgamento. Não é este o nosso assunto. Estamos
falando da ressurreição de Cristo e da nossa
inclusão nEle.
Pelo nosso novo nascimento a partir do alto
tornamo-nos participantes da vida de Deus.
Aquilo que a Escritura em nossas versões chama
de “vida eterna” é a única possessão do nascido
de novo; nenhum homem a tem por natureza. Todo o
curso da verdadeira vida espiritual é para o
aumento e desenvolvimento desta vida, e isto
particularmente acontece, como temos visto, por
meio de crises e ciclos de morte e ressurreição.
Qual é o propósito supremo do Senhor com os Seus
filhos? É, sem dúvida alguma, fazer com que eles
vivam somente por Sua vida. Para este fim Ele
irá cada vez mais remover suas próprias vidas.
Na medida em que o tempo do arrebatamento da
Igreja se torna mais iminente, esta verdade irá
ter uma ênfase maior, de modo que para se viver
vitoriosamente, ou trabalhar eficazmente, terá
que haver um grande anseio pela vida do Senhor.
Quando os santos forem arrebatados para que não
vejam a morte, e quando aquele grande grito de
vitória sobre a morte e a sepultura se abrir (1
Cor. 15:54,55) não será somente por alguma
operação externa do poder Divino, mas será o
triunfo da vida ressurreta dentro do Corpo de
Cristo expressando a si mesma naquela consumação
final gloriosa de um processo de ascendência que
tem se dado desde o momento quando a vida foi
recebida no novo nascimento pela fé no Senhor
Ressurreto. Esta é a verdade mais importante a
se reconhecida, pois ela explica tudo. Por que
devemos conhecer a fraqueza, a impotência, a
inutilidade, no lado de nossa vida natural?
Enfaticamente, para que o Seu poder possa se
“aperfeiçoar na fraqueza”. E qual é o Seu poder?
" E qual a sobre excelente grandeza do seu poder
sobre nós, os que cremos, segundo a operação da
força do seu poder, Que manifestou em Cristo,
ressuscitando-o dentre os mortos, e pondo-o à
sua direita nos céus." (Ef. 1:19,20). É o poder
da vida ressurreta. Quanto mais espiritual um
cristão se torna, mais ele irá perceber sua
dependência da vida de Deus para todas as
coisas. Isto será verdade tanto fisicamente
quanto de qualquer outra maneira.
O princípio central de qualquer “cura Divina”
que realmente seja de Deus e para um propósito
espiritual é, Rom. 8:11, uma vivificação do
corpo mortal pela vida ressurreta. Isto
necessariamente não carrega em si uma cura
física total, mas realmente significa uma
vitalização tal a ponto de transcender a
fraqueza ou a enfermidade que impede o
cumprimento da vontade de Deus na vida ou no
serviço. Significa uma adesão da vida Divina em
nosso espírito de modo que somos capacitados a
fazer muito mais do que é humano ou naturalmente
possível. Esta vida não pode ser manipulada e
usada pela carne. Imediatamente há um descer
para um nível natural por parte daquele que tem
sido conduzido numa vida de fé, haverá um
aumento de morte. Uma atmosfera carregada com a
vida de Deus é sempre um lugar de renovação,
revigoramento, e fortalecimento para aquele que
é espiritual.
Se Enoque era um tipo dos cristãos que irão ser
arrebatados para que não vejam a morte, então
devemos lembrar que “pela FÉ Enoque foi
transladado”. Qual é a natureza desta fé? É a fé
que depende da vida Divina para todas as coisas,
e é, portanto, um testemunho da ressurreição de
Cristo. Daí, quando a vinda do Senhor estiver
próxima, seremos forçados a viver exclusivamente
por Sua vida - "a vida com a qual Ele venceu a
morte" Esta é a vida pela qual o povo de Deus
tem triunfado em todos os tempos. Um estudo mais
acurado do Velho Testamento irá revelar que foi
a fé na vida da ressurreição que trouxe a
vindicação Divina. "Para que pudessem obter uma
melhor ressurreição" foi o motivo que os fez
vitoriosos na morte e, portanto, sobre a
autoridade da morte. A ascendência de espírito
tão notadamente característica dos cristãos do
Novo Testamento é para ser levada em conta no
terreno de uma vida dentro do espírito deles que
não pode ver a morte, a vida daquele que “não
morre mais; a morte não tem mais domínio sobre
Ele,” pois “era impossível que Ele pudesse ser
retido pela morte”.
