Ministério
Profético
por T.
Austin-Sparks
Introdução
A função do
Profeta tem sido quase que invariavelmente
aquela de recuperação. Isto implica que a sua
ocupação se relaciona a algo perdido. Aquele
algo que era absolutamente essencial ao pleno
contentamento de Deus; a nota dominante do
Profeta era de descontentamento. E, havendo o
fator adicional que, por razões óbvias, o povo
não estava disposto a seguir o custoso caminho
do pleno propósito de Deus, o Profeta usualmente
era uma pessoa impopular. Mas sua impopularidade
não era prova de que ele estava errado ou era
desnecessário, pois todo Profeta era finalmente
defendido, embora com grande sofrimento e
vergonha para o povo.
Se é verdade que o
ministério profético está relacionado à
necessidade de que o propósito pleno de Deus em
relação ao Seu povo seja recuperado, certamente
este é um tempo de tal necessidade! Algumas
pessoas honestas e zelosas irão argumentar que
as coisas estão todas bem com a Igreja de Cristo
hoje. Uma rápida comparação com os primeiros
anos da vida da Igreja irá mostrar um vívido
contraste entre aquele tempo e os séculos
seguintes. Tome apenas o tempo de vida de um
homem - Paulo. No ano 33 A.D. alguns homens
desconhecidos, tidos como pobres e ignorantes,
estavam associados a um 'Jesus de Nazaré' - cuja
própria acepção era desprezível nas mentes de
todas as pessoas respeitáveis e influentes.
Esses homens, após
aquele Jesus ter sido crucificado, foram achados
mais tarde procurando proclamar Seu Senhorio e
obra salvífica, porém foram tratados duramente
por todos os corpos oficiais. No ano que Paulo
morreu - 67-68 A.D. (34 anos mais tarde) - como
ficou a questão? Havia igrejas em Jerusalém,
Nazaré, Cesaréia, Antioquia e toda Síria,
Galácia, Sardis, Laodicéia, Éfeso e todos os
centros na costa Oeste por toda a baixa Ásia; em
Filipos, Tessalônica, Atenas, Corinto, e as
principais cidades das ilhas e continente da
Grécia; Roma, e as Colônias Ocidentais Romanas;
e em Alexandria. A história de gerações de
empreendimentos missionários, milhares de
missionários, vastas somas de dinheiro,
organizações administrativas imensas, e muito
mais em publicidade, propaganda, e defesa de
posição, não se compara de forma alguma
favoravelmente às gerações acima.
Nós agora nos
encontramos confrontados com o fim de todo um
sistema de missões mundiais e missionários
profissionais visto que eles têm existido por um
período de tempo bastante longo e o mundo ainda
não está evangelizado. Há uma razão para isso? -
Sentimos - com votos contrários, sabemos - que
há. A explicação não está numa diferença do
propósito Divino, ou de boa vontade Divina em
suportar este propósito. Está na diferença na
compreensão da base, modo, e objetivo da obra de
Deus. Alguma prova disso é reconhecível em nosso
próprio tempo. Em muito menos do que o tempo de
vida de um homem, na China, igrejas de caráter
profundamente espiritual surgiram por toda
aquela terra; quatrocentas delas em poucos anos.
No tempo quando o
comunismo dominava aquele país, um movimento
estava em progresso, o qual não estava apenas
cobrindo a China, mas alcançando mais longe, e,
como resultado, igrejas ativas são hoje
encontradas em muitas partes do Extremo Leste.
Esta foi por anos uma obra desdenhada,
perseguida e banida. Mas mesmo depois que
movimentos missionários e sociedades tiveram que
deixar o país, esta obra prosseguiu, e, embora
com muitos mártires, ainda continua. O homem
levantado por Deus está na prisão, mas a obra
não pode ser destruída.
O mesmo tipo de
coisa está ocorrendo na Índia, e em apenas
alguns poucos anos de vida de um homem que
conhece a Deus, igrejas de caráter
verdadeiramente neotestamentária têm surgido por
todo o país e além das fronteiras. A oposição é
muito grande, mas a obra é de Deus, e não pode
ser impedida. Qual, novamente, é a explicação? A
resposta não é achada no campo do zelo ou
devoção pela salvação das almas. Antes está no
seguinte: que havia no princípio o fator supremo
de uma compreensão absolutamente original e nova
de Cristo e do eterno propósito de Deus em
relação a Cristo. Esta revelação pelo Espírito
Santo veio com poder devastador e revolucionário
aos apóstolos e à Igreja, e, mais do que ser uma
'tradição passada pelos pais', um sistema
pronto, tudo estabelecido e assumido como tal,
era, para cada um deles, como se a coisa tivesse
acabado de vir do céu - o que, de fato, era
verdade.
Este movimento de
Deus, gerado por uma poderosa substituição de
todas as tradições e 'velhas' coisas por uma
experiência prática da Cruz, foi marcado por
três características: (1) Absoluta
celestialidade e espiritualidade; (2)
Universalidade, envolvendo a negação de todas as
discriminações, exclusividades e parcialidades;
e (3) Absoluto Senhorio de Cristo diretamente
operante pela soberania do Espírito Santo. Tudo
isso estava reunido numa tremenda e poderosa
compreensão inicial e progressiva do imenso
significado de Cristo no eterno conselho de
Deus, e portanto, da Igreja como Seu Corpo.
Qualquer coisa que
corresponda aos resultados que caracterizaram o
princípio irá significar - e significa - à
razão, principalmente, uma substituição da
tradição, do sistema estabelecido, do
institucionalismo, do eclesiasticismo, do
comercialismo, do organizacionalismo, etc., por
uma pura, original e nova consciência do pleno
propósito de Deus concernente a Seu Filho.
Trazer à vista este pleno propósito de Deus era
a essência do ministério dos Profetas, e será
sempre assim. Nós não podemos hoje falar de uma
classe especial como 'Profetas', mas a função
pode ainda estar operante, e é a função que
importa mais do que o ofício. FOREST HILL,
LONDRES. JUNHO, 1954. T. A. S.
Capítulo 1 - O Que
é o Ministério Profético
Ler: Deuteronômio
18:15,18; Atos 3:22; 7:37; Lucas 24:19;
Apocalipse 19:10; Efésios 4:8,11-13
"Ele deu uns
para... profetas... querendo o aperfeiçoamento
dos santos, para a obra do ministério, para a
edificação do Corpo de Cristo" (Efésios 4:11,12)
Vamos considerar a
questão do ministério profético. "Ele deu uns
para... profetas". Mas primeiro devemos fazer
uma distinção, pois quando falamos de ministério
profético, descobrimos que as pessoas são
bastante influenciadas por uma mentalidade
associada ao que é chamado de 'profecia'. Elas
imediatamente relacionam o próprio termo
'profético' a incidentes, acontecimentos, datas,
e assim por diante, que repousa principalmente
no futuro. Isto é, elas pensam instantaneamente
no elemento preditivo do ministério profético e
limitam toda a função a esta concepção.
Agora, para o real
valor daquilo que está diante de nós, devemos
remover de nossas mentes esta idéia limitada de
preeminência do aspecto preditivo no ministério
profético. Ele é um aspecto, mas apenas um
aspecto. Ministério profético é algo muito mais
abrangente do que predição.
Talvez fosse
melhor se disséssemos que a função profética,
indo mais longe do que meros eventos,
acontecimentos e datas, é o ministério da
interpretação espiritual. Esta frase irá
abranger todo o terreno daquilo com que estamos
agora ocupados. Profecia é interpretação
espiritual. Se você pensar nisto por um
instante, considerando o ministério profético na
Palavra de Deus, estou certo de que você irá ver
quão verdadeiro isto é. É a interpretação de
todas as coisas do ponto de vista espiritual; é
trazer os significados espirituais das coisas -
do passado, do presente e do futuro - para o
povo de Deus, dando a compreensão do significado
das coisas em seu valor e sentido espiritual.
Este era e é a essência do ministério profético.
Naturalmente,
aquilo que sabemos sobre profetas nas Escrituras
é que eles exerciam uma função ou faculdade
especial entre o povo do Senhor, mas também
devemos lembrar de que eles freqüentemente
combinavam suas funções proféticas com outras
funções. Samuel era um profeta, mas também era
juiz, e sacerdote. Moisés era um profeta, mas
era outras coisas, além disso. Creio que Paulo
era um profeta; ele era profeta, evangelista;
ele era tudo, parece-me! Assim, nosso propósito
não é o de falar de profetas, como pessoas
distintas, mas de um ministério profético. É no
ministério que estamos interessados, e iremos
chegar ao instrumento reconhecendo o ministério
desempenhado; compreenderemos melhor o vaso e
veremos o que ele é se enxergarmos a finalidade
para a qual ele foi constituído. Assim, deixe-me
dizer que é a função, e não as pessoas, que
temos em vista quando falamos de profetas ou
ministério profético.
Estou bem certo de
que aqueles que têm algum conhecimento, qualquer
que seja, dos tempos, espiritualmente falando,
irão concordar comigo quando digo que a
necessidade premente do nosso tempo é a de um
ministério profético. Nunca houve um tempo
quando existisse tão extensivamente a
necessidade de uma voz de interpretação, quando
as condições necessitassem mais do ministério de
interpretação. Ninguém quer fazer declarações
extravagantes ou ser extremo em seus próprios
discursos, mas eu acho que não seria nem
extravagante nem extremo dizer que o mundo hoje
está bastante carente de um verdadeiro
ministério profético no seguinte sentido - uma
voz que interprete a mente de Deus para as
pessoas. Este ministério pode existir em algum
pequeno grau aqui e ali, mas de modo algum está
ele sendo cumprido de forma plena.
Constantemente nossos corações gemem e clamam,
Oh, que o propósito de Deus a respeito da
presente situação possa ser recuperado,
primeiramente para o reconhecimento de Seu povo,
e, então, através de Seu povo para as pessoas
mais distantes! Há uma grande e terrível
necessidade de um ministério profético em nosso
tempo.
Ministério
Profético em Relação ao Pleno Propósito de Deus
Reconhecendo isto,
precisamos chegar a entender que função é esta.
Qual é a função do ministério profético? É a de
levar as coisas para o pleno propósito de Deus,
e por isso trata-se de algo reacionário.
Geralmente achamos que os profetas surgem como
uma reação da parte de Deus devida ao curso e
tendência das coisas entre o Seu povo; uma
chamada de volta, uma re-declaração, um
re-pronunciamento do propósito de Deus, um
trazer os pensamentos de Deus novamente à vista.
Os profetas
ficavam no meio da correnteza (normalmente uma
correnteza rápida e impetuosa) como uma rocha; o
curso das coisas se precipitava sobre eles. Eles
desafiavam e resistiam aquele curso, e a
presença deles no meio da correnteza
representava a mente de Deus como que contrária
ao curso predominante das coisas. No Velho
Testamento, o profeta usualmente entrava em seu
ministério num tempo quando as coisas estavam
mal espiritualmente, elas eram tudo, menos a
vontade de Deus; a situação era de miséria, as
coisas estavam confusas, misturadas, caóticas;
havia muita decepção, falsidade, e dificilmente
as coisas poderiam piorar mais.
Aqui está aquilo a
que o ministério profético abrangente se refere
- o original e supremo propósito de Deus para o
Seu povo, e através dele; e ao dizer isto, você
chega exatamente ao âmago da questão.
Perguntamos novamente: O que é o ministério
profético? Qual é a função profética? A que ela
se relaciona? - E a resposta abrangente é que
ela se refere ao pleno, original e supremo
propósito de Deus para o Seu povo e através
dele.
Se esta afirmação
é verdadeira, ela nos ajuda a enxergar
primeiramente a necessidade em nossa época;
pois, falando genericamente, o povo de Deus na
terra em nosso tempo tem confundido partes do
propósito de Deus com o todo; têm enfatizado
fases em detrimento do todo. Estão misturando os
meios, os métodos, o entusiasmo e o zelo com o
exato propósito do Senhor, falhando em
reconhecer que o propósito de Deus deve ser
alcançado à maneira de Deus e pelos meios de
Deus, e, tanto a maneira quanto os meios são
exatamente tão importantes quanto o próprio
propósito: isto é, você não pode alcançar o
propósito de Deus de qualquer maneira, por meio
de qualquer tipo de método que você possa
empregar, projetando suas próprias idéias ou
programas, ou esquemas, para obter o propósito
de Deus. Deus possui o Seu próprio método e
meios de alcançar Seu objetivo. Os pensamentos
de Deus se estendem e se espalham ao menor
detalhe de Seu propósito, e você não pode
entender completamente o propósito de Deus a
menos que todos os detalhes estejam em
conformidade com a mente de Deus.
Deus poderia ter
dito a Moisés: "Construa um tabernáculo para
mim. Deixo com você o modo de fazê-lo, o
material a ser usado; você sabe o que eu quero;
vá e faça um tabernáculo para mim". Moisés
poderia ter a idéia do que Deus queria e ter
planejado o tipo de coisa que ele faria para
Deus de acordo com sua própria vontade. Mas
sabemos que Deus não entregou nem um simples
detalhe, um pino, um alfinete, um ponto de
costura ou uma linha ao critério do homem. Eu
apenas uso esta ilustração para inculcar o que
estou querendo dizer, que o ministério profético
serve para apresentar o pleno, original e
supremo propósito de Deus; interpretar a mente
de Deus em todas as questões concernentes ao Seu
propósito, alinhar todos os detalhes ao
propósito, e fazer o propósito governar todas as
coisas.
Ministério
Profético Pela Unção
(a) Conhecimento
Detalhado dos Propósitos de Deus
Isto envolve
várias coisas que são claramente vistas serem
características do ministério profético na
Palavra de Deus. Antes de tudo, envolve a
questão da unção. O significado e valor da unção
é que, primeiramente, somente o Espírito de Deus
conhece o plano completo e detalhado, e só Ele
pode fazer com que todas as coisas se ajustem em
princípio à vontade de Deus.
Digo que somente o
Espírito de Deus tem isto. Uma das coisas mais
maravilhosas na Escritura é descobrir que,
quando você se volta para a expressão mais
simples, mais primitiva - digamos, a mais
elementar - das coisas Divinas na Palavra de
Deus, tudo lá está bem ajustado em princípio a
tudo que surge mais adiante naquela mesma
conexão em maior plenitude. É simplesmente
maravilhoso como Deus tem mantido tudo ligado a
um princípio: você jamais descobre mais tarde,
não importa quão plenamente algo seja
desenvolvido, que existe alguma mudança no
princípio; o princípio está lá e você não
consegue se desviar dele.
Quando mais tarde
você se ocupa com uma questão mais desenvolvida
na Palavra de Deus, você descobre que ela está
ligada ao seu princípio original, quando ela foi
inicialmente apresentada. E Deus tem trazido
todas as coisas alinhadas a esses princípios
fixos. Deus não se desvia nem um milímetro. Sua
lei está lá e ela é imutável. Somente o Espírito
Santo conhece tudo isso. Ele conhece as leis e
os princípios, todas as coisas que
espiritualmente governam o propósito de Deus; e
somente Ele conhece o plano e os detalhes, e
pode fazer com que tudo se ajuste a esses
princípios e leis. E tudo tem que se ajustar a
eles.
Podemos tomar isto
como certo, se numa estrutura houver algo que
esteja fora de harmonia com o princípio
espiritual básico original, isto será uma falha
que irá significar uma tragédia, mais cedo ou
mais tarde. A estrutura, em cada detalhe de
princípio, tem que estar ajustada à fundação, ao
original. Muitos de nós não estamos iluminados
quanto a tudo isto. Sentimos o nosso caminho ao
longe, avançamos às apalpadelas, vamos recebendo
luz lentamente, muito pouco de uma vez; mas
recebemos luz. Porém o ministério profético é um
ministério iluminado, e é isto que, debaixo da
unção, significa trazer as coisas de volta à
posição de absoluta proteção e segurança porque
estão ajustadas ao princípio Divino.
A unção é
necessária, primeiramente, porque somente o
Espírito de Deus conhece todo o propósito de
Deus e somente Ele pode falar, trabalhar e levar
as coisas em harmonia e absoluta consistência
aos princípios Divinos que governam tudo; e tudo
que é da parte de Deus deve incorporar esses
princípios. O princípio da Igreja - aquilo que
governa a Igreja - é que ela é algo celestial.
Ela não é uma coisa terrena; ela está associada
a Cristo como estando no céu. A Igreja não veio
à existência até que Cristo estivesse no céu, o
que significa que a Igreja tem que ir, em
relação a Cristo no céu, para o terreno
celestial, de uma maneira espiritual. Ela tem
que deixar a esfera terrena e realmente ser algo
celestial, espiritual, embora ainda esteja aqui
na terra. Esta é uma lei e um princípio Divino
que é muito claro no Novo Testamento. Ela
manifestadamente está lá, a partir de "Atos" em
diante.
Mas isto não é uma
coisa nova que chegou com o Novo Testamento.
Deus colocou esta lei em tudo que aponta de
alguma forma profética para a Igreja e para
Cristo. Isaque não pôde deixar a terra e ir
buscar sua esposa na terra estrangeira. Ele teve
que permanecer lá e o servo é que foi enviado
para trazê-la para onde ele estava. Aí está Sua
lei. Cristo está no céu; o Espírito é enviado
para levar a Igreja para onde Ele está -
primeiramente numa forma espiritual, e, então,
finalmente de forma literal; mas o princípio
está aí. José passa pela rejeição e morte
simbólica e finalmente alcança o trono, e com
sua exaltação ele recebe sua esposa, Asenate.
José é uma figura
clara de Cristo. É em Sua exaltação que Cristo
recebe Sua Igreja, Sua Noiva. O Pentecostes é
realmente o resultado da exaltação de Cristo,
quando a Igreja é espiritualmente levada para um
relacionamento vivo com Ele mesmo, o Cristo
exaltado. Aí está o Seu princípio na simples
história de José. Você pode prosseguir desta
maneira, vendo como Deus em detalhes simples tem
mantido tudo ligado a um princípio; você
descobre que Seus princípios eternos estão
incorporados nas coisas mais simples do Velho
Testamento, cumprindo esta declaração final que
o testemunho de Jesus é o próprio espírito da
profecia (Apocalipse 19:10).
Há algo aí que
indica uma grande verdade celestial, que é o
espírito da profecia apontando para Cristo. Eu
me pergunto se você realmente ficou
impressionado com a tremenda importância do
principio Divino nas coisas. Há um princípio, e
o reconhecimento e o respeito deste princípio
determina o sucesso do conjunto todo. Agora,
somente o Espírito Santo conhece todos esses
princípios Divinos, somente Ele conhece a mente
de Deus, os pensamentos de Deus, em plenitude.
Daí, se é para as
coisas serem levadas ao pensamento e propósito
pleno de Deus, isto somente será possível
através da unção – o que significa que o
Espírito de Deus veio para assumir o comando. Um
ministério ungido significa que o Deus Espírito
Santo se tornou responsável pela coisa toda; Ele
está engajado nela, e eu não suponho que alguém
iria discutir ou contestar a declaração da
necessidade do Espírito Santo, a necessidade de
que Ele esteja no comando, de que tudo seja
feito por Ele. Mas, oh, isto significa muito
mais do que uma verdade e uma posição geral.
(b) Conhecimento
Transmitido por Revelação
Isto leva a uma
segunda coisa no ministério profético: Pela
unção vem a revelação. Podemos aceitar de forma
geral a necessidade de o Espírito fazer tudo -
iniciar, conduzir, governar e ser o poder e a
inspiração de tudo; mas oh! Isto é uma instrução
para uma vida toda, e isto traz a necessidade de
que tudo seja dado por revelação. Este é o
porquê de originalmente os profetas serem
chamados de 'videntes' - homens que viam. Eles
enxergavam o que nenhum outro homem enxergava.
Eles viam aquilo que era impossível às outras
pessoas verem, mesmo os religiosos, pessoas que
temiam a Deus. Os profetas viam por revelação.
Um ministério
profético requer revelação; é um ministério de
revelação. Mais adiante iremos examinar isto
mais de perto, mas quero apenas enfatizar o fato
neste momento. Não estou pensando em revelação
extra Escritura. Não posso tomar o terreno de
certos 'profetas'(?) na Igreja hoje que
profetizam fora das Escrituras. Não, mas dentro
da revelação já dada - e Deus sabe que ela é
grande o suficiente! - o Espírito Santo ainda se
move para revelar aquilo que 'nenhum olho viu,
nem ouvido ouviu'. Esta é a maravilha de uma
vida no Espírito. É uma vida de constante nova
descoberta; tudo está cheio de surpresa e
maravilha.
Uma vida guiada
pelo Espírito jamais pode ser estática; jamais
pode alcançar o fim aqui, nem chegar a uma
posição onde a soma da verdade esteja
encaixotada. Uma vida realmente no Espírito
Santo é uma vida que percebe infinitamente,
transcendentemente, mais além do que aquilo que
temos visto, ou captados, ou sentido. As pessoas
que chegaram a uma posição fixa e não conseguem
enxergar - quem dirá se mover - além de sua
própria posição atual, representam uma posição
que é estranha à mente do Espírito Santo.
Ministério profético sujeito ao Espírito Santo é
um ministério de revelação crescente.
O profeta era um
homem que sempre recorria a Deus, e não saía
para falar até que Deus lhe mostrasse a próxima
coisa. Ele não ia simplesmente em seu ofício
profissional, porque era um profeta e isto era
esperado dele. Não havia nada de profissional
sobre a sua posição. Quando a coisa se tornou
profissional, então a tragédia tomou conta do
oficio profético. Ele se tornou profissional a
partir das 'escolas dos profetas’ estabelecidas
por Samuel. Não devemos confundir essas escolas
dos profetas com o verdadeiro oficio profético.
Havia uma diferença entre aqueles que se
graduavam nas escolas dos profetas e os
verdadeiros profetas representados por homens
tais como Samuel, Elias, Eliseu.
Sempre que as
coisas se tornavam profissional, algo era
perdido, porque a própria essência e natureza do
ministério profético é aquilo que vem por
revelação fresca a todo tempo. Uma coisa
revelada é nova; ela pode ser algo velho, mas há
algo sobre ela que é fresco como uma revelação
ao coração da pessoa em questão, e é tão novo e
maravilhoso que o efeito com esta pessoa é como
se ninguém jamais tivesse visto aquilo, embora
milhares possam tê-lo visto antes.
Faz parte da
natureza da revelação manter as coisas vivas e
frescas, enchendo-as de energia Divina. Você não
pode recuperar uma posição antiga apenas com
doutrina velha. Você jamais irá recuperar algo
de Deus que se perdeu trazendo de volta a exata
declaração da verdade. Você pode declarar com
exatidão a verdade dos primeiros dias do Novo
Testamento, mas pode estar longe de ter as
condições obtidas em tais tempos.
Sucessão profética
não é sucessão de ensino; é uma sucessão de
unção. Algo pode vir de Deus, pela operação de
Deus; pode haver algo muito real, muito vivo,
que Deus efetiva através de uma
instrumentalidade, pode ser individual ou
coletivo, o qual é vivo devido a Deus tê-lo
trazido debaixo de Sua unção. E, então, alguém
tenta imitá-lo, duplicá-lo, ou mais tarde alguém
o assume para executá-lo; alguém foi apontado,
eleito, escolhido por meio de voto para ser o
sucessor. A coisa segue e cresce; porém algum
fator vital não mais estará lá. A sucessão é por
meio da unção, não por meio de uma estrutura,
nem mesmo de doutrina. Não podemos recuperar as
condições do Novo Testamento por meio de
re-afirmar a doutrina do Novo Testamento. Temos
que receber a unção que tornam as coisas vivas,
frescas, vibrantes. Tudo tem que vir por meio de
revelação.
Alguns de nós
sabemos o que é ser capaz de analisar nossas
Bíblias e apresentar, talvez de maneira muito
interessante, os conteúdos de seus livros e
todas as suas doutrinas. Podemos fazer isto com
'Efésios' tão bem como podemos fazê-lo com
qualquer outro livro. Podemos chegar em
'Efésios' e analisá-lo e delinear a Igreja e o
Corpo e tudo mais, e sermos tão cegos quanto
morcegos até que o dia chega, aí então, havendo
Deus feito algo dentro de nós (algo profundo,
maravilhoso e tremendo), enxergamos a Igreja, o
Corpo - enxergamos "Efésios"! Eles eram dois
mundos: um era verdadeiro, exato em detalhe
técnico, cheio de interesses e fascinação - mas
havia algo faltando.
Podíamos ter
declarado a verdade do princípio ao fim, mas não
conhecíamos aquilo que estava nela; e até que
tenhamos passado por essa experiência e algo
tenha acontecido em nós, podemos achar que
sabemos, podemos dar nossa vida por aquilo; mas
de fato não conhecemos. Há muita diferença entre
uma compreensão perspicaz, clara, mental das
coisas na Palavra de Deus, e uma revelação
espiritual.
É uma diferença
entre dois mundos - e é impossível fazer com que
as pessoa entendam esta diferença até que algo
aconteça. Iremos falar sobre este 'algo que
acontece' mais adiante, porém aqui estamos
apenas afirmando os fatos. Pela unção há
revelação, e revelação pela unção é essencial
para se enxergar aquilo que Deus procura, tanto
no geral como no detalhe.
Assim,
desenvolvendo, chegamos ao seguinte: ministério
profético é aquele ministério que - embora muito
detalhe ainda tenha que ser revelado, até mesmo
aos mais iluminados servos de Deus - é aquele
que tem, pelo Espírito de Deus, enxergado o
propósito de Deus, de forma original e final.
(c) Conformidade
Exata aos Pensamentos de Deus
E, então, uma
terceira coisa que descobrimos associada à
unção. É aquilo a que já nos referimos no geral
- exatidão.
A unção traz em
primeira mão aquele contato com Deus, o que
significa ver Deus face a face. Não foi isto que
resumiu a vida de Moisés? "Nunca mais se
levantou nas terras de Israel um profeta
semelhante a Moisés, com quem o Senhor falava
face a face" (Deut. 34:10). E quando isto
acontece você chega a uma posição de
conhecimento espiritual direto de Deus, contato
direto com Deus, você chega ao lugar onde o céu
está aberto - você não pode, sob nenhuma
hipótese, por alguma vantagem, ser uma pessoa
que faça transigências, que se desvia daquilo
que tem sido mostrado ao seu coração.
O que é isto que o
apóstolo diz a respeito de Moisés? "Moisés se
achou fiel em toda a sua casa, como servo" (Heb
3:5); e a fidelidade de Moisés é vista
particularmente e em grande medida na maneira
como ele foi dominado exatamente por aquilo que
Deus disse. Você conhece aqueles últimos
capítulos do livro de Êxodo, trazendo tudo de
volta para a palavra, sempre, "como o Senhor
havia ordenado a Moisés".
Tudo era feito
como Deus falava; através de todo o sistema a
que Moisés foi levantado para estabelecer e
constituir, ele era fiel ao detalhe. Sabemos por
que, naturalmente; e aqui está aquela grande e
abrangente explicação do que acabei de dizer
sobre os princípios. Deus tem Cristo em vista o
tempo todo, e cada detalhe, e aquele sistema que
Moisés instituiu era uma representação de
Cristo; e, assim, era necessário que aquilo
fosse exato em cada detalhe.
É uma dificuldade,
um caminho custoso, mas você não pode ter
revelação, e avançar em revelação, e ao mesmo
tempo negociar sobre os detalhes e ter as coisas
em cada ponto diferente daquilo que exatamente o
Senhor quer. Você não é governado por
diplomacia, política, ou opinião pública. Você é
governado por aquilo que o Senhor disse em seu
coração pela revelação quanto ao Seu propósito.
Isto é ministério profético.
Os Profetas não
eram homens que se acomodavam a alguma coisa que
fosse comparativo em sua bondade. Eles jamais se
permitiam avançar completamente se a coisa fosse
apenas comparativamente boa. Olhe para Jeremias.
Houve um dia na vida de Jeremias quando um bom
rei buscava recuperar as coisas, e ele de fato
deu uma grande festa na Páscoa, e foi
aparentemente uma grande ocasião. Eles estavam
fazendo grandes coisas lá em Jerusalém, mas com
tudo aquilo que acontecendo de bom,
confessadamente bom, Jeremias não se deixou
levar. Ele tinha uma reserva, e ele estava
certo.
Foi visto mais
tarde que tudo não passava de algo muito
superficial, que o coração do povo não havia
mudado, os lugares altos não foram removidos, e
a profecia original de Jeremias tinha que
permanecer. Se a reforma aparente tivesse sido
algo verdadeiro, então as profecias de Jeremias
sobre o cativeiro, a destruição da cidade, a
completa entrega ao julgamento, teria resultado
em nada. Jeremias se conteve.
Ele pode não ter
entendido, pode ter ficado perplexo a respeito,
mas o seu coração não lhe permitia que se
deixasse levar por aquele algo comparativamente
bom. Ele descobriu a razão do porque mais tarde
- que, embora fosse surpreendentemente bom em
certo aspecto, não representava uma mudança de
coração, e, portanto, o julgamento tinha que
vir.
