A
OITAVA REDENÇÃO
de T. Austin-Sparks
Capítulo 1 - A Encarnação
Ao começar
estas meditações, deixe-me dizer uma pequena palavra de
advertência. Nós não estamos apenas embarcando numa ‘linha
de verdade’ _ um tema, um assunto. O fato é que não há
‘verdade’ fora do próprio Senhor Jesus, e a verdade está
Nele, não sobre Ele. Para uma correta apreensão, portanto,
da verdade, um relacionamento pessoal com Ele na vida é
essencial. Não podemos conhecer a Verdade exceto através da
união com o Senhor Jesus de maneira viva. Isto por sua vez
demanda a obra do Espírito Santo sobre e em nós, e isto
significa que devemos estar numa condição espiritual para
entender e apreender a verdade, “como está a verdade em
Jesus” (Ef. 4:21). Nossa vida _ toda nossa vida _ nossa
esperança, nossa salvação, nosso caminho, nossa segurança _
nosso tudo _ está centrado no próprio Senhor Jesus. Não
está centrado em algum aspecto ou interpretação da verdade:
está centrado Nele mesmo. Tudo, portanto, é uma questão de
conhecê-Lo, de ‘se ater ao pleno conhecimento do Filho de (Ef.
4:13); e o valor que o Senhor pode dizer para nós nas
páginas que seguem dependerá inteiramente do nosso
relacionamento vivo com Ele, que é a Verdade: a soma da
Verdade, e o Poder da Verdade.
Introdução
Temos
chamado essa série de estudos de ‘A Oitava Redenção’ A
palavra ‘oitava’ (do latim
octavus)
significa ‘oitavo’, e em música significa o intervalo entre
a primeira e a última das oito notas primárias que completam
a escala musical, uma vez que cada oitava nota repete a
primeira num nível mais alto, ou mais baixo. Poderíamos
muito bem ter tomado como nosso título ‘O Arco Celeste da
Redenção’, pois temos uma idéia muito similar aí, com as
sete cores primárias, e, então, o número oito retornando ao
número um. Em tais ‘oitavas’, vemos uma série, ou fase, ou
movimento, completo, e um novo começo; a série de sete nunca
é referida como terminada em si mesma _ ela precisa do
próximo para fazer a escala completa. Sabemos, se
experimentarmos num instrumento, quão necessário é a
‘oitava’ _ quão incompleta é o sete sem o oito.
Esta
característica de ‘sete mais um’ é peculiarmente uma marca
do cristianismo. O cristianismo está baseado no dia após o
sábado, sobre o oitavo dia que se torna o primeiro dia da
semana. O judaísmo permanece na religião do sétimo dia;
sabemos quão incompleta ela é, como ela parou e jamais
continuou, jamais se moveu para o oitavo dia como o
primeiro. O cristianismo repousa sobre o oitavo dia, que se
tornou o primeiro _ o final de uma fase da obra Divina e o
começo de uma nova. A palavra ‘sábado’, contudo, não
significa ‘sétimo’; significa ‘repouso’. Sete fala de
plenitude; oito significa que Deus começa novamente sobre
algo que foi acabado. Seu novo início é a partir de algo
terminado _ Deus prossegue da conclusão. Isto é
cristianismo: ele repousa sobre algo terminado, e este algo
terminado é o descanso de Deus, a satisfação de Deus. Ele
começa tudo a partir desse ponto.
Como você
pode saber, as letras do alfabeto hebraico não são apenas
símbolos para sons, mas também símbolos para numerais; isto
é, cada letra possui um valor numérico. E isto não é
verdade somente na língua hebraica. O nome ‘Jesus’, na forma
grega, como usado no Novo Testamento, possui seis letras,
cada letra tendo um valor numérico; e quando todas essas
letras são colocadas juntas com seus valores numéricos, elas
somam 888. ‘Jesus’ = 888. Não estou tirando o máximo
proveito disso, ou tentando ser fantasioso, mas penso que
isto é impressionante _ Não penso que isto seja um acidente.
Ele é o Homem do ‘oitavo dia’, aquele que foi adiante, tendo
aperfeiçoado a obra da redenção.
Oito Aspectos da Redenção
Agora,
podemos dizer que a redenção possui oito notas ou aspectos
primários. Há, naturalmente, muitos aspectos subsidiários,
mas há oito primárias. Elas são:
1. A
Encarnação
2. A Vida
Terrena
3. A Cruz e
a Ressurreição
4. Os
quarenta dias após a Ressurreição
5. A
Ascensão e a Glorificação
6. O Advento
do Espírito Santo
7. O
Nascimento, a Vocação e a Plenitude da Igreja
8. A Próxima
Vinda
Dentro dessas tudo está reunido, e não há nada fora delas;
elas completam a escala. Você notará que a primeira e a
oitava são as duas vindas. Em princípio, torna o círculo
pleno ao primeiro: é a vinda do Senhor representando duas
completudes. A primeira vinda, a encarnação, foi a plenitude
de uma fase: “ A lei foi dada por Moisés; a graça e a
verdade vieram por Jesus Cristo”. (Jo 1:17); e não precisa
ser enfatizado que a próxima vinda será como o término de
uma fase. Porém cada uma é também o início de uma fase
inteiramente nova. “A hora vem, e agora é...” disse o
Senhor Jesus (Jo. 4:23), introduzindo aquela nova fase, e
nós de fato podemos agradecer a Deus que isto será verdade
quando Ele retornar.
Um outro pequeno ponto técnico, a propósito. A palavra
hebraica para ‘sete’ simplesmente significa ‘satisfação’,
ou ‘completo’. Precisamos muito comentar isto. Deus viu
todas as coisas: elas eram ‘muito boas’ e Deus descansou em
Sua satisfação, na plenitude da Sua obra. Mas a palavra
hebraica para ‘oito’ é novamente uma palavra muito
interessante. Ela tem a sua origem a partir da raiz ‘shammah’,
que ocorre em um dos nomes do Senhor, ‘Jehovah-Shammah’ (Ez.
48:35), significando ‘o Senhor Super-abundante’, aquele que
é Suficiente. Assim, oito segue o sete. Sete significa
completo, e, contudo o Senhor nunca para aí _ Ele é
superabundante.
Agora vamos abordar cada um desses diferentes aspectos _
essas oito ‘notas’ na escala da redenção _ com uma pergunta:
a questão ‘Por quê?”“, e nós a aplicamos primeiro à
Encarnação: Por que a Encarnação? Por que foi necessário que
o Filho de Deus tomasse a forma humana e a natureza humana?
POR QUE A
ENCARNAÇÃO?
Naturalmente, para
responder isto completamente, temos a obrigação de
considerar todo o pensamento Divino e a concepção na
criação do homem. A concepção do homem na mente de Deus, a
vocação e o destino do homem _ tudo isso representa uma
coisa muito importante na mente de Deus. Mas nós temos que
permitir que isso venha a este ponto, a fim de nos levar
mais adiante. Podemos dizer _ e corretamente _ que a
Bíblia é toda ela sobre Deus. Isto é verdade. Podemos dizer
que a Bíblia é toda ela sobre o interesse de Deus em Seu
Filho, e isto é totalmente verdade. Porém quando você se dá
conta de ambos os fatos, você descobre que não pode
separá-los do homem. A Bíblia é toda ela sobre o Filho de
Deus _ sim, mas é sobre Deus e Seu relacionamento com o
homem, e o relacionamento do homem com Ele. Quando você
disser tudo, você chega no homem. Não deveríamos ficar
interessados num Deus remoto, fora do campo de vida humana.
A verdade é que tudo tem que se focar aqui em baixo, no
homem, e descobrimos que a Bíblia é o livro do interesse de
Deus no homem. De alguma maneira os interesses de Deus estão
inexplicavelmente relacionados com o homem _ sua vocação e
seu destino. Tudo isto e o que isto implica será reunido no
que iremos dizer sobre a encarnação.
Por quê a encarnação? A resposta tem três lados.
Primeiramente, por causa da redenção do homem. Segundo, por
causa da reconstrução do homem. E terceiro, por causa da
perfeição e da glorificação do homem.
(1) Por causa da redenção do homem
Primeiramente, por causa
da redenção do homem. A idéia comum sobre redenção está
associada com o mercado de escravos _ ir ao mercado de
escravos e comprar, redimir, aquilo que foi posto a venda.
Existem, de fato, certos fragmentos da Escritura que dão
esta idéia. “Vendido sob o pecado” (Rom. 7:14) é uma frase
escriturística, mas precisamos de algum esclarecimento para
isso. Você diz que redenção significa a ‘compra’ de um
homem em um mercado de escravos. Ele foi posto à venda.
Verdade; mas quem o pôs a venda? Até que você examine esta
questão e responda, você não terá o significado de
redenção. Quem o pos à venda? E se vendeu a si mesmo? Isto
coloca um novo aspecto sobre as coisas. Falamos de um homem
‘vendendo a si mesmo para o Diabo’. Mas como ele fez isto?
Bem, ele não se vendeu objetivamente, como quem vende
alguns bens, alguma coisa, algum objeto, para alguém. Ele
se vendeu a si mesmo subjetivamente _ ele se vendeu em sua
alma. Ele realmente vendeu a sua alma ao Diabo.
Mas o que aconteceu exatamente? Vamos colocar da seguinte
forma: Houve um dia quando alguém bateu, e ele abriu a
porta; e aquele alguém começou a falar, e para falar
traiçoeiramente, usando uma bonita linguagem, e vestido em
termos bem atraentes; e, ao invés de bater a porta na cara
daquele visitante, ele abriu um pouquinho a porta e escutou.
Lembre-se _ este é sempre o primeiro passo para a
escravidão, este é o primeiro movimento em direção a uma
situação que exige redenção _ ouvir ao Diabo, e não reagir
imediatamente com a pergunta: É esta a verdade de Deus, ou
isto é falso para com Deus? É Deus uma pessoa como essa, ou
Ele é diferente disso? Se todo cristão reagisse desta forma
às sugestões e insinuações de Satanás, que situação
diferente iria ocorrer na vida de muitos cristãos! Há
muitos que estão em terrível escravidão porque eles ouviram
e abriram a porta; nunca se confrontaram com esta questão:
Você realmente acredita que Deus é um Deus como este?
Deixe-me exortá-lo a tomar esta questão ao seu problema
atual _ situações e condições, acusações e condenações que
o inimigo está sempre tentando lançar sobre você, a fim de
levá-lo para a escravidão _ e dizer: Deus é realmente
assim?
A Raiz do Pecado:
Incredulidade
Quando o homem abre a
porta de sua alma e ouve ao inimigo, ele abriu a si mesmo
para a incredulidade. E lembre-se _ a incredulidade é a
raiz do pecado. Fiquemos bem certos sobre isto. Pode haver
motivos por trás, mas a raiz do pecado é a incredulidade. É
uma coisa que Deus não irá ter, uma coisa que põe Deus para
trás, que o desprende. Quando há qualquer incredulidade,
Deus fica pra trás; enquanto isto persiste, a brecha
aumenta. Deus jamais irá se engajar onde exista
incredulidade. Isto parece elementar? Isto é algo que nos
persegue até o fim. Esta questão de fé em Deus é a base da
nossa educação. Que seja dito que a medida na qual Deus não
se compromete a Si mesmo, ou se compromete, é a medida da
nossa fé. Quando o homem abre a porta para a incredulidade,
Satanás põe o seu pé para dentro, diretamente para a alma do
homem, e nunca o tira dali. Ele mantém aquela pegada na
alma do homem a partir de então. De modo que agora a alma do
homem, como ele é por natureza, fica ligada com os poderes
do mal, e a força dessa ligação é a incredulidade. Até que
esta incredulidade seja totalmente quebrada, despedaçada, a
união entre o homem natural e Satanás continua.
A redenção, ou reivindicação, começa com a fé: isto é o que
poderíamos chamar de evangelho simples. A fé é o começo exato
da redenção. Mas a fé é também a base da redenção contínua,
contínua reconquista ou reivindicação. A redenção, embora em
Cristo esteja completa e perfeita, é algo que prossegue:
nós estamos ‘recebendo o fim da fé, a salvação da nossa
alma’ (1 Pe. 1:9). Esta questão prossegue continuamente; é
progressivo. Embora final na obra de Cristo, ela começa em
nós com o primeiro exercício de fé _ crer em Deus _ e
prosseguir nesta base até o fim. Quão verdadeiro isto é,
quando falhamos em crer em Deus, cessamos de crer em Deus, e
temos questões sobre Deus, imediatamente entramos em algum
tipo de escravidão; Satanás obtém certo apoio, ou consegue
algum ganho. Imediatamente alguma dúvida sobre o Senhor
entra, e nos encontramos imediatamente presos; e a única
maneira de se livrar é uma reconquista da fé em Deus
novamente.
Agora, devido a sua incredulidade, Adão trouxe e estabeleceu
para toda a raça humana um elo da alma com os poderes do
mal. E esta é a natureza da escravidão. Ele é vendido para
um outro. Isto coloca o fundamento para um real e verdadeiro
significado da redenção. Por que a encarnação/ ‘Um último
Adão chegou para a luta e para o resgate’: um outro Homem
chegou para redimir o homem. Mas oh, veremos, enquanto
prosseguimos, que isto não foi mera atividade objetiva _
não foi apenas as coisas que Ele fez. Ele era, em Seu mais
íntimo Ser, o Redentor. Deixe-me colocar isto de outra
forma: Ele era a redenção. Ele não apenas fez algo, mas Ele
era aquilo. Isto irá ficar mais claro logo adiante. Porém
aqui vemos a necessidade de um Homem que viesse para
resgatar: um Homem que, devido a Sua não implicação pessoal
na herança do pecado de Adão, possui uma vantagem clara e
única. A encarnação foi para providenciar redenção para o
homem em um Homem, e não apenas para o homem por meio de um
Homem. Espero que você entenda o significado disso. É uma
coisa tremenda ver não apenas o que Jesus fez, mas o que Ele
era para resolver a situação.
(2)
Para a Re-Constituição do homem
Pelo ato de
Adão, como vimos, o homem se tornou desordenado em sua
constituição íntima, desarranjado, quebrado, um outro tipo
de ser diferente daquilo que Deus o tinha feito e tinha
intencionado que ele fosse. Ele foi roubado, e por causa
disso deficiente; enganado, e por isso defraudado. Ele
perdeu aquilo que tinha _ sua inocência. Ele perdeu aquilo
que Deus queria que ele tivesse, e já tinha providenciado
para ele, na base da fé em Si mesmo. Ele se tornou um ser
culpado. Lendo atrás com nossa Bíblia em nossas mãos, e a
revelação plena da Escritura, somos agora capazes de
entender o que o homem era pra ter. Tudo se torna claro
agora. Ele era pra ter duas coisas.
Primeiro, ele era pra ter o Espírito de Deus habitando
dentro dele. Ele era pra ser o templo de Deus. Toda
Escritura agora torna isto perfeitamente claro, que esta era
a intenção inicial de Deus, que Ele pudesse habitar no
homem, que o Espírito de Deus pudesse residir dentro dele.
Segundo, ele era pra ter dentro dele aquilo que é agora
chamado no Novo Testamento “Vida Eterna” _ a vida que não
acaba, a Vida Divina, a Vida não criada. Porém ele perdeu a
vontade de Deus em ambos os aspectos. A encarnação teve o
propósito expresso de gerar uma ‘nova criação’ de homem,
onde aquelas duas coisas pudesse se tornar realidade: o
homem agora habitado pelo Espírito de Deus; o homem
possuindo a Vida Eterna. Esta é a resposta à pergunta: Por
que a encarnação? E deixe-me repetir que o Senhor Jesus não
apenas efetuou isto: Ele próprio foi o primeiro desta
ordem, para gerar uma outra raça dessa espécie.
(3) Para o
Aperfeiçoamento e a Glorificação do Homem
E finalmente, a
perfeição e a glorificação do homem. Naturalmente, estas
duas coisas são claramente vistas em Jesus, o Filho do
Homem. Algumas das coisas mais sérias da Palavra de Deus são
ditas nesta conexão. “Embora fosse Filho, contudo aprendeu a
obediência por aquilo que sofreu”. (Heb. 5:8). “Ele foi
aperfeiçoado através dos sofrimentos.” (Heb. 2:10). Não
iremos parar com esta teologia ou doutrina. Podemos focá-la
em uma palavra que já temos usado e sublinhado. Como foi Ele
aperfeiçoado, ou tornado completo?
Penso em fé. Ele, como homem, aceitou voluntariamente uma
base de fé _ para viver Sua vida sobre o princípio da fé em
Deus, Seu Pai. E foi em relação a isto que cada prova e
teste, e provação teve seu significado _ para ver se por
algum meio o inimigo podia enredar o último Adão, como fez
com o primeiro. Ele teve êxito com a primeira raça em apenas
um ponto, e este ponto foi a incredulidade. Uma manobra tão
bem sucedida poderia levá-lo a crer que não havia melhor.
‘Isto é o que produz o resultado - este é o ponto sobre o
qual focalizar’, podemos quase ouvi-lo dizer. Isto abre a
vida do Senhor Jesus muito mais plenamente e claramente para
reconhecer que o foco principal de todas as Suas provas,
testes e assaltos satânicos, cada coisa inimaginável que
estava trabalhando contra Ele _ e nós de modo algum temos a
história toda _ tinha como seu objeto a insinuação de alguma
questão sobre Seu Pai. O inimigo sabia que a devastação de
uma nova criação poderia ser trazida sobre esta questão. E
ele sabe isto hoje, em relação a você e a mim. Então, o
Filho do Homem aperfeiçoado pelos sofrimentos. De que forma?
Quais foram os Seus sofrimentos? Não me refiro aos Seus
sofrimentos físicos. Seus sofrimentos físicos não foram
outra coisa senão o inimigo tentando atingir a Sua alma. O
verdadeiro sofrimento que o Filho de Deus, o Filho do Homem,
conheceu foi esta constante e persistente pressão investida
de todo lado, os esforços incessantes do inimigo em se
posicionar
entre Jesus e Seu Pai. Esta foi a essência de Sua agonia
suprema quando gritou: ‘Por que me abandonaste’. Eu não
creio, e acho que você também não crê, que aquele
grito de Jesus no jardim _ “Se for possível, afasta de mim
este cálice” _ foi um clamor de um Homem que não estava
preparado para morrer, até mesmo o tipo de morte que ele
estava para enfrentar. Este tipo de coisa tem, naturalmente,
dado lugar para uma doutrina e uma teologia extremamente
falsa. Jesus sabia o que Ele tinha que enfrentar ao ser
feito pecado: sabia da última e terrível questão posta
naquele momento, quando a face do Pai iria se retirar dele,
e Ele seria abandonado, como a cabra expulsa para o deserto,
sozinho, _ abandonado por Deus naquele terrível momento.
Este foi o ponto do Seu sofrimento, e este foi a soma do Seu
sofrimento.
Porém, através de tudo isto, através de todos os
sofrimentos, Ele foi tornado perfeito _ perfeito na fé. Que
significado isto dá a palavras tais como essas, tão
familiares a nós, e usadas tão superficialmente: “A vida que
agora vivo na carne, vivo-a pela fé do Filho de Deus, o qual
me amou e a Si mesmo se entregou por mim”. (Gal. 2:20,
A.V.). Que fé para se viver por ela! Se somente esta fé
pudesse ser transmitida para nós _ se somente esta fé
pudesse estar em nós no poder do Espírito Santo! Então
poderíamos enfrentar tudo. “Eu vivo pela fé do Filho de
Deus” — provado até o último grau, e triunfante. Fico feliz
que o final da história não ficou sobre a nota do abandono
de Deus, mas sobre a nota do triunfo: “Pai, em Tuas mãos
entrego o meu espírito”. Está tudo consumado _ É vitória!
Esta é a fé aperfeiçoada através do sofrimento, e tornada
completa pela obediência _ pois a obediência é sempre a
prova da fé. Não existe tal coisa de fé sem obediência.
POR QUE A TRANSFIGURAÇÃO
Neste ponto poderíamos
colocar uma questão extra: Por que a transfiguração? A
transfiguração representou o fim de Seu próprio curso, o
final do Seu próprio caminho. Ele tinha viajado pela estrada
da provação, a estrada da absoluta consagração ao Seu Pai.
Em relação a Ele, pessoalmente, Ele não tinha mais que
avançar. Tinha sido obediente _ aquilo foi o fim da estrada
para Ele. A partir daí a glória podia vir, então. Para Ele
há glória _ a transfiguração: um Homem que tinha andado todo
caminho com Deus em obediência de fé foi glorificado. Porém,
quanto ao resto, isto é para nós _ esta é a nossa parte. Ele
veio da glória, e, ‘pelo
gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz’
(Heb. 12:2). Ele tomou o nosso lugar, a fim de nos levar
para o Seu lugar _ para a glória _ “muitos filhos à glória”
(Heb. 2:10), e Ele por isso foi tornado ‘perfeito através do
sofrimento’. Um Homem glorificado, através da fé, para o
homem _ nada separado de nós.
Sua glorificação, como veremos mais tarde, é uma parte da
redenção. É uma parte da re-constituição; e por isso, uma
vez que a redenção e a re-constituição são para nós em
Cristo, a glorificação também é para nós Nele.
‘Glorificados juntamente com Ele’ (Rom. 8:17). Ele foi capaz
de dizer no final: ‘Pai, tenho glorificado a Ti sobre a
terra’; e por isso Ele também podia falar: ‘Pai,
glorifica-Me... com a glória que Eu tinha contigo antes da
fundação do mundo’ (Jo. 17:4–5). O ponto é que aqui sobre
esta terra o Senhor Jesus viveu uma vida de fé, e foi
absolutamente dependente do Pai para tudo, como você
e eu somos. Ele teve uma vida de fé tão absoluta como
jamais foi exigido de nós. E sobre esta base, como Homem,
Ele caminhou em tal satisfação a Deus que pode ser
glorificado. Mas lembre-se, a encarnação não foi para Ele
mesmo: foi para nós, e tudo o que estava ligado à encarnação
foi para nós. É nossa redenção, nossa re-constituição e
nossa glorificação através do aperfeiçoamento Dele.
O Que Cristo é Para Nós
Agora, tudo isto lança o
fundamento para o crer — é uma pena que não tenhamos a
tradução exata — ‘crer
no, ou em Jesus’. Apenas dizer: “Crer no Senhor Jesus
Cristo”, é insuficiente; deixa muito a desejar. Isto é
posicional: indica uma mudança de posição, um movimento:
‘Crer no Senhor Jesus Cristo. ’ Realmente significa isto:
que há na fé verdadeira algo que O faz, por assim
dizer, em nós mesmos, e nós mesmos dentro Dele. Não me
compreenda mal: Não estou falando sobre a Deidade _ estou
falando sobre o Filho do Homem. Há algo de profunda
significância espiritual nesta palavra na Tabela do Senhor:
“Meu corpo, que é por vós”. Rejeitando as idéias erradas e
extremadas associadas com a transubstanciação, e tudo mais,
atrás disso existe algo deixado para a dispensação para
reconhecer, até que Ele venha. Atrás disso existe este
princípio: aquela apropriação da fé do Senhor Jesus faz em
nós o que Ele é. Fomos redimidos pela fé Nele. Fomos
re-constituídos pela fé Nele. Fomos aperfeiçoados pela fé
Nele. Estamos glorificados Nele pela fé. Mas isto não é
apenas objetivo _ é uma questão de tomarmos a posição que
tudo o que é verdade para Ele é verdade para nós.
Quão impossível é explicar! Mas você e eu temos que aprender
o que isto realmente significa tomar a nossa posição, em fé,
em relação aquilo que Jesus Cristo é _ porque, então, algo
acontece. Os nossos problemas surgem do permanecer no
terreno do que somos, ou sobre aparências ou argumentos _
algo objetivo _ ao invés de assumir nossa posição sobre o
terreno de que o Filho de Deus se fez carne, não apenas
para realizar, mas para Ele mesmo ser a minha redenção. E por
fé Nele há redenção. Ele veio para ser a minha
re-constituição: e, pela fé Nele, através da ação do
Espírito Santo, algo acontece, e eu sou re-constituído. Ele
veio para ser a minha perfeição: e pela fé Nele o Espírito
Santo realiza a obra da
minha perfeição. Ele veio para ser a minha glorificação: e a
fé dá ao Espírito Santo o requisito, essencial,
indispensável campo para nos levar para a glória de Cristo,
para sermos juntamente glorificados com Ele.
Até crermos, e crer no
Senhor Jesus, o Espírito Santo permanece imóvel. Você pode
talvez enganar a você mesmo, mas você não pode enganar o
Espírito Santo. Você não pode ter um pé em um terreno e o
outro pé em um outro terreno. Se você tiver um pé naquilo
que você é, e o outro pé _ você pensa _ no que Cristo é,
você é uma pessoa dividida. O Espírito Santo não se engaja:
Ele fica imóvel e espera. Ele diz: Ponha ambos os pés sobre
Cristo, e, então, irei começar a fazer algo.
CAPÍTULO 2 - A VIDA TERRENA DO SENHOR JESUS CRISTO
Quando perguntamos: Por
que a vida terrena do Senhor Jesus? — é claro que esta
questão implica e contém dentro de si mesma outras questões.
Por exemplo: Por que foi necessário que Ele estivesse aqui
por trinta e três anos? Novamente: Por que foi necessário
que a maior parte do tempo fosse gasta numa vida privada, e,
até onde sabemos, em segredo? Tentaremos responder essas e
outras perguntas subsidiárias, até certo ponto, na medida em
que prosseguimos.