Agora, é importante lembrar que a morte não é
apenas uma lei ou um princípio. Ela é isto, mas
as Escrituras constantemente deixa claro que por
detrás dela há uma pessoa. Somente ao dar vida
eterna é que o Senhor dá de Si mesmo – pois,
disse Ele, “Eu sou a ressurreição e a vida” e é
Cristo em você a esperança da glória” – assim,
por trás da morte está aquele “que tem o poder
da morte, isto é, o Diabo”. Conybeare traduz
assim: “o senhor da morte”.
A grande batalha do Egito que resultou no
estabelecimento daquilo que por todo o Velho
Testamento foi colocado como uma ilustração
clássica do exercício do poder Divino supremo,
não era originalmente entre Jeová, de um lado, e
faraó e os egípcios, de outro. Os últimos
estavam envolvidos, e foram completamente
destruídos por que, diante da revelação e
manifestação Divina, persistiram na rebelião. A
batalha real era entre Jeová e “todos os deuses
do Egito” (Ex. 12:12), os quais deuses não eram
outros senão a hierarquia daquele que uma vez
teve a pretensão de ser “igual ao Altíssimo”, e
tinha assumido o papel de “o deus deste mundo”.
Um entendimento correto desta história tornaria
mais claro que era um conflito entre o Senhor da
vida e o senhor da morte, e os hebreus foram
somente tirados do reino das trevas e da
autoridade da morte porque um cordeiro tinha
derramado o seu sangue, e pela morte tinha
figuradamente destruído aquele que tinha o poder
da morte. Isto é o pano de fundo do calvário.
Em Sua cruz Cristo atraiu sobre Si mesmo toda a
hierarquia do mal, e desceu às partes mais
baixas do domínio dessa hierarquia, e, então,
por causa da vida que não podia ser retido pela
morte, despojou os principados e potestades, e
sobre eles triunfou, e na ressurreição, acima de
todo governo e autoridade, foi o primogênito
dentre os mortos – O primeiro e inclusivo de
todos que deveriam ser identificados com Ele. O
triunfo final do Seu Corpo será a consumação de
Apocalipse 12:11 – vitória sobre o sistema e seu
poder por causa da vida do Senhor Ressuscitado
habitando dentro. Se é verdade que isto é
progressivo, então é o poder de Satanás como “o
príncipe deste mundo” que está sendo quebrado
pela vida crescente de Cristo em nós; ou,
colocando de maneira mais útil, o poder de
Satanás somente pode ser destruído quando nós,
através da morte, conhecemos Cristo no poder de
Sua ressurreição e recebemos mais e mais de Sua
vida ressurreta.
Concluindo, vamos salientar que, após a Sua
ressurreição, nosso Senhor não mais, devido à
natureza peculiar de Seu estado ressurreto,
estava sujeito a limitações naturais. O tempo e
o espaço não mais o controlavam. O princípio se
mantém e se aplica agora. Quando há um viver nos
valores e no poder da ressurreição, somos filhos
da eternidade. A oração alcança os fins da
terra, e o significado do nosso estar e fazer é
de dimensão eterna; não há limitações.
Assim, então, amados de Deus, a vida natural não
é mais um critério; seja ela forte ou fraca, não
importa. Sua força não significa eficácia nas
coisas espirituais, seja esta força intelectual,
moral, circunstancial, social, física. Sua
fraqueza não carrega uma desvantagem. Somos
chamados para viver e servir somente em Sua
vida, e esta é a única eficácia. Então,
precisamos tentar guardar na mente que o
propósito do Senhor, em tudo o que parece ser
destrutivo a nós, é para nos levar a este plano
que é, em todo sentido, sobrenatural.
E mais, devemos entender que todos os meios
pelos quais esta vida possa ser fortalecida e
aumentada são usados plenamente, e um claro
discernimento do Corpo de Cristo é de suprema
importância. Esta vida é a vida do Corpo
corporativo, e o membro individual pode apenas
tê-la em relação a isso. Esta questão é tratada
com mais profundidade em outro lugar, porém aqui
ela deve ser a palavra final, devido estarmos
lidando com a inclusão em Cristo, e este é
Cristo em Sua plenitude como Cabeça; mas não
somente como Cabeça, mas como um Corpo. O que é
verdade sobre a Cabeça precisa ser verdade sobre
os membros. O que é verdade sobre Videira deve
ser verdade sobre os ramos. O que é verdade do
Último Adão deve ser verdade sobre cada membro
de Sua raça. "Plantados juntamente na semelhança
de Sua ressurreição" disse o apóstolo (Rom.