O profeta não pode
aceitar como suficiente e final aquilo que é
apenas comparativo, embora ele se alegre na
medida do benefício que possa haver em alguma
parte. Devemos, naturalmente, ser generosos para
com qualquer pouco de bem que está no mundo -
vamos ser gratos por tudo que está correto, que
é verdadeiro e de Deus; mas oh! Não podemos
dizer que aquilo está satisfazendo plenamente ao
Senhor, que é tudo o que o Senhor deseja. Não, o
ministério profético é completamente fiel aos
pensamentos de Deus. É um ministério de
exatidão. É isto o que a unção significa, e nós
dissemos por que - é um Cristo pleno que se está
em vista.
A última
declaração em Apocalipse 19:10 resume tudo. Ela
sintetiza numa sentença o ministério profético
desde o princípio. Suponho que o ministério
profético começou no dia quando foi declarado
sobre a semente da mulher que iria esmagar a
cabeça da serpente, e então passou para Enoque,
que profetizou dizendo: "Olhem, o Senhor
virá..." (Judas 14), e foi assim a partir de
então. Está tudo reunido no final de Apocalipse
no seguinte pensamento: que "o testemunho de
Jesus é o espírito da profecia". Isto é, o
espírito da profecia desde o início até o fim
está totalmente voltado para isto - o testemunho
de Jesus.
O espírito da
profecia sempre teve Jesus em vista desde o seu
primeiro pronunciamento - "a semente da mulher"
- até "Olhem, o Senhor virá..." (e como o
princípio e o fim são trazidos juntos desde tão
cedo!). Durante todo o caminho foi sempre com o
Senhor Jesus em vista, e um Cristo pleno. "Ele
deu profetas... até que todos cheguemos...à
plenitude de Cristo". Este é o objetivo, e Deus
jamais pode ficar satisfeito com qualquer coisa
a não ser a plenitude de Seu Filho, representado
pela Igreja.
A Igreja deve ser
a plenitude Dele; um Varão perfeito - esta é a
Igreja. O ministério profético é para isto -
para a plenitude de Cristo, a total
inclusividade de Cristo. É para ser Cristo, o
centro da circunferência; Cristo, primeiro e
último; Cristo no geral e Cristo em cada
detalhe. E ver Cristo por revelação significa
que você jamais pode aceitar qualquer coisa
diferente disso. Você viu, e isto tem
estabelecido. A maneira de se alcançar o
objetivo de Deus, então, é enxergando por meio
do Espírito Santo, e este enxergar é a base do
ministério profético.
Acho que isto é
suficiente para mostrar o que dissemos no
início, que, se enxergarmos a natureza do
ministério, imediatamente enxergamos o que o
vaso é. O vaso pode ser indivíduos cumprindo tal
ministério, ou pode ser um coletivo. Mais
adiante poderemos falar algo mais sobre o vaso,
mas vamos agora pensar tecnicamente, em termos
de apóstolos, profetas e outros, como ofícios.
Vamos pensar sobre eles como funções vitais.
Deus quer que o
homem e a função sejam idênticos, não o homem e
um profissional, ou uma posição profissional,
seja que título for. O vaso deve ser a função, e
a função deve justificar o vaso. Nós não vamos
andar por aí nos promovendo como profetas; mas
Deus conceda que possa ser levantado um
ministério profético para um tempo como este,
quando o Seu pleno propósito concernente a Seu
Filho seja trazido de volta à vista entre o Seu
povo. Esta é a necessidade das pessoas, e também
Dele.
Capítulo 2 - A
Formação de um Profeta
O ministério
profético não é algo que apareceu com o tempo,
mas é algo que veio da eternidade. Saiu dos
conselhos eternos.
Talvez você se
pergunte o que isto quer dizer. Bem, lembramos
que, sem nenhuma explicação ou definição, algo
surge bem lá no princípio e assume lugar de
autoridade na economia de Deus, envolvendo esta
mesma função. Quando Adão pecou e foi expulso do
jardim, a Palavra apenas diz: "Deus colocou
Querubins ao oriente do jardim do Éden... para
guardar o caminho da árvore da vida" (Gênesis
3:24).
Quem ou o que são
querubins? De onde eles vêm? Não ouvimos nada
sobre eles anteriormente; nenhuma explicação
sobre eles é dada. Simplesmente é uma
declaração. Deus os colocou lá para guardar o
caminho da árvore da vida. Eles se tornaram os
guardadores da vida, para manter as coisas em
conformidade com o pensamento de Deus. Pois os
pensamentos do coração do homem tinha se
desviado dos pensamentos de Deus e se tornado
mal; tudo ficou manchado; e agora os guardadores
do propósito de Deus acerca do maior de todas as
coisas para o homem - que é a vida Divina, a
vida não criada - os guardadores, os querubins,
foram colocados lá.
Porém, mais tarde
nos é dado compreender como os querubins se
parecem: esta simbólica e complexa representação
possui aspecto quádruplo - o leão, o boi, o
homem e a águia; e nos é dado compreender muito
claramente que o aspecto predominante é o homem.
Na verdade é um homem com três outros aspectos:
de leão, de boi, e de águia. O leão é o símbolo
da realeza ou de governo; o boi é símbolo do
serviço e de sacrifício; a águia, da glória
celestial e mistério. O homem, o aspecto
predominante do querubim - o que é?
Sabemos, através
das Escrituras, que o homem assume a posição, na
ordem das coisas de Deus, de profeta, o
representante de Deus. A representação dos
pensamentos de Deus é um homem. Esta foi a
intenção na criação de Adão à imagem e
semelhança de Deus - para ser a corporificação e
expressão pessoal de todos os pensamentos de
Deus. É para isto que o homem foi criado. É isto
o que encontramos no Homem, o Homem que era Deus
manifestado na carne. Ele era a perfeita
expressão de todos os pensamentos de Deus.
De onde veio este
simbolismo do querubim? Ele simplesmente foi
trazido. Veio da eternidade. É um pensamento
eterno e Divino, e ele toma conta das coisas
para Deus. Assim, o homem - e nós conhecemos
aquela frase "o Filho do Homem" - está
particularmente relacionado ao ofício profético,
e a função profética é uma coisa eterna, que
simplesmente entrou. É, em sua própria natureza,
a representação dos pensamentos Divinos, e ela
mantém as coisas na pureza e em plenitude. Esta
é a idéia, em relação ao homem, para o profeta,
e esta é a função e a natureza profética.
A Identificação do
Profeta Com a Sua Mensagem
Mas o que esta
função traz consigo? Aqui nós chegamos ao ponto
mais importante do todo. É a absoluta identidade
do vaso com o seu ministério. Ministério
profético não é algo que você assume. É algo que
você é. Nenhuma academia pode fazer de você um
profeta. Samuel instituiu a escola dos profetas.
Ela tinha dois propósitos - primeiro, a
disseminação do conhecimento religioso, e
segundo, o registro das crônicas da história
religiosa. Nos dias de Samuel não havia visão
aberta; as pessoas tinham perdido a Palavra de
Deus. Elas tinham que aprender a Palavra de Deus
novamente, e as crônicas dos caminhos de Deus
tinham que ser escritas e guardadas para as
futuras gerações, e a escola dos profetas foi
instituída para esta finalidade. Porém, há uma
grande diferença entre aqueles profetas
acadêmicos e os profetas ungidos. Os profetas
acadêmicos tornaram-se membros de uma profissão
e rapidamente se transformaram em uma coisa
indigna. Todos os falsos profetas vieram da
escola de profetas, e foram aceitos publicamente
como tais. Tornaram-se uma instituição superior
e foram aceitos. Mas eram falsos profetas.
Entrar para uma faculdade religiosa não faz de
você um profeta de Deus.
Minha ênfase é a
seguinte - a identificação do vaso com o seu
ministério é o próprio âmago do pensamento
Divino. Um homem é chamado para representar os
pensamentos de Deus, para representá-los naquilo
que ele é, não naquilo que ele faz. O vaso em si
é o ministério e você não consegue dividir os
dois.
A Necessidade do
Esvaziamento de Si Próprio
Isto explica tudo
na vida dos grandes profetas. Explica a vida de
Moisés, o profeta que o Senhor Deus levantou
entre os seus irmãos (Deut. 18:15,18). Moisés
tentou assumir a obra de sua vida. Ele era um
homem de tremendas habilidades, "instruído em
toda sabedoria dos egípcios" (Atos 7:22), com
grande qualificações e dons naturais, e então,
de alguma maneira ele obteve alguma concepção de
uma obra de vida para Deus. Era muito
verdadeira; era uma concepção verdadeira, uma
idéia correta; ele era bastante honesto, não
havia qualquer dúvida a respeito dos seus
motivos; porém ele tentou assumir aquela obra na
base daquilo que ele era naturalmente, baseado
em sua própria habilidade, qualificação e zelo,
e nesta base foi permitido que viesse um
desastre sobre a coisa toda.
Não é assim que os
profetas são formados; nem é desta maneira que o
oficio profético é exercido. Moisés precisou ir
para o deserto e por quarenta anos ser
esvaziado, até que não sobrasse nada de tudo
aquilo como base sobre o qual ele pudesse se
apoiar para fazer a obra de Deus, ou cumprir
qualquer comissão Divina. Ele era por natureza
um homem "poderoso em suas palavras e obras"; e,
contudo, agora ele diz: "Eu não sou eloqüente...
Sou pesado de língua..." (Êxodo 4:10). Houve um
tremendo corte de todas as facilidades e
recursos naturais, e não penso que Moisés foi
desagradável em sua resposta a Deus. Ele não
disse em efeito: ‘Tu não me permitiste fazer a
coisa naquela ocasião, então também não irei
fazê-la agora’. Penso que Moisés era um homem
que estava sob a disciplina Divina, e ainda, no
auge dessa disciplina. Um homem que está
realmente dominado por coisas e que é petulante
não responde a pequenas oportunidades de ajudar
as pessoas.
Temos um vislumbre
de Moisés no início de seu tempo no deserto
(Êxodo 2:16,17) que sugere que ele não era esse
tipo. Quando houve a dificuldade no poço, sobre
a questão de dar água aos rebanhos, se Moisés
estivesse de mau humor, irritadiço, descontente
devido o Senhor ter aparentado não estar com ele
no Egito, provavelmente ele teria sentado em
outro lugar para observar, e não teria feito
nada para ajudar. Mas ele imediatamente foi
ajudar, de boa vontade, fazendo tudo o que
podia. Ele estava no auge de sua prova. Pequenas
coisas mostram onde um homem está.
Nós passamos por
tempos de prova e teste sob a mão de Deus, e é
muito fácil chegarmos ao estado de espírito que
diz, em efeito: ‘O Senhor não me quer, Ele não
precisa de mim!’ Deixamos todas as coisas
passarem, não nos importamos com nada; afundamos
em nossas provas e ficamos rendidos inutilmente.
Não creio que o Senhor vem a uma pessoa como
esta a fim de comissioná-la. Elias, deprimido,
fugiu para o deserto, para uma caverna nas
montanhas; mas ele tinha que chegar a mais algum
lugar antes que o Senhor pudesse fazer alguma
coisa com ele. "O que você está fazendo aqui,
Elias?" (1 Reis 19:9). O Senhor jamais vem a uma
pessoa e a comissiona quando ela está em
desespero. . ‘Deus irá perdoá-lo por tudo, menos
pelo desespero’ (F. W. H. Myers, 'St. Paulo') -
porque desespero é falta de fé em Deus, e Deus
jamais pode fazer alguma coisa com alguém que
tem falta de fé.
Moisés foi
esvaziado até a última gota, e, contudo, não
ficou zangado ou descontente com Deus. O que o
Senhor estava fazendo? Estava formando um
profeta. Anteriormente, Moisés teria assumido um
ofício, teria feito com que a função profética
servisse a si próprio; teria a usado. Não havia
nenhuma relação interior vital entre Moisés e a
obra que ele estava para fazer; eram duas coisas
diferentes; a obra era uma coisa objetiva para
ele. No final dos quarenta anos no deserto, ele
estava num estado tal que a obra se tornara algo
subjetivo; algo foi realizado. Foi produzido um
estado que tornou o homem apto a viver uma
expressão viva do pensamento Divino. Ele foi
esvaziado de seus próprios pensamentos a fim de
dar espaço para os pensamentos de Deus; foi
esvaziado de sua própria força, para que toda
energia pudesse ser de Deus.
Não terá sido este
o significado do fogo e da sarça que não se
consumia? É uma parábola, talvez uma parábola
maior, porém, penso, numa aplicação imediata,
que aquilo estava transmitindo algo a Moisés.
‘Moisés, você é uma criatura muito frágil, uma
simples sarça do deserto, um pedacinho da
humanidade ordinária, absolutamente sem qualquer
recurso em si mesmo; mas há um recurso que pode
conduzi-lo continuamente, e você pode ser
sustentado, sem ser consumido, por uma energia
que não é sua própria – é o Espírito de Deus, a
energia de Deus’. Esta foi a grande lição que
este profeta teve que aprender. ‘Eu não posso!’
Muito bem, disse o Senhor, ‘mas EU SOU’.
Muita relevância é
dada ao aspecto natural de muitos servos do
Senhor, e normalmente com resultados trágicos.
Muita relevância é dada a Paulo. ‘Que grande
homem Paulo foi naturalmente, que intelecto ele
tinha, que treinamento, que habilidades
tremendas!’ Tudo isto pode ser verdade, porém
pergunte a Paulo que valor aquilo tinha quando
ele se deparava com uma situação espiritual. Ele
clamava: "Quem pode discernir essas coisas? A
nossa capacidade vem de Deus" (2 Cor. 2:16;
3:5). Paulo passou por experiências onde ele,
assim como Moisés, se desesperou da vida. Ele
disse: "Tínhamos a sentença de morte em nós
mesmos, para que não confiássemos em nós mesmos,
mas em Deus que ressuscita os mortos". (2 Cor.
1:9)
A Mensagem É
Forjada Interiormente Por Meio de Experiência
Real
Como você percebe,
o princípio opera o tempo todo; Deus irá fazer
com que o ministério e o ministro sejam um. Você
vê isto em todos os profetas. O Senhor não
parava por nada. Ele se utilizava de dores
ilimitadas. Trabalhava até mesmo por meio da
vida doméstica, as relações mais íntimas da
vida. Pense na tragédia da vida doméstica de
Oseías. Pense em Ezequiel, cuja esposa o Senhor
levou embora por meio da morte num só golpe. O
Senhor disse: ‘Levante-se de manhã, lave o
rosto, não permita que a menor sugestão de
lamento ou tragédia seja percebida; saia como
das outras vezes, como se nada tivesse
acontecido; mostre-se para as pessoas, ande com
um semblante radiante, provoque-os para que
perguntem o que você quer significar com tal
comportamento ultrajante’.
O Senhor trouxe
este desgosto sobre ele e então, ordenou que
agisse daquela maneira. Por quê? Ezequiel era um
profeta; ele tinha que corporificar a sua
mensagem, e a mensagem era a seguinte: ‘Israel,
a esposa de Deus, tinha se desviado de Deus,
morrido para Deus, e Israel não se dava conta
disso; prossegue da mesma maneira como sempre,
como se nada tivesse acontecido’. O profeta tem
que trazer isto para o lar por meio de sua
própria experiência. Deus está trabalhando algo
lá dentro. Ele trabalha de maneiras profundas e
terríveis na vida de Seu servo para produzir o
ministério. Deus não nos permite assumir as
coisas.
Se estivermos
submissos ao Espírito Santo, Ele irá nos
transformar em profetas; isto é, Ele irá tornar
a profecia algo que tenha encontrado lugar em
nós, de modo que aquilo que falarmos seja apenas
vocalizar algo que tem acontecido, que tem sido
produzido dentro de nós. Deus tem feito isto
através dos anos de maneira estranha, profunda,
terrível em algumas vidas, não se detendo a
nada, tocando tudo; e é o vaso forjado desta
maneira que é a mensagem. As pessoas não vêm
para ouvir o que você tem para ensinar. Elas vêm
para ver o que você é, para ver aquilo que tem
sido trabalhado por Deus. Que preço um
ministério profético tem que pagar!
Assim, Moisés foi
para o deserto, para experimentar a terrível
anulação da sua vida natural, da sua mentalidade
natural; para ser levado a zero; para ter a
coisa trabalhada dentro dele. E foi Deus
justificado? - pois, afinal de contas, era uma
questão de uma fonte para o futuro. Oh, que
pressão iria cair sobre aquela vida! Algumas
vezes Moisés quase que se arrebentou; outras ele
realmente cedeu à pressão. "Eu não posso
carregar todo este povo sozinho, porque ele é
muito pesado para mim". (Num. 11:14). Qual foi a
sua fonte? Oh, se tivesse sido a velha fonte do
Egito ele não teria agüentado nem por um ano.
Ele não podia suportar provocação no Egito, ele
se levantava e lutava. Ele desmoronou moralmente
e espiritualmente sob aquela pequena pressão
quarenta anos antes.
O que iria ele
fazer com esses rebeldes? Quanto tempo iria ele
tolerá-los? Uma pressão terrível estava sendo
colocada sobre ele, e somente algo profundamente
trabalhado no interior, algo que tivesse sido
feito lá dentro, seria suficiente para se
atravessar por aquilo, quando era o caso de
permanecer firme contra a pressão em prol do
propósito pleno de Deus. Conosco também, a
pressão pode ser terrível; muitas vezes virão
tentações muito fortes – ‘Vá devagar,
comprometa-se pouco, não seja tão absoluto; você
irá encontrar mais portas abertas se der um
pouco mais de abertura; você pode ter muito mais
se afrouxar mais!’
O que irá salvar
você naquela hora de tentação? A única coisa é
aquilo que Deus tem realizado dentro de você.
Aquilo que é parte do seu próprio ser - não algo
de que você possa abrir mão; mas é você, a sua
própria vida. Esta é a única coisa. Deus sabia o
que estava fazendo em Moisés. A coisa tinha que
ser um com o homem, para que não houvesse
divisão entre eles. O homem era o ministério
profético. Ele foi rejeitado por seus irmãos;
eles não queriam tê-lo. "Quem te constituiu como
príncipe e juiz sobre nós?" (Êxodo 2:14).
Este é o lado
humano da coisa. Mas havia o lado Divino. Foi
Deus quem o enviou para o deserto por quarenta
anos. Parecia como se fosse o agir do homem. Mas
não era. Essas duas coisas aconteceram juntas. A
rejeição pelos seus irmãos estava totalmente
alinhada com o propósito soberano de Deus. Foi a
única maneira na qual Deus teve a oportunidade
da qual precisava para reconstituir Moisés. A
real preparação deste profeta ocorreu durante o
tempo que seus irmãos o repudiaram. Oh, a
soberania de Deus, a maravilhosa soberania de
Deus! Uma hora escura, um tempo profundo; uma
ruptura, um esmagamento, um tempo opressivo; de
esvaziamento. Parece que tudo está indo embora,
que nada irá sobrar. Porém tudo isto é a maneira
de Deus formar um ministério profético.
Um Mensageiro
Divinamente Atestado
Suponho que Moisés
no princípio tivesse sido bastante legalista,
impondo a lei – ‘Você deve fazer isto e aquilo’
- e assim por diante; um autocrata ou déspota.
Quando, após aqueles anos, o encontramos saindo
da roda, das mãos do Oleiro, é dito que ele é
"muito manso, mais do que todos os homens da
face da terra" (Num. 12:3), e Deus podia
socorrê-lo, então. Ele não podia socorrer Moisés
naquele dia quando ele se levantou num espírito
de orgulho, de arrogância, de auto-afirmação.
Deus teve que permitir que aquela obra
produzisse o seu resultado inevitável.
Mas quando Moisés,
na condição de o mais manso dos homens, fraco,
humilde, abnegado, foi desafiado pelos demais
quanto ao seu ofício - em tal ocasião Moisés não
se levantou para defender sua posição, seus
direitos; ele simplesmente transferiu a questão
para o Senhor. Sua atitude foi: ‘Vamos deixar o
Senhor decidir. Eu não tenho nenhuma posição
pessoal a preservar: se o Senhor fez de mim um
profeta, que Ele mostre isso. Estou preparado
para deixar o ofício se ele não for do Senhor’.
Que espírito diferente! E o Senhor o socorreu
maravilhosa e poderosamente naquelas ocasiões, e
terrivelmente para aqueles que se opuseram
(Números 12:2; 16:3).
Ministério
Profético: Uma Vida, Não um Ensino
Bem, o que é ser
um profeta? Qual é a função profética? É esta:
Deus toma um vaso (pode ser individual ou
coletivo: a função do ministério profético pode
se dar através de um povo, como foi no caso de
Israel), e faz com que esse vaso passe por uma
história profunda, quebrando e desfazendo,
desiludindo, revolucionando toda a mentalidade,
para que aquelas coisas que estavam agarradas
muito ferozmente, tão agressivamente, não mais
exerçam influência. É produzida uma maravilhosa
maleabilidade, ajustabilidade, uma aptidão para
se aprender.
Tudo o que era
meramente objetivo em relação à obra de Deus, em
relação à verdade Divina, como a ortodoxia ou o
fundamentalismo, tudo aquilo que dominava muito
fortemente, de uma maneira objetiva, legalista,
em relação ao que está certo e ao que está
errado em métodos - é trabalhado. Há uma
concepção inteiramente nova, uma nova
perspectiva das coisas; não mais um sistema
formal, algo fora de você que você assume, mas
algo trabalhado de maneira interior no vaso. É o
que o vaso é que é o seu ministério. Não aquilo
que ele aceitou de doutrina e está agora
ensinando.
Oh, para ficar
livre de todo este terreno horrível de coisas! É
um terreno desprezível este de se adotar
ensinamentos, interpretações, de ser conhecido
por tal e tal linha de coisas. Oh, Deus nos
livre! Oh, para ser trazido ao lugar onde a
coisa seja uma questão de vida - daquilo que
Deus realmente realizou em nós! Primeiro Ele nos
tritura, e, então, nos reconstrói sobre um novo
princípio espiritual, e isto se expressa em
ministério: aquilo que é dito procede daquilo
que tem acontecido nos bastidores, talvez por
anos e até mesmo até o presente momento.
Você entende a lei
da função profética? É que Deus mantém os vasos
ungidos à altura da verdade através da
experiência. Cada pedacinho da verdade que eles
liberam em palavra é algo que tem tido uma
história. Eles desceram até as profundezas e
foram salvos por essa verdade. Essa verdade é a
vida deles e, portanto, é uma parte deles. Esta
é a natureza do ministério profético.
Ministério
Um Profeta,
Tolerante, Porém Firme
Voltando ao que eu
dizia sobre a mudança em Moisés: Você pode ver
um reflexo dela no caso de Samuel. Penso que
Samuel foi um dos mais graciosos e amáveis
indivíduos do Velho Testamento, e ele é chamado
de profeta. Você percebe que, embora o coração
dele estivesse completamente devotado aos
pensamentos mais elevados e plenos de Deus, e
interiormente ele não tivesse qualquer
interesse, qualquer que seja, contudo ele
mostrava uma incrível compaixão por Saul durante
aqueles meses? (Parece que não chegou a passar
de um ano, o primeiro ano de reinado de Saul,
durante o qual parece que ele realmente procurou
demonstrar alguma aparência de bom.) E ainda,
você deve lembrar-se de que Saul representa a
negação das coisas mais elevadas - o direto e
imediato governo de Deus. Tal governo foi
rejeitado por Israel em favor de um rei -
"Constitui-nos um rei para que nos julgue, como
têm todas as nações", disseram eles. Deus disse
a Samuel: "Eles não rejeitaram a ti, mas a Mim"
(I Samuel 8:5-7).
A Monarquia era um
princípio Divino, tanto quanto a profecia. O
leão está lá com o homem. O monarca,
representando o pensamento de governo de Deus,
está lá. Mas com Saul ele está num nível mais
baixo. A vinda de Saul significou trazer aquele
pensamento Divino para o nível do mundo: "como
todas as nações" - um pensamento Divino assumido
por homens carnais, arrastado para o nível
mundano; e Samuel sabia disso; ele era contra
isso, pois viu o que isto significava. Mas quão
misericordioso ele foi com Saul, tanto quanto
podia ser!
Por que digo isto?
Porque há uma condição semelhante a esta
existindo hoje. Pensamentos Divinos têm sido
tomados carnalmente pelos homens e trazidos para
um nível terreno; o governo direto do Espírito
Santo tem sido trocado por comitês e juntas, e
assim por diante. Os homens têm instituído o
governo nas coisas Divinas e estão conduzindo as
coisas para Deus. A maneira do Novo Testamento,
que em oração e jejum a mente de Deus é
alcançada, é dificilmente conhecida. Bem,
aqueles que são espirituais, que sabem, que
vêem, que entendem, não podem aceitar isto. Mas
eles são muito tolerantes.
Um verdadeiro
profeta, como Samuel, irá ser tolerante tanto
quanto possível, até que aquela coisa errada
assuma a pronunciada e positiva forma de
desobediência em relação à luz dada. O Senhor
veio a Saul através de Samuel e lhe deu clareza
de entendimento quanto ao que ele tinha que
fazer. Foi dado a ele conhecer com indiscutível
clareza o que Deus requeria dele, e ele foi
desobediente. Então Samuel disse: ‘Chega de
tolerância!’ Deus se tornou implacável. "Porque
rejeitaste a palavra do Senhor, Ele também te
rejeitou a ti para que não sejas rei" (I Samuel
15:23). Samuel foi tão longe quanto pôde
enquanto o homem fazia o melhor que podia. Isto
é tolerância.
Naturalmente, os
tipos são sempre fracos e imperfeitos, mas você
pode enxergar a verdade aí. O profeta Samuel
demonstrou muita tolerância em relação às coisas
que estavam erradas, ainda que em seu coração
ele não pudesse aceitá-las. Ele esperava que a
luz brilhasse e a obediência viesse a seguir, e
a situação fosse resolvida. Nós somos muito
tolerantes com tudo aquilo que não concordamos.
O ponto é o
seguinte - Moisés teve que aprender isto; ele
teve que ser feito semelhante a isto. Nós
ficamos mais bem ajustados para servir ao
propósito do Senhor, somos profetas mais fiéis,
quando conseguimos suportar as coisas que não
concordamos, do que quando em nosso zelo somos
iconoclastas, e procuramos somente destruir
aquilo que ofende. O Senhor diz: ‘Isto não vai
adiantar’.
De tudo o que
dissemos, enfatizamos apenas uma coisa - que o
ministério profético é uma função. Sua função é
a de conservar tudo em relação ao propósito
pleno de Deus - mas não como que mantendo uma
'linha' de coisas, de uma objetiva e legalista.
Você não assume algo. Você somente consegue
fazer algo quando Deus verdadeiramente tiver
trabalhado isso dentro de você através da
experiência, através do manejo de Deus - quando
Deus fizer você experimentar o negócio, e você
conhecê-lo desta forma. Não é que você tenha
alcançado algo, mas sim que você foi moído
durante o processo. Agora você está apto para
algo no Senhor.
Capítulo 3 - Uma
Voz Que Pode Ser Esquecida
"Pois os que
habitam em Jerusalém, e suas autoridades,
porquanto não conheceram a este Jesus, nem as
vozes dos profetas que são lidos todos os
sábados, condenando-o, cumprindo as profecias"
(Atos 13:27).
A declaração
acima, como um todo, carrega um significado que
compreende muita história, porém sua implicação
direta e imediata é que, se as pessoas referidas
- os moradores de Jerusalém e seus governantes -
tivessem se beneficiado das coisas mais
familiares, teriam se comportado muito diferente
do modo como se comportaram. Toda semana, sábado
após sábado, estendendo-se por um grande número
de anos, elas ouviram coisas lidas; porém,
finalmente, por causa da falha dessas pessoas em
reconhecer aquilo que estavam ouvindo, elas
agiram de uma forma completamente oposta àquelas
mesmas coisas, embora, sob a soberania de Deus,
estivessem dando cumprimento a elas ao assim
fazerem.
Seguramente esta é
uma palavra de advertência. Isto representa uma
terrível possibilidade - ouvir repetidamente as
mesmas coisas, e não reconhecer o seu
significado; comportar-se de maneira
completamente contrária aos nossos próprios
interesses, causando a nossa própria ruína,
quando deveria ter sido de outra maneira.
O ponto é este -
que há uma voz nos profetas que pode ser
esquecida, um significado que pode não ser
compreendido, e os resultados podem ser
desastrosos para as pessoas em questão. ‘A voz
dos profetas’: isto sugere que há algo além das
meras coisas que o profeta diz. Há uma ‘voz’.
Nós podemos ouvir um som, podemos ouvir as
palavras, e, contudo não ouvir a voz; esta é
algo extra à coisa dita. Esta é a declaração
aqui, que semana após semana, mês após mês, ano
após ano, os homens lêem os profetas
audivelmente, e as pessoas que ouvem a leitura
não ouvem a voz. É a voz dos profetas que
precisamos ouvir.
Na medida em que
você avançar através deste décimo terceiro
capítulo de Atos, você será capaz de reconhecer
que este pequeno fragmento está inserido num
contexto muito crucial. Este capítulo, para
começar com ele, marca um desenvolvimento. Lá em
Antioquia estavam certos homens, incluindo
Saulo, e o Espírito Santo disse: "Separai para
Mim Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho
chamado". Este foi um novo desenvolvimento, um
mover, algo mais abrangente, bastante
significativo; porém você não termina o capítulo
sem antes chegar à outra crise, que se tornou
inevitável quando num certo lugar uma grande
multidão se reuniu, e os judeus, recusando ser
obedientes à Palavra, provocaram um tumulto.