Muito tem sido feito da vida terrena de Cristo _ usualmente
para o propósito de mostrar que havia uma pessoa chamada
Jesus de Nazaré, e quão boa pessoa, e quão grande mestre Ele
foi, muito mais do que os outros mestres; ou pelo menos para
mostrar que Ele era mais do que um mero homem. Pode haver
outros propósitos em se escreverem livros sobre a vida de
Jesus, porém, isto geralmente compreende usualmente o
objeto. Naturalmente, vendo que Jesus se tornou uma grande
figura histórica mundial, é interessante saber onde Ele
nasceu, onde e como Ele foi criado, por onde Ele andou
na terra, o que Ele ensinava, os milagres que Ele
fazia, e assim por diante. Tudo isto fornece material para
uma grande discussão e controvérsia. Os milagres forneceram
muito alimento para os psicólogos, e seu ensino para os
teólogos e doutrinadores. Mas, quando você disser e escrever
tudo que podia sobre essas questões, você pode não ter
avançado muito além do que história humana. A história
humana, como tal, apela muito para a emoção, para a
imaginação, mas ela não muda o caráter. Não importa quão
fascinante, impressionante e comovente ela possa ser, se
você apenas deixá-la lá, terá obtido muito pouco do
significado real da vida terrena do Senhor Jesus.
A vida terrena de nosso Senhor não foi para essas intenções.
O registro de Sua vida não foi meramente para nos fornecer
uma data e uma informação e uma matéria interessante sobre
certo homem _ embora grande e maravilhosa _ que viveu há
muito tempo atrás, em tal e tal parte do mundo, e disse e
fez tal e tal coisa. Ele não veio para isso. Ele não esteve
aqui para trinta e poucos anos, absolutamente. Sua vida foi
para mostrar _ não meramente que Ele era, em muitos
aspectos, diferente dos outros homens, mas que Ele era uma
ordem diferente de raça humana em relação ao resto. Até que
você tenha reconhecido isto claramente, você não encontrou a
chave para a vida terrena do Senhor Jesus. Ele encontrou
alguns dos melhores tipos de homens de Seus dias, mas entre
Ele e eles havia um grande abismo _ não havia passagem de um
lado para o outro.
Uma Diferente Ordem
de Raça Humana
Jesus foi um mistério.
Ele não foi apenas misterioso _ Ele foi um mistério. Ele
não foi apenas mal compreendido. Tanto tem sido falado sobre
Ele, ‘Ele foi um homem completamente mal compreendido’. Não,
Ele não foi apenas mal compreendido _ Ele era uma pessoa não
compreendida, e isto é muito diferente. Jesus não se
conformava com nenhum dos princípios e métodos que regulam
este mundo. Ele não fazia o que se esperava que Ele fizesse,
tanto por parte do mundo como por parte dos seus amigos.
Muitas vezes Ele frustrava tais expectativas: Ele não
cumpria o esperado porque lhe era pedido, ou porque era isso
que se esperava Dele. Ele colocava uma brecha entre a
expectativa e tudo o que Ele fazia. E dentro dessa brecha
você pode colocar esta singularidade que havia sobre Ele,
como uma ordem de Homem _ Sua ‘diferença’ dos demais
homens. Se você tentar adaptá-lo, tentar fazer dEle uma
parte da ordem humana estabelecida, tentar mostrar como Ele
fazia isto e aquilo, numa forma agradável, simplesmente
porque Ele era tão amável, você perdeu totalmente o ponto.
Por que, por exemplo, quando surgiu aquela situação
embaraçosa no casamento em Caná da Galiléia, tendo sido
levado a Ele como Sua oportunidade, recusou Ele aquilo como
algo que soava bastante repulsivo? Em relação à expectativa
do povo, nada mais podia ter acontecido.
E nós encontramos o mesmo
tipo de coisa repetida em outras situações. Ele não fazia o
que as pessoas esperavam que Ele fizesse _ Ele muito
frequentemente fazia aquilo que elas jamais esperavam que
Ele fizesse. Ele fazia o inesperado _ tomava as pessoas, não
somente em completa surpresa, mas levava-as aos seus limites.
Elas simplesmente não podiam segui-Lo em algumas das coisas
que Ele fazia. Ele não ia onde as pessoas esperavam que Ele
fosse, conformando-se assim aos seus programas. E ele
certamente não falava o que elas esperavam que Ele falasse _
muito longe disso. Pelo contrário, Ele dizia muitas coisas
inesperadas _ coisas difíceis, chocantes, que ofendiam.
Agora, Jesus não era apenas um ser diferente, um ser
singular. Há pessoas que se comportam desta maneira, porém
em terrenos totalmente diferentes. Elas apenas tentam ser
singulares, excepcionais, diferentes, fazer o inesperado,
serem complicadas. Conheci um homem cristão, há alguns anos
atrás, que ganhou um grande nome neste mundo, e que, devido
à importância tremenda que se tinha dado a ele, desenvolveu
uma ultra consciência de si mesmo. Numa ocasião, estava
conversando com ele no jardim, e, após um pouco de tempo,
sugeri que entrássemos em casa. Tomei-o pelos braços, e ele
instantaneamente se endireitou, ofereceu resistência com os
seus calcanhares e se recusou totalmente a sair do lugar!
‘Bem!’ Pensei eu, ‘o que é isto?’ Tive que esperar um minuto
ou dois _ evidentemente até que ele tivesse se convencido a
si mesmo que deveria se mover _ e, então, relaxou e
caminhamos juntos _ porém não de braços dados! Tinha
aprendido minha lição. Vim a saber que ele tinha adotado
isso como um estilo: que ele jamais permitiria ser
influenciado, ou afetado, ou conduzido, ou de alguma maneira
movido, por um outro ser humano. Ele havia chegado numa
‘ultra’ posição na qual nem mesmo caminharia de braços
dados com um irmão cristão, a não ser que o Senhor lhe
mandasse! Enfim, naturalmente, isto se transformou num
complexo muito sério. Mas você entende o que eu estou querendo
dizer. É possível agir desta maneira numa base totalmente
falsa.
Jesus não agia assim. Pode ter parecido que Ele se
comportava assim algumas vezes, mas não era sobre aquela
mesma base. Precisamos ser muito claros sobre isto _ esta
maneira estranha e desconhecida Dele, muitas vezes perplexa
e mistificada, que desapontava algumas vezes, e outras vezes
até mesmo aborrecia e provocava ira. Mas esses são fatos;
são características claramente reconhecidas da vida terrena
do Senhor Jesus. Essas características não eram da ordem
que eu falei _ uma consciência ultra, um ficar distante
deliberado, tentando ser diferente dos demais, vestir uma
jaqueta apertada, dura e inflexível. Não havia nada disso
sobre Ele. Temos que explicar isto, para não haver má
compreensão. Lá está Ele, um Homem desconhecido.
O LADO
NEGATIVO - `CIRCUNCISÃO NO CORAÇÃO´
Aqui, então, estava um
homem _ com ‘M’ maiúsculo — vivendo uma vida humana numa
base diferente daquela dos demais homens. Havia um aspecto
negativo e positivo daquele fato. O aspecto negativo era
este: Ele era, se eu puder trazer na expressão aqui,
‘circuncidado no coração’. Isto é, Ele era totalmente
separado de qualquer princípio particular, em Sua mente,
coração e vontade. Ele não usaria a Sua mente, ou
pensamentos, ou faria algum julgamento, baseado em qualquer
princípio particular de qualquer ordem. Nem tinha Ele
qualquer espaço particular em Seus sentimentos ou em Sua
vontade. Aqui está um Homem que possui uma alma _ uma mente,
um coração e uma vontade _ que fazia dele um verdadeiro ser
humano, mas em cuja alma a vontade própria tinha sido posta
completamente de lado.
Você não pode fazê-lo agir ao longo de qualquer linha
ordinária da razão humana, não importa quão boa e correta
ela possa parecer. ‘Eles não têm vinho _ por isso...’
Surge um argumento, uma razão. ‘Por isso’ ... isto e aquilo
e qualquer outra coisa, constituindo um caso muito bom para
Ele intervir e fazer alguma coisa. Poderia ser argumentado
de quase todo ponto de vista como sendo uma coisa que Ele
deveria fazer: do ponto de vista do homem, do ponto de vista
da vindicação de Sua missão, o estabelecimento de Sua Pessoa
Divina. Sim, você pode argüir isto de todo e qualquer ponto
de vista, mas ele não se move sobre uma mente que está
influenciada por qualquer tipo de argumento. Sua única
consideração é: Meu Pai deseja isto? E: Meu Pai deseja isto
agora? E: Meu Pai deseja isto desta maneira? Estas são as
coisas que influenciam Sua mente e Seu coração, e Sua
vontade, e Sua alma. Até que Ele esteja certo a respeito
disso, nada neste mundo ou nesta terra, nenhum argumento ou
apelo, ou caso, irá fazê-lo mover. Pois Ele está fazendo
algo, e nós iremos ver presentemente o que é isto que ele
está fazendo.
Disse que Ele era totalmente ‘circunciso de coração’. Esta é
uma frase bíblica (veja Rom. 2:29). Precisamos compreender
o significado disso. Significa que no coração ocorreu uma
divisão absoluta entre duas coisas. Se preferir, pode
substituir ‘alma’ por ‘coração’; é a parte mais íntima do
homem. Algo foi feito Nele, interiormente, e Ele se manteve
firme neste terreno até o fim. Foi sobre este terreno, de
uma forma ou de outra, que as batalhas mais terríveis de Sua
vida foram travadas. Algumas vezes a investida vinha por
meio de um amigo e discípulo mais íntimo: “Senhor,
tem compaixão de ti; de modo nenhum te acontecerá isso.”
“Para trás de Mim, Satanás, pois só cogitas das coisas que
são dos homens” (Mat. 16:22–23). ‘Sua perspectiva é aquela
de homens _ meramente no nível de homens. Eu não
pertenço a este terreno dos homens no qual você se move.
Outros homens podem ouvir o seu argumento, serem
influenciados, persuadidos; mas quanto a Mim _ não!’ E assim
é até o fim: Ele firmemente manteve-se apegado àquele terreno _ o terreno
do qual nos contentaremos em chamar de o terreno da
circuncisão interior do coração.
Isto, como tenho dito, foi o foco principal do esforço
persistente de Satanás: a razão, o argumento, quanto ao por
que Ele deveria, ou não deveria, fazer certas coisas. É uma
questão de argumento, algumas vezes o argumento da absoluta
necessidade. ‘O seu corpo precisa de pão, ou você irá
morrer. A necessidade exige que você transforme estas pedras
em pães’. Assim dizem muitos homens, porém não o Filho
Divino de Deus, não o Filho do Homem. Jesus repudiou este
argumento absolutamente.
Sim, o ponto focal de Satanás de cada ataque estava
justamente aí _ tentar fazer com que Ele fizesse, agisse, se
movesse, decidisse, de acordo com os padrões humanos, ser
influenciado pelos ditames ordinários da vida humana como
você conhece; e Ele se negou. Sendo este o ponto focal de
todos os ataques e esforços satânicos, este foi o campo de
Sua absoluta vitória sobre Satanás e sobre o mundo. “O
príncipe deste mundo se aproxima: ele nada tem em Mim” (Jo
14:30). O que satanás procurava? — a independência. Se tão
somente ele pudesse conseguir isso, se tão somente ele
pudesse colocar isto em ação, através da mente, do coração
ou da vontade, a mesma coisa aconteceria ao último Adão
como aconteceu com o primeiro, e o reino passaria novamente
para as mãos do Diabo. Mas ele encontrou um tipo diferente
de Homem, que não vinha a ele naquele mesmo terreno
absolutamente. Jesus não apenas disse, ‘O Diabo está vindo
até Mim..., ‘Satanás se aproxima de Mim...’ ; Ele disse: “O
príncipe deste mundo se aproxima” _ implicando todo o
princípio deste mundo, como o reino de Satanás; o princípio
particular do príncipe deste mundo. Mas _ “ele nada tem em
Mim”.
LADO POSITIVO: COMPROMISSANDO COM A VONTADE DO PAI
Aquele, então, é o lado negativo. O aspecto positivo era que
Ele estava absolutamente compromissado com a vontade de Seu
Pai. Ele não estava apenas se negando, resistindo,
reprimindo, suprimindo, pondo de lado. O motivo disso tudo
era o Seu absoluto cometimento com a vontade do Pai. A
vontade do Pai era a coisa dominante, a realidade mais
positiva em Sua vida, do início ao fim. E a vontade do Pai
prevalecia em cada detalhe, da forma mais meticulosa. Isto
estava estabelecido em toda a Sua vida sobre a terra.
Foi estabelecido inicialmente nos primeiros trinta anos, do
qual chamamos de Sua vida particular. Aqueles trinta anos
também estavam divididos em dois. Você percebe esta divisão
no evangelho de Lucas, capítulo 2. Primeiro, de Sua
dedicação no Templo até Ele alcançar a idade de doze anos:
isto é o que é dito “E a criança crescia, e se fortalecia,
cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre Ele” (v.
40). Então, da idade dos doze anos em diante: “E Jesus
crescia em sabedoria e estatura, e em graça para com Deus e
com os homens.” (v. 52).
Não iremos agora parar para
analisar isto. É assunto para uma análise, que é muito
proveitosa, se você procurar fazê-la. Você vê as áreas em
que este progresso foi feito _ física, mental e espiritual;
e sobre tudo, o veredicto é: a graça de Deus. A graça de
Deus, a Divina aprovação, a Divina satisfação, estava sobre
a Sua vida. Ele crescia diante do Senhor como alguém
agradável. Por quê? “Não sabeis que me convém tratar dos negócios de meu Pai?”—
ou, se preferir a tradução alternativa, “Que Eu devo estar
na casa do Meu Pai?” (v. 49). Seja o que for que isto
significasse, certamente significou uma consciência do Pai
acima do relacionamento ordinário, natural. Observe que isto
está colocado bem no meio de algo que causava bastante dor
de coração e perplexidade a Seus pais na carne.
Sim, havia um absoluto compromisso com a vontade de Seu Pai,
e isto foi estabelecido por trinta anos na vida ordinária,
comum. Penso que isto é uma coisa tremenda. Por que houve
trinta anos em silêncio e em segredo, até onde sabemos?
Temos tão pouca luz sobre isso. Por quê? Simplesmente pela
mesma razão. Se você quer a explicação, vá ao Velho
Testamento. Você se lembra que os levitas iniciaram o
serviço deles à idade dos trinta anos. Lucas nos fala sobre
Jesus iniciando o Seu ministério: “Jesus... quando Ele
começou... tinha cerca de trinta anos...” (Luc 3:23). O
Senhor Jesus era, em tipo, um Levita, embora viesse da tribo
de Judá. (Compare Heb. 7:13–14). Mas a entrada oficial de um
levita no ministério à idade de trinta anos jamais era
vacilante, indecisa. Havia uma história lançada por detrás
disto. A história do levita, a vida do levita, o
comportamento do levita. E, embora não tenhamos nada que
faça isto muito claro para nós, talvez porque nuca houvesse
qualquer ocasião para isso, eu me aventuro a dizer isto, se
qualquer homem jovem da tribo de Levi naquela velha
dispensação tivesse vivido uma vida libertina, ele jamais
teria se tornado um oficial levita ao alcançar a idade de
trinta anos. Não, o selo tinha que ser colocado sobre
aqueles trinta anos, nos quais o homem tinha caminhado
diante de Deus. E o mesmo princípio se aplicava à vida de
Jesus: Deus o testou, o provou, nos caminhos da vida
ordinária.
Isto deve falar muito seriamente a nós, como o princípio da
aprovação de Deus. Você pode estar desejando muito entrar
para o ministério: Deus pode estar muito desejoso em que
você esteja pronto para ser trazido para o ministério! Em
todos os caminhos da vida ordinária você irá atravessar
isto, você será provado; o olho de Deus está sobre você.
Lembre-se de que quando Jesus, aos trinta anos de idade,
veio ao Jordão, o Céu estava aberto e uma voz disse: “Em Ti
me comprazo” (Mar 1:11). Eu penso que isto envolveu os
trinta anos: isto falava da graça de Deus nos trinta anos da
vida ordinária, o que tornou possível a Ele assumir o Seu
ministério. Talvez não estejamos tão corretos em dizer ‘vida
ordinária’, vendo como o Diabo tentou apanhá-lo logo no
início. (Mat. 2:13–18).
Porém, seja lá o que possa ter representado os trinta anos,
não há dúvida de que os três anos e meio de ministério
público ratificou, através de fogos intensos, o fato de que
Ele estava comprometido sem qualquer reserva à vontade de
Seu Pai. Aqueles três anos e meio foram um período de fogos
intensos, a fim de fazê-lo desviar um pouco de fazer a
vontade de Seu Pai. Por cada sedução glória dos ‘reinos
deste mundo’, e por cada ameaça da ignomínia da Cruz,
Satanás procurou trazer este desvio da vontade de Deus.
Jesus lutou contra isto até o fim.
A REALIDADE DA SUA
HUMANIDADE
Por
que a Sua vida terrena? Primeiramente, para estabelecer a
realidade de Sua humanidade. Você sabe, na Velha Dispensação
tinha havido muitas aparências Divinas em forma humana.
Ninguém ousa ser dogmático nesta matéria, mas pode
perfeitamente ter sido que o próprio Filho de Deus estava em
algumas daquelas chamadas ‘teofanias’. Deus veio em forma
humana, de modo que aquelas pessoas que foram visitadas a
princípio falaram delas na condição de homens, ou um homem,
e, então, despertaram e perceberam: ‘Eu vi Deus _ Deus
esteve aqui!’ Mas estes trinta e três anos de vida terrena
não era teofania: era humanidade real. Não era um tipo
transitório, uma forma passageira, apenas uma visitação. Era
um Homem, uma humanidade verdadeira, sobre esta terra por
trinta e três anos. Não era um visitante angelical. Era um
Homem. E penso que esta é uma razão ou explanação, entre
outras, porque na Sua entrada neste mundo Ele nasceu como um
bebê, e começou desde o princípio. Ele não chegou como um
visitante em plena maturidade; Ele começou exatamente no
início — embora com uma diferença _ contudo pela mesma
porta que os demais homens, e seres vivos aqui, através da
infância, da adolescência e juventude, para o estado de
homem adulto, aceitando uma vida na base da absoluta
dependência de Deus, como qualquer outro homem.
Se você refletir, verá que há muito apoio a isto. Por que
deve Ele, na infância, ser levado para longe por José e
Maria, para fora do país, por motivo de estarem à Sua procura? Por
que o Céu não desceu e O protegeu de maneira miraculosa, a
fim de preservá-Lo, opondo-se àquelas forças que estavam
contra Ele? Visto que Ele tinha que ser tomado e levado
para longe, afastado do caminho, como qualquer outra
criança! O fato é que Ele está vivendo a nossa vida, Ele está
sujeito às nossas experiências. Pode haver elementos
miraculosos trabalhando por trás, porém, aparentemente, Ele
está faminto, sedento, cansado, perseguido _ Ele ‘suportou
tudo’, da mesma forma que você e eu. Ele está vivendo uma
vida humana. Ele aceitou voluntariamente a base da absoluta
dependência de Seu Pai. E o Pai não está fazendo uma série
de milagres _ embora na verdade a coisa toda seja um
milagre.
Uma Vida De Fé
Por
esta razão, como outros homens, Ele tem que vencer pelo
princípio da fé. Ele não tem outra vida, em princípio, mais
do que você e eu: é a vida da fé. A fé tinha que ser exercitada
a favor dele antes que Ele a pudesse exercitá-la por ele
mesmo. Não tenho dúvida de que José e Maria tiveram um
considerável exercício sobre este assunto. Eles tiveram que
olhar diretamente para aquilo e dizer: “Bem, podemos confiar
que Deus irá cuidar dEle; nós não iremos fazer coisa alguma,
mas apenas confiar em Deus”; ou dizer ainda: “Iremos seguir
e confiar em Deus”. Em ambos os casos, era fé _ fé a favor
dEle. E, então, o tempo chegou para que Ele exercitasse a fé
por Ele mesmo, e tudo para Ele tinha que estar sobre a base
da fé, tanto quanto o é para você e para mim.
Você está pensando: “E a Sua deidade?” O que dizer sobre
Seus poderes miraculosos de conhecimento em ação? Certamente
Ele conhecia numa forma sobrenatural; Ele exerceu poderes
totalmente sobrenaturais. Isto não é humanidade!” Vamos ter
isto bem esclarecido em nossas mentes. Isto não contradiz
nada do que eu tenha dito. Observe: Jesus jamais usou
os Seus poderes miraculosos da Deidade em Seu próprio favor.
Há apenas um caso que poderia ser pensado como
contrário àquela afirmação: a ocasião quando Ele não tinha
dinheiro para pagar os Seus impostos, e mandou Pedro ir ao
mar, e lá estava um peixe com uma moeda em sua boca.(Mat.
17:24–27). Você poderia dizer: ‘Seria muito bom ter aquele
poder para pagar as nossas dívidas!’ Ah, mas seja cuidadoso
_ não está tão claro como parece. Isto realmente não
contradiz o que tenho dito. Ele jamais usou os poderes
sobrenaturais em Seu próprio favor, e esses poderes nunca O
tiraram do terreno da dependência de Deus e da base da fé.
Observe que até mesmo nesse único caso não houve ação
criativa. Foi inteligência superior. Havia um peixe, e
aquele peixe tinha uma moeda, e de alguma maneira Ele sabia
que ela estava lá.
A INCREDULIDADE NÃO É
TOCADA POR MILAGRES
Mas
vamos perseguir o seguinte. Tome os milagres. Os milagres
faziam referência, de um lado, à Sua Deidade: mas, mesmo
assim, eles não tinham um efeito característico de mudança
sobre as pessoas que viam ou participavam deles. Eles eram
apenas para um testemunho de quem Ele era. Você entende o
significado disso? Com todos os Seus milagres, no fim o
princípio de incredulidade não tinha sido arrancada de
sequer um indivíduo! Esta é a tragédia de tudo isto! Este é
um tremendo argumento. Embora eles vissem tudo o que Ele
fez, a profunda raiz da incredulidade permanecia intocável.
A coisa impressionante _ mesmo com os próprios discípulos _
foi que eles ainda eram capazes tamanha incredulidade. “Ó
néscios, e tardos de coração para crer ...!” (Lucas 24.25).
“Ele lhes lançou em rosto a sua incredulidade...” (Mar.
16.14). Com tudo o que eles viram, aquilo não tocou o
caráter, não tocou a natureza deles.
Aquilo foi, por isso, dado mais para testemunho _ um
testemunho em relação a quem Ele era. Este é um lado. Pois,
você vê, há dois lados nesta questão. Há o lado de Sua
Deidade, como João resume tudo: “Estes,
porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo,
o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu
nome. (Jo.20.31). Foi para testemunho quanto a quem Ele era
essencialmente. Porém, apesar disso, isto não teve tanto
efeito sobre a natureza deles, a ponto de se livrarem da
incredulidade. Sim _ por um instante eles puderam crer nele;
mas isto não significa que a incredulidade lá no fundo foi
radicalmente tratada. Os milagres não fizeram isto, e Jesus
não esperava que eles tivessem este efeito. Ele deixou bem
claro que Ele não estava edificando sobre os Seus milagres
qualquer esperança nesta direção. Ele ainda era dependente
do Pai para o efeito real.
E deixe-me dizer aqui, num parêntesis _ é algo para se
pensar sobre _ não são as coisas que Ele faz para nós, mas a
vida do Filho do Homem, em toda a sua poderosa potencialidade,
seu poder, seu princípio em nós, que faz a diferença. Ele
pode curar o seu corpo de uma doença crônica, de algo que certamente irá provar ser fatal, numa forma ordinária,
porém, isto não significa necessariamente que a
incredulidade que está lá no fundo do seu coração será
tratada. Após alguns anos você pode argumentar, ou explicar
isto psicologicamente, ou de outra forma, e perder o real
impacto daquilo. Não, essas coisas feitas para nós, em
qualquer área, mesmo que possam parecer milagres, não tocam
a nossa real natureza. Não se engane: sinais e maravilhas
não são o argumento final _ não são. O argumento final é a
mudança da nossa própria natureza, enraizada, e tudo que não
faz isto desviou-se do propósito final de Sua vinda. Não é o
que Ele faria para nós, miraculosamente, por meio de coisas
exteriores: é o que Ele próprio é em nós, como um outro tipo
de Pessoa. Isto é o que importa. É ‘Cristo em você, a
esperança da glória’; não Cristo fazendo milagres para você.
OS PODERES SUPERIORES DO HOMEM,
COMO DEUS PRETENDEU
Mas, então, há algo ainda mais a ser
dito. Ele realmente tem poderes superiores para fazer e
conhecer. Embora eu não esteja por um momento sugerindo que
aquilo não tinha nada a ver com a Sua Deidade, Sua Natureza
Divina, pode muito bem ser que aquele poder e inteligência
superior _ o que podemos chamar de sobrenatural _ se eu
puder colocar isto desta forma, era o ‘normal’ para o tipo
de ser que Jesus era, como Homem. Se, sem qualquer questão
de participação na Deidade, um homem ou homens puderem ser
trazidos para um relacionamento tal com Deus, semelhante
àquele que Ele tinha, eles também podem ter aquela
inteligência superior, e podem conhecer muito mais do que
uma pessoa normal conhece sobre o que está acontecendo no
mundo ao redor. Não apenas seria através de meios físicos,
mas por meio da intuição de um espírito ligado a Deus. Eu me
aventuro a sugerir que _ colocando de lado tudo aquilo que é
físico _ tal poder não é absolutamente desconhecido por
homens e mulheres cristãos. Pedro levantou o morto; os
apóstolos curaram doenças, fizeram milagres. Eram eles Deus?
Não, mas pelo Espírito de Jesus Cristo eles foram trazidos
para um relacionamento tal com Ele, como se tivessem os
poderes dEle delegados a eles. “Maiores obras do que estas
fareis; porque Eu vou para o Meu Pai” (Jo. 14.12).
