FUNDAMENTOS
De T. Austins Sparks
Capítulo 1
Ler: Salmos 11:1-7 (Observar verso 3); 1 Cor.
3:11; 2Tim. 2:19
“Se os fundamentos forem destruídos, o que
poderá fazer o justo?”
“Porque ninguém pode pôr outro fundamento além
do que já está posto, o qual é Jesus Cristo”.
“Todavia o fundamento de Deus permanece firme,
tendo este selo: O Senhor conhece os que são
seus, e qualquer que profere o nome de Cristo
aparte-se da iniqüidade”.
Em referência a este salmo onze, não podemos
estar exatamente certos em relação a quando ele
foi escrito, ou, quais eram exatamente os
incidentes, ou eventos históricos que deram
origem a ele; mas seja lá quando tenha ele sido
escrito, claramente foi num tempo de estresse
muito severo, quando as circunstâncias estavam
muito difíceis, e a posição do salmista, do
ponto de vista humano, era muito precária, cheia
de perigo, e, como julgava o homem, cheia de
iminente desastre.
Era um tempo quando, embora aqueles fundamentos
fossem literais, eles foram atacados; os
próprios fundamentos tinham ficado sujeitos a um
amargo ataque; e de novo, do ponto de vista
humano, os fundamentos estavam destruídos; da
forma como o homem olhava para as coisas, os
fundamentos tinham sido destruídos. Davi estava
no centro daquele tumulto com o qual não estamos
familiarizados, constituído por coisas
totalmente exteriores, que pareciam mostrar que
a situação era sem esperança.
Contudo, interiormente havia algo firme, que não
concordava com aquilo, simplesmente uma
realidade inexplicável e indefinida no coração
que em efeito dizia: A coisa não é assim. Devido
às aparências e a todas as evidências externas
que iriam mostrar que a situação realmente era
daquela forma, Davi foi aconselhado a fugir, a
abandonar toda a situação, a fim de salvar a sua
própria vida; a fugir para a montanha, a se
refugiar em algum lugar terreno de segurança.
Uma montanha às vezes parece ser um lugar muito
seguro. Mas a coisa não é sempre assim, do ponto
de vista espiritual, e aqui está uma daquelas
ocasiões quando não importa quão substancial um
refúgio, uma montanha, possam parecer, é um
lugar de fraqueza se o esconder-se nela for
fruto do medo. Eles aconselharam Davi a fugir
para a montanha, a se refugiar numa montanha,
mas ele recusou o conselho e disse: “No Senhor
eu me refugio”.
Concluímos, a partir do salmo 11, e do anterior,
que um ímpio, ou que os ímpios ocupavam uma
posição e tinham poder. O salmo 10 traz uma
meia-dúzia de referências ao ímpio. Seja lá quem
fosse ele, ou eles, ocupava um lugar de grande
poder e estava ameaçando a herança de Deus, e
atacando o próprio fundamento da herança de
Deus. Agora, no meio daquilo tudo, uma questão
surgia. Uma questão única; e toda a situação é
resumida em uma só questão: “Se forem destruídos
os fundamentos, o que poderá fazer o justo?”
Isto não significa que Davi concordava com a
sugestão de que os fundamentos estavam
destruídos: embora haja uma nota marginal que
torna este verso uma parte do aviso e do
conselho de seus amigos medrosos. A nota
marginal faz o verso seguir como uma declaração:
“Pois os fundamentos estão destruídos”; e, se
for assim, “o que poderá fazer o justo?”
Bem, se esta é a forma correta de ler o
versículo, então ele exclui a Davi, e mostra que
ele não estava envolvido na questão. Mas, se é
uma questão na qual Davi entra simplesmente como
uma matéria de consideração – pois está
perfeitamente claro que ele não se rende a ela –
então o verso nos dá uma base muito valiosa para
uma consideração muito importante. “Se os
fundamentos forem destruídos, o que poderá fazer
o justo?” A resposta, naturalmente, é óbvia; há
apenas uma resposta: “Nada”.
Se os fundamentos forem destruídos, o justo nada
poderá fazer, a situação é absolutamente sem
esperança; então o conselho daqueles homens
passa a ser um bom conselho. Abandone a situação
e arranje algum lugar de segurança terrena,
largue tudo, abandone sua visão, pois ela é uma
visão falsa, ela não oferece nada. Agora, esta é
uma linha ao longo da qual uma consideração deve
ser perseguida por um pouquinho mais de tempo. A
outra linha está em colocarmos um forte traço
debaixo da nota de interrogação. Isto é, ela
ainda continua sendo um assunto em
questionamento: “Se os fundamentos forem
destruídos, que poderá fazer o justo?”
“Se os fundamentos forem destruídos...” Estão
eles, afinal de contas, apesar de todas as
aparências, estão destruídos? Não importa como
as coisas possam parecer estar e o que os homens
digam a respeito delas, em relação à situação
desesperadora, e em relação ao grande poder e
também da traição do ímpio, estão os fundamentos
destruídos? Há motivo para se abandonar a visão?
Devemos nós tomar o que os homens chamam de
curso seguro, e encontrar nós mesmos alguma
linha de maior segurança nesta situação tão
precária?
Estou muito certo de que aqueles de vocês que
estão pensando e olhando com os seus olhos do
interior para as coisas como elas estão hoje, já
entenderam o significado deste salmo, e deste
versículo. Há, sem dúvida alguma, um ataque
violento da parte do maligno sobre os
fundamentos; os fundamentos da herança de Deus
estão terrível, feroz e traiçoeiramente sendo
atacados _ pois você observa no salmo os
elementos da emboscada associados com a
atividade do inimigo, do ímpio. Ele atira no
escuro. Ele não vem para um lugar aberto, e ele
não respeita as regras da guerra, é um
assassino. Ele se esconde. Não dá chance para
uma batalha justa. Mantém-se escondido e atira
da emboscada, de lugares escuros. E seu
antagonismo, sua emboscada é direcionada
diretamente contra os próprios fundamentos da
vida do povo de Deus.
Agora, há duas maneiras nas quais temos que
olhar para esta questão de destruir os
fundamentos. Num sentido, e no sentido mais
profundo, esta é uma impossibilidade absoluta. É
impossível destruir os fundamentos. As outras
duas passagens foram colocadas para embasar este
aspecto. “Porque ninguém pode pôr outro
fundamento além do que já está posto, o qual é
Jesus Cristo”. Pode ser Ele destruído? Jamais!
Tudo tem sido permitido a fim de provar o seu
poder de destruição sobre Ele, toda martelada de
amargura e traição satânica tem sido desferida
sobre esta bigorna e a bigorna tem quebrado o
martelo, e permanece sem qualquer marca:
“Contudo o firme fundamento de Deus permanece”.
Assim sendo, a partir deste ponto de vista, do
ponto de vista verdadeiro, os fundamentos não
podem ser destruídos.
Mas há outro ponto de vista a partir do qual
isto tem que ser considerado, que se refere a
uma destruição virtual do fundamento, não uma
destruição real, mas virtual, este ponto de
vista se refere a este tipo de destruição em
efeito. Quero dizer o seguinte, que o inimigo
está tão investido contra os fundamentos,
visando à destruição deles, que está fazendo
tudo que pode para fazer com que as pessoas
coloquem uma superestrutura de profissão, de uma
suposta vida cristã, de um suposto
relacionamento com Deus sem qualquer fundamento,
absolutamente. E isto é uma sabotagem no trem
sobre o qual virá grande desastre, porque todos
aqueles que fazem isto estão prestes a cair,
estão a um pulo do colapso, e, então, irão
culpar a Deus. O inimigo irá imediatamente
correr para dentro de suas mentes e dizer: Você
colocou a sua confiança em Deus; Ele o deixou
cair. Neste sentido, os fundamentos estão
destruídos, estão anulados. Há muito disso hoje.
Agora, é a partir desses dois pontos de vista
que nós, por um momento, temos que olhar para
esta primária proposição: ”Se os fundamentos
forem destruídos, o que poderá fazer o justo?”
Isto significa que bem no início temos que dar
atenção muito especial à questão de se ter o
fundamento de Deus. Este fundamento se torna
impregnável e indestrutível uma vez que seja
estabelecido, mas é de importância além de
qualquer outra, para você e para mim, termos o
fundamento de Deus, e este fundamento
verdadeiramente lançado. A situação toda é
completamente sem esperança, a menos que se
tenha este fundamento.
Estamos rapidamente entrando num período da
história deste mundo quando os fundamentos da fé
estão para ser submetidos ao teste final. A
grande ênfase de Deus hoje está sendo trazida
sobre o estado de Seu próprio povo. Ele está
focando a Sua atenção sobre o Seu povo. Houve
grandes períodos quando toda a Sua atenção
estava voltada através de Seu povo para as
multidões de não salvos; foram grandes dias de
colheita por meio do evangelho. Pode vir, na
ordem dos propósitos de Deus, ainda mais ênfase
deste tipo, quando novamente Ele irá estender a
mão de um modo especial, a fim de reunir as
ovelhas perdidas. Ele não está ignorando
inteiramente esta obra hoje, e Ele não quer que
nós a ignoremos. Mas qualquer um que conheça a
atual situação verá que a principal obra de Deus
hoje, para qual Ele está se doando, não é pelo
ajuntamento de multidões de almas não salvas;
mas você realmente descobre que em toda parte há
um crescente movimento de Deus em mexer o
coração do Seu próprio povo, aumentando a fome,
tornando manifesto a fraqueza e a necessidade, e
submetendo os cristãos de toda parte ao teste.
Você está enfrentando tempos de prova e teste
espiritual? Você está achando mais fácil viver a
vida santa hoje do que costumava ser? Se formos
honestos em nossos corações, iremos dizer: Não,
certamente está mais difícil, e a nossa vida
espiritual fica muito raramente fora do fogo.
Parece que constantemente somos trazidos ao
lugar da prova, e cada prova parece ser mais
profunda que a anterior. O Senhor está focado em
Seu povo, e o objetivo de tudo é chegar aos
fundamentos, e, nesse dia, quando Deus está se
focado sobre os fundamentos, o diabo está
particularmente preocupado em deixar as pessoas
sem fundamentos, e isto explica grandes
movimentos de hoje que não têm quaisquer
fundamentos.
Estamos passando rapidamente pelo tempo da
última prova do nosso fundamento. A questão para
cada um de nós será em relação a se temos o
fundamento de Deus adequada e suficientemente
colocado como a base para a nossa fé. Temos que
ver, obviamente, que fundamentos são esses, mas
eu agora apenas chamo a atenção para a
necessidade. Uma vida espiritual de
superficialidade não irá muito longe. Os ventos
de Deus irão soprar e, então, iremos descobrir
quão profunda é a nossa raiz. Daí a necessidade
de considerarmos a questão dos fundamentos.
Então, por outro lado, o outro ponto de vista: o
fundamento uma vez posto, não importando quais
sejam as aparências, as circunstâncias, o
expoente humano, a opinião do homem, não há
motivo para abandonarmos a visão. É exatamente
aí que eu quero colocar meu dedo por um ou dois
minutos, não pretendendo entrar na natureza do
fundamento no momento, mas apenas mostrar o que
surge com esta questão.