Os apóstolos
fizeram este pronunciamento: "Era necessário que
a palavra de Deus fosse primeiramente anunciada
a vós. Visto que a rejeitais, e não vos julgais
dignos da vida eterna, eis que nos voltamos para
os gentios" (v.46); e citaram um profeta (Isaías
49:6) como fonte de autoridade: "Eu te pus para
luz dos gentios". Essas foram épocas na história
da Igreja; e os judeus, como um todo, foram
deixados de lado, e os gentios, de modo muito
deliberado, foram trazidos à cena, exatamente
devido ao seguinte: que os judeus tinham ouvido
esses profetas sábado após sábado, porém não
tinham ouvido suas vozes.
Grandes coisas
dependiam do ouvir a voz. Falhar em ouvir pode
levar a uma perda irreparável. Coisas muito
grandes em relação a Israel têm acontecido pelos
séculos desde o tempo de Atos 13. Não é minha
intenção dar início a questões de profecia sobre
os judeus, mas o meu ponto é este: de um lado,
não foi algo pequeno falhar em ouvir as vozes
dos profetas; por outro lado, você percebe que
os gentios se regozijaram. É dito: "Quando os
gentios ouviram isto, eles se alegraram e
glorificaram a palavra de Deus". Bem, em ambos
os lados, é algo terrível falhar em ouvir, e é
algo tremendo ouvir e dar crédito. Penso que
isto sejam base e motivo suficientemente sério
para atrair a nossa atenção.
Profetas do Velho
Testamento no Novo Testamento
Vamos agora olhar
mais de perto para esta questão de "as vozes dos
profetas". Um fato de grande significado é o
seguinte, que os profetas têm um grande espaço
no Novo Testamento. Imagino se você já
considerou quão grande este espaço é. Você não
precisará ser lembrado de quão grandemente os
evangelhos chamam a atenção para os profetas
maiores, como são chamados. "Para que se
cumprisse o que foi falado pelo profeta..." -
quão freqüente esta afirmação ocorre nos
Evangelhos.
Ela apareceu desde
o nascimento do Senhor Jesus, e somente nesta
relação várias vezes os profetas maiores são
citados. Mas quando você sai dos evangelhos e
vai para Atos e para as Epístolas, você se move
basicamente naquilo que é chamado de profetas
menores - menor não porque fossem de valor menor
do que os demais, mas porque o registro de seus
escritos é menor. É tremendamente impressionante
e significativo que esses profetas menores
possam ser notados tão extensivamente no Novo
Testamento; eles são citados mais de cinqüenta
vezes.
Profetas, homens
de visão
A partir deste
significado geral, dois fatores aparecem. Um em
relação aos próprios profetas: Por que eles têm
um espaço tão grande no Novo Testamento? Bem, a
resposta a isto será basicamente outra pergunta.
O que significam profetas? Profetas são
‘videntes’ (I Samuel 9:9); são homens que vêem
e, em vendo, desempenham o papel de olhos para o
povo de Deus. São homens de visão; e seu amplo
espaço no Novo Testamento certamente por essa
razão indica quão tremendamente importante é a
visão espiritual para o povo de Deus nesta
dispensação.
Naturalmente, a
outra coisa é a visão em si, mas eu não estou
preocupado neste momento em falar sobre o que a
visão era, e é - isto, com outros aspectos, pode
vir mais tarde. No momento, sinto que o Senhor
está interessado no seguinte fator: a tremenda
importância da visão espiritual para que o povo
de Deus cumpra a sua vocação. A coisa se resolve
numa questão apenas de visão para vocação, e a
vocação não irá ser cumprida sem visão.
Visão Significa
Propósito para a Vida
Assim, por um
momento, vamos discorrer sobre o lugar da visão
- e você não irá pensar que estou falando sobre
‘visionários’. Não, é algo específico, é a
visão, algo claramente definido. Os profetas
conheciam aquilo que falavam - não eram
meramente idéias abstratas, mas algo muito
definido. Visão é algo muito específico, algo
com o qual o Senhor está interessado e que tem
se tornado dominante na vida daqueles que a tem;
clara, distinta, precisa; algo que os dominava
de modo que todo o propósito da existência em si
está inserido nela.
Tais pessoas estão
numa posição onde conhecem o porquê de terem uma
existência; conhecem o propósito para o qual
estão vivas e são capazes de dizer qual é esse
propósito, e o horizonte delas está circunscrito
a esta visão; elas, com toda suas vidas em todos
os seus aspectos, resumem-se nesta visão,
dependem dela. É o único objetivo que determina
tudo para elas. Não é apenas viver nesta terra e
fazer muitas coisas e ser bem sucedido de alguma
forma; mas tudo nesta vida está ligado a tal
visão, a qual dá o sentido para a vida.
Não é necessário
levar você através da história de Israel como
que dominado por essa mesma verdade. Você sabe
muito bem que, quando Israel estava numa posição
correta, é assim que as coisas eram: definidas,
com tudo centrado num único objetivo. E, antes
de prosseguirmos, vamos dizer, novamente, que
todos aqueles profetas - homens que eram os
olhos de Deus para o povo, que significavam o
pensamento e o propósito de Deus para eles, que
significavam a Divina vocação deles, a
interpretação de Deus para suas próprias
existências - aqueles profetas que
corporificaram isso tudo são todos trazidos para
a dispensação do Novo Testamento e para dentro
da Igreja, com esta clara implicação, de que é
desta forma que a Igreja deve ser para alcançar
o seu objetivo.
A Igreja é para
ser aquilo que vê, que é dominado por um
objetivo e uma visão específica, que sabe o
porquê de existir, que não tem qualquer dúvida
sobre isso, e que se posiciona em absoluta
renúncia por causa dessa visão, trazendo todas
as demais coisas da vida alinhadas a ela. Nossa
atitude tem que ser esta, embora neste mundo
tenhamos necessariamente que fazer isto ou
aquilo, ganhar o nosso sustento e realizar o
nosso trabalho diário, contudo há algo que
governa todas as coisas: a visão Divina. Todas
as coisas devem se curvar a este único objetivo
Divino.
Esta é a primeira
implicação sobre o fato de os profetas terem tal
ampla posição nesta dispensação. Nós não podemos
agora seguir isto em detalhe a partir da
Palavra, mas seria de muita valia percorrer todo
o Novo Testamento, e ver como a inserção dos
profetas é feita para aplicar aos aspectos
variados da vida da Igreja. É muito
impressionante.
Ministério
Visão, Um Fator
Unificador
Os profetas
dominam esta dispensação desta maneira. A visão
era a própria união e força de Israel. Quando a
visão estava clara para eles, quando seus olhos
eram abertos e eles enxergavam, quando estavam
alinhados ao propósito de Deus, quando eram
governados por aquele objetivo para o qual Deus
os tinha chamado, eles eram um só povo, tornados
um pela visão. Eles tinham um olho só. Aquela
pequena frase, "Se... os teus olhos forem
simples..." (Mateus 6:22), possui muito mais
significado dentro de si do que reconhecemos. Um
olho simples - unifica e dirige toda uma vida;
um olho simples unifica todo o seu
comportamento.
Se você for um
homem ou uma mulher de uma só idéia, todas as
coisas irão ser trazidas para dentro dessa
idéia. Naturalmente, isto nem sempre é uma coisa
favorável, embora o seja neste caso. As pessoas
que são obcecadas e, como dizemos, ‘têm uma
abelha em seu chapéu’ (têm uma idéia fixa), sem
nada mais para conversar, mas apenas uma só
coisa, geralmente são pessoas bastante
irritantes. Mas existe o lado certo, o lado
Divino, no qual o povo de Deus deve ser um povo
de um olho simples, de uma única idéia; e esta
simplicidade de olhos deixa todas as faculdades
em coordenação.
Durante os raros
períodos quando Israel estava desta maneira,
eles eram um povo maravilhosamente unificado.
Por outro lado, você pode ver como, quando a
visão esvaecia e falhava, eles se desintegravam,
tornavam-se um povo de interesses divididos e
desintegrados, que brigavam entre si. Quão
verdadeira é a palavra: "Onde não há visão, o
povo perece (se desintegra)" (Provérbios 29:18).
E assim era com Israel. Veja-os nos dias de Eli,
quando não havia visão aberta. Que povo
desunido, e desintegrado eles eram! Isto
aconteceu muitas vezes.
A visão era um
poder solidificador e coesivo, que tornava as
pessoas um, e nesta unidade estava a força
deles, e eles eram irresistíveis. Veja-os no
Jordão na derrubada de Jericó! Veja-os avançando
triunfantemente! Enquanto eram governados por um
único objetivo, ninguém os podia resistir. A
força deles estava na unidade, e a unidade deles
estava na visão que tinham. O inimigo sabe o que
está fazendo ao destruir e confundir a visão:
ele está dividindo o povo de Deus.
Visão, Um Poder
Defensivo
Que poder
defensivo é uma visão como esta! Que pouca
chance o inimigo tem quando somos um povo
firmado numa única coisa! Se tivermos todos os
tipos de interesses pessoais, o inimigo pode
fazer uma terrível devastação. Ele não tem
chance quando todos estão centrados num único
objetivo Divino. Ele precisa nos dividir de
alguma forma, distrair-nos, desintegrar-nos,
para que possa realizar sua obra de ocultar o
propósito de Deus. Todos aqueles aspectos de
auto-piedade, interesse próprio, que sempre
estão procurando entrar e arruinar, jamais irá
conseguir entrar enquanto a visão for clara e
estivermos focados nela como um só povo. Ela é
tremendamente defensiva.
O apóstolo falou
sobre ser "diligente em tudo; fervoroso no
espírito; servindo o Senhor" (Romanos 12:11).
Moffatt traduz "fervoroso no espírito" como
"mantendo o ardor espiritual". Estar centrado
num único objetivo de todo o coração é uma coisa
maravilhosamente protetora. Tal condição em um
povo fecha as brechas e resiste à invasão e
influência de todos os tipos de coisas que
poderiam distrair e paralisar.
Visão Causa
Determinação e Crescimento
A visão era como
uma chama para os profetas. Você tem que
reconhecer isto sobre eles, de qualquer maneira
- que esses homens eram chamas de fogo. Não
havia nada neutro neles; eram agressivos, jamais
passivos. A visão tem este efeito. Se você
realmente tem enxergado o que o Senhor procura,
você não consegue ficar indiferente. Você não
consegue ser passivo quando enxerga. Encontre
uma pessoa que enxergou, e você irá achar uma
vida positiva.
Encontre uma
pessoa que não enxerga, que não está seguro, que
não é claro, e você têm alguém neutro, negativo,
que não vale a pena ser considerado. Os profetas
eram homens como chamas de fogo, porque eles
enxergavam. E quando Israel estava no exercício
do chamado Divino, ele era dessa maneira -
confiante, agressivo. Quando a visão murchava,
Israel chegava a uma paralisia, voltava-se para
si mesmo, ia ao derredor e andava em círculos,
não chegava a lugar algum.
Essa
agressividade, positividade, que é fruto do ter
visto, concede ao Senhor o terreno que Ele
precisa para um tipo correto de treinamento e
disciplina. Não significa que jamais iremos
cometer erros. "O que fazes aí, Elias?" (I Reis
19:9). ‘Você não tem nada para fazer aí’ - é o
sentido. Sim, os profetas e os apóstolos podiam
cometer enganos, e eles cometiam; mas há o
seguinte - porque eles enxergavam, e estavam
completamente entregues aquilo que eles tinham
visto a respeito do propósito do Senhor, o
Senhor era absolutamente capaz de chegar a seus
erros e, soberanamente, anulá-los e ensinar a
Seus servos algo mais sobre Si mesmo e sobre os
Seus caminhos.
Agora, você jamais
encontra isto em pessoas indefinidas. O povo
indefinido, que não fala sério, que não abraça a
causa, jamais aprende alguma coisa do Senhor.
São as pessoas que se entregam, que se lançam na
direção de qualquer medida de luz que o Senhor
lhes dá, que, por um lado, têm seus erros - os
erros de seus próprios zelos - corrigidos pela
soberania Divina; e, por outro lado, são
ensinados pelo Senhor através de seus próprios
erros sobre quais são os pensamentos de Deus,
como Ele faz as coisas, e como Ele não faz. Se
ficarmos esperando em indefinição e em incerteza
e não fizermos nada até que saibamos tudo, não
iremos aprender nada.
Você não percebeu
que são os homens e mulheres cujos corações
estão abrasados por Deus, que têm enxergado algo
verdadeiramente da parte do Senhor e que têm
sido fortemente dominados por aquilo que têm
enxergado que estão aprendendo? O Senhor os está
ensinando; Ele não permite que seus erros graves
os traguem em destruição. Ele soberanamente
corrige, e durante a longa carreira eles são
capazes de dizer: ‘Bem, cometi alguns erros
terríveis, mas o Senhor maravilhosamente cuidou
deles e fez com que cooperassem para o bem’.
Ser desta maneira,
com uma visão que resume toda a nossa vida e que
nos domina, fornece ao Senhor uma condição
favorável para Ele cuidar de nós, mesmo quando
erramos - porque os Seus interesses estão em
jogo, os Seus interesses e não os nossos estão
em primeiro lugar em nosso coração. Os profetas
e os apóstolos aprenderam a conhecer o Senhor de
maravilhosas maneiras por meio de seus próprios
erros, pois os erros deles advinham não da
teimosia de suas próprias vontades, mas de uma
paixão por Deus e por aquilo que Ele lhes tinha
mostrado como Seu propósito.
Visão Dá
Superioridade ao Povo de Deus
E, então, observe
que a própria superioridade de Israel estava
baseada na visão. Eles foram chamados por Deus
para ser um povo superior, acima de todos os
povos da terra, colocado no meio das nações como
um vaso espiritualmente governamental. O Senhor
prometeu que nenhuma nação seria capaz de
assumir o controle sobre eles.
Seu pensamento
para eles era que eles fossem "cabeça, e não
cauda" (Deuteronômio 28:13). Mas isto não iria
acontecer de forma arbitrária e independente da
situação e condição deles. Era quando eles
tinham a visão clara diante deles,
corporativamente, como um povo inteiro -
dominado, governado e unificado pela visão - só
então eles eram cabeça e não cauda; era então
que ficavam em posição de domínio.
E isto traz os
profetas novamente. (Pensamos agora dos últimos
profetas de Israel.) Por que os profetas? Porque
Israel tinha perdido sua posição. A Assíria,
Babilônia e o resto estavam assumindo o domínio
sobre eles porque eles tinham perdido a visão. É
nos profetas menores, como são chamados, que
você tem bastante coisa sobre esta questão. "Meu
povo está sendo destruído porque lhe falta
conhecimento" (Oséias 4:6).
Esta é uma nota a
qual todos os profetas estão ligados. Por que
este estado de coisas? Por que Israel está agora
em desvantagem em relação às nações? A resposta
é - perda de visão. O profeta vem para tentar
levar Israel de volta ao lugar de visão. O
profeta tem a visão, ele é o olho do povo: ele
chama o povo de volta para aquilo para o qual
Deus o escolhera, para mostrar novamente porque
Ele tirara Israel dentre as nações.
A Visão é
Necessária Para Todo Filho de Deus
Tudo isto é apenas
uma ênfase sobre o lugar de visão. Pode não
levar você muito longe; você pode se perguntar a
que leva tudo isto. Você está dizendo agora:
‘Bem, o que é a visão?’ Este não é o ponto no
momento; isto pode vir depois. O ponto é que
esta é a necessidade, a absoluta necessidade
para a Igreja hoje - para você, para mim; e me
deixe dizer logo que, embora a visão seja algo
preeminentemente corporativo, ela deve também
ser pessoal. Você e eu individualmente devemos
estar no lugar onde possamos dizer: ‘Eu tenho
enxergado, eu sei o que Deus quer!’
Se nos
perguntassem: por que a Igreja está desse jeito
hoje, em tão larga medida de impotência e
desintegração, e o que é preciso para produzir
um impacto do céu por meio da Igreja, poderíamos
responder? É uma presunção afirmar ser capaz de
fazer isto? Os profetas sabiam; e lembre-se de
que os profetas, fossem do Velho Testamento ou
do Novo Testamento, não eram nenhuma classe
isolada de pessoas, não eram nenhum corpo
separado, que retinham a visão em si mesmo
oficialmente.
Eles eram os
próprios olhos do corpo. Eram, no pensamento de
Deus, o povo de Deus. Você conhece este
princípio; isto é visto, por exemplo, na questão
do Sumo Sacerdote. Deus olha para o Sumo
Sacerdote como sendo Israel, e lida com todo o
Israel em igualdade de condição na pessoa do
Sumo Sacerdote, seja ele bom ou mal. Se o Sumo
Sacerdote é mal - "E me mostrou Josué o sumo
sacerdote... vestido com roupas sujas" (Zacarias
3:1-5) - este é Israel. Deus lida com Israel
como um só homem.
O profeta é a
mesma coisa; e isto é porque o profeta está
muito interligado com a própria condição e vida
do povo. Ouça o profeta Daniel orando.
Pessoalmente ele não era culpado; pessoalmente
ele não tinha pecado como a nação; mas ele tomou
tudo sobre si mesmo e falou como se fosse sua
responsabilidade, como se ele fosse o principal
dos pecadores. Há uma união tal entre os
profetas e o povo em condição, em experiência,
em sofrimento, que eles jamais podem ver a si
mesmos como oficiais separados de todo o resto,
como se estivesse falando do lado de fora; eles
estavam dentro da situação.
Minha mensagem é
esta, que não é para termos a visão trazida a
nós por meio de uma classe chamada de ministros,
profetas e apóstolos. Eles estão aqui apenas
para nos mantermos alertas quanto ao que devemos
ser diante de Deus, como devemos ser. Deve ser,
portanto, com cada um de nós individualmente,
que estejamos no significado deste ministério
profético. A Igreja é chamada para ser um
profeta para as nações.
Gostaria de
repetir minha pergunta - é uma pergunta
admissível sem qualquer presunção – você poderia
dizer o que é necessário para a Igreja hoje?
Você poderia interpretar o estado das coisas, e
explicar verdadeiramente por aquilo que o Senhor
lhe mostrou em seu próprio coração? Eu sei os
riscos e perigos que podem rodear tal idéia, mas
esta é a própria razão de nossa existência. Será
num grau maior ou menor em cada um de nós, mas,
seja mais, ou menos, nós temos a chave para a
situação. Deus precisa de um povo assim. Pode
ser individual.
Visão Requer
Coragem
Porém, lembre-se
de que isto irá requerer uma coragem imensa. Oh,
que coragem daqueles profetas! - coragem contra
a concessão e política. Oh, os efeitos
catastróficos da política, de considerações
secundárias! ‘Como isto irá afetar nossas
oportunidades se formos muito definidos? Não irá
diminuir nossas oportunidades de servir o Senhor
se tomarmos tal posição?’ Isto é política, e é
uma coisa terrível.
Muitos homens que
enxergaram algo, e começaram a falar sobre
aquilo que viram, encontraram uma reação tal de
seus próprios irmãos e entre aqueles onde sua
responsabilidade repousava, que recuaram. ‘É
perigoso levar isto para mais longe’. Política!
Não, não havia nada disso nos profetas. Nós
estamos comprometidos porque temos visto?
Haverá custo;
poderemos enfrentá-lo. Há um pequeno fragmento
em Hebreus 9 - "Eles foram serrados ao meio".
Uma tradição diz que isto se aplicou ao profeta
Isaías - que ele foi um dos que foram serrados
ao meio. Leia Isaías 53. Não há nada mais
sublime em toda a literatura da Bíblia, e por
aquilo ele foi serrado ao meio. Ele estava
certo? Bem, nós hoje nos beneficiamos de sua
retidão. Mas o maligno não gosta disso, e por
isso ele foi serrado ao meio. Há valores
tremendos associados ao ver, e a total entrega à
visão, mas também há muito custo.
Vamos parar por
aqui, por ora; mas precisamos interagir com o
Senhor e dizer: ‘Quanto eu tenho visto? Tenho
ouvido os profetas semana após semana, após
todas as convenções, as conferências, os
encontros que tenho participado; será que tenho
eu ouvido a voz dos profetas, afinal de contas?
Tenho ouvido os pregadores darem suas mensagens
e seus sermões; tenho eu ouvido a voz?’ O efeito
terá influência muito grande, caso positivo.
Caso negativo é tempo de consultarmos o Senhor a
esse respeito. Isto não pode continuar! O que
aconteceu em Atos 13? Ouvindo eles não
escutavam; mas onde havia um ouvido, oh, que
coisas tremendas aconteciam, que valores
tremendos vinham!
Capítulo 4 - A
Visão que Constitui a Vocação
"Pois os que
habitam em Jerusalém, e suas autoridades,
porquanto não conheceram a este Jesus, nem as
vozes dos profetas que são lidos todos os
sábados, condenando-O, cumprindo as profecias."
(Atos 13:27).
Comentamos no
início do capítulo anterior que a afirmação
acima indica que há algo mais do que leitura
audível da Palavra de Deus. ‘As vozes dos
profetas’. O que os profetas estavam dizendo? -
Não, quais foram as palavras literalmente usadas
pelos profetas, as sentenças e declarações, a
forma de seus pronunciamentos, mas a que de fato
tudo aquilo se referia em efeito?
Aquelas
autoridades e habitantes de Jerusalém podiam ter
citado os profetas sem dificuldade:
provavelmente podiam ter recitado os conteúdos
de todos os livros. Eles estavam bem ‘treinados’
sobre o conteúdo das Escrituras do Velho
Testamento, porém jamais paravam para fazer
perguntas simples: ‘A que isto se refere? Qual
realmente é a implicação disso? O que estes
homens procuram?’ E porque eles nunca faziam
isso, jamais iam para além da carta.
Vocação Esquecida
Devido a Perda de Visão
Fazemos estas
perguntas agora. O que é isto que está dentro,
por trás, e mais fundo do que as declarações
escritas e faladas dos profetas? Sabemos que os
profetas estavam lidando com uma situação que de
forma alguma representava o pensamento de Deus
em relação ao Seu povo. Eu poderia deixar a
coisa mais forte que isso e dizer que a situação
estava muito longe do planejado por Deus; mas
tenho condições presentes em minha mente, mais
do que algum estado extremo de coisas, e assim
simplesmente digo que a condição realmente não
representava então, nem representa agora, à
vontade e intenção do Senhor no que se refere ao
Seu povo.
Os profetas
estavam lidando com tal situação, e, porque era
desta maneira, a real vocação do povo de Deus
não estava sendo cumprida. Eles estavam
fracassando naquilo para o qual o Senhor
realmente os tinha trazido à existência.
Considerando que eles deviam ter sido um povo de
tremenda força espiritual no meio das nações,
com um real impacto sobre as nações, com uma
nota de grande autoridade que tinha que ser
levado em conta - "Assim diz o Senhor",
declarado de tal forma que as pessoas tinham que
dar ouvido - considerando que deveria ter sido
desta maneira, eles estavam fracassando. Havia
fraqueza e fracasso.
Os profetas
procuraram chegar à raiz da situação. Havia todo
tipo de coisas a que os profetas se referiram -
pecados e assim por diante; mas os profetas eram
unânimes em uma coisa em particular: que a causa
daquelas situações, que resultavam neste grande
fracasso, era a perda da visão. O povo tinha
perdido visão original, a visão que um dia tinha
sido clara para eles. Quando Deus colocou a Sua
mão sobre eles e os tirou do Egito, eles tiveram
uma visão. Eles viram o propósito e a intenção
de Deus.
A visão se tornou
a exultante nota de sua canção do outro lado do
Mar Vermelho. Eu não vou me ater no momento com
o que era o propósito. Mas eles eram um povo a
quem Deus tinha dado uma visão de Seu propósito
em relação a eles, tanto em relação a eles
próprios quanto a vocação deles. Eles a tinham
perdido, e este era o resultado; e os profetas,
ao lidar com isso, permaneceram firmemente sobre
esta única coisa; ‘A vocação de vocês em sua
plenitude de realização depende de sua visão, e
plenitude de vocação requer plenitude de visão’.
Isto significa
que, se a sua visão se tornar menor do que a
plenitude de Deus, você apenas irá chegar até
aqui, e então irá parar. Se você estiver
prosseguindo diretamente para tudo aquilo que
Deus planejou ao constituí-lo como Seu vaso,
você deve ter plenitude de visão; Deus nunca
fica satisfeito com qualquer coisa que não seja
plenitude. O próprio fato de que você não
consegue ir mais longe do que sua visão lhe
permite é a maneira de Deus dizer: ‘Você precisa
ter plenitude de visão se quiser chegar à
plenitude do propósito e da realização’.
Este é o próprio
fundamento daquilo com o qual estamos ocupados
agora. Os profetas estavam sempre falando sobre
isso. Anteriormente citamos Oséias 4:6: "O meu
povo está sendo destruído por falta de
conhecimento; porque tu rejeitaste o
conhecimento, também Eu te rejeitei para que não
sejas sacerdote diante de mim". Isto é o mesmo
que dizer, em outras palavras: ‘O meu povo está
em pedaços por falta de visão; vocês têm fechado
os olhos para o propósito que tenho apresentado
a vocês; vocês não tem mais nenhuma serventia
para mim’; e esta é uma declaração bastante
forte. Ela se liga a outra passagem: "Israel foi
devorado; agora está entre as nações como um
vaso em que ninguém tem prazer". (Oséias 8:8)
Se você quiser
obter a força total disso, olhe para uma palavra
nas profecias de Jeremias. "É este homem Conias
um vaso desprezado e quebrado? É ele um vaso de
que ninguém se agrada? Por que razão foram ele e
a sua linhagem arremessados e arrojados para uma
terra que não conhecem? Ó terra, terra, terra;
ouve a palavra do Senhor. Assim diz o Senhor:
Escrevei que este homem fica sem filhos, homem
que não prosperará nos seus dias; pois nenhum da
sua linhagem prosperará para assentar-se sobre o
trono de Davi e reinar daqui em diante em Judá".
(Jer. 22:28-30) "Israel...entre as nações como
um vaso que ninguém tem prazer...escrevei que
este homem fica sem filhos". Não há futuro para
um vaso como esse. Podemos muito bem dizer de
Israel como de Conias: ‘Escrevei que este homem
fica sem filhos’. Isto é um fim. Uma
continuação, ir diretamente até o fim sem
qualquer impedimento, exige plenitude de visão.
Visão, não
Conhecimento de Fatos, Qualifica Para a Vocação
Preste atenção a
isto, especialmente os meus irmãos e irmãs mais
jovens em Cristo. O cumprimento daquilo para o
qual você foi chamado pela graça de Deus - o que
você pode chamar de serviço de Deus, a obra de
Deus; o que iremos resumir como a Divina vocação
- precisa se basear sobre uma visão que o Senhor
tem dado a você: a visão, naturalmente, não é
apenas algo em si mesma, mas é a visão que Ele
tem dado a você sobre a Sua Igreja. Você precisa
ter isso. Então, a medida na qual você for
seguir rumo à plenitude, esta será a medida da
sua visão - a medida na qual você tem chegado
pessoalmente para possuir aquela visão Divina.
Pode haver muitas
coisas, que não a visão, que levam você para a
obra cristã. Você pode ouvir um apelo para
obreiros, um apelo para missionários, um apelo
para o serviço, baseado na Escritura - "Ide por
todo o mundo e pregai o evangelho" - e assim por
diante. E com os complementos daquele apelo você
pode ser movido, ficar estimulado, e pode tomar
aquilo como uma chamada Divina. Eu não estou
dizendo que ninguém nunca tenha verdadeiramente
servido o Senhor nesta base: não me interprete
mal; mas quero dizer de fato que pode haver tudo
isso, e de forma muito intensa, e, contudo,
aquilo não ser sua própria visão, mas a visão de
outra pessoa que está sendo passada a você, e
isto não irá prosperar.
‘Mas’, você diz,
‘há uma Escritura - Ide por todo o mundo e
pregai o evangelho’. Lembre-se, aquelas pessoas
a quem essas palavras foram dirigidas tinham
todos os fatos a respeito de Cristo - a
encarnação, o nascimento virginal, Sua vida, Seu
ensino, Seus milagres, Sua Cruz, e todas as
atestações celestiais que acompanhavam. Alguns
daqueles mesmos homens - os discípulos de João -
estavam lá quando a voz do céu disse: "Este é o
meu Filho Amado". Outros estavam na montanha
quando novamente a voz falou: "Este é o Meu
Filho Amado". Eles viram a transfiguração, viram
Sua ressurreição. Não é isto suficiente para
sair ao mundo - toda essa quantidade de fatos
poderosos? Certamente eles podiam ir e proclamar
aquilo que eles conheciam? Mas não - "Ficai em
Jerusalém".
O que finalmente
os constituiu como homens que podiam cumprir e
obedecer aquele mandamento de ir? ‘Bem’, você
diz, ‘naturalmente foi a presença do Espírito
Santo’. Perfeitamente verdadeiro. Mas não estava
lá alguém mais? Por que os quarenta dias após a
Sua ressurreição? Você não acha que eles estavam
penetrando as aparências, os eventos, e estavam
enxergando algo - vendo o que nenhum olho humano
podia ver, o que jamais poderia ser visto por
meio de alguma demonstração objetiva?