6:5), e ele orou para que isto pudesse ser mais
e mais experimental - "para que eu possa
conhecê-lo, e o poder de Sua ressurreição”.
(Fil. 3:10).
Esta é verdadeiramente a oração do Espírito
Santo nos servos de Cristo buscando tornar real
a grande verdade de João 5:21,25,26 -
"A hora... agora é."
"A hora já chegou."
Capítulo 4 - Ascensão e Glória
Embora muita ênfase seja dada na morte e
ressurreição do Senhor Jesus, não é geralmente
percebido que a Sua ascensão não é menos
importante como verdade fundamental para nossa
vida nEle e para o Seu propósito universal. Numa
revelação maior da vida espiritual em Cristo que
veio progressivamente por meio da unção do
Espírito Santo muito é falado, por um lado,
sobre o nosso assentar nos lugares celestiais em
Cristo, e, por outro lado, somos lembrados de
que somos estrangeiros, forasteiros e peregrinos
aqui. Esta revelação interpreta a Bíblia toda ao
longo de certa linha, e a declaração chave a
esta varredura da Palavra é que o lugar e a base
de toda vida e obra, o lugar do modelo, do
propósito, e de toda fonte do nosso chamado em
Cristo está no Céu.
Há duas palavras que representam ou significam
duas metades de uma grande verdade – ascensão e
translação; estas palavras se completam. Uma
torna possível a outra, e a outra exige a
primeira. Ascensão é um ato, conclusivo e
definitivo. Translação é um processo que culmina
num clímax. Quando o Senhor Jesus ascendeu às
alturas e foi “recebido”, isto foi
representativo e relativo, exatamente como o foi
Sua morte e ressurreição. Como o representante
dos muitos filhos que Ele traria à glória, Ele
imediata e definitivamente transferiu da terra
para o céu a fonte da vida espiritual, a fonte
da existência espiritual; e de fato tudo que
pertence à salvação, santificação, serviço,
glória, está agora nos céus, e não pode ser
encontrado na terra.
A partir do ponto do “nascer do alto”, tudo
implicado e envolvido tanto em natureza como em
propósito vem do alto. Um primoroso camafeu
disto é encontrado no salmo oitenta e sete. Os
termos são ilustrativos. Aqui a predileção de
Deus é vista pelas habitações espirituais em
contraste com as carnais. Então as coisas de
glória estão relacionadas a esta cidade
espiritual. Então o orgulho das nacionalidades
dos homens é revisto: eles se gloriam por terem
nascidos no Egito, na Babilônia, na Filistia, em
Tiro, ou em Cuxe. Porém, transcende a todo
orgulho aqueles cuja cidadania é de Sião e sobre
os quais a franquia de Sião lhes foi conferida.
O livro da vida do Cordeiro surge à vista, e os
nomes são mencionados, e a realização desses
cidadãos celestiais é que todas as suas fontes
estão lá. Deles é um chamado celestial, vida,
visão, cidadania, caminhada, esperança, país,
reino, etc. Uma das coisas mais notáveis na
pré-ascensão do povo de Deus é o fracasso de
todas as coisas desta terra – embora dadas por
Deus – para satisfazer a visão e a expectação de
Seu povo de mente verdadeiramente espiritual.
Abraão tinha a promessa de uma terra e de uma
cidade; ele moveu-se com Deus, mas está muito
claro que, na medida em que sua fé se expandia,
as possibilidades mais plenas de realização
sobre a terra fracassaram em preencher a
esperança e a promessa que ele tinha. Ele entrou
na terra, mas absolutamente não ficou satisfeito
de que a promessa estivesse cumprida; na
realidade, embora houvesse benção e crescimento,
ele ficou menos satisfeito. A verdade é que a
sua vida espiritual estava expandindo e com ela
a sua fé exigia algo mais do que aquilo que era
da terra. Aquilo para o qual ele ansiava no
início, como sendo adequado para satisfazer a
expectativa por meio da promessa, ele entrou
numa comunhão mais íntima com Deus a ponto de
considerar aquilo como totalmente insuficiente.