Há um conselho de desespero hoje sobre condições
espirituais, e Davi não era exclusivo nesta
questão; todos sabem o que é ter uma sugestão
dada a nós: “Você está procurando realizar algo
impossível, o seu padrão é um padrão impossível;
isto que você tem estabelecido como alvo é
impossível. Sua visão é a visão de um idealista,
mas é completamente impraticável, impossível de
realizar. Veja, olhe para a destruição que o
inimigo fez. Sempre que havia alguma coisa que
representasse algo extra, algo mais pleno, algo
maior, mais profundo, a grandeza de Cristo,
sempre que havia algo que apontasse para o
propósito final de Deus e que ia para além
daquilo que se obtinha em seu dia, então o
inimigo fazia uma terrível confusão, atacava e
fazia um massacre. A história se repete
sucessivamente, e olhe para a confusão que o
inimigo tem feito na terra entre o povo do
Senhor. Olhe para a situação, para o poder, para
a perspicácia e traição do inimigo, e como ele
está em posição de poder, quanto ele tem as
coisas do seu jeito, quão sem esperança, quão
fraco você é diante disso.
Olhe para o estado espiritual do povo do Senhor
hoje. A grande maioria deles está sem uma real
fome espiritual, estão contentes com a sua
religião meramente formal, e até mesmo onde há
alguns que estão espiritualmente famintos e
honestamente querem andar com Deus, mas, quando
são colocados à prova, não pagam o preço. De um
modo ou de outro, esta tradição comunicada, esta
longa e permanente aceitação, este sistema
histórico, tem valor apenas enquanto estão
começando a se mover com o Senhor, e, embora
tenham mostrado seu desejo, sua vontade de
seguir com o Senhor, e tenham real e
honestamente pretendido assim fazê-lo,
exatamente no instante em que alguns passos são
dados, passos que os conduzirão para fora e os
levarão com o Senhor, alguns, então, se
amedrontam em seu interior pelas conseqüências
de seus passos, e isto os faz recuar.
É melhor você abandonar sua visão, é melhor você
tomar algum caminho mais baixo. É melhor você
encontrar algum lugar de muita segurança, alguma
montanha de um curso de coisas mais normal e
natural. Você está almejando algo muito alto, a
situação é sem esperança, abandone-a!
Suponho que muitos de nós conhecemos algo deste
conselho que vem tanto do interior quanto do
exterior. O Senhor Jesus experimentou algo
parecido. Esta foi a soma total de Sua tentação
por quarenta dias e quarenta noites no deserto.
Ele tinha entrado num terreno que era o terreno
mais alto que este mundo jamais conhecera, e
todo o objetivo do inimigo era fazê-Lo descer
dali – por sugestão, por traição, por argumento
– e descer para um nível mais baixo. Ele dizia:
Teu curso é impossível. Há um chão mais seguro
debaixo de seus pés do que este.
Toda questão surge diante dos seguintes
argumentos: ”Estão os fundamentos destruídos?”
Se estão, bem, então, o conselho é bom, seria
melhor desistirmos; se não, então não há motivo
para abandonarmos a visão. Estão os fundamentos
destruídos? Vamos colocar isto de maneira
prática. Deus colocou um fundamento? Nós podemos
colocar muitos fundamentos e achar que eles não
são bons. A questão é: Deus colocou um
fundamento? A Palavra nos diz muito claramente
que sim. Deus colocou um fundamento sem
pretender que uma estrutura fosse construída
sobre ele? Certamente isto seria tolice, e quem
iria acusar Deus de tolo? Então, se Deus colocou
o fundamento e Seu fundamento é indestrutível,
logo Ele almeja construir sobre este fundamento,
e deseja construir um edifício.
Pode o plano de Deus ser frustrado pelo inimigo?
Não, assim como não pode ser destruído o Seu
fundamento! Ele alcançará o Seu objetivo. Qual é
o fundamento de Deus? É Jesus Cristo. Ele está
agora fora do alcance de quaisquer forças de
destruição. Qual é a estrutura de Deus? É
Cristo. Chame-a de outro nome se quiser: a
Igreja que é o Seu Corpo, a Companhia conformada
à imagem de Seu Filho; mas seja lá que nome você
possa dar, ele está no propósito de Deus, Cristo
desenvolvido em plenitude nos Seus santos. Isto
jamais poderá ser destruído. Isto jamais poderá
ser vencido. Deus irá obter isto.
Se nós estivermos pensando na edificação como
sendo algum movimento, alguma organização, algum
sistema formulado pela obra e empresa do
cristão, bem, então temos um conceito errado do
que seja a obra de Deus. A obra de Deus é os
santos crescendo à imagem de Seu Filho, e,
enquanto Cristo permanece, o propósito de Deus
acerca daqueles que estão em Cristo também
permanece, e o propósito de Deus jamais pode ser
impedido. Se temos renunciados a nós mesmos para
ver algo realizado com sucesso na terra, bem,
então, chegaremos ao lugar onde o conselho será
muito bom para abrirmos mão dele, e seremos
muito estúpidos em nos agarrarmos a ele. Mas, se
renunciamos a nós mesmos para apresentar todo
homem perfeito em Cristo, então não estaremos
numa direção sem esperança. Este é o propósito
de Deus, fixado e estabelecido muito antes que
este mundo com todas as suas mudanças e o
Maligno viessem a existir. “...As obras foram
terminadas desde a fundação do mundo”. Você está
tentando fazer a obra para o Senhor? Você está
tentando aumentar a obra do Senhor? Desista.
Entre para as obras que já estão acabadas e você
terá um caminho claro para seguir.
Se você está contemplando alguma chamada, se o
Senhor tem chamado você para o ministério,
deixe-me contar a você o segredo para seguir e
chegar até o final em triunfo, com fruto. Sim,
certamente _ você poderá não vê-lo _ mas você
irá fazer assim. Comece dizendo: “Senhor, tudo
já está feito antes que o mundo existisse; estou
entrando em coisas já feitas, e estou
trabalhando contigo na realização de algo já
realizado. Vou entrar em algo que já foi feito
na eternidade, no Conselho de Deus, que diz
respeito a este ministério específico. Entro
nisto pela fé; trabalhando a partir do propósito
de Deus na eternidade passada.” E você irá
entrar no ministério com fruto.
Deus jamais irá enviar você a algum lugar por
Seu Espírito Santo, onde não haja fruto. Você
poderá não vê-lo agora, mas verá mais tarde;
Deus sabe. Ele trabalha sobre uma obra já
conhecida. Ele diz para um apóstolo,
conduzindo-o para uma cidade pagã de pecado e
sujeira: “...não temas... pois tenho muito povo
nesta cidade.” Ele não diz: “Eu vou ter muito
povo”, mas “Eu tenho muito povo nesta cidade”.
“Senhor, quando Tu os teve?” “Muito antes que
você viesse a existir, antes que este mundo
existisse!” Este é o princípio de Deus. A
necessidade de fazer as obras do Senhor, e por
meio de uma vida governada e direcionada pelo
Espírito. Isto é chegar diretamente ao
fundamento, onde não há espaço para qualquer
argumento de desespero e abandono; é permanecer
sobre algo sólido, que não pode ser destruído.
Oh, ter a nossa vida fundamentada sobre isto.
Nossa fé para salvação, ter todo o serviço,
nosso ministério fundado sobre isto. Oh, ser
liberto de coisas que, sendo do homem, mesmo
religioso, não irá passar no teste; e ser
trazido para as coisas que são de Deus e que
irão sobreviver à prova. “...o firme fundamento
de Deus permanece”. Não pode ser destruído.
Permanecer naquilo que não há necessidade de
desistir. Haverá momentos de dor, quando o
conselho de nosso coração irá nos sugerir que
fujamos, abandonemos, desistamos, mas este é o
conselho do medo. Há uma coisa sobre o conselho
do medo que você deve sempre ter em mente. O
medo nunca enxerga tudo. O medo apenas enxerga
uma coisa. O medo apenas enxerga a coisa
presente e está cego para todos os demais
fatores.
O medo, da parte dos espias que primeiro
chegaram a terra, fez com que eles enxergassem
apenas uma coisa: as dificuldades, e os cegou
para a posse, Deus. A fé enxerga todas as
dificuldades e, embora ela possa talvez não ver
Deus como iminente, porém sempre O vê como
transcendente. O medo tem visão curta. O medo é
muito limitado em sua compreensão; e este era o
conselho do medo: “Fuja... para o seu monte.” A
fé vê que o fundamento de Deus não pode ser
movido, não pode ser destruído, e sejam quais
possam ser as aparências, a fé olha para além
das aparências, para além das circunstâncias,
olha para o Senhor e faz Dele o refúgio, e
prossegue adiante.
Algumas pessoas têm sugerido que o salmo 11 foi
escrito por Davi no dia quando Saul o estava
perseguindo. Eu não entendo como isto pode ser
assim, pois, quando Saul perseguia Davi ele
fugia, e aqui ele está dizendo que não fugiria.
Outros dizem que foi nos dias da traição de
Absalão, e o conselho dado a Davi foi para
fugir. E ele realmente fugiu, mas aqui ele está
dizendo que não fugirá. Você terá que achar
algum outro cenário para isto. Ele não fugiu,
este é o ponto. Por que ele não fugiu e não
abandou aquela situação, e disse: “Sim, vocês
estão certos, ele está fazendo uma confusão, ele
está soprando bem no fundamento das coisas; é
melhor eu encontrar uma linha de menor
resistência”. Por que ele não tomou esta
atitude? Simplesmente porque os olhos de seu
coração estavam fixos no Senhor, e ele não tinha
nenhum interesse pessoal a servir; nenhuma
organização, nenhuma sociedade, nenhum movimento
ao qual ele estivesse tão ligado que, se aquilo
fosse feito em pedaços, toda a sua vida iria ter
o mesmo destino. Não, era o Senhor. É algo
tremendo estar com o Senhor e ser liberto das
coisas menores, ser um com o Senhor em Seu
propósito. O que será se todas as demais coisas
se dissiparem como fumaça? Você não estava
nelas, absolutamente, elas não eram algo no qual
o seu coração estava firmado. O que você estava
seguindo não era algo temporário, algo terreno,
mas era algo espiritual e eterno, e nada pode
destruí-lo.
Agora, amado, você entende a questão. Você e eu
temos que estar fundamentados sobre o plano de
Deus. O que deve determinar toda a nossa vida,
toda a nossa atividade tem que ser o propósito
de Deus. E qual é o propósito de Deus? Que fique
estabelecido de uma vez por todas que o
propósito de Deus não é ter algo ancorado nesta
terra, mesmo com o Seu nome sobre aquilo. Tudo
que estiver preso a esta terra irá passar com a
terra. O propósito de Deus é ter algo espiritual
na vida de Seu povo; algo que os relacione a Seu
Filho, de maneira crescente _ o aumento de
Cristo. O resto não interessa.
Todos os aspectos temporários da obra são de
muito pouca importância. O que importa é que os
homens e mulheres estejam sendo aperfeiçoados em
Cristo. Nós não estamos aqui para estabelecer
algo e, então, tentar conseguir que homens e
mulheres se unam a isto, se associem a algo _
nem mesmo um ‘testemunho’, como nós podemos
chamá-lo. Vamos ser cuidadosos para que
comecemos com o propósito correto. Não estamos
aqui nesta terra para implantar um ensino, e,
então, tentar conseguir pessoas que aceitem este
ensino. Se você for para o seu Novo Testamento,
irá descobrir que as pessoas andavam juntas
porque elas já estavam ligadas ao negócio. Elas
não vinham para se juntar. O testemunho não é
algo a que você se une. Você é unido por estar
no testemunho. Você entende isto? Esta é uma
coisa de importância tremenda em relação a toda
esta questão que estamos considerando.