Se o apóstolo
Paulo é alguma coisa no qual se basear nesta
questão, ele irá nos dizer muito claramente que
toda sua vida, ministério e comissão foram
baseados nesta única coisa: "Aprouve a Deus ...
revelar Seu Filho em mim, para que eu pudesse
anunciá-lo entre os gentios". "Faço-vos, porém,
saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado
não é segundo o homem, porque eu não o recebi,
nem o aprendi de homem algum, mas mediante
revelação de Jesus Cristo". (Gálatas 1:15,16;
11,12)
Todas as demais
coisas podem ser fatos que possuímos por meio da
leitura de nosso Novo Testamento. Nós temos todo
ele e podemos crer nele como a substância do
Cristianismo. Isto não faz de nós missionários
para sair e proclamar os fatos de Cristo - fatos
são o que eles são. Não é assim. Quantos têm
agido assim! Até onde eles têm chegado? Vão até
certo ponto e param. Não podemos permanecer na
limitação. Caros amigos, há uma terrível
limitação na Igreja neste exato momento,
limitação de conhecimento do Senhor, até mesmo
da parte dos que têm sido servos do Senhor por
um longo período de anos. Há muitos cristãos,
mesmo cristãos antigos, com quem são muito
difícil conversar sobre as coisas do Senhor.
Visão - O
Propósito Pleno de Deus na Redenção
Mas voltando a
Israel: Você não encontra nada sobre Israel que
sugira ou indique que eles saíram do Egito, que
permaneceram no deserto e mais tarde na terra, a
fim de declarar como seu evangelho que Deus os
havia tirado da terra do Egito. Não era esta a
mensagem deles. Naturalmente, isto é repetido
muitas vezes, porém esta não era a mensagem
deles, não o que eles proclamavam. O que era
aquilo que estava sempre diante da vista deles?
Era aquilo para o qual eles haviam sido tirados
do Egito. Era a visão de Deus em trazê-los de
lá.
Muitos de nós nos
limitamos a pregar apenas o lado da ‘saída’ - a
salvação do pecado, do mundo. A coisa se estende
para muito além disso, mas a Igreja não vai
muito longe. É bom, está correto, naturalmente;
é uma parte do todo; mas é apenas uma parte. É
necessária a visão completa para se chegar até o
fim. Oh, as comiserações associadas às vidas de
muitos servos do Senhor! Eles chegam a uma
paralisação, de poder e influência, limitados,
porque sua visão é muito pequena. Isto não é
verdade?
O que estou
dizendo a você? Primeiramente, que se você for
até o fim, para servir o Senhor de alguma
maneira plena, você precisa que o propósito de
Deus a respeito de Seu Filho seja revelado ao
seu próprio coração. Você precisa ser capaz de
dizer que ‘Deus revelou Seu Filho em você’, no
sentido de que você enxerga não meramente a sua
própria libertação do pecado, mas o propósito de
Deus em relação ao Seu Filho em quem você está
salvo - mas enxerga a coisa maior, a coisa
plena. Você é apenas um fragmento nela.
Esta é a base do
serviço, da vocação; e os próprios apóstolos
ficaram restringidos até que fosse revelado a
eles a chama completa do significado de Cristo
ressurreto e ascendido - a visão do Cristo
glorificado e tudo que isto significava no
propósito de Deus. Então eles saíram, e nós
descobrimos que a mensagem deles era sempre, não
o evangelho de Deus concernente à salvação
pessoal, mas ‘o evangelho de Deus concernente ao
Seu Filho’, Jesus Cristo. Eles enxergaram não o
Jesus histórico, mas o Cristo glorificado de
Deus; não apenas O tinham visto como uma visão
objetiva, mas o Seu verdadeiro significado tinha
sido revelado a eles.
Que mudança isto
representava em relação aos velhos tempos,
quando eles estavam sempre pensando em termos do
Messias vindouro que iria estabelecer um reino
temporal na terra, com eles mesmos sentados à
Sua direita e à Sua esquerda! Eles seriam
pessoas notáveis aqui nesta terra; iriam
expulsar os romanos de seu país! Esta era a
única e plena visão deles - lutando com armas
reais, revoltando-se literalmente contra os
usurpadores de seu país.
Mas, oh, que vasta
mudança quando eles enxergaram o Seu reino!
Agora, aquilo que os havia prendido em suas
garras simplesmente tinha ido embora. Ver o Seu
reino! Jesus tinha dito: "Em verdade vos digo
que alguns há, dos que aqui estão, que não
provarão a morte até que vejam vir o Filho do
homem no Seu reino". (Mateus 16:28). O que é o
reino? É Cristo, acima de todo governo e
autoridade, o centro e o objetivo de todo
conselho Divino desde a eternidade. Isto é
apenas linguagem, naturalmente - simples
palavras; mas o significado precisa ser
compreendido.
Você precisa ter a
visão em seu próprio coração antes que possa ser
um servo de Deus que irá chegar bem longe, e
você precisa ter visão crescente para que possa
chegar até o fim. Volte para Oséias. "O meu povo
está sendo destruído por falta de conhecimento"
(Oséias 4:6). O que ele diz mais tarde?
"Conheçamos e prossigamos em conhecer o Senhor"
(Oséias 6:3). É a visão crescente, progressiva
que nos leva até o pleno propósito de Deus.
Precisa ser desta maneira - não ficar satisfeito
com dois ou três fatos sobre Cristo e a
salvação, mas ter os olhos de nosso coração
iluminados para conhecê-Lo.
O que estou
dizendo, naturalmente, é uma afirmação de fatos.
Eu não posso dar nada a você; não posso trazer
você para dentro disso; mas posso, creio eu,
influenciar um pouco você no sentido de ir ao
Senhor e dizer: ‘Senhor, se precisares de mim,
estou disponível, estou à Sua disposição; mas Tu
precisas colocar o fundamento, e abrir os meus
olhos, e me dar a visão necessária a qual
signifique que eu não apenas saia e pregue
coisas sobre Ti’. Algo muito mais do que isso é
necessário.
Esta é a primeira
coisa, e se aplica a todos nós, não apenas
àqueles que estão no que chamam de ‘ministério
integral’.
A Vocação da
Igreja - Expressar o Senhorio de Cristo
Quando chegamos ao
Novo Testamento, encontramos a nós mesmos diante
de um duplo desenvolvimento. Deus está aqui
presente na Pessoa de Seu Filho, Jesus Cristo.
Seu nome é Emanuel – ‘Deus conosco’ - e todos os
que têm a ver com Ele tem a ver com Deus de uma
maneira muito pessoal e imediata. Ele declara
que o Seu próprio corpo físico é o templo de
Deus.
Então, através de
Sua morte, ressurreição e ascensão, Ele retorna
na Pessoa do Espírito Santo e estabelece Sua
residência na Igreja, que é o Seu Corpo. As
coisas, então, começam a acontecer muito
espontaneamente, a partir do mundo das
inteligências espirituais - não apenas por causa
de certas doutrinas sendo pregadas, mas por
causa desta presença Divina.
Há inteligências
conscientes por toda a parte, por trás dos
homens e das nações, e o conflito começa; não
por causa daquilo que o povo de Deus fala, mas
porque o povo está lá. Deixe isto ser
corporativo e você experimentará a vontade de
Deus sobre vocação. Esta não é a dispensação da
conversão das nações. Eu me pergunto até se esta
é a dispensação da evangelização plena das
nações. Nós estamos esperando que o Senhor possa
vir algum dia.
Metade deste mundo
jamais ouviu sobre o nome de Jesus, após dois
mil anos. Se o Senhor está voltando à noite,
algo tem que acontecer se é para o mundo ser
evangelizado antes que Ele venha! Isto não quer
dizer parar ou enfraquecer a evangelização.
Vamos continuar com ela e fazer tudo o que for
possível; mas, lembre-se, o Senhor nos tem dado
o Seu significado para esta dispensação. "Este
evangelho do reino será pregado no mundo inteiro
para testemunho para as nações; e, então, virá o
fim". (Mateus 24:14).
Olhe para o seu
Novo Testamento. Foi dito: "Por toda a terra
saiu a voz deles, e as suas palavras até aos
confins do mundo". (Romanos 10:18). Foi dito que
o mundo inteiro foi tocado. Mas o mundo cresceu
muito desde então. O que aconteceu neste tempo?
O Senhor plantou núcleos, representações
coorporativas de Sua Igreja, primeiramente em
uma nação e depois em outra, e por meio da
presença deles a luta estourou.
A única coisa que
Satanás se determinou a fazer foi a de ejetar
aquilo que inoculou o seu reino com o Senhorio
do Senhor; para expulsá-lo, quebrá-lo,
desintegrá-lo de alguma maneira a fim de
anulá-lo; fazendo com que uns se voltassem
contra os outros, criando divisões - tudo para
arruinar, frustrar, destruir a representação
deles do absoluto Senhorio do Senhor;
neutralizá-lo, expulsá-lo, fazer qualquer coisa
para se livrar desta coisa dentro de seu reino.
O reino de Satanás tem agido desta maneira, como
que para dizer: ‘Enquanto esta coisa estiver
aqui, jamais estaremos seguros; enquanto esta
coisa estiver aqui, nosso reino está dividido,
não estará completo: vamos nos livrar deles, a
fim de termos o nosso reino sólido’.
O objetivo de Deus
é obter dentro das nações uma expressão
coorporativa do Senhorio de Seu Filho - ter o
Seu lugar lá. Não estou dizendo que não temos
que pregar; sim, devemos pregar, testemunhar,
testificar; mas a coisa essencial é que o Senhor
esteja lá. Há tempos - e isto irá acontecer em
muitos servos de Deus - quando você não pode
pregar, você não pode fazer nada, apenas
permanecer onde está, ficar lá, e as ondas
quebrando sobre você. Isto tem acontecido muitas
vezes. Antes de ter havido qualquer avanço ou
desenvolvimento, tem havido um longo período no
qual a única pergunta é: ‘Seremos capazes de
agüentar, de permanecer firme?’ Satanás tem
dito: ‘Não se eu puder impedir! Você irá
desistir se eu puder fazer algo a respeito!’
O assunto todo em
questão é o lugar do Senhor entre as nações.
Israel foi constituído para isto; a Igreja está
constituída para isto. A coisa não pode ser
feita sozinha por unidades; ela requer a
corporação - os dois ou três; quanto mais
melhor, desde que haja o fator que unifica, a
unidade, a mesma visão. Se motivos duplos e
interesses pessoais entrarem, eles irão arruinar
a coisa toda. Você está lutando uma batalha
solitária? Você precisa de cooperação, você
precisa de ajuda coorporativa para lutar a
batalha e se manter firme. Ouça, o inimigo irá
expulsar você se ele puder. Pregue se você
puder, mas, se não puder, isto não significa que
você deva desistir. Até o Senhor dizer: ‘Eu não
posso fazer mais nada aqui’, você deve
permanecer aí. Nós não conhecemos os esforços
terríveis do inimigo para nos expulsar? Muitos
de vocês têm chegado bem longe para saber o que
isto significa. Se ele pudesse expulsá-lo, ele o
faria.
Mas esta é a visão
- aquilo para o qual a Igreja é constituída em
relação ao Senhor Jesus: de modo que,
considerando o dia vindouro, você se mantenha
como uma testemunha desse dia; se mantenha nas
nações para um testemunho, "até que Ele venha"
para reinar, e "o reino do mundo pertence ao
nosso Senhor, e de Seu Cristo" (Apo. 11:15); um
lugar para os pés até aquele dia; um altar
edificado, que testifica: ‘Isto pertence ao
Senhor: o direito do Senhor está aqui; Ele
comprou isto’. Mas você irá encontrar todo tipo
de contradição a isto, e cada tipo de ataque do
inimigo para tentar provar que o Senhor não tem
nada aqui, que Ele não tem nenhum lugar para por
os pés e que é melhor você ir embora.
Você entende como
é necessário ter visão? Você não pode fazer a
coisa por entusiasmo - não irá durar; nem
baseado na visão de outra pessoa - isto não irá
sustentar você até o fim. Você precisa ser como
Paulo e como aqueles que "resistiram, como que
vendo o invisível"; não como quem O viu muito
tempo atrás, mas vivendo continuamente à luz
daquilo que você tem visto e está vendo - uma
luz que é sempre crescente.
A Visão é a Medida
da Vocação
Agora, se tudo
isto é simples e elementar, é, contudo, básico.
Você compreende que a visão do propósito pleno
de Deus sobre Seu Filho, revelado em seu próprio
coração em seus primórdios, mas agora ficando
mais claro e pleno, é a base da vocação?
Acredito que nada do que eu tenha dito irá fazer
você menos determinado e devoto em todas as
simples maneiras de testemunhar sobre a
salvação; porém lembre-se do seguinte: para a
plenitude você precisa enxergar muito mais do
que isto. Você irá até onde a sua visão o levar;
portanto, todos nós precisamos daquela oração de
Paulo "que Deus vos dê em seu conhecimento o
espírito de sabedoria e de revelação; tendo
iluminados os olhos do vosso entendimento, para
que saibais qual seja a esperança da sua
vocação, e quais as riquezas da glória da sua
herança nos santos; e qual a sobreexcelente
grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos,
segundo a operação da força do seu poder"
(Efésios 1:17-19).
Esta é a visão. E,
então, como está escrito em Isaías 25:7
(A.R.V.): "...E destruirá (lit. consumirá) neste
monte a face da cobertura, com que todos os
povos andam cobertos, e o véu com que todas as
nações se cobrem." O que isto significa - "este
monte?" Que monte? Bem, é Sião. Mas tem este
monte literal, Monte Sião, esta rocha eminente
em Jerusalém, ela tem sempre sido o instrumento
de remoção do véu da face de todos? Naturalmente
que não! O que é Sião? Sião, em interpretação
espiritual, é aquele povo que está vivendo sob a
total Soberania do Senhor. Diz no texto
imediato: "Aniquilará a morte para sempre".
(v.8) É através de Seu triunfo, o triunfo de Sua
Cruz e Ressurreição, que Ele vem a nós.
"Chegastes ao
monte Sião" (Hebreus 12:22). Sião é o território
do Seu absoluto Senhorio, e um povo vivendo sob
o Seu Senhorio. Então o véu é tirado. O que o
Senhor quer aqui, e ali, e acolá, são esses
núcleos, essas pequenas companhias de pessoas
vivendo no benefício de Sua vitória, vivendo no
benefício de ter Ele derrotado a morte
vitoriosamente; e onde eles estiverem as pessoas
irão ver; eles serão o instrumento para se tirar
o véu da face dos povos. Onde tal companhia é
encontrada, lá você vê o Senhor. Quando você
entra em contato com essas pessoas, você entra
em contato com a realidade.
Assim, o apelo
final é que tudo seja ajustado e trazido
alinhado com a visão, e a única pergunta para
nós é: As pessoas estão vendo o Senhor? Não é
uma questão de se elas estão ouvindo aquilo que
temos falado sobre o Senhor - nossa pregação,
doutrina, interpretação - mas: Elas estão vendo
o Senhor, elas estão sentindo o Senhor, elas
estão encontrando o Senhor? Oh, eu não peço a
vocês em suas diferentes localidades para se
reunirem dois ou três a fim de estudarem certos
ensinos da Bíblia; mas eu realmente digo a vocês
que peçam ao Senhor para constituí-los
coorporativamente naquilo que terá um impacto
espiritual, aquilo no qual o Senhor possa ser
visto, o Senhor possa ser encontrado; do qual
possa ser dito: ‘O Senhor está aqui!’ Que isso
possa ser verdade em nós, onde estejamos.
Capítulo 5 - Por
que a Mensagem do Profeta Não é Compreendida
Ler: Atos 13:27,
15; II Coríntios 3:14-18; Isaias 53:1.
Os Profetas eram
lidos, como Paulo salienta aqui, todos os
sábados. Era um costume fixo ler a lei e os
profetas todos os sábados, e pode se dizer que
não era em um horário específico do dia que isto
era feito, mas durante todo o sábado a lei e os
profetas eram lidos nas sinagogas. E, contudo,
as próprias autoridades, e também os moradores
de Jerusalém que freqüentavam os templos, ouviam
a leitura dos profetas continuamente, porém,
jamais ouviam as vozes dos profetas. E porque
eles fracassaram em ouvir aquele algo interior,
que era muito mais do que apenas a leitura
audível que os profetas tinham a dizer, perderam
tudo aquilo que estava planejado para eles, como
mostra este capítulo 13 de Atos.
Os Apóstolos os
deixaram e se voltaram para os gentios, que
tinham um ouvido pronto para ouvir. Este não é
um assunto de pouca seriedade e de pouca
conseqüência. Fica evidente que é necessário
procurarmos ouvir a voz dos profetas, para
realmente conhecermos o que eles estavam
dizendo. Vamos novamente olhar para o versículo:
"... porque não O conheceram, nem conheceram as
vozes dos profetas." Por que não conheceram? Por
que não ouviram? Há uma resposta básica a esta
pergunta que irá nos ocupar agora, e que nos
traz para os fundamentos, realmente para a raiz
das coisas.
A Ofensa da Cruz
(a) Um Messias
Sofredor
A resposta à
pergunta é esta – porque eles não estavam
dispostos a aceitar a Cruz. É isto que está na
raiz da questão toda. Primeiramente, não estavam
dispostos a admitir um Messias sofredor. Eles
tinham suas próprias opiniões formadas, tanto em
relação ao tipo de Messias que o Messias deles
deveria ser, quanto ao que Ele deveria fazer, e
quanto aos resultados de Sua vinda; e tudo o que
se opunha a esta mentalidade fixa não era aceita
- era uma ofensa.
Eles não podiam
admitir dentro do campo de sua contemplação que
o Messias vindouro fosse um Messias sofredor.
Embora os profetas estivessem sempre falando
sobre o Messias sofredor. Isaías, no ponto de
suas profecias que conhecemos como capítulo 53,
mostra o clássico sobre o Messias sofredor, e
ele ainda começa dizendo: "Quem creu em nossa
pregação?"
Acho que não
precisamos reunir mais evidências para mostrar
que esta era a atitude deles. Foi assim o tempo
todo. Paulo, em sua carta aos Gálatas, lidou com
esta mesma questão. Até o fim da carta ele fala
sobre a ofensa da Cruz, e ele coloca isto contra
os judaizantes, que perseguiam os seus passos
por toda a parte, a fim de prejudicar seu
ministério, e em cujas mãos ele sofria.
Ele "trazia em seu
corpo as marcas do Senhor Jesus" (Gálatas 6:17).
Por quê? Por causa de sua mensagem da Cruz. Ele
dizia: "Eu, porém, irmãos, se é que prego ainda
a circuncisão, por que ainda sou perseguido?
Nesse caso o escândalo da cruz estaria
aniquilado." (Gálatas 5:11). E durante todo o
caminho vemos a indisposição dos judeus em
admitir o sofrimento do Messias.
(b) A Maneira do
Auto-Esvaziamento
Mas a coisa ia
mais longe do que isso. Tornou-se não apenas uma
questão nacional, mas uma questão pessoal. Eles
não queriam aceitar o princípio da Cruz neles
próprios. Você descobre que esses indivíduos
representantes da nação, que vinham ao Senhor
Jesus de tempos em tempos, foram apresentados à
ofensa da Cruz - e sempre iam embora vazios, não
estavam preparados para aceitá-la.
Nicodemos estava
muito interessado no reino que o Messias estava
para estabelecer, o qual ele estava esperando e
antecipando, mas isto se tornou uma questão
pessoal da Cruz. Antes que o Senhor prosseguisse
com Nicodemos, Ele trouxe diante de sua vista a
serpente levantada no deserto. Era uma ofensa.
Outro homem, que
se tornou conhecido a nós como o jovem rico,
saiu muito pesaroso por causa da ofensa da Cruz.
Não adiantava ao Senhor, naquele tempo, antes
que a Cruz realmente tivesse o seu lugar, falar
em termos mais exatos sobre ela a outras pessoas
que não os Seus discípulos, mas Ele aplicava o
princípio, que era a mesma coisa. Ele aplicou o
princípio a este jovem. ‘Se, como dizes, estás
interessado no Reino e na vida eterna, este é o
caminho: o caminho do esvaziamento - do complete
auto esvaziamento.’ "Ele saiu triste, porque
tinha muitas posses" (Mateus 19:22). O Senhor
disse: "Quão dificilmente (com que dificuldade)
entrarão no reino de Deus aqueles que têm
riquezas!" (Lucas 18:24). A ofensa da Cruz os
desmascara.
Agora aqui, os
judeus como um todo tornavam o reino de Deus uma
coisa terrena, apoiado sobre princípios deste
mundo - e não vamos culpá-los sem nos culpar a
nós mesmos. Esta é a nossa batalha até hoje. É
uma questão que nos desmascara em nosso coração.
Oh, você pode não estar esperando que através de
sua pregação de Cristo um reino temporal seja
estabelecido e que você irá ter uma coroa para
ser colocada e um trono literal para se assentar
nele - esta pode não ser sua perspectiva, ou
mentalidade; mas não estamos nós quase que todos
os dias de nossas vidas em dificuldades porque o
Senhor esconde de nós tudo aquilo que Ele está
fazendo, privando a nossa alma da sua ambição de
ver coisas, de ter coisas? Não é este o motivo
de grande parte das nossas dificuldades?
Queremos ver, queremos ter, queremos as provas e
as evidências.
Na verdade
queremos um reino que possa ser avaliado pelos
nossos sentidos da visão, audição e sentido - um
reino palpável, uma resposta em forma tangível a
todos os nossos esforços e labutas; e o
contrário a isso é um tremendo esforço de fé, e
algumas vezes até mesmo nos traz a crises
sérias. Por que o Senhor não faz isto ou aquilo
que pensamos que Ele deveria fazer? É
simplesmente este desejo ardente da alma em ter
prova e demonstração; e isto porque, se há algo
edificado na obra cristã que seja óbvio, grande,
impressionante, onde haja uma grande coisa sendo
organizada e um grande movimento em andamento e
tudo esteja no campo do que possa ser visto,
multidões de cristãos correm atrás disso; ou se
há manifestações, coisas que pareçam ser provas
claras, as multidões serão encontradas ali.
O inimigo arrasta
multidões ao imitar as obras do Espírito Santo
no campo das demonstrações e provas. Somos muito
impressionáveis, precisamos possuir; e isto é
exatamente o mesmo princípio que governava
aquelas autoridades. Elas não estavam preparadas
para que o princípio da Cruz fosse aplicado
desta forma - um total esvaziamento do EU, sendo
trazido para um fim de tudo, restando apenas o
Senhor.
O Tema dos
Profetas - Conhecer o Senhor
Agora você vê que
isto nos leva para aquela questão das vozes dos
profetas. Qual era a única coisa que os profetas
sempre estavam falando? Era sobre conhecer o
Senhor. Aquilo que estava faltando entre o povo
do Senhor nos dias dos profetas era o
conhecimento do Senhor. Havia muitas pessoas que
estavam preparadas para ter o Senhor por aquilo
que Ele podia fazer por elas, porém, pelo Senhor
mesmo... ah, isto era uma outra questão.
O que o Senhor
procura em você e em mim? Ele está primeiramente
querendo que façamos coisas? A idéia daquilo que
é do Senhor hoje está muito associada às coisas
que estão sendo feitas para Ele, a obra na qual
estamos engajados, e assim por diante - isto é,
com aquilo que é objetivo e externo. Mas o
Senhor não está primeiramente interessado em
quanto podemos fazer. Ele está muito mais
interessado, façamos pouco ou façamos muito, que
cada pedacinho daquilo que fazemos seja fruto do
conhecimento Dele próprio.
Muita coisa pode
ser feita para o Senhor em termos de obras e
atividades cristãs, exatamente da mesma maneira
como você faz qualquer outra obra, mas isso pode
não proceder de seu próprio conhecimento de
Deus. O Senhor, acima de tudo, está mais
interessado que possamos conhecê-Lo. "Assim diz
o SENHOR: Não se glorie o sábio na sua
sabedoria, nem se glorie o forte na sua força;
não se glorie o rico nas suas riquezas, mas o
que se gloriar, glorie-se nisto: em me entender
e me conhecer, que eu sou o Senhor, que faço
beneficência, juízo e justiça na terra; porque
destas coisas me agrado, diz o Senhor."
(Jeremias 9:23,24, A.R.V.).
Isto não pode
explicar o princípio exato da Cruz que está
sendo aplicado em nós? O Senhor não está
satisfeito; ao longo de muitas linhas Ele parece
estar dizendo repetidamente 'Não' a muito
daquilo que desejamos; e, sendo negado, nós
freqüentemente chegamos ao ponto onde quase
desistimos de tudo e fazemos grandes perguntas
sobre o nosso relacionamento com o Senhor. E,
contudo, o que Ele busca o tempo todo, por meio
de Suas negações, restrições ou demoras, é
aprofundar o nosso conhecimento Dele mesmo.
O que interessa ao
Senhor antes de qualquer coisa não é que
estejamos num certo lugar fazendo uma porção de
obras cristãs (não permita que isto impeça você
de servir ao Senhor!), mas que possamos estar lá
como alguém que conheça o Senhor. Nossas
oportunidades de servi-Lo irão surgir do nosso
conhecimento Dele; Ele irá cuidar disso. O
Espírito do Senhor está providenciando Sua
própria obra. Ele sabe onde existe necessidade,
e quando Ele vê alguém que pode satisfazer essa
necessidade, Ele pode fazer contato.
Conhecimento do
Senhor é Fundamental Para Toda Utilidade
Este é o princípio
no Novo Testamento. Vemos isto na própria vida
do Senhor Jesus. Aquele encontro entre Cristo e
a mulher de Samaria não foi apenas um
acontecimento casual, uma história bonita. Não,
ali tem princípios. O Espírito Santo escreveu
essas narrativas, e envolveu princípios em cada
incidente. Aqui está Alguém que tem água para
dar e o mundo não sabe disso, e ali está uma
mulher sedenta. Deus vê isso, que alguém em
necessidade é colocada em contato com Aquele que
tem o suprimento. Isto é uma lei. Se você não
obtiver o suprimento, será uma obra muito vazia
essa que é feita para o Senhor.
O princípio da
Cruz opera, ao longo de muitas linhas, de muitas
maneiras – provando-nos, experimentando-nos,
esvaziando-nos, a fim de nos levar a um lugar
onde conheçamos o Senhor, e onde nossa alegria
no Senhor e nosso entusiasmo, e nossa vida
cristã sejam frutos de algo mais profundo do que
mera energia produzida ao se fazer muitas
coisas, correndo de reunião a reunião, dando
palestras, ficando ocupados com os compromissos
na obra cristã. O Senhor não quer que seja
assim.
Não estou dizendo
que você nunca ficará na crista da onda, que
nunca terá suas mãos cheias; porém a maneira de
o Senhor nos fazer servos úteis é tratar conosco
a fim de que O conheçamos, de modo que,
estejamos ocupados na obra cristã de forma
visível ou não, estaremos lá com um conhecimento
do Senhor. Assim, o que nos é necessário é uma
medida crescente da preciosidade do Senhor em
nossos corações; que, estejamos aptos a fazer
alguma coisa, ou não, Ele possa continuar muito
precioso para nós. É isto que Ele quer.
Isto é muito
simples, mas é a base de tudo. Você está lá em
algum lugar onde você não pode estar sempre
falando do Senhor, onde você pode fazer muito
pouco, porém, se o Senhor é precioso para você,
isto é servi-Lo, e em você Ele tem um vaso
disponível para qualquer coisa que Ele queira.
Estou certo de que o Senhor jamais irá nos
mostrar às pessoas e nos confiar
responsabilidades até que Ele tenha se tornado
muito precioso para nós no lugar onde estamos,
mesmo que muitas outras coisas que gostaríamos
estejam sendo negadas a nós. É o princípio da
Cruz.
Nicodemos chega
com toda sua ‘suficiência’. Ele é um homem de
grande suficiência - uma autoridade dos judeus,
de posição elevada, em um lugar de influência, e
muito mais. Ele representa uma suficiência do
tipo religiosa. Então o Senhor virtualmente diz
a ele: ‘Você tem que abandonar tudo e começar
tudo de novo, como uma criança recém nascida.
Você está interessado no Reino dos Céus, porém
você não pode trazer nada disso para o Reino.’
Ao jovem rico Ele diz, em efeito: ‘Você não pode
trazer suas riquezas’.
Você pode ter
muita riqueza natural - intelectual, financeira,
influência, posição, mas isso não lhe dá
qualquer posição no Reino dos Céus,
absolutamente. O mais rico, o mais abastado, o
maior aqui neste mundo não recebe mais luz do
Senhor para sua direção do que o mais pobre e o
mais fraco. Todos somos trazidos para a mesma
condição - você precisa nascer de novo, você
precisa começar do zero nesta questão do Reino
dos Céus. O Reino não é comer nem beber; é uma
questão de medida espiritual; e você começa a
medida espiritual por meio do nascer do
Espírito. A nova vida é absolutamente espiritual
desde a primeira respiração - algo que não era
antes, algo novo.