Isto o levou a uma série de recusas e rejeições
de coisas da glória terrena. A Terra Prometida
por fim cessou de ser para ele uma coisa da
terra, de modo que autores sob a iluminação do
mesmo Espírito que conduzia Abraão nos contam
que ele olhava para “pátria melhor ... uma
pátria celestial," e "uma cidade cujo construtor
(arquiteto) é Deus”.(Heb. 11:16,10).
Contrastando tais passagens com Mateus 3:9, João
8:56, Gálatas 3:7, 4:26, Hebreus. 12:22,
certamente somos compelidos a reconhecer por que
a visão de Abraão se tornou mais e mais "do
outro mundo" na medida que sua fé se tornava
mais clara. Simultaneamente a este lançar atrás
no horizonte, e como um meio a este fim, tudo da
terra foi levado para a morte, para se passar
para o terreno da ressurreição pela vida
ressurreta. Era, então, uma coisa não mais da
terra, mas do céu. Isto se aplica as possessões,
relacionamentos, perspectivas, visão, promessa,
fé, serviço, capacidade.
Um princípio importante está aqui revelado como
fundamental para a realização de Deus e para
toda vida eficaz e serviço em comunhão com Deus.
DEVEMOS VER CADA COISA DIVINA COMO VINDO DE
CIMA, E NÃO DO NÍVEL DA TERRA.
Tais frases como “assumir a obra cristã”,
"entrar no serviço cristão”, possui um conceito
muito perigoso e falso. A menos que tais
pretensos trabalhadores tenham tido suas
próprias obras (até mesmo para Deus) levadas
para a morte, e mesmo eles próprios, qualquer
movimento em coisas que estão relacionadas à
vontade de Deus irá resultar em uma de três
coisas – ser esmagado por elas, ou chegar mais
cedo ou mais tarde a uma paralisação, como num
beco sem saída, ou prosseguir com uma aparência
de sucesso, porém sem eficácia alguma no sentido
celestial, sendo a coisa que está sendo efetuada
deste mundo, embora religiosa e bem
intencionada.
Moisés sem dúvida alguma teve uma revelação
celestial no Egito. Pela iluminação do Espírito
ele viu que o pobre, as oprimidas, esmagadas,
destratadas multidões de Semitas eram os eleitos
de Deus (Heb. 11:25). Ele mais tarde viu que a
cruz como a reprovação de Cristo era o método de
redenção (verso 26). Então ele viu que o pecado,
em seu caso, seria reter as agradáveis vantagens
deste mundo em negação à cruz e seu objetivo. À
luz disto ele tomou uma decisão; ele rejeitou,
ele escolheu, ele legou, e não temeu. Porém,
mesmo quando ele chegado à posição em seu
espírito, ele teve que aprender a principal
lição de sua vida, a saber, que visões
celestiais exigiam instrumentos celestiais para
a sua realização. Ele ensaiou efetivar esta
revelação do ponto de vista de alguma vantagem
no terreno. Isto prejudicou tudo, trouxe
confusão, retardo, vergonha, e medo. Ele teve
que sair e ser levado em disciplina ao seu
famoso “eu não posso”, e, então, entrar na
situação a partir do alto. O efeito real era ter
sido tirado para fora e para cima, e, então, vir
sobre a situação a partir de cima;
posteriormente Moisés foi um homem ligado ao
trono de Deus. Sempre tem sido desta maneira.
Para padrões, comissões e poder, um lugar de
ascendência tem sido o método Divino.
Isto pode ser visto no caso de Moisés, Davi,
Isaías, Ezequiel, Paulo, outros.
"Então o Espírito me levantou e me levou… (Eze.
11:1, etc.) é uma sentença que implica a ordem
Divina. Isto não é a elevação da alma por meio
de imaginações, êxtases, idealismos, ou visões
mentais. Tais, tanto falsas como verdadeiras
apresentações de grandes perspectivas podem ser
apresentadas pelo Maligno. O Mestre recusou as
elevações e visões dadas pelo inimigo porque a
verdadeira perspectiva somente era dada por meio
da cruz.
