A Glória de Deus

de T. Austin-Sparks

 

CAPÍTULO 1 – COMO VER A GLÓRIA DE DEUS

Ler: João 11.

Neste capítulo iremos apenas destacar dois versos.

"Jesus, porém, ao ouvir isto, disse: Esta enfermidade não é para a morte, mas para glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela" (verso 4).

"Respondeu-lhe Jesus: Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus? " (verso 40).

"Para a glória de Deus… verás a glória de Deus."

Você provavelmente sabe que os capítulos de 11 a 17 deste evangelho são capítulos de soma, de consumação, isto é, uma síntese de todas as coisas em finalidade, e o que resulta com grande claridade desta parte consumada do Evangelho é a prioridade que governou toda a vida, o ensino e a obra do Senhor Jesus. Parece que é isto que João tinha em mente quando escrevia, vez que ele colocou esta prioridade bem no início de seu Evangelho, trabalhou firmemente ao longo desta linha, e então apresentou tudo de forma plena e conclusiva no final. Embora o Senhor Jesus tivesse sido governado por esta prioridade por trinta anos ou mais, lá veio um ponto de crise em Sua vida ao qual Ele fez um completo ajuste de tudo baseado nesta única coisa que estamos chamando de ‘prioridade’, onde Ele determinou que tudo tinha que estar focado sobre isto, e que não deveria haver qualquer desvio em nenhum momento.

E qual era a Sua prioridade que abrangia todas as coisas?
Como dissemos, João colocou esta nota principal já no início quando começou a dizer: ”e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai”. (1:14). Isto é trazer o Pai imediatamente à vista, em questão de glória. Então João continuou escrevendo o Evangelho, como uma grande harmonia ou sinfonia afinado a esta nota principal, e durante todo o caminho ele se manteve fiel a isto: à glória de Deus.

E creio, caros amigos, que esta é a nota principal que o Senhor quer que eu aborde neste momento. Isto tem sido um encargo considerável para mim nestes dias.

O COMETIMENTO DO SENHOR JESUS PARA COM A GLÓRIA DE SEU PAI

Vamos nos voltar para o próprio Senhor Jesus nesta questão. Houve em Sua vida aquela hora do seu grande  compromisso, que aconteceu no seu batismo. Ele lá, então, comprometeu-se COMPLETAMENTE com a glória de Deus Pai.  Ele reuniu cada detalhe de sua vida a partir daquele momento e centralizou-o nisto, como se estivesse dizendo: ‘A partir deste momento não deve haver nenhum desvio deste motivo e objetivo. A glória de meu Pai irá governar tudo’. E foi desta maneira:

1. Em sua vida interior

Primeiramente, o cometimento estava em sua própria pessoa, em sua própria vida interior, em seu caminhar secreto com o Pai. Esta é a coisa mais impressionante quando você lê o Evangelho. Você descobre ao longo de todo o caminho que tudo procede de sua vida pessoal, de sua vida secreta com seu Pai.  "O Filho”, Ele disse, “nada pode fazer de si mesmo, mas o que Ele vê o Pai fazer” (5:19).  Linguagem misteriosa, mas aqueles que conhecem algo sobre vida no Espírito sabem o que isto significa.  "Pois o que Ele faz, o Filho faz de igual forma", e não de sua própria maneira, mas “da mesma maneira que o Pai". Quão meticuloso e quão exato! Seu compromisso em relação ao seu próprio relacionamento com Deus, seu Pai, significava que não havia nada Dele mesmo, mas somente aquilo que Ele conhecia em seu próprio coração, e de sua história secreta com Deus, aquilo que o Pai queria que Ele fizesse ou dissesse. O pano de fundo, a vida no santuário interior com o Pai era mantida intacta.

2. Em sua conduta

Quanto à sua conduta, Ele se comportava nesta base: “Como eu me comporto, como eu me conduzo, será completamente uma questão de como a coisa atinge a glória de meu Pai. A impressão que tenho das pessoas e o que elas vêem em mim, jamais deve encobrir por um instante sequer a glória de meu Pai, nem ocultá-la, ou escondê-la, ou afetá-la danosamente. Meu comportamento deve visar sempre à glória de meu Pai”. Era desta forma a conduta de Jesus, de sua caminhada. Você sabe, João fez uma nota especial da caminhada de Jesus, pois isto não era apenas um progresso externo. João disse: “Aquele que diz estar nele deve andar também como Ele andou" (1 João 2:6). Havia algo sobre seus próprios movimentos que era governado, e sua caminhada, seus movimentos, seu comportamento, eram sempre para a glória de seu Pai.

3. Em suas obras

Quanto às suas obras, nós já citamos: “O Filho não pode fazer coisa alguma de si mesmo, mas o que Ele vê o Pai fazer, assim o Filho faz igualmente”. E suas palavras: “A palavra que ouvis não é minha, mas do Pai que me enviou”.  (João 14:24).

4. Em seu tempo

Então, seu tempo para fazer as coisas. Freqüentemente lemos que Ele rejeitava as sugestões dos outros de que Ele devia fazer coisas em determinado momento. Quando algo parecia estar sendo cobrado Dele, quando as pessoas esperavam que Ele fizesse a coisa naquela mesma hora, Ele rejeitava: "A minha hora ainda não é chegada”. (João 2:4), mas Ele fazia bem rapidamente depois. Ele estava esperando, e em seu espírito Ele dizia: “Pai, é esta a tua hora?” Você sabe, caro amigo, você pode fazer uma coisa certa numa hora errada, e a coisa não funciona. Nós fazemos uma porção de coisas, e elas fracassam porque não é a hora certa.

Você se lembra do grande incidente na vida do apóstolo Paulo: “Eles queriam ir para Bitínia, mas o Espírito de Jesus não permitiu” (Atos 16:7). Eles foram “proibidos pelo Espírito Santo de pregar na Ásia” (Atos 16:6). Paulo foi advertido, pois aquela não era a hora. Mas eles acabaram indo para a Ásia e Bitínia posteriormente, no tempo de Deus, e, quando o tempo de Deus é observado as coisas são muito mais produtivas, pois você não desperdiça tempo.

Quando fazemos as coisas em nosso próprio tempo, realmente as estamos tirando do tempo de Deus, pois nada acontece até que Deus queira. É desta forma que Jesus trabalhava: ‘A minha hora ainda não é chegada’, e, então, a hora parecia chegar tão rapidamente, logo em seguida.

5. Em seu relacionamento familiar

Aqui está Ele, se movendo, falando, trabalhando, controlando o tempo, por sua comunhão com o Pai. Ele trouxe todas as coisas para este terreno. Ele trouxe a sua família para este terreno da glória de seu Pai. Alguns vieram a Ele, após ter Ele falado em uma casa, e disseram: “Tua mãe e teus irmãos está lá fora, e procuram falar-te" (Mateus 12:47). É um apelo natural. Pode ser um tipo de apelo sentimental muito correto, mas espere um instante. Ele responde: "Quem é minha mãe? E quem são meus irmãos? ...qualquer que fizer a vontade de meu Pai que está no céu, este é meu irmão, irmã e mãe.”  Ele coloca a coisa numa outra base. ‘Até onde meus relacionamentos familiares refletem a glória de Deus?’

6. Em sua atitude para com os homens

Ele era governado da mesma forma em sua atitude em relação aos homens. Em relação ao mundo religioso, Ele aprovava o que era sincero e externava a sua aprovação até onde podia. Um jovem se aproximou e lhe disse que guardava todos os mandamentos desde a sua infância, e Jesus "olhando para ele, amou-o" (Marcos 10:17-20). Ele não o condenou. Ele era simpático com os sinceros, porém, se trouxessem os hipócritas em sua presença, sua aprovação mudava para condenação! Não havia nada que trouxesse mais a sua indignação do que a hipocrisia na religião, porque era algo que roubava a glória de Deus.