Medida espiritual
simplesmente é conhecer o Senhor; isto é tudo.
Nossa permanência no Reino dos Céus é
simplesmente uma questão de conhecer o Senhor,
e, se formos receber posição mais elevada não
será por preferências, absolutamente, mas pelo
aumento da nossa medida espiritual. Pessoas que
contam no Céu são pessoas espirituais, e o que
conta é o grau da medida de sua espiritualidade;
e espiritualidade é conhecer o Senhor. Podemos
ficar certos de que o Senhor se empenha a Si
mesmo totalmente nesta questão de nos fazer
conhecê-Lo. Isto é o que realmente importa.
A Cruz é a Base
para todo Conhecimento do Senhor
Eles não podiam
ouvir as vozes dos profetas porque os profetas
estavam falando acerca do sofrimento do Messias,
e havia algo dentro das pessoas que tinha
fechado a porta; eles estavam predispostos
contra qualquer coisa neste sentido, e assim,
não conseguiam ouvir. Até mesmos os discípulos
do Senhor Jesus estavam nesta situação. Quando
Ele começou a se referir a Sua Cruz eles
disseram: "Longe de ti tal coisa, Senhor; de
modo algum te acontecerá isso" (Mateus 16:22).
Um Messias sofredor? Oh, não! Mas eles realmente
chegaram ao lugar onde a Cruz tinha sua
aplicação mais profunda, onde ela significava um
fim de tudo para eles.
O Senhor lançou
toda esta questão, e você os observa após a
crucificação do Senhor - tinham perdido seu
Reino Messiânico, tinham perdido tudo, estavam
desprovidos e vazios. E, então, o que aconteceu?
Eles, então, começaram a conhecer, apenas
começaram a conhecer, e o conhecimento deles
cresceu e cresceu; porém era completamente de
outra ordem. Assim você descobre, no restante do
Novo Testamento, que, tanto na própria história
deles quanto no ensino das outras pessoas, as
duas coisas caminham juntas.
São como o
positivo e o negativo de um circuito elétrico -
não pode haver corrente sem ambos. O negativo é
a aplicação do princípio da Cruz, que diz NÃO,
NÃO, NÃO: um fim: a morte para si mesmo, morte
para o mundo, morte para toda sua vida natural.
Mas o positivo é o Espírito Santo, o Espírito de
Deus, a ponderosa presença, porém sempre de mãos
dadas com a Cruz. Com esses dois agindo sempre
juntos, o negativo e o positivo - a Cruz, e o
propósito celestial, e o poder celestial, e a
eficácia - você descobre que há movimento e um
conhecimento cada vez maior do Senhor.
Não podemos obter
conhecimento do Senhor (a coisa mais importante
na mente de Deus para nós) exceto no terreno da
aplicação contínua da Cruz, e isto irá ser assim
até o final. Não imagine que irá chegar um dia
quando você irá descartar a Cruz, quando o
princípio da Cruz não mais será necessário,
quando você tiver se graduado na escola onde a
Cruz é o instrumento do Senhor. Tal dia nunca
irá chegar! Cada vez mais você irá chegar a
reconhecer a necessidade da Cruz. Se você
estiver indo na direção da plenitude do
conhecimento - quero dizer para o conhecimento
do Senhor - e, por conseguinte para uma maior
utilidade a Ele, você precisa tomar isto como
certo, que o princípio da Cruz será aplicado
cada vez mais profundamente na medida em que
você avançar.
Oh, que Deus
escreva isto em nossos corações! Pois todos nós
sabemos da necessidade da Cruz; e aqueles que
mais têm conhecido sobre ela estão mais
conscientes de que a necessidade dela permanece.
Temos visto a terrível tragédia das pessoas que
conheceram a mensagem da Cruz em profundidade, e
que após muitos anos têm sido uma contradição a
esta mesma mensagem - marcados pela
auto-suficiência, auto-importância, impaciência,
irritabilidade, de modo que outras pessoas têm
sido incapazes de conviver com elas.
Você é uma dessas
pessoas habitualmente irritadas? Não quero dizer
uma daquelas que algumas vezes é vencido por uma
falta. O Senhor é paciente com os tombos que
acontecem aqui e ali ao longo do caminho, mas
somos nós pessoas habitualmente irritadas, de
mal humor, de difícil convivência? Isto é uma
negação da Cruz, e isto tem naufragado a vida e
a obra de muitos ministérios.
A Cruz será
aplicada até o final, e, completamente à parte
de nossas faltas e das coisas em nossa
constituição e natureza que tenham que ser
tratadas, neste vir a conhecer o Senhor para um
uso ainda maior, iremos de morte em morte neste
lado das coisas. Pensamos em alguns conhecidos
nossos. Maravilhamo-nos da maneira como o Senhor
tem sido capaz de usá-los, o lugar mais amplo
onde Ele os tem colocado, que riquezas Ele tem
dado a eles; porém mais tarde eles despencam nas
profundezas da morte jamais conhecida antes.
Evidentemente para algo mais, algo maior ainda.
É desta maneira; o conhecimento do Senhor requer
isto de forma sempre crescente.
Conhecimento e
Utilidade Salvaguardados Pela Cruz
Mas, além disso,
não há lugar seguro longe da constante aplicação
do princípio da Cruz. Segurança absolutamente
requer Cruz. Nada está seguro em nossas mãos.
Quanto mais o Senhor abençoa, tanto maior perigo
haverá. O maior perigo vem quando o Senhor
começa a nos usar. Você pode dizer: 'Isto tem
muito a ver com a nossa santificação'.
Certamente não tem muito a ver com
'erradicação'! Bem, aqui está Paulo. Este homem
conhecia tudo sobre Cruz? Você poderia dizer que
ele era um homem crucificado? Se ele não era,
então, quem era? Ele conhecia o Senhor? E com
tudo o que ele conhecia de Cruz e do Senhor,
sabia ele que a Cruz precisava ser aplicada até
o final? Ele definitivamente irá registrar isso
- "... para que eu não me exaltasse demais,
foi-me dado um espinho na carne, um mensageiro
de Satanás para me esbofetear". "Para que eu não
me exaltasse demais"! (II Cor. 12:7).
Observe, ele está
dizendo isso por causa da grande revelação que
lhe fora dada. Ele estava envolvido no Céu. É a
coisa mais perigosa ser confiado com riquezas
Divinas, no que diz respeito a nossa carne. O
único lugar seguro é onde a Cruz ainda está em
operação, tocando tudo aquilo que é de nós
mesmos, tocando toda a nossa independência de
ação.
Tome todos esses
apóstolos - tome a Pedro, um homem que agia de
forma tão independente, que se inclinava a fazer
as coisas à sua própria maneira, a fazer aquilo
que bem queria. Vemos isso constantemente. Ele é
o homem que age sem parar para perguntar a
ninguém. Não temos nenhuma evidência de que
alguma vez ele chegou, em comunhão com seus
irmãos discípulos, e disse: 'Estou pensando em
fazer assim e assim; gostaria muito que vocês
orassem comigo sobre isso, e me dissessem o que
vocês pensam; não tenho qualquer intenção de
prosseguir, a menos que haja unanimidade entre
nós'.
Pedro jamais fazia
esse tipo de coisa. Ele tinha uma idéia, e lá ia
ele. O Senhor o retratou muito bem quando lhe
disse: “Na verdade, na verdade te digo que,
quando eras mais moço, te cingias a ti mesmo, e
andavas por onde querias; mas, quando já fores
velho, estenderás as tuas mãos, e outro te
cingirá, e te levará para onde tu não queiras"
(João 21:18). Este era Pedro antes que a Cruz
fosse trabalhada nele. Mas, veja-o depois. Por
que, naqueles capítulos iniciais de Atos, lemos
'Pedro e João', 'Pedro e João', 'Pedro e João'?
Bem, eles se movem juntos agora, há ligação.
Isto é um
reconhecimento de que Pedro sentia necessidade
de cooperação e comunhão, que ele tinha visto os
perigos e desastres a que a independência o
havia levado, mesmo quando suas intenções e
motivos eram os melhores? Esses são apenas
relances de como a Cruz nos toca em nossa
natureza impulsiva e independente, nossa vontade
própria, nossa força própria. A Cruz tem que
tratar de tudo isso, a fim de tornar as coisas
seguras para Deus, e para nos manter em
movimento no caminho do conhecimento crescente
do Senhor, que, como dissemos, está por trás de
todo nosso valor para o Senhor, de toda nossa
utilidade, de todo o nosso serviço.
A Cruz Abre o
Caminho Para o Conhecimento Pleno do Senhor
A Cruz é o único
caminho para o conhecimento espiritual.
Importante como o estudo da Palavra de Deus
possa ser em seu próprio campo, como que
lançando um fundamento para o Espírito Santo
trabalhar sobre ele, você jamais chegará ao
conhecimento do Senhor simplesmente estudando a
Bíblia. O Espírito Santo pode usar aquilo que
você conhece da Bíblia para lhe ensinar muito,
para explicar suas experiências, para
capacitá-lo a entender aquilo que o Senhor está
fazendo, porém você jamais obterá este tipo de
conhecimento espiritual através do estudo e do
ensino.
Você precisa estar
preparado para permitir que a Cruz seja aplicada
em sua vida, para que você seja quebrado,
esvaziado e reduzido a pó - para que você seja
levado a um lugar onde o Senhor não precise
fazer mais nada, onde você esteja acabado. Se
você estiver preparado desta maneira, então você
irá começar a conhecer o Senhor. Este é o único
caminho. Não pode ser por meio de discursos ou
palestras. Elas têm o seu valor, mas você não
irá conhecer o Senhor espiritualmente ao longo
dessas linhas.
O pleno
conhecimento do Senhor está reservado para nós
que vivemos nesta dispensação, porque é
governada pela Cruz. O próprio Pedro tem algo a
dizer sobre isso: "Foi a respeito desta salvação
que os profetas indagaram e inquiriram
diligentemente, os quais profetizaram acerca da
graça a vós outros destinada, investigando,
atentamente, qual a ocasião ou quais as
circunstâncias oportunas, indicadas pelo
Espírito de Cristo, que neles estava, ao dar de
antemão testemunho sobre os sofrimentos
referentes a Cristo e sobre as glórias que os
seguiriam. A eles foi revelado que, não para si
mesmos, mas para vós outros, ministravam as
coisas que, agora, vos foram anunciadas por
aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu,
vos pregaram o evangelho, coisas essas que anjos
anelam perscrutar." (I Pedro 1:10-12).
Aí você tem duas
ordens - os profetas e os anjos - eles não
sabiam certas coisas as quais estão reveladas a
nós. Os profetas conheciam muito, porém buscavam
diligentemente saber algo que não podiam
perscrutar. 'O que isto significa?' Eles devem
ter se perguntados: 'O Espírito de Deus está nos
fazendo dizer estas coisas, mas o que elas
significam?' Eles buscavam diligentemente saber
aquilo que estava reservado para nós. Por que
eles não podiam conhecer? Porque o pleno
conhecimento está baseado na Cruz, e a Cruz não
tinha ocupado o seu lugar ainda.
E os anjos,
também, desejam saber essas coisas. Pode isso
ser verdade? Pensávamos que os anjos conheciam
tudo! Certamente os anjos teriam muito mais
conhecimento e inteligência do que nós sobre
essas coisas? Não, eles não têm. "as quais
coisas os anjos anelam perscrutar". Por que eles
não sabem? Os anjos não têm necessidade da Cruz;
a Cruz não tem nenhum significado pessoal para
eles. É na base da Cruz que o pleno conhecimento
entra. Isto precisa de mais algum argumento?
A Cruz Garante
Resultados Positivos, Não Apenas Negativos.
Sendo assim, O
Espírito Santo, a fim de nos levar para o pleno
conhecimento do Senhor e por meio deste
conhecimento crescente nos tornar úteis ao
Senhor, precisa operar constantemente por meio
da Cruz em princípio; e minha palavra final é
esta. A obra não é toda negativa; o Senhor
trabalha numa base positiva. Você pode achar que
o Senhor está sempre dizendo NÃO, que Ele está
sempre contra você, que a Cruz é supressiva; mas
não, ela é um instrumento positivo nas mãos do
Espírito de Deus. Deus está trabalhando numa
linha positiva. O fato é que, sempre que o
Espírito Santo nos traz para um novo
conhecimento do significado da Cruz, é porque
Ele busca algo mais. Esta é a lei do Espírito da
vida.
Você precisa se
lembrar de que o Senhor Jesus, em sua
ressurreição, não foi deixado simplesmente onde
Ele estava antes. Antes de morrer Ele estava na
terra, e, então, Ele morreu; e Paulo se refere a
sua ressurreição nessas palavras: "e qual a
suprema grandeza do seu poder para com os que
cremos, segundo a eficácia da força do seu
poder; o qual exerceu ele em Cristo,
ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o
sentar à sua direita nos lugares celestiais,
acima de todo principado, e potestade, e poder,
e domínio, e de todo nome que se possa referir
não só no presente século, mas também no
vindouro". (Efésios 1:19-21).
A ressurreição O
levou para os 'lugares mais exaltados', e o
princípio da ressurreição é sempre este de
reação - podemos ir muito fundo, mais fundo do
que jamais fomos antes, porém o Espírito de Deus
está pretendendo que isto implique em estarmos
mais altos do que antes. Assim, não tenha medo
quando estiver se sentindo muito vazio, acabado,
muito próximo do fim. Se esta verdadeiramente é
a operação da Cruz, então irá ser bem sucedida
naquilo que o Senhor planeja para você; e, se
for bem sucedida, você estará posteriormente
numa posição mais elevada do que jamais esteve
antes.
A Necessidade de
Um Ajuste Definitivo Com o Senhor
Temos dito de
tempos em tempos que a Cruz realmente envolve
crise. Para alguns isto pode significar uma
experiência esmagadora, a maior coisa que jamais
aconteceu em sua vida, até maior do que sua
própria conversão. Foi assim para alguns de nós
na medida em que nos movemos da compreensão do
aspecto substitutivo da Cruz, onde víamos apenas
o que Cristo tinha feito por nós, para a
compreensão da nossa união com Cristo na morte,
nosso sepultamento e ressurreição. Tenha você ou
não uma grande crise que divida sua vida em
dois, você precisa ter um momento de transação
com o Senhor, onde reconheça que a Cruz é, em
princípio, uma realidade absoluta e toda
abrangente que, mais cedo ou mais tarde, irá
varrer da terra o último vestígio da vida do EU
que é o terreno de poder de Satanás.
É melhor em algum
momento ter esta compreensão: 'Regozijo-me no
fato de Tua morte por mim, e estou salvo no
terreno desta morte e minha fé nela. Porém eu
morri em Ti - este foi o Teu pensamento ao meu
respeito como um filho de Adão. Eu não poderia
suportar ter tudo o que isto significa se fosse
trazido a mim de uma só vez, mas reconheço que
isto precisa ser trabalhado conforme a graça
permite, e que mais cedo ou mais tarde eu tenho
que chegar a um fim absoluto; e, portanto me
submeto a tudo que Tu queres significar com a
Cruz'.
Uma transação
deste tipo é necessária. Não comece a dar chutes
quando o Senhor começar a trabalhar. Ele toma a
palavra que você diz literalmente, mas Ele faz
isso com um objetivo definido em vista: levá-lo
a um conhecimento maior Dele mesmo. Desse
conhecimento crescente, as crescentes
preciosidades do Senhor, todo real serviço irá
surgir. Não é o que nós fazemos, mas o que
temos, este é o segredo do serviço.
Capítulo 6 - O
Reino, e a Entrada Nele
"Pois, os que
habitam em Jerusalém e as suas autoridades,
porquanto não conheceram a este Jesus,
condenando-o, cumpriram as mesmas palavras dos
profetas que se ouvem ler todos os sábados."
(Atos 13:27).
"Em verdade vos
digo que, entre os nascidos de mulher, não
surgiu outro maior do que João, o Batista; mas
aquele que é o menor no reino dos céus é maior
do que ele. E desde os dias de João, o Batista,
até agora, o reino dos céus é tomado à força, e
os violentos o tomam de assalto. Pois todos os
profetas e a lei profetizaram até João. E, se
quereis dar crédito, é este o Elias que havia de
vir. Quem tem ouvidos, ouça".
"A lei e os
profetas vigoraram até João; desde então é
anunciado o evangelho do reino de Deus, e todo
homem forceja por entrar nele." (Lucas 16:16).
Penso que podemos
reconhecer que o elo comum entre Atos 13:27 e
Mateus 11:13 seja "todos os profetas". Em um
caso eles não ouviram as vozes dos profetas; em
outro é dito (vs. 15), "Quem tem ouvidos, ouça".
Os Profetas
Profetizaram Sobre o Reino
Antes de tudo,
precisamos entender o significado desta sentença
em Mateus 11 - "todos os profetas...
profetizaram até João". O que eles profetizaram?
Naturalmente, profetizaram muitas coisas. Um
assunto predominante em suas profecias era
aquele referente ao Rei vindouro e ao Reino.
Tanto foi assim que no Novo Testamento a questão
do Reino é assumida.
Quando você abre o
Novo Testamento e começa a ler os Evangelhos, e
descobre que nenhuma explicação é dada. O Reino
não é apresentado como algo a respeito do qual
as pessoas eram ignorantes. Você encontra entre
o povo aqueles que iam ao Senhor Jesus e usavam
a mesma frase, e encontra o próprio Senhor
usando 'o Reino' sem qualquer introdução ou
explicação.
Nicodemos é um
exemplo pertinente. Não temos nada na narrativa
que indique que Nicodemos disse alguma coisa
sobre o Reino absolutamente. Ele começou
dizendo: "Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo
de Deus". Não havia nada sobre o Reino nisto. O
Senhor Jesus interrompeu e disse: "aquele que
não nascer de novo, não pode ver o reino de
Deus" (João 3:2,3). Evidentemente era isto que
estava na mente de Nicodemos, e o Senhor sabia.
Você vê, é uma
coisa assumida no Novo Testamento; e, embora
mais tarde (como encontramos no livro de Atos e
subseqüentemente) a verdadeira explicação
celestial seja dada, ou haja algum ensino
concernente ao seu real significado, o Reino era
algo que já estava nas mentes dos Judeus, e,
naturalmente, isto vem dos profetas. Os profetas
tinham muito a dizer sobre o Reino, e alguns
deles tinham algo muito definido para falar
sobre o Rei. Não iremos tentar provar isto. É
uma declaração que você pode verificar
facilmente.
O que os profetas
profetizaram? Inclusive eles profetizaram sobre
o Rei e sobre o Reino. Qual foi o apogeu dos
profetas nesta abrangente ligação? Foi João
Batista. Ele reunia a todos; ele foi, por assim
dizer, o profeta inclusivo. Quem era João
Batista? Ele era o término ou o ponto de virada
entre tudo o que tinha sido e aquilo que agora
estava para ser, entre o Velho Testamento e o
Novo. Esta é a declaração aqui: "todos ...
profetizaram até João". Até João; agora - a
partir de João. Qual era a mensagem de João?
"Arrependei-vos, pois o Reino dos Céus está
próximo" (Mateus 3:2). Mas ao longo disso, o
Cordeiro de Deus, a grande nota distinta de João
é: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do
mundo!" (João 1:29). Essas não são duas coisas
diferentes; elas são uma só. "O Reino ... está
próximo" - "Eis o Cordeiro de Deus!"
O Reino Presente
Em Cristo
Qual era o
assunto, então, desde o tempo de João - que
surgia com novo significado, nova força, porque
tinha se tornado uma questão atual, não mais de
profecia, mas agora o assunto do momento? Era o
Reino dos Céus. "A lei e os profetas foram até
João: a partir deste momento o evangelho do
Reino de Deus é pregado". Os profetas haviam
profetizado isso; agora isto é pregado como
tendo chegado, e tendo chegado com "o Cordeiro
de Deus, que tira o pecado do mundo".
O que, então, é o
Reino dos Céus? Temos conduzido o assunto até
este ponto, passo a passo, e quando respondermos
esta pergunta final, iremos enxergar claramente
o que era aquilo que as autoridades Judaicas e
habitantes de Jerusalém jamais enxergaram,
embora ouvissem os profetas semana após semana.
Vou forçar o
desafio disto mais uma vez. Sinto que é algo
muito solene que o Reino dos Céus pudesse ter
vindo alguma vez para perto de alguém. Você
sabe, o Senhor irá finalmente julgar todas as
pessoas nessa oportunidade. A oportunidade foi
dada - e contato é oportunidade. A própria
disponibilidade do Reino é a oportunidade. O que
é feito com a oportunidade? O Senhor Jesus
caminhou no meio da nação judaica por três anos
e meio. Sua própria presença entre eles era a
oportunidade deles - e que conseqüência terrível
sucedeu o fracasso deles em aproveitar aquela
oportunidade!
Agora, pode haver
alguém nesta mesma categoria que leia essas
palavras. Através de lê-las, o Evangelho de
Jesus Cristo tem se tornado disponível a você,
mesmo que nunca antes (mas certamente
dificilmente poderíamos dizer isto) - o
conhecimento do fato sobre o Senhor Jesus e Sua
Cruz. Ter tido isto alguma vez dentro do seu
alcance é suficiente para estabelecer o seu
destino eterno. Se o Reino dos Céus chega dentro
do ambiente e do limite de sua vida, de seu
conhecimento - este é o fundamento sobre o qual
seu destino eterno pode ser estabelecido.
Naturalmente,
havia muito mais no caso daquelas pessoas, e a
condenação deles foi bem maior. Os profetas
profetizaram em suas audiências, e, contudo,
devido a algo em sua própria constituição,
devido a alguma reação deles próprios, as
autoridades e o povo nunca prestavam atenção
naquilo que ouviam; nunca reconheciam que ali
estava algo que tinha implicações muito grande,
e que eles deviam descobrir quais eram realmente
essas implicações. Não tomavam uma atitude - 'se
há aqui algo que diz respeito a mim, preciso
saber o que é'.
Você dificilmente
poderia pedir por menos do que isto, poderia?
Mas a própria ausência desse tipo de reação
diante do Evangelho, como tenho dito, pode ser o
fundamento sobre o qual se dará o julgamento.
Isto se deu no caso deles, e foi um terrível
julgamento! Que julgamento, esses dois mil anos
de história judaica! "Sua casa ficará desolada"
(Mateus 23:38). Será que já houve uma história
de desolação mais terrível do que a história dos
Judeus desde então?
Porém, mesmo
assim, isto é apenas uma parábola de desolação;
algo aqui nesta terra. O que deve significar
desolação no sentido espiritual e eterno -
abandono da parte de Deus, e tendo conhecimento
disso? É uma mensagem solene, e naturalmente,
ela pavimenta o caminho para esta outra parte, a
entrada 'violenta' no Reino. Isto é algo para se
tomar com seriedade, algo sobre o qual você não
pode ficar descuidado ou indiferente.
O que é o Reino? A
resposta a isto pode ser dada em três ou quarto
sentenças muito sucintas. O que o Reino dos Céus
demonstra ser? Eu repudio aquele sistema de
interpretação que afirma que um reino literal,
terreno e temporal foi oferecido aos Judeus
naquele tempo. Não creio nisso. Teria sido um
tipo de coisa pobre para o povo de quem lemos
nos Evangelhos terem tido o Reino em suas mãos -
não muita glória ou satisfação para Deus neles!
Olhe para a Palestina hoje, e veja que tipo de
reino seria na mão daquelas pessoas! O que é
possível para o mundo quando este tipo de coisa
chega ao reino? Não, repudio esse tipo de
interpretação de um reino temporal sendo
oferecido a Israel por Jesus naquele tempo. Mas
o que o Reino dos Céus, que foi pregado nos dias
de João Batista, mostrou ser e significar, como
o Senhor Jesus o interpretou, e mais tarde os
apóstolos?
O Que é o Reino
(a) Uma Nova Vida
Primeiramente, o
Reino dos Céus era uma nova vida, completamente
diferente daquela que os homens conheciam em
toda a sua história desde Adão em diante. Isto é
o que o Senhor quis dizer em Sua primeira
referência ao Reino, quando falava com Nicodemos
sobre a necessidade de sua alma. "Se alguém não
nascer de novo não pode ver o Reino de Deus" -
porque é uma nova vida que surge, como por um
nascimento. Não se trata de uma mera energização
da vida velha. Não é simplesmente a inclinação
da velha vida a novos interesses, mudando de uma
linha de interesse para outra, de um sistema de
ocupação para outro: uma vez você se doava
completamente ao mundo, e agora, com a mesma
vida e com o mesmo interesse você se doa ao
cristianismo. Não, é outra vida diferente, uma
vida que nunca houve antes, vinda do próprio
Deus. A própria essência do Reino dos Céus é que
é uma natureza celestial numa vida celestial,
dada como um dom distinto numa crise. Outra vida
- isto é o Reino, para se começar com ela.
(b) Um Novo
Relacionamento
É um novo
relacionamento, um relacionamento com Deus: que
não é simplesmente que agora nos tornamos
interessados em Deus - que Deus se tornou um
objeto de nossa consideração e nos movemos de um
relacionamento para outro porque agora temos
assumido o cristianismo. Não, é um
relacionamento que é a própria essência desta
vida em si mesma. Temos uma consciência
completamente nova e diferente, no que concerne
ao nosso relacionamento com Deus. A grande
verdade dos evangelhos, especialmente como
enfatizado no Evangelho de João, é que uma
relação com Deus chegou por meio de Jesus
Cristo. "Manifestei o Teu nome aos homens a quem
Tu me destes do mundo". (João 17:6).
Este nome, do qual
Ele está sempre falando, representava um novo
relacionamento - "Pai"; não no sentido de uma
paternidade de Deus e de uma irmandade geral e
universal, mas um relacionamento específico, um
novo relacionamento que chega somente com a
entrada do Espírito Santo dentro da vida num ato
definitivo e crítico. "Deus enviou o Espírito de
Seu Filho aos nossos corações, o qual clama,
Abba, Pai" (Gálatas 4:6). Quando isto realmente
aconteceu a você? Qual foi a primeira pronúncia
de sua nova vida? "Pai!" - pronunciado com uma
nova consciência. Não agora um Deus que está
longe, impensável, todo terrível, de quem você
tem medo; não, "Pai!" Quando "nascemos do
Espírito", aí é trazido um relacionamento
completamente novo.
(c) Uma Nova
Constituição
Então o Reino dos
Céus é uma nova constituição. Não estou pensando
agora de um novo conjunto de leis e
regulamentos, mas uma nova constituição no que
diz respeito a mim e a você. Somos constituídos
novamente, com um conjunto de novas capacidades
que tornam possíveis as coisas que jamais eram
possíveis antes. Isto precisa ser reconhecido -
e gostaria que você colocasse isto em seu
coração novamente - que o filho de Deus, o
membro do Reino dos Céus, é a corporificação de
um milagre, que significa que há possibilidades
e capacidades sobrenaturais em cada um deles.
Que coisas tremendas acontecem na vida de um
filho de Deus!
Quando finalmente
enxergarmos plena e claramente, iremos
reconhecer que essas coisas foram nada menos do
que milagres Divinos cada uma das vezes. Nós não
conhecemos todas as forças que se inclinam para
a destruição de um filho de Deus, e quanto sua
preservação até o fim representa um exercício do
poder Soberano de Deus. Alguns de nós conhecemos
um pouco disto: que a nossa própria
sobrevivência se deve a Deus exercer Seu poder
sobre outros imensos poderes hostis, que somos
preservados pelo poder de Deus - e que isto
requer o poder de Deus para nos manter!
O início da vida
do filho de Deus é um milagre. ‘Como um homem
pode nascer de novo?’ Não há nenhuma resposta a
esta pergunta, exceto que é Deus quem faz isso.
"Como pode este homem dar-nos a sua carne para
comer?" (João 6:52). Isto é, como o filho de
Deus consegue ser sustentado até o fim, sem
qualquer coisa para ajudar, para socorrer, para
nutrir? Não há resposta a isto também, exceto
que é Deus quem faz isso; e, se Ele não fizer, o
filho de Deus, por causa das forças extras
centradas contra ele para destruí-lo,
simplesmente afundaria. A consumação da vida do
filho de Deus será igualmente um milagre. "Como
os mortos são ressuscitados?" e "com que tipo de
corpo eles surgem?"(I Coríntios 15:35). A
resposta a isto é a mesma - somente Deus irá
fazer isto.
A questão toda é
um milagre desde o início ao fim. É uma nova
constituição, tendo em si possibilidades e
capacidades que estão completamente acima e além
do mais alto nível de capacidades humanas; isto
é, acima de todo o reino da terra da natureza.
(d) Uma Nova
Vocação
E mais, é uma nova
vocação. É algo para o qual se viver, algo no
qual servir, algo para trazer em operação. A
vocação se torna a esfera e os meios de um novo
propósito e de um novo ministério de vida. A
própria consciência de um verdadeiro filho de
Deus nascido de novo é como isto - 'Agora eu sei
por que estou vivo! Tenho me perguntado ao longo
do tempo por que eu nasci; tenho sussurrado a
respeito, e senti que fui injustiçado ao ser
trazido a este mundo sem ser consultado quanto a
se eu queria vir; mas agora vejo que há um
propósito nisso - Tenho para que viver!'