Paulo chamou a si mesmo de "um sábio arquiteto,"
mas isto em sua lingual real apenas significava
alguém que tinha sido permitido olhar o projeto
do arquiteto e que estava trabalhando em
conformidade com tal projeto. Para esta olhada
ele tinha sido “apanhado”, mas estar “no
Espírito” é sempre ser apanhado. O Senhor Jesus
disse muito sobre estar no céu embora sobre a
terra. "O Filho do homem que está no céu" (João
3:13) "O que ele (o Filho) vê o Pai fazer… isto
o Filho também faz da mesma maneira" (João 5:19)
Seu espírito tinha uma união celestial com o
Espírito Santo, e assim Ele trabalhava. Uma
coisa é tomar até mesmo a Bíblia como um manual
– um sistema de verdade, de ensino, de prática,
e ordem; outra coisa completamente diferente é
enxergar os princípios eternos e espirituais por
detrás dos preceitos, das práticas, e do
sistema. Uma coisa é viver e trabalhar conforme
a transmissão da verdade por meio de uma
inteligência humana, isto é, uma verdade
infinita sendo modelada em termos finitos a fim
de fazê-la inteligível aos homens. Outra coisa é
compreender o significado infinito da revelação
por meio de um espírito revitalizado e renovado.
A transmissão representa o alcance humano, a
revelação espiritual transcende infinitamente a
isto, e exige uma mente celestial – a mente do
Espírito em oposição a mente carnal.
Somente aquele que foi feito um com o Cristo
exaltado possui a mente de Cristo e pode
efetivamente servi-Lo. De muitas maneiras o
fato, a natureza e a necessidade da união com
Cristo é enfatizada em toda a Bíblia,
especialmente no Novo Testamento. Ele subiu com
as chaves da autoridade em Sua possessão. Como
homem e por causa do homem Ele tirou o domínio
do príncipe deste mundo. Como um poderoso
conquistador Ele foi “recebido”. Este retorno
vitorioso foi previsto no espírito do salmista
quando ele cantou:
"Levantai as vossas cabeças, ó portais eternos;
para que entre o Rei da glória...O Senhor
poderoso na batalha..." (sal. 24:7,8).
Se é verdade que Cristo levou a nossa
humanidade, redimida, purificada, santificada,
para o próprio trono de Deus, e está
reproduzindo esta união corporativa dEle mesmo
conosco e de nós mesmos com Ele na Igreja que é
o Seu Corpo, então, união na ascensão significa
que nós agora temos uma posição no lugar de Sua
autoridade: é para nEle termos domínio sobre
todos os principados e potestades. A maneira
mais segura de afirmar isto é que a Sua
autoridade flui através do Seu Corpo, para todos
os seus membros.
Há outras portas mencionadas nesta mesma conexão
além dos “portais eternos." Há os portões do
Hades", que significam os conselhos, esquemas e
julgamentos do inferno. Esses são representados
como estando contra a Igreja. Por isto é dito
que, por causa da união celestial com e nEle que
atravessou triunfantemente pelos portais
eternos, esses outros “portões” não irão
prevaslecer, porque Sua autoridade está na
Igreja, e a Igreja está em Sua autoridade. Não a
um grupo de judeus como tais, ou a um núcleo de
reino terreno relacionado a qualquer época, mas
ao núcleo de Sua Igreja foi que Ele dirigiu
essas palavras sobre a edificação daquela Igreja
e sobre sua exaltação sobre os conselhos do
inferno. (Mat. 16:18). Para eles Ele também
disse, "Eis que vos dou toda a
autoridade...sobre todo poder do inimigo" (Lucas
10:19); isto, à luz de Sua cruz que era o pano
de fundo permanente de todas as Sua declarações
e ações. Não pode haver qualquer derramar do
Espírito em e sobre os crentes, enquanto a
condição de crucificados em Cristo, sepultados,
ressuscitados, e ascendidos tenha tomado o seu
lugar. Para Eliseu receber a “porção dobrada” do
espírito do seu mestre, teve ele que passar o
Jordão com ele e estar com ele no lugar de
ascensão.
É sempre assim. O Espírito Santo media a
autoridade da Cabeça para o Corpo, e para isto,
“o estar ligado à Cabeça” numa união celestial é
essencial. A Igreja é um corpo celestial, e não
uma sociedade terrena, uma instituição, uma
organização. Os sistemas eclesiásticos deste
mundo que chamam a si mesmos de “a Igreja” são
muito frequentemente uma caricatura grotesca.