Ficaremos desapontados, e teremos um tempo duro
se tentarmos conseguir pessoas para adotarem
algo, tomá-lo, aceitá-lo. Vamos, no poder do
Espírito Santo, dar o nosso testemunho, vamos
deixar o Senhor fazer a obra em nossos corações,
e, quando Ele faz a Sua obra em nossos corações,
iremos nos unir a outra pessoa. Você terá a
expressão da Igreja aqui nesta terra como um
resultado da obra realizada dentro de você e não
em alguma coisa que você trouxe junto, até mesmo
um ensino, um testemunho, ou um sistema que até
possa ser chamado de ‘comunhão’. Vamos ser
cuidadosos em pensar que podemos nos associar a
uma comunhão. Comunhão é algo que ‘é’; é o
resultado de algo interior.
Agora, eu concentro tudo o que tenho dito nesta
lei. O objetivo é ter uma vida interior em Deus,
e, se estivermos nesta linha, estamos sobre algo
que jamais pode ser destruído. Se o teu objetivo
é uma outra coisa, ter alguma forma ou ordem
exterior, você está numa linha que será
destruída, a coisa irá se quebrar. Este é o
porquê de encontrarmos tantas fragmentações nas
coisas. Aqui está uma coisa pura que tem sido
trabalhado dentro de poucas vidas, e, devido
esta mesma coisa ter sido realizada nesta
pequena companhia, eles estão juntos numa
maravilhosa união, e aí eles realmente
representam algo de Deus; mas, então, outros
começam a se unir ao negócio, a se juntarem,
aceitando o ensino. Chega uma nova geração e
recebe o ensino daquela geração anterior, e a
obra não foi realizada no interior dessas
pessoas que se associaram, ou dos sucessores, e
você tem apenas uma transmissão de um ensino, de
uma tradição, sem uma obra realizada no
interior. O que acontece? Não demora muito e a
coisa se divide, e a divisão é interminável.
Você não consegue dividir aquilo que é de Cristo
em cada coração; que é indestrutível. Porém, se
é algo meramente externo, histórico,
tradicional, doutrinário, ele pode ser dividido
em tantos fragmentos quanto hajam pessoas
envolvidas nele. O fundamento é Jesus Cristo; e
Jesus Cristo no coração, crescendo, se
desenvolvendo, sendo completamente formado nos
santos. Esta é uma linha indestrutível _ Cristo
como o fundamento dentro de nós.
Penso que nós devemos estar muito mais
interessados no crescimento espiritual da outra
pessoa. Tudo mais deve se encaixar neste
propósito. O crescimento espiritual do outro. As
demais coisas virão, desde que sejam boas e
corretas; qualquer tipo de expressão exterior
será o resultado disto, mas esta é a coisa
principal, nosso mútuo desenvolvimento
espiritual, o aumento de Cristo, e isto nenhuma
atividade do inferno, nem traições poderão
destruir. É o fundamento de Deus em nós que
permanece.
Capítulo 2 – O Natural e o Espiritual
Ler: Salmo 11:1-4; 1Cor. 3:9-17
Na medida em que prosseguimos com a nossa
consideração sobre os fundamentos, há uma
terceira coisa. Na primeira carta aos Coríntios,
temos outra forma em que fundamentos são
virtualmente destruídos, pelo menos numa medida
muito real. É por aquilo que é colocado neles; o
edifício que é colocado sobre eles. Os
fundamentos não são destruídos completamente,
mas o seu valor supremo lhe é roubado, e assim,
são destruídos em sua principal virtude. Você
irá entender o que eu quero dizer pelas palavras
do apóstolo: “Eu coloquei o fundamento, e outro
edifica sobre ele. Mas veja como cada um edifica
sobre o fundamento” E, então, Paulo diz que
algumas pessoas edificam com certos materiais, e
outras pessoas edificam usando outros tipos de
materiais. Então vem o teste de fogo da parte de
Deus, a fim de provar aquela estrutura; e a
madeira, a palha e o feno se reduzem a fumaça,
e, quando tudo se vai, fica a pergunta: Qual era
o valor daquele fundamento se de tudo que foi
dito e feito nada ficou sobre ele?
Neste sentido o fundamento está destruído em seu
significado e valor supremo. O apóstolo nos diz
que aqueles que assim agem podem ser pessoas
salvas, e, porque elas têm Cristo, o fundamento
está lá; elas mesmas podem não perder a sua
salvação, porém elas não foram salvas apenas
para ficarem salvas. Cristo não veio a elas
apenas para isto. Ele não era o fundamento
apenas para permanecer o fundamento. Um
fundamento pressupõe uma estrutura, ele aponta
para isso, implica isso, necessita disso. Não há
justificativa em se ter um fundamento se você
não tem uma estrutura. A estrutura é a
justificativa do fundamento.
O que você iria pensar de um construtor que
fosse por toda a parte colocando fundamentos, e
então você percorresse a terra e visse um monte
de fundações, e fosse apenas isso o que você
visse; fundamentos colocados ano após ano, e
quando você passasse por lá, não visse nada a
não ser fundações. Você diria: Aquele camarada
não justifica a sua existência, não justifica o
seu trabalho. A única justificativa para se
colocar aquelas fundações é que se coloque algo
sobre eles. A justificação de nossa salvação é
que existe uma edificação; pois a nossa salvação
envolve isto, e não estamos justificados como
salvos até que o edifício de Deus esteja em pé.
Deus é justificado em nos salvar quando tem o
Seu edifício. Esta é a justificação da graça de
Deus.
Assim, o apóstolo segue com a linguagem sobre o
templo de Deus: “Vois sois o templo de Deus”
Templo de Deus. Agora, o que nós estamos
colocando sobre a nossa salvação, o que estamos
edificando ou irá justificar o fundamento, ou,
virtualmente, irá destruí-lo; isto é, torná-lo
vão no pleno propósito de Deus. Isto é simples.
Você entende o que quero dizer? Há um modo de
levar até mesmo o divino fundamento a se tornar
quase sem valor, e roubar a sua real virtude:
colocando algo que não seja conforme Cristo.
Agora, isto é muito simples e elementar, mas irá
nos ajudar muito. A estrutura tem que estar de
acordo com a fundação. Tem que ser espiritual e
moralmente do mesmo material, tem que ser
semelhante. Como é a fundação, assim deve ser a
estrutura. A estrutura tem que adquirir o
caráter da fundação.
É dito que o fundamento é Jesus Cristo e todo o
edifício tem que ter o mesmo caráter e natureza
do fundamento. Pense nas fundações desarraigadas
após uma escavação feita até as partes mais
profundas do inferno; pois lá é onde Cristo
lançou o fundamento. Ele escavou até as partes
mais profundas do pecado; Ele tocou a rocha lá
em baixo para lançar o fundamento da nossa
salvação. Mais fundo Ele não poderia ir. Ele
atravessou o inferno para lançar os fundamentos
da nossa eterna redenção. Agora pense sobre
colocar uma estrutura frágil de madeira, palha e
feno sobre isto. Será que isto justifica aqueles
fundamentos? Algo digno de Cristo é exigido,
algo digno da obra que Ele realizou, algo que
irá falar da grandeza de Sua graça e de Sua
glória. Esta é a construção de Deus.
Dito isto, podemos voltar à carta de coríntios e
deixar que ela mesma explique a questão para
nós. Você está lembrado de que estamos falando
sobre a destruição dos fundamentos neste
sentido, que algo que não é digno de Cristo é
colocado sobre eles. Agora abra na carta aos
coríntios e vamos percorrer algum terreno
familiar. Lembre-se de que toda esta carta
representa o problema que confrontou o apóstolo
quando ele esteve em visita a Corinto. Havia uma
situação lá com muitos aspectos, que
representava para ele um problema destinado a
desanimar e a destruir a fé de qualquer pessoa
cujos fundamentos não estivessem bem colocados.
Estou bem certo de que, antes de terminarmos,
você irá perceber que, para se enfrentar uma
situação como aquela, você precisará ter os
fundamentos bem colocados em você mesmo.
A Sabedoria do Mundo e as Coisas do Espírito.
O primeiro capítulo leva você à primeira fase do
problema de Paulo. Antes de você terminar este
capítulo, você descobre que naquela assembléia
de crentes em Corinto, o espírito do mundo lá
fora, o espírito de Corinto, tinha entrado e
tomado conta. O espírito do mundo em Corinto era
o espírito da sabedoria mundana; Corinto era o
centro e a cidadela da filosofia. Eles não
tinham melhor entretenimento do que discutirem a
última fase da filosofia, a última questão em
termos de pensamento. E Corinto era um lugar
onde a razão humana tinha plena atividade, e
tudo era determinado em seu valor pelo poder do
arrazoamento da mente; do argumento, do debate,
da discussão. Era o centro mundial do
racionalismo, e isto tinha entrado na assembléia
do povo do Senhor. E o que descobrimos é que o
povo do Senhor neste espírito, nesta mente,
tinha pegado as coisas espirituais, as coisas
celestiais, as coisas de Deus, e as trazido para
baixo, ao nível do mero argumento humano, do
debate, da discussão, e da razão; aplicando o
tempo todo o teste da razão humana a eles,
buscando, assim, manipulá-los através da
faculdade intelectual, de modo a mantê-los
dentro do espaço limitado do próprio poder
mental do homem.
Assim, eles estavam discutindo o que o apóstolo
chama de coisas do Espírito de Deus, e trazendo
as coisas celestiais, eternas e espirituais aqui
para baixo; arrastando as coisas da eternidade
para dentro da escola do racionalismo mundano,
do debate e do argumento. Naturalmente, isso não
era um modo de viver exclusivo dos corintos dos
dias de Paulo. Há muito disso nos dias de hoje.
Cada vez mais temos nos deparado com pessoas
cujo maior obstáculo às coisas do Espírito de
Deus é a sua própria cabeça. Elas atravessam
suas mentes no caminho; e, o que não conseguem
reduzir à sua própria compreensão intelectual,
rejeitam. E quando você diz: Olhe aqui, você vai
ter que parar de argumentar, de discutir, dê a
Deus uma chance na linha da fé, elas respondem:
Pra que temos cérebro?
Isto significa que nossos cérebros são a
capacidade para as coisas eternas. Se for assim,
Deus ajude as coisas eternas! Bem, esta foi a
primeira fase do problema de Paulo, e não é um
problema pequeno. Aqueles de nós que têm
encontrado isso, mesmo de maneira pequena, sabem
que grande dificuldade é. As predileções,
simpatias e antipatias humanas. Passamos para o
capítulo dois e encontramos a mesma coisa
prolongada um pouco mais, e, então, quando
avançamos e começamos o próximo capítulo,
descobrimos que entramos no campo das
preferências humanas, gostos e desgostos humanos
na direção do ensino e dos mestres, pregações e
pregadores, os mensageiros de Deus e suas
mensagens.