Há um significado profundo numa
palavra que ele proferiu, como registrado para nós em João
5.26-27. Esta palavra, talvez, é tão profunda para a nossa
compreensão, e não me aventuro nessas profundezas. “O
Pai...deu...ao Filho...autoridade para executar juízo,
porque Ele é o Filho do Homem”. Não porque Ele é o Filho de
Deus _ “porque Ele é o Filho do Homem”. Isto abre um campo
muito grande de inquirição, e nós não vamos entrar nele;
porém o meu ponto é este: que, sem a Deidade _ Não estou
argüindo por um momento contra a Deidade de Cristo em
conhecimento ou poder, habilidade sobrenatural _ não poderia
ser que a uma humanidade assim referida e habitada por Deus
dessa forma, de acordo com o Seu plano original, devesse ter
esses poderes que chamamos de 'sobrenaturais'? Significa
apenas ‘de uma outra ordem de inteligência’, de
conhecimento, de habilidade para fazer. Significa que o
homem é elevado a outro nível de habilidade e conhecimento,
acima do nível ordinário de homem, como o conhecemos. Não é
isto verdade sobre os dons do Espírito Santo dados à Igreja?
Por que, então, a vida terrena? Para
estabelecer o tipo de humanidade que Deus quer, para
demonstrar através de uma vida humana o que o homem seria
caso
tivesse seguido o próprio coração de Deus. Creio que esta é
a resposta. E, se foi apenas trinta e três anos e meio, o
que isto significa? Vindo através dos séculos, ouço a voz
dos profetas dizendo: “Ele foi cortado da terra dos
viventes” (Is.53.8); “Sua vida foi tirada da terra”
(At.8.33). Sua vida foi cortada no meio de sua virilidade.
Os homens não a deixaram terminar. Os homens decidiram que
aquilo não devia continuar. Os homens a trouxeram para _
sim, de um ponto de vista _ um final precoce. Ah, Satanás
não mais terá este tipo de homem aqui.
Mas este tipo de homem somente pode
ser completado por um outro lado. Nós antecipamos nosso
‘oitavo’ quando acabamos de sugerir que Ele não deixou a Sua
virilidade, Ele não deixou a Sua humanidade; Ele habita lá,
do outro lado, como Homem. Porém Ele fez aqui tudo o que era
necessário. Ele demonstrou o que o homem seria se Deus o
tivesse conforme a Sua mente. E Ele providenciou que o
restante da profecia seja cumprida: “Ele verá a Sua
posteridade, e prolongará os Seus dias” (Is.53.10). Ele foi
cortado, mas os Seus dias serão prolongados: os dias de Sua
humanidade foram prolongados em Sua Igreja. É para isto que
somos chamados. Por meio de um processo doloroso, devido a
fraqueza de nossa carne, Ele está trabalhando para fazer de
nós homens e mulheres a Sua própria semelhança. E o ponto
central de tudo isto é: a separação total do princípio da
vida própria.
CAPÍTULO 3 - A CRUZ
Dissemos que esses oito aspectos, ou
‘notas’, na escala da redenção, se sucedem um após o outro
numa seqüência harmoniosa, cada um seguindo o outro e
levando ao próximo. Nossa resposta à primeira pergunta _ por
que a encarnação? Foi tripartida: a redenção do homem, a
reconstituição do homem, e a perfeição e glorificação do
homem. Procurando responder a segunda pergunta _ por que a
vida terrena? _ Buscamos indicar o fim em vista a todo esse
processo redentor, como exemplificado na vida terrena do
Senhor como o Filho do Homem _ o modelo. A vida terrena, tão
plenamente vivida sob cada prova, foi planejada, no
propósito de Deus, para estabelecer o tipo diferente de
pessoa que Deus tem em vista através da redenção e
reconstituição, e perfeição, e finalmente a glorificação. É
necessário para nós tomar a questão inclusiva de todas essas
fases, vendo como uma leva à outra, e ao mesmo tempo o que
cada uma representa.
Porém, antes de
seguir adiante, deixe-me dizer o seguinte. O ponto é que
Deus tem colocado aqui neste mundo, no meio da humanidade,
um novo tipo de Homem, que não apenas é melhor, mais ou
menos, do que os demais homens, mas completamente diferente
dos outros homens; e disse, em efeito, ‘Este é o Homem que
tenho em vista, e eternamente este tem sido o Meu propósito
de conformar a esta imagem’. Quão importante é, portanto,
para nós compreender a natureza real e significado da vida
de nosso Senhor Jesus, como foi vivida aqui neste mundo, há
muito tempo atrás. Porém, atualmente, um Homem nos é
apresentado, completamente diferente de nós em constituição,
e ainda, como padrão de Deus para a Sua obra em nós. Isto é
algo muito importante.
A Pressão do Maligno Na
Crucificação
Assim,
então, aqueles dois pontos nos levam ao terceiro: Por que a
cruz? Vamos abordar isto olhando por um momento para o
registro, e tentar entrar na mesma atmosfera, terrível como
era, daquilo que ocorreu naquele dia que comemoramos como a
Sexta-Feira da Paixão. Vamos tomar dois versos do discurso
de Pedro no dia de Pentecostes.
‘Homens
israelitas, escutai estas palavras: A Jesus Nazareno, homem
aprovado por Deus entre vós com maravilhas, prodígios e
sinais, que Deus por ele fez no meio de vós, como vós mesmos
bem sabeis; A este que vos foi entregue pelo determinado
conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes e
matastes pelas mãos de injustos’ (At. 2.22-23; A.S.V)
Se pudéssemos, por assim dizer, entrar naquelas palavras, e
realmente compreender o seu significado, poderíamos ter a
resposta a nossa pergunta: Por que a Cruz?
Vamos tentar sentir o que estava
acontecendo. Se você leu recentemente nos Evangelhos os
relatos dos eventos que levaram à crucificação, você será
capaz de se lembrar da cena. Por um lado, é impossível,
levando tudo em consideração, não reconhecer uma tremenda
pressão sobre esta
questão de crucificar Jesus. Isto não é apenas humano. Há
algo aqui de força incitante, uma força maligna _ por trás.
Nenhum argumento irá impedi-la, nenhum apelo irá
enfraquecê-la; ela não será influenciada por nenhuma
consideração, seja qual for. Quando eles gritavam: “Caia o
seu sangue sobre nós, e sobre os nossos filhos” (Mat.
27.25), é como se houvesse uma determinação implacável,
posto a fazer com que a coisa seguisse _ não importando o
que significava _ às últimas conseqüências, até o fim. Deste
lado, havia uma pressão
feroz, terrível, impressionante dos poderes
malignos para fazê-lo morrer, e parecia que nada podia
impedir aquela onda maligna.
Do outro lado está
Pilatos _ Pilatos buscando, por meio de todo recurso
concebível a ele, tanto pessoalmente querendo sair disso,
como oficialmente evitá-lo, pará-lo. Veja quanto há que vem
para lhe dar uma justificativa, para fazer sua posição mais
forte, até mesmo em relação à mensagem de sua esposa: “Não
entres na questão desse justo”
(Mat. 27.19). Mas é como se uma voz escondida dissesse:
‘Pilatos, não adianta: se esquivar, argumentar, dizer e
fazer o que quer _ não adianta: isto irá acontecer. Você
pode ser responsabilizado, a partir de um ponto de vista,
mas você não pode ajudar você mesmo’. A pressão
das forças malignas, a impotência humana e os
poderes oficiais e temporais, e tantos outros fatores, devem
ser levados em consideração neste caso.
"O DETERMINADO CONSELHO E
PRESCIÊNCIA DE DEUS
Porém, por detrás de tudo isso está um
outro fator. O Diabo pode estar forjando, e o homem pode
estar inutilmente tentando impedir; mas antes do Diabo e do homem
está o ‘determinado conselho e presciência de Deus’ (Atos
2.23). A cruz é a crise de Deus na qual Ele diz: ‘Vamos
decidir isto, vamos estabelecer esta questão finalmente, de
uma vez por todas. Nada irá confundi-lo ou impedi-lo. O
Diabo pode ser assassino; eu sei o que pretendo com isto. O
Diabo pode estar cegamente conduzindo as coisas a fim de
destruí-Lo, mas eu sei o que almejo. Irei tomar isto em
relação ao conselho eterno e presciência. O homem pode
tentar pará-lo, impedi-lo: mas não _ a hora chegou, e vamos
estabelecer isto. Esta é a Crise dos Tempos; e todo o
negócio será estabelecido hoje’.
Mas que negócio?
Naturalmente, a coisa toda vai muito longe, muito longe e de
aspectos muito variados para que possamos compreender. A
coisa vai muito acima e muito abaixo, e muito distante. Tudo
aquilo que sabemos sobre a Cruz é apenas um fragmento
comparado com aquilo que iremos conhecer através da
eternidade. Podemos dizer muito pouco a respeito, resumindo
em uma ou duas coisas que respondam a questão, por que a
Cruz? A resposta, como disse, está inerente nas palavras que
lemos em Atos 2.
Qual é o assunto? Qual é a crise? Por
que a Cruz? Sempre que nos acharmos na presença da Cruz,
seja em tipo no Velho Testamento _ o altar, o sacrifício, o
fogo, e assim por diante _ seja em realidade no Novo
Testamento, nós estamos sempre diante de três coisas:
pecado, justiça e julgamento.
(1) O Pecado
O que queremos dizer com pecado? O que
a Bíblia quer dizer com pecado? _ esta coisa de amplas
conseqüências, como um polvo, porém com inúmeros membros e
ventosas _ esta coisa chamada ‘pecado’. O que a Bíblia quer
dizer por pecado? Se a Cruz do Senhor Jesus foi a crise, e
Deus estava para estabelecê-la de uma vez para sempre, o que
era aquilo que tinha alcançado o ponto de crise, o que era
aquilo que Ele estava estabelecendo? Vamos aqui excluir
pecados _ não estamos falando sobre pecados. Os pecados
apenas são frutos, ou o resultado, da raiz _ pecado. O
pecado não começa com as coisas que fazemos ou deixamos de
fazer. Pecado é algo muito mais profundo do que as nossas
más ações _ nossas comissões ou omissões. Os pecados podem
ser perdoados, pecados podem ser remidos; porém pecado é uma
outra coisa.
Agora vamos
perseguir isto até onde podemos. No Velho Testamento, o
pecado, mesmo antes do ato de Adão, centrado em Deus e Sua
alternativa. Deus, ou Sua alternativa _ este é o ponto focal
do pecado. Há uma palavra inclusiva no Velho Testamento, uma
palavra que inclui e abrange todas as demais palavras usadas
para pecado, e esta palavra é ‘iniquidade’. Ela abrange
palavras tais como ‘transgressão’, ‘violação’, e outras. A
palavra inclusiva e abrangente para pecado é ‘iniquidade’, e
enquanto não entendermos esta palavra, realmente não iremos
compreender o que é pecado. Esta palavra ‘iniquidade’ em sua
raiz significa ‘perversidade’, ‘injustiça. Não é
simplesmente a violação de certas leis, mas um espírito de
ilegalidade e rebelião. Isto encontrou sua primeira
expressão, como a Bíblia nos relata, antes do pecado de
Adão. Adão apenas foi apanhado em algo que já tinha
começado. A rebelião aconteceu em algum lugar onde Deus
está, em relação os propósitos de Deus. _ Seus propósitos,
como temos razões para crer, em relação a Seu Filho, Jesus
Cristo, como Herdeiro, ‘constituído Herdeiro sobre todas as
coisas’. A rebelião foi achada no coração de um ser
exaltado, e, então, disseminado por meio daquele entre os
anjos; e assim, uma hierarquia rebelde se levantou, e foi
expulsa, e nos é dito que eles estão reservados em prisões
eternas para o julgamento.
(Judas 6)
Iniqüidade, então,
é rebelião, é injustiça. “vós, por meio de injustos...”
Chegamos bem no coração da coisa, você vê? Esta força
motriz é do próprio inferno. Nenhum respeito é dado à lei, à
razão, ao argumento, à consideração, à compaixão, à
sabedoria, ou a qualquer outra coisa _ nem mesmo ao bem
estar dos filhos. Não, esta coisa está possuída de fúria
homicida, ficou descontrolada, foi manifestada enfim. No
centro do palco humano, terreno, está Alguém que é o foco
principal de tudo, Ele manifestou tudo. Aquilo não mais pode
continuar escondido, não mais pode seguir secretamente;
está manifesto. Ele é a razão daquilo. As hostes do mal
surgem ao redor dEle: a fim de usarem as palavras proféticas
do salmo, ‘Cercaram-me
como abelhas’ (sal. 118.12); porém, nas palavras do
Apóstolo, ‘Ele despojou os principados e potestades’
(Cl.2.15).
Sim, no determinado
conselho e presciência de Deus, a coisa já está decidida _
toda esta questão básica de rebelião, que se iniciou em
Satanás, se espalhou às hostes angelicais, que foram
cúmplices com ele, e desceu a este mundo. Por ter o homem
aberto a porta, a porta de sua alma, como já vimos no
início, a rebelião entrou nele, e agora todo filho de Adão
possui uma raiz profunda de rebelião em sua natureza:
rebelião contra Deus. Mais cedo ou mais tarde você a
descobrirá, caso nunca tenha feito isso ainda. Deixe Deus
colocar você em algumas provas nas quais Ele colocou o Seu
Filho, e veja se não há nenhuma rebelião em seu coração, em
sua natureza, contra Deus. Debaixo de prova, oposição, ou
sofrimento, descobrimos que ela está lá, pronta para se
manifestar. Está em nós.
Muito bem; isto foi considerado por
Deus. Ele disse: ‘Vamos estabelecer isto’; e este é o
significado da Cruz. Primeiramente, este espírito de
injustiça e rebelião, em toda a sua fealdade, em toda a sua
malignidade, em seu caráter sinistro, é arrastado para fora;
e, então, na Cruz, não apenas o mal em abstrato, mas a
pessoa responsável por ele, é tratada.
TERRENO PARA SATANÁS
Porque o pecado nunca é olhado apenas
como algo abstrato; ele é sempre pessoal _ é sempre um
assunto de Satanás. A questão toda é sempre esta: Está
Satanás levando vantagem, está Satanás ganhando terreno?
Muito freqüentemente não levamos essas coisas a sério.
Achamos que é ‘falha’, ‘fraqueza’ e ‘imperfeições’. Ficamos
ofendidos, perturbados; faltamos com amor, talvez perdemos
nosso equilíbrio; e, então, dizemos que isto é fraqueza
nossa, nossa falha, nossa imperfeição, nossa falta. Bem,
pode ser isto, porém Deus sempre diz: ‘Isto é terreno para
Satanás’; e isto é o que faz a coisa ser tão abominável,
tão mais maligna. Porque, veja, é Satanás quem está o
tempo todo tentando trabalhar em cima da nossa ‘fraqueza’ e
conquistar tal terreno, e, então, entrar nele e usá-lo _
tanto como acusação contra nós, levando-nos de volta para a
servidão da qual fomos redimidos, para ter uma acusação
diante de Deus. Lembre-se sempre que é esta coisa pessoal
que é a essência da iniqüidade, que constitui pecado. Deus
não olha para o pecado separado da pessoa de Satanás: é
sempre ele que Deus tem em vista. E Ele nos diria: ‘Agora,
não se esqueça: se você escorregar, isto não é apenas algo
em si mesmo _ isto é um ótimo terreno para Satanás; e, a
menos que você remova isto dele, e limpe e cubra, ele irá
alargá-lo, estabelecê-lo, e consolidá-lo, e irá ficar cada
vez mais difícil para você removê-lo. Isto não é apenas um
incidente, um equívoco, um infortúnio: há uma pessoa, há
todo um sistema diabólico em serviço, em relação a isto. ’
Sim, e qual é o efeito que ele está
procurando trazer? Algo antagônico a Deus _ rebelião,
injustiça. O Senhor Jesus, quando levou os nossos pecados em
Seu próprio corpo sobre o madeiro, foi o Cordeiro de Deus,
que tirou o pecado do mundo (1 Pd 2.24; Jo 1.29). Você não
acha que isto é muito maravilhoso _ uma vez que o pecado é
iniqüidade, rebelião e injustiça, é esta coisa que está
sempre se irrompendo e se rebelando contra Deus _ que o
Cordeiro pode tratar disso? Um cordeiro é um símbolo preciso
de sujeição, não é? ‘Ele foi levado como um cordeiro para o
matadouro’ (Is 53.7): não há rebelião aqui, injustiça. ‘Ele
foi levado como um cordeiro para o matadouro’: exatamente o
outro extremo da injustiça, da rebelião. O Cordeiro de Deus
removeu o pecado pela Sua absoluta entrega a Deus. Ele
desfez a rebelião de Satanás. Eu acho isto impressionante.
Você vê os princípios em ação, poderosos princípios
corporificados em duas pessoas: o princípio da transgressão
em Satanás, e o princípio da obediência em Cristo. Essas
duas coisas estão em mortal combate, e o Cordeiro vence.
Isso não diz muito da obra da Cruz, o
efeito da Cruz? Você entende o porquê da Cruz, e o porquê da
Cruz em você e em mim? O que nós herdamos da Cruz _ O que
ela significa como um princípio de atividade em nós? Se a
cruz realmente operar em nós, iremos nos tornar mais e mais
sujeitos a Deus, submissos, complacente, pelo Espírito do
Cordeiro. Que conflito isto foi! Foi o conflito entre duas
naturezas: o conflito entre o pecado, no sentido específico
de rebelião e transgressão, por um lado; e o espírito de _ ‘Eis
aqui venho (No princípio do livro está escrito de mim), Para
fazer, ó Deus, a tua vontade. ’ E ‘Por isso, entrando no
mundo, diz: Sacrifício e oferta não quiseste, mas um corpo me
preparaste’ (Hb 10.7,5), do outro lado; e por meio daquele
corpo no madeiro Ele tratou daquela outra coisa _ com a
iniqüidade corporificada deste universo em Satanás. ‘Agora é
o juízo deste mundo: agora o príncipe deste mundo será
expulso’ (Jo 12.31).
Sentimos a nossa falta de esperança em
tentar lidar com este assunto da Cruz; isto foi uma coisa
imensa que aconteceu, então eu volto a isto: Deus disse,
‘Vamos estabelecer isto aqui e agora, de uma vez para
sempre’. O pecado, no sentido em que temos falado, foi
tratado lá plenamente _ ‘O Jordão enchendo toda a sua margem’
_ Que maré! _ e foi plena e finalmente exaurida.
(2) JUSTIÇA
Se dissemos que a justiça era apenas o
oposto de pecado, devemos, naturalmente, ter dito numa
palavra aproximada a tudo o que podia ser dito a respeito.
Mas vamos olhar para isso mais de perto, e começar por
examinar a palavra em si. Justiça é uma palavra inclusiva.
Assim como ‘iniqüidade’ é inclusiva de outros aspectos do
pecado, assim ‘justiça’ é inclusiva de outros conceitos.
Existe a palavra ‘santidade’, por exemplo; existe a palavra
‘santificação’; existe a palavra ‘consagração’. Todas essas
estão reunidas nesta palavra ‘justiça’.
Estou certo que não iremos esquecer o
pecado. Ele está escrito agora em letras profundas, escuras
e negras. O pecado é rebelião; pecado é aquilo que tira o
governo de Deus e O remove do Seu lugar e faz uma escolha da
alternativa a Deus. Naturalmente, quando pecamos nós
queremos conscientemente fazer aquilo _ isto não é planejado
e intencionado; mas é isto o que está sugerido e o que está
envolvido na realidade.
O que, então, é a essência desta
palavra ‘justiça’? Justiça é aquela natureza de Deus que é
perfeitamente consistente, perfeitamente pura, perfeitamente
transparente. Diferentes símbolos são usados na Bíblia para
a natureza de Deus, como o cristal, e o jaspe. É aquilo no
qual não há qualquer mistura, no qual não há duas coisas
contrárias uma à outra. Pois a Bíblia deixa perfeitamente
claro que a mistura ou contradição é o que mais aborrece a
Deus. Mais do que qualquer outra coisa, Deus abomina a
mistura _ dois elementos contrários trazidos juntos, dois
reinos diferentes trazidos em associação, os dois sendo
diferentes em constituição. Lembramos alguns tipos do Velho
Testamento de que: ‘Com
boi e com jumento não lavrarás juntamente. Não te vestirás
de diversos estofos de lã e linho juntamente.’( Dt
22.10,11). Esses são dois reinos diferentes. O linho remove
o calor do corpo; a lã o mantém: assim, há um conflito nas
duas coisas.
Esses são apenas ilustrações simples,
ou figuras de algo muito profundo. Deus abomina mistura; a
Sua própria natureza é contra elementos contrários. Sua
natureza é absolutamente transparente, consistente, pura. E
isto é justiça. Era por isso que os profetas estavam sempre
apelando. A injustiça foi encontrada nos comportamentos;
isto é, as pessoas estavam sendo roubadas por métodos
enganosos. Eles não eram justos, honestos, corretos. Satanás
é o grande misturador, o grande enganador, o grande
corruptor, o grande poluidor. Não há nada transparente nele,
nada correto; ele está sempre em derredor, de alguma forma,
a fim de obter vantagem através da injustiça, da covardice.
Agora, a cruz do Senhor Jesus foi a
crise nesta questão de justiça. Ela foi o outro lado. Ele
‘ofereceu a Si mesmo sem mancha a Deus’ (Hb 9.14). Aqui está
algo puro: não há mistura aqui, não há defeito aqui, não há
duas coisas aqui; é apenas uma única coisa; é totalmente
correta, clara, absolutamente puro, transparente. Você não
pode encontrar nEle qualquer indício de corrupção. Não há
película anuviada; nEle não há trevas. Ele estabeleceu esta
questão de justiça em Sua própria Pessoa e corpo, e
estabeleceu justiça para sempre, tipificado, quando Ele veio
para o Seu batismo, que prefigurava a Sua cruz. Ele disse:
‘Deixa por ora: pois importa-nos cumprir toda justiça’ (Mt
3.15). Ele satisfez a Deus nesta questão da Sua natureza,
como algo absolutamente puro. Quando Jesus disse,
‘importa-nos cumprir toda justiça’, Deus imediatamente
respondeu e disse, ‘Meu Filho amado, em quem me comprazo’.
Esta é a oferta que Eu desejo, a oferta que procurava: esta
oferta Me satisfaz’. Ele ‘Se ofereceu a Deus sem pecado’. A
questão de justiça está estabelecida nEle, na cruz.
(3) JULGAMENTO
Pecado, justiça; e agora julgamento. O
que é isto? Usualmente limitamos a idéia de julgamento a um
pensamento _ isto é, penalidade. A palavra ‘julgamento’ é
uma palavra mais abrangente do que isto na Bíblia.
Julgamento, poderíamos dizer, possui três partes. Para tomar
uma ilustração do livro de Daniel: você se lembra da festa
de Belsazar, e a mão escrevendo na parede, e como Daniel foi
trazido para interpretar (Dan 5.1-28). Antes de tudo,
significa trazer alguma coisa para se ter uma decisão sobre
ela, sobre o que ela é. A primeira parte aqui é: ‘Pesado
fostes na balança’. Esta é a primeira parte do julgamento:
trazido para ser pesado. Em segundo lugar, colocá-lo em sua
própria categoria: ‘achado em falta’. Quando foi determinado
o que algo é, este é o lugar a que ele pertence. Em terceiro
lugar, há o pronunciamento e a execução da sentença.
Isto é julgamento em seus três
significados. É uma grande palavra. A Cruz foi isto. Deus
estava dizendo, ‘Vamos estabelecer o que isto é em sua
natureza; vamos colocá-la em seu próprio lugar a que
pertence; e vamos tratar disso completa e finalmente’. A
coisa estava determinada, em relação ao que é: o pecado não
é chamado por outros nomes; é chamado por seu próprio nome _
injustiça, rebelião. Pois é isto que o pecado é. Ele é
contra Deus. E ele pertence ao campo que está longe de Deus
_ o deserto, a desolação, o lugar do bode expiatório, o
lugar da criatura desgarrada, levada da presença de Deus
para onde ela pertence. Quando Ele levou OS nossos pecados,
quando Ele foi feito pecado por nós, quando, naquela hora
medonha, Ele foi feito maldição por nós, Ele foi colocado no
lugar ao qual você e eu pertencemos. A coisa estava
estabelecida, em relação ao que ela era, e levada para longe
da presença de Deus; a porta foi fechada sobre ela, e a face
de Deus para sempre se virou dela. O julgamento foi feito.
Sim, há dois lados para a cruz, mas
este foi o lado do julgamento. Do quê? Não, não do
julgamento dos nossos pecados _ isto pode estar incluído _
mas o julgamento do nosso pecado. ‘Aquele que não conheceu
pecado, Ele o fez pecado por nós, para que pudéssemos ser
feitos justiça de Deus nEle’ (2 Co 5.21); isto é, para que
pudéssemos ser trazidos para o lugar onde não há duas coisas
em conflito, onde não há dois elementos contraditórios. E
isto começa no mesmo dia quando nós _ para usar uma
linguagem familiar _ vamos à cruz. Quando vamos ao Senhor
Jesus e aceitamos a obra de Sua cruz por nós, lá nos é dada,
lá é trazido para dentro de nós, aquela vida transparente,
pura, santa, justa, do Senhor Jesus. É uma coisa sem
mistura. Nós somos todos misturados, mas aquela vida não tem
mistura.
Claro Como Cristal
E, então, quando vivemos por esta vida
_ e isto não é apenas uma declaração de fato, mas um teste
de busca _ se você e eu viver por esta vida do Filho de
Deus, iremos nos tornar pessoas mais e mais transparentes,
absolutamente honestas, absolutamente corretos,
absolutamente direitos. Tudo o que não for desta maneira em
nós mostra que, de alguma forma, estamos contendo, ou não
estamos nos movendo com esta vida. A cruz nos envolve nisto.
Assim, o final da Bíblia nos dá um quadro da Cidade, como um
dos símbolos da Igreja. Em sua inteira constituição ela é,
como diz, como o puro ouro, ou vidro, ou jaspe ( Ap
21.11,18), e seu rio é a água da vida, livre e clara como
cristal ( 22.1). É tudo claro _ este é o término da obra.
Esta é uma coisa verdadeiramente prática. Sobre cristãos
verdadeiros _ cristãos que estão verdadeiramente
crucificados com Cristo _ tem que haver uma progressividade
firme em transparência, cada vez mais longe da duplicidade,
da decepção, da escuridão, de tudo mais do gênero. Eles
devem ser claros como a luz.