7. Em seus julgamentos

Essas são as coisas que constituem a vida do Senhor Jesus, e, como você vê, a sua prioridade governava tudo e estava acima de tudo. Estava acima dos julgamentos naturais – nem sempre julgamentos pecaminosos ou malignos, mas apenas julgamentos naturais, quando sugestões eram dadas a Ele, quando tentavam persuadi-lo, e quando os homens projetavam as suas opiniões. Mas Ele conhecia a verdade: ‘Meus pensamentos não são os vossos pensamentos. Os meus caminhos não são os vossos caminhos. Há dois mundos. Eu vivo em um mundo e vocês noutro’. E assim, o seu interesse pela glória do Pai frequentemente colocava os julgamentos naturais de lado, buscando o julgamento do Pai sobre o assunto.

8.  Em seus sentimentos

Sentimentos naturais frequentemente tinham que ser colocados de lado. Ele os compreendia muito bem. Iremos chegar a isto neste capítulo 11 de João, com Lázaro e suas irmãs. Ele era muito compassivo e compreendia como eles estavam se sentindo. Ele verdadeiramente entrou na vida humana deles, porém, quando eles procuraram persuadi-lo e influenciá-lo a agir meramente na base dos sentimentos naturais, Ele rejeitava. Jesus permaneceu dois dias fora, e não se moveu até o quarto dia, quando, humanamente falando, era muito tarde. A tristeza tinha tomado conta. Jesus não era insensível, como mostra o capítulo, contudo, porque Ele tinha algo maior em vista, não podia ceder ao humano, aos sentimentos naturais. Ele tinha grandes princípios que O estavam governando.

9. Em seus interesses pessoais

Quanto aos seus interesses pessoais, naturais, Ele os rejeitava o tempo todo. Teria sido grande para os seus interesses pessoais ter aceitado a oferta do Diabo quanto aos reinos e a glória, porém, Ele repudiou a coisa toda. Em relação a sua cruz, poderia ter sido vantajoso para Ele se tivesse ouvido a Pedro quando disse: ‘Longe de Ti tal coisa´(Mateus 16:22). Mas Ele disse a Simão Pedro: ”Para traz de mim, Satanás!" Como você vê, os interesses pessoais devem ser postos de lado: Jesus não era governado por essas coisas, pois a sua motivação constante era a glória de seu Pai.

O QUE SIGNIFICA GLÓRIA?

Agora, antes que eu possa seguir um pouco mais adiante, devo fazê-lo retornar à definição da palavra ‘glória’. Pode ser que você já tenha me ouvido dar esta definição antes, mas eu não conheço uma definição melhor. O que significa glória em relação a Deus? Qual é o significado desta palavra ‘glória’ quando se refere a Deus? Ela simplesmente significa a recuperação da completa satisfação de Deus. Quando as coisas correspondem a sua natureza, ao seu propósito, quando Ele se deleita, quando fica satisfeito, contente, então aí surge algo de sua própria satisfação, de seu prazer. Você pode submeter isto ao teste em sua própria vida.

Pegue a sua Bíblia e comece lá no princípio. Quando Deus tinha criado todas as coisas para o seu prazer, para a sua glória, e todas as coisas estavam de acordo com o planejado, e tudo era governado por: ‘E assim foi … e assim foi … e assim foi  como o Senhor ordenou e disse que deveria ser’, e o final daquilo foi: ‘E viu Deus tudo o que tinha feito, e eis que era muito bom’ (Gênesis 1:31). Eu gostaria de ter estado naquela atmosfera, no campo onde tudo satisfazia a Deus, emanava dEle, e havia este senso de sua completa satisfação e prazer. Isto é glória!

Quando entramos na nova criação, quando nascemos do alto, no terreno de nosso reconhecimento e aceitação da obra perfeita, acabada do Senhor Jesus por nossos pecados, para a nossa salvação (e muito geralmente somos melhores crentes no início do que posteriormente!), quando avançamos naquele terreno da nova criação em Cristo onde tudo responde ao prazer de Deus, não temos nós o senso de glória? O início da vida cristã é muito frequentemente desta forma. Embora não pudéssemos explicá-la teologicamente ou doutrinariamente, nós a sentíamos!’

‘É maravilhoso ser salvo!’ Isto é glorioso!’ É algo que simplesmente brota em nosso interior. E o que é isto? É o Espírito Santo dando testemunho da satisfação de Deus com o Seu Filho que recebemos com todo o conhecimento e compreensão dEle que temos. Aceitamos a sua perfeição e a sua obra, e há um reflexo, uma emanação, de sua glória, da satisfação de Deus em nossos corações. Quando nos desviamos desta confiança no Senhor Jesus, a glória murcha – mas eu não irei abordar isto no momento.

Percorra a Bíblia e você terá o propósito de Deus completa e perfeitamente revelada em tipo na criação do tabernáculo no deserto. Ele foi prescrito meticulosamente em detalhes, de um alfinete a uma linha, de uma cor a uma posição, a uma medida, e tudo foi dado por Deus. E o último capítulo diz: ‘E Moisés fez tudo conforme o Senhor ordenou’. A coisa tornou-se quase monótona! Foi feita conforme o Senhor ordenou a Moisés, e a glória encheu o tabernáculo. Deus estava satisfeito! E você e eu sabemos que o tabernáculo era apenas uma previsão em tipo do Senhor Jesus.

Vamos para o templo e, novamente, a prescrição, o modelo, foi dado a Davi, e tudo foi concluído por Salomão. Quando tudo foi concluído conforme o modelo celestial, a glória encheu o templo, e até mesmo os sacerdotes não podiam entrar nele. Deus encheu tudo com a sua satisfação.

O Senhor Jesus veio para ser batizado e para receber a sua grande missão, e, ao ter Ele saído das águas, o céu se abriu e a voz do Pai disse: ‘Este é o meu Filho amado em quem me comprazo’ (Mateus 3:17). Deus estava muito satisfeito. Este de fato era uma boa fundação para Jesus começar a obra da sua vida! A satisfação de Deus é a glória, e João diz: "E vimos a Sua glória".

Então chegamos à perfeição de sua obra na cruz. Não há mais nada a ser feito após o calvário. Tudo está consumado. Oh, creia nisto, e creia com todo o seu coração: não restou mais nada para ser feito em relação à sua eterna salvação. Se você tentar adicionar algo, você perderá a glória e sairá do lugar da satisfação de Deus. Quando a obra na cruz foi concluída, quando a obra da redenção foi terminada, e o sacrifício estava agradando a Deus totalmente. O calvário estava terminado, o Filho tinha sido levantado da morte, e não demoraria muito para que o templo recebesse a glória no dia de Pentecoste -  e, então, que glória encheu a casa de Deus! Por quê? Porque Jesus estava glorificado. Até então o Espírito não fora dado, porque Jesus não havia ainda sido glorificado (João 7:39). Porém, quando Ele foi glorificado, o Espírito foi dado.

Aí você tem o pano de fundo da Bíblia. Ao final esta glória é vista descendo na nova Jerusalém: "A santa cidade de Jerusalém, descendo de Deus, tendo a glória de Deus" (Apocalipse 21:11). É a obra perfeita na Igreja, tendo a glória de Deus. Está tudo terminado, acabado, a batalha está vencida, o tempo da provação, do sofrimento e da disciplina do cristão acabou, e a glória coroa tudo finalmente porque Deus está satisfeito.

Será que eu consegui, por parte da Escritura, provar que a definição de glória é a expressão da perfeita satisfação de Deus?

POR QUE NÃO HÁ GLÓRIA EM NOSSAS VIDAS?

Eu disse que você poderia colocar isto à prova em sua própria experiência. Alguns de nós tivemos que passar por esta experiência a fim de aprender essas coisas, pois elas não são apenas teorias. Qual foi a hora mais miserável em sua vida? Bem, eu posso dizer a você qual foi o tempo mais miserável em minha vida. Foi quando permiti que o diabo, por meio de acusação, tivesse êxito em me colocar de fora desta obra acabada de Cristo.  'O Senhor não está satisfeito com você. Ele está contra você. O Senhor realmente não está contente com você, por causa desta aflição, deste sofrimento, desta prova, desta dor’.

Fique debaixo dessa acusação e a glória irá embora. E, enquanto você permanecer aí, não há glória, simplesmente porque o terreno de Deus é o terreno da finalidade absoluta da obra de seu Filho por nossa redenção. Saia deste campo, por qualquer acusação ou condenação do diabo, saia do terreno de Cristo, e a glória irá embora e não voltará novamente enquanto você permanecer aí.