Uma escola diz: Paulo é o homem que gostamos, e
a linha das coisas de Paulo é a linha que
gostamos. Vocês podem gostar de Apolo ou Pedro,
mas nós, bem, Paulo é o nosso homem. Dentro da
mesma assembléia uma outra companhia dizia:
Preferimos Apolo e sua linha de coisas. Vocês
podem ter Paulo, e vocês outros podem ter Pedro,
mas nós gostamos de Apolo. A terceira companhia
dizia: Tudo bem, se vocês gostam de Paulo e se
eles gostam de Apolo, podem tê-los, nós iremos
aderir a Pedro. Havia uma quarta classe que
dizia de forma superior: Bem, se vocês preferem
ter Paulo, eles outros preferem Apolo, e
aqueles, Pedro, vocês podem, mas nós pertencemos
a Cristo (algo muito diferente dos demais,
naturalmente. Esta é a implicação, veja você,
fazer de Cristo um partido. Você sabe, quando as
preferências humanas se chocam, são coisas muito
difíceis de lidar com elas.
Isto estava lá; as suas simpatias e antipatias;
e estas são coisas profundamente enraizadas na
natureza humana. Requer muita graça para
removê-las. Naturalmente, esta era a condenação
deles. Se de fato é necessária muita graça para
remover essas coisas, e você não às tem
removidas, então você não tem muita graça. Este
era o problema de Paulo, a coisa que ele tinha
que enfrentar e lidar, e para os quais tinha ele
responsabilidade diante de Deus. A tragédia do
Crescimento Impedido.
No capítulo três novamente você descobre uma
situação que talvez seja mais difícil, a da
maturidade atrasada. Após um tempo considerável
de ser povo de Deus e de ter as coisas de Deus
no meio deles, Paulo diz que ele não podia lhes
falar como a espirituais, mas como a carnais,
como a bebês. Isto é uma tragédia. Há, talvez,
poucas tragédias mais patéticas na vida humana
do que ver o crescimento impedido na infância
enquanto os anos prosseguem. É assim que estavam
as coisas em Corinto. Paulo diz que a
carnalidade tinha causado o impedimento, e,
quando eles deviam já ser maduros, ainda estavam
impotentes, dependentes, eram crianças
espirituais, sem compreensão, percepção,
capacidade para assumir responsabilidade
espiritual. Uma coisa muito difícil de se lidar
com ela.
Amado, isto não era peculiar de Corinto, ou dos
dias de Paulo. Multidões do povo de Deus estão
assim nos dias de hoje. Oh, sim, é uma situação
patética encontrar pessoas que têm conhecimento
do Senhor por anos, décadas, que estão ainda sem
suas faculdades espirituais desenvolvidas de
modo que possam assumir responsabilidade
espiritual, onde conheçam e não precisam ser
ensinadas! Há multidões assim. As razões não são
sempre as mesmas. É verdade que a carnalidade é
a causa disto muito freqüentemente, mas temo que
o ensino pobre também seja responsável por isto
em muitos casos. Elas não têm sido alimentadas e
nutridas. É uma situação trágica com a qual nos
deparamos hoje; mas aí está, seja qual for a
causa.
Neste caso, em Corinto, era responsabilidade
deles mesmos, a sua própria falta, a sua
carnalidade. A Vergonha do Orgulho Espiritual.
Você passa para o capítulo quatro e encontra o
apóstolo falando com linguagem que indica
orgulho espiritual. Ela assume a seguinte forma.
O Senhor os tinha abençoado com dons espirituais
e realizado coisas graciosas para eles,
colocado-os na possessão de Suas riquezas
espirituais, e eles estavam se vangloriando
dessas possessões, dessas coisas como se as
tivessem adquirido por suas próprias
habilidades, como se as tivessem realizado por
seus próprios esforços; e o apóstolo diz: “…se
os recebestes, por que vos gloriais como se não
os houvesse recebido?” Em outras palavras: Por
que vocês estão tentando fazer com que as
pessoas pensem que as possessões de vocês são
resultado de sua própria habilidade espiritual,
que vocês têm por seus próprios esforços? Por
que vocês não reconhecem que tudo é pela graça
de Deus, e que vocês são humildes dependentes do
Senhor? Eles estavam se vangloriando de seus
dons espirituais, como se fossem suas
realizações espirituais e não dons. O orgulho
espiritual é uma coisa terrível. O orgulho
ordinário já é mau o suficiente, sempre a marca
da ignorância, mas o orgulho espiritual é muito
pior.
Então, há a próxima fase do problema que
confronta Paulo. Somente isto já iria desanimar
bastante, mas coloque tudo junto! Capítulo
cinco. Aqui nós não nos alongaremos. “E de fato
é informado que há fornicação entre vós...”
Entre crentes? Na assembléia do povo do Senhor?
Sim, uma trágica história que tem se repetido
vezes após vezes através dos anos. Mas oh, o
desgosto para qualquer homem que tinha algum
senso real de responsabilidade espiritual pelas
almas, revoltar-se contra isto. Capítulo seis.
Crentes, membros do Corpo de Cristo levando uns
aos outros para as cortes terrenas, tendo
demandas uns contra os outros, intimando uns aos
outros diante do magistrado, acusando uns aos
outros, processando perante os incrédulos.
Companheiros membros do Corpo de Cristo! Oh, que
conceito errado do Corpo de Cristo. Isto é, eles
se levantavam e lutavam pelos seus próprios
direitos.
Ele prossegue. Logo vocês descobrem algumas
terríveis desordens à Mesa do Senhor. Uma é que
eles estavam transformando a Mesa do Senhor numa
farra, numa festa. As pessoas mais ricas nos
negócios deste mundo estavam trazendo suas
pompas para o banquete, e os pobres podiam
apenas trazer o seu pouco, e havia a distinção
de classe, e todo esse tipo de coisa. O apóstolo
diz: Não tendes vós casas? Se quiserem se
fartar, pelo menos tenham a decência de fazê-lo
em suas próprias casas, não façam isso na
assembléia do povo do Senhor. Como você vê eles
transformavam as suas refeições comuns num
sacramento. Eles se ajuntavam, comiam e bebiam
juntos e, então, espontaneamente, como se aquilo
fosse uma coisa natural, faziam de sua refeição
um testemunho, mas isto tinha, assim, se
degenerado, a ponto de tornar aquilo algo
vulgar, como mencionamos, e toda glória, beleza,
e santidade do Corpo de Cristo e do Sangue de
Cristo tinha sido transformado nisto. Não era um
problema pequeno de se lidar com ele. Havia
outros aspectos desta questão os quais não
iremos tratar.
Você prossegue um pouco mais e chega às
desordens na assembléia em geral. Pessoas
usurpando autoridade, e você sabe o que o
apóstolo é obrigado a dizer sobre a desordem na
Casa de Deus. A posição dos homens é estar
debaixo da liderança soberana de Cristo, num
espírito de sujeição, cumprindo os seus
ministérios na Casa de Deus. Mas aqui os homens
estavam tomando a autoridade para si mesmos e
não tendo a sua autoridade em sujeição a Cristo.
E, então, as mulheres, fora de sua Divina e
ungida posição, violavam toda a ordem da
assembléia. O apóstolo lhes fala o que isso
significa: “Vocês deixam a cobertura divina e
entram em contato com os maus espíritos que
enganaram Eva. O diabo está determinado a
desintegrar esta assembléia seguindo a mesma
linha, e vocês estão dando a ele a chance que
ele quer por meio desta desordem”. A questão
toda era uma questão de ordem. O Senhor tem uma
ordem para a Sua Casa, e todos poderão cumprir
os seus ministérios – mulheres e homens – se
obedecerem a Sua ordem.
Penso que qualquer um que não tivesse os
fundamentos bem estabelecidos em si mesmo iria
desistir desta situação, abandoná-la, fugir,
fazer o que os conselheiros disseram para Davi,
fugir para as montanhas. “Se os fundamentos
forem destruídos, o que poderá fazer o justo?”
Será que numa situação como aquela os
fundamentos estavam destruídos? Nem um
pouquinho! Vejo que Paulo, apesar de tudo, não
foge, ele não aceita que os fundamentos estejam
destruídos, porém ele vê que esses fundamentos
estão sendo roubados de seus valores com tudo
isto. O Natural e o Espiritual. Agora, quer você
uma exposição do que Paulo quer dizer com
madeira, palha e feno? É isto! A Palavra
interpreta a si mesma. O que Paulo quis dizer
com edificar uma estrutura de madeira, palha e
feno sobre o fundamento? Ele quis dizer tudo
isso: divisões, ismos, sabedoria mundana,
glorificação intelectual, e tudo mais. Estas são
as coisas que serão destruídas pelo fogo. O que
irá sobrar? Quando você está edificando com esse
material, você não pode estar edificando com
outro material ao mesmo tempo, portanto, não irá
sobrar nada.
Você quer uma exposição do que Paulo quer dizer
no segundo capítulo, com espiritual e com
natural? “Agora, o homem natural não aceita as
coisas do Espírito de Deus porque para ele
parecem loucura; e não pode compreendê-las
porque são discernidas espiritualmente”. Natural
e espiritual. Sabemos que esta palavra natural,
em Grego, é a palavra almático, ou homem
almático, e ele se coloca contra o homem
espiritual. O que é homem almático? Coríntios um
lhe fala tudo isso. O homem que está tratando
das coisas espirituais com a sabedoria natural,
este é o homem almático. O homem que é
influenciado e movido por seus gostos e
desgostos naturais, pelas suas preferências, por
suas simpatias e antipatias – Paulo, Apolo,
Pedro – este é o homem almático. Mas em oposição
a ele está o homem espiritual. O homem que não é
movido primariamente por sua razão humana, mas
que olha para o Senhor, o Espírito, para a sua
compreensão das coisas do Senhor. O homem
espiritual nunca é influenciado, ou governado,
por suas próprias preferências quanto a pessoas,
ou ensinos, ou outra coisa qualquer. Ele é
influenciado por aquilo que o Senhor gosta. Ele
não diz: Prefiro este homem a aquele, esta linha
de ensino a aquela. Ele diz: Tem Paulo alguma
coisa de Cristo? Bem, eu terei tudo, é Cristo
que eu quero. Nunca me importo pelo tipo de
vaso, é Cristo que eu quero.
Não há divisões no homem espiritual, não há
preferências. Ele pode saber secretamente o que
naturalmente ele gostaria, mas não permite que
essas coisas venham prejudicar a sua mente ou de
alguma forma afetar o seu relacionamento. O
homem espiritual não recorre à lei contra um
irmão para brigar por seus próprios direitos. O
homem espiritual não é culpado por fornicação. O
homem espiritual não traz desordem para a Casa
de Deus; é o homem almático que faz isto. Como
vê, você tem uma exposição clara com toda a
carta do significado do natural e espiritual.
Como Paulo venceu em Corinto. Você entende onde
estou querendo chegar?
Isto me traz diretamente de volta para o meu
inicio. Que tipo de edifício é adequado à divina
fundação? Bem, vimos como Paulo enfrentou o seu
problema. Oh, magnífico exemplo de como
enfrentar um problema espiritual. Eu não estou
desejando enfrentar um problema como aquele em
uma assembléia. Deus me livre que isso aconteça,
mas vejo aqui o exemplo mais magnífico de como
uma situação humanamente impossível é
enfrentada, lidada, com triunfo. Estou tão feliz
que Paulo tenha vencido. Leia a segunda carta e
você irá ver que ele venceu, ele está no topo, e
eles estão lá com ele. Tudo estava numa situação
de suspense, no que se referia ao ministério,
nesta primeira carta. A segunda carta é a carta
do ministério. “Pelo que, tendo recebido este
ministério segundo a misericórdia que nos foi
dada, não desfalecemos; mas rejeitamos as coisas
que por vergonha se ocultam, não andando com
astúcia, nem falsificando a Palavra de Deus; e
assim nos recomendamos à consciência de todo
homem, na presença de Deus, pela manifestação da
verdade. Então, um maravilhoso capítulo sobre a
tristeza que segundo Deus conduz ao
arrependimento, e qual o fruto desse
arrependimento.
Mas Paulo venceu, este é o ponto; resolveu o
problema em todos os aspectos. Como ele fez
isto? Abra no capítulo um novamente. Vejo Paulo
aí com todo este problema espalhado diante dele.
Sim, oprimido, preocupado, orando, dizendo:
Senhor, este é um problema terrível, somente Tu
pode resolvê-lo, mas algo precisa ser feito,
isto não Te glorifica. Dá-me a chave para a
situação, coloque na minha mão a chave para toda
essa situação. E, enquanto buscava o Senhor,
brilhou dentro dele, e talvez tenha gritado:
Encontrei, e sentou para escrever. Capítulo um,
sublinhe cada referência ao Senhor Jesus e você
terá dezessete marcas de lápis em trinta e um
versículos, uma media de mais de um para cada
dois versículos. Resuma tudo na grande
declaração: “Porque nada me dispus a saber entre
vós, a não ser a Jesus Cristo, e este
crucificado”. “Pois ninguém pode por outro
fundamento além do que já está posto, que é
Jesus Cristo”. Qual é a solução? Dar ao Senhor
Jesus o Seu pleno e correto lugar! Coloque o
Senhor Jesus em Seu lugar como absoluto Senhor
no coração, na vida, na assembléia, e todas
essas aves imundas irão se dissipar diante da
luz. Se o Senhor Jesus é dominante em nossos
corações, as divisões irão embora. O que
precisamos para todas as nossas divisões, nossa
falta de amor, nossos ismos, nossos gostos e
desgostos, é a plenitude de Cristo. Cristo como
Senhor, como Mestre, Cristo reinando. E, do
mesmo modo que as criaturas malignas das trevas
fogem quando chega a luz, assim também irá
acontecer com as divisões, ismos, e todo esse
tipo de coisa, quando Cristo vier para o Seu
lugar. Isto é a cura para todas as coisas.
Se o fundamento precisa ser justificado, então
deve ser justificado numa estrutura segundo a
sua própria natureza. Cristo na raiz, e Cristo
no tronco, nos galhos, no fruto. Tudo é Cristo.
Temos algo no qual precisamos pensar. “Se os
fundamentos forem destruídos, o que poderá fazer
o justo?” Destruídos neste sentido, que foram
feitos vazios pelo que está sendo colocado sobre
eles. O que poderá fazer o justo? Bem, não há
nada a ser feito, a não ser uma coisa, porém
esta única coisa irá fazer todo o resto: isto é,
trazer o Senhor para o Seu lugar. Oh, Paulo deve
ter tido uma fé maravilhosa em Cristo,
enfrentando uma situação como aquela, amado.
Pegue cada fase disto e veja como você gostaria
de lidar com ela; e, então, pegue a coisa toda _
mais do que temos dado a você _ e veja que você
tem uma responsabilidade por esta situação, você
precisa de uma fé poderosa para crer que toda a
situação irá render frutos apenas se o Senhor
puder ser trazido para o Seu lugar.
Não há problema, dificuldade que não possa ser
resolvida pela entronização de Cristo. Todos os
problemas neste mundo, e de todas as nações,
serão resolvidos pela entronização de Cristo.
Não há outra solução, mas esta é a solução
segura. Deus tem sujeitado tudo a isto, que
todas as coisas serão estabelecidas quando Seu
Filho tiver Seu lugar. Porém, o julgamento deve
começar pela Casa de Deus; tem que começar
conosco. Tenho usado tudo isto por meio de
lustração. Pode ter uma aplicação para nós de
uma maneira ou de outra. Se é ou não desta
maneira cabe a nós determinarmos diante do
Senhor.
Se somos culpados por algumas dessas coisas em
espírito, em princípio, se não em ato. Se isto
não cabe para nós de alguma forma específica,
seguramente a grande verdade deva ajudar os
nossos corações. Como iremos nós enfrentar os
nossos problemas, seja dentro de nós mesmos,
seja fora, nas outras pessoas? Somente de uma
forma. Procurar ter o Senhor Jesus exaltado em
seu próprio coração, e no coração dos outros.
Trazê-Lo primeiro à vista e, então, com Ele em
vista, todas as outras coisas poderão ser
lidadas.
Eu apenas abordei um aspecto neste capítulo. Não
irei, além disto. Paulo disse: “Jesus Cristo, e
este crucificado”. Você irá ver do que o
fundamento é composto. Jesus Cristo como o
fundamento nesta carta inclui Cristo
crucificado, o significado de Sua morte para
nós: Cristo Ressurreto, Cristo exaltado na
posição de líder supremo. Essas três coisas
compõem o fundamento. Quando soubermos o que
significa a morte de Cristo, no que diz respeito
a nós, Cristo crucificado; que nós morremos
quando Cristo morreu, como, então, poderemos
ainda ficar com o homem natural, com o homem
carnal? Ele se foi. Quando soubermos o que é
estar ressuscitado com Cristo, isto é, vivos
para Deus, somente para Deus; para mais nenhum
outro ser ou interesse, e certamente não para
nós mesmos, somente para Deus. Quando soubermos
que o governo absoluto do Senhor Jesus significa
nos trazer para o Seu governo, como ainda
poderemos dizer: Eu sou de Paulo, de Apolo, ou
de Pedro? Eles não podem aparecer aí se Cristo
for tudo em todos. Você encontra estas três
coisas correndo através desta carta. O Espírito
fala a você do Cristo crucificado, ressuscitado
e exaltado. Este é o fundamento e a estrutura
que deve estar de acordo com isto. Que a Palavra
nos leve para a glória em Cristo, pois é aí onde
o capítulo um termina: “Aquele que se Gloria,
glorie-se no Senhor”.
Capítulo 3 – Por que os fundamentos devem estar
postos corretamente?
Ler: Salmo 11:3; Efésios 4:7,8,11-16.
Nós, agora, iremos prosseguir com mais um
aspecto da importante questão dos fundamentos.
Naquele salmo décimo primeiro, de onde iniciamos
a nossa meditação, há um aspecto que é comum à
matéria toda sobre fundamentos e edificação na
Palavra de Deus. Quando consideramos aquele
salmo mais completamente, você irá se lembrar de
que Davi estava, na ocasião em que escrevia esse
salmo, no meio de grande traição, oposição e
antagonismo. Os ímpios estavam puxando os seus
arcos nas trevas, debaixo de uma cobertura, a
fim de atirar nos justos, e, no meio desta
hostilidade, o salmista se refere aos
fundamentos, e diz: “Jeová está no seu santo
templo”; de modo que você tem duas coisas que
constituem o todo, isto é, a edificação e a
batalha. O templo, os fundamentos, o adversário
e a atmosfera de conflito. Você irá descobrir
que, por toda a Palavra de Deus, essas duas
coisas estão sempre juntas.
Se for Neemias edificando o muro de Jerusalém, a
espada e a colher do pedreiro são encontradas
juntas; a edificação e a batalha estão juntas.
Se for a edificação do templo de Salomão, Davi
teve que sujeitar todos os inimigos dos
arredores, para tornar possível aquela
edificação. A edificação não foi possível até
que a batalha tivesse realizado a sua obra.
Quando você entra na interpretação espiritual
das ilustrações do Velho Testamento, descobre
que essas coisas estão sempre juntas. Sempre que
você tiver a ver com a edificação, também terá a
ver com a batalha.
Quando olhamos para a primeira carta aos
coríntios, certamente há lá um evidente exemplo
desta verdade. A edificação nesta carta está
lado a lado com uma tremenda batalha. A batalha
está associada com a edificação. Agora, quando
você chega à carta aos Efésios, você vê
novamente a mesma coisa. Aqui está a Casa, “a
habitação de Deus através do Espírito”, aqui
está a igreja que é o corpo de Cristo, e aqui há
muita coisa dita sobre a edificação do corpo;
mas você irá descobrir nesta carta que tudo isto
está diante do inimigo, dos principados e
potestades, dos dominadores deste mundo
tenebroso. A edificação prossegue na batalha, no
conflito, e este quarto capítulo contém em si
aqueles elementos.
Se você estivesse lendo ponderadamente esses
versos neste momento, estaria discernindo que o
apóstolo, naquilo que se refere à edificação do
corpo e tudo mais, estava enfrentando
antagonismos, riscos, perigos, oposição
espiritual. Que negócio é este de truque e
astúcia do engano, ventos de doutrina, ondas de
falsidade? Esses são os elementos da batalha, do
conflito, essas são as forças que se opõem à
igreja, ao corpo de Cristo. Essas são as coisas
com as quais o crescimento, o aperfeiçoamento, a
consumação do propósito de Deus na igreja estão
associados, e com os quais este progresso tem
que contender. E o apóstolo está dizendo que o
importante aqui é que os santos devem estar bem
fundamentados; bem estabelecidos, e
estabelecidos em plenitude, onde cada um deles
seja um membro responsável, um membro confiável
do corpo de Cristo. Esta é a força de todo este
parágrafo.
Por que os fundamentos devem estar bem
colocados?
Agora, então, vamos imediatamente trazer diante
de nós o fim, o objetivo, e depois, veremos o
que se segue em direção a realização deste
objetivo. Qual é o objetivo aqui? É que cada
membro do corpo de Cristo seja um membro
operante, responsável, efetivo, que esteja numa
posição onde seja capaz, com a capacidade de
Cristo, de se manter contra os enganos, a
astúcia e a falsidade do maligno, os ventos do
erro. Mas, amado, certamente você e eu estamos
cônscios nestes dias da necessidade de cada
membro de Cristo estar nesta posição. As
condições com as quais o apóstolo Paulo
contendia naquele tempo são condições que
abundam hoje, tanto quanto antes. Naturalmente,
a coisa entrou nos dias de Paulo através dos
gnósticos, pessoas que afirmavam ter sabedoria,
estarem na possessão de conhecimento. Sobre
gnósticos, que afirmavam ter conhecimento e
sabedoria religiosa, Paulo disse que o
gnosticismo deles operava naqueles dias:
astúcia, ardil, ventos e ondas de erro, falsa
doutrina, falso ensino.
Seja quem forem as pessoas que correspondem aos
gnósticos hoje, o gnosticismo está muito
difundido. Isto é, há ondas e ventos do erro
varrendo toda a terra, e é tão sutil que nenhuma
mente natural pode perceber, nenhum julgamento
ou juízo ordinário pode detectar o vício, o
erro. Está tão enrustido em formas bíblicas e
fraseologias escriturísticas que os infantis, as
crianças de quem Paulo fala serão facilmente
carregados, aqueles que são espiritualmente
crianças num sentido errado. Não é errado ser
uma criança de Deus, ser um bebê recém-nascido,
porém é errado ser uma criança quando você deve
ser um homem, e é sobre isto que o apóstolo está
falando.
Diante dessas coisas, e na expectação assegurada
pela Palavra de Deus de que essas coisas irão
aumentar, irão se desenvolver e se tornar mais
sutis, com os próprios milagres que os
acompanharão, a necessidade que o apóstolo viu
então, e que nos é tornada clara através da
Palavra do Espírito por meio dele, é que cada
membro de Cristo deve ter os seus fundamentos
bem colocados, e deve estar arraigado e fundado,
de modo a não serem levados ao redor. O
ministério que se necessita hoje é um ministério
neste sentido. Dê atenção a esta palavra, você
irá precisar dela. Se você ainda não fez isto,
não irá demorar muito até ser confrontado com
algumas dessas astúcias do erro, este artifício
do falso ensino, essas ondas e esses ventos de
doutrina, e, a menos que você esteja firmado e
estabelecido, será levado ao redor, irá perder
seu ponto de apoio e será arrastado.
Agora, com a consciência de uma situação tão
séria e solene, esta palavra é, creio eu, dada a
nós pelo Senhor, e devemos guardá-la no coração.
Cada membro de Cristo, sem exceção, deve ser um
membro responsável, inteligente, efetivo, e, se
isto não for verdade de algum membro, o mesmo
está numa posição perigosa. Mas você não ficará
surpreso de que a vinda desses ventos e dessas
ondas carregue multidões de cristãos. Mais cedo
ou mais tarde eles estarão numa pior e não vão
saber onde estão, porque, apesar de terem o Novo
Testamento, apesar de terem a carta aos Efésios,
que por si só é suficiente para este propósito,
muitos dos filhos do Senhor não estão ensinados,
instruídos e firmados em Cristo, a fim de que
possam discernir, compreender, julgar, e
permanecer firme no dia mal.
Os santos como edificadores
Agora, então, vamos olhar um pouco mais de perto
para esta passagem da Palavra. “Ele deu dons aos
homens”, isto é, “Ele deu uns para apóstolos”.
Ele deu apóstolos aos homens. “…outros para
profetas”. Ele deu profetas aos homens. “outros
como evangelistas, outros como pastores e
mestres”. Esses são os dons que Ele deu aos
homens. “homens” aqui, naturalmente, representa
a companhia toda dos eleitos. Os evangelistas
para trazer os eleitos, e os outros têm a ver
principalmente com as pessoas que são trazidas.
De modo que é a igreja, o corpo de Cristo, que
está em vista, e é em relação à igreja como
corpo de Cristo que esses dons foram dados pelo
Senhor em Sua ascensão. Esses são os dons – mas
observe, eles são dados para um propósito
expresso, e com um objetivo específico. Eles
foram dados para “o aperfeiçoamento dos santos,
para a obra do ministério, para a edificação do
corpo de Cristo, até que todos cheguemos à
unidade da fé...” Não interrompa aqui com uma
pontuação. Não deve haver pontuação. “para o
aperfeiçoamento dos santos, para a obra do
ministério”, como se a obra do ministério aqui
se referisse aos apóstolos, profetas, pastores,
mestres e evangelistas. Não se refere a eles. A
obra do ministério aqui se refere aos santos, na
medida em que são aperfeiçoados pelos apóstolos,
profetas, evangelistas, pastores e mestres.
A obra desses dons é fazer com que os santos
estejam em posição de ministrar, e é somente
quando estão nessa posição de ministrar (isto é
o que eu quero dizer por funcionar) que estão
seguros. Não é somente os apóstolos, profetas,
evangelistas, pastores e mestres que estão no
ministério, são todos os santos que são chamados
para estar no ministério. Todos os santos, cada
membro do corpo de Cristo é um ministro, de
acordo com o propósito divino. E é somente
quando eles estão nesta posição de ministrar,
num estado que os qualifique a ministrar, que a
igreja está segura. Os ministérios podem ser tão
variados, quanto numerosos forem os membros do
corpo de Cristo.
Sejamos bem claros em nossos termos. Veja a
palavra “aperfeiçoamento”. Você pode dizer: Bem,
naturalmente, se estivéssemos aperfeiçoados,
poderíamos ministrar. Certamente este é um longo
caminho a seguir, isto é algo em direção ao qual
temos que nos mover, a que temos que chegar.
Porém a palavra aperfeiçoamento aí não tem este
sentido. Muito freqüentemente esta palavra é
usada como um termo médico, e, uma tradução mais
literal seria “consertar”, para o concerto dos
santos. Se você tem um acidente e quebra algum
membro do corpo, e é levado para um hospital,
você é consertado, e este é exatamente o que
esta palavra quer dizer. Concertar os santos,
fazê-los completos. Outras vezes a palavra é
usada como o mobiliar uma casa. Você não
gostaria de morar numa casa desmobiliada.
Precisamos mobiliá-la antes de podermos viver
nela. A palavra é usada em Mateus em relação às
redes, quando o Senhor viu certos homens
remendando as suas redes. Esta é a mesma
palavra. Havia buracos em suas redes, e elas
tinham que ser colocadas em boas condições, para
que ficassem inteiras, adequadas ao uso.
Elas podiam não ser as redes mais perfeitas que
você pudesse encontrar, mas eram redes inteiras,
completas. E o que o apóstolo está mostrando
aqui é exatamente isto. Não um estado de divina
perfeição em nós, mas um estado de completude em
Cristo. “ Para o aperfeiçoamento dos santos para
a obra do ministério”. O remendar das redes era
de alguma esperança para se apanhar peixes. O
problema de muitas pessoas, e a razão do por que
tantos são levados ao redor pelos ventos de
doutrina é que existem brechas, falhas em sua
compreensão sobre Cristo, em seu conhecimento de
Cristo, em sua compreensão da verdade; brechas,
rupturas, aberturas através das quais o erro
entra, e elas precisam ser ‘consertadas’. E
esses dons são dados exatamente para ‘consertar’
os santos, para que possam cumprir o ministério.
É tão diferente da ordem tradicional a que
estamos acostumados, de que o ministério é algo
que nos colocamos debaixo tantas vezes por
semana, de um púlpito ou de uma plataforma. E,
tendo nos colocado debaixo do ministério, e até
apreciado, ou suportado, que isto é tudo, em
relação a nós; temos feito o que nos é
incumbido, temos cumprido o nosso dever, “nos
colocamos debaixo do ministério”. Isto não é
ministério, absolutamente. O ministério é o
resultado em nosso funcionamento prático daquilo
que o pastor, o mestre, ou o evangelista faz, é
aquilo que fazemos como conseqüência. Isto é
ministério: o exercício resultante no coração de
cada membro de Cristo. Se realmente
entendêssemos que deveríamos estar bem lá na
frente, certamente estaríamos mais adiantados do
que estamos. Apenas imagine onde estaríamos se
este tivesse sido sempre o caso. Os
evangelistas, profetas, pastores, mestres,
teriam cumprido suas funções em nosso meio e nós
teríamos partido, chegado diante do Senhor e
dito: Senhor, isto agora tem que ser trabalhado
em mim, vou me apropriar dele, e trabalhar
movido por ele.
Vamos supor que tivéssemos feito isso com cada
mensagem que já recebemos. Você não acha que a
igreja estaria solidamente mais estabelecida?
Uma história muito diferente teria sido escrita
ante os enganos do maligno e das astutas
artimanhas, se este tivesse sido o caso. Nós não
iremos olhar muito para o exterior, olharemos
para dentro de nossos corações, e diremos: Isto
é para mim. Temos que olhar para dentro de
nossos corações e dizer: Qual é o resultado
prático e qual é o valor permanente em minha
vida como um membro efetivo de Cristo deste
ministério a que tenho ouvido, desta obra dos
dons do Senhor, o apóstolo, profeta, pastor,
mestre, evangelista. Onde eu me encaixo como
fruto disso? Tenho eu ouvido, me referido a isto
como ministério, mas o deixado de lado, fazendo
com que eles (os apóstolos,...) continuem com
seus ministérios? Ou sou eu um fruto, um
ministro de Cristo? Esta é uma questão
importante, não é? Oh, para a força no povo de
Deus, na igreja que é o Seu corpo, que seria o
resultado certo de nossa compreensão da Palavra
do Senhor. Necessitamos urgentemente desta força
hoje, desta segurança, deste estabelecimento.
A responsabilidade individual na edificação
Agora observe: “Para o aperfeiçoamento dos
santos para a obra do ministério, para a
edificação do corpo de Cristo”. Então a obra do
ministério, que é a obra de cada membro de
Cristo, visa a edificação do corpo de Cristo.
Agora vamos testar isto ao inverso. Quanto você
e eu estamos contribuindo para a edificação do
corpo de Cristo? Quanto estamos funcionando para
este resultado, a edificação do corpo? Este é o
nosso negócio, cada um de nós. Este é o nosso
ministério. Você está preparado para aceitar
esta responsabilidade, para assumi-la, pela
graça de Deus, esta obra em seu coração, não ser
um partidário, um seguidor, um passageiro, um
freqüentador, mas um membro vivo, efetivo, cuja
existência no corpo de Cristo signifique a sua
edificação?
Mais tarde você observa que o apóstolo põe o seu
dedo nesta questão de forma específica. Ele diz:
“para que pelo auxílio de todas as juntas,
segundo a justa operação de cada parte, faz o
aumento do corpo, para a sua edificação em
amor” Pelo auxílio de cada parte, resultando na
edificação do corpo em amor. Paulo tem o corpo
físico como analogia. O quanto ele conhecia
sobre o corpo físico como nós o conhecemos hoje
eu não sei, mas o Espírito Santo conhece tudo
sobre o corpo, e quando você se lembra daqueles
diminutos organismos do corpo humano, as
células, e como o crescimento de todo o corpo
físico depende do funcionamento de cada uma
delas, e o corpo somente é edificado, aumentado
se cada célula funcionar e desempenhar a sua
função, você tem uma maravilhosa, perfeita e
verdadeira ilustração de como o corpo espiritual
de Cristo é edificado e aumentado.
Você diz: “Eu sou apenas uma pequenina parte,
não conto”. Bem, experimente contar as células
do seu corpo, quantas células você pode agrupar
numa polegada quadrada de seu corpo físico? —
quase incontável. Em sua mente você pode se
achar como uma delas, perdidas na multidão,
porém há uma grande responsabilidade por todo o
corpo pesando sobre você. O ponto é o seguinte:
não é o quão grande você é, mas se você está
contribuindo com a sua medida. Pelo auxílio de
todas as partes. O sentido é que cada parte deve
contribuir com a sua medida, visando a
edificação do corpo de Cristo. Esta é a nossa
função e o nosso ministério.
Oh, amado, temos que encarar isto como uma ordem
de serviço, e sair, considerando-nos como
estando no ministério, sendo responsáveis por
todo o corpo de Cristo, conforme a nossa medida.
Nós não conseguimos compreender isto; nunca
iremos entender; estamos diante de um mistério.
Quem pode entender completamente o corpo
físico? Há mistérios que nunca foram
entendidos, e eu duvido que o serão no futuro.
Freqüentemente temos ilustrado o mistério do
corpo humano desta forma, que o discurso de um
Demóstenes deve ser fruto de um Demóstenes em
seu café da manhã. Você já leu alguns desses
discursos que influenciaram multidões, forçando
os homens a fazerem o que não tinham intenção de
fazer, é o poder do raciocínio e da linguagem
humana. Se o orador tivesse parado de comer, ele
teria parado de fazer seus discursos, e,
portanto, suas orações seriam de alguma maneira
fruto de sua comida, mas como você transforma
bacon e ovos em orações eu não sei. Mas é
verdade! Você entende o que eu quero dizer.
É como você e eu, sendo os átomos que somos, as
células que podem ser tão pequenas para serem
reconhecidas, mas que podem afetar todo o corpo
de Cristo para o bem ou para o mal eu também não
sei, mas é assim. É uma verdade absoluta na
Palavra de Deus: “E se um membro padece, todos
os demais padecem; e se um membro se alegra,
todos os demais se alegram”. E, se você e eu não
estamos contribuindo com a nossa medida, então
todo o corpo está sofrendo, está fraco. Aqui,
então, está a chamada, o desafio, para que cada
membro de Cristo seja um membro operante,
inteligente e responsável, cumprindo o seu
ministério.
Sim, mas há algo mais, “…até que todos cheguemos
à unidade da fé...” Bem, agora temos o nosso
dedo sobre algo que é realmente vital. Estamos
muito preocupados com a unidade. Nós oramos por
ela, nos agonizamos pela falta de sua
manifestação, nós a desejamos. Mas como ela
virá? Qual é o princípio da chegada à unidade da
fé? Cada membro cumprindo o seu ministério,
sendo um membro que funciona. Qual é a causa da
discórdia, da divisão, das ‘cismas’? Bem, olhe
novamente para a primeira carta aos coríntios:
“E eu, irmãos, não vos pude falar como a
espirituais, mas como a carnais, como
criancinhas em Cristo… pois ainda sois carnais,
pois havendo entre vós invejas, contendas, não
sois porventura carnais, e não andais segundo os
homens? Pois quando um diz: Eu sou de Paulo, e
outro: Eu sou de Apolo, não sois carnais?” Há
divisões entre vós, fruto de vossa carnalidade,
e carnalidade significa imaturidade espiritual,
e não unidade de fé.
Quando alguém entra em pleno funcionamento isto
passa a ser um poderoso fator para se trazer a
unidade da fé. O inimigo procura dividir o
corpo de Cristo sobre a terra em tantos
fragmentos quanto possa. Como ele faz isso?
Basicamente por meio da ignorância do povo do
Senhor. Geralmente por meio de seu crescimento
espiritual retardado, e também porque os crentes
estão num estado passivo, ao invés de estarem
num estado espiritual ativo. Você irá descobrir
que essas coisas estão por trás de muitas das
atividades do inimigo ao longo da linha da
cisma. A unidade da fé, diz a Palavra muito
claramente, se dá através de cada membro
funcionando, dando a sua contribuição de forma
viva para o todo.
Certa ocasião uns homens foram até Moisés se
queixar de que havia algumas pessoas no arraial
que estavam profetizando, e esses homens achavam
que aquilo era um movimento sectário, ou uma
divisão, ou algo parecido, achavam que era uma
ruptura na comunidade, porém Moises disse:
“Oxalá todo povo do Senhor fosse profeta”. A
linha positiva é melhor. Quando alguns estão
cumprindo o ministério e outros não, fica
impossível chegar à unidade da fé. Todos nós
estamos engajados no negócio.
Então, novamente: “…e do conhecimento do Filho
de Deus.” O grego aí é literalmente: “ao pleno
conhecimento do Filho de Deus …até a estatura de
varão perfeito, até a estatura da plenitude de
Cristo”. Tudo isto está associado à vida ativa
de todos os membros de Cristo. Não iremos nos
delongar aqui, em seus fragmentos, mas leia
novamente o texto de forma mais cuidadosa.
O apóstolo tem em vista o seguinte: “para que
não sejamos mais meninos inconstantes, levados
ao redor por todo vento de doutrina, pela
astúcia dos homens que enganam fraudulosamente,
pelo espírito do erro”. Se apenas pudéssemos
examinar a linguagem do apóstolo, isto traria
muita luz a este assunto: “pela astúcia dos
homens”. Literalmente, engano, mas as palavras
gregas fazem referência ao lançar dos dados de
modo fraudulento, é algo como tirar vantagem, um
engano, e é isto que está aqui na linguagem. A
astúcia do erro. É um lançar de dados de forma
arranjada, de modo que venha a beneficiar
somente a pessoa que os está usando. Este erro
que anda ao redor é para defraudar os santos de
sua superioridade em Cristo, para defraudá-los
de sua posição. Não é este o efeito do erro
durante toda a caminhada?
Sim, os crentes que são levados ao redor, para
que não despertem para o fato de que têm sido
eles enganados da realidade por meio de uma
fraude, esses crentes têm perdido o alimento por
meio de algo que aparentou ser para eles um
lucro. As palavras “pela astúcia” são muito
ricas. Paulo usa a palavra aqui que é “em cada
feito, ou em cada obra, em cada velhacaria”.
Cada feito deles contém algo de astúcia sutil.
Astúcia sutil do maligno em sua falsa doutrina.
A coisa parece direita, totalmente boa, em
conformidade com a Palavra, mas há algo
escondido nele, um truque, um laço.
O povo do Senhor precisa se conscientizar disto,
e é somente quando estamos em plena força,
ativos, positivos em nossa vida espiritual que
alcançamos uma posição onde as nossas faculdades
fiquem exercitadas, a fim de podermos discernir
entre o bem e o mal, discernir o truque. Que
algo tremendo seria se cada filho de Deus
pudesse, em razão do tempo, estar nessa posição,
ser capaz de enxergar esses enganos, esses
ventos da falsa doutrina, de enxergar o erro,
de enxergar onde está a falha, o truque, e estar
em posição de alertar com aqueles que são
crianças no sentido correto, que ainda não estão
no tempo da maturidade; ser um guarda para eles.
Esses fundamentos são muito importantes.
Tudo isso é obra de fundação, e devemos, sem
esgotar tudo que está nesses versos, apenas
deixar que a ênfase principal do apóstolo nos
envolva. Embora tudo pareça ter sido dito,
contudo muito ainda devemos acrescentar a ele, é
isso, que você e eu, cada um de nós sem exceção,
possamos nos lançar e nos mover com o Senhor
numa forma ativa e positiva, para que a nossa
vida e faculdades sejam desenvolvidas, e
alcancem a maturidade, onde não importa quais
enganos haja, que as ondas varram como um
tornado, ou mesmo como brisas sobre a terra,
nós jamais nos moveremos, jamais seremos
levados, estamos conscientes das armadilhas
secretas, e ficamos firmes. Estamos numa
batalha. A edificação é a nossa batalha. Não há
nenhum campo em que a batalha seja mais real,
mais furiosa, mais cruel do que o campo do
aperfeiçoamento dos santos, o campo da
edificação do corpo de Cristo.
Este é o porquê desta carta excepcionalmente
trazer todas aquelas coisas juntas. Por um lado
há a igreja, o Seu corpo, a ser edificada e
aperfeiçoada, de outro lado há a furiosa e a
sutil obra do inimigo. O inimigo procura enganar
os santos, destruir a igreja, e a única maneira
em que ele pode ser derrotado é você e eu nos
movermos para a plenitude de Cristo, seguirmos
de modo ativo, não ficando satisfeitos apenas
por estarmos salvos, recebermos toda plenitude
que é possível em Cristo. Com todos os santos na
comunidade até que cheguemos à estatura da
plenitude de Cristo. O Senhor imprima a Sua
Palavra em nossos corações.
Capítulo 4 – Um novo começo
Ler: Hebreus 5:11-14; 6:1-3.
Esta porção, que poderia ser acompanhada por
mais uma grande quantidade vinda das cartas aos
Romanos, Coríntios, Efésios, Colossenses e das
cartas de Pedro, traz algo muito fundamental em
vista. Fundamental porque, neste caso, está
endereçada a muitos religiosos, e aqueles que
herdaram todo este sistema que o próprio Deus
produziu. Ela traz em vista o fato de que com
Cristo, e de que com um verdadeiro
relacionamento com Cristo, algo novo se inicia.
Tudo mais, não importa o que seja, chega ao fim.
Ela deixa claro o que Paulo gostava de dizer,
que com a morte de Cristo tudo acabou, tudo!
Religiosamente a coisa central, em relação à
velha ordem, em tipo, era o véu do templo; tudo
se encontrava naquele véu.
Com a morte de Cristo, o véu se rasgou de alto a
baixo pelas mãos de Deus. A velha ordem foi
golpeada em seu âmago. A morte do Senhor Jesus
realmente traz um fim a todas as coisas -
religiosamente – da velha ordem, do velho
sistema, da velha criação. A ressurreição do
Senhor Jesus foi Deus começando tudo novamente,
a partir do zero. E nenhum fragmento ou fração
da velha criação foi levada para a nova.
Ressurreição e não elevação
Penso que um bom número de pessoas tem a idéia,
mesmo que não numa forma expressa e positiva, de
que se tornar um crente, um filho de Deus, um
cristão, é chegar a certo ponto de sua história
onde você, metaforicamente falando, sobe para
uma plataforma mais alta e prossegue. Está na
natureza de continuidade da vida, num andar
superior. Isto é, que agora você tem interesses
religiosos, interesses cristãos, que não tinha
antes, e que suas atividades e energias são
direcionadas ao longo da linha em relação a
Cristo, o que não acontecia antes.
Você simplesmente continua agora num diferente
nível de vida, e, assim, eles confundem
ressurreição com elevação, e elevação com
ressurreição. Agora, é tremendamente importante
(e eu não me preocupo em ser tão elementar) que
pudéssemos reconhecer que, quando nos tornamos
filhos de Deus, chegamos à posição onde não
temos subido para um pavimento superior, como
num elevador, mas sim temos caído numa
sepultura, havendo sido enterrados, e, em
relação a Deus, nunca mais seremos vistos como
éramos anteriormente. Você diz: Aqui estamos, é
o mesmo velho EU de sempre, o mesmo velho EGO, a
mesma velha personalidade. Isto pode ser assim
do seu ponto de vista, mas não do ponto de vista
de Deus!
O que você e eu temos que fazer é aceitar o
ponto de vista de Deus. Isto é o que Paulo quer
dizer com: “considerai-vos como mortos...”. Isto
é, aceitar o ponto de vista de Deus. Uma vez que
você tenha aceitado isto de modo inteligente e
deliberadamente, você está destinado a conhecer
de forma contínua e progressiva que o ponto de
vista de Deus é real. Isto é, que Deus considera
você como morto, e de fato reconhece você como
morto, e Ele não quer ter nada a ver com você
naquele velho nível; e, quando você traz alguma
coisa do natural, você tem um tempo
desfavorável, e descobre que Deus está contra
você. Você entra nessas crises e diz: Qual é o
problema, Senhor? E o Senhor diz: Isto foi
descartado no início! Você entende que trata-se
de um aceitar de uma vez por todas o ponto de
vista de Deus, e descobre que não é uma teoria,
nem uma doutrina, mas uma realidade.
Quando você morreu?
Consegui um pequeno livro esta semana. O título
na capa me chocou. Provavelmente muitos de
vocês o conheçam. “Quando você morreu?” Eu
apenas vi algumas palavras dele, e o escritor
diz: “Uma estranha questão para perguntar a
alguém”, e, então, um pouco mais adiante e ele
diz: “Você morreu muito tempo atrás, quando o
Senhor Jesus morreu na cruz.” Eu sei,
naturalmente, o que ele terá que dizer sobre
isto, eu sei o que se seguirá, mas esta é a
verdade que o Senhor exige que nós aceitemos.
O ponto de vista do Senhor é que você e eu
morremos antes de termos nascidos, antes que
entrássemos literalmente neste mundo. Em relação
à velha criação, nós morremos, morremos com
Cristo, e o Senhor não tem nada o que dizer para
nós, ou fazer conosco até que aceitemos esta
posição. A primeira palavra para qualquer homem
do ponto de vista do Senhor é “arrependa-se de
suas obras mortas”. Tudo está morto até que
você experimente a união com Cristo pela
ressurreição, não importa o que seja, religião
ou qualquer outra coisa. Tudo está morto até que
você experimente a união com Cristo na vida
ressurreta.
Esta é a posição de Deus, e a Cruz do Senhor
Jesus apresentada a todo homem ou mulher
representa, em relação a este homem ou mulher,
um absoluto fim, e, do outro lado, o início de
uma ordem completamente nova. Paulo chama a
diferente ordem: “…a novidade de espírito.” Esta
não é a novidade do Espírito Santo, mas é a
novidade do espírito, isto é, o nosso espírito
tornou-se algo novo, e é a partir disto que
tudo mais se desenvolve. Você pode ver isto em
seu próprio caso. Se já houve uma ilustração do
que significa novidade de espírito, Paulo foi o
tal. Por que, isto aconteceu rapidamente com
ele? Num dia ele está respirando ameaças e
massacres contra os membros de Cristo, com uma
determinação apaixonante de acabar com aqueles
cristãos, e, em poucas horas, ele está humilhado
perante uma pequena assembléia em Damasco, a
qual ele estava indo destruir, tomando suas
instruções para o resto de sua vida.
Esta é uma mudança de espírito, não é? Isto é
novidade de espírito. E você encontra esta
tremenda mudança manifestada em todos os tipos e
direções. Pense neste fariseu de fariseus em sua
atitude em direção aos “case” gentios, como ele
os chamava (todo que não fosse judeu era um
“cachorro” perante os olhos de um judeu). Veja
este homem em cujo próprio sangue isto estava,
agora colocando os gentios pelo menos em posição
igual a dos judeus, e pondo a sua vida em
contínuos sofrimentos para que esses gentios
pudessem desfrutar de Cristo. Algo tinha
acontecido no interior, um novo espírito!
Isto somente vem através da crise de uma morte
em um terreno e de uma ressurreição em outro;
algo que somente Deus pode fazer. E tudo que não
for desta novidade de espírito é da velha
criação, e significa a barreira intransponível
da Cruz do Senhor Jesus Cristo, sempre que isto
se levanta. Deixemos o nosso velho homem, seja
nosso mau temperamento, nossa velha maneira de
julgar, nossa velha disposição, deixemos tudo
isso ir para a cruz. Se somos filhos de Deus,
sabemos bem que naquele ponto uma barreira é
colocada e não podemos passar, estamos guardados
em nossa vida espiritual, e temos que voltar
atrás e ter a coisa colocada em ordem. É para
nós algo tão real quanto qualquer outra coisa
neste universo.
Naquele momento ficamos tranqüilos
espiritualmente, e a espada flamejante está
atravessada em nosso caminho. Não há caminho
para aquilo aqui. Traga aquilo aqui e você será
julgado. Você irá conhecer o julgamento de
Deus. Você será quebrado. Está vindo contra o
fato de que Deus acabou com tudo aquilo, e nós
temos que aceitar o ponto de vista de Deus.
Quando tivermos aceitado este fato, então a
coisa irá funcionar, ela sempre funciona.
Assumimos esta posição, aceitamos esta verdade.
Não podemos nós mesmos acabar com a velha
criação, mas dizemos de forma positiva: Eu
considero como Deus considera. Bem, então,
iremos descobrir, na medida em que
prosseguirmos, que Deus colocou tudo debaixo da
morte, e sempre que a coisa surgir, novamente a
sentença de morte é dada.
Se começamos a trabalhar para o Senhor com a
nossa própria força natural, encontraremos a
morte, e a nossa força ficará debaixo da morte.
Se começamos a usar o nosso velho julgamento nas
coisas de Deus, encontraremos a sentença e
chegaremos numa encruzilhada, incapazes de
prosseguir. Tudo que trouxermos do natural para
as coisas de Deus irá nos confrontar com _ não
uma nova questão _ mas com a velha questão, a
morte, que repousa sobre a velha criação. Na
medida em que nos movemos em novidade de vida,
em que trabalhamos pelo Espírito de Deus, em que
andamos no Espírito, a morte é abolida e ficamos
na vida, e podemos prosseguir e podemos chegar
ao destino, não importa o quanto possa haver de
deficiência e fraqueza em natureza, nós
conseguimos avançar, na medida em que caminhamos
no Espírito. “A lei do Espírito de vida em
Cristo Jesus me livrou da lei do pecado e da
morte”. Estamos livres!
Morte — O ponto de partida de Deus
Agora, isto é um terreno muito familiar para
muitos, contudo é algo que continuamente temos
que nos lembrar. É o fundamento. A menos que
tenhamos o fundamento muito bem colocado,
chegaremos a um obstáculo. Sabemos de muitos
filhos de Deus, que têm sido filhos de Deus por
anos, e muitos deles têm estado trabalhando para
o Senhor, mas que chegaram a um estado de
paralisação, estão presos. Por quê? Bem, em
certo sentido, de alguma forma, algo deles
mesmos, o velho EU ressurgiu, ficou em
evidência, atravessou no caminho. Pode ser algo
de suas velhas mentes, algo de suas velhas
vontades, algo de suas velhas afeições, desejos
e sentimentos. Eles, de alguma forma, estão em
seus próprios caminhos.
O que é necessário não é que eles devem morrer
novamente, mas que precisam aceitar a sua morte
em Cristo de uma vez por todas em relação a tudo
o que possa surgir, e ficar livre da lei do
pecado e da morte. “Arrepender-se das obras
mortas”. É exatamente isto que o apóstolo está
dizendo aos hebreus: Vocês estão estagnados.
Simplesmente pararam de caminhar. Vocês foram
tão longe, e agora chegaram a um ponto em que
por anos não se moveram nem um pouquinho daquela
posição. Vocês não podem se agarrar às velhas
bases, pois não irão atingir o crescimento
pleno. Vocês ainda não aceitaram de vez que
morreram quando Cristo morreu. Vocês acabaram
com todo o sistema e ordem da velha criação
quando vieram a Cristo. Cristo é o fim da lei e
da velha criação, e Ele é o início de tudo novo.
Não fiquem enfadado repetindo velhas verdades,
elas são importantes como fundamentos.
Nós estamos destinados, quer aceitemos ou não,
quer gostemos ou não, a descobrir que o
fundamento de Deus permanece. Isto é verdade, e
ninguém jamais irá alcançar o alvo em relação a
Deus e Suas coisas enquanto ainda estiver preso
à velha criação, enquanto estiver no nível da
velha criação.
Bem, agora, esta é uma posição assumida, e o que
as pessoas que estão sendo batizadas estão
fazendo é declarar de forma prática que aquela é
a posição que assumiram. O que elas vão
descobrir é que não têm apenas obedecido a uma
forma de doutrina, mas que entraram numa
situação muito viva e que a partir daí o Senhor
irá sustentar as implicações disso. Ele irá
dizer: Isto morreu, você não pode trazê-lo
junto, não o tire da sepultura, deixe lá. E elas
irão descobrir em todo o percurso que o Senhor
somente coloca o Seu dedo sobre coisas as quais
Ele reconhece como aniquiladas na morte de Seu
Filho. Porém, naturalmente, sempre que houver
aceitação da atitude e da posição do Senhor em
relação àquelas coisas no lado da morte, nós
conseguimos mais de Cristo e nos livramos de nós
mesmos.
Eu realmente desejo que você reconheça que cada
um de nós, do mais sábio ao mais tolo, como
julgamos, cada um de nós quando realmente vamos
a Cristo, temos que aprender tudo novamente. É
verdade que podemos possuir uma tremenda
quantidade de conhecimento e informação deste
mundo, e, contudo, o mais sábio, o mais rico em
conhecimento, ou em qualquer outra área, vindo a
Cristo tem que aprender o ABC das coisas
espirituais. As pessoas irão descobrir isso.
Tudo precisa ser aprendido desde a classe
infantil, desde o berço da vida espiritual. De
nada adianta virmos a Cristo achando que sabemos
alguma coisa. Não irá demorar muito até sabermos
que realmente não conhecemos nada.
O Senhor disse: “Quão dificilmente aqueles que
têm riquezas entrarão no reino de Deus!” Penso
que se Ele estivesse num outro mundo diferente
daquele que estava naquele tempo, se Ele
estivesse no mundo ocidental, Ele provavelmente
teria dito: Quão dificilmente aqueles que têm
conhecimento entrarão no reino. O conhecimento
jactancioso, a sabedoria, o intelecto do mundo
ocidental é a grande obstrução para o reino. Ela
não está preparada para aprender algo.
Quando Paulo foi para o mundo exterior ao dos
judeus, este foi o tipo de coisa que ele falava
o tempo todo, que a sabedoria deste mundo era o
grande impedimento. Com os judeus, era o ganho
na linha da riqueza; com os gentios, era o ganho
na linha do conhecimento; para os gentios, o
conhecimento era o impedimento, e tudo o que
pertence ao natural tem que ser colocado de
lado. É um obstáculo à nossa entrada no reino.
Quanto mais vivemos em comunhão com o Senhor,
mais descobrimos que nada sabemos. Um pedaço de
conhecimento que temos é que não conhecemos
nada, absolutamente, e nós ficamos desejando o
tempo todo obter algum conhecimento. Não há
nenhuma estrada real para o conhecimento
espiritual, nós temos que começar bem do início
e aprender as coisas do Senhor na medida em que
prosseguimos.
Quando começamos na condição de crianças
cristãs, nós até achamos que conhecemos alguma
coisa. Porém, naturalmente, esta é uma
insensatez da infância. Nós estamos aprendendo
tudo novamente. Com todo o conhecimento que
possamos ter naturalmente, se isto pudesse ser
considerado alguma coisa, porém nada conta aqui.
O conhecimento espiritual é algo diferente. Nós
temos começado tudo novamente, porém, quando
aceitamos aquela posição: Agora eu tenho tudo a
aprender, estou aberto e sedento para aprender,
eu não sei nada, então o Senhor pode ensinar.
Este é o orgulho de alguém que nunca aprende
tudo. O Senhor nos mostra o que significa
começar, qual é o significado da cruz em nosso
fim para o velho e o começo para o novo.
FIM
*A
tradução deste estudo foi feita voluntariamente por Valdinei N. da
Silva, que, por reconhecer a excelência do conteúdo, coloca o mesmo ao alcance da Igreja de
Cristo, para sua edificação. Peço aos irmãos que possuírem
conhecimentos mais aprofundados em tradução, que colaborem, enviando as
suas preciosas observações e retificações para:
valdineibr@gmail.com
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