O serviço ao Senhor
T. Austin–Sparks
Leituras: Êxodo 4:22-23; Romanos
1:9; 7:6; 12:1; Efésios 4:11-14, 16.
Em cada uma das passagens
anteriores, de uma maneira ou de outra, a
questão do serviço se refere a: «…que deixes
ir a meu filho, para que sirva»; «…a quem
sirvo em meu espírito»; «…que sirvamos
debaixo do novo regime do Espírito»;
«…que é o vosso serviço (culto) racional
«; e por último, na porção de Efésios,
embora a palavra não esteja explícita, é
evidente que toda essa parte da carta se refere
ao assunto do serviço.
Um princípio subjacente da
criação
Seria uma coisa muito simples
dizer que o serviço é um pensamento que rege a
existência deste mundo e, de fato, deste
universo. Tudo existe sobre o princípio de
serviço. Tudo foi disposto para servir a um
propósito, e aquilo que não serve está
totalmente fora do pensamento divino. Quando
você medita sobre isso, que livro de serviço é a
Bíblia! O pensamento emerge com a criação e
avança até o Apocalipse, onde aprendemos que
«os seus servos lhe servirão», mesmo que as
eras tenham passado, e chegue a eternidade. Todo
o caminho através do pensamento e a lei de
serviço estão em evidência.
O espírito de serviço é o
espírito do Senhor Jesus; porque ele disse de si
mesmo: «O Filho do Homem não veio para ser
servido, mas para servir, e para dar a sua vida
em resgate por muitos». O Senhor não sabe
nada acerca de uma classe trabalhadora e uma
classe inativa. A palavra de Deus não considera
uma parte da criação como fora de serviço, e não
reconhece nada nem ninguém que não sirva. As
mais altas posições que a palavra de Deus revela
como nossas possibilidades de alcançar,
inclusive em relação com o próprio Deus, são
mostradas como posições de serviço.
Estamos familiarizados com o
termo «filho», e em nosso uso de certas
passagens da Escritura talvez temos feito uma
falsa distinção entre os servos e os filhos. Mas
a palavra de Deus é muito clara e muito
insistente, de que um filho é um filho que
serve; e inclusive chegar à posição de filiação
em seu sentido mais amplo não é alguém chegar a
estar em um lar que não faz nada e que tudo tem
sido feito para ele, mas alguém que está ali com
uma capacidade de servir. «Israel é meu
filho, meu primogênito... Deixa ir a meu filho,
para que me sirva» (Êx. 4:22:23). Portanto,
diretamente, você verá que a filiação, a mais
alta posição espiritual que podemos alcançar, é
antes de tudo uma posição de serviço.
O serviço é algo do Espírito
Além disso, o serviço é um
assunto do espírito. Paulo diz: «…a quem
sirvo em meu espírito», e ao dizer isto,
simplesmente se referia ao seu homem essencial.
O homem real é o espírito e ele estava dizendo
em outras palavras: «…a quem sirvo na realidade
mais interna do meu ser». Na terceira passagem:
«…que sirvamos no novo regime do Espírito»,
ele só está dizendo que a sua realidade mais
interna, este homem real, é renovado por
completo, e ele serve «em novidade de espírito».
Antes servia no obsoleto dos seus interesses,
sua esfera, suas energias. Era o velho homem
tratando de servir.
O serviço real não é algo
imposto. O serviço de Deus não é algo tomado do
exterior. Não é uma questão forçada ou de
obrigação. Não é algo que nos diga ou nos ordene
fazer, nem que tenhamos que estar à altura
daquilo e nos ver forçados a fazê-lo. O serviço
é uma questão do espírito, nosso espírito, e nós
somos provados quanto à realidade do nosso ser
interior, em sua relação com Deus, pelo espírito
de serviço que mostramos.
Isso nos leva a Romanos 12: 1. «Assim,
irmãos, rogo-vos pelas misericórdias de Deus,
que apresenteis os vossos corpos em sacrifício
vivo, santo, agradável a Deus, que é vosso culto
racional». Sei que as palavras que as cercam
são diferentes. Chegaremos a isso em um momento,
mas o significado é o mesmo. É ter nosso ser
obstinado a Deus.