Não se engane quanto a isso! Se você está ocupado consigo mesmo, quanto tempo irá levar pra você aprender que este não é o terreno de glória? Bem, irá levar o tempo que você permanecer neste miserável e pobre terreno do EU, terreno este que Deus acabou com ele na cruz de seu Filho. Se nos movermos para o terreno de Cristo, para o terreno da sua perfeição, e por fé colocarmos os pés neste terreno, então a glória virá.

Temos apenas aberto à porta em relação a este assunto, mas temos que realmente aplicar tudo isto, pois não quero dar a você um monte de ensinamento para que você ponha em sua cabeça. Tenho orado para que o Senhor use a sua palavra como uma lâmina para cortar e realmente fazer algo.

É PARA DEUS SER GLORIFICADO EM NOSSAS VIDAS?

Caro amigo, queremos nós, eu e você, realmente que Deus seja glorificado em nossas vidas? Você diz: ‘Sim! Mas há alguns que dizem: Bem, vamos ver o que significa e, então, direi sim’.

Acima de tudo, significa exatamente o mesmo para nós que significou para o Senhor Jesus, pois Ele estava aqui como nosso Homem representativo diante de Deus. Portanto significa a grande e absoluta crise: compromisso. Oh, deixemos que esta palavra tome conta de nós!  Há cristãos, e há cristãos comprometidos – e eu devo deixar isto com você.

A grande experiência de crise na vida do Senhor Jesus foi quando Ele aceitou a grande comissão para a glória de seu Pai e disse: ‘Tudo a partir deste dia será julgado pelo valor de quanta glória há nele para o meu Pai’.  Isto foi uma crise, tudo realmente caía nesta linha em relação a Ele. Ele via que sua conduta, sua própria vida com seu Pai, sua vida secreta que ninguém via ou conhecia, e sua vida perante o mundo, perante as pessoas e os discípulos, era governado apenas por esta única coisa - Seu Pai recebendo a glória.

O seu comportamento, a maneira como Ele falava e agia eram governados apenas por isto. Se ele tivesse sido um homem de negócio, isto teria governado as suas transações de negócio. Eram elas para a glória de Deus? Caso contrário Ele não teria nada a ver com elas. A sua família, os seus irmãos, irmãs, mãe – ‘É minha família para a glória de Deus?’ É o comportamento em nossas famílias, em nós, em nossos filhos, em nossa relação de marido e esposa, em como andamos como família, para a glória de Deus? Como as pessoas vêem a coisa?

Mas, se você chega a uma posição como esta, onde você realmente tem uma transação com o Senhor, não pense que isto será uma vida de perda. Não, você irá ver a glória de Deus. Este é o desfecho deste décimo primeiro capítulo de João sobre Lázaro e suas irmãs em Betânia. Difícil como o quadro estava para eles, a última cena é de uma emanação da glória de Deus. Que cena deliciosa aquela do capítulo doze! Jesus chega a Betânia, onde Lázaro, a quem Ele tinha ressuscitado, morava, e eles prepararam um jantar para Jesus. Marta servia, com um novo espírito de serviço, e Maria e Lázaro sentaram com os discípulos.

Deve ter sido uma hora maravilhosa – glória real na vida de ressurreição. Mas eles tiveram que passar por algo a fim de chegar naquilo! Tiveram que ser provados na seguinte questão: ‘Não te hei dito que, se creres, VERÁS a glória de Deus?" Você quer ver a glória de Deus em sua própria vida? Não significará uma vida de perda, pois, se você tiver a glória de Deus, você não poderá obter nada além disso, ou melhor do que isso.

 

Capítulo 2 – Glória Somente na Nova Vida da Ressurreição

Ler:João11

Voltamos novamente ao capítulo 11 do Evangelho de João, e eu lembro você de que este capítulo representa o ápice da vida, do ensino do Senhor Jesus durante os dias da sua carne. Isto é muito evidente, pois você observa que o verso 47 diz: "O chefe dos sacerdotes e os fariseus formaram um conselho, e disseram, o que faremos?” O resto do capítulo mostra que este foi o último dentre os vários conselhos tais como este,  e foi neste último conselho que eles definitiva e finalmente decidiram que este Jesus devia morrer. Assim, aqui temos aquilo que marca a culminação de Sua vida e obra naquele tempo. O caráter decisivo não é o ato em si, mas é a plenitude do próprio objetivo pelo qual Ele veio, e, mais do que isto, é a plenitude dos conselhos de Deus.

Por traz deste capítulo há duas coisas. Há os eternos conselhos de Deus chegando à sua conclusão em Seu Filho naquela hora, e, então, há os conselhos contrários a Deus que estão procurando trazer este Filho a um fim, para destruí-lo. Os conselhos divinos são resumidos naquilo que está neste capítulo. Não há dúvida de que você já o leu muitas vezes, e, talvez, pense que o conheça. Se fosse perguntado a você a respeito do que trata o capítulo onze de João, você diria: “Bem, naturalmente, é o capítulo sobre a ressurreição de Lázaro”, e, talvez, isto fosse tudo o que você teria para dizer sobre ele. Em assim dizendo (perdoe-me se isto soa um pouco como uma crítica sobre a sua compreensão) você mostra como realmente tem perdido o caminho. Naturalmente, todos nós dissemos isto em tempo passado, porém, na medida em que temos prosseguido, chegamos a enxergar algo mais, isto é, que este capítulo contém todos os fatores e aspectos maiores dos caminhos de Deus para a glória. Você entendeu isto? O fim de todos os caminhos e obras de Deus é a glória, Sua própria glória.

Às vezes parece um caminho tortuoso, como aquelas irmãs sentiram enquanto durava a coisa toda. Às vezes parece ser tudo, menos glória, e você pode muito bem decidir, como talvez aquelas irmãs também decidiram, que o fim não é a glória. Você poderia sentir que toda aquela tristeza, toda aquela aflição, todo aquele desapontamento e desespero não podiam levar à glória, mas, do ponto de vista de Deus, aquele era o caminho da glória e para a glória. Deixe-me repetir: quando Deus toma alguma coisa em sua mão – e você pode crer nisto!  - o fim será a Sua glória. Você não deve se equivocar quanto a isto! O fim dos caminhos de Deus é a sua glória. Leia a sua Bíblia à luz disto, e você terá a Bíblia toda em apenas um capítulo – o capítulo onze de João.

FATORES NOS CAMINHOS DE DEUS PARA A GLÓRIA

Dissemos que este capítulo contém os fatores e marcas principais nos caminhos de Deus para a glória. Quais são alguns desses principais fatores?

Um dos maiores é a encarnação do Filho de Deus; o Filho de Deus assumindo a carne; Deus se manifestou na carne. Não é este um grande fator? O próprio propósito e objetivo da encarnação, de Deus assumindo a carne, tornando-se carne, são encontrados neste capítulo. Fique com isto por enquanto.

Então há o método de Deus na redenção. A redenção é outro grande fator, não é? Ninguém irá discordar disto! Nos eternos conselhos de Deus a redenção é um grande fator, e o método da redenção é a substância deste capítulo onze de João.

Outra coisa – e eu estou muito certo de que, da mesma forma como você concordou com os dois fatores acima, se realmente você conhece algo dos caminhos de Deus, também irá concordar com este – os caminhos de Deus são muito estranhos, e estão além da explicação e da compreensão humana. Enquanto Deus está se movendo em direção ao seu objetivo, é muito difícil segui-Lo. O apóstolo Paulo, que conhecia muito sobre o Senhor, falou de sua experiência: "oprimidos além da medida" (2 Coríntios 1:8), ou, como em outra tradução, "além da nossa medida". O Senhor está sempre um pouco à frente de nós. Não seria diferente conosco, seria? Do contrário estaríamos ocupando o lugar do Senhor! Se estivéssemos à frente do Senhor, nossa dependência dEle logo cessaria. Assim, o Senhor vai adiante de nós, além da nossa medida, e nos tira de nossa profundidade a fim de ampliar a nossa capacidade. Jamais cresceríamos se isto não fosse verdade.

A maneira simples na qual o Evangelho de João ilustra isto está no capítulo 10:4 "Depois de conduzir para fora todas as que lhe pertencem, vai adiante delas". Bem, naturalmente, você algumas vezes tem tomado isto como uma declaração confortadora, porém há profundidade em cada frase da Palavra Divina, e este Evangelho em particular revela isto.  "Depois de conduzir para fora todas as que lhe pertencem, vai adiante delas" – Ele sempre está à frente delas, e elas sempre um pouco atrás dEle. De certa maneira, Ele é demais para elas. Elas têm que se mover, e se mover, se quiserem chegar onde o Senhor está, e, quando chegam lá, descobrem que Ele está na frente novamente. Elas têm que se manter andando, correndo o tempo todo.

O apóstolo Paulo explica isto quando disse ao final de sua vida: "Para que possa conhecê-lo" (Filipenses 3:10). 'Eu ainda não O alcancei’. Ele ainda está adiante de mim. 'O mistério dos caminhos de Deus, a esquisitice daquilo que chamamos de 'providência', é o maior fator dos caminhos de Deus, e isto também está aqui neste capítulo.

Outra coisa, que de modo algum é algo pequeno, é a visão de longo alcance de Deus. Quanto além de nós Ele enxerga! Ou, deixe-me entrar neste capítulo – quão distante o Senhor Jesus enxergava além daquelas irmãs e dos discípulos!  Eles simplesmente não podiam enxergar além da experiência e do evento presente. A coisa que estava imediatamente diante dos seus olhos, aquilo era o horizonte deles. Mas Deus, em Cristo, estava se movendo aqui pelo princípio da visão de longo alcance, além do incidente, além do presente. Embora isto fosse grande para eles, Jesus estava muito além disso. O seu horizonte estava fora do alcance do evento, e Ele agia em conformidade. A visão de longo alcance de Deus não é um fator pequeno nos caminhos e nas obras do Senhor, e está tudo aqui neste único capítulo.

Quão insondáveis são os caminhos e as obras de Deus!

O SENHOR NO CONTROLE

Agora, tendo dito isto, deixe-me retroceder um momento, a fim de lembrá-lo de algo aqui que devemos agarrar. Creia caro amigo, quando eu digo isto não é apenas o ENSINO do Evangelho de João em um ou em todos os capítulos com os quais tenho me ocupado. Isto tem que vir diretamente para dentro de nossa própria história. Tem que ser tirada da Bíblia, da história de Jesus durante o seu tempo nesta terra, e colocado exatamente dentro da nossa própria história, pois jamais chegaremos a lugar algum se isto não for verdade. É verdade aplicada, e não verdade teórica que temos aqui.

Assim, deixe-me dizer o seguinte: Aquilo que resulta para nós, enquanto discorremos calma e atentamente neste capítulo, é que o Senhor Jesus tem a situação em suas mãos. Deixe-me colocar isto de outra forma. Se este é o Deus encarnado, então é com Deus que estamos tratando aqui. Quando você chega a este capítulo, você vê como o Senhor Jesus tem tudo em suas mãos, e Ele não deixa que nada saia de suas mãos durante todo o caminho.

Olhe para os vários aspectos! Ele disse que iria voltar para a Judéia. Os discípulos imediatamente reagiram: 'Não, os judeus recentemente buscavam matá-lo lá. Você não deve voltar lá!’ Você observa o movimento para se tirar as coisas das suas mãos, para governar os seus movimentos, os seus julgamentos, as suas decisões, mas Ele não permite. Ele toma o negócio em sua mão e avança. Há algo que Ele procura, com o qual Ele se ocupa. Mensageiros foram enviados a Ele, a fim de lhe falar sobre Lázaro, quando Ele está em algum lugar distante, e sem dúvida alguma, a mensagem significa o seguinte, embora não esteja registrado: 'Lázaro está morrendo. Venha, por favor! Venha rápido! Venha o mais rápido que puder!’

As irmãs amadas teriam dito isto, porém, fazer o que elas queriam teria tirado o assunto de suas mãos e teria governado o seu julgamento,  controlado os seus sentimentos, governado os seus movimentos, e estabelecido um tempo que Ele não havia estabelecido. Não, Jesus permaneceu onde estava. Ele tinha a situação em suas mãos e não iria deixá-la sair de sua mão, embora o apelo fosse da parte daqueles a quem Ele amava. Está declarado que foi desta maneira. A situação era tal que podia apelar para qualquer coração solidário, porém isto não iria decidir o negócio. A coisa estava em suas mãos e Ele estava para decidir o terreno sobre o qual trabalhava, o tempo em que trabalhava, e quando Ele iria se mover, e nada iria alterar a sua decisão.

Os judeus, naturalmente, sempre prontos para criticá-lo e desacreditá-lo, e colocá-lo em má situação, disseram: "Não poderia ele, que abriu os olhos dos cegos, ter impedido que este homem morresse?” Todas estas forças estavam em ação, do centro à circunferência dos seus discípulos, a fim de controlá-lo, mas Ele não cedeu. Ele tinha o assunto em suas mãos, e isto é uma coisa muito importante. Por quê? Ele disse o seguinte: 'Esta enfermidade não é para morte, mas para a glória de Deus’. E o que mais?  "E eu me alegro por vossa causa de que eu lá não estivesse."

Oh! O que você faria a respeito? Coloque-se na posição daquelas irmãs com um único e amado irmão à beira da morte, aparentemente preso a uma doença fatal. Os corações delas estavam apertados por causa da aflição e da angústia; estavam quebrados, e os discípulos tinham olhado para a situação e visto que Jesus sabia de tudo – e esta foi a sua atitude: "Me alegro por vossa causa de que Eu lá não estivesse."

Bem, como você vê, Ele toma conta da situação. Nós estamos lidando com Deus. Ele está no controle, e, se Ele está trabalhando para um determinado objetivo, você não pode apressá-lo, você não pode  assumir o controle e obrigá-lo a fazer o que você quer. Ele vai alcançar o seu objetivo, e isto pode ser um caminho de muita prova para a nossa carne, mas Ele irá chegar lá, pois está no comando.

A LEI DO TRABALHO

Nós geralmente cantamos, um pouco superficialmente e sem observar nossas palavras mais cuidadosamente: ‘Como desejo subir nas maiores alturas!’ Pergunto-me se nós percebemos, na medida em que cantamos isto, que as maiores alturas apenas são alcançadas através das maiores profundidades! Você e eu, caro amigo, jamais iremos alcançar o propósito de Deus exceto ao longo do caminho onde sejamos quebrados. É isto que diz este capítulo. Enquanto estivermos inteiros, sólidos, bem costurados, auto-confiantes, nunca iremos alcançar o objetivo de Deus.

Como você vê, Deus, bem no início da Bíblia e da história da humanidade, plantou algo na experiência humana que se tornou a LEI de todo conhecimento verdadeiro de Deus a partir daquele momento. A grande questão no jardim era o ‘conhecimento’ do bem e do mal. O homem arriscou pelo conhecimento, sob a instigação e inspiração do diabo, e Deus diante daquela recusa, daquele rompimento, estabeleceu uma lei, pelo que disse: 'Você jamais irá obter conhecimento exceto através desta lei. Tudo o que será verdade e real no futuro não será obtido assim tão facilmente como você imagina’. 

A lei do trabalho foi plantada no coração da humanidade. O trabalho foi introduzido como uma lei para o futuro, e você e eu conhecemos muito bem que o verdadeiro amor só vem pelo trabalho. Ponha isto de outra forma: Nós nunca valorizamos algo que não nos custa nada. Podemos abrir mão dele muito facilmente se não tivermos pago algum preço por ele,  mas se tivermos pago um preço, se o objeto foi custoso, se ele significa algo para nós de real sofrimento, ou dor, ou grande prova, isto nos é infinitamente precioso, e não abrimos mão dele facilmente.

Da mesma forma Deus entrou logo neste ponto e colocou esta lei do trabalho no coração do homem e na história humana, e disse: 'Você tentou obter tudo de forma muito barata, mas não irá conseguir nada que tenha valor sem nenhum custo no futuro’. E a partir daquele ponto, você observa esta lei ao longo de toda a Bíblia, até que chega ao ‘fruto do trabalho de sua alma’, o trabalho do jardim, o trabalho da cruz, de que falou Isaías: "Ele verá o fruto do trabalho de sua alma e ficará satisfeito"; no trabalho está a preciosidade.  É a lei, você vê, de que não há como alcançar o coração de Deus e obter conhecimento verdadeiro sem custo.

Pedro aprendeu isto de uma maneira profunda. Ele tentou obter as coisas facilmente. "É bom estarmos aqui, Senhor, permita-nos construir três tendas, uma para ti, outra para Moisés, e outra para Elias”, e suponho, embora ele não tenha dito isto, que ele quis dizer: 'Nós também teremos algumas tendas. Permaneceremos aqui’. Pedro agiu assim, mas entrou num caminho de profunda devastação através cruz do Senhor Jesus, e anos mais tarde ele escreveu: "Para vós os que credes é a preciosidade" (1 Pedro 2:7).

O último quadro da Igreja é o da cidade, e os seus portões são de pérola, que é o símbolo de agonia, de sangue, de lágrimas. É desta maneira que ela é produzida. A pérola é de grande valor e é muito preciosa por causa do seu custo.

Eu disse que este é um capítulo abrangente, não disse? Bem, iremos voltar a ele. Aqui estão àquelas caras irmãs, e como foram elas batizadas na paixão, na agonia da cruz, e como elas tiveram que experimentar o sabor da morte, a fim de poderem conhecer a preciosidade da vida da ressurreição! Não há outra forma.

"Eu me alegro por vossa causa de que não estivesse lá”. Jesus havia previsto que, embora Ele estivesse correndo o risco de ser mal compreendido – pois todos, as irmãs e todos, estavam compreendendo-o mal e eram incapazes de compreendê-lo – Ele devia aceitar o risco. Ele viu adiante, lá no fim. E o que é o fim?  "Não vos disse que se crerdes vereis a glória de Deus?”

O fim de todos os caminhos de Deus é a glória. Quão rico e quão pleno é tudo isto! Nós estamos na presença de Deus, e, quando estamos aí, estamos diante das realidades mais profundas. Oh, que possamos ter graça, quando o Senhor nos tiver em suas mãos e estiver tratando de nós, não para nos tirar de suas mãos, mas para permanecer lá em glória  inevitável!

A BATALHA DO COMPROMISSO

Estou um tanto hesitante, caro amigo, em acrescentar mais palavras. Mas quero me assegurar de que aquilo que estou dizendo vá mais a fundo do que há apenas em sua cabeça, do que uma teoria e doutrina cristã.

Primeiramente, como dissemos da última vez, tem que haver um absoluto compromisso com o Senhor. Agora, naturalmente, suponho que alguns de vocês, se houver algum, não diriam que renderam suas vidas ao Senhor, e talvez você diga que se entregou completamente ao Senhor.  Mas você não sabe o que está dizendo! Sinto muito dizer isto, mas esta rendição é fruto de uma longa experiência. Nós jamais iremos chegar a um ponto onde não haja mais batalha para ficar perfeitamente ajustado ao propósito do Senhor. Não importa quanto você viva aqui. Se você estiver caminhando com o Senhor, haverá, bem no final, ocasiões nas quais você descobrirá que não é fácil aceitar algumas novas revelações do propósito de Deus para você.

De fato, você terá uma nova batalha em todo tempo neste sentido, e é isto o que eu quero significar quando disse: 'Você não sabe o que está dizendo!' Isto não é, naturalmente, para desencorajar ou diminuir qualquer consagração que você tenha feito, mas tem que haver um compromisso inicial e fundamental, quando dizemos: 'Agora, Senhor, eu não sei tudo o que isto irá significar, ou como isto irá funcionar, ou o que isto irá custar, mas eu me coloco em tuas mãos. Sou teu. Comprometo-me. Tu és o meu Mestre, e quero que tu tenhas o controle absoluto do meu ser. Se em algum momento se tornar difícil para mim se render ao teu domínio, irei buscar graça para me ajustar a ele.' Deve ser uma atitude de completo compromisso.

Eu te pergunto - não como a soma total que isto significa – tem o Senhor o senhorio do seu ser, da sua vida?  Como já falamos, isto toca cada ponto e aspecto. Ele tem o senhorio dos seus negócios, de suas relações de negócio, de suas transações de negócio? Você está fazendo negócios que não esteja alinhado com a glória de Deus, isto é, você está fazendo negócios que é uma contradição à glória de Deus?

Uma vez conheci um jovem que tinha se saído muito bem nos negócios e tinha perspectivas tremendas, porém ele pertencia a uma das maiores empresas de tabaco da Europa. Ele tinha uma boa posição, com grandes perspectivas – e ele se deparou com esta questão de estar ou não o Senhor sendo glorificado naquilo que ele estava fazendo. Ele finalmente decidiu que aquele tipo de negócio não era para a glória de Deus.

Quando percebeu o resultado daquele negócio, descobriu que era contrário à glória de Deus na vida das pessoas, assim, abandonou a sua posição e saiu da empresa. Por um tempo ele foi provado por causa de sua atitude e pela posição que tinha tomado de fidelidade a Deus. O Senhor cuidou dele no final, mas eu não estou lançando isto para dizer que você irá receber uma recompensa, ou terá uma compensação.

O ponto é: não política, mas princípio. O mundo é governado por política, por aquilo que é político, que é diplomático. Este é todo o espírito e a lei deste mundo, mas o Senhor Jesus não é nem político nem diplomático - o princípio é a glória de Deus. É isto o que significa estar comprometido. O seu lar está comprometido com a glória de Deus, as suas relações domésticas, a sua vida e relações sociais?


E assim podemos prosseguir. Não é uma questão de se ajoelhar e dizer: ‘Senhor, eu sou teu. Entrego-me a mim mesmo para ti de forma absoluta', e, então, quando o Senhor chega no dia seguinte e diz: ‘Que tal isto?’ e então você responde: 'Oh, eu não quis dizer isto!’ O Senhor é muito prático!

Perdoe-me por falar assim, mas devemos, pois estamos em tempos muito sérios, e Deus está próximo em vir, a fim de passar a peneira. O fim irá ser um tempo tremendo de peneiramento entre o povo do Senhor. Pedro diz, falando sobre o tempo do fim: “O tempo de o juízo começar pela cada de Deus é chegado" (1 Pedro 4:17), e, se começa por nós, onde irá comparecer o ímpio pecador? Nós seremos peneirados no seguinte: A sua prioridade está na vida realmente estabelecida, e é esta prioridade a glória de Deus?  Se assim for, aconteça o que acontecer, você conseguirá passar no teste e alcançará o objetivo de Deus, a glória. "É com Deus que temos que nos haver!"

A ATITUDE DE DEUS PARA A VIDA HUMANA

Neste capítulo iremos tratar com as coisas finais, as coisas primárias e as coisas eternas. Vou dizer algo que pode talvez ser uma coisa muito difícil para você aceitar, mas isto grita para nós e não podemos escapar dele, muito nos machuca e nós não gostamos. Neste capítulo você encontra a vida humana representada por inúmeros aspectos diferentes. Você tem os judeus, os escribas e os fariseus. Bem, você, talvez, não fique surpreso com a atitude de Deus em relação a eles, mas entre no coração do capítulo.

Aqui estão aquelas irmãs, e aqui Lázaro, todos tão distantes, humanamente falando, dos escribas e fariseus e dos principais. Você diria que eles eram pessoas amáveis, mas qual foi a atitude do Senhor Jesus? Ele fica indiferente, mantendo certa reserva. É dito que Ele permaneceu onde estava por dois dias, e que quando Ele chegou Lázaro já estava morto há quatro dias. Quatro dias tinham se passado entre o recebimento da notícia e a chegada lá, e, como você sabe, eles mencionaram a Jesus o estado de coisas que naturalmente tinha prevalecido. Por que Ele deixou Lázaro morrer? Ele poderia tê-lo ressuscitado, pois tinha curado muitas pessoas e ressuscitado outros. Por que este que era tão amado? Por que Jesus permitiu que os corações das irmãs fossem quebrados, rasgados com este pesar e angústia? Por que esta atitude?

Esta é a atitude de Deus para com a humanidade, desde o seu melhor em Adão ao seu pior. Esta humanidade em seu melhor é algo que em Adão foi colocada de lado, e Jesus não vai remendá-lo. Ele não vai dar um remédio para curá-lo. Ele diz: 'Deve morrer!' A única coisa possível é a ressurreição, uma vida completamente nova, algo diferente do natural e terreno, mesmo em seu melhor.

Você pensa que estou exagerando, ou indo muito longe? Quero que você apanhe este Evangelho e o leia do começo ao fim. Por que o casamento em Caná da Galiléia? Por que Ele foi lá, por que o vinho acabou e por que aquela situação desagradável surgiu? "Eles não têm vinho", diz sua mãe, num tipo de apelo e expectativa que Ele iria fazer alguma coisa. Consternação está sobre a coisa toda. Não sobrou nada.  É um fim da própria coisa que faz a vida.  "Mulher, que tenho eu contigo? Meu tempo ainda não é chegado”.

Tinha sido o apelo numa situação difícil, o apelo de uma oportunidade, o apelo do coração de uma mãe, mas, não, Ele não teria nada disso, pois há algo mais do que apenas remendar esta festa. Tem que haver algo que esteja acima do natural, e isto é a novidade de vida, e não a velha coisa remendada. Esta coisa velha DEVE morrer, e, então, apenas a ressurreição será a resposta. Esta é a explicação – algo diferente. A atitude de Deus é que a velha criação está arruinada, e a única perspectiva é a vida da nova criação. "Jesus principiou assim os seus sinais em Caná da Galiléia, e manifestou a sua glória" (João 2:11). Glória é o fim dos caminhos de Deus. Como? Em algo que está além de qualquer possibilidade natural. Caná é o começo e Lázaro é o fim da história.

No meio – Eu não posso me estender com eles, mas apenas irei relembrá-lo de algumas coisas – lá está Nicodemos, com toda a sua religião e com todo o seu conhecimento, a quem Jesus disse: "Tu és mestre em Israel e não compreende estas coisas?" (João 3:10). Todo o conhecimento, aprendizado, posição e tradição religiosa estão falidas.  'Você precisa nascer do alto. Esta sua vida natural não irá fazer você chegar lá’.

Lá está o pobre homem no tanque de Betesda. Ele estava há trinta e oito anos jazendo naquela posição, lutando todo dia para conseguir ficar em pé e entrar na água. Tente isto, talvez umas doze vezes por dia por trinta e oito anos e veja se você tem muita esperança no final! Sem o uso do tanque e sem qualquer ajuda artificial, Jesus que é a ressurreição e a vida entra em cena e há outro sinal, outra demonstração de quão sem esperança é a vida natural até Jesus chegar, mas Ele vem com outro tipo, com outra ordem de vida.

Então chegamos à mulher de Samaria em Sicar. Que história de bancarrota moral é aquela! "Vá chamar o seu marido… Eu não tenho marido… Disseste bem, não tenho marido, pois já tivestes cinco maridos, e o que tem agora não é seu marido”. Tudo se exaure neste terreno, "mas a água que te darei tornar-se-á uma fonte de água que salta para a vida eterna”... "Senhor, dá-me desta água" (João 4:14-15).

Assim João prossegue com seu Evangelho até que chegamos a Lázaro, e aí neste capítulo tudo isto é reunido, mostrando que a glória de Deus é o fim - "Vereis a glória de Deus”. A glória de Deus não é algo que Deus pode fazer na vida humana, pois Ele não irá por remendo. Os homens podem fazer isto. Você chama os médicos e eles podem ajudar a manter a coisa viva por um tempo, mas Deus diz: ‘Não, deixe morrer. A glória não está neste tipo de coisas. É algo completamente diferente’.

O fim de todos os caminhos de Deus é desta maneira. Eu realmente creio que você irá interpretar tudo à luz disto. Você tem sofrido?  Você tem apanhado muito? O que você está fazendo a respeito? Você está colocando a coisa meramente e somente dentro da categoria de coisas comuns ao homem? Não, o fim é glória, e, quando você passa a experiência, você vê a glória de Deus na nova vida da ressurreição.

 

Capítulo 3 – O Pai da Glória... O Senhor da Glória... O Espírito dA Glória

Perseguindo a material que tem estado diante de nós, quero chamar à sua lembrança três fragmentos da Palavra:

"Por esta causa eu também, tendo ouvido sobre a fé no Senhor Jesus que há entre vós, e o vosso amor para com todos os santos, não cesso de dar graças por vós, fazendo menção de vós em minhas orações; para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, possa vos dar um espírito de sabedoria e de revelação no conhecimento dEle”.  (Efésios 1:15).

"Meus irmãos, não tenhais a fé em nosso Senhor Jesus Cristo, o Senhor da glória, em acepção de pessoas." (Tiago 2:1).

"Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse; mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo, para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e alegreis. Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória ..." (1 Pedro 4:12-14).

Permita-me apenas lembrá-lo de que temos estado ocupados com a verdade de que o fim de todos os caminhos de Deus é glória. Definimos glória como sendo a expressão da plena e final satisfação de Deus, Deus dando de Si mesmo. Seu prazer, seu deleite, e, como um contágio celestial, aqueles que estão dentro de seu alcance ficam muito conscientes de que Ele está contente, satisfeito. Num lugar Ele é chamado de “o Deus bem-aventurado” (1 Timóteo 1:11), mas o original diz 'o Deus alegre'.

Você sabe que, se você entra na presença de pessoas que estão realmente alegres, você é afetado e infectado por elas. É possível estarmos entre pessoas que estão rindo bastante e começarmos a rir também, mesmo sem saber do que estamos rindo! A atmosfera influencia você. Agora, se Deus está feliz, satisfeito, bem contente, e você entrar em contato com Ele, você recebe algo vindo Dele e sente aquela alegria. É exatamente este o significado de glória: Deus estando completamente contente com a situação, com uma vida, com uma pessoa, e, se você puder ser esta pessoa, você simplesmente recebe Dele contentamento, satisfação, bem-aventurança.

Assim, o fim de tudo aquilo que é realmente de Deus é este maravilhoso poder de seu prazer pessoal. Penso que não haja nada em todo o universo tão abençoado como o ter o senso de que o Senhor está satisfeito. Deve ter sido um grande dia para Abraão, um maravilhoso, inexpressível dia, quando Deus o chamou de seu amigo, e para Daniel, também, quando o mensageiro de Deus disse: "Ó, Daniel, homem muito amado". O que você quer mais do que isto de Deus? Isto é glória, não é? Bem, Deus está trabalhando nessa direção em todas as suas obras no universo, na criação e nos remidos.

Você terá notado a partir dessas três passagens que o Deus trino, as três pessoas da trindade, estão pessoalmente relacionadas com a glória. Primeiro, o Pai da glória; segundo, o Senhor da Glória; e terceiro, o Espírito da glória. Cada membro da Divindade assume o caráter dessa palavra ‘glória’, e cada pessoa da trindade está supremamente interessada na glória. Isto abre uma grande porta, mas não irei muito longe através dessa porta neste momento. Apenas irei mencionar que você pode ver em toda a Bíblia como Deus, como Pai, a primeira Pessoa da trindade, está sempre interessada com a glória; como o Senhor Jesus, a segunda Pessoa da trindade, está sempre trabalhando na linha da glória; e, então, como o Espírito Santo, ao longo de todo o caminho, está operando na direção da glória, sendo a glória o interesse governante.

Vou parar por aqui, pois é uma longa, longa linha de revelação muito abençoada. O meu ponto neste momento é que a Divindade está unida, é uma nisto. Os três estão unidos a respeito de glória, e o interesse dos três é apenas um único interesse. Como já dissemos, esta é a prioridade deles. Assim, a prioridade do Deus trino é a glória.

Tudo o que vou fazer agora é dizer algumas palavras sobre cada uma dessas designações – o Pai da Glória, o Senhor da Glória, e o Espírito da Glória – e que o Senhor nos dê algo em nossos corações a partir desta breve meditação! 

O PAI DA GLÓRIA

O que isto significa? Bem, significa que Deus é a fonte da glória, e esta glória emana dEle. O princípio da paternidade é que o Pai é a fonte, o início e o idealizador, de modo que tudo que realmente emana de Deus tem, como seu propósito e destino, a glória. Nós somos filhos de Deus, e o próprio objetivo de nós sermos seus filhos em sua mente é que possamos chegar à glória, isto é, que possamos finalmente ser trazidos a esta posição - oh, maravilhoso pensamento! Muito maravilhoso para se entender! – Deus diz: 'Estou perfeitamente satisfeito e contente’. Você pode imaginar Deus dizendo isto a seu respeito? Pode você crer que o Deus Todo-Poderoso, Eterno, Perfeito, Santo, grande Deus, possa olhar para nós e dizer: ‘Estou muito satisfeito. Entre no gozo do seu Senhor, na própria satisfação do coração de meu Pai?’.

Isto é muito para nós entendermos por ora, não é? Mas este é o significado de sua paternidade. Ele nos gerou, nos trouxe à existência como seus filhos, é o responsável por nós existirmos como seus filhos, tem assumido responsabilidade conosco como seus filhos, e tudo com esta única finalidade de nos trazer ao longo do caminho para o propósito que é o de entrar nessa indizível consciência de que Ele não tem absolutamente nada contra nós, mas que está satisfeito ao máximo.

Tudo o que procede de Deus, sejam os seus filhos, seja a sua criação, vem destinado a esta glória de sua perfeita satisfação. As coisas são assim no final da Bíblia. Há um estado de glória, uma gloriosa condição, que significa o resultado, a emanação da própria e perfeita satisfação de Deus. Paulo coloca isto da seguinte forma: "Predestinados para serem conforme a imagem de seu Filho’. (Romanos 9:29). O que significa isto? Seu FILHO! - "Meu Filho amado, em quem tenho todo o prazer” (Mateus 3:17).

E nós seremos conformados a isto! Iremos herdar a própria atitude de Deus em relação ao seu Filho, chegar a esta posição e condição que seu Filho ocupa da perfeita satisfação do Pai.

Como você vê, os mesmos procedimentos que o Pai tinha para com o seu Filho também tem para conosco. "Filho meu, não desprezes a correção do Senhor, nem te desanimes quando por ele és repreendido; pois o Senhor corrige ao que ama, e açoita a todo o que recebe por filho". (Hebreus 12:5,6). Para que é esta correção? "Na verdade, nenhuma correção parece no momento ser motivo de gozo, porém de tristeza; mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos que por ele têm sido exercitados." (Hebreus 12:11). O que é justiça? É aquela paz completa no coração no sentido de que o senso de retidão de Deus está satisfeito.

O SENHOR DA GLÓRIA

"Nosso Senhor Jesus Cristo, o Senhor da glória" é como Tiago o chama, e isto é uma grande coisa que Tiago, o seu próprio irmão na carne, poderia dizer dEle! Houve um tempo quando Tiago não cria em Jesus. "Pois até mesmo os seus irmãos não criam nele" (João 7:5), era o que tinha sido dito sobre Tiago anteriormente. Naturalmente, temos uma idéia bastante perspicaz do porque disto. Naqueles primeiros dias, Tiago e os demais irmãos de Jesus eram um bocado mundanos e tinham os olhos para o negócio, para o sucesso, para a aceitação popular, e eles desejaram especialmente ficar bem com as autoridades.

Isto é mundanismo, não é? É o espírito do mundo desejando ficar bem com as autoridades. O irmão mais velho deles estava tomando uma direção que estava deixando-os em dificuldade em relação às pessoas que tinham poder para tirar tudo dEle, e eles pertenciam a sua família, o que significava que eles iriam sofrer por Jesus ter tomado aquela linha. Bem, iremos parar por aqui, mas penso que é um julgamento justo daquela afirmação: “Mesmo os seus irmãos não criam nele”. Eles não podiam aceitar o caminho que Ele estava tomando, pois não traria popularidade.

Agora aqui está este irmão de Jesus, muitos anos depois, chamando-o de ‘o Senhor da glória’. Algo tinha acontecido! Tiago está dizendo que seu próprio irmão é “o Senhor da glória”! Uma vez ele não cria nEle, mas agora o chama de “o Senhor da glória”. Isto realmente é algo maravilhoso! Mas o que ele quis dizer, e o que significa chamá-lo de ‘o Senhor da glória’?

Bem, você sabe, se alguém é o senhor, ele tem tudo debaixo de seu controle. Se você pudesse ser um ‘senhor’, então, as coisas estariam sob o seu controle e poder. Você dita como serão as coisas. Sim, você é senhor desta situação, e, na verdade, em todas as situações. Jesus é Senhor, e, como Senhor da glória, Ele está numa posição de autoridade.

Pedro, que uma vez o negou veementemente, mais tarde disse: “Este é o Senhor de todos" (Atos 10:36). Algo grande tinha acontecido em Pedro, também, tanto como em Tiago. De fato, tinha acontecido em todos eles, pois todos o chamavam de ‘Senhor’. Sabemos do próprio contexto das palavras de Pedro que ele estava naquele momento tendo que reconhecer a autoridade absoluta do Senhor Jesus. Pedro estava argüindo um pouco. Era muito estranho que ele pudesse estar argüindo com o Senhor Jesus naquele momento: “Não, Senhor, pois nunca comi coisa alguma imunda ou impura”, mas ele teve que sucumbir à autoridade do Senhor Jesus, e ele assim o fez. Então, disse: "Ele é o Senhor de todos”, querendo dizer que Ele estava no comando de Pedro e de toda situação, e, estando no comando, aquela situação iria ter o fim que Ele havia planejado. Assim, quando Tiago diz, “o Senhor da glória”, isto significa que o Senhor Jesus está no comando de todas as coisas, a fim de fazê-las resultar em glória.

Você tem apenas que ler através do livro de Atos dos apóstolos, como é chamado, e, na medida em que você segue, você vê o Senhor da glória dominando as situações. Sim, fase após fase, estágio após estágio. Precisamos apenas dar um ou dois exemplos.

Pedro na prisão, com seus pés amarrados e quatro guarnições de soldados para guardá-lo, e as portas interiores e exteriores da prisão firmemente trancadas. Herodes tinha se assegurado de que aquele homem não iria escapar! Esta parece uma proposição um tanto difícil, não parece? Eu duvido se teria sido possível para qualquer homem ter libertado Pedro aquela noite. A todo custo, todas as forças deste mundo estavam determinadas no sentido de que ele não pudesse escapar. Ele é o homem chave, estratégico naquele movimento, assim, ele deve ser mantido em segurança. Muito bem, tomem toda precaução, toda medida, a fim de tornar tudo seguro. Porém, o Senhor da glória tem outros caminhos, e assim, um anjo chega e toca em Pedro, que estava dormindo.

É maravilhoso que, quando o Senhor da glória está no comando, você pode ir dormir, mesmo em situações onde você será levado à execução no dia seguinte! Você está numa cela individual, e sabe que amanhã terá o mesmo destino que Tiago, e será executado, mas pode ir dormir durante a noite toda. Bem, é necessário o Senhor da glória para permitir que você faça isso, de modo a poder dizer: ’O Senhor tem a coisa em sua mão, então eu vou dormir’.

Lembro-me de um homem que esteve aqui no oeste nos tempos selvagens, muito tempo atrás. Ele estava viajando e chegou a uma cabana, que ficava num lugar perigoso onde ursos perambulavam por toda a parte. Ele estava muito cansado depois de ter viajado o dia todo, mas achou que não podia entrar na cabana, que podia apenas descansar debaixo do toldo do lado de fora, assim, deitou ali. Ele pertencia ao Senhor e, antes de descer, leu o salmo: “Eis que não tosquenejará nem dormirá o guarda de Israel". Disse: 'Bem, Senhor, não adianta nós dois ficarmos acordados. Se Tu dizes que irá ficar acordado a noite inteira, então eu vou dormir!' E assim, ele foi dormir e teve uma ótima noite. Isto é confiar no Senhor!

Pedro foi dormir e um anjo o despertou, quebrou as suas cadeias e os seus grilhões, e disse: 'Levante-se e siga-me'. Eles deixaram os guardas, a cela e as cadeias, e saíram pela primeira porta, então pela próxima, até chegarem fora dos portões, os quais se abriram por si mesmos, e Pedro estava livre. Esta circunstância, aparentemente tão adversa e impossível, estava nas mãos do Senhor da glória. E o que dizer sobre glória? Temos as cartas de Pedro, escritas anos mais tarde, e são cartas maravilhosas, não são? A vida de Pedro foi maravilhosa, e muita riqueza chega até nós através do ministério de Pedro nessas cartas.

Só mais uma coisa daquele livro de Atos. Estamos em Filipos. Paulo e Silas chegaram, porque o Senhor os tinha enviado para lá.  'Eles queriam ir para a Ásia, mas foram impedidos pelo Espírito Santo, e intentaram ir para a Bitinia, mas o Espírito de Jesus não o permitiu’. Então, imaginando o que significava aquilo - 'Por que não nos foi permitido ir por este caminho, ou por aquele?’ - Paulo, numa visão, viu um homem macedônio e o ouviu dizer: “Passa à Macedônia e nos ajuda." "E", disse Lucas, "concluindo que Deus nos havia chamado para lhes anunciarmos o evangelho" (Atos 16:10), navegaram e chegaram a Filipos, muito certos de que o Senhor os tinha enviado para lá – e a próxima coisa que souberam foi que estavam num calabouço, com os pés amarrados e com as costas sangrando após as chicotadas.

Agora, o que você diz sobre isto? O que você irá fazer sobre isto? Parece uma tremenda contradição, e que um terrível engano havia sido cometido. Estão eles dizendo: ‘Entramos em confusão em relação à nossa orientação?’ Não! Nem um pouco. Naquela condição eles estavam cantando e louvando a Deus à meia-noite. O Senhor da glória tem a situação nas mãos, e isto é provado antes da manhã. Há um terremoto, os prisioneiros são libertos, o carcereiro e sua família foram batizados, e a igreja em Filipos foi estabelecida.

O carcereiro e sua família estavam entre os primeiros membros e eu não acredito que os membros de sua família eram infantes! É dito: "Eles lhes falaram a palavra do Senhor”, e você não coloca um bebê inocente numa cadeira e prega o evangelho para ele, ou ensina as coisas de Cristo a ele. Eram pessoas inteligentes e suficientemente adultas para entender o ensino e a pregação de Paulo, e para aceitá-la, de modo que foram todos batizados como pessoas responsáveis.

Eles estavam entre os primeiros membros daquela igreja; e nós temos esta linda carta vinda da própria prisão de Paulo, escrita anos mais tarde, quando ele estava em Roma. Nós não iríamos sacrificar esta carta aos filipenses por nada, iríamos? Ela é muito preciosa. Há o Senhor da glória, como você vê. É o Livro dos Atos do Espírito Santo, os atos do Senhor da glória, pois Ele está no comando.

Penso se poderíamos crer nisto quando estivermos em prisões, amarrados, com todas as coisas contra nós, e estivermos tendo um tempo difícil! Se pudéssemos sempre dizer: ‘O Senhor é o Senhor da glória. Ele tem o controle disto e o fim será glória!’ Bem, a coisa funciona desta maneira, muito embora Ele tenha que nos dizer mais adiante: ‘Ó, homem de pouca fé! Por que duvidastes?’ Embora nós, diante da prova, algumas vezes sentimos que não há nada de glória na situação, ou em nossa condição, no final Ele é fiel, e descobrimos que a glória é o fim dos caminhos estranhos do Senhor. Ele é o Senhor da glória, o que significa que Ele controla tudo com glória à vista.

O ESPÍRITO DA GLÓRIA

Pedro chama o Espírito Santo de ‘Espírito da glória’. Agora, o contexto é necessário como pano de fundo deste título do Espírito Santo. Se você ler a primeira carta de Pedro, irá ver que, em grande parte, é sobre os sofrimentos do povo do Senhor para quem ele está escrevendo. É dito que ele está escrevendo “aos estrangeiros dispersos no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitinia, eleitos de acordo com a presciência do Deus Pai”. Então, ele abre esta questão dos sofrimentos dessas pessoas: “Amados, não estranheis a ardente provação que vem sobre vós para vos experimentar, como se coisa estranha vos acontecesse”.

Há muito sobre sofrimentos do povo do Senhor nesta carta de Pedro, e, quando mencionou os sofrimentos, há duas coisas que ele associa a isto: primeiro graça, e, então, glória; graça resultando em glória. É de muita ajuda observar como Pedro fala de graça, mas, infelizmente, em nossa tradução, há lugares onde a palavra é mudada, e a palavra ‘agradável’ é usada. No capítulo 2:19 e 20 lemos: “Porque é coisa agradável, que alguém, por causa da consciência para com Deus, sofra agravos, padecendo injustamente. Porque, que glória será essa, se, pecando, sois esbofeteados e sofreis? Mas se, fazendo o bem, sois afligidos e o sofreis, isso é agradável a Deus”. Porém, colocando isto corretamente temos algo muito rico: "Porque isto é GRAÇA, que alguém, por causa da consciência para com Deus, sofra agravos, padecendo injustamente. Porque, que glória será essa, se, pecando, sois esbofeteados e sofreis? Mas se, fazendo o bem, sois afligidos e o sofreis, isso é GRAÇA para com Deus". Graça, então glória.

No capítulo 5:10 Pedro diz: “E o Deus de toda a graça, que em Cristo Jesus vos chamou à sua eterna glória, depois de haverdes padecido um pouco, Ele mesmo vos aperfeiçoará, confirmará, fortificará e fortalecerá”. Através do sofrimento por um pouco de tempo haverá graça suficiente para nos fazer triunfantes. Graça triunfante no sofrimento, isto significa glória.

Algumas vezes cantamos:

Jesus, Tua vida é minha, habite sempre em mim; e me deixe ver que nada pode tirar a sua vida de mim.

Isto veio da cama de um inválido! É alguma coisa, não é? Bem, isto é o que Pedro está falando a respeito – os sofrimentos, a ardente prova, e, então, ele diz: 'Graça nisto significa glória'. O Espírito da glória.

O Senhor nos ajude! Podemos dizer estas coisas, e dizê-las cuidadosamente, com cautela, pois podemos, assim, ser submetidos ao teste nestas coisas que falamos. O Espírito da glória pode pegar as coisas que poderiam nos destruir, que poderiam ser a nossa ruína caso tivéssemos a reação errada a elas, e transformá-las em glória. Este sofrimento, esta reação, esta prova pode significar glória. Paulo disse: "E, para que me não exaltasse demais pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de que eu não me exalte demais; acerca do qual três vezes roguei ao Senhor que o afastasse de mim; e ele me disse: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. Por isso, de boa vontade antes me gloriarei nas minhas fraquezas, a fim de que repouse sobre mim o poder de
Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco, então é que sou forte. Tornei-me insensato; vós a isso me obrigastes; porque eu devia ser louvado por vós, visto que em nada fui inferior aos demais excelentes apóstolos, ainda que nada sou. Os sinais do meu apostolado foram, de fato, operados entre vós com toda a paciência, por sinais, prodígios e milagres" (2 Corinthians 12:7-10).

O Espírito da glória pode pegar as nossas provas, e fará isso, se confiarmos nEle, e transformará as coisas das trevas, as coisas difíceis, as coisas dolorosas, em glória. Isto é, naquelas coisas que Ele irá nos levar para encontrar o prazer de Deus, a satisfação de Deus, e que coisa mais gloriosa poderíamos desejar do que isto , do que ouvi-lo dizer: “Feito está, servo bom e fiel. Entra no gozo do teu Senhor”?

O Pai da glória, o Senhor da glória e o Espírito da glória. Que o Senhor coloque estas palavras em nossos corações!

FIM

 

*A tradução deste estudo foi feita voluntariamente por Valdinei N. da Silva,  que, por reconhecer  a  excelência do conteúdo, coloca o mesmo ao alcance da Igreja de Cristo, para sua edificação. Peço aos  irmãos  que possuírem conhecimentos mais aprofundados em tradução, que colaborem, enviando as suas preciosas observações e retificações para: valdineibr@gmail.com

 

 

Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos não possuem copirraite. Portanto, você está livre para usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você desejar compartilhar escritos deste site com outros, por favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de custos e livres de direitos autorais.

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