Não há facções, denominações, "sucursais da
Igreja," com Deus. Apenas uma única Igreja
existe na mente e no interesse de Deus, e esta é
“a igreja dos primogênitos”, e todas as demais
nesta justaposição é porque tem havido uma
tentativa cada vez mais de se estabelecer algo
para Deus nesta terra como sendo da terra. Deus
não está nisto, mas está deixando a coisa
alcançar o seu próprio fim em confusão, ou
prosseguir em sua desilusão. Ele está
silenciosamente, sem o som do machado ou do
martelo, colocando Suas pedras eleitas num
templo espiritual, numa casa espiritual. Somente
aqueles que tiverem a vantagem do terreno dos
lugares celestiais irão ver isto, desaprovando o
falso, e encontrarão a plena bem-aventurança em
fazer aquilo que o Pai está fazendo.
Nós agora avançamos para falar um pouco sobre
aquela metade desta verdade implicada na palavra
“translação”. No início dissemos que “translação
é um processo que culmina num clímax”. O clímax
é, naturalmente, a aparição do Senhor e Salvador
Jesus Cristo. O curso todo da experiência cristã
quando trabalhada por Deus é um curso de
progressiva transição ou translação do terreno
para o celestial. A fé é o princípio da
translação, e sua própria natureza exige uma
base que é espiritual não terreno. O tratamento
do Senhor para com o Seu povo sempre têm
resultado em perda de toda base de confiança e
garantia terrena, e em completa dependência dEle
mesmo.
A fé sempre nos traz para situações precárias e
difíceis. A fé sempre exige um deixar de lado
das coisas visíveis e temporais. A fé ameaça, e
cumpre a sua ameaça, a fim de desorientar e
confundir os nossos julgamentos naturais,
sabedoria, perspicácia, esperança, confiança, e
segurança. A fé nunca falha em cortar os laços
da segurança natural, e em secar os recursos das
fontes humanas. Tudo isso tem o propósito de
abrir um todo um sistema de plenitude celestial.
Deus torna a revelação indispensável e Suas
próprias realidades celestiais absolutamente
essenciais à existência. Assim Ele nos coloca em
algum desafio e demanda, uma crise é
precipitada, um passo em obediência de fé é
requerido, e, quando ele é dado é um passo para
cima que nos coloca num terreno espiritual onde
vemos aquilo que não víamos antes. Assim, por
uma sucessão de passos de fé para cima vamos
tendo a fé que Deus elege trabalhada em nós em
preparação para aquele clímax na translação. É
uma fé coorporativa em todo o Corpo de Cristo -
provando ser aquilo que realmente é, um corpo
celestial – que irá trazer o advento de Cristo.
"A Segunda Vinda de Cristo," não é algum evento
meramente histórico no cronograma profético
Divino. É o clímax da fé no Corpo de Cristo, a
qual fé tem separado este Corpo absolutamente
das coisas do mundo e das coisas terrenas, mesmo
que sejam coisas e sistemas religiosos. A
obediência de fé aumenta a capacidade para
compreender princípios espirituais, eternos e
invisíveis do eterno propósito de Deus, e,
assim, torna possível a eficácia deste
propósito. Certamente este é o princípio que se
vê em Hebreus 11 como um sumário da natureza e
do curso da fé. Mas é “uma só fé”, ou seja, “a
fé do Filho de Deus”. Esta fé é uma energia
poderosa, espiritualmente militante, e os meios
pelos quais as batalhas do Senhor têm sido
sempre travadas. Assim, é este o grande conflito
final contra a hierarquia satânica que irá ser
trazida para uma questão vitoriosa pela fé do
Cristo triunfante em Sua Igreja. (Apo. 12:11).
Assim será estabelecida a autoridade dos CÉUS
sobre as “portas” (conselhos) do inferno por
meio da Igreja, e a terra irá sentir o impacto
desta fé triunfante.