Isso é o serviço, e todo outro
serviço emana deste. «…pelas misericórdias de
Deus». E, é obvio, Paulo falou dessas
misericórdias na maioria dos capítulos
anteriores ao capítulo 12: as misericórdias do
juízo passado, o julgamento assumido pelo Senhor
Jesus; as misericórdias de justificação pela fé
em Cristo; as misericórdias de comunhão com
Deus. Todas essas maravilhosas misericórdias que
nos mostram nos primeiros capítulos de Romanos,
o apóstolo as põe como base do seu chamado. ‘Assim
que…’, diz, com efeito, ‘devido a
estas misericórdias, o Senhor tem um mandamento
para vocês, tem direito sobre vocês e eu lhes
suplico que reconheçam os mandamentos de Deus
por suas abundantes misericórdias; e, incluindo
tudo, a apresentação dos seus corpos como
sacrifício vivo é serviço’.
O serviço não é, em primeiro
lugar, algo feito. A palavra de Deus não fala
nada a respeito disso. O serviço a Deus não é,
em primeiro lugar, o que fazemos por Deus, mas,
segundo a Sua palavra, é em primeiro lugar o que
nós somos para Deus; quer dizer, que nós somos
para Deus, totalmente do Senhor, e quando
realmente chegamos a isso, todos os outros
problemas ou questões sobre o serviço estarão
resolvidos. Não nos pede decidir o que faremos,
aonde iremos, como trabalharemos. Na realidade
estas perguntas nunca são apresentadas pelo
Senhor. A única pergunta que surge dele é: «Você
é meu?». «Se for assim», diz ele, em efeito,
«sem dúvida posso fazer exatamente o que me
agrade contigo e posso obter exatamente o que
quero de ti. Não contenderás comigo se te pedir
que tome uma determinada linha, que siga certo
curso, que vá em uma direção determinada ou que
permaneça em certo lugar».
Tudo isso se encontra
estabelecido no assunto inicial, amplo e extenso
de «apresentar os vossos corpos em sacrifício
vivo». Qualquer tipo de pergunta, argumento
ou dificuldade com o Senhor, como por exemplo, a
natureza, a forma ou direção do serviço,
representam algumas duvidas básicas quanto a
nossa absoluta sujeição ao Senhor, como também a
pergunta de ser totalmente do nosso Senhor.
Assim que, quando assimilamos de fazer dos
nossos corpos um sacrifício vivo para o Senhor,
quando assimilamos realmente o significado dessa
transação, resolvemos de uma vez e para sempre
todas as outras incógnitas que possam surgir.
A verdadeira concepção do serviço
Através da Bíblia, há um meio de
ilustrar isto que é empregado com frequência, e
está ali como uma lei que governa o serviço. É
aquela lei e o propósito da relação. Do povo de
Israel, não só disse o Senhor a Faraó: «É meu
filho, meu primogênito», mas com frequência
é representada no Antigo Testamento outra
relação existente entre o Senhor e Israel, e
Israel e o Senhor. Tomo um fragmento de um
profeta: «Tenho me lembrado de ti, da
fidelidade da tua juventude, do amor do teu
desposamento, quando andava atrás de mim no
deserto, em terra não semeada».
Veem a importância disto? Vejamos
de novo a conhecida passagem em Jeremias 31:
«Eis que vêm dias, diz Jehová, nos quais farei
novo pacto com a casa do Israel e com a casa de
Judá. Não como o pacto que fiz com os vossos
pais no dia que tomei a sua mão para os tirar da
terra do Egito; porque eles invalidaram o meu
pacto, embora fui eu um marido para eles, diz
Jehová». «O amor do seu desposamento».
«Eu fui um marido para eles». Agora, se você
esquadrinhar cuidadosamente a lei hebraica sobre
este assunto encontrará que a ideia global desse
relacionamento era uma ideia de serviço.
Às vezes um livro inteiro da
Bíblia é dado para anunciar um só princípio.
Sabe-se que o livro de Ester, por exemplo, tem
só um princípio ao redor do qual tudo gira. É
assim também, uma vez mais, com o livro de Rute.
Qual é o princípio neste caso? É a operação de
uma das leis do ano do jubileu.