Um filho de Deus
verdadeiramente nascido de novo sai e fala para
as pessoas que, apesar de tudo, vale a pena
estar vivo! Ele descobriu, por trás de tudo
mais, aquilo que tem significado e propósito
Divino - aquilo não existia como algo ativo até
que ele nasceu de novo e entrou para o Reino. O
Reino dos Céus é uma nova vocação, um novo senso
de propósito de vida. Ele dá um sentido para a
vida. Isto é o Reino.
Esta não é uma
idéia completamente diferente daquela que faria
o Reino um lugar com certas leis e regulamentos
- 'Você deve' e 'Você não deve' - algo objetivo?
"O Reino de Deus está dentro de vós" (Lucas
17:21).
(e) Uma Nova
Gravitação - Para o Céu, Não Para a Terra
Além do mais o
Reino é algo de cima, e isto certamente implica
que é transcendente em todos os sentidos. É algo
que vive, e que traz a vida para um nível mais
alto. Isto é, se a nova vida vem de cima, do
céu, ela sempre irá gravitar em torno da sua
fonte, e, se esta nova vida opera em nós, ela
estará nos levantando, impulsionando-nos para
cima, para Deus. Ela opera de tal maneira que
iremos sentir antes de tudo que este mundo não é
o nosso lar. Ele foi nossa casa; tudo que
precisávamos estava aqui até que esta
experiência aconteceu.
Agora não
pertencemos mais ao mundo, pertencemos a outro
lugar; e de maneira estranha estamos firmemente
nos movendo cada vez mais para longe desta
terra. Descobrimos que nos sentimos cada vez
menos confortáveis aqui a cada dia. Você está no
Reino se possui algo semelhante a esta
experiência. Se você consegue ficar confortável
e feliz em continuar aqui, você precisa ter
sérias dúvidas quanto ao lugar que está em
relação ao Reino. Mas se você está cada vez mais
consciente de que interiormente a distância está
crescendo entre você e tudo aquilo que está aqui
neste mundo, então o Reino realmente está
operando, o Reino dos Céus tem chegado.
O Reino Chegou,
Mas Também Está Chegando
Agora, outra
coisa: o Reino tem chegado, mas ele está sempre
chegando. Nós entramos, mas devemos estar sempre
entrando. Há uma pequena palavra no final da
carta aos Hebreus - "Portanto, recebendo um
Reino que não pode ser abalado..." (Hebreus
12:28). O sentido literal aí é - 'estando em
curso ou em processo de receber um Reino que não
pode ser abalado...' Ele veio, mas está vindo; e
é neste ponto que penso que todos nós precisamos
reconhecer uma diferença, discriminar entre duas
coisas - entre conversão e salvação.
Você já fez esta
distinção? Há toda uma diferença entre conversão
e salvação. Conversão é uma crise, algo que
acontece de repente, num momento, e ela é feita.
Salvação? Isto é algo que foi iniciado; mas você
descobre também que o Novo Testamento fala sobre
"obtendo o fim da vossa fé: a salvação da vossa
alma" (1 Pedro 1:9), indicando, assim, que
salvação é ainda futura. Algumas pessoas têm
construído uma falsa doutrina sobre isto,
ensinando que você não pode saber se você é
salvo até ir até o fim, porque está dito sobre
salvação no tempo futuro. Mas nós estamos
salvos, e estamos sendo salvos.
Entramos no Reino
pela conversão, mas a salvação é algo muito mais
do que conversão. Oh, salvação é uma coisa
vasta, e é apenas outra palavra para Reino - o
Reino vindo o tempo todo. Um bebê espiritual que
acabou de receber a vida Divina não possui tudo,
exceto potencialmente. Ele tem conversão, tem
novo nascimento. Diria você que um pequeno bebê
possui tudo o que foi proposto que ele tivesse?
Potencialmente, na vida, tudo está lá. Porém
quanto mais há para ser conhecido sobre o que
esta vida implica, sobre tudo que ela carrega
com ela e a que ela pode levar, sobre todas as
capacidades que estão lá!
Esta é a diferença
entre conversão e salvação. O Reino é um Reino
vasto - "Seu Reino é um Reino eterno" (Daniel
4:3). "Do aumento do seu governo... não haverá
fim" (Isaias 9:7). "Não haverá fim" simplesmente
significa eternamente em expansão. Pode você
apenas fazer uma idéia geográfica disso?
Certamente que não. O Reino deve ser espiritual
- as reservas inesgotáveis de Deus para o Seu
próprio povo. Irá demandar a eternidade para
conhecer e explorar todas essas reservas, as
dimensões de Seu Reino.
O Reino Sofre
Violência
Agora, tendo
considerado de forma muito imperfeita aquilo que
os profetas estavam falando e aquilo com o qual
você e eu entramos em contato, vamos ver o que
pode ser esquecido. Vamos olhar para essas
outras palavras: "A lei e os profetas duraram
até João; desde então é anunciado o reino de
Deus, e todo o homem emprega força para entrar
nele." (Lucas 16:16).
"E desde os dias
de João, o Batista, até agora, o reino dos céus
sofre violência, e os violentos o tomam por
força" (Mateus 11:12). Ele "sofre violência".
Isto não significa simplesmente que ele permite
a violência. Significa realmente que ele requer
força, e são homens destemidos que o tomam por
força. Lucas coloca assim "entra violentamente".
Aqui está o
espírito da cidadania deste Reino - "por força".
Por quê? Isto não é simplesmente um apelo para
ser determinado - embora certamente inclua isto,
vendo que tremenda coisa é este Reino, e que
perda imensa será sofrida se não o tomarmos
seriamente. Mas, veja, o Senhor Jesus está
falando como que no meio de coisas que estão
constantemente em oposição. Há todo um sistema
organizado, exercendo uma tremenda influência.
Ele disse para
eles na ocasião: "Ai de vocês, mestres da lei e
fariseus, hipócritas! Pois vocês fecham a porta
do Reino do Céu para os outros, mas vocês mesmos
não entram, nem deixam que entrem os que estão
querendo entrar." (Mateus 23:13). Há tudo, da
parte de Satanás e dos homens, para obstruir;
para entrar requer violência. Se você puder ser
estorvado, você ficará estorvado. Se você ficar
despreocupado, irá dar às forças antagônicas
todo o terreno que eles querem para colocar você
para fora.
É por isso que
saliento que não é apenas uma entrada definitiva
no Reino, mas é uma entrada contínua. O Reino é
muito mais do que conversão. Naturalmente, se
você é salvo absolutamente - quero dizer salvo
inicialmente - você terá que significar
seriedade para isto. Você terá que fazer dessa
salvação um assunto radical, porque haverá tudo
para impedi-lo. Mas o Reino significa algo muito
mais do que meramente entrar nele, muito mais do
que ser convertido. Há muito mais no propósito
de Deus para as nossas vidas do que jamais
imaginamos, e, se é para entrarmos no Reino, a
força tem que nos caracterizar.
Precisamos
desesperadamente demonstrar que falamos a sério
e chegar a um lugar onde digamos: 'Senhor, estou
determinado a tudo aquilo que Tu significas em
Cristo. Estou determinado sobre isto, e não vou
permitir que os preconceitos, suspeições e
críticas de outras pessoas fiquem no caminho;
não vou permitir que nenhum sistema humano me
atrapalhe; irei até o fim contigo em todo o Teu
propósito. Vou usar de força contra tudo que se
colocar no caminho'. O Reino requer força, e nós
precisamos usar de muita força para alcançar
tudo o que Deus quer para nós.
Oh, quão
facilmente muitas vidas ficam pelo caminho,
simplesmente porque não são determinadas o
suficiente! São apanhadas por coisas que limitam
- coisas que podem até ser boas, que podem ter
algo de Deus nelas, mas que não passam de coisas
que limitam, e não representam uma maior
abertura ao propósito de Deus. A única maneira
de entrarmos em tudo aquilo que o Senhor deseja
- não somente naquilo que temos visto, mas em
tudo aquilo que Ele tem planejado - é sermos
determinados, sermos homens que empregam força;
sermos homens que digam: 'Pela graça de Deus,
nada nem ninguém, embora seja bom, irá ficar no
meu caminho; eu vou prosseguir com Deus'. Tenha
esta postura com Deus, e você irá descobrir que
Ele irá sustentá-lo neste terreno.
Nenhum homem, nem
mesmo o próprio Paulo, conheceu tudo o que ele
estava prosseguindo em conhecer. Paulo estava
constantemente recebendo revelações mais plenas
daquilo para o qual ele havia sido chamado. Ele
havia recebido algo muito forte e rico no
início; então, mais tarde, são reveladas a ele
coisas indizíveis (II Coríntios 12:4). Ele
estava crescendo em conhecimento. Mas por quê?
Porque ele era um homem de violência.
Deus nos quer
desse jeito. "Para com o puro te mostras puro, e
para com o perverso te mostras contrário."
(Salmos 18:26). Isto, em princípio, significa
que Deus será para você aquilo que você for para
Ele. Ele irá falar a sério se você também falar
sério. Há uma grande vastidão no Reino da qual
jamais suspeitamos. Pode crer nisso. Há mais
para conhecermos do que qualquer pessoa nesta
terra conhece - muito mais do que os homens mais
santos, os cristãos mais avançados, conhecem do
propósito de Deus.
Paulo assim
exorta. Em sua carta aos Filipenses ele deixa
claro que, mesmo no final de sua vida, ele ainda
não tinha compreendido, ele ainda precisava
conhecer. "Para que possa conhecer..."
(Filipenses 3:10). Há muito mais para se
conhecer. Você crê nisso? Você irá permitir que
sua vida simplesmente fique encaixotada com
certa medida que você conhece, ou com a medida
de outra pessoa? Não - é a medida de Cristo que
é o propósito de Deus. "Até que todos cheguemos
à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de
Deus, a homem perfeito, à medida da estatura
completa de Cristo" (Efésios 4:13).
Nenhum movimento,
nenhuma sociedade, nenhuma organização
evangélica, nenhuma igreja desta terra já chegou
a isto, mas este é o objetivo em vista. Mas Deus
requer, a fim de nos levar para a plenitude, que
sejamos homens de violência, que realmente
falemos a sério, que digamos tudo que aparecer
no caminho - e, oh, as vozes plausíveis, que não
obstante estarem sutilmente influenciadas de
preconceitos! - que digamos: 'Para trás: eu vou
seguir com Deus, não vou permitir que nada fique
no meu caminho'.
"O evangelho do
Reino é pregado". Você pode imaginar aqueles
judaizantes falando ao povo sobre Jesus?
'Cuidado; cuidado para não ser apanhado! Nosso
conselho a vocês é que o evitem - não fiquem
muito próximos dele!' Tudo isto estava
acontecendo. Paulo se deparava com tudo isso o
tempo todo. Ele era perseguido em suas jornadas
por essas mesmas pessoas que, seguindo seus
calcanhares, diziam: 'Cuidado - é perigoso!'
O próprio Senhor
experimentou o mesmo tipo de coisa; e Ele dizia:
"o Reino ... sofre violência." Ele requer
violência; você não irá entrar nele, e
certamente não irá entrar nele alcançando o
pleno crescimento, a menos que você seja como
aqueles que usam de violência contra tudo que se
interpõe no caminho do propósito pleno de Deus
como revelado em Cristo. Você nem mesmo irá
saber que propósito é este, Deus não será capaz
de revelar a você a próxima parte do plano,
exceto que Ele descubra que você é esse tipo de
pessoa - que entra com violência.
Você gosta disto?
Bem, se você for passivo, há tudo para ser
perdido; se falarmos a sério há tudo para ser
ganho. O Senhor nos faça homens e mulheres deste
tipo, para que não sejamos contados entre
aqueles de quem está dito que "têm ouvidos para
ouvir, mas não ouvem" (Ezequiel 12:2).
Capítulo 7 - O
Contraste Entre a Velha e a Nova Dispensação
"Pois, os que
habitam em Jerusalém e as suas autoridades,
porquanto não conheceram a este Jesus,
condenando-o, cumpriram as mesmas palavras dos
profetas que se ouvem ler todos os sábados."
(Atos 13:27).
De certa forma,
este versículo é a chave para todo o livro de
Atos, pois este livro é realmente uma
interpretação e exibição do princípio que está
no âmago da sentença - isto é, que há a Bíblia
com suas sentenças verbais, seus registros das
falas e atividades de Deus através dos homens, e
isto podem ser lidos e relidos durante uma vida
toda, como foi no caso das pessoas aqui
referidas, e, contudo, o real significado pode
ser perdido. Em outras palavras, há na Bíblia
algo mais do que as sentenças verbais.
Você pode ter as
sentenças, a carta, o volume, todo o registro, e
você pode conhecê-lo como tal, como aquelas
autoridades judaicas, e, contudo você pode estar
perdendo o caminho, você pode estar se movendo
num plano completamente diferente daquele que
Deus planejou.
Este livro de
Atos, do início ao fim, mostra que havia algo
mais na mente de Deus quando Ele inspirou homens
de idade para falarem e escreverem do que é
discernível nas próprias palavras que eles
usaram, e que requer a atividade do Espírito de
Deus para que a mensagem seja ouvida e
compreendida, para que ela funcione como as
coisas funcionavam neste livro - em poder, em
efetividade.
Há muito do Velho
Testamento no livro de Atos, e no Novo
Testamento como um todo. Os profetas são
muitíssimos citados, mas veja a diferença entre
o efeito das palavras como usadas no livro de
Atos e o efeito sobre aqueles que meramente
ouviam ou liam os pronunciamentos dos profetas.
O Espírito Santo
já veio; e Ele não está fazendo uma nova Bíblia,
Ele está usando a antiga; porém é um novo livro
com um novo significado e um novo efeito, e você
fica espantado às vezes com a forma com que Ele
usa a Escritura. Você jamais enxergava que ela
significava isto; é algo completamente além do
entendimento anterior, embora você conhecesse
esta Escritura muito bem. Há uma diferença, e
uma diferença crucial.
Assim, aquelas
pessoas em Jerusalém e suas autoridades ouviam
os profetas todos os sábados, porém fracassavam
ao ouvir suas vozes. Eles perdiam algo - a voz
de Deus que vinha através daquelas leituras, o
significado de Deus naquilo que estava sendo
falado, como distinto das meras sentenças. É
possível a uma companhia de pessoas estarem
reunidas e alguém estar falando a palavra do
Senhor, e alguns simplesmente ouvir as palavras
e ir embora, e dizer: 'Ele disse isso e isso',
repetindo aquilo que realmente foi dito em
expressões verbais.
É ao mesmo tempo
possível para outros dizer: 'Eu nunca vi desta
forma antes; eu conhecia aquela passagem da
Escritura, mas nunca vi isto!' Algo, não apenas
de um reconhecimento novo, mas um valor vivo foi
detectado. Esta é a diferença entre as palavras
dos profetas e a voz de Deus através das
palavras dos profetas.
Assim, como
dissemos, este verso no capítulo 13 é, de certa
forma, uma chave para todo este livro. Ela faz
esta distinção, que é muito importante, entre a
carta e o Espírito, entre os pronunciamentos e o
significado Divino nas declarações. Um é morte e
não leva a lugar algum. O outro é vida e vai até
o fim.
Toda Profecia
Aponta Para O Senhor Jesus
Vamos agora dar
uma olhada no livro de Atos. Vamos direto ao
primeiro capítulo com este princípio em mente.
Seria bom lembrarmos, em parênteses, que,
falando em termos gerais, toda a Bíblia se
concentra numa afirmação abrangente sobre esta
mesma questão. Em Apocalipse 19:10, é dito que
"o testemunho de Jesus é o espírito da
profecia". O que isto significa? Significa
simplesmente o seguinte - que todo o caminho
através da Bíblia, do início em diante, tem
havido um elemento preditivo neste sentido, um
elemento de implicação, algo implícito por trás
das palavras ditas naquele tempo.
Em tudo isso tem
havido um indicador que aponta para frente. Pode
ser um incidente histórico, algo muito local e
imediato em si mesmo quanto ao tempo, lugar e
pessoas envolvidas, mas em nenhuma parte da
Bíblia apenas o local e o presente está em
vista. Há algo mais - há uma implicação, há um
indicador futuro; e, se você pudesse enxergar
para onde todas essas coisas apontam,
descobriria que é Jesus. Jesus está implícito em
tudo, em todo lugar.
Quando falamos de
profecia, não vamos limitar nossos pensamentos a
certos tempos e certos homens do Velho
Testamento. Verdade, temos ficado muito
freqüentemente ocupados com os profetas cujos
livros estão incluídos na seção 'profética' do
Velho Testamento, mas precisamos expandir para
além disso. Moisés foi chamado de profeta
(Deuteronômio 18:15), e Samuel foi um profeta (1
Samuel 2:30), e até mesmo Davi é chamado de
profeta no Novo Testamento (Atos 2:30).
O espírito da
profecia inclui muito mais do que certa classe
de homens que designamos de profetas. O Espírito
da profecia vai muito lá atrás, tão atrás quanto
Enoque; não, vai muito mais além do que isso -
chega a Gênesis 3:15, concernente à semente da
mulher: este é o espírito da profecia. Assim, se
lembrarmos que aquela profecia é alguma coisa de
longo alcance e que engloba todas as coisas, e
nos apoiarmos no Senhor Jesus, creio que seremos
capazes de enxergar algo do significado Divino
como sendo mais do que uma expressão verbal.
Com este
parêntesis, vamos ao primeiro capítulo de Atos.
O Significado
Oculto do Espírito Nas Escrituras
'Certa vez, os
apóstolos estavam reunidos com Jesus. Então lhe
perguntaram: - É agora que o Senhor vai devolver
o Reino para o povo de Israel? ' (Atos 1:6).
Mostramos em um
capítulo anterior quanto os profetas estavam
ocupados com este assunto do Reino. Esses
discípulos do Senhor Jesus tiveram todas as suas
idéias sobre o Reino a partir dos profetas, e
assim, a pergunta deles está baseada num certo
tipo de compreensão mental do ensinamento dos
profetas. Eles tinham deduzido certas coisas a
partir daquilo que os profetas haviam dito, e
trouxeram esta questão até mesmo para esta
última hora - 'É agora que o Senhor vai devolver
o Reino para o povo de Israel? Jesus respondeu:
- Não cabe a vocês saber a ocasião ou o dia que
o Pai marcou com a sua própria autoridade.
Porém, quando o Espírito Santo descer sobre
vocês, vocês receberão poder e serão minhas
testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e
Samaria e até nos lugares mais distantes da
terra. Depois de ter dito isso, Jesus foi levado
para o céu diante deles. Então uma nuvem o
cobriu, e eles não puderam vê-lo mais.' (Atos
1:6-9).
Tudo começa aí no
caminho do entendimento espiritual, porque esta
declaração do Senhor Jesus indicava que uma nova
dispensação estava sendo inaugurada, a qual era
diferente daquela que os discípulos tinham
esperado a partir dos ensinamentos dos profetas.
Esta era a dispensação do Espírito Santo, e eles
iriam descobrir que o Espírito Santo tinha
significações sobre as profecias do Velho
Testamento que eles jamais imaginaram que
estivessem lá. Enquanto o Espírito Santo não se
encarregou da Palavra de Deus eles não
compreenderam os profetas absolutamente.
E, então, iremos
ver que quando Ele realmente tomou as Escrituras
e começou aplicá-las, abrindo-as, dando o
significado Divino, coisas começaram a acontecer
as quais não apenas eram inesperadas, mas eram
completamente contrárias e opostas à mentalidade
limitada dos discípulos, e que requeriam uma
completa aniquilação da mentalidade deles, o
abandono de suas posições estabelecidas. É
tremendamente desafiador quando o Espírito Santo
efetiva a Palavra de Deus e assume o controle
sobre nós. Haverá mudanças revolucionárias em
toda nossa perspectiva e procedimento, e este
livro de Atos está simplesmente repleto disso.
A Vinda Do
Espírito - Uma Nova Ordem Introduzida
É a dispensação,
ou mordomia, do Espírito Santo. As palavras
'dispensação' e 'mordomia' significam uma
economia, uma ordem; como as coisas são feitas
neste regime. Descobrimos que, nesta
dispensação, quando o Espírito Santo veio, Ele
começou a mudar as coisas, porque Ele estava no
comando. Você pode se tornar um membro de uma
equipe de negócios, e quando você chega,
descobre que as coisas foram feitas de tal e tal
maneira. Os tempos são estabelecidos desta
maneira; é assim que as coisas são feitas neste
regime.
E, então, chega um
novo Diretor Executivo, e olha para esta ordem
atual e registra de imediato que se trata de um
sistema imperfeito, que não está produzindo os
resultados satisfatórios para os quais o negócio
existe. Ele começa calmamente, porém muito
firmemente, a tomar conta da situação, e as
coisas começam a mudar, e as pessoas mais
antigas que têm estado naquele regime por anos
não gostam dessas mudanças, e começam a
retrucar. Elas não aceitam; revoltam-se e
começam a lutar contra esta nova ordem.
Alguns, que têm o
Espírito mais aberto, que não estão tão fixados,
começam a entender a sua idéia, sua visão, e,
embora se deparem com algumas dificuldades de
vez em quando, e se voltam contra as implicações
desta tremenda mudança - como Pedro, sobre a
visita a Cornélio (Atos 10) - e é preciso um
pouco de luta para vencer o antigo preconceito,
contudo, eles têm suas batalhas, vencem suas
dificuldades, e se adéquam, e assim a grande
mudança acontece com resultados maravilhosos.
Coisas começam a acontecer; o propósito original
do negócio está agora começando, de forma
maravilhosa, para ser realizado e cumprido.
Isto é exatamente
o que aconteceu quando o Espírito Santo veio no
dia de Pentecoste. Havia uma ordem fixa e
estabelecida, mas ela não estava alcançando o
propósito de Deus. Não estava, como dizemos,
'entregando as mercadorias' (cumprindo as
promessas). O Espírito Santo veio, com todo o
pleno conhecimento da mente de Deus; Ele entrou
e começou a Sua obra de efetivar o verdadeiro
conceito Divino; Ele assumiu o controle da
situação.
Assim Ele dividiu
as pessoas. Algumas - aquelas que habitavam em
Jerusalém, e seus governantes - não aceitaram a
nova ordem. Muito bem - eles perderam a coisa
toda. Mas outras pessoas entraram na comunhão do
Espírito Santo, "uniram-se ao Senhor... num só
espírito" (1 Coríntios 6:17), com resultados
maravilhosos.
Um Contraste Vital
- A Carta e o Espírito da Escritura
O ponto é:
primeiramente, é uma nova dispensação; e depois,
o Espírito Santo está no comando. O seu estar no
comando precisa ser reconhecido, com tudo o que
isto significa. E, estando no comando, por meio
de suas atividades Ele revela e envolve o
próprio objetivo de Deus desde a eternidade, e
busca trazê-lo para esta dispensação. Quanto à
divisão - bem, foi uma divisão histórica então,
mas é uma divisão que espiritualmente tem se
sucedido ao longo de toda a dispensação. É uma
divisão entre homens da carta e homens do
Espírito.
Aquele movimento,
aquela tendência, em direção a uma posição fixa
está constantemente recorrendo, trazendo aquilo
que é de Deus em aprisionamento, dentro de
limitações organizadas que frustram todo o
conselho de Deus. Tenho um artigo diante de mim
- desejaria citá-lo todo, mas não posso - mas há
algumas coisas nele que expressam o que está em
meu coração melhor do que qualquer coisa que eu
mesmo possa dizer. Foi escrito por um membro do
Parlamento Britânico.
'Há algumas
classificações nas quais homens e mulheres estão
divididos - tanto as classes altas, medias e
baixas; ricos e pobres; religiosos, céticos e
ateístas; ... e assim por diante. Mas, como
penso eu, a única classificação que realmente
importa é aquela que divide os homens entre os
servos do Espírito e os Prisioneiros da
Organização. Esta classificação, que vai contra
todas as outras classificações, é de fato a
classificação fundamental. A idéia, a
inspiração, surge no mundo interno, no mundo do
Espírito ... a idéia tendo se corporificada a si
mesma na organização, esta, então, começa a
matar gradualmente a idéia que lhe deu origem.
No campo da religião um profeta, um homem
inspirado, irá ter uma visão da verdade. Ele
expressa aquela visão da melhor forma possível
em palavras. Sobre o que os discípulos
entenderam da mensagem dos profetas, uma
organização, uma igreja, irá ser construída.
Esta mensagem compreendida pela metade irá se
cristalizar num credo. Depois de muito tempo o
princípio em relação à igreja irá ser usado para
sustentá-la como uma organização. Para este fim
qualquer desvio do credo deve ser contestado e,
se necessário, suprimido como heresia. Em alguns
poucos anos aquilo que foi concebido como um
veículo de uma verdade nova e mais elevada se
torna uma prisão para as almas dos homens. E
homens estão matando uns aos outros por amor a
Deus'.
'Uma conclusão a
ser tirada, não seria totalmente jocoso sugerir,
deveria ser: a primeira regra para qualquer
organização deveria ser uma que providenciasse a
sua dissolução dentro de um período limitado de
tempo ... Quando somos membros de uma
organização, com tal, nossa atitude em relação a
ela deveria ser de imparcialidade. Precisamos
estar acima dela mesmo enquanto estivermos
dentro dela. Deveríamos ser vistos como estando
em quase perpétua rebelião dentro dela. Acima de
tudo deveríamos considerar toda a lealdade à
organização como algo provisório e experimental.
Devemos ser servos do Espírito, não prisioneiros
da organização. Precisamos manter contato com as
fontes da vida, não nos perder nos veículos
temporários'.
'Este mundo é uma
ponte. Iremos passar por ela, mas não iremos
construir nenhuma casa sobre ela'.
Não é isto
exatamente o que você tem em Atos e em todo o
resto - a cristalização da nossa compreensão da
verdade, nossa interpretação, a percepção
parcial, a afirmação na carta, algo fixo,
corporificando aquilo que era do Espírito de
Deus no início, porém não permitindo que a coisa
vá para além daquelas fronteiras agora? Qualquer
coisa mais, qualquer coisa diferente daquilo, é
chamado de heresia; esta é a última palavra. Ela
pode estar corporificada numa organização,
chamada de igreja, uma seita, uma denominação, e
se você for para além daquilo, bem, falam que
você está completamente errado. A grande
diferença entre os homens da organização e os
homens do Espírito é aquilo que você tem aqui no
livro de Atos.
O Senhorio do
Espírito é Essencial ao Progresso
O ponto é o
seguinte: a plenitude do propósito de Deus
requer que o Espírito Santo esteja continuamente
no comando, que seja permitido que Ele ocupe
completamente o lugar de governo, e que nós não
coloquemos nada em Seu lugar - nada, seja o que
for; nem 'igreja', nem uma ordem fixa - para que
não venhamos a dizer: 'Isto não é o que nós
ensinamos, isto não é o que fomos levados a
crer, isto não é o que a nossa igreja crê e
ensina'.
Fazer isto é
colocar algo no caminho do Espírito Santo. O
Espírito Santo precisa estar no comando, e
precisa ser livre. Foi nesses mesmos pontos que
os próprios apóstolos tiveram suas primeiras
batalhas e, então, seus alargamentos. Iremos ver
isso na medida em que prosseguirmos. O propósito
Divino pleno irá tomar forma quando o Espírito
Santo assumir o controle sobre nós.
E, então, há algo
infinitamente maior do que tempos e estações.
Seja cuidadoso acerca dos tempos e estações;
eles têm uma perniciosa maneira de nos levar
para os limites. Muitas pessoas estão se
apoiando em tempos e estações. Elas têm feito
isso durante todo o caminho através dos séculos.
Vamos observar, tomar nota, porém tomar cuidado.
Coisas têm
acontecido, por exemplo, na Palestina. Foi nos
dito que os tempos dos gentios terminaram quando
o General Allenby entrou em Jerusalém; que um
novo César tinha chegado para reconstituir o
Império Romano quando Mussolini estabeleceu seu
grande império em Roma! Esse tipo de coisa tem
ocorrido pelos séculos, e tudo está baseado em
tempos e estações.
O ponto é este -
não que não haja tempos e estações, não que não
haja movimentos no plano de Deus que tenham suas
características peculiares e que podem ser
observadas, mas que há algo infinitamente maior
do que tudo isso. É o aspecto celestial e não
terreno que está em vista no livro de Atos. Este
é o porquê de eu permanecer neste ponto - "E
dizendo Ele essas coisas, foi elevado às
alturas". A partir daquele momento a coisa se
tornou uma questão celestial.
Mais tarde o
apóstolo Paulo irá usar a seguinte frase: "O
Espírito perscruta todas as coisas, até as
profundezas de Deus" (I Coríntios 2:10). "O
Espírito perscruta... as profundezas de Deus":
isto é algo transcendentemente maior do que
tempos e estações; e, se o Espírito Santo
realmente está no comando, não há mistério que
Deus tenha para revelar.
"As coisas que os
olhos não viram, e ouvidos não ouviram, e que
não desceu ao coração do homem". Está lá, nesse
vasto campo, ao qual o Espírito Santo nos
levaria, e precisamos tomar muito cuidado para
não restringirmos o Espírito Santo com as
instituições constituídas por homens. Precisamos
nos manter abertos ao Espírito, e é aí que
nossas surpresas começam - sim, e nossa
disciplina muito real.