Esta é a resposta, bastante imperfeita, à pergunta _ Por quê
a cruz? Pecado, justiça, e a determinação em relação a “O
que é o quê”: o julgamento determinando, o julgamento pondo
no lugar. ‘Fostes pesado na balança’ _ esta é a primeira
coisa. ‘Fostes achado em falta’ _ este é o segundo estágio.
‘Teu reino está dividido’ _ o terceiro estágio. É tudo
julgamento. Na cruz o Senhor Jesus efetuou tudo isto.
Isto é, talvez, o
lado escuro. Porém, é uma libertação maravilhosa que o
Senhor Jesus trouxe para nós em Sua cruz. Apenas pense no
que estávamos envolvidos! Estávamos envolvidos no pecado de
Satanás, estávamos envolvidos em sua rebelião, a nossa
natureza foi envolvida nisto: porém, por meio de Sua cruz
Ele nos salvou _’libertou-nos do império das trevas, e nos
transportou para o reino do Filho do Seu amor’ (Cl 1.13) _
libertou-nos, deu-nos uma outra natureza, colocou-nos no
caminho para a Cidade de Deus. Isto, como sabemos, não é
geografia, mas condição espiritual; não uma coisa objetiva,
mas um estado interior, subjetivo. Que dia será aquele
quando formos parecidos com isto _ absolutamente livre do
último vestígio do toque de Satanás, o toque da serpente,
sobre a nossa natureza humana! Que grande dia será esse! Mas
Ele nos colocou neste caminho quando viemos para a cruz. E
‘aquele que em vós começou a boa obra, Ele mesmo irá
aperfeiçoá-la até o dia do Senhor Jesus Cristo’ (Fl 1.6).
CAPÍTULO 4 - OS QUARENTA DIAS
‘Vim
lançar fogo na terra; e que mais quero, se já está aceso?
Importa, porém, que seja batizado com um certo batismo; e
como me angustio até que venha a cumprir-se!’ (Lc 12.49,50).
(O real sentido da primeira sentença é, talvez, melhor dado
na Versão Revisada Padrão Americano: ‘Vim lançar fogo na
terra, e como gostaria que já estivesse aceso!’)
’Aos
quais também, depois de ter padecido, se apresentou vivo,
com muitas e infalíveis provas, sendo visto por eles por
espaço de quarenta dias, e falando das coisas concernentes
ao reino de Deus.’ (At 1.3).
‘E eu, quando vi, caí a
seus pés como morto; e ele pôs sobre mim a sua destra,
dizendo-me: Não temas; Eu sou o primeiro e o último; E o que
vivo e fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o
sempre. Amém. E tenho as chaves da morte e do inferno.’ (Ap
1.17,18).
Abordamos este aspecto particular com a mesma questão como
aquela com que abordamos as outras, e perguntamos: Por que
os quarenta dias? Resumiremos as nossas respostas a esta
questão em três formas, embora haja muito mais detalhes do
que podemos cobrir no momento.
É evidente que
aqueles quarenta dias foram muito mais preenchidos do que
indicam os registros. Temos apenas dez aparições registradas
do Senhor durante os quarenta dias, e cinco deles
aconteceram no primeiro dia, restando trinta e nove dias
para os cinco restantes ( se é que dez foi o número das
aparições). Mas João, falando das aparições do Senhor após A
Sua ressurreição, disse: ‘Muitos outros sinais... fez Jesus
na presença dos discípulos, que não foram escritas neste
livro’ (Jo. 20.30), e penso que o contexto nos levaria a
concluir que esses ‘muitos outros sinais’ foram feitos após
a Sua ressurreição. Isto tem o apoio de Lucas, quando ele
fala dos quarenta dias como contendo ‘muitas provas’.
Assim, foram evidentemente dias muito plenos, e sendo assim,
o período foi de grande importância. Não é nosso propósito
ficar com as várias aparições, mas buscar compreender o
significado do todo.
Agora esta nota em
a Oitava de Redenção não tem sido tocada tão fortemente e
firmemente como devia ter sido. Sabemos como, algumas vezes,
um martelo fica ligeiramente gasto ou danificado, e, quando
você sobe a escala, aquela nota em particular é mais fraca
que as demais, e você percebe isto. Da mesma forma, penso
que esta nota dos quarenta dias tem perdido muito de sua
força, ou não tem sido dada a devida força e positividade e
plenitude de volume que se devia. Creio que veremos isto na
medida em que prosseguirmos. Pois este foi o grande ponto de
virada, e tudo para a cristandade se baseia sobre este
aspecto do plano da redenção.
Podemos mencionar
apenas algumas coisas que se apoiaram nesses quarenta dias,
porém elas são suficientes para indicar que tremendo período
foi este. Vamos, contudo, observar primeiramente que este é
um dos grandes ‘quarentas’ da Bíblia _ Deixo que você os
procure _ mas menciono alguns.
Houve os grandes quarenta anos de
Moisés no Egito, um tempo de profunda preparação e prova,
especialmente prova de seu coração. Se todas as riquezas, e
tesouros, e aprendizado de um dos maiores impérios da
história está aberto para você, à sua disposição, sua
atitude em relação a isto constitui um teste muito bom de
onde está o seu coração! E Moisés passou por um teste como
esse. Ao final daqueles quarenta anos, foi visto que seu
coração não estava naquilo: seu coração era para Deus e para
os interesses de Deus. Quarenta é sempre o número da
provação, do teste e decisão, e foi muito decisivo, não foi,
para Moisés no final daqueles quarenta anos.
Mas, então, começaram outros quarenta
anos para Moisés, na terra de Mídia; e, se o primeiro foi um
teste para o seu coração, o segundo quarenta foi um tempo de
teste para a sua fé. Que provação tremenda foi aquela _
desapontou empreendimentos, desapontou esperanças e
expectativas, e a consciência de que ele era o principal
responsável por aquilo, por sua própria insensatez. Foi um
tremendo teste de fé. Porém, ele foi aprovado.
Então, houve os quarenta dias e
quarenta noites passados por Moisés no Monte. E que tempo de
teste foi esse para Israel lá em baixo! Sim, esse tempo teve
a finalidade, penso eu, de desmascará-los; e nós sabemos
como eles saíram daquela situação. Foram provados, sem
qualquer dúvida. Este assunto foi decidido muito
definitivamente, e a partir dali Deus se moveu em relação
aos levitas. Este é um assunto cheio de instrução; porém
devemos deixá-lo lá.
E, então, houve os quarenta anos do
próprio Israel no deserto. Que tempo de teste, provação e
decisão foi esse!
Houve outros quarentas, porém,
saltamos de lá para o Novo Testamento, para o teste do nosso
Senhor por quarenta dias no deserto _ um tempo de teste
incomparável; e, finalmente, para esses quarenta dias após a
Ressurreição. Você vê a característica, a natureza e o
significado de quarenta, como um tempo de teste e prova, de
estabelecimento, de decisão. Tudo isto foi reunido em
quarenta dias, que vamos agora considerar.
Mas olhe para alguns dos fatores
incluídos nesse período, como tendo influência sobre o
Cristianismo, sobre a Igreja, sobre o futuro. Toda obra dos
apóstolos dependeu disso, como veremos. É muito claro. De
que serviam eles antes do início daqueles quarenta dias? O
que podiam eles ter feito na condição que estavam, enquanto
Jesus estava no túmulo? Ele poderia ter ressuscitado e ido
para o Céu sem que eles O vissem, e então, de alguma forma,
poderia ter ocorrido a eles que Ele estava no Céu _ ah, mas
teria havido uma lacuna muito grande se isto tivesse sido
assim! A porta teria sido aberta para que todos os tipos de
coisas entrassem. Mas o Senhor não deixou as coisas desta
maneira. A obra futura deles dependia desses quarenta dias.
O Senhor estava lançando a fundação de tudo para eles
durante aquele período.
E a própria
existência da Igreja dependia disso; ela precisou desses
quarenta dias. Isto veremos daqui a pouco, mais plenamente.
A capacidade dos cristãos de sofrer, de suportar e de vencer
necessitou desses quarenta dias. As muitas provas _ o
terreno completa e firmemente estabelecido _ para o fato de
que Ele estava vivo, foram essenciais para a segurança dos
crentes e sua capacidade de superar todos os sofrimentos dos
dias que estavam adiante.
Novamente, a
segurança de um futuro eterno para os cristãos dependia
disso. Aquela morte não é o fim; há uma vida que venceu a
morte; e esta vida é a favor deles, e que um futuro eterno
está assegurado _ tudo isso dependia daqueles quarenta dias.
Novamente, a
própria natureza do corpo ressurreto dos cristãos é
estabelecido por esses quarenta dias. O apóstolo Paulo deixa
isto muito claro. Em 1 Coríntios 15, está positivamente
declarado que o mortal e o corruptível será revestido de
imortalidade e incorrupção (vv 53,54). O corpo do cristão
será ‘conformado ao corpo da Sua glória’ (Fl 3.21). Mas como
é tal corpo? Temos nós alguma coisa para nos basear? Há
alguma prova sólida para se crer que após a ressurreição nós
teremos um corpo? Bem, o Senhor fez o máximo para deixar
bem claro que Ele não era nenhum fantasma, nem um espírito
desencarnado. ‘Apalpai-Me, e vede; pois um espírito não tem
carne nem ossos como vedes que eu tenho’ (Lc 24.39). Nosso
conhecimento de um corpo ressurreto, sua característica e
natureza, foram determinados durante aqueles quarenta dias.
E o que dizer da
esperança em relação àqueles que dormem? Esta esperança é
determinada por este período. Ainda outros fatores poderiam
ser mencionados, mas a menção de apenas esses é suficiente
para indicar que esta não foi uma fase sem importância da
grande oitava redenção. É a própria redenção que está focada
neste período. Tudo tinha que ser bem fundado e
fundamentado, com ‘muitas provas’. Como já vimos, João disse
que o Senhor fez ‘muitos outros sinais...na presença dos
Seus discípulos’. O objetivo? Estabelecer a evidência,
deixar as coisas _ ou melhor, uma coisa _ sem qualquer
dúvida. Qual era? O fato de que Jesus vive _ Jesus vive
novamente após a morte! Em outras palavras: O Senhor
ressuscitou! Vamos agora olhar para as três coisas mais
específicas que, de certa forma, resume a resposta à
pergunta: Por que os quarenta dias? O que já temos visto já
oferece, naturalmente, uma boa resposta, porém, esta não é a
resposta completa.
A LIBERTAÇÃO DO SENHOR
Primeiramente, o que o próprio Senhor
Jesus concebeu ser o valor particular para Ele mesmo em Sua
ressurreição? A resposta está naquelas palavras que lemos em
Lucas 12.49,50: ‘Eu vim para lançar fogo sobre a terra... E
como gostaria que já estivesse aceso!... Tenho um batismo
para ser batizado, e como me contenho até que isto se
suceda!’ Não há dúvida de que Ele está falando sobre o
batismo de Sua Cruz e paixão; e Ele está olhando através do
batismo e pensando do outro lado como Sua libertação. Assim,
a primeira coisa sobre esses quarenta dias é que isto
significava a libertação do Senhor. ‘Como estou Eu limitado,
como estou Eu contido, como estou Eu confinado! Eu vim para
lançar fogo _ para incendiar toda a terra: mas aqui estou
Eu, amarrado a essas poucas milhas de um pequeno país, preso
ao tempo, preso a todas as condições de vida aqui’. Oh, quão
limitado Ele era! Limitado em Seu próprio movimento,
limitado em Seus discípulos, limitado de toda forma. Ele
estava desejando ficar livre, estar solto, ser liberto. Ele
olhou para a ressurreição como Sua libertação, e para a cruz
como o caminho para ela.
Agora, o Senhor tinha, no começo de
Seu ministério, feito uma grande declaração. Você se lembra
de que o primeiro registro do Seu ministério foi em Nazaré,
quando Ele tomou Isaías 61 e disse dos sete aspectos de Seu
ministério: ‘O Espírito do Senhor está sobre Mim...Ele me
enviou para proclamar libertação aos cativos... para
proclamar o ano aceitável do Senhor’ (Luc 4.16-19). Agora
não há dúvida de que em Sua mente Ele estava pensando sobre
o ano do Jubileu: porque essas palavras de Isaías são um eco
das palavras usadas em Levítico 25.10, concernente ao ano do
jubileu, o ano qüinquagésimo, o ano da libertação, quando
todas as coisas que estavam em servidão _ homem, mulher,
criança, casas, terra, e tudo mais _ tinha que ficar livre.
E assim, já no início de Seu ministério, Ele disse: ‘Vim por
causa do Jubileu de Deus, o qüinquagésimo ano de Deus, o ano
da libertação do Senhor’.
Do êxodo de Israel ao início do
ministério do Senhor Jesus, houve trinta jubileus _ um
interessante pedaço da Bíblia para o seu estudo, caso
queira! Aqui está começando o trigésimo jubileu. Agora,
quando o Senhor Jesus fez a declaração nas palavras da
Escritura _ ‘liberdade aos cativos... restauração da vista
aos cegos... liberdade aos oprimidos’ _ Ele sabia o que
dizia. Ele declarou que tinha vindo para trazer o maior de
todos os jubileus. A realização, o real cumprimento daquilo,
estava ainda um pouco adiante _ talvez trinta e três anos à
frente _ mas isto se efetivou durante, e como resultado dos
quarenta dias.
Efetivou-se, antes de tudo, em relação
a Ele próprio. Pela ressurreição Ele alcançou a Sua própria
libertação, Sua total emancipação. Ele estava livre. Veja-O
agora: nenhum confinamento geográfico pode detê-lo; _ Ele
está livre de tudo isto. Nenhum limite de tempo pode
prendê-lo; nenhum daqueles antigos tipos de limitações e
estreitezas podem detê-lo. O tempo já não importa, a
distância já não importa: Ele está livre. No dia da Sua
ressurreição Ele caminhou com os dois discípulos a Emaús,
partiu o pão com eles, e... desapareceu! Eles correram de
volta para Jerusalém, a fim de relatar _ porém Ele estava lá
diante deles! Foi desta maneira o tempo todo. É um exercício
instrutivo para registrar todas as marcas de Sua libertação
durante aqueles quarenta dias.
Veja agora o que Ele está fazendo com
esses discípulos, uma grande companhia que passa a ser o
núcleo de Sua Igreja. Ele apareceu para mais de quatrocentas
pessoas de uma vez só, diz Paulo (1 Co 15.6). O que está Ele
fazendo? Ele está estabelecendo a evidência para o fato de
que Ele agora não conhece limitações, Ele não conhece
barreira, ou barreiras. Ele está livre! Esta é uma tremenda
herança para a Igreja, para nós. Como estamos felizes por
isso hoje! _ em perceber que a geografia não mais interessa,
seja cinqüenta, ou quinhentas, ou cinco mil milhas; que o
tempo também não importa _ nada disso mais importa. Ele está
livre! É uma coisa tremenda para a Igreja ter isso
estabelecido por meio de ‘muitas provas’. Nossa Versão
Autorizada do Rei James costuma colocar em outras palavras _
‘muitas provas infalíveis’. Mesmo que isto não esteja no
texto original, o epíteto é plenamente aplicável.
A LIBERTAÇÃO DE SUA GENTE
Este era o Seu lado. Mas Ele não veio
apenas para proclamar Sua própria libertação e garantir isto
por meio da cruz. Havia o outro lado, a libertação do Seu
povo: a libertação dos homens e a libertação da Igreja. Olhe
para os homens antes: eles estavam terrivelmente presos em
si mesmos, não estavam? Estavam manifestadamente limitados
em todos os sentidos: em sua capacidade para as coisas
espirituais, em sua compreensão, em sua inteligência
espiritual. A palavra de Paulo aos coríntios poderia muito
bem ser aplicadas a eles: ‘estais estreitados em vossos
próprios afetos’ (2 Co 6.12). Mas olhe para a libertação
deles nesses dias! Não há dúvida que isto aconteceu _ e está
acontecendo o tempo todo: você pode vê-la crescendo! Eles
estavam livres. Você tem apenas que pensar na diferença
entre Pedro no saguão do julgamento e Pedro no dia do
Pentecoste. Um homem limitado, preso, estreitado, vencido; o
outro Pedro _ um homem emancipado.
Com todos eles foi desta forma. Era o
ano do jubileu para eles! O Senhor Jesus o tinha proclamado;
através de Sua ressurreição Ele o trouxe (o jubileu); e pelo
envio do Espírito Santo no dia do jubileu, o qüinquagésimo
dia (‘Pentecoste significa ‘quinquagésimo’), Ele finalmente
o tinha selado. O qüinquagésimo ano é jubileu, e o
Pentecoste é o qüinquagésimo dia. Sim, é jubileu, é
libertação; tudo leva este selo. E assim, o Pentecoste foi a
coroa daqueles cinqüenta dias, e o cumprimento
especialmente dos valores dos quarenta. Era o dia da
libertação deles!
Se você e eu realmente
experimentássemos o benefício daqueles dias, nós, também,
deveríamos ser homens e mulheres livres. Pense em Tomé.
Alguma outra pessoa estava mais presa do que ele? Ele estava
amarrado consigo mesmo, e amarrado com o seu próprio
temperamento. Ele tinha aquele tipo de temperamento, você
sabe, que não cria em nada, a menos que houvesse prova
absoluta. Jamais aceitava a palavra de alguém _ tudo tinha
que ser provado e demonstrado. Que sujeito infeliz ele era!
‘Exceto se eu ver...jamais crerei’ (Jo 20.25). Isto o
prendeu numa pequena prisão de sua própria alma. Nenhum
evangelho, nenhuma boa notícia, nem mesmo a melhor notícia
que você possa trazer, é boa o suficiente para alguém como
ele, porque pessoas assim não irão aceitá-la, simplesmente
não podem crer. ‘Sim, mas isto é apenas, a final de contas,
o que você diz’ _ Esta é a reação delas. ‘Você diz isto,
você crê nisto: Eu não tenho prova de que isto é assim’. O
pobre Tomé é o representante de toda turma temperamental.
Mas olhe para o homem alguns dias mais
tarde. O Senhor logo esclareceu tudo isto para Tomé _
esclareceu tão exaustivamente que quando, oito dias mais
tarde, ele foi convidado pelo Senhor, com as palavras: ‘Põe
aqui a tua mão...’, a fim de considerar e provar a evidência
por ele mesmo, nunca foi registrado que ele fez isso. Ele
podia apenas dizer: ‘Meu Senhor e meu Deus’. Ele está
rendido _ e esta libertação veio durante os quarenta dias.
Então eles se tornaram homens livres! Lá estavam eles,
permanecendo em pé juntos no dia de Pentecoste _ homens
livres! A ressurreição do Senhor Jesus pode ter este efeito
em você e em mim. Pode nos libertar de nós mesmos e de nosso
próprio pequeno mundo _ e graças a Deus que ela faz isto, se
entrarmos vitalmente nela. Se você não conhecer isto por
experiência, contudo isto é sua herança. Esses quarenta dias
não são apenas um capítulo na história; o valor deles é a
sua herança: é para você _ para todos nós. Isto não é um
ponto doutrinário; isto é um poder atual para cada vida,
oferecido para que nos agarremos por fé, para a nossa
libertação de nós mesmos. Era o ano da libertação deles, mas
também é o ano para a nossa libertação, para a libertação da
Igreja. O jubileu ainda não acabou.
A REUNIÃO DO REBANHO DISPERSO
Chegamos agora a
terceira coisa. O Senhor Jesus tinha dito a eles, quando
estava indo para a Cruz, quando estava com eles no monte das
oliveiras nas últimas horas antes da paixão: ‘Todos vocês se
escandalizarão de Mim esta noite: pois está escrito,
‘ferirei o pastor, e as ovelhas serão dispersas por todos
os lugares’ (Mt 26.31). Que dispersão foi aquela! Todos eles
O abandonaram; foram quebrados em fragmentos, ‘por todos os
lugares’, como podemos dizer, como um vaso quebrado. Eles
estavam exteriormente em pedaços, como um bando, e
interiormente em pedaços, como homens. Sua palavra
‘dispersos’ foi verdadeiramente cumprida. Agora olhe para
os quarenta dias. O que Ele está fazendo? Ele está ajuntando
novamente todos os pedaços, Ele está colhendo todos os
fragmentos. Aqui e ali, e acolá, Ele está encontrando esses
pedaços. Dois tinham ido nesta direção, um está aqui, os
outros estão lá; não há qualquer sinal de qualquer unidade
sobre eles. Mas, agora, durante os quarenta dias, Ele está
achando a todos, colhendo-os, ajuntando-os. Ao final Ele tem
todos reunidos, e numa união que nunca antes tinha havido,
numa união que eles jamais tinham conhecido. Este é o valor
dos quarenta dias.
Mas lembre-se, as
coisas não poderiam ter sido de outra forma. Havia todos os
elementos de desintegração neles antes, e assim tinha que
ser _ não poderia ser de outra forma. Agora precisamos
pensar sobre isso, porque naqueles onze homens você tem a
Igreja em representação. Eles são um quadro da igreja em
divisão, todos quebrados em fragmentos, sem qualquer
confidência mútua _ suspeitando um do outro, não crendo um
no outro _ uma Igreja quebrada, uma Igreja dividida, uma
Igreja dispersa. Era assim que eles estavam, simplesmente
por causa das condições que estavam neles antes da cruz; o
quadro estava lá para isso. Mas apenas pense: eles tinham
tido uma associação com Ele por três anos e meio, eles o
acompanharam durante todo aquele tempo, eles estavam sob a
Sua influência e palavra, eles ouviram todo o Seu ensino,
viram Suas obras _ eram os Seus discípulos; e, contudo,
havia todo esse potencial latente que tornou possível essas
divisões e suspeitas, e questionamentos.
Se o nosso
relacionamento com o Senhor Jesus é algo meramente objetivo
e externo: se é uma questão de conhecer o Seu ensino _
naturalmente crendo que o Seu ensino está correto _ e de ter
alguma medida de devoção a Ele: todo aquele tipo de
relacionamento doutrinário, teológico e histórico com o
Senhor Jesus, porém carecendo de algo profunda e
drasticamente trabalhado no interior; carecendo daquela ação
tremenda da Cruz, a fim de quebrar o homem natural e abrir o
caminho para algo do Céu: então, isto pode e será obtido.
Dizendo assim, estou dizendo mais do que as minhas palavras
podem transmitir. Porém, muito freqüentemente, esta é a
situação de toda dispersão e divisão, e brigas, e suspeitas,
e questionamentos, e de qualquer outra coisa. A cruz não fez
a sua obra para quebrar o homem natural _ até mesmo em seu
relacionamento com Cristo, em sua apreensão das coisas de
Cristo; para quebrar toda a sua vida natural e, por assim
dizer, parti-lo amplamente para algo do céu. Há uma longa,
longa história ligada numa afirmação como esta, e uma
terrível história. E assim, este é o porquê de eu dizer que
a dispersão e o desapontamento deles não foram apenas porque
Cristo foi crucificado: foi porque as sementes daquela
dispersão estavam neles _ o potencial já estava lá.
Mas agora, o que
aconteceu? Eles foram quebrados e espalhados, e agora uma
nova condição está sendo colocada, a condição de uma outra
vida e de um outro tipo de conhecimento do Senhor. Esta é
a grande coisa sobre os quarenta dias. Eles jamais haviam-No
conhecido desta forma antes. De fato, eles algumas vezes
encontram dificuldade em crer que é Ele. ‘Quando eles O
viram.. alguns duvidaram’ (Mat 28.17). ‘É Ele?’ Quando Ele
primeiramente encontrou com eles que vinham do túmulo, Ele
tinha dito: ‘Não temam...’ (V. 10). Não, eles ainda não
estavam seguros. Este é um outro tipo de conhecimento Dele;
é conhecê-Lo numa outra esfera. Paulo disse: ‘Embora
tenhamos conhecido a Cristo na carne, contudo agora já não O
conhecemos mais desta maneira’ (2 Co 5.16). Daquela maneira,
não mais! Este é um diferente tipo de conhecimento Dele,
como a base essencial de uma verdadeira unidade: um
conhecimento que veio, por um lado, através de uma terrível
dispersão de todo conhecimento natural, e, por outro lado,
através de uma nova vinda do Senhor, pessoalmente, para
aqueles que tinham sido dispersos. É sempre desta maneira.
Até que tenhamos sido quebrados, não estamos numa posição
para o Senhor vir e nos mostrar as coisas maiores, as coisas
mais profundas, as coisas verdadeiras. Esses são princípios
permanentes.
E assim, Ele os uniu _
ou devemos dizer ‘reuniu’ _ e, então, sobre esta base de um
novo tipo de vida, sobre um novo tipo de conhecimento dEle
mesmo, Ele estabeleceu entre os discípulos uma unidade
totalmente nova. Eles estão libertos da esfera de suas
próprias vidas agora; eles estão agora na dimensão da vida
dEle. A vida deles era uma vida dividida; a vida dEle é uma
vida que une. Podemos muito bem dizer que somos ‘um em
Cristo’ porque todos nós compartilhamos de uma mesma vida.
Naturalmente, isto é verdade, porém pode ser uma afirmação
bastante superficial. Nós de fato somente entramos no valor
prático desta Vida se a Cruz fez algo em nós. A expressão
prática de unidade desta Vida requer esta obra profunda da
Cruz. Que somos todos um em Cristo, porque compartilhamos de
Sua Vida, a Vida eterna que Ele nos deu, pode ser posicionalmente verdadeira; porém a expressão disso ainda
pode estar faltando.
Não é isto verdadeiro
hoje? Podemos dizer que todos os verdadeiros crentes no
Senhor Jesus Cristo, que receberam a dádiva da vida eterna,
são um _ um por causa da Vida que compartilham com Ele e nEle.
Sim, porém, olhe para a expressão disto entre os cristãos!