Uma das leis relativas a esse ano
era que se deviam restaurar todas as
propriedades alienadas. Mas devia haver um
parente que estivesse em uma posição de
capacidade e boa disposição, por um lado, para
receber, para encarregar-se da herdade
restaurada e, por outro lado, para assumir a
responsabilidade por aqueles envolvidos na perda
da herança. Agora, em poucas palavras, essa é
uma lei do ano de jubileu. Quando chega ao livro
de Rute, encontramos que, embora o ano do
jubileu esteja à vista, tudo é uma questão da
recuperação de uma herdade perdida. Noemi
retorna e encontra que perdeu a herança, que
caiu em outras mãos. Ela está na miséria. Rute
está com ela e as duas estão conectadas com essa
herança perdida, mas totalmente incapazes de
fazer algo por sua redenção.
Boaz é um parente que está em
posição de recuperar a herança: é um homem
próspero, um homem estável, um homem de
recursos. Ele é provado no assunto e não só se
encontra capaz, como também disposto. Boaz se
compromete por inteiro; e conhecemos a cena na
porta da cidade onde ele desafia a outro parente
que se mostra pouco disposto e então ele mesmo
entra na negociação de redimir a herdade
perdida. Tendo redimido a herança perdida, ele
também se entregou a outra lei intimamente
relacionada com a redenção, a qual é assumir a
responsabilidade por aqueles que perderam a
herdade.
Vou deixar isto aqui por agora, e
passarei ao outro lado do pequeno romance. Ali
está Rute e ela também conhece a lei sobre este
ponto. Ela está necessitada e depende totalmente
das misericórdias deste parente redentor para
que a tire da sua destituição, para salvá-la da
sua desgraça e trazê-la de volta para uma
herança rica e plena. Mas uma coisa rege, ou
seja, que assim como o parente redentor deve
estar disposto a assumir a responsabilidade por
aqueles a quem concerne a perda da herança, eles
também devem estar dispostos a serem servos
daquele parente redentor, um serviço para o
resto da vida.
E, como deve ser esta relação?
Porque esta é a lei, Oh, não de amo e servo, mas
sim de marido e mulher! Isto explica por que
Rute entra silenciosamente na tenda de Boaz
quando ele foi descansar e toma o cobertor dos
seus pés e o põe sobre si mesmo e sobre os pés
dele. Ela está aos seus pés. Ela está de agora
em diante absolutamente em submissão a ele, como
sua propriedade, para o seu serviço. Pois bem,
tudo o que era necessário agora é um
reconhecimento formal de uma relação, e isso
significa o seu matrimônio.
Mas você vê que é o princípio do
serviço, e Paulo simplesmente está trabalhando
nesse princípio quando diz: «…apresenteis os
vossos corpos em sacrifício vivo... vosso
serviço racional». As misericórdias de Deus
lhe demandam isso. A lei das misericórdias de
Deus é que você deve ser do Senhor e deve ser
trazido para a relação mais íntima da igreja com
ele, como a noiva para o noivo. A ideia global
da igreja é a do serviço.
A questão do serviço ao Senhor se
revela através da Palavra de Deus. Está no livro
de Rute. A relação mais sagrada e honrosa
conhecida no céu ou na terra é essa relação da
qual o apóstolo fala em Efésios 5: «Por isso
deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e se
unirá a sua mulher, e os dois serão uma só
carne. Grande é este mistério; mas eu digo isto
com respeito a Cristo e a igreja» (vv.
31-32).
A relação mais santa e honrosa
conhecida no céu ou na terra se expressa no
serviço. Oh!, do ponto de vista do céu, o
serviço não é servidão ou vassalagem. É a mais
santa e a mais exaltada dignidade. O poder fazer
algo pelo Senhor é o maior privilégio. Oh!, como
podemos ser atraídos e cativados por Aquele a
quem pertencemos, e não considerar o serviço ao
Senhor, porque toma certas formas, como algo a
ser rejeitado, a ser evitado ou esquivado.
A prova da nossa compreensão do
Senhor
Agora, aí está o princípio, a lei
do serviço. Depois de tudo, é uma questão de
gratidão ao Senhor. Qualquer forma que tome, é
esta. Mas, então, nós passamos à questão da
forma, e aqui nos aproximamos das considerações
práticas. O Senhor prova o nosso espírito, quer
dizer, a realidade mais interna do nosso ser,
através da linha de serviço. Não haveria nenhuma
prova em nosso