O Mais Elevado
Significado Espiritual e Celestial do Profeta
Aqueles referidos
em Atos 13:27, ou aqueles a quem eles são
típicos, tinham um tipo de compreensão das
Escrituras. Não havia dúvida absolutamente sobre
a devoção deles à Palavra de Deus. Eram
fundamentalistas do tipo rabínico, em relação à
inspiração das Escrituras. Eles defendiam as
Escrituras; pontilhavam todos os 'I's e cortavam
todos os 'T's. Muitos entre eles eram minuciosos
em relação aos menores detalhes no campo da
observação exterior, até mesmo ao ponto de se
irritarem com coisas insignificantes.
Porque a lei
ordenava que um décimo de todo fruto da terra
era do Senhor, eles dizimavam meticulosamente
até suas moedas e ervas - mas ao mesmo tempo
desprezavam as coisas que eram interiores e que
interessavam muito ao Senhor, tais como justiça,
misericórdia e fé (Mateus 23:23). Este era o
entendimento deles, sua mentalidade, sua
posição. Eles viam tudo no horizontal. Era uma
questão de técnica exata da Escritura.
Qual foi o
resultado? Bem, eles estavam perpetuando um
sistema terreno com a Palavra de Deus. A
'igreja' deles era a 'igreja de Israel', a
'igreja Israelita' - e você pode colocar no
lugar de Israel qualquer outro título
denominacional que queira. Aquela igreja tinha
suas formas peculiares, suas vestimentas, seus
rituais, sua liturgia, e tudo de acordo com as
Escrituras. Tinha sua leitura dos profetas todos
os sábados. Tinha o sistema todo; porém
pertencia a esta terra e estava tão morta quanta
alguma coisa podia estar.
Era puramente
formal; não estava alcançando o propósito de
Deus absolutamente. Escriturístico que era num
certo sentido, estava fracassando em cumprir os
propósitos eternos de Deus. Quando o Espírito
Santo veio, Ele não ignorou os profetas, o
Antigo Testamento. Ele os tomou e mostrou que
havia algo mais - algo mais do que toda aquela
técnica terrena, verdadeira técnica da Palavra
de Deus, com todos os seus acompanhamentos - sem
o qual tudo aquilo outro teria que ser colocado
de lado.
E será colocado de
lado, pois falha em alcançar o propósito de
Deus; e esta é a questão do livro de Atos - a
grande transição. Há um significado Divino por
trás de tudo aquilo, e quando você tem o
significado Divino, você pode dispensar o outro
- ele pode ir embora. Se você tem a coisa em sua
esfera e significado espiritual, na forma viva e
celestial, não interessa mais o outro; aquilo
simplesmente se desprende e cai.
Isto é o que
aconteceu no livro de Atos. Você dificilmente
consegue ver o ponto em que isso acontece, mas
tal ponto existe. Os apóstolos freqüentavam o
templo e as sinagogas por um período, e, então,
cessaram de fazer isso. Eles continuaram por um
tempo, mas, então, foi como se eles estivessem
quieta e firmemente se movendo para fora, e,
finalmente, eles estavam fora.
Algo tinha
acontecido. Tinham entrado na coisa real e
aquilo que era inicial tinha se ido. O primeiro
levou ao segundo, porém o primeiro tinha
cumprido o seu propósito. Eles entraram no
benefício e significado espiritual de tudo;
agora não era mais uma questão de técnica.
Há muitos que irão
dizer sobre as ordens fixas e rituais:
'Naturalmente, nós não nos referimos a isto como
o tudo; é apenas algo simbólico. Lembramos que
isto implica e aponta para algo mais, e é neste
algo mais que estamos pensando'.
Sim, mas não é
verdade que, quando o Espírito Santo vem, e Ele
veio então, e assume o controle, e você caminha
com Ele, mais e mais as ênfases nos aspectos
externos, terrenos e temporais do cristianismo
vão murchando, e você fica incrivelmente ocupado
com a glória da realidade? O Jesus da história
dá lugar total ao Jesus do Espírito, do céu.
Isto é exatamente o que está significado em 'as
vozes dos profetas'.
Assim, no dia de
Pentecostes, você começou com Joel. Todos em
Jerusalém estavam dizendo: "O que significa
isto?" (Atos 2:12). Estavam todos confusos, sem
qualquer compreensão ou percepção; e Pedro, com
os onze, ficou em pé e disse: "Isto é o que foi
dito pelo profeta Joel" (vs. 16). "Isto é
que..." Que vento impetuoso aquilo foi para a
tradição, que sublevação aquilo criou em Israel,
isto - com suas implicações de Jesus de Nazaré!
E o apóstolo continuou, citando livremente a
partir do Velho Testamento. Ele citou Davi.
Aquele seu sermão no dia de Pentecoste estava
cheio de citações do Velho Testamento. Mas quem
alguma vez tinha enxergado aquilo - quem
conhecia que este era o significado daquilo!
Você entende o
ponto? É algo que precisa vir a nós com tremenda
força, porque mesmo o cristianismo do Novo
Testamento pode ser reduzido novamente a um
sistema terreno de técnica exata. Você pode
escrever seus manuais de procedimentos
neotestamentários. Você pode tê-lo exatamente
conforme a carta - porém é tudo sobre o plano
horizontal, torna-se legalista, amarra o
Espírito Santo.
Embora a intenção
possa ter sido ficar mais exatamente em
conformidade com a Escritura, para que o Senhor
possa ter um caminho mais pleno, porém nem
sempre o resultado é esse. A coisa toda precisa
ser batizada no Espírito Santo e ser elevada do
nível terreno, tornando algo completamente
celestial.
Nossa
Responsabilidade é nos Rendermos ao Espírito
Penso que agora
podemos corretamente dizer que, quando os
discípulos perguntaram: "Senhor, é este o tempo
em que irás restaurar o Reino a Israel?", eles
ficaram seria e genuinamente excitados. As
Escrituras devem ser cumpridas; o que foi
escrito deve acontecer. Penso que os discípulos
ficaram bastante ocupados com isto,
sobrecarregados e perplexos; queriam saber como
as coisas iriam acontecer.
O Senhor disse, em
efeito: 'Não se preocupem com isto. O Espírito
Santo está vindo e Ele irá se encarregar de tudo
- tempos, e estações, e tudo mais. Ele está
vindo com o pleno propósito de Deus em Suas
mãos, e Ele irá efetuá-lo. Vocês podem ficar
descansados - está tudo bem'. Aqueles que têm
esta idéia e concepção terrena de um sistema
ficam terrivelmente preocupados e
sobrecarregados para fazer que tudo aconteça -
sobrecarregados com a tremenda responsabilidade
desta 'Igreja do Novo Testamento', de ter as
coisas exatamente como as Escrituras dizem!
Se o Espírito
Santo estivesse no comando, não haveria o fardo.
Ele está agindo. Tudo o que nós somos chamados
para fazer é ficar nas mãos do Espírito Santo,
ficar completamente livre de todos os arreios,
livres para o Espírito de Deus. O negócio irá
dar tudo certo.
E mesmo que o
Espírito Santo se levante contra algumas pedras
em nós e, que por algum tempo haja algum
conflito, Ele é mais do que imparcial aquela
situação. Ele é mais do que imparcial a Pedro e
o seu nunca ter comido coisa impura. Quando o
Senhor deu a Pedro aquela visão do lençol
descendo com todo tipo de bestas quadrúpedes e
animais que rastejavam e disse: "Levanta, Pedro;
mata e come". Pedro, em efeito, citou as
Escrituras ao Senhor; ele citou Levítico 11, com
seus mandamentos sobre animais impuros que não
deveriam ser comidos. 'Senhor, aqui está a
Escritura para a minha posição; minha posição
está completamente baseada na Palavra de Deus!'
O que você irá fazer sobre isso?
Agora, ouça - eu
não estou dizendo nem mesmo implicando que o
Espírito Santo irá alguma vez apelar para que
façamos algo contrário às Escrituras. Ele jamais
irá fazer isso. Mas Ele muito freqüentemente irá
nos mostrar que as Escrituras significam aquilo
que nós nunca vimos que elas significassem.
Levítico 11 tinha um significado que Pedro não
tinha visto. Ele tinha tomado a carta e o
significado literal daquelas coisas. Ele nunca
viu o significado Divino e espiritual por trás
daquilo. Cornélio não tinha recebido o Espírito
Santo, e, por isso, um anjo falou com ele.
Pedro tinha
recebido o Espírito Santo no dia de Pentecoste,
e foi o Espírito quem estava falando com Ele. O
Espírito Santo tinha este assunto em Sua mão, e
estava lidando com as dificuldades em Pedro,
mesmo em seu fundamentalismo, para elevá-lo de
um terreno meramente terreno e temporal para um
terreno celestial. Pedro estava vivendo debaixo
de um céu aberto; e há mudanças tremendas quando
você chega nesta posição. Não acontece tudo de
uma vez.
O Espírito Santo
'Sobre' e 'Dentro'
Apenas mais uma
palavra para o momento. Você observa aqui que
houve uma dupla operação do Espírito Santo. No
capítulo 2, o Espírito brilhou 'sobre' eles.
Essas línguas repartidas como de fogo pousaram
sobre eles; e então é dito: "E foram cheios com
o Espírito Santo, e começaram a falar em outras
línguas, conforme o Espírito lhes concedia que
falassem". 'Sobre' e 'dentro'. Não quero ser
técnico, contradizendo o que temos falado sobre
muita técnica, mas há um significado em 'sobre'
e 'dentro'.
O vir 'sobre' é a
soberania do Espírito Santo em relação ao
propósito eterno de Deus. Isto é, o Espírito
Santo chegou como o curador e administrador dos
conselhos eternos de Deus, do propósito de Deus
desde a eternidade, e, vindo desta maneira, Ele
impõe (creio que esta não é a palavra errada a
ser usada) o propósito de Deus sobre o vaso. Ele
leva o vaso para dentro do propósito de uma
forma soberana. É como Ele circulasse ao redor e
tomasse conta do vaso de forma exterior e
dissesse: 'Este é o vaso do eterno propósito de
Deus'. Ele assume o controle sobre o vaso, vem
'sobre' o vaso para esta finalidade.
Mas, então, Ele
também 'entrou', e eles ficaram cheios, e isto
tinha um significado a mais. Significa o
seguinte, que a vida interior do vaso precisa
corresponder ao propósito exterior. Isto é
tremendo. Você sabe, a velha dispensação não era
desta forma, e este é o problema com o qual os
profetas estavam lidando o tempo todo. A forma
exterior estava lá.
Israel tinha o seu
templo, estavam oferecendo os seus sacrifícios,
estavam atravessando por todo o ritual, porém a
sua vida interior estava longe de corresponder
aquilo. Deus tinha que dizer, através dos
profetas: 'Afastai os sacrifícios - Eu não os
quero!' (cf. Isaías 1:10-14). O Senhor Jesus
assumiu tudo isso. "Sacrifício e oferta não
quiseste, mas um corpo me preparaste; nas
ofertas queimadas e sacrifícios não tivestes
prazer: então venho (no rolo do livro está
escrito sobre Mim) para fazer a Tua vontade, ó
Deus" (Hebreus 10:5-7).
Formalismo nunca
faz a vontade de Deus; é meramente um sistema
externo, embora muito dele corresponda à técnica
da carta, nunca satisfaz a vontade de Deus; e o
Espírito Santo não estava aceitando nada disso.
Ele não veio em soberania para assumir um novo
povo numa nova dispensação, dando a eles formas
e ordenanças, obrigando-os a fazer coisas de tal
e tal maneira, meramente de forma exterior.
Ele irá ter a vida
interior da Igreja correspondendo ao propósito.
Você descobre em breve que Ele muito severamente
vem sobre qualquer coisa que não corresponda.
Ananias e Safira irão conhecer que você não pode
continuar de forma exterior, fingindo que está
tudo bem. O Espírito Santo viu uma contradição
no interior, e não permite que aquilo continue.
Muitos querem o
vir 'sobre' porque desejam sentir o poder,
sentir a si mesmos possuídos, manipulados e
movidos. Tem havido muito desse tipo de coisa,
que não tem se conduzido sem que haja uma
correspondência interior. Mas o propósito do
Senhor jamais pode ser alcançado plenamente
enquanto houver qualquer falta de verdadeira
consistência entre o propósito de Deus e a vida
da pessoa chamada para esse propósito.
"Rogo-vos... que andeis de modo digno da vocação
a que fostes chamados" (Efésios 4:1). Oh, eu
realmente peço que você tenha envolvimentos
contínuos com Deus nessa questão da habitação do
Espírito - não apenas para propósitos de
serviço, ou poder, mas para propósito de vida.
Uma das tragédias
de muitos cristãos e muitos servos de Deus é
este, que eles podem acreditar e dar expressão a
coisas que são inegavelmente falsas, e propagar
essas coisas, fazendo mal a outros cristãos ao
propagá-las, e, contudo, o Espírito Santo parece
nunca poder torná-los conscientes de que não
estão falando a verdade. Não me refiro a ensino
da Bíblia, mas em relação a outros servos de
Deus, e outra obra que Deus esteja fazendo.
O fato solene de
que há tais preconceitos, suspeitas, críticas,
distorções, e assim por diante, deveria nos
levar ao Senhor com sincero apelo - 'Oh, Senhor,
de nada adianta o meu envolvimento em Tua obra,
fazendo uma porção de coisas para Ti, ser
proeminente entre os homens, talvez, ser bem
conhecido por meu serviço cristão, se, afinal de
contas, após tudo, o Espírito Santo não puder me
corrigir lá dentro, e me dar uma disciplina
quando eu diga algo não verdadeiro. Livra-me de
falar alguma coisa que não seja verdadeiro, ou
de que minha vida interior seja uma
contradição.'
O Espírito em
nosso interior é para nos ajustar ao propósito
de Deus. Se nós habitualmente, constantemente,
caímos em caminhos que não estejam de acordo com
o Espírito, de modo que nos tornamos conhecidos
por aquela coisa desagradável, seria melhor
pedirmos ao Espírito Santo para realizar uma
obra mais profunda em nós. De nada adianta
termos coisas profundas de Deus se todos nos
conhecem como a pessoa mais difícil de se
conviver com ela, sempre tornando a vida
desagradável para os outros.
Isto não irá
servir; é uma contradição à habitação do
Espírito. Ele não quer que tenhamos o sistema
das coisas meramente de forma exterior.
Precisamos ter a vida interior correspondente.
Assim vemos que Ele veio 'sobre' para possuir
visando o propósito de Deus, e Ele veio 'dentro'
para fazer que tudo na vida interior corresponda
a esse propósito.
Capítulo 8 – O
Clamor dos Profetas por Santidade
"Pois, os que
habitam em Jerusalém e as suas autoridades,
porquanto não conheceram a este Jesus,
condenando-o, cumpriram as mesmas palavras dos
profetas que se ouvem lerem todos os sábados."
(Atos 13:27).
Tomávamos nota, no
capítulo anterior, de um contraste que é marcado
entre a velha dispensação e a nova: de quanto há
para ser perdido se houver uma continuação da
ordem fixa da velha dispensação, e quanto há
para ser ganho se houver um mover-se para dentro
da natureza essencial da nova dispensação. Isso
está focalizado para nós na passagem que temos
lido.
Sem repetir muito
de nossa meditação anterior, apenas posso dizer
que está perfeitamente claro no Novo Testamento,
a partir do livro de Atos em diante, que as
pessoas na nova dispensação, a dispensação do
Espírito Santo, eram requeridas que se
mantivessem completamente livres de toda posição
estabelecida, de tudo que tivesse posição
conclusiva, excetuando os fatos fundamentais da
fé. Em relação à mentalidade deles – sim, aquela
mentalidade religiosa, tradicional, aquela
mentalidade que tinha sido formada na própria
origem de Israel, por tudo que eles tinham
recebido por meio de treinamento e ensino desde
sua infância em diante – era para eles estarem
sempre abertos ao Senhor, até mesmo para algo
que fosse revolucionário.
Eles tinham sido
chamados para entrar num lugar onde aquelas
coisas não mais os prendessem, onde o Senhor
ficasse absolutamente livre para fazer algo
revolucionário dentro deles e os fizesse rever
toda aquela antiga forma de pensar – à luz, não
de algo contraditório, mas do significado mais
pleno de Deus em tudo o que eles conheciam da
Palavra de Deus; onde eles reconhecessem que o
Senhor tinha 'mais luz e verdade para trazer a
eles a partir de Sua Palavra' – de fato, de modo
a tornar tudo aquilo que eles já tinham
conhecido como nada.
Você descobre,
portanto, que esta necessidade precipitou crises
no curso espiritual deles, e algumas vezes
trazia-os para uma estagnação, onde um conflito
tremendo fosse estabelecido; mas o Espírito
Santo estava completamente no comando a fim de
vencer, e para ser capaz de conduzi-los para
mais longe. Isto aconteceu com Pedro, no eirado
em Jope. Aconteceu com Saulo de Tarsus. Não há
dúvida de que, agindo como ele agiu, Saulo
estava se baseando nas Escrituras do Velho
Testamento.
Ele achava que
tinha todo o apoio da Palavra de Deus para
aquilo que estava fazendo. Quando ele se
encontrou com Jesus de Nazaré no caminho de
Damasco, embora ele se rendesse ali,
reconhecendo a Jesus como seu Senhor, o seu
grande problema foi: 'Como irei reconciliar o
meu Antigo Testamento com isto?' Ele foi para a
Arábia, e provavelmente por dois anos esteve
ocupado com a reconciliação do Velho Testamento
com o fato de Jesus ser o Cristo e Senhor. E ele
se saiu bem, retornou de seu deserto, e,
apanhado na irresistível corrente do Espírito,
tornou-se um poderoso servo de Deus.
Desejamos ir um
pouco mais adiante agora. Estamos dizendo que
aqui, nesta nova dispensação como representada
no livro de Atos, os profetas estão sendo
re-interpretados, ou seu significado interior
está sendo trazido à luz, com tudo o que esse
significado interior implica. Sabemos que a
inauguração da dispensação no dia de Pentecoste
foi acompanhada por uma citação dos profetas.
Começou com Joel - "Isto é o que foi falado pelo
profeta Joel” (Atos 2:16) – e prosseguiu com
outras citações do Velho Testamento que
apontavam para este tempo. Agora, seja por
citação direta (como claramente vista no caso da
profecia de Joel) ou por uma citação
indiscutível, os profetas são aqui trazidos em
muitos sentidos.
Somente Cristo é a
Medida Daquilo Que é de Deus
Você passa do
capítulo 2 do livro de Atos, e prossegue até o
capítulo 5 – a terrível e sombria história de
Ananias e Safira. Onde os profetas entram aí?
No primeiro
capítulo do livro de Ezequiel, você tem aquilo
que foi introduzido espiritualmente no dia de
Pentecoste. Lá você tem aquela maravilhosa,
embora difícil, visão das criaturas viventes, as
rodas cheias de olhos, o Espírito nas rodas, o
Espírito de vida indo, sempre indo: o Espírito,
vida, olhos, e o irresistível movimento que
procede do céu em relação ao Homem sobre o
trono. 'Atos' começa aí.
O Senhor Jesus foi
recebido em cima, fora deste mundo; e em relação
aquele Homem no trono há este ir aqui, tocando a
terra e, contudo desligada dela; tocando, mas
não fixa aqui; uma coisa celestial. E isto se
move com tremenda retidão e deliberação. Isto é
como o segundo capítulo de 'Atos'. O Homem no
trono; as rodas, o eterno conselho de Deus, os
movimentos de Deus desde a eternidade; as
criaturas viventes, a Igreja; a vida interior, o
Espírito de vida lá, com Sua visão perfeita -
"cheias de olhos". Não é isso o que está aqui?
Sim; mas isso é o
começo de 'Ezequiel'. No outro final de sua
profecia você tem o seguinte: (distante, em cima
da terra) uma visão, uma pintura, de um templo,
uma casa espiritual, muito bem retratada e
definida, com todo detalhe marcado. O homem que
leva o profeta ao redor segue medindo, medindo,
dando a medida de cada detalhe. Essa casa é toda
do Espírito Santo. É toda uma medida de Cristo,
em cada parte.
A coisa não está
na terra; é uma medida celestial. Antes que você
tenha o rio fluindo a partir do santuário,
fluindo em grande volume, em profundidade e em
largura, fazendo com que tudo em sua margem
viva, e tragando a morte pela vitória na medida
em que avança, você precisa ter a casa
completamente em conformidade com Deus; e,
então, a declaração abrangente sobre isso é:
"todo o seu contorno em redor será santíssimo"
(Ezequiel 43:12).
Tudo pertence a
Deus; tudo é de Cristo, Seu Ressurreto e
exaltado Filho. É Dele, através da Igreja
constituída sobre um modelo celestial, que a
vida flui; e ela flui aqui em 'Atos'.
Ministério
Santidade: A lei
daquilo que é de Deus
Agora Ananias e
sua esposa violam a própria lei governante da
casa – santidade; e o que acontece? Foi aí que
Israel fracassou em ouvir a voz dos profetas.
Dissemos, em nossa meditação anterior, que eles
realizavam as formalidades externas do templo,
os serviços diários, o ritual e a liturgia,
adotaram as formas e as vestimentas, mas a vida
interior não correspondia. Era o clamor dos
profetas que um sistema estava sendo mantido e
preservado sem qualquer relação com a vida
interior daquelas pessoas.
Os profetas estão
por toda parte clamando por santidade. O
problema residia aí. E o que esta questão de
santidade realmente significa? Quando você chega
ao coração disso, o que é? "Por que Satanás
encheu o seu coração para mentir ao Espírito
Santo?" (Atos 5:3). Isto é falta de santidade. O
ato de Ananias e Safira implica em algo mais
profundo – aquela mente sinistra por trás;
Satanás descobrindo uma oportunidade de entrar
nesse recinto santo, este terreno celestial,
corrompendo-o e o poluindo, estabelecendo a sua
vida.
"Ele é mentiroso e
pai da mentira", disse o Senhor (João 8:44). Uma
mentira na presença do Espírito Santo! A vida do
Espírito e o Espírito da vida não avançam
simplesmente ignorando as condições. Ele exige
que primeiramente tudo esteja constituído no
modelo Celestial; isto quer dizer, constituído
no terreno de Cristo, Seu Filho; que isto
realmente seja uma expressão e representação do
Senhor Jesus pelo Espírito Santo.
O Espírito
Espontaneamente Reproduz a Natureza de Cristo
Agora, não vou
voltar atrás naquilo que disse anteriormente.
Não estou dizendo que devemos tomar a Bíblia em
suas letras e frases e fazer um molde, um modelo
escriturístico, o qual achamos ser a nova ordem
neotestamentária. Esta definitivamente não é a
questão. O desenvolvimento não aconteceu no
início desta maneira. Cada nova reprodução da
Igreja, em qualquer parte do Império Romano, e
além, nos dias dos apóstolos, aconteceu não em
tomando de lá um modelo fixo e tentando colocar
as pessoas dentro desse modelo, reproduzindo a
forma das coisas que existiam em outro lugar.
Começou com vida –
vida do céu – "o Espírito Santo enviado do céu"
(1 Pedro 1:12). E onde quer que os crentes
fossem duas coisas eram imperativas:
primeiramente, o batismo, como um testemunho do
fato de que a velha ordem tinha acabado, e que
tudo agora tinha que ter um novo começo, como
qualquer pessoa que morreu e foi sepultada
precisa ter; e segundo, o dom do Espírito Santo,
o Espírito da vida, vindo para fazer morada
dentro da pessoa.
Quando o Espírito
Santo vem dentro e tem o Seu caminho, Ele alivia
você de toda responsabilidade da nova ordem
neotestamentária; você não tem mais fardo e
responsabilidade sobre aquilo, como não tem uma
árvore em produzir folhas e frutos. Nenhuma
árvore consome horas e horas se preocupando e se
angustiando, 'Como posso produzir algumas
folhas? Como posso produzir meus frutos?' Ela
apenas vive – ela se rende ao processo de vida;
e o resto acontece. Esta era a espontaneidade
gloriosa das igrejas do Novo Testamento – elas
simplesmente surgiam.
E o Senhor
precisava tê-las desta forma – constituída do
céu pelo Espírito Santo; não o homem trazendo a
sua forma de igreja e de governo, seu modelo,
sua concepção das coisas, e dizendo: 'Esta é a
nossa concepção da igreja biblica'. Não, ela é
produto da vida. Como foi permitido ao Espírito
da vida trabalhar, as coisas tomaram certos
cursos e certa forma, e aquela era a forma de
Cristo. O Espírito Santo assumiu a
responsabilidade. "Eu edificarei a minha
Igreja", disse o Senhor (Mateus 16:18), e Ele
quis dizer isso; e Ele é encontrado fazendo
isso.
A Natureza de
Cristo é Absolutamente Santa
Mas lembre-se:
Cristo, na expressão mais íntima do que Ele é, é
muitíssimo santo. "O Santo que é nascido", disse
o anjo a Maria, "será chamado Filho de Deus"
(Lucas 1:35, A.R.V.). Ele "se ofereceu a Si
mesmo sem mancha a Deus" (Hebreus 9:14). Ele foi
"... em tudo tentado a nossa semelhança, mas sem
pecado" (Heb. 4:15). Cristo era e é sem pecado.
Ele é infinitamente santo. O grande antagonista
de Cristo, que é ímpio, está sempre procurando
destruir aquilo que é de Cristo, introduzindo
uma contradição, uma mentira, dando a mentira à
santidade de Cristo; e foi isso o que aconteceu
aqui.
Eu realmente sinto
que esta é uma questão muito solene para todos
nós. Não tenho dito isso sem muito exercício em
meu próprio coração. Não é uma coisa fácil para
se dizer. Alguns de nós não ignoramos as
artimanhas de Satanás. Quem tem direito de falar
sobre santidade? Quem é suficiente em santidade
para falar a alguém sobre isso? Santidade é o
que Cristo é. Quem de nós poderia dizer que
somos desta maneira?
O Espírito
Restringido pela Consciência de Falta de
Santidade
Falta de santidade
é aquilo que não é consistente com Cristo. É o
oposto do que Cristo é; é uma contradição a
Cristo. O poderoso propósito de Deus, o poderoso
curso do Espírito de Deus – tudo que entrou com
esta nova dispensação – pode ser rapidamente
reprimido, e uma tragédia pode ocorrer se você
ou eu intencionalmente brincarmos com a falta de
santidade. "Sabendo também sua mulher" (Atos
5:2) significa que a coisa foi consciente.
Eu não estou
falando de falta de santidade que é nossa em
geral – contudo não vamos tolerá-la ou fazer
vista grossa. O que estou falando neste momento
é o pecado deliberado na presença do Espírito
Santo. Ananias e Safira deliberadamente
planejaram dar ao Senhor apenas uma parte do
produto da venda, porém representando-o como
sendo o todo. Se eles realmente estivessem sob a
influência do Espírito Santo, teriam reconhecido
o Espírito dizendo a eles: 'Isto não está certo
– é uma contradição a Cristo'.
E nós não podemos
confidentemente concluir que o Espírito Santo de
fato os tenha alertado? Não houve duas vozes
que, embora talvez não audíveis, contudo tenha
falado neles, uma alertando sobre o mal, a outra
sugerindo este erro – a voz do Espírito e a voz
de Satanás? Eles se inclinaram a ouvir a voz do
tentador, e Satanás 'encheu os seus corações'.
Este é o tipo de falta de santidade que estamos
falando.
Nós estamos na
dispensação do Espírito. Se de fato estivermos
no benefício desta dispensação, isto é, se o
Espírito Santo está em nós, Ele irá nos falar –
Ele realmente nos fala. Se quisermos podemos
conhecer a mente do Espírito sobre todas as
questões sobre o certo e o errado. Mas até nos
rendermos ao Espírito, tudo fica suspenso. A
vida toda do Espírito fica restrita. O Senhor
foi muito positivo ao colocar os princípios para
a nova dispensação.
Ele não nos deixou
qualquer dúvida quanto a qual é a Sua atitude em
relação a esse tipo de coisa. Se Ele não age da
mesma maneira o tempo todo, e se nós não caímos
mortos, isto não significa que algo igualmente
terrível não ocorra em nós. O Espírito fica
preso, e a morte espiritual entra, e não há mais
nenhum progresso a partir desse momento. Há um
sentido no qual, espiritualmente, nós também
somos 'levados'.
Sim, este é um
assunto solene. Perdoe-me se pareço opressivo,
mas este assunto de santidade é muito
pertinente, e está muito ligado a tudo aquilo
que estamos procurando ver – todo o maravilhoso
significado de o Espírito estar aqui e de Ele
ser capaz de prosseguir; vida e plenitude,
crescente profundidade e vitalidade,
conhecimento cada vez maior, o tragar a morte
pela vitória.
Esta é para ser a
existência espiritual da Igreja, porém tudo isto
pode ser bloqueado pela falta de santidade,
conhecida e não tratada diante de Deus, não
repudiada e recusada. Seja lá o que isto possa
significar para você em sua aplicação
particular, lembre-se de que é algo muito
perigoso ter uma controvérsia com o Espírito
Santo - perigoso não somente para nós, mas
talvez para muitos que serão afetados.
O Perigo em se
Persistir com a Falta de Santidade
Oh, a tragédia de
uma controvérsia com o Senhor não resolvida!
Certamente, vendo um ambiente de um assunto como
esse, precisamos encarar as coisas particulares
a partir do ponto de vista do grande pano de
fundo. Você não terá um motivo adequado para
lidar com os pontos particulares de falta de
santidade a menos que enxergue toda esta questão
em seu grande cenário. Se é algo meramente
pessoal, que diz respeito somente a nós, podemos
ou não sentir que vale a pena resolver a
questão.
Mas olhe! Todo o
curso dos conselhos eternos de Deus, descendo
sobre o nosso caminho e nos pondo nele: o
propósito soberano de Deus a ser realizado
dentre e através de nós: o longo alcance desses
propósitos de Deus que iria nos ter como
veículos e canais: Tudo aquilo que Deus iria
fazer ao se tornar a Si próprio conhecido de nós
visando outras pessoas: tudo impedido devido a
falta de santidade!
Sim, um ministério
pessoal, um grande ministério que poderia ser de
alcance muito grande, tudo pode ser colocado de
lado – o Senhor, para resguardar a Sua própria
natureza, teria que colocar tudo de lado – se
houvesse uma persistência em algo sobre o qual
Ele tinha falado, mas que não fora tratado. É um
contexto tremendo.
O salmista disse:
"Bem sei eu, ó Senhor, que os teus juízos são
retos, e que em tua fidelidade me afligiste"
(salmo 119:75). O que ele quis dizer?
Evidentemente ele tinha passado por severa
disciplina da parte do Senhor, e quando ele
olhou para o que o seu erro implicava em relação
ao povo do Senhor – quantas pessoas foram
afetadas e quanto aquilo tocou a honra do Senhor
– ele disse: 'Somente a fidelidade de Deus está
por trás do Seu tratamento para comigo: Ele
precisa ser justo para consigo mesmo e para
comigo, e não me deixar impune; e Ele precisa
ser fiel à Sua própria natureza, Sua própria
retidão, porque muita coisa está ligada a isso'.
Que o Senhor possa
nos mostrar o que isto significa, e nos dar
graça. Oh, precisamos de proteção, de defesa
nesta questão de um caminhar santo com Deus;
precisamos resolver toda controvérsia com Ele
porque há muita coisa associada a isso.
Vemos que aqueles
que habitavam em Jerusalém, e seus governantes e
aqueles a quem representavam, não queriam
resolver a controvérsia que Deus tinha com eles,
e foram colocados de lado, e outra nação que
produzia os frutos do Reino foi trazida. Que
perda! E você pensa que o Senhor irá lidar
conosco de forma diferente? Pode não ser a nossa
salvação que esteja em jogo, mas certamente
nossa vocação sofra alguma conseqüência. O
Senhor nos dê graça!
Capítulo 9 – Uma
Recapitulação
Vimos que na
dispensação do Antigo Testamento o Espírito
Santo operava como o Espírito de profecia,
tornando tudo em profecia. Ele fazia com que
tudo dentro da economia Divina apontasse para
frente, e implicasse algo mais além, algo que
não estava claro para aquelas pessoas que viviam
naqueles tempos e que estavam diretamente
ligados aquilo que estava sendo feito e falado;
e esta abrangente obra do Espírito Santo através
desses tempos estava levando para aquilo que
seria a natureza, o caráter e o propósito desta
dispensação em que vivemos.
Esta dispensação é
marcada por duas características salientes –
dois aspectos de uma única coisa. É a
dispensação, primeiramente, de Cristo
entronizado à mão direita da Majestade nos céus,
e segundo, é a dispensação do Espírito Santo
aqui dentro da Igreja para tomar posse de tudo o
que ela significa. Aquela atividade profética
era multifacetada; isto é, apontava para várias
características da era que estava por vir; e
olhamos para algumas dessas características nos
capítulos anteriores.
De modo que agora
nós começamos aqui. Chegamos e estamos vivendo
na dispensação do cumprimento espiritual daquilo
que os profetas predisseram; porém este
cumprimento não é meramente objetivo, como na
história do mundo ou da Igreja, de modo
exterior. Este cumprimento é algo interior, e
ainda, é algo interior no que diz respeito a
cada membro de Cristo. É algo que precisa ser
passado aos mais jovens. Por favor, não pense
que isto é para cristãos mais velhos ou mais
avançados! É algo que envolve cada um de nós
igualmente.
Visão Espiritual
A primeira coisa
com que os profetas estavam ocupados, e que tem
seu cumprimento de modo interior nos membros de
Cristo nesta dispensação, é a visão espiritual.
Tudo no propósito de Deus, para o seu
cumprimento e para a nossa chegada a esse
propósito, depende primeiramente disso – que o
Espírito Santo tenha se tornado para nós no
Espírito de revelação, e nos tenha feito ver, em
seu contorno maior, aquilo que Deus procura. Os
detalhes são preenchidos na medida em que
avançamos.
(a) A Faculdade de
Ver
Há dois lados.
Primeiramente, há a faculdade do ver. Os
profetas tinham muito a dizer sobre isso. Você
sabe que, devido a certos preconceitos da parte
do povo de Israel, pelos quais eles não estavam
dispostos a enxergar aquilo que Deus queria que
eles enxergassem (porque eles tinham suas
próprias visões e idéias e não estavam prontos
para o que Deus queria), um duplo julgamento
passou sobre eles, e o Senhor fechou os seus
olhos. A palavra foi dada a Isaías para este
povo: "Vai, e dize a este povo: Ouvis, de fato,
e não entendeis, e vedes, em verdade, mas não
percebeis. Engorda o coração deste povo, e
endurece-lhe os ouvidos, e fecha-lhe os olhos;
para que ele não veja com os olhos, e ouça com
os ouvidos, e entenda com o coração, e se
converta, e seja sarado". (Isaías 6:9,10).
Isto foi um
julgamento, e terrível: a faculdade da visão
espiritual foi neutralizada. Foi um julgamento
terrível, com conseqüências terríveis; pois,
como vimos, a conseqüência máxima foi que eles
perderam tudo aquilo que Deus pretendia para
eles, e isto não foi coisa pouca. A coisa foi
tirada deles. Foi dada para outra nação – uma
nação espiritual. É um terrível julgamento ter a
faculdade da visão espiritual anulada; e se é
assim, ela deve ser algo muito importante no
desejo, graça e bondade do Senhor que as pessoas
possam ter tal visão, tal luz.
A faculdade de
enxergar é um direito de nascimento de todo
filho de Deus. Não pense que você precisa viver
a vida cristã por um longo tempo, e ter muito
ensino, e alcançar uma posição elevada, antes
que você comece a enxergar. Isto faz parte do
seu novo nascimento. O Senhor disse a Nicodemos:
"Se alguém não nascer de novo, não pode ver o
reino de Deus". (João 3:3). Por implicação Ele
disse: 'Quando você nascer do alto, você irá
enxergar'. A comissão ao apóstolo Paulo foi: "…a
quem agora te envio, para lhes abrires os
olhos..." (Atos 26:17,18).
A própria obra
simbólica do Senhor Jesus nos dias de Sua carne,
ao abrir os olhos aos cegos, estava apontando
para o que iria acontecer quando Ele fosse
elevado aos céus e o Espírito viesse, e os
homens enxergassem. Enxergar é parte do seu novo
nascimento. Não estou dizendo que você irá
enxergar tudo de uma só vez, que você irá
enxergar tudo que aquelas pessoas que foram
longe com o Senhor enxergavam; mas a faculdade
de ver foi dada a você. Você a está usando? Você
sabia que ela é tão real quanto a sua visão
física – que você tem olhos espirituais, e que
eles foram abertos? Se não, vá direto ao Senhor
sobre isso, porque algo está errado.
(b) O Objeto Visto
E não somente a
faculdade, mas o objeto da visão; ele é uma
parte da visão. Precisa haver a faculdade de ver
antes que possa haver um objeto para ser visto,
mas, tendo a faculdade, você adquire um objeto
para ver; e o objeto é – o quê? O que foi que
veio à percepção, ao reconhecimento, do povo,
quando o Espírito Santo chegou? O que eles
começaram a ver? Eles começaram a enxergar o
significado de Jesus Cristo, e há uma frase
muito familiar que indica o que é isto– "o
propósito eterno".
Eles são um, e são
a mesma coisa – o significado de Cristo, e o
eterno propósito de Deus. O propósito de Deus
que vem da eternidade diz respeito ao Seu Filho
– o lugar que Seu Filho ocupa no universo de
acordo com a Sua vontade; o tremendo alcance de
Cristo; as tremendas implicações do próprio ser
e existência de Cristo; as conseqüências
tremendas que estão ligadas a Jesus Cristo. Eles
não enxergaram tudo isso de uma só vez, mas
começaram a ver o Senhor Jesus. Eles começaram a
ver que ele não era apenas um homem entre
homens, não era meramente o homem da Galiléia.
Não, Ele era
infinitamente maior do que isso. Este tremendo
impacto do significado de Jesus Cristo é tão
grande para se reter, tão grande que você não
consegue compreendê-lo. É esmagador e
devastador. Eles começaram a enxergar isso; esta
era a visão deles. A partir dessa visão tudo
mais adveio. Olhe para eles e escute-os,
reconheça que grande e novo Cristo eles tinham
encontrado, que Cristo significativo Ele era,
como tudo está ligado a Ele. Todo destino está
centrado Nele; Ele é a única conseqüência.
Os profetas tinham
visto algo vagamente. Você irá ouvir um profeta
dizendo: "Seu nome será Maravilhoso,
Conselheiro, Deus Forte, Príncipe da Paz"
(Isaías 9:6). Bem, esse profeta tinha começado a
enxergar algo; e há outras coisas semelhantes a
essa. É apenas um começo, mas o que eles estão
dizendo é que esta Pessoa irá ser visto
plenamente. 'Nós estamos apontando para Ele',
dizem eles, 'esperando o dia quando Ele será
plenamente reconhecido'. E este é aquele dia;
nós estamos no dia do cumprimento da visão dos
profetas.
Essas não são
meras palavras, grandes idéias. É algo que
precisa ser verdade em você, mesmo que possa ser
apenas um começo, que a compreensão de Jesus
Cristo em seu coração seja tremenda, esmagadora.
Ele é a sua visão, e Ele tem dominado você no
sentido de Sua grandeza. Nós jamais iremos
chegar a algum lugar sem visão. Iremos nos
esfacelar se não tivermos visão, ou se a nossa
visão for bloqueada.
Se algo interferir
na pureza, na plenitude, de nossa visão,
começaremos a andar em círculos, não sabendo em
que lugar estamos. A visão irá nos levar adiante
somente se for mantida pura e plena. Você a tem?
Quando o Espírito Santo veio no dia de
Pentecoste, esta coisa tremenda aconteceu – eles
viram o Senhor, e vendo-O começaram a ficar
emancipados de todas as coisas que não tinham
nada a ver com Ele.
Aqueles que não
viam, bem, esses começavam a ficar para trás e
se tornavam sem importância no campo espiritual
ou, devido a seus preconceitos, tornaram-se
inimigos dos que enxergavam. O exemplo em João 9
foi cumprido no sentido espiritual. O Senhor
abriu os olhos do homem cego de nascença. E o
que aconteceu? Os demais o expulsaram. Aquelas
pessoas que viram no dia do Pentecostes a
descida do Espírito Santo foram excomungados por
muitos que eram preconceituosos. Foram cortados.
Há sempre um preço ligado ao ver.
Mas este não é o
nosso assunto agora. Simplesmente, o que o
Senhor tem dito a nós, em primeiro lugar, é que
Ele deseja ter, e precisa ter nesta dispensação
um povo com os olhos abertos, um povo que
enxerga, que tenha esta faculdade neles mesmos.
(c) A Visão É Para
Ser Pessoal e Crescente Em Todo Crente
Agora, a diferença
entre as demais dispensações e esta é apenas
uma. Na velha dispensação tudo tinha que ser
falado ao povo. Eles tinham que obter as coisas
de segunda mão, a partir de outra pessoa; a
coisa nunca era deles próprios, nunca era
original. Na nova dispensação do Espírito Santo,
a coisa estava dentro deles mesmos; a raiz da
questão estava dentro deles.
Porém o
cristianismo tem se tornado cada vez mais um
grande sistema que tem se revertido ao nível da
antiga dispensação. Isto é, muitos cristãos têm
suas vidas baseadas em discursos, em sermões, em
reuniões, e precisam que as coisas lhes sejam
contadas por outras pessoas. Quantos cristãos
você encontra hoje que está realmente se
beneficiando de uma revelação palpitante, vívida
e pessoal de Jesus Cristo? Eu não penso que esta
seja uma questão inadequada.
A grande
necessidade de nossos dias é que as pessoas de
Deus sejam restabelecidas na base sobre a qual a
Igreja foi fundada no início, uma base do
Espírito Santo; e o início exato desta base é –
não ter um monte de informação dada aos
cristãos, mas que os cristãos possam ter a
faculdade da visão espiritual dentro deles,
possam ter a capacidade de enxergar, e possam
eles próprios estar enxergando.
Você pode dizer:
'Meus olhos estão abertos; estou vendo o eterno
propósito de Deus, estou enxergando a
importância de Cristo; estou vendo cada vez mais
em relação ao Senhor Jesus?' A menos que seja
desta forma, nós iremos deixar o Espírito Santo
para trás, e teremos que fazer a volta para
encontrá-Lo aonde Ele foi deixado, porque uma
vida no Espírito Santo é uma vida de visão
crescente e contínua. A visão é absolutamente
essencial, tanto quanto à faculdade e também
quanto ao objeto.
A
Instrumentalidade Da Cruz
(a) Morte - A
Remoção Daquilo Que É Do Homem
Isto significa,
por um lado, a remoção de tudo aquilo que não
pode entrar no novo Reino; ficando livre daquilo
que aos olhos de Deus está morto e precisa ser
colocado de lado – isto para dizer, a soma total
da vida do ego. Chame-a de outros nomes se
quiser – a carne, a vida natural, o velho Adão,
e assim por diante. Eu prefiro esta designação -
o princípio do ego porque ela é muito
abrangente: seja o princípio da vida do 'eu'
agindo na direção exterior, em auto-afirmação,
em imposição, onde o EU seja o impacto; ou seja
agindo na direção interior, puxando para o EU.
Oh, quantos
aspectos há da vida do ego em ambas as direções!
Nós podemos conhecer algumas das mais óbvias,
mas nós não estamos aprendendo quão
profundamente enraizado, com incontáveis
filamentos, é a vida do ego? Nós nunca
alcançamos o seu fim. Ela espalha os seus
tentáculos por toda nossa constituição. - 'Eu',
de alguma forma, forte ou fraco. É exatamente
tão mal para ela ser fraco quanto ser forte. A
auto-piedade é apenas uma forma de chamar a
atenção para nós mesmos e ficarmos ocupados com
nós mesmos, e é tão pernicioso quanto à
auto-afirmação.
É o ego, tudo é a
mesma coisa; pertence à mesma raiz, procede da
mesma fonte. Tudo procede daquela vida falsa de
alguém que disse: "Eu subirei aos céus, e
exaltarei o meu trono acima das estrelas de
Deus; e sentarei sobre o monte da congregação...
eu subirei acima das mais altas nuvens; eu serei
semelhante ao Altíssimo" (Isaías 14:13,14). 'Eu'
- 'Eu' - 'Eu' -. Verdadeiramente, nós não
conseguimos esgotar as formas desta vida do ego.
Agora, por ter ela
muitos lados e raiz que alcança longe e
profundamente, o Senhor não pode lidar com ela
de uma só vez de modo ativo. Ele lidou com ela
de uma vez por todas potencialmente na Cruz de
Seu Filho. Mas agora a aplicação disso precisa
avançar. Você e eu precisamos conhecer
continuamente a aplicação do princípio da Cruz
às várias formas da vida do EU. Precisamos
aprender tanto a necessidade quanto a maneira de
ser ela esmagada, atingida, enfraquecida, e
trazida debaixo das mãos de Deus; e este é o
significado de 'disciplina', este é o
significado de instrução.
É neste lado de
coisas que o Espírito Santo está constantemente
tomando precauções contra a vida do EU. Até
mesmo no caso de um bem avançado e bem
crucificado apóstolo, é necessário, diante de
grandes depósitos Divinos, que Deus tome
precauções e coloque um espinho em sua carne e
lhe dê um mensageiro de Satanás para
esbofeteá-lo, para que ele não se exalte (2
Coríntios 12:7). Isto é algo muito prático.
O Espírito Santo
usa o princípio e a lei da Cruz repetidamente e
cada vez mais profundamente a fim de se livrar
do lixo – aquilo que ocupa o terreno que deve
ser ocupado pelo próprio Senhor. Precisa haver
muita limpeza no terreno a fim de se edificar
nele um novo reino espiritual.
(b) Ressurreição –
A Expressão Do Próprio Senhor
Assim, por outro
lado, a coisa correspondente é o poder de Sua
ressurreição, que jamais poderá ser conhecida
exceto se conhecermos o poder de Sua Cruz; e é
em conhecendo a Ele e o poder de Sua
ressurreição que a nossa instrução do lado
positivo é encontrada. Oh, para conhecê-Lo e o
poder de Sua ressurreição! É uma coisa
maravilhosa quando você e eu somos trazidos para
o lugar onde, do lado natural, – e não
fingidamente, mas completamente – somos
compelidos a reconhecer a horrorosa e terrível
realidade: 'Isto é o fim de tudo. Eu que tenho
falado tanto, que tenho pregado tanto, que tenho
ensinado tanto, que tenho feito tanto – Eu
cheguei ao fim'.
É a sentença de
morte; não mais é possível; e é terrível e
severamente real. E, então, Deus nos levanta da
morte! Você prossegue, e há algo mais do Senhor
do que havia antes. É algo grande enxergar como
Deus nos levanta da morte repetidamente. A mesma
pessoa está viva novamente, e há mais do que
jamais houve antes, porque houve um vazio maior
do que jamais houvera antes. É uma posição muito
segura do ponto de vista do Senhor.
O que nós estamos
aprendendo, qual é o significado daquele
caminho, o que é isto que estamos herdando ao
longo de tais experiências? Apenas isto –
estamos conhecendo o Senhor, isto é tudo.
Estamos conhecendo isto: que tudo é do Senhor, e
tudo aquilo que não é Dele não é nada,
absolutamente. Deve ser do Senhor ou não haverá
mais nenhuma possibilidade, nenhuma esperança.
Nós somos os mais
capazes de dizer: 'Se depender de mim, nada mais
é possível'; e, então, o Senhor opera. Você
enxerga o que Ele está fazendo do lado da morte
da Cruz. Ele está limpando o terreno para Ele
próprio, e, então, Ele ocupa o espaço; Ele está
edificando a Si mesmo como o Senhor ressurreto
no terreno que foi purgado da vida velha. O
Espírito Santo usa a Cruz para manter o caminho
aberto, para manter a visão clara e crescente.
Uma Nova Liberdade
Em seguida,
falamos que quando mudou a dispensação no dia de
Pentecoste, a partir daquele momento houve uma
maravilhosa emancipação para a liberdade. Na
velha dispensação a ordem toda era de
escravidão, de servidão; as pessoas estavam numa
camisa de força de um sistema religioso. Na nova
dispensação, a camisa de força foi tirada.
Não há nada que
sugira uma camisa de força no Livro de Atos. As
pessoas são livres. Até haverá algumas coisas a
serem removidas, como o resto da tradição de
Pedro diante do apelo da casa de Cornélio, e
assim por diante. Mas no principal eles estão
livres, libertos, e é o Espírito Santo quem faz
isto acontecer, e Ele exige que isso seja
preservado.
O Senhor quer e
precisa de um povo assim hoje, exatamente como
antes. Primeiramente, um povo de visão; e,
então, em segundo lugar, um povo completamente
crucificado, dando ao Senhor total espaço para o
Seu propósito – um povo que, em si mesmo, tenha
sido removido do caminho do Senhor. (Este é o
significado do Livro de Atos – que as pessoas
estão fora do caminho do Senhor, de modo que Ele
pode se mover livremente). Então, o Espírito
Santo, tendo efetivado esta libertação, exige
que isto seja preservado.
Dissemos
anteriormente que a tendência constante e
persistente do homem e o esforço do inimigo é o
de trazer novamente o jugo da servidão,
aprisionando o Espírito Santo num sistema
estabelecido e cristalizado. De coisas – um
sistema de igreja, um sistema eclesiástico, uma
ordem religiosa humana, uma formalidade, uma
organização, e todo esse tipo de coisas que
muito freqüentemente começam com uma idéia
Divina, e, então, acabam dominando essa idéia
Divina e fazendo com que ela os sirva, ao invés
de que tudo sirva a ela.
Este é o perigo, e
o Espírito Santo não terá nada disso. Ele
somente pode ir tão longe quanto à liberdade que
tenha para ir. Ele requer que fiquemos fora de
Seu caminho; Ele requer os Seus próprios
direitos na qualidade de Espírito de liberdade.
Ele não será limitado por nada. Se nós tentarmos
restringi-Lo, colocar algemas Nele iremos perder
os Seus valores.
Ele requer que nós
jamais permitamos a nós mesmos sermos levados
para qualquer forma fixa, ou limite de qualquer
espécie; que sejamos pessoas de Deus livres.
Isto não é licença. Isto não dá ao indivíduo o
direito para ser um autônomo, nem significa que
podemos ir e fazer tudo que o nosso impulso
sugira, e de forma independente desprezemos toda
autoridade espiritual. Nunca significou isso.
Mas significa que o Senhor não irá permitir que
cristalizemos Suas coisas e as coloquemos dentro
de uma caixa e digamos: 'Este é o limite'.
Ele requer de nós
que possamos estar sempre prontos para receber e
responder à uma nova luz. Se Sua nova luz requer
que façamos novos ajustes – ajustes
revolucionários algumas vezes – temos que estar
tão livres no Senhor que possamos fazê-los. É
muito necessário que possamos estar dessa
maneira, como povo livre do Senhor. É algo muito
abençoado ter a expansão do universo para se
mover.
Santidade, A Marca
Da Nova Dispensação
Agora nosso
próximo ponto foi o de que toda a natureza de
coisas, que a característica da dispensação do
Espírito Santo e que todos os movimentos do
Espírito, é de santidade – que tudo
interiormente possa corresponder aquilo que é
exterior. O progresso pode ser levado para uma
total estagnação; todo este movimento do
Espírito de Deus pode repentinamente ficar
impedido; pode haver um ponto além do qual não
haja mais nenhum avanço, caso haja algo
debatível entre o Espírito Santo e nós.
Temos que
consultar o Espírito Santo em todas as questões,
e Ele é residente em nós para esse propósito.
Por que há tantas coisas nos cristãos que não
são como o Senhor queria que fossem? É
simplesmente porque as pessoas em questão não
têm reconhecido e levado ao coração o seguinte –
que o Espírito Santo é o Mestre pessoal deles, o
qual reside no interior. Quanto é perdido por
causa dessa falta!
'Oh, há uma
reunião: acho que não irei a ela – irei dar uma
caminhada'. E, assim, você vai. Naquela reunião
estava a palavra exata de Deus para você! Se
apenas você dissesse: 'Gostaria de ir caminhar,
mas há uma reunião; irei perguntar ao Senhor se
Ele me quer lá'. Algo foi perdido o qual você
jamais poderá recuperar para si próprio, porque
você falhou em consultar o Senhor.
E assim em
milhares de formas diferentes. Se tão somente
ouvíssemos o Espírito Santo, poderíamos ter um
melhor progresso. Ele fala a nós sobre todos os
tipos de questões práticas. Por exemplo,
precisamos ser ensinados pelo Espírito na
questão de nossa jovialidade – como ser alegre
sem ser frívolo, e como ser sério sem ser
carrancudo e miserável.
Nós não vamos dar
risadas durante o tempo todo de nossa vida, mas
ao mesmo tempo o Senhor não quer que sejamos
pobres criaturas. Ele quer que sejamos pessoas
sérias, mas não pense que solenidade é
necessariamente vida espiritual. Eu li em meu
jornal matinal sobre uma garota na Austrália,
que foi acometida por certa doença que a privava
de sua habilidade de sorrir. Ela foi trazida
para ser operada em Londres – e, após a operação
ela pode sorrir! Penso que muitos cristãos
precisam de uma operação como essa.
Mas em toda essa
questão temos que conhecer a disciplina do
Espírito Santo, porque valor espiritual, aumento
espiritual, está ligado a isto. Em questões de
santidade, e controvérsias com o Senhor – que
podem descer a muitos pequenos pontos, tais como
detalhes de roupa, o uso de adornos, e assim por
diante – é notável como ajustes são feitos por
muitos cristãos jovens nessas questões práticas
sem que nada seja dito a eles por alguém. Quem
falou a eles para fazê-lo? Ninguém; mas eles
chegaram a sentir que o Senhor queria que eles
assim fizessem, isto é tudo.
Tais pessoas estão
progredindo; estão começando a contar com Deus.
Eu tomo esses pontos, não para impor lei sobre
você, mas para mostrar o princípio do Espírito
Santo ser capaz de nos falar interiormente sobre
questões onde o Senhor possa não estar
plenamente de acordo, e, na medida em que Ele
fala e respondemos, nós progredimos. O Espírito
Santo acrescenta, e acrescenta.
Serviço
Direcionado Pelo Espírito – Não Exclusivismo
Na medida em que
você prossegue no livro de Atos, você descobre
que o Espírito Santo era o Espírito de Serviço.
Você chega ao capítulo 8, e o movimento para
fora de Jerusalém é absolutamente espontâneo.
Filipe desce a Samaria. Quem disse que ele
deveria ir a Samaria? Certamente podemos dizer
que foi o Espírito Santo quem o levou para lá.
Eles se moviam sob o controle soberano do
Espírito Santo. Ele era o Espírito de serviço.
E quando você
chega ao capítulo 10, oh, que aspecto abençoado
daquele desenvolvimento! Encontramos isto em
sintonia com aquilo que os profetas, embora de
forma imperfeita, viram. No capítulo 10 o
Espírito Santo precipita toda a questão de se ir
para além das fronteiras de Israel para os
gentios. Como os profetas entraram nisso? Bem,
que tal Jonas? É uma terrível história esta no
pequeno livro de Jonas. Esta história não é toda
a vida e obra de Jonas, mas é praticamente tudo
o que muitas pessoas conhecem sobre ele – que
ele teve uma disputa feroz com o Senhor.
"Então disse Deus
a Jonas: Fazes bem que assim te ires por causa
da aboboreira? E ele disse: Faço bem que me
revolte até à morte" (Jonas 4:9). Imagine um
homem respondendo a Deus dessa maneira! Por quê?
Porque o enorme coração gracioso de Deus havia
dito, em efeito: 'Não deve haver exclusivismo;
Eu não estou absoluta e solenemente ligado a
Israel; meu coração também abraça os bárbaros; o
mundo todo é objeto da minha graça'. Jonas era
muito exclusivista – não podia haver mais nada
além do seu próprio círculo, e ele entrou em
controvérsia com o Senhor.
O Senhor tem
espalhado aqui e ali através de suas lições e
ilustrações da Palavra que enfatizam isso. Que
tal Rute? Ela é uma Moabita, uma bárbara,
inaceitável a Israel. Esta história de Rute é o
mais bonito romance da Bíblia. O que o Senhor
está dizendo? Olhe para a genealogia do Senhor
Jesus e você irá encontrar Rute, a Moabita, lá.
Mas se isso é impressionante, que tal Raabe, a
prostituta, que morava em Jericó, que teve fé e
expressou essa fé por meio da corda de fio de
escarlata na janela?
E na genealogia de
Jesus Cristo, Raabe, a meretriz, tem um lugar. O
que Deus está dizendo? Ele assume na nova
dispensação o princípio dessa obra profética do
Espírito Santo através do Velho Testamento. Em
Atos 10 Ele precipita isso, como que para dizer:
'Vão a todos; não permitam exclusivismo'. É
impossível ser pessoa governada pelo Espírito
Santo e não ter o mundo em seu coração – não se
preocupar com toso o povo do Senhor, e com todos
os que não são do Senhor. Ele irá precipitar
essa questão. Vamos permitir que esta verdade
nos alcance profundamente.
O ponto de tudo o
que temos dito é o seguinte: que quando o
Espírito Santo vem e realmente tem o seu espaço,
todas essas coisas são espontâneas: elas
acontecem; essas são as marcas de Seu governo.
Oh, que o Senhor possa recuperar um povo como
esse, livres de toda posição estabelecida,
eclesiástica, religiosa, limites tradicionais e
fronteiras – um povo no Espírito! O Senhor faça
com que cada um de nós seja dessa maneira.
FIM
*A
tradução deste estudo foi feita voluntariamente por Valdinei N. da
Silva, que, por reconhecer a excelência do conteúdo, coloca o mesmo ao alcance da Igreja de
Cristo, para sua edificação. Peço aos irmãos que possuírem
conhecimentos mais aprofundados em tradução, que colaborem, enviando as
suas preciosas observações e retificações para:
valdineibr@gmail.com
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