Onde está a manifestação de unidade desta vida? Isto está
tragicamente faltando. Com os discípulos, a manifestação
disto aconteceu quando a Cruz tinha feito sua obra profunda
em suas vidas naturais, e os trouxe para um outro terreno,
onde toda a sua apreensão e conhecimento dEle era
espiritual. Estava num terreno de algo tremendo que estava
acontecendo dentro deles. Aqueles quarenta dias não foram
apenas dias de coisas acontecendo a eles: você poderia ver
algo correspondentemente acontecendo neles o tempo todo.
Antes, quando Ele fez uma leve referência, ou deu uma pista
de Sua partida, eles ficaram consternados e aterrorizados.
Agora, eles estão se movendo rapidamente em direção a um
lugar onde, longe de se sentirem consternados por estar Ele
se apartando dEles, eles estão muito felizes com isso _
cheios de alegria. Todo aquele medo tinha sumido; está tudo
bem agora. Quando Ele aparece, durante os quarenta dias,
algo está acontecendo dentro deles.
A NOVA DISPERSÃO
Há um outro
fator aqui que para mim é de grande significado e conforto.
Você lembra que não foi muito tempo depois disto que a
perseguição se levantou sobre Estevão, e todos eles foram
dispersos mais uma vez (At 8.1,4; 11.19). Eles foram todos
dispersos _ e agora é perfeitamente seguro para eles serem
dispersos. A antiga dispersão foi uma coisa devastadora: tudo
perda, tudo fraqueza _ tudo errado. Porém eles podem ser
dispersos para qualquer lugar, por todo o mundo, agora, e
isto é tão seguro quanto a eternidade. Uma vez que a coisa é
feita por dentro, está tudo certo, tudo bem. Um etíope não
mais precisa de um Felipe para aprender: ele pode seguir seu
próprio caminho, regozijando, sem Felipe ou qualquer outra
pessoa, quando a coisa é feita no interior. Quando isto tem
acontecido, podemos ter confiança de que as pessoas irão
prosseguir. Graças a Deus que é desta forma! Pode haver
perseguição, dispersão, prisões, mas eles seguem adiante.
Esses,
então, e muitos outros, são os valores que surgiram daqueles
quarenta dias. Porém, lembremo-nos de que isto está aqui na
Palavra para nós, foi passado de mão em mão para nós. Não é
apenas história, história da Igreja, daquilo que aconteceu
muito tempo atrás. Este livro de Atos _ que, como dissemos,
pode muito bem ser chamado de ‘O Livro da Libertação do
Senhor’ _ é dado para a igreja como a base da vida da
igreja. É para nós mesmos, e nós temos uma tremenda herança
nesses quarenta dias. Se tão somente estivéssemos
estabelecidos sobre aqueles valores, que diferença isto iria
fazer!
Deixe-me
enfatizar uma vez mais aquele fator da re-união e da
consolidação em uma nova comunhão. Isto é o que é
necessário. Não é a deplorável atual situação entre os
cristãos, com todos os fragmentos e divisões, todos os
questionamentos e suspeitas, e assim por diante, não é isto
uma prova clara de que os crentes não estão realmente
permanecendo no significado daquilo que foi realizado na
Cruz, em destruindo o campo natural e a vida natural, e
abrindo espaço para a espiritual e celestial? Isto é onde
tudo está focado. Quanto mais profundo a cruz opera em nós,
tratando com a nossa vida natural em todas as suas
formas, mais ficamos abertos para a vida celestial, e tanto
mais ficaremos unidos e estabelecidos. Esta é uma afirmação
de fato, mas também é uma prova real de nossa própria
posição.
Creio que
falei o suficiente, a fim de mostrar que esses quarenta dias
foram muito, muito importantes, e que eles permanecem por
todos os tempos como a época mais significativa para a vida
da Igreja.
Capítulo 5 _ A Ascensão e a Glorificação do Senhor Jesus
‘Fiz o
primeiro tratado, ó Teófilo, a respeito de tudo o que Jesus
começou a fazer e a ensinar, até o dia no qual foi recebido
em cima, após ter dado mandamento através do Espírito Santo
aos apóstolos a quem Ele escolheu’ (At 1.1,2).
‘Vemos,
porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora
feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da
morte’ (Hb 2.9).
‘Por isso,
também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é
sobre todo o nome; ’ (Fp 2.9).
Nós não
temos dado importância suficiente à ascensão. Valorizamos
bastante o nascimento do Senhor Jesus; muita importância é
dada à Sua ressurreição; e certo valor é dado ao
Pentecostes: porém à ascensão é dada muito pouca atenção,
quase passa desapercebida. Contudo ela tem uma significação
imensa: é ela, de fato, um dos maiores aspectos na escala da
obra da redenção.
Não a considere, e a escala ficará incompleta.
Temos
falado sobre a Oitava, a escala ascendente. O som, como
sabemos, é produzido pelas vibrações no ar, porém ele é
discernido por meio de um maravilhoso mecanismo no ouvido.
No ouvido humano há uma pequena estrutura, como uma pequena
harpa, que não tem menos do que 10.000 cordas. Quando o som
a alcança, a corda correspondente aquele som vibra, e a
vibração é transmitida, é interpretada pelo cérebro, de modo
que sejamos capazes de distinguir os diferentes sons e
reconhecer a sua origem. Agora, na escala, ou a oitava, quanto
mais alto subimos, mais vibrações obtemos. Existem apenas,
comparativamente, poucas vibrações nas notas baixas. Mas
quanto mais subimos, mais vibrações há, e quanto mais vivo e
afinado o ouvido precisa estar. Há alguns sons que são tão
altos que o ouvido humano não pode escutá-los.
Minha
observação é apenas esta: que quanto mais alto chegarmos nas
coisas espirituais, mais sensíveis precisamos ser, a fim de
discernir. Talvez o Senhor tivesse isto em mente quando
disse: ‘Aquele que tem ouvidos, ouça’ (Mt 11.15). É
necessário haver uma resposta correspondente àquilo que está
sendo dito. E, quando chegamos à ascensão, começamos bem em
cima na escala. Aqui está algo de muitíssima importância em
toda a oitava de redenção. É um grande ponto de virada,
sobre o qual tudo gira. Temos que tentar agora responder de
maneira breve a pergunta: Por que a ascensão e a
glorificação?
A ALEGRIA DOS
DISCÍPULOS
É
seguramente um dos argumentos mais fortes da ressurreição do
Senhor Jesus que os discípulos, e aqueles que tiveram estado
com Ele durante Sua vida terrena, ficaram tão alegres
finalmente em deixá-lo partir. Como já salientamos
anteriormente, sempre que Ele se referia a Sua partida que
estava próxima, essa idéia aterrorizava e consternava os
seus corações. De fato, aquelas palavras de Jesus,
registradas em João 14 _ ‘Não se turbe o vosso coração’ _
foram faladas exatamente por causa disso. Ele estava falando
sobre a Sua partida, e eles ficaram cheios de perplexidade
e desânimo. Se Ele partisse, eles não viam esperança alguma,
nenhum futuro: tudo para eles simplesmente iria se
desintegrar. Eles não podiam suportar pensar em Sua partida.
Quanto de Seu tempo, naqueles dias derradeiros com eles, foi
ocupado com esta matéria da Sua partida, e com os Seus
esforços de acalmar os temores deles, e renová-los! Eles
não podiam aceitar isto. Foi uma sombra escura no horizonte
deles.
Porém aqui,
quando chegou a hora da partida, que mudança! Nenhum sinal
de tristeza de qualquer espécie. Ele ergue as Suas mãos e
os abençoa, e, enquanto assim o faz, é recebido em cima, no
Céu, fora da vista deles. Não há qualquer sugestão de
terror, ou até mesmo de perda. Se pudermos discernir
corretamente a atmosfera, aquele momento foi tudo, menos de
tristeza. Algo tinha acontecido que os fez perceber que tudo
o que Ele tinha dito sobre isto era verdade. Esta não foi uma
ocasião para pior, mas sim infinitamente para melhor. Eles
‘retornaram para Jerusalém com grande alegria’ (Lucas
24.52). Algo tinha acontecido. Repito: Penso que uma mudança
tal como esta que aconteceu com eles seja o argumento mais
forte da ressurreição. E sinto que você e eu, e todo o povo
de Deus de hoje, precisamos tirar algo disto que estava no
coração deles. Precisamos capturar alguma daquela alegria _
que o Senhor tenha ‘ascendido’ (Os. 47:5)! Nós não O
perdemos; pelo contrário, por Ele ter voltado para o Pai,
temos nós grande ganho. Nosso ganho em Sua partida é algo
sobre o qual refletir.
UM NOVO
COMEÇO
Voltemos à
nossa pergunta novamente: Por que a Ascensão e a
Glorificação? Para começar, foi um ponto de virada na
dispensação; marcou um novo início de coisas. Temos um
vislumbre do que estava acontecendo a partir de alguns
salmos. Salmo 22: ‘Meu Deus, Meu Deus, por que Me
abandonaste?’; salmo 24 (que seguramente é um salmo
profético): ‘Levantai, ó portas, as vossas cabeças;
levantai-vos, ó entradas eternas, e entrará o Rei da
Glória.’ (v.7; A.S.V). Se o salmo 24 começa, como diz: ‘Do
Senhor é a terra...’, e continua: ‘Quem subirá ao monte do
Senhor, ou quem estará no seu lugar santo?’ (v.3), a
resposta está no salmo 23. É o Pastor das ovelhas quem irá
‘habitar na casa do Senhor para sempre’ (v.6). É Ele quem
sobe para o monte do Senhor, quem de ‘mãos limpas e coração
puro, que não entrega a sua alma à vaidade’ (24.4). É Ele. E
agora os portais eternos estão esperando por Ele.
Assim
podemos capturar o quadro. É como se o Céu estivesse em
suspense, e a terra em silêncio. Há uma pausa. Todo o salmo
22 já executado _ a terrível cruz, o terrível abandono, a
desolação. Ele foi colocado na sepultura. E agora Deus o
ressuscitou dos mortos. Mas o Céu está esperando por algo.
E, então, sai o brado: Ele está vindo! Os anjos e as hostes
celestiais gritam: ‘Ele está a caminho, Ele está vindo:
abram os portais para Ele!’ É o quadro de Sua ascensão, Sua
exaltação, de Seu regresso ao Céu. O ponto é que tudo estava
esperando por isto. Nada mais poderia acontecer até que isto
acontecesse. Sim, a preparação foi feita lá em baixo, na
terra; todo serviço foi feito pela cruz; tudo está pronto.
Mas no Céu a disposição é: ‘Estamos esperando _ não podemos
prosseguir até que Ele esteja de volta aqui, até que Ele
esteja em Seu lugar’. Tudo espera por isso. Tudo está em
suspense até que isto aconteça. Esta ascensão, esta
exaltação, esta glorificação do Senhor Jesus é algo
momentâneo. Isto deve, portanto, ter algum significado muito
grande para nós.
TUDO AGORA ESTÁ CENTRADO NO CÉU
Eu dizia
que isto é um novo início, para a qual toda a preparação foi
feita na cruz. Qual é o novo começo? Bem, uma tremenda
mudança aconteceu na característica, na natureza da
dispensação. Na velha dispensação, sob a velha aliança, tudo
estava centrado num lugar sobre esta terra, e numa nação
entre as nações: Jerusalém é o ponto focal, a Palestina é o
país, os judeus a nação. Tudo centrado lá; focalizado sobre
algo terreno, algo temporal e algo transitório _ algo, de
fato, que era capaz de completo colapso, e isto foi feito.
Agora a coisa toda foi removida da terra, e o ponto focal de
tudo está no Céu. O Céu detém o centro de todos os
interesses Divinos, a fonte de, e os recursos para todas as
atividades Divinas. O Céu é o lugar agora _ pois Ele próprio
está lá! A nova dispensação é marcada por isto: mas, oh,
isto a Igreja nunca esqueceu, nem falhou em ver! O centro, o
quartel general, o lugar de governo está agora no Céu, além
do alcance e do toque do tempo, da terra, de mudança e da
possibilidade de colapso! Estamos nós tão familiarizados com
o ensino para sermos lembrados que a Igreja é agora um povo
celestial, e não terreno, e que todas as nossas bênçãos
espirituais estão nos lugares celestiais em Cristo Jesus (Ef
1.3)?
Mas isto realmente tem alguns significados muito práticos.
Considere isto sobre o Senhor Jesus, por exemplo.
Quando Ele
estava aqui na terra, Ele estava, numa forma de falar, à
mercê dos homens e coisas; Ele era governado muito pelas
condições terrenas. Os homens podiam ameaçá-Lo como
quisessem – e eles o fizeram. É uma coisa realmente
espantosa, não é, que eles pudessem ter ameaçado o Deus
encarnado como eles fizeram? E, finalmente, eles o levaram
para a Sua morte. Foi assim que eles O ameaçaram, como eles
manobrá-Lo com Ele _ falando de um ponto do vista do mundo
e dos homens. Porém, ninguém pode fazer isto agora: ninguém
pode tocá-Lo agora, ninguém pode de algum modo controlá-Lo
agora. Ele está muito acima de tais condições e
possibilidades. Não traz um tremendo descanso, satisfação, e
conforto para os nossos corações saber disto? Ele está fora
do alcance de todas essas coisas que são contra Ele. Ele
está além do toque de todas as forças antagônicas que buscam
Sua destruição. Ele está muito acima de todas elas, acima de
todo governante e autoridade, e principado, e poder (Ef
1.21), absolutamente seguro, e nós não precisamos ter nem
sequer um momento de medo por Ele, nem ter um momento de
intranqüilidade.
A VERDADEIRA IGREJA AGORA COM CRISTO
NO CÉU
Por que
estou dizendo isto? Porque é de um valor e de uma aplicação
prática muito grande. Pois a Igreja é um corpo celestial,
que está assentada junto com Ele (Ef 2.6). Nós, portanto,
não precisamos ter nenhum momento de preocupação a respeito
da verdadeira Igreja. Desça para a terra e veja como os
homens se preocupam com as suas ‘igrejas’, e suas ‘coisas’.
Eles têm que cuidar da ‘coisa’: têm que tomar conta dela, te
que mantê-la. São os administradores dessa coisa, e cuidam
zelosa e ferozmente dela. Quanta preocupação eles têm, e
quantos problemas _ tão somente porque é algo terreno que
precisa ser cuidado. Que coisa grandiosa é, então, ficar no
campo da Igreja celestial, onde não há necessidade de se
preocupar em tentar preservar algo e mantê-lo funcionando, e
ver que ele não acaba! Aí está toda a diferença quando você
está no campo celestial. Você não precisa se preocupar ou se
desgastar para manter a coisa funcionando, caso contrário de
desintegraria, e você ficaria sem o seu ‘brinquedinho’, sem
a coisa pela qual vocês gastam todo o seu tempo e recursos.
Uma coisa celestial está sob a custódia de Alguém que _
graças a Deus _ está acima de todas essas coisas, e em
descanso.
Isto é o
que Jesus disse: ‘Na casa de Meu Pai há muitas moradas...
Vou preparar lugar para vós’ (Jo 14.2). Quando você entra no
terreno celestial, você chega ao descanso, da mesma forma
como Ele entrou no descanso. Você não precisa se preocupar _
apenas se mantenha neste terreno. Se você for se preocupar _
se tiver que se preocupar _ preocupe-se, então, em não
descer para o campo terreno, pois este é o campo da
preocupação. Mantenha-se em cima. As coisas celestiais estão
seguras _ sob a guarda de Alguém que está ‘acima de todas as
coisas’.
Mas a coisa
significa mais do que isto. ‘Todas as bênçãos espirituais
nos lugares celestiais em Cristo’, e nós assentados lá com
Ele. Esta união celestial com Cristo significa tal
abundância, tal plenitude, que jamais precisamos nos
preocupar com os suprimentos espirituais. É simplesmente
maravilhoso que os recursos, que os suprimentos, virão, se
tão somente permanecermos no campo certo, na posição
correta. Se você estiver espiritualmente sobre esta terra
(uma contradição em termos!), terá que se preocupar com os
suprimentos. Se você estiver aqui em baixo, no nível natural
de ministério, apenas veja quão difícil terá que trabalhar a
fim de conseguir que alguma coisa aconteça. Mas suba para o
Céu aberto, no campo celestial, e toda benção espiritual,
abundância, plenitude, seguirá. Elas não são coisas
abstratas; são realidades. É um dos milagres do sustento
celestial _ o suprimento que nunca acaba ao longo de todo o
caminho. Você sente que chegou ao final, e que não há mais
nada e, então, lá vem uma outra plenitude; e novamente você
parece ter exaurido tudo, e não tem um outro bocado _ e,
contudo, uma outra plenitude chega. Toda vez que Ele quer,
e que haja necessidade de algo, é desta forma. E, assim,
você prossegue através dos anos.
Tudo isto é uma parte dEle estar no Céu, e da Igreja estar
unida com Ele no Céu. Esta é uma parte da resposta para a
nossa pergunta: Por que a ascensão e a glorificação do nosso
Senhor Jesus?
A ATESTAÇÃO DE DEUS
PARA UMA VITÓRIA CELESTIAL
Mas, além
disso, A Sua ascensão e Sua glorificação é a própria
atestação de Deus de Sua Pessoa e obra. Isto é o que as
Escrituras dizem. Este é o significado de passagens tais
como: ‘Ora,
ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do
homem, que está no céu.’
(Jo 3.13) Esta é a atestação de Sua Pessoa. Temos percebido
que o Salmo 24 segue o Salmo 22. O Salmo 24 é a atestação
da Pessoa que no Salmo 22 clamou: ‘Deus meu, Deus meu, por
que me abandonaste?’ O Céu irrompe em atestar aquela Pessoa
e A Sua obra na Cruz. No início deste capítulo, lemos
Filipenses 2.9: ‘Por isso’ _ através da ‘obediência até a
morte, e morte de cruz’ _ ‘Deus o exaltou soberanamente’.
Esta é a atestação Dele e da Sua obra. O mesmo é verdade
sobre a passagem que lemos em Hebreus 2.9: ‘Vemos, porém,
coroado de honra e glória... por causa da paixão da morte’
Sua exaltação e glorificação proclamam a Sua vitória. ‘Quem
é o Rei da Glória?’ ‘O Senhor Poderoso na batalha’ ( Sl.
24.10,8). Ele entra, e proclama a Sua vitória.
Agora,
embora possamos estar familiarizados com isto, e isto possa
não ser uma informação nova para nós, é muito necessário
mantermos em mente que o real conflito e a real vitória
estavam nos lugares celestiais. O conflito não era contra
carne e sangue, não era contra os líderes judeus, não era
contra os oficiais romanos, ou contra o Império Romano em
si. Por trás de todas essas coisas estava um outro, um
império espiritual, invisível, porém, muito real, e nós o
conhecemos. Foi nesse campo que o real conflito aconteceu.
Foi o encontro entre dois reinos e impérios espirituais, e
foi lá que a real vitória foi ganha. Foi uma vitória sobre
esses ‘principados e potestades, e dominadores das trevas, e
hostes da maldade’. Ele foi por detrás deste sistema mundial
exteriorizado e enfrentou tudo que lá havia; e foi nesse
território que ele estabeleceu a Sua vitória.
É verdade
que as dificuldades surgem em nossas mentes quando vemos as
coisas indo mal _ um Tiago morto, um Estevão martirizado,
milhares lançados para dentro da arena e despedaçados;
quando, como hoje, vemos incontáveis lares e famílias
arruinadas, e servas e filhos de Deus lançados na prisão.
Não é difícil imaginar _ Será que Ele está no trono? Será
verdade que Ele está acima de tudo? Mas o Reino Dele é uma
coisa a ‘longo prazo’, se formos usar a expressão. Talvez
você tenha visto uma corrida de corredores de trilha em que
há notável e famoso atleta. Começa a corrida, e ele parece
ser o mais indiferente de todos. Ele deixa que todos passem
à sua frente, e, ao passarem à sua frente, não há o menor
sinal de ansiedade em sua face. Ele os deixa seguirem a
frente. Todo mundo pensa que eles estão ganhando e que ele
está derrotado. Porém _ espere até o final. Ele possui uma
reserva tal de energia que, no último minuto, quando todos
os demais já esgotaram as suas reservas, ele recorre às suas
reservas e vence a corrida muito facilmente.
É a tremenda vitória de competência e reserva.
O Senhor Jesus é desta forma.
Isto é
exatamente o que está acontecendo hoje. Parece que Seu rival
está passando na frente, e não parece nem um pouco que o
Senhor esteja preocupado com isso. Nós não conseguimos
descobrir nenhum sinal de ansiedade, ou de preocupação, ou
de agito em relação ao Senhor. Não é que ele esteja
indiferente, mas ele sabe quais são as Suas reservas _ Ele
sabe o que ele pode fazer. E novamente, e mais uma vez, está
provado que é desta forma. No final Ele chega em primeiro _
Ele venceu a corrida. Ele fez isto sobre o Império Romano no
início, e Ele tem feito isto repetidamente desde então. Ele
apenas deixa o inimigo passar na frente, dando a entender
que ele está na vantagem, e, então, com a Sua competência e
reservas infinitas, Ele toma conta da situação _ Ele tem
colecionado todos os prêmios.
A Garantia
Da Vitória Final
É desta
forma para a Igreja. Podemos sentir hoje que o inimigo está
prosperando em seu caminho. Às vezes parece que é como se o
Senhor estivesse muito atrás do inimigo. Porém, espere! Ele
disse para os Seus discípulos, como última palavra: ‘Estou
convosco...até a consumação dos séculos’ (Mt. 28.20); ‘Vou
estar lá no final’. O Senhor Jesus não ficará de fora no
final, Ele estará lá.
Será o inimigo quem ficará de fora.
Em dias
como os nossos, penso que precisamos reunir algo da força,
da consolidação e da ajuda dessa verdade. Poderíamos
facilmente ficar oprimidos. Alguns anos atrás, ouvimos, do
longínquo Leste, sobre a prisão em todo o país de milhares
de irmãos, irmãs, e obreiros, que tinham servido ao Senhor
plena e fielmente por muitos anos. Podemos não ter a mesma
história real de sofrimento físico e prisão que eles
tiveram, mas estamos na mesma batalha, e o espírito da
opressão é terrível. A atmosfera está simplesmente cheia de
antagonismo. Precisamos de ajuda, encorajamento. E de onde
pode vir esta ajuda, senão do fato de que Ele, o Senhor,
subiu nas alturas, e está lá no trono?
Esta é
apenas a primeira coisa sobre isto, mas é algo muito mais
poderoso. Isto é apresentado a nós na Escritura, do efeito
manifesto que tinha sobre aqueles que estavam lá. E devemos
lembrar que Lucas era um historiador muito meticuloso. Ele
nos conta que se esforçou muito em procurar e reunir os
dados corretamente, acuradamente. Lucas jamais colocaria
isto em seu registro se ele tivesse tido qualquer dúvida a
respeito. Ele tinha muitas evidências para tudo que escreveu
em seu livro de Atos. Aqui você tem esses homens, sob
circunstâncias e condições que teria naturalmente resultado
em algo bem ao contrário, exatamente este _ triunfante,
positivamente triunfante! O Senhor os deixara, tendo sido
recebido por uma nuvem fora da vista deles. Ele tinha ido: O
que eles deveriam sentir? Porém, eles não estão tristes.
Eles vão triunfantes, e para triunfar, porque Ele tinha
subido!
A exaltação
do Senhor Jesus é aqui apresentada para a nossa fé como uma
grande nota na oitava de redenção. O conhecimento de que o
Senhor está em cima tem a finalidade de nos redimir do medo
e da incerteza, de nos redimir da depressão esmagadora no
dia de aparente calamidade. É como se o Espírito Santo
procurasse dizer, se não em palavras, em efeito, naqueles
que estão sofrendo: ‘Está tudo bem _ Ele está no trono!
Jesus reina _ Ele está no trono _ Ele está exaltado nas
alturas!’ Creio que essas pessoas irão vencer por causa
desta verdade.
É um grande fator na redenção
Um Homem
Representante Alcançou O Objetivo
Mas eu disse que isto é
apenas uma parte da grande verdade. Há uma outra parte maior
da qual podemos apenas dar uma ‘dica’ agora. ‘Que seria,
pois, se vísseis subir o Filho do homem para onde primeiro
estava?’ (Jo. 6.62) ‘O Filho do Homem subir...’ Este título
é indicativo de uma grande e maravilhosa verdade. Ele nos
traz direto para a Carta aos Hebreus. ‘Mas em certo lugar
testificou alguém, dizendo:Que é o homem, para que dele te
lembres? Ou o filho do homem, para que o visites? Tu o
fizeste um pouco menor do que os anjos, de glória e de honra
o coroaste, e o constituíste sobre as obras de tuas mãos;
todas as coisas lhe sujeitaste debaixo dos pés. Ora, visto
que lhe sujeitou todas as coisas, nada deixou que lhe não
esteja sujeito. Mas agora ainda não vemos que todas as
coisas lhe estejam sujeitas.’ (Hb. 2.6-8) O homem ainda não
chegou naquilo para o qual foi criado; isto não está todo
realizado ainda. ‘Vemos, porém, coroado de glória e de honra
aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos,
por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus,
provasse a morte por todos.’
(v.9). O que
significa tudo isto?
Aqui está o Filho do
Homem, em Quem, como o Primeiro, foi realizado toda a intenção
Divina em relação ao homem, a Sua criação. Seria proveitoso,
à esta altura, entrar em um estudo detalhado da Carta aos
Hebreus, especialmente nos seus primeiros capítulos. ‘Porque
não foi aos anjos que sujeitou o mundo futuro, de que
falamos. Mas em certo lugar testificou alguém, dizendo: Que
é o homem, para que dele te lembres? Ou o filho do homem,
para que o visites?’ (2.5,6). A sujeição ao homem da futura
terra habitada é o que está em vista. Nós ainda não vemos
toda esta sujeição ao homem; mas vemos o seu Representante
no Céu, com todas as coisas sujeitas a Ele, para o homem.
Está assegurado para o homem no Homem Representante no Céu.
O escritor continua: ‘Por
isso, irmãos santos, participantes da vocação celestial... ’
(3.1). É tudo de um pedaço, você vê. A ‘vocação celestial’ _
O que é? Estar em sociedade com Ele, em parceria com ele _
‘Porque, assim o que santifica, como os que são
santificados, são todos de um; por cuja causa não se
envergonha de lhes chamar irmãos, dizendo: Anunciarei o teu
nome a meus irmãos...’ (2.11,12). ‘Por isso, irmãos santos,
participantes da vocação celestial...’ O que é isto? Ter o
domínio sobre a terra habitada que está por vir. Ele está
lá, tendo assegurado este propósito de Deus em Sua própria
Pessoa, representando o povo, os ‘muitos filhos’ que Ele
está ‘trazendo à glória’ (2.10). Este é o motivo pelo qual
Ele ‘subiu nas alturas’ (Sl. 68.18; Ef.4.8). Significa um
Homem instalado, em plena possessão da eterna intenção de
Deus em relação ao homem; instalado lá como o primeiro de
muitos filhos sendo trazidos à glória.
Talvez você pergunte: Qual
é a diferença entre o governo celestial e o governo hoje, e
aquele na velha dispensação? Pois os céus governavam.
Nos dias de Daniel, os céus estavam governando (Dn. 4.26;
cf. vv. 17,25,32). Sim, eles estavam governando na velha
dispensação. Porém, qual é a diferença? Esta pergunta abre
uma imensa porta, e toda esta carta aos Hebreus irá dar a
resposta. É a grande diferença entre uma dispensação
puramente terrena e temporal, e uma que é eterna,
celestial, e espiritual. Isto compreende todas as diferenças
que foram mencionadas nesta carta _ a carta das ‘melhores’
coisas. No governo celestial do Filho do Homem você chega a
algo muito melhor do que a soberania geral de Deus na velha dispensação. Esta é uma matéria muito grande para
considerarmos aqui, mas toda ela se centraliza na questão do
por que Ele está lá na glória _ por que Ele subiu, por que
Ele ascendeu e está glorificado. Isto implica algumas coisas
muito grandes e desafiadoras do por que Jesus está no céu.
(1) A Encarnação
Vamos dar uma olhada
sobre isso. A primeira nota, ou fase, da oitava, foi a
encarnação do Filho de Deus: O Filho de Deus vindo em forma
humana a este mundo. Você irá se lembrar de que tentamos
explicar que houve um objeto tripartite na encarnação _ ele
tinha três significados bem definidos. Primeiramente, a
redenção do homem: vimos algo da natureza de homem, do qual
o homem tinha que ser redimido; em segundo lugar, a
re-constituição do homem ao padrão original de Deus; e, em
terceiro, o aperfeiçoamento do homem. Essas três coisas
foram absorvidas pelo Filho de Deus, sob o título de ‘O
Filho Do Homem’, e pessoalmente em Si mesmo elas se tornaram
reais. Ele não foi apenas o Redentor, mas Ele próprio era a
Redenção. A Redenção se tornou uma Pessoa. Será que é
necessário que eu defenda o que estou dizendo? Deixe-me
repetir isto. Jesus não era apenas o Redentor, e a Redenção
não foi apenas o que Ele fez: Ele esteve lá como a
corporificação e representação pessoal da Redenção; Ele era
a representação de homem redimido, do tipo de homem que iria
surgir quando fosse redimido.
Ele, então, foi um como
re-constituído de acordo com a mente de Deus; o Homem, em
representação, reconstituído e diferente. E, em Si mesmo Ele
foi ‘aperfeiçoado através dos sofrimentos’ (Hb 2.10). Ele
representou o homem aperfeiçoado através dos sofrimentos e
provas: não, naturalmente, no sentido de se tornar bom ou
sem pecado, mas trazido à plenitude. Devemos sempre lembrar
de que a palavra ‘perfeito’ na Bíblia não significa apenas
um estado: significa uma medida, uma maturidade, uma
plenitude, uma inteireza, uma finalização, ou realização
final de alguma coisa. Nele a perfeição não era fazer o
homem melhor _ nada podia fazer isto _ mas poderia, como
Homem, crescer. E Ele de fato cresceu. Observamos que foi
dito duas vezes a respeito dos seus primeiros anos, primeiro
à idade dos doze anos, e novamente mais pra frente, que Ele
‘crescia em sabedoria e estatura’, que ‘a graça de Deus
estava sobre Ele’, e que Ele estava ‘no favor de Deus e dos
homens’. (Lc 2.40,52). Ele crescia. E, então, quanto aos
três anos e meio, que aumento de paciência, que aumento de
fé, que aumento de amor. Ele era o Homem aperfeiçoado,
tornado perfeito por meio do sofrimento; isto é, Ele se
tornou completo. Isto é encarnação.
(2) A
Vida Terrena
Então consideramos a sua
vida terrena. Como o vimos nos trinta anos, e, então, os
três anos e meio, resumimos tudo dizendo: Aqui está o tipo
de homem que Deus procura. Sob cada teste e prova, em todas
as circunstâncias adversas, Ele é mostrado a nós como o tipo
de homem que Deus deseja ter _ uma verdadeira humanidade:
não, como dissemos, uma ‘teofonia’, uma mera visitação
passageira de Deus em forma de homem, mas vivendo da
infância até a maturidade de vida, como homem, e
permanecendo lá como alguém aprovado por Deus, de quem Deus
poderia dizer: ‘Nele está todo o meu prazer’ (Mt 3.17,
17:15), satisfazendo a Deus como Homem. Na vida terrena, lá
está mostrada a nós, colocada diante de nós, o Homem que
Deus deseja ter, o Homem que Deus procura.
Se tão somente tivéssemos
olhos para ver, e entendimento para compreender, tudo o que
Ele era em si mesmo, e todas aquelas leis e princípios
pelos quais Ele era governado! Quão diferente Ele era de
qualquer outro homem _ completamente diferente, um mistério
para todos. ‘no meio de vós está um a quem vós não
conheceis.’ (Jo. 1.26). Não era apenas que Ele era o Filho
Divino manifestado em carne. Foi verdadeiramente provado
que, mesmo como homem eles não podiam compreendê-lo. O
amigos mais íntimos não o compreendiam, ou falhavam em
compreendê-lo. Há algo a respeito dele como Homem que é
diferente e inexplicável. Mas Ele é o tipo de homem que Deus
vai ter.
Eu deveria, talvez, dizer aqui em parêntesis, que, numa
medida _ pode ser uma pequena medida, mas uma medida muito
real _ isto é, ou deveria ser, verdade sobre cada cristão. O
mundo não nos conhece porque não conheceu a Ele (Jo. 1.10;
16.3; 1Jo 3.1b). Deve haver sobre um verdadeiro cristão algo
que o mundo não pode compreender, algo que não adianta
tentar fazer com que o mundo entenda, pois jamais irá
entender. Há algo diferente. Não temos necessidade de tentar
ser diferente e singular, e estranho, pois certamente
seremos assim, se caminharmos com o Senhor!
(3) A Cruz
Então, chegamos à cruz, e na cruz vimos três coisas. Vimos,
primeiramente, um homem, um tipo de homem, exposto. A cruz
do Senhor Jesus foi uma terrível exposição, um descortinar, do
homem como ele é. Se alguma vez o homem revelasse com o que
ele se parece, mostrasse o que ele é e pode fazer, ele o
faria então. Se alguma vez fosse manifesto que o homem é
realmente impulsionado e dirigido pelo próprio diabo, que
segue as suas pisadas, e apenas precisa de uma ocasião para
que ela seja revelada, isto seria feito então. Não vamos
pensar: ‘Oh, eles eram pessoas muito terríveis! Nós somos
muito diferentes daquelas pessoas; jamais faríamos aquilo’.
Espere até sermos colocados sob teste. Não há nada _ nada _
de que não sejamos capazes, se tão somente as circunstâncias
forem tais que descortinem as profundezas de pecado que
existe em nossas naturezas, e nos traga para fora.
Sim, o homem foi exposto na cruz.
Em segundo lugar, vimos o homem classificado: o homem mostrado o
que ele é e o lugar onde ele pertence, colocado em sua
própria categoria. Não é verdade em nosso próprio caso, como
cristãos, que, na medida em que chegamos, sob a luz do
Espírito Santo, realmente entender algo de nossos próprios
corações, em alguma medida para conhecermos a nós mesmos _
não é verdade que sabemos o lugar a que pertencemos? Porém,
pela misericórdia e graça de Deus, sabemos onde devemos
estar no final _ devemos ir para ‘o nosso próprio lugar’,
aonde pertencemos. A cruz classificou o homem e mostrou o
lugar de onde ele pertencia.
Em terceiro, a cruz colocou tudo sob julgamento e morte, pois
‘todos pecamos’. Um homem exposto, um homem classificado, um
homem julgado e colocado de lado _ esta é a cruz.
(4) A Ressurreição
A Ressurreição fala de um
outro Homem produzido e atestado. Nas palavras do apóstolo
Paulo: “Jesus Cristo... foi declarado”, ou ‘marcado como’,
‘o Filho de Deus com poder, de acordo com o Espírito de
Santidade, pela ressurreição dentre os mortos’ (Rm 1.1,4). Isto
resume tudo. A ressurreição foi a atestação do Homem que _
longe de ser posto de lado _ é trazido no lugar do homem que
foi rejeitado.
(5) A Ascensão
A ascensão e a
glorificação estão todos reunidos nisto: a instalação do
novo Homem, representativamente, como o primeiro dos filhos
sendo trazidos à glória; o novo Homem instalado no Céu.
O Espírito Veio Para Fazer Essas Coisas Reais Nos Crentes
Com este breve lembrete
dos cinco pontos na oitava, chegamos ao advento do Espírito
Santo. Você percebe que cada passo deve seguir o precedente,
cada um é uma parte do outro. O advento do Espírito Santo
foi para absorver todas aquelas coisas que tinham precedido,
para trazê-las à terra, do Senhor glorificado no Céu, e
para torná-las reais em você e em mim. O Espírito Santo veio
para tornar eficaz em você e em mim a redenção para a qual
Cristo veio _ ‘a redenção que está em Cristo Jesus’ (Rom
3.24) _ a reconstituição do homem demonstrada em Cristo. Ele
veio para continuar aquela obra que foi aperfeiçoada Nele, e
levá-la à perfeição em nós _ para nos aperfeiçoar também,
para nos fazer completos com a plenitude de Cristo.
Assim, a base da operação
do Espírito Santo é nada menos do que todo o significado da
Encarnação, naqueles aspectos. Quanto à vida terrena, aqui
está o Homem, o tipo de homem que Deus procura, e o Espírito
Santo veio para nos conformar a este tipo de homem, à
imagem do Filho de Deus: numa palavra, tornar-nos
semelhantes a Cristo. Esta é a obra do Espírito Santo; esta
é a coisa pela qual Ele veio. Esta é a gloriosa esperança
para nós.
Quanto à cruz _ sim, é
igualmente verdade que a atividade do Espírito Santo é
constantemente dar testemunho contra aquele homem que foi
colocado de lado. Se você e eu somos habitados e governados
pelo Espírito Santo, saberemos quando tocamos aquele homem.
Saberemos que este é um terreno proibido; saberemos que há
um aviso lá: ‘Não ultrapasse _ mantenha-se afastado. ’ Todo
cristão que não sabe, por meio de uma ferroada ou um chute
por trás, quando ele ou ela toca o velho homem, está
faltando sensibilidade ao Espírito Santo. Mas há outro
lado. O Espírito Santo nos mantém do lado positivo, dizendo:
‘Agora este é o caminho, o caminho da vida. Largue o velho
caminho _ mantenha-se no caminho da vida!’ Caro cristão,
guarde isto no coração: acabe com aquele velho homem! Não
esteja constantemente desenterrando-o e olhando para ele,
indo sobre ele e ao redor dele, tentando encontrar algo de
bom nele _ isto é, em você mesmo; pois você nunca
conseguirá! O veredicto de Deus é que nele ‘não há bem
algum’ (Rm. 7.18); assim, mantenha-se longe deste terreno, e
mantenha-se no campo do novo homem. O velho homem foi
exposto: certamente você sabe quão mau ele é. Por que ter
alguma coisa com ele?
O Espírito Santo veio
para nos fazer saber que há um outro terreno sobre o qual
devemos viver nossas vidas. Ele veio para levar a termo o
efeito da obra da cruz, afastando de lado um, e trazendo o
outro: em outras palavras, para fazer caminho para a
ressurreição. Você e eu somos agora pelo Espírito Santo
chamados para viver no terreno da Sua ressurreição, pela
vida da ressurreição. A ressurreição é a grande
característica desta dispensação. Essas são duas verdades _
o afastamento de um, a fim de abrir caminho para o outro.
E o
Espírito Santo veio para trabalhar neste terreno.
Finalmente, tudo isto
está reunido no Homem que está na Glória. Ele é a
corporificação de todas essas coisas divinas. Ele está
instalado lá, longe de quaisquer riscos terrenos, longe de
qualquer possibilidade de interferência aqui da terra. Ele
está fora de alcance de qualquer toque aqui deste mundo que
procurasse alterar as coisas. Ele está bem acima de tudo. E,
então, o Espírito Santo vem para continuar tudo isto que
está corporificado Nele, e trabalhá-lo em nós e na Igreja.
Isto, então, é a resposta
à questão: Por que o Espírito Santo? Para cumprir o
significado da encarnação, no que ela se refere ao homem;
para cumprir o significado da vida terrena; para cumprir o
significado da cruz; para cumprir o significado da
ressurreição; para cumprir o significado da ascensão e
glorificação do Senhor Jesus. O Espírito Santo absorve todas
essas coisas, com o objetivo de realizá-las nos crentes.
O Espírito Santo Está Cometido Ao Senhor Jesus
Assim, o Espírito Santo
está completamente cometido ao Senhor Jesus. Ele tem um
interesse que inclui e abrange todos os demais: Ele está
focado com toda a Sua atenção e recursos sobre o Senhor
Jesus, a fim de fazê-lo glorioso, e isto nos crentes. Como
sabemos, o Senhor Jesus disse: ‘Ele Me glorificará’ (Jo
16.14). Esta é a Sua obra. Talvez isto seja algo muito
familiar para se criar qualquer espécie de barulho, porém,
encontro bastante conforto para o meu coração a partir de
cada contemplação fresca no fato de que o advento do
Espírito Santo foi centralizado e resumido sobre este único
assunto: realizar em você e em mim _ isto é, na Igreja
_ tudo aquilo que o Senhor Jesus foi e fez na qualidade
de Filho do Homem. Isto abre um espaço para confiança em
oração, um campo de garantia da esperança. É assim que o
Espírito Santo tem governado nesta dispensação.
Este foi o tema principal
de nosso Senhor durante aqueles últimos dias com os Seus
discípulos. Ele terminou o Seu ministério público,
retirou-se das multidões, e, por muitas horas antes do fim,
entregou-se a Si mesmo, com atenção concentrada, aos seus
discípulos. E, se você olhar para aqueles últimos dias e
horas, tão firmemente embalados com esta instrução, este
ensino, este abrir do Seu coração, você descobrirá que o seu
tema principal durante todo aquele tempo se referia ao dia
que estava chegando. ‘Naquele dia...’, ‘No dia...’,
Ele dizia; e ‘aquele’ dia era o dia do Espírito Santo. ‘Quando
Ele vier...’; ‘Naquele dia, quando Ele vier...’ Ele deu
a maior importância e valor sobre a vinda do Espírito Santo,
porque Ele sabia muito bem que tudo aquilo para o qual Ele
tinha vindo, como a encarnação e a vida terrena, e a cruz,
ficaria sem qualquer valor caso o Espírito Santo não
reproduzisse aquilo orgânica e vitalmente em seu povo.
Ele reuniu aquilo numa
declaração muito familiar: ‘se o grão de trigo, caindo na
terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito
fruto. ’ (Jo. 12.24). Agora, Ele disse isto em resposta
a certas pessoas que tinham expressado um desejo de ‘ver
Jesus’ (v.21). Foi uma resposta estranha, misteriosa. ‘É
chegada a hora em que o Filho do Homem será glorificado...
se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele
só...’ Certamente o que Ele queria dizer era: ‘Embora
você peça, embora você busque, mesmo com sinceridade, você
jamais irá ver o Filho do Homem glorificado, somente se Ele
for reproduzido em outra pessoa, como o grão reproduzindo a
si mesmo. Aí você Me verá, aí você verá a minha glória’.
Porque há um senso no
qual não se vê o Filho do Homem, o glorioso Filho do Homem,
exceto na Igreja, nos crentes. Que pobre exibição fazemos
disso! Mas este é o Seu caminho. Digo, Ele gastou aquelas
horas e aqueles dias concentrado nisto. ‘Por tudo aquilo que
vim a ser e a fazer, a necessidade é de que o Espírito Santo
venha. É muito mais importante que Ele venha do que Eu
fique. Se Eu ficar, sou como o grão de trigo sozinho; se Eu
for, abro espaço para Ele reproduzir’. Ele ensinou,
portanto, que a única maneira de conhecê-Lo, a única maneira
de vê-lo, era dessa forma.
A Morte, O Obstáculo Para o Propósito De Deus, Foi Removida
Que efeito deve isto ter
sobre nós? Certamente, antes de tudo, deve nos dar um real
exercício sobre a questão do Espírito Santo ter o seu lugar
legítimo em nós, sem obstrução alguma, estando livre para
fazer a Sua obra. Vamos nos lembrar de que Deus, do seu
lado, tem se movido para remover a grande obstrução de
todos. Quando, na carta aos Hebreus, o Senhor Jesus é
apresentado como o Homem instalado no Céu _ ‘Vemos a Jesus,
coroado com glória e honra’ (2.9) _ isto significa que é
possível agora para Deus continuar com a Sua obra em relação à
humanidade. O plano de Deus está sempre voltado para o
homem. ‘Que é o homem, para que te lembres dele? Ou o Filho
do Homem, para que o visites?’ (2.6). Aqui está O Homem
a quem os homens devem ser conformados: porém havia
uma grande obstrução, um grande obstáculo que tornava aquilo
impossível, e este era a morte. A morte estava no caminho. O
homem jamais podia chegar àquilo enquanto a sentença de
morte repousasse sobre tudo. Pois, quando o homem pecou em
seu primeiro pai, a morte, o grande inimigo a todo propósito
de Deus, foi passada como uma sentença sobre todos os
homens; e assim, ela se põe no caminho. Aquele homem, aquela
raça jamais pode chegar lá e ser daquela maneira.
Porém, ‘Vemos ...a Jesus,
por causa do sofrimento de morte, coroado com glória e
honra’. Ele removeu aquela obstrução, o obstáculo, e a
destruiu. ‘para que pela morte aniquilasse o que tinha o
império da morte’ (Hb 2.14). Ele ‘experimentou a morte por
todos os homens’ (v.9). Ele removeu o grande obstáculo e o
tirou do caminho. Agora podemos alcançar aquela semelhança!
Do lado de Deus, o maior obstáculo ao cumprimento do Seu
propósito Divino foi removido _ e, se você lidar com o
maior, terá lidado com todo o resto _ e assim, o caminho
está aberto.
O efeito disso sobre nós,
então, deve ser que nos damos conta de que escapamos, e nos
mantemos afastados do terreno da morte _ a morte que repousa
sobre o velho homem. Isto pode soar misterioso, confuso,
porém, de fato isto é muito real, prático. Se você e eu
começarmos a ter qualquer envolvimento com nós mesmos, como
estarmos em nós mesmos, sabemos que a morte começa a operar.
É sempre assim. E o inimigo sabe disso também. Se ele puder
colocar em movimento esta ‘roda da natureza’ (Tg 3.6),
fazê-la ficar estimulada e nos fazer ficar envolvidos, ele
sabe que nos terá novamente debaixo do poder da morte. O
Espírito Santo é o Espírito da Vida, e Ele trabalha nesse
sentido, e apenas neste sentido, o terreno da vida. Você e
eu, portanto, deveríamos fazer disto o nosso exercício para
sempre permanecermos no terreno da vida. Precisamos nos
lembrar de que o plano de Deus para nós é vida, não morte.
Se nos apegarmos à vida, Deus irá reagir: o Espírito Santo
irá se mover. Nós aceitamos a morte muito facilmente. O
inimigo está sempre oferecendo morte para nós, de uma forma
ou de outra, tentando nos fazer aceitá-la. Se começarmos a
brincar com a morte, simplesmente estaremos dando terreno
para o Diabo, e ele irá arruinar tudo. É contra o Espírito
Santo. Que o Senhor nos ensine o que isto significa.
O Espírito Santo, então,
está comprometido com o Cristo ressuscitado, para a
realização de tudo o que a Sua vida ressurreta significa,
visando no final a glorificação.
A Presente Disciplina Ligada Ao Governo Futuro
Há em Cristo um propósito
muito completo em relação ao homem, um propósito muito
completo de fato. Dissemos alguma coisa a esse respeito, a
partir de Hebreus, em seu último capítulo. ‘E o
constituíste sobre as obras das tuas mãos’; ‘Todas
as coisas lhe sujeitaste debaixo dos pés.’ (Hb 2.8).
‘Porque não foi aos anjos que sujeitou o mundo futuro, de
que falamos.’ (Hb 2.5). Este este é um tremendo chamado,
uma tremenda vocação: nada menos do que governar este mundo,
em união com Cristo, na época vindoura. Você diz: ‘Esta é
uma idéia maravilhosa, uma linda concepção _ porém, qual é o
valor de concepções e idéias maravilhosas que estão
distantes nos séculos vindouros?’ Após esta maravilhosa
apresentação que vimos em Cristo, e do homem em relação a
Cristo, e de sua associação e participação no governo do
mundo vindouro, há duas coisas que resultam desta carta aos
hebreus.
Uma é que, em relação a
este propósito, Deus está fazendo algo nos crentes agora.
Você se lembra de Hebreus 12? ‘tivemos nossos pais
segundo a carne, para nos corrigirem, e nós os
reverenciamos; não nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos
espíritos, para vivermos?’ (vv. 9). A carta toda
realmente leva a isto. Com o capítulo 12 o escritor se
aproxima do final da sua mensagem; ele está resumindo. Do
que se trata tudo isto? ‘Por isso, irmãos santos,
participantes da vocação celestial...’ (3.1). O governo
do mundo vindouro em união com Cristo _ esta é a nossa
chamada. Porém, temos que ser preparados para isto; e o que
está nos acontecendo agora, em nossa vida espiritual, é o
nosso treinamento para isto, e é muito prático.
Se há uma coisa que você
e eu descobrimos que precisamos aprender, é como obter
ascensão de espírito. Por que o Senhor permite todas essas
coisas _ essas coisas adversas, penosas? Por que ele não as
impede? É para que possamos aprender ascendência de
espírito: porque este governo não é oficial _ é um governo
espiritual. O real governo deste mundo é espiritual. Por
trás dos homens e de tudo o que está acontecendo há um
sistema espiritual em ação. É algo diabólico. Deus irá
varrer isto do universo e colocar algo bom em seu lugar.
Irá ser um governo espiritual, celestial, e, quando houver
um cenário celestial neste mundo, que diferente tipo de
mundo será. Deus irá tornar este mundo um lugar saudável,
colocando sobre ele um governo espiritual salutar, e este
governo será colocado nas mãos dos santos.
Porém, com isto em vista,
teremos que passar por um exaustivo ensino nas mãos do Pai
dos espíritos. Tudo visando esta questão de obter
ascendência espiritual. Cada dia temos algo para galgar,
espiritualmente; algo que deve ser colocado em sujeição sob
os nossos pés. Muito freqüentemente as coisas alcançam o
topo e põe os pés sobre nós. A fim de trazê-las em
sujeição, temos que cooperar com o Senhor, e o nosso treino
é, assim, para que possamos aprender a trazer as coisas sob
os nossos pés. O Espírito Santo está aqui para isto. Todas
aquelas palavras sobre sermos ‘fortalecidos com poder
através do seu Espírito no homem interior’ (Ef 3.16), ‘fortalecei-vos
na força do Senhor’ (Ef 6.10; 1 Pd 4.11) _ todas essas
palavras têm a ver com o assunto de ganhar ascendência
espiritual, chegar no topo.
Necessidade de Encorajamento E Conselho
A outra coisa que advém
desta carta aos Hebreus é aquela nota constantemente tocada
de exortação, de encorajamento. ‘Vamos em frente...’ Há
muita exortação e súplica. Por quê? Por causa deste alto
chamado, por causa desta grande vocação, por causa deste
propósito em nossa nova criação e união com o Filho de Deus.
É nossa herança _ o mundo vindouro e o governo dele.
Precisamos de muito encorajamento, precisamos de muita
exortação, precisamos de conselho constante; trata-se de
algo muito grande. Creio que é isto a que o escritor se
refere quando diz: ‘Como escaparemos nós se negligenciarmos
tamanha salvação?’ (Hb 2.3). A ‘grande salvação’ não é
apenas escapar do inferno e de alguma forma arranhar o céu _
é tudo isto que está nesta carta: ‘Companheiros num chamado
celestial’.
O Espírito Santo veio para
o propósito de efetivar isso. Talvez os nomes pelos quais o
Senhor Jesus o chamou não nos impressione muito: por
exemplo, quando Ele o chama, em nossa língua, de ‘o
Consolador’. Naturalmente, isto é muito bom: precisamos de
consolo; mas isto é apenas uma parte do significado do Seu
Nome. Seu nome completo é: ‘Aquele chamado ao lado’,
co-operando conosco; ‘o Encorajador’, ‘o Advogado’. Ele veio
para estar ao nosso lado _ para ser o nosso Ajudador e
Encorajador nesta grande obra de se conformar ao Filho de
Deus e realização da vocação eterna nos séculos vindouros.
Capítulo 7 _ A Igreja: Seu Nascimento, Vocação e Completude
Por quê Igreja?
A maior preocupação ou
interesse de Deus é Seu Filho. O segundo maior interesse ou
objetivo de Deus no universo é a Igreja. E, nas Escrituras,
essas duas são colocadas juntas. Aqui está a afirmação:
‘e sobre todas as coisas o
constituiu como cabeça da igreja, que é o seu corpo, a
plenitude daquele que cumpre tudo em todos.’ (Ef 1.23).
A Igreja é a ‘plenitude’ de Cristo. Se
a Igreja precisa de Cristo, Cristo precisa da Igreja.
O que é A Igreja?
Iremos procurar responder
a pergunta: ‘O que é a Igreja?’, em algumas sentenças
concisas.
Primeiramente, a Igreja é
um corpo particular de pessoas, escolhidas em Cristo antes
do mundo existir. Isto é precisamente afirmado em Efésios
1.4. Lá, é afirmado que a Igreja, este corpo particular de
pessoas, foi ‘escolhida Nele’. Exatamente como Cristo foi
definitivamente escolhido (Lc 9.35; Sl 89.19; Is 42.1) e
ungido (Hb 1.2; 3.2), assim foi a Igreja.
Em segundo, a Igreja é um
corpo de pessoas chamadas das nações para ser um povo
celestial agora: não no futuro, nos séculos vindouros, mas
agora. Isto está claramente implícito em Atos 15.14:
‘Deus visitou os gentios,
para tomar deles um povo para o
seu nome.’ E é a
isto que o Senhor se refere, quando disse: ‘Eu edificarei a
minha Igreja’ (Mt 16.18).
Em terceiro, a Igreja é um
corpo de pessoas que, embora chamado individualmente,
são apenas muitos indivíduos. Eles nunca foram escolhidos
individualmente, nunca foram escolhidos separadamente, mas
como um todo. É muito importante lembrarmos disto. E,
como a obra do Espírito Santo é sempre tornar real aquilo
que foi eternamente determinado e ungido por Deus, assim, é
Sua obra _ não como um pensamento secundário, mas conforme o
plano _ tornar real e operante esta unidade eterna em e com
Cristo: pois este é o propósito de Deus.
Magnificência Da Concepção Divina
À esta altura, quero citar uma passagem de um
livro publicado alguns anos atrás, que coloca a matéria numa
forma muito melhor do que eu, e eu a reproduzo, porque não é
minha.
‘É essencial para uma consideração exata desta
matéria (isto é, a Igreja) que a magnificência do conceito
de Igreja do Novo Testamento seja apreendida. Nas epístolas
aos Efésios e aos Colossenses a visão da Igreja, que é o
Corpo de Cristo, é anunciada. É vista lá como a ideal,
invisível, indivisível, inviolável companhia de redimidos da
presente era. Ninguém a não ser os regenerados tem parte
nela; ninguém, exceto o eleito, participa de sua
bem-aventurança. Falha e defeito são desconhecidos em
relação a ela. Nela o fingido e o hipócrita não pode entrar.
Ruptura ou divisão ela não conhece. Sua unidade é
inquebrável; sua vocação e glória são celestiais; seu
relacionamento com Cristo é santo e íntimo; e seu destino
está ligado a Ele em esplendor inconcebível. Através dos
séculos da nossa era, cada geração que marcha traz uma
contribuição a ela. Enquanto historicamente seus membros
estão sendo chamados, um por um, sendo incorporados a ela,
em sua plenitude e glória ela está sempre diante dos olhos
de Deus. De fato, ela tem estado em Seu coração antes dos
tempos. As ordens angelicais, de seu ponto de vista superior
observam-na e ficam impressionados e iluminados com a
multiforme sabedoria de Seu Arquiteto Divino. Através dos
anos desta era, o próprio Cristo é o seu construtor,
adicionando pedra a pedra a este magnífico templo,que é Ele
mesmo, enquanto espera aquele dia quando finalmente ela,
completa, santificada, maravilhosa, sem mancha e radiante
com a glória celestial, seja apresentada a Ele mesmo, tomada
de pleno gozo de uma associação eterna de bem-aventurança,
marcas desconhecidas no presente’.
Estou certo de que você concorda com isto.
Por
um lado, isto não é nenhum exagero, e isto, por outro lado,
é uma apresentação de algo que é de valor tremendo para
Deus, para Cristo, e para nós mesmos.
Se você encontrar dificuldade com algumas das
asserções, você deve lembrar que a declaração toda é feita
do ponto de vista de Deus e do Céu, não do nosso. É assim
que Ele vê, eternamente. O que Ele pode estar vendo quanto à
condição presente das coisas aqui em baixo é uma outra
questão; mas esta é a eterna concepção de Deus, e é assim
que Ele a terá eternamente. Será assim. E, no seu tempo
devido, será provado que é desta forma. Pode ser difícil
para nós vermos; contudo, se pudéssemos ver do ponto de
vista de Deus, veríamos que toda afirmação daquela sentença
é verdadeira.
Evidência
Da Oposição
Vamos suspender nossas dificuldades por um instante e prosseguir. A
Igreja é um objeto definido, uma entidade. Ela não é
simplesmente uma idéia abstrata _ não é uma coisa
imaginária. É uma realidade _ não apenas na mente de Deus,
mas, quando é vista de acordo com a sua real constituição, e
não com a constituição humana, ela também é uma realidade
em sua existência atual. A Igreja é de uma importância
imensa para Deus e para Cristo. Como lemos, ela é declarada
ser Sua ‘plenitude’. Todos os grandes valores de Cristo _
Sua plenitude _ são para a Igreja, na Igreja, e através da
Igreja. Temos a declaração da Palavra de Deus sobre isto, e
temos a história da Igreja _ em sua continuação,
persistência, e sobrevivência _ que sustenta isto. E, se
precisarmos de mais evidência quanto à sua importância e
valor, podemos sempre obtê-la de certa medida, que evidencia
uma solicitude bastante irreligiosa para com os interesses
de Deus. Satanás odeia a Igreja, como ele odeia Cristo. Ele
tem despendido mais preocupação com a Igreja do que com
qualquer outra coisa.
Quero fazer mais uma citação do livro, e estou muito feliz por
dizer que isto não é de primeira mão.
‘Através de toda a era Cristã, uma minoria tem se esforçado em
realizar numa vida corporativa esses princípios escriturísticos. A oposição mais severa e implacável veio
sobre eles, não do mundo, mas da cristandade organizada,
isto é, o sistema que os homens chamam de igreja. Por meio
dessa poderosa organização eles foram oprimidos, mal
representados, perseguidos, ultrajados, ridicularizados, e
ignorados. Porém, a persistência deles, de século para
século, supriu a prova da praticabilidade desses princípios,
e de que a Igreja pode estar na vontade de Deus’.
E uma outra porção de um outro livro _ este é sobre a Igreja:
‘Contra tal verdade transcendente, do modo como ela toca a glória
de Deus e a pessoa de Cristo, não é surpresa que o
arqui-inimigo devesse se colocar com toda a sua força e seus
dispositivos mais persistentes e engenhosos, tanto por
oposição como por imitação...’
Sim: se há uma coisa, próxima ao próprio Senhor Jesus, que Satanás
odeia, é a Igreja, e qualquer representação verdadeira dela.
Eu deveria gastar mais tempo com este assunto da
representação da Igreja _ a necessidade, a possibilidade e a
natureza disso _ e nós podemos retornar à uma palavra mais
conclusiva mais adiante.
Títulos ou
Pinturas Da Igreja
Perguntamos: Por que a Igreja? Penso que a melhor forma de
responder esta questão é por meio de uma consideração de
várias representações ou pinturas dela, os vários títulos
dados a ela, na Palavra de Deus. Há na Palavra talvez nove
títulos principais, ou ilustrações da Igreja. Pode haver
outras secundárias, mas, no principal, há nove. Se
considerarmos cuidadosamente essas telas ou títulos,
chegaremos muito próximos de uma resposta para a nossa
questão. Vamos percorrê-las com alguns comentários sobre
cada uma.
(1)
A Casa de Deus
O primeiro título dado à Igreja é a Casa de Deus. Mas aqui é
necessário sermos claros quanto aos nossos termos. Quando
falamos de uma casa, imediatamente pensamos de uma
estrutura, um edifício. Passamos por uma rua e dizemos:
‘Esta é uma bonita casa’, ou, ‘uma casa incomum’; é assim
que usamos a palavra. É necessário entendermos que este não
é o significado pleno da palavra como é usada na conexão
‘Casa de Deus’. Deveríamos estar mais próximos da verdade se
mudássemos a palavra para ‘lar’, pois este é realmente o
propósito, e inclui três idéias. Uma, a estrutura _ o
edifício de Deus; dois, os conteúdos da casa _ O que tem
nela; três, o arranjo ou ordem da casa _ como os conteúdos
são dispostos, desdobrados; seus lugares, suas posições, e
assim por diante. Com isto, naturalmente, está estreitamente
associada a idéia de governo. A estrutura, os conteúdos, o
arranjo, ordem e governo da casa: tudo isto está contido
nesta expressão, ‘A Casa de Deus’.
Primeiramente, a Casa de Deus é o edifício de Deus, a
estrutura de Deus. ‘Eu edificarei a minha Igreja’. Ela é de
Deus. O homem não faz isto, e é impertinente pegá-la e
fazê-la do homem.
A propriedade deste edifício pertence somente a Deus.
Então, o que está nesta casa está lá porque Deus a colocou,
nada pode ter um lugar, como uma ‘pedra viva’, na Casa de
Deus, a não ser que seja colocado lá pelo próprio Deus. Você
não pode ‘se ligar’ à Casa de Deus por sua própria escolha.
Você pode falar sobre ‘unir-se à Igreja’, mas isto pertence
a um outro campo de coisas. No Novo Testamento ‘o Senhor
acrescentava à Igreja aqueles que eram salvos’ (At 2.47). O
Senhor acrescentava. Somente aqueles a quem o Senhor inclui
estão na Casa de Deus.
Terceiro, a ordem na Casa de Deus é ordem de Deus. Deus é um Deus
de ordem; Satanás é o deus da anarquia e da falta de lei.
Deus tem uma ordem para a Sua Casa, e Ele é muito meticuloso
quanto a isto. Isto está claro o suficiente na primeira
carta aos Coríntios. Se ignorarmos esta ordem, desprezá-la,
pô-la de lado, será para o nosso próprio prejuízo, nosso
próprio detrimento. Descobriremos que em nossas vidas haverá
frustração, limitação; Deus não estará colocando o Seu selo
sobre nós. O Espírito Santo possui a custódia da ordem
Divina, e assim, chegaremos à esta ordem se estivermos sob o
governo do Espírito Santo.
O nosso lugar na Casa de Deus é uma prerrogativa de Deus por
meio do Espírito Santo. O lugar que ocupamos, a função que
desenvolvemos, deve ser ungida por Deus. Se tentarmos fazer
aquilo que Deus jamais nos chamou para fazer, estaremos mal
encaixados na Casa de Deus. Porém, se, debaixo do governo do
Espírito Santo, estivermos contentes com aquilo para que o
Senhor nos trouxe em Sua própria Casa, estaremos em
descanso; será tranqüilo, sem atrito. Deus supervisiona Sua
própria Casa: é Seu governo, porque é a Sua Casa. E, como
disse em outra conexão, não há nada mais impertinente do que
vir para a Casa de Deus e tentar desarranjar a ordem, ou
impor a nossa própria ordem. Devemos sempre procurar estar
sujeitos ao Espírito Santo, e a Sua ordem, na Casa de Deus.
(2)
O Tabernáculo e o Templo
A segunda representação da Casa é encontrada no Tabernáculo e no
Templo. Eles são idênticos em propósito. Há, no principal,
duas idéias conectadas a essas designações.
Primeiro, são o lugar onde Deus está, o lugar onde Deus
escolhe estar. Lá é um lugar onde Deus escolhe estar e onde
Ele pode ser encontrado, e, normalmente, este lugar é em Seu
Templo _ na Igreja. A Igreja é para ser o
lugar, foi intencionado para ser, o lugar onde você irá
encontrar Deus, onde Deus está. Ela não é uma construção; é
um povo de Deus. Ele escolhe um lugar para Si mesmo. Quanta
ilustração há no Velho Testamento sobre isso. (Sl
132.13,14). Mas as palavras de Seu próprio Filho são: ‘Onde
estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali eu estou’
(Mt 18.20), isto é a enunciação de um princípio eterno. Deus
escolhe estar ou se localizar: Ele escolhe estar num certo
lugar, e lá você O encontra. Como uma pessoa é tentada a
ampliar isso! Mas se você, como crente, como cristão,
separar-se do povo de Deus, e seguir seu próprio caminho de
independência, você não irá encontrar o Senhor até que volte
para os outros discípulos. Deus escolheu o Seu Templo, Seu
Templo Espiritual, como o lugar aonde Ele irá nos encontrar,
o lugar onde Ele pode ser encontrado.
E, quando as coisas são como devem ser, quando estiver de acordo
com o Seu propósito, este lugar é também onde Ele fala.
Arrisco-me em dar um passo além, e dizer que, quanto mais
íntimas forem as condições num grupo, em relação à vontade
de Deus, o propósito de Deus para a Igreja, mais plenamente
você ouvirá Ele falar ali. Você irá ouvir mais do Senhor em
tais condições do que num lugar onde há menos aproximação ao
Seu conceito de Templo.
O segundo pensamento ligado ao Tabernáculo ou Templo é que ele é o
lugar onde Deus é adorado. É ‘santo ao Senhor’. A Casa
espiritual de Deus, contudo, não é uma estrutura, mas um
povo, e assim, o Templo carrega a idéia de um povo que
adora. E o que é adorar? Temos definido adoração como o ato
de se levar tudo a Deus; tudo direcionado ao Senhor. Isto é
‘santo _ ou completamente do Senhor’, tudo sendo para Ele. É
assim que a Igreja deve ser; este é o plano de Deus.
(3) Uma
Nação Santa
De Pedro, aprendemos que a Igreja é uma nação _
‘uma nação santa’ (1Pd 2.9, citação de Ex. 19.6). Muita luz
é lançada sobre isto no Velho Testamento, como sabemos. Como
dissemos no início, é um povo tomado das nações por causa
do Seu Nome, para ser feita, aqui e agora, uma nação santa,
uma nação de uma ordem diferente _ a exata palavra
‘celestial’, naturalmente, carrega isto consigo _ uma nação
celestial tirada das nações, embora no meio das nações. Mas
aí estão as três coisas a ser observadas em conexão com esta
concepção da Igreja como uma nação.
A primeira coisa é o princípio ou lei de
separação. Isto é claramente ilustrado e efetivamente no
caso de Israel, como o tipo terreno desta Igreja, separada
das nações. Israel perdeu sua própria integração, sua
vocação, seu poder, sua glória _ tudo _ quando perdeu aquela
distinção das outras nações, quando permitiu que uma ponte
fosse construída entre ela e eles, e começou a adorar os
seus deuses. Foi por causa da perda de sua distinção como
uma nação que Israel foi para o cativeiro. O Velho
Testamento é uma lição muito poderosa de princípios
espirituais. Se isto é verdade no temporal e no campo
terreno, quanto mais verdade deve ser no espiritual, no
celestial, no eterno! Uma coisa que contou, talvez, mais do
que qualquer outra, pela perda de glória, poder, influência,
e a presença de Deus, na Igreja durante os séculos, tem sido
a infiltração do mundo nela, e a ida dela para o mundo _ uma
perda de distinção, uma perda de separação.
Além disso, a nação era um povo constituído
tanto quanto separado. Certamente era separada _ não havia
dúvida sobre esta separação do Egito! Faraó tentou discutir
sobre isto; sugeriu que eles devessem viver mais perto, um
pouco ligado. ‘Não’, disse o Senhor por meio de Moisés, ‘nem
uma unha de animal!’ (Ex.10.24-26). E, então, olhe para a
separação que o Senhor fez, a brecha que Ele colocou entre
Israel e o Egito. É tudo muito ilustrativo. Mas então, quando
Ele os tirou de lá, Ele os constituiu numa nação. Eles
partiram numa multidão _ podemos também dizer uma população;
e, então, Deus os tomou nas mãos para formá-los e
constituí-los numa entidade, com leis espirituais e
princípios que governam cada detalhe das suas vidas. Eles
foram trazidos diretamente sob o controle do Céu, para um
lugar onde nada deste mundo poderia suprir as suas
necessidades. Seus recursos eram todos do Céu; eles eram um
povo constituídos sobre princípios celestiais, sob governo
celestial.
E isto é a Igreja!
Terceiro, Pedro nos fala, nesta declaração
abrangente, que o propósito de nossa chamada é o de ‘contar
as excelências Dele que nos chamou’ _ daquele que ‘nos
chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz’. A vocação da
nação é mostrar as Suas ‘excelências’: em outras palavras,
mostrar como Deus excede, como Ele transcende. Esta foi a
chamada de Israel; e, se isto era verdade numa forma terrena
limitada, quanto mais é verdade na forma celestial,
universal, da Igreja. Para mostrar as Suas excelências, como
Ele excede: é isto que Ele está buscando o tempo todo. Como
freqüentemente temos dito, Ele permite ao inimigo ir um
longo caminho, ter bastante corda, e, então, Ele mostra quão
mais longe Ele pode ir. Ele permite ao inimigo fazer muito.
E, então, ele mostra como Ele pode fazer com que tudo aquilo
redunde em Sua própria glória.
As ‘excelências Dele’, mostradas na Igreja e
por meio da Igreja: isto é algo para se apoiar. Olhe
para o livro de Atos, a partir deste ponto de vista apenas,
e veja o desenvolvimento do que Paulo disse, muitos anos
mais tarde: ‘E quero, irmãos, que saibais que as coisas que
me aconteceram contribuíram para maior proveito do
evangelho;’ (Fp 1.12). Apenas pense nas coisas que lhe
sobrevieram _ tudo para auxílio do evangelho! Esta é uma das
maneiras em que Suas excelências são mostradas. Se os anjos
estão observando, estou certo de que estão cobrindo suas
faces e cobrindo seus pés em adoração, na medida em que vêem
a graça de Deus em Seus servos e filhos _as Excelências de
Sua graça.
(4) A Igreja
Para nossa quarta designação, chegamos à
própria palavra ‘Igreja’ em si. Esta, como sabemos,
representa a palavra grega 'ekklesia', uma palavra muito rica
e plena que foi apropriada por Cristo e pelos apóstolos e
aplicada a este corpo eleito eternamente, a Igreja. O
equivalente moderno desta palavra é a nossa ‘assembléia’,
uma palavra que carrega em si todos os elementos do
significado no original grego. No mundo grego, certas pessoas
eram escolhidas, eleitas, para uma posição tanto no conselho
municipal, como no governo provinciano ou nacional, conforme
a eleição fosse numa cidade, ou numa província, ou num país,
respectivamente. E, num determinado tempo, quando havia
negócio de estado a ser tratado, e uma sessão marcada, os
mensageiros saíam para chamar os homens juntos, para
convocar a assembléia, a fim de transacionar o negócio de
estado ou cidade.
Tal corpo de homens era chamado de ekklesia.
Não era um assunto de igreja, um assunto ‘eclesiástico’,
como pensamos; era um assunto puramente político, fosse da
municipalidade, da província, ou do estado _ a ‘Assembléia’.
Isto incorporou a idéia de uma companhia eleita, trazida
junta para transacionar o negócio do reino. Esta é a palavra
que foi apropriada e aplicada à Igreja. Como ela é rica! Uma
companhia eleita, chamada junta para o propósito de tratar
de um negócio do reino! Uma companhia eleita _’escolhida
Nele antes da fundação do mundo’ (Ef 1.4), ‘chamada para a
comunhão de Seu Filho’ (1Co 1.9), chamada ‘de acordo com o
Seu propósito eterno’ (Ef 3.11): chamada junta, e, com Ele,
conferida com os negócios do Seu governo.
(5) O Corpo De Cristo
A seguir chegamos à ‘Igreja que é o Seu Corpo’.
Lemos sobre isto em Efésios 1.22,23, e há, naturalmente,
muitas outras referências à igreja sob esta designação ou
título. Qual é a idéia, ou a função, de um corpo físico?
Primeiramente, o corpo de um homem é um veículo para a
expressão de sua personalidade. Nem sempre você pode ler a
personalidade através das características e do corpo, mas as
pessoas usualmente se dão a conhecer até certo ponto por
meio dos seus corpos. Até mesmo se, como em alguns casos,
você achar difícil de ler o que está do lado de dentro, o
próprio fato de ser difícil já mostra a você que eles não
querem que você saiba _ e você percebe. Não podemos
facilmente nos livrar do fato de que, seja por gesto, pelo
olhar, pela expressão, ou de muitos outros modos, traímos a
nós mesmos por meio do nosso corpo. Este, até certo ponto, é
um propósito do corpo, ser a expressão do homem interior, a
fim de prover-lhe um meio de expressar a si próprio.
Da mesma forma, ‘a Igreja que é o Seu Corpo’ é
o instrumento, a ‘corporificação’, do Espírito do Senhor, no
qual e pelo qual Ele se expressa a Si mesmo. Se a Igreja,
como a conhecemos e nos movemos entre os seus membros,
acordasse para o propósito Divino, poderíamos conhecer como
o Senhor é. Guardemos isto em nossos corações: que a nossa
própria existência como a Igreja é para que as pessoas
possam conhecer como Cristo é. Alias, nós falhamos muito
nisto. Geralmente é tão difícil detectar o caráter real do
Senhor Jesus em Seu povo. Mas este é o exato significado do
Corpo de Cristo.
Mais ainda _ e aqui estamos num campo familiar
_ um corpo físico é um todo orgânico. Não é algo colocado
junto do exterior. É algo marcado pela unicidade, por causa
de sua vida interior; ele está relacionado e
inter-relacionado em cada parte, dependente e
inter-dependente; cada parte remota é afetada por aquilo que
acontece em qualquer outra parte. Isto poderia ser bem mais
expandido. Mas nós temos muito ainda para aprender quanto à
real aplicação espiritual desta realidade a respeito da
Igreja como o Corpo de Cristo. Precisamos ser trazidos
exatamente para este grande ‘sistema solidário’ do Corpo. E
isto exige uma obra real da graça em nós. Há muitas formas
nas quais isto é expressado na palavra. Precisamos ‘lembrar
dos presos, como se estivéssemos presos com eles, e dos
maltratados, como sendo-o nós mesmos também no corpo.’ (Hb
13.3); isto é, precisamos entrar na situação deles pelo
Espírito. Isto é um conjunto orgânico. ‘Se um membro sofre,
todos os demais membros juntamente sofrem’ (1Co 12.26). É
provável que soframos bastante por coisas que não sabemos
nada a respeito. Há um sofrimento em curso, e estamos
envolvidos nele: o Senhor está procurando nos envolver nas
necessidades dos outros, trazer-nos para os seus conflitos.
Porém, aprendamos ou não esta verdade,
estejamos ou não conscientes disso, e compreendamos ou não
isto, é fato de Deus que isto é assim. Crentes de um lugar
são dependentes de outros crentes em outro lugar; eles são
afetados. Isto é um todo; há um sistema-nervoso solidário
através de todo o corpo. Se apenas você e eu nos tornássemos
espiritualmente mais vivos, a expressão do Corpo seria muito
mais perfeita. Nossa morbidez, nossa insensibilidade, nossa
falta de vida espiritual, resulta em mais sofrimento, mais
perda, do que precisa haver.
Se apenas pudéssemos _ não mecanicamente, e não por meio de
informação, mas no princípio do Corpo _ ser movidos para
dentro de uma solidariedade e cooperação universal para com
o povo de Deus! Nosso mover é usualmente mecânico; temos que
ler ou ouvir cartas, de alguma maneira receber informação, a
fim de sermos estimulados à alguma medida de oração. Porém,
creio que, se estivéssemos realmente no Espírito, o Espírito
iria colocar os fardos das pessoas em nossos corações. Você
não acha que esta é uma questão que devemos continuamente
trazer diante do Senhor? ‘Senhor, há alguém orando hoje por
alguma coisa: será possível que eu possa ser a resposta à
oração dessa pessoa? Se for assim, mostra-me, guia-me,
coloca isto sobre mim’. Isto é vivacidade e relacionamento
espiritual. A unidade do Corpo é uma grande vocação.
(6) Um
Sacerdócio Real
A sexta designação é encontrada novamente em
Pedro: ‘um sacerdócio real’ (1Pd 2.9). Ele está novamente
citando Êxodo 19:6 _ ‘um reino de sacerdotes’. Note a
combinação das duas idéias _ rei e sacerdote, reino e
sacerdócio: duas funções trazidas juntas _ o trono e o
altar. O que isto significa? Certamente significa isto: que
é através do render-se, do abrir mão, do deixar ir, pelo
auto-esvaziamento e pelo sofrimento que o Trono opera, que o
poder Divino é exercido neste universo. É sofrimento e
glória, é fraqueza e poder _ parecem contradições em termos.
Mas aqui está na palavra: ‘no meio do trono...um Cordeiro’
(Ap 5.6). Aqui está o símbolo da mais absoluta rendição, e,
no sentido correto, da não resistência, até mesmo para o mal
(não estou falando de não resistência ao pecado, mas à
injustiça): um Cordeiro conduzido à morte, e, através da
morte, ao Trono (Is 53.7; 52.13).
Esses são princípios espirituais tremendos.
‘Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de Mim; porque sou
manso e humilde de coração’ (Mt 11.29). Este é o Rei
falando: é a Ele em cujas mãos foi entregue ‘toda autoridade
no Céu e na terra’ (Mt 28.18). Veja como Ele recebeu a
autoridade, como Ele alcançou o Trono! A Igreja é pra ser
assim desta forma: um reino sacerdotal, por um lado
envolvida em sacrifício e sofrimento, como o sacerdote, e,
ao mesmo tempo, governando e reinando no Trono, como um rei.
(7) Um Novo
Homem
O sétimo quadro é ‘um novo homem’ (Ef 2.14-16;
Gl 3.28). Jesus chamou a Si mesmo, e era Seu título
favorito, ‘o Filho do Homem’. Naturalmente, a
‘peculiaridade’ referida por Paulo é o resultado de
diferentes tipos de povos que desapareceram. Não há mais
Judeus e Gentios: como tipos diferentes, como representantes
de duas ordens raciais de homens, eles desapareceram, se
foram. Eles desvaneceram, e em seu lugar há ‘um novo homem’.