Este tipo de fé arrebatadora é raro e poucos são
os que irão pagar o preço. Bem, possa o Senhor
perguntar se Ele encontrará este tipo de fé na
terra em Sua vinda. Que seja enfatizado mais uma
vez esta transferência de todas as coisas para
os lugares celestiais, de modo que sintamos mais
e mais o estranhamento dos estrangeiros e a
falta de lar dos peregrinos aqui, e a
familiaridade em coisas espirituais e
celestiais, é o curso natural da verdadeira vida
de Deus. Quando o clímax vier, e formos
finalmente transladados, isto não será nenhuma
grande mudança para o nosso homem interior; não
haverá nenhuma dificuldade ou sentimento de
sentir estranho ou fora do lugar. Será a última
fase na jornada espiritual onde a glória irá
irromper em nós, e, como Enoque, "não somos
mais, pois Deus nos tomou para Si."
Apenas resta ser dito que este é o caminho da, e
para, a glória.
A glória é sempre glória celestial. Ela
finalmente será manifestada numa humanidade
aperfeiçoada. No presente ela está secretamente
dentro do espírito do cristão, e com cada novo
passo para cima em fé, aquilo que não pode ser
definida às outras pessoas se torna mais
maravilhoso para ele. Seria uma pobre descrição
da glória Divina dizer que ela é incorrupção e
incorruptibilidade, perfeição de entendimento,
perfeição de harmonia, perfeição de capacidade,
perfeição de graciosidade. Porém quase
imperceptivelmente o movimento de fé e a ação da
graça estão levando a isso. A semente
incorruptível que torna possível o corpo
incorruptível já está nos filhos de Deus pela
fé. Há um abrir dos olhos dos seus entendimentos
, e as coisas celestiais para eles são muito
mais reais do que as coisas visíveis. Há uma
“paz que transmite entendimento” realizado em
crises profundas, que é o fruto de uma harmonia
da nossa vontade com a vontade de Deus. (A
palavra “paz” seria sempre melhor traduzida como
“harmonia”.) Assim também capacidade espiritual
é aquela que transcende as limitações de tempo e
espaço, e que confina o universo em efeitos e
questões. Nem precisa ser dito que a
graciosidade do amor Divino, compaixão, ternura,
consideração, humildade, etc., são a glória de
Deus.
Essas coisas, contudo, não toca tudo aquilo que
Sua glória significa. Perfeição de caráter,
capacidade e serviço, trazem perfeição de
satisfação. Isto não é senão a base de Sua
glória. Aqui temos que parar um pouco. Esta
glória somente pode ser conhecida no espírito e
não retratada em palavras. Lembramo-nos de que
está escrito que fomos chamado “para Sua glória
eternal” (1 Ped. 5:10), e que a nossa salvação é
“com glória eterna” (2 Tim. 2:10) e que a leve
aflição “produz” um mui excelente peso de
glória" (2 Cor. 4:17).
Assim, como fomos crucificados juntamente com
Ele, sepultados com Ele, ressuscitados com Ele,
assim fomos exaltados e glorificados juntamente
com Ele.
Que tenhamos graça para que cada movimento de
Deus pelo qual Ele fará a nossa união na
ascensão manifesta e experimentalmente real
possa encontrar um “amém” em nossos corações,
custe o que custar no desarraigar de nossas
vidas da terra.
Ele quer que vejamos os céus sempre abertos e o
“Filho do homem” representativo e inclusivo em
glória CONOSCO, mesmo estando nós sobre a terra;
todas as coisas no ministério aqui se movendo
para os céus.
Com essas verdades celestiais diante de nós,
vamos descobrir o significado e a força de
exortações como:
"Não acumuleis para vós tesouros na terra … mas
ajunteis para vós tesouros no céu" (Mat.
6:19,20).
"Se, pois, fostes ressuscitados juntamente com
Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde
Cristo está … Pensai nas coisas que são de cima,
e não nas que são da terra (Col. 3:1,2).
Se vamos aparecer com Cristo em glória, devemos
ter uma vida já escondida com Cristo em Deus, e
estarmos mortos para as coisas da terra.
"Pois morrestes, e a vossa vida está escondida
com Cristo em Deus" (Col. 3:3).
FIM
*A
tradução deste estudo foi feita voluntariamente por Valdinei N. da
Silva, que, por reconhecer a excelência do conteúdo, coloca o mesmo ao alcance da Igreja de
Cristo, para sua edificação. Peço aos irmãos que possuírem
conhecimentos mais aprofundados em tradução, que colaborem, enviando as
suas preciosas observações e retificações para:
valdineibr@gmail.com
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