Considerando tudo isto que dissemos no início sobre o
significado da Encarnação, devemos dizer que a Igreja é um
tipo diferente de entidade, representando um tipo diferente
de humanidade, de raça; de uma ordem diferente, assim como
Cristo era diferente.
Com Ele a diferença era interior. Olhando para Ele do
exterior, as pessoas não discerniam a grande diferença. Pode
ter havido algumas características que eram diferentes de
outros homens, mas, se este é o caso, as pessoas não ficaram
impressionadas com elas. As pessoas não podiam ver a
diferença entre Ele e outros homens. ‘Não é este o
carpinteiro?’ (Mc 6.3). Eles falavam sobre Ele como falariam
de outros homens, olhando para Ele do lado de fora. Porém,
Ele era diferente como um Homem. O Homem dentro do corpo era
um Homem diferente, governado por diferentes leis,
concepções completamente diferentes, daquelas pelas quais as
outras pessoas eram governadas; governado a partir de um
campo diferente, e, assim _ neste sentido _ sempre um
mistério.
Muitos anos mais tarde, João disse, ao escrever
esta carta: ‘Por isto o mundo não nos conhece, porque não
conheceu a Ele’ (1 Jo 3.1b). Nós, também, somos um outro
ser; e isto deve ser, se posso eu colocar desta forma,
bastante natural. O real segredo, o real significado está no
interior, não está? Exteriormente talvez não haja diferença
das outras pessoas _ embora deva haver alguns traços
exteriores; não auto-consciente, não sempre tentando ser um
outro tipo, não representando: apenas o fato _ de que nós
mesmos somos os mais inconscientes _que há algo lá que não
pertence a esta criação; algo que fala de um outro mundo,
uma outra ordem, uma outra vida, uma outra natureza. Nós
simplesmente não nos comportamos, sob certas circunstâncias,
como as outras pessoas se comportariam. E a Igreja, composta
de muitos indivíduos, é pra ser desta forma _ um ‘novo
homem’.
(8) A Noiva
O oitavo título é ‘a Noiva, a esposa do
Cordeiro’. Aqui devemos fazer referência a grande parte das
Escrituras, de Gênesis, de Mateus e Marcos, de Efésios, de
Apocalipse. Quase que a última palavra do anjo ao apóstolo
João foi: ‘Vem, mostrar-te-ei a noiva, a esposa do
Cordeiro.’ (Ap 21.9b). Quase termos sinônimos, e, contudo,
não muito idênticos no sentido. Primeiramente vamos
relembrar algo do início deste relacionamento. A primeira
palavra concernente veio do próprio Deus: ‘Não é bom que o
homem esteja só’ (Gn 2.18). A idéia deste relacionamento,
então, no princípio, foi de companheirismo: a idéia sublime
do relacionamento entre Cristo e Sua Igreja. ‘Cristo...amou
a igreja, e se entregou a si mesmo por ela’. (Ef 5.25) Deus,
por assim falar, olhou para o Seu filho, e disse: ‘Não é bom
que Ele esteja só’. A Igreja _ o mistério dos mistérios!_ é
pra ser neste relacionamento com Cristo Sua companheira, ter
um relacionamento com Ele, ter troca de mente, de coração,
mover-se junto.
E, então, Deus disse: ‘Far-lhe-ei uma
auxiliadora’ (Gn 2.18). ‘Farei para Ele alguém que o ajude’.
Uma idéia muito simples, mas transfira isto para a Igreja.
Para ministrar a Cristo, cuidar das necessidades de Cristo,
dos desejos de Cristo, ter todo o equilíbrio em Sua direção.
‘Como posso prever os Seus desejos, as Suas necessidades? Como
posso melhor servir aos Seus interesses?’ Isto,
naturalmente, é a idéia bíblica de uma esposa, mas a Bíblia,
de qualquer forma, pretende que o relacionamento terreno
seja um reflexo do celestial _ ‘assim como Cristo e a
Igreja’ (Ef 5.25,29,32). O ponto é este: que você e eu, se
somos da Igreja, temos que ter todo o nosso equilíbrio
voltado para Ele. Como podemos melhor serví-lo, como podemos
ser bem agradáveis a Ele? Como podemos prever as Suas
necessidades e desejos, e quais serão os Seus interesses?
Esta é a primeira idéia associada à Noiva, a esposa do
Cordeiro.
Com isto, naturalmente, vai a idéia de
identidade: ‘os dois serão uma só carne’ (Gn 2.24; Mt 19.5;
1 Co 6.16). Eles são um: não mais dois, mas um _ uma carne.
Lembre-se de Efésios 5 sobre este assunto. E ainda, a idéia
do relacionamento é o Seu crescimento: ‘Frutificai e
multiplicai-vos’ (Gn 1.28). ‘Ele verá a Sua
descendência...Ele verá o trabalho de Sua alma...’ (Is
53.10,11). Como? Não há outra forma senão através da Igreja.
Observemos o seguinte: o trabalho de Sua alma será
satisfeito ao gerar a Igreja novos filhos. Isto coloca o
evangelismo numa nova luz, não coloca? É para Ele. Não é
simplesmente o interesse de salvar as almas: é para que Ele
possa ver o trabalho de Sua alma e ficar satisfeito. A
Igreja é o instrumento no qual e através do qual Cristo é
reproduzido _ através do qual, podemos dizer, Ele é
propagado. E qualquer ‘igreja’, que assim se chame a si
mesma, que não é reprodutora, à qual o Senhor não é
acrescentado, na qual não há nascimentos espirituais, perdeu
o ponto de seu relacionamento com Cristo.
(9) A
Cidade
A última pintura é a da Cidade.
No final de
Apocalipse, é-nos dito que o anjo, após ter dito: ‘Vem,
mostrar-te-ei a esposa, a esposa do Cordeiro.’ (21.9), levou
o apóstolo ‘no Espírito para um grande e alto monte, e me
mostrou a cidade santa...’ (v.10). Essas não são duas
entidades separadas. Todos esses títulos pertencem à mesma
entidade, porém, são a mesma entidade vistas de posições
diferentes. Se você estudar isto, penso que irá descobrir
que o título de ‘a Cidade’ reúne em si mesmo todos os
elementos dos demais; eles vêm juntos neste.
Observe algumas das características desta Cidade.
Primeiramente, sua grandeza. Que cidade ela é! Ele apresenta
a grandeza espiritual da Igreja em união com Cristo. Olhe
novamente para sua força _ seus ‘altos e grandes muros’
(v.12): que força há nesta Cidade! É a força espiritual da
Igreja em união com Cristo. Foi provado que ‘as portas do
inferno não prevalecerão contra ela’ (Mt 16.18). O inferno
se moveu de suas profundezas,, exauriu todas os seus
recursos contra a Igreja; mas a Igreja continua _ ela é uma
Igreja poderosa. Sua força não é a força de homens. Olhe
novamente para a sua pureza: ‘sua luz...como se fosse de
pedra de jaspe, claro como cristal’ (v. 11): tudo
transparente _ sua rua de ouro transparente (v. 18), seu rio
de água clara como cristal’ (22.1) _ a pureza da Igreja no
final. Olhe novamente para a sua beleza: ‘todos os tipos de
pedras preciosas’ (v.19). É uma linda cidade. Seus portões
de pérola (v. 21) falam dos sofrimentos e do sacrifício do
relacionamento com o seu Senhor e as Suas aflições. Olhe para
a sua
vivacidade (21.1,2), para a sua luminosidade (21.11,23,24;
22.5) sua vida e sua luz. Olhe para a plenitude de recursos:
as árvores dando os seus frutos durante o ano todo (22.2).
Constante reprodução, sem fim _ algo completamente fenomenal
e diferente. E, finalmente, em todo lugar o número doze
escrito: doze fundações, doze portões, doze anjos, doze mil
estádios: tudo falando de governo espiritual.
Tal é a representação que nos é dada da Igreja,
como ela será quando, finalmente, a obra terminar. Vamos
observar que isto é representado para nós como um fato.
Podemos muito bem nos desesperar, agora, de que isto jamais
será realizado, porém, temos recebido a revelação desta
profecia daquilo que ela (a Igreja) será no final. Em um
certo sentido, não importa como as coisas estejam agora,
importa que é desta maneira que a Igreja será. Voltando a um
verso similar anterior: Ele irá ‘apresentar a Igreja a Si
mesmo como uma Igreja gloriosa’ _ uma Igreja santa, uma
Igreja pura, uma Igreja santificada, sem mancha, nem ruga,
ou qualquer outra coisa.’ (Ef 5.27).
Capítulo 8 - A Vinda Novamente do Senhor Jesus
Assim,
chegamos à última nota da oitava
redenção: A Vinda Novamente do Senhor Jesus. Nenhuma
tentativa foi feita para dar uma apresentação abrangente de
qualquer um desses aspectos da redenção, mas somente para
prover, se possível, uma resposta concisa à questão
perguntada sobre cada um deles: Por que isto...? Por que
aquilo...? Isto é particularmente verdade sobre este último
aspecto. Não irei tentar por um momento cobrir todo o
assunto da segunda vinda do Senhor.
Por que, então, a Vinda Novamente do Senhor
Jesus? A vinda do Senhor é mais comumente pensada como um
evento; algo que irá acontecer em um determinado tempo, como
um item em um programa; apenas um evento que irá um dia
ocorrer. Naturalmente, até certo ponto, isto é verdade;
porém é muito importante que pudéssemos saber por que ela
deve ocorrer _ Por que Ele virá novamente. Vamos ser claros
de que Deus poderia efetivar todas as coisas associadas à
vinda de Cristo sem a Sua real vinda. Por exemplo, se é uma
questão de levar os cristãos para o Céu, Ele poderia fazer
isto sem que Cristo precise vir nos buscar; e há muitas
outras coisas como esta que Deus poderia fazer direta e
independente. Porém as Escrituras nos mostram que elas estão
todas ligadas e centradas na vinda pessoal de Cristo, e é
este fato que dá margem à pergunta: Por que deve ser desta
forma? Por que deve ser uma questão de Cristo voltar
novamente?
A Consumação da Redenção
A resposta é realmente encontrada em tudo que
temos dito nos estudos anteriores. A vinda novamente do
Senhor é simplesmente a Sua própria consumação de tudo
aquilo. Para os apóstolos Ele disse, ao deixá-los: ‘Estou
convosco...até a consumação dos séculos’ (Mat 28.20). Então,
o que é isto que, nesta era, será consumado no final? Será
tudo aquilo que temos dito sobre Ele nessas páginas. Vamos
bem apressadamente passar nossos olhos sobre isto, a fim de
ver o resumo de Sua vinda.
A primeira e a última vinda estão claramente unidas em
propósito e realização. O primeiro estágio da redenção com o
qual estivemos ocupados foi a encarnação do Filho do Homem _
Sua vinda na forma humana a este mundo; e nós indicamos que
na encarnação houve três propósitos. Primeiro, a redenção do
homem pelo Homem. O pecado veio pelo homem: pelo Homem o
pecado deve sair. Pelo homem vieram as consequências: pelo
Homem as consequências devem ser destruídas e afastadas.
Este é todo o ponto de ter Ele se tornado Homem. Segundo, a
redenção do homem: a re-constituição do homem, para fazer
dele o tipo de homem que Deus planejou, mas o qual ele
gravemente deixou de ser. Terceiro, o aperfeiçoamento do
homem para a glória. Essas eram as três coisas ligadas à Sua
vinda em forma de homem na primeira instância.
A segunda fase foi a Sua vida terrena. Nós a
resumimos dizendo que, estando aqui desde o nascimento e
infância, até a maturidade como homem, através de cada
provação e teste, até o último momento na Cruz, quando o
fogo foi aquecido sete vezes, Ele ofereceu a Deus um corpo
sem a marca do pecado, ou falha. ‘Um corpo Me preparaste’,
disse Ele (Hb 10.5); e, tendo passado por todo tipo de
prova, Ele ofereceu o corpo sem mancha, sem qualquer perda
da característica espiritual. Ele o apresentou a Deus, como
uma oferta queimada (Hb 9.14), aceitável a Deus. Ele
representou o Homem que Deus procura, do início ao fim,
vivendo uma vida que foi absolutamente triunfante sobre tudo
aquilo que a humanidade tem carência; e assim, Ele Se tornou
o modelo de Homem de acordo com o coração de Deus, o Homem
que Deus procura e terá.
A Terra é do Senhor
Havia algo de grande significado no Filho de
Deus, como Filho do Homem, ao colocar os Seus pés sobre esta
terra. Num estudo anterior, citamos o salmo 24. Você observa
que ele começa com: ‘A terra e toda a sua plenitude é do
Senhor’. Este é o começo do primeiro verso. O segundo verso
começa (v.3): ‘Quem subirá até o monte do Senhor?’ E a
resposta vem: ‘Aquele que tem mãos limpas, e um coração
puro; que não entrega a sua vida à vaidade, que não jura
enganosamente’. Ele _ Ele é esta Pessoa! Então, o terceiro
verso: ‘Levantai as vossas cabeças, ó portais eternos, para
que entre o Rei da Glória’. Você percebe o movimento? A
terra é do Senhor: e Ele pôs os Seus pés sobre ela, Ele
realmente pisou nesta terra. Ele viveu a Sua vida aqui sem
mãos sujas, sem coração impuro, e por isso Ele, e somente
Ele, é Aquele que está apto a subir ao monte do Senhor.
Porque Ele veio aqui e assim venceu, e assim triunfou, os
portais eternos estão totalmente abertos: Ele pode entrar.
Agora o ponto é este. A terra é do Senhor, e Ele pôs os Seus
pés aqui, e disse: ‘Esta terra pertence a este tipo de
Homem, e o Céu irá atestar isto!’ Este é o significado do
salmo 24. E este é o porque, quando Ele viveu a vida, obteve
a vitória, e ressuscitou triunfante, disse para os Seus
discípulos: ‘Vão por todo o mundo: vão e ponham seus pés em
toda a terra, e a requeiram. Ela é minha herança, por
direito de criação, por direito de redenção. Vão e coloquem
seus pés sobre ela: ela Me pertence. Isto está tudo no curso
da redenção’.
A Cruz efetivou esta redenção que foi o
propósito da encarnação _ efetivou a redenção da terra sobre
a qual Ele pôs os pés e viveu Sua vida triunfante. Por Sua
Cruz Ele tomou a terra das mãos do príncipe deste mundo, e a
tomou de volta para a Sua possessão de direito. ‘Hoje, disse
Ele, ‘o príncipe deste mundo é expulso’ (Jo 12.31).
Na Ressurreição Ele está na possessão disto, e
por quarenta dias Ele estabelece o grande fato de que Ele
está vivo. Ele está vivo! Ele ‘morreu’: ‘Ele está ‘vivo para
todo sempre’. Ele possui as chaves da morte e do inferno’.
(Ap 1.18), e Ele estabelece isto no núcleo de Sua Igreja,
bem no seu início, para todo sempre.
E, então, Ele vai para a glória na presença
deles, e a coisa toda _ a encarnação com o seu significado, a
vida com o seu triunfo glorioso, a Cruz com a sua maravilhosa
destruição da obra do Diabo _ a coisa toda é tomada e
colocada para fora do alcance de qualquer coisa aqui, homens
ou diabo, para que não possam tocá-la. Alterá-la. É colocada
no Céu. Você se lembra o que Ele mesmo nos diz sobre o Céu:
‘Lá nem traça nem ferrugem consomem, e onde os ladrões não
minam nem roubam’ (Mt 6.200. Está fora do alcance. ‘A vossa
vida está escondida com Cristo em Deus’ (Cl 3.3). Está lá em
cima; nada aqui pode interferir com ela.
Esta é a Ascensão.
O Espírito veio como o Espírito do Cristo glorificado no
Céu, enviado para trazer _ potencialmente _ todas essas
virtudes do Céu para a terra; para efetivá-las nos crentes
para esta dispensação.
A Igreja nasceu como um vaso, o ‘novo homem’. Sejamos
cuidadosos, nesta conexão, para que não falemos da Igreja
como sendo Cristo encarnado novamente. O Espírito veio para
habitar na Igreja: para fazê-la, como o Corpo de Cristo, Sua
cópia, para expressar toda obra que Ele mesmo realizou e
levou para a glória.
A Segunda
Vinda
Finalmente Ele está vindo novamente! Por quê?
Para terminar tudo! Para completar a redenção do homem! Para
completar aquilo que Ele veio fazer da primeira vez, em cada
esfera. O oitavo capítulo da carta aos Romanos trata dessa
consumação da redenção em dois aspectos.
Primeiro, a manifestação, a revelação, dos
filhos de Deus (Rm 8.19). Eles têm estado em secreto, têm
estado escondido; somente entre as Pessoas da Trindade é
conhecido quem é de Cristo; porém eles serão revelados. Esta
é a consumação da redenção: o trazer para fora e manifestar
os filhos de Deus; tornando-os conhecidos, mostrando-os em
glória. Sempre penso que esta é uma palavra muito
maravilhosa do apóstolo Paulo aos tessalonicenses neste
mesmo ponto: ‘Quando Ele vier para ser glorificado nos Seus
santos, e para se fazer admirável em todos os que crêem...’
(2 Ts 1.10). Aí está a conclusão do propósito da Encarnação:
redenção, reconstituição, aperfeiçoamento, glorificação,
tudo trazido à plenitude em Sua vinda. ‘Maravilhado em todos
os que crêem’: esta frase sempre me fascina. O que ela
significa? Certamente, todos os observadores, todas as
inteligências, quando olharem para os santos, irão dizer:
‘Olhem para eles! Não é Ele maravilhoso?!’ ‘Maravilhado em
todos os que crêem’, ‘Quando Ele vier’. É a consumação da
obra e do propósito da Encarnação, e a consumação nos
crentes de todo o significado de Sua vida terrena.
Mas, então, Romanos 8 toca o outro aspecto da
redenção. É-nos dito que ‘toda a criação’ está esperando por
esta ‘revelação dos filhos de Deus’, e ‘gemendo e está
juntamente com dores de parto até agora’ (v.19,22). ‘A
própria criação’, diz o apóstolo, ‘será libertada...’
(v.21). Ele coloca os Seus pés sobre a terra e diz: ‘Ela é
minha’. Ele veio a esta terra, viveu nela e triunfou sobre
ela, e obteve a vitória por ela e sobre ela; e agora, em Sua
vinda, ela é redimida, como a consumação da redenção. ‘A
própria criação’ é ‘libertada da corrupção’. Mas não é
somente a criação que é libertada. Nossos corpos alcançarão
o benefício desta consumação da redenção. ‘Nós mesmos
gememos, esperando... a redenção do nosso corpo’ (v.23). Os
corpos físicos dos crentes serão ‘libertados da corrupção’.
Tudo isto é o que Ele veio fazer. Tudo que Ele
realizou em Si mesmo, tudo o que foi verdade sobre ele, Ele
está agora realizando nos crentes. Sei que essas palavras se
aplicam primeiramente à Sua Deidade, contudo há uma segunda
aplicação delas: ‘Não era possível que Ele fosse detido pela
morte’ (At 2.24); “Tu não permitirás que o Teu Santo veja a
corrupção’ (v.27). Porque Ele era o Santo, não foi possível
que Ele fosse preso e detido pela morte, porque esta é a
pena do pecado. Como digo, primeiramente isto se refere a
Ele como o Divino Filho de Deus, incorruptível e sem pecado;
porém agora, Ele liberta os crentes do pecado e da
corrupção, e conseqüentemente da morte, e realiza neles
aquilo que foi verdade Nele próprio. Ele não os está levando
para a Deidade, mas pela graça Ele está conferindo a eles
todos os valores de Seu próprio triunfo. E isto inclui a
redenção física.
Você entende o porque da vinda novamente? Para
concluir tudo para o qual Ele veio e tudo o que Ele fez na
primeira vinda. E isto não é tudo. Na Cruz, enquanto Ele
estava lá tratando de toda questão do pecado _ e em Si mesmo
Ele tratou dela de forma plena e final _ Ele estava, muito
mais do que isso, tratando com toda a questão de Satanás.
Temos procurado enfatizar o fato de que a batalha real da
Cruz se deu naquele campo cósmico dos principados e
potestades. É lá que a batalha real ocorreu; e foi uma
batalha terrível, com cada maligno, sinistro, e coisas das
trevas do reino de Satanás. E foi lá que o triunfo total do
Senhor Jesus foi vencida. Sua vinda novamente é para tornar
este triunfo absoluto, final; para levar a Igreja a gozar o
Seu triunfo.
Estamos em batalha; e é muito verdadeiro que, quanto mais
você permanece no terreno do Calvário, da Cruz, a furiosa
batalha começa. Satanás odeia aquela Cruz. Se você realmente
permanecer em espírito no terreno da Cruz, você entra na
batalha: ele irá fazer de tudo para tirar você deste
terreno. O Senhor Jesus irá voltar simplesmente para por fim
em todo este conflito para a Igreja, do mesmo modo como Ele
fez em Si mesmo. Quando Ele voltar, Sua vinda irá acabar de
uma vez para sempre com o reino de Satanás, com o reino das
trevas. Este é o porque de Sua vinda.
A Vinda do Filho do Homem
Deixe-me apenas enfatizar um ponto novamente: é
a “vinda do Filho do Homem” (Mt 24.27,37,39). É assim que
Ele coloca: ‘a vinda do Filho do Homem’. Sinto muito que
Sankey mudou estas palavras naquele seu hino que às vezes
cantamos: ‘Oh, maravilhoso dia!
Oh, glorioso dia, quando o Filho de Deus voltar’.
O Senhor e as Escritura falam da vinda do Filho
do Homem, não do Filho de Deus. É verdade, é o Filho de Deus
quem está vindo; porém, você compreende o real sentido aqui.
Foi o Homem para o homem, como Homem, ao longo de toda
trajetória; e será assim no final. A Encarnação não tem
significado se não for o Homem para o homem. A vida terrena
não tem significado se não for o Homem para o homem, A Cruz
não tem significado se não for o Homem para o homem. O mesmo
da ressurreição, o mesmo da ascensão e da entronização: É o
Homem na glória. ‘Vemos porém...Jesus’ _ Jesus, este é o
Seu título humano _ ‘coroado de glória e de honra’ (Hb 2.9).
É o Homem para o homem no Céu. A Igreja é o nascimento de
‘um novo homem’ pelo Espírito Santo, enviado do Céu (1 Pd
1.12b). E a nova vinda é o Homem para o homem: é o Homem
consumando tudo em relação ao homem, e o homem entrando em
sua herança em Cristo. Toda esta coisa maravilhosa é para o
homem _ para você e para mim!
Ele está vindo como o Filho do Homem.
Há coisas imensas ligadas a este título. Este
título denota relação com a raça humana: toda obra do Senhor
para com a raça humana, e Sua representação da raça humana
no Céu. O presente apelo é para os homens, na base de tudo
isto. Oh, que paródia de tudo isso surgiu com o ‘natal’!
Pense nele à luz do que temos dito sobre a Encarnação, a
redenção, a reconstituição e a glorificação do homem: onde
isto entra, no natal de nosso tempo? O Diabo simplesmente
mudou a coisa toda, e fez dela uma contradição ao seu
significado real. Ele a tem usado como um meio de atrair
aquele outro homem, o velho homem, para a satisfação de si
próprio. E assim em tudo mais _ tem sido dada uma volta
errada.
Na vinda do Senhor Jesus isto será corrigido.
Porém, nesse meio tempo, Seu apelo a nós _ para o homem _
está neste campo, que Ele veio para a nossa redenção. Ele veio
para nos fazer diferente, para nos reconstituir: Ele veio
para nos aperfeiçoar segundo a Sua própria imagem: Ele veio
para nos glorificar. Ele mostrou em Sua própria vida aqui
que isto pode ser feito. Isto foi feito em um Homem. Pode
ser feito, pois Ele o fez. Nos é dito: ‘Para isto o Filho de
Deus se manifestou, para destruir as obras do Diabo’ (1 Jo
3.8b). Ele veio para destruir as obras do Diabo, e Ele fez
isso na Cruz. Ele está nos chamando para um terreno muito
amplo. Tudo isso é redenção: redenção é uma coisa tremenda.
Temos uma grande redenção, porque temos um Grande Redentor.
Temos estado pensando sobre o tempo quando Ele vier para dar
o último grande toque em tudo isto, para dar o toque final
nesta grande redenção _ do homem, da terra, em toda a
criação: ‘Quando Ele vier para ser glorificado em Seus
santos’ (2 Ts 1.10).
Creio que falo mais pra mim mesmo,
quando digo que parece haver algo no ar que diz que a Sua
vinda deve estar próxima. Parece que sentimos que isto não
pode estar longe. Como filhos de Deus, nós ‘gememos’ mais do
que nunca; e há um gemido aumentando em toda a criação. A
angústia nesta criação está ficando quase insuportável. Esta
terra precisa de redenção; somente Deus sabe o que irá
acontecer a ela, se ela não for redimida. Porém, seja como
for, há algo dentro do espírito do verdadeiro filho de Deus
que diz que Sua vinda está próxima. É a única esperança _
não há esperança em qualquer outra direção. Todos reconhecem
isto, salvos e não salvos. A menos que o Deus Todo Poderoso
intervenha, não há esperança para este mundo.
Ah, mas Ele está vindo para intervir! Ele está
vindo para intervir em Seu Filho, e existe esperança. E
assim o apóstolo fala desta ‘bendita esperança’ _ a
‘bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do
grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo; ’ (Tt 2.13). Que o
Senhor nos encha com nova alegria na contemplação de Sua
vinda que está próxima, para completar tudo o que Ele
começou.
FIM
*A
tradução deste estudo foi feita voluntariamente por Valdinei N. da
Silva, que, por reconhecer a excelência do conteúdo, coloca o mesmo ao alcance da Igreja de
Cristo, para sua edificação. Peço aos irmãos que possuírem
conhecimentos mais aprofundados em tradução, que colaborem, enviando as
suas preciosas observações e retificações para:
valdineibr@gmail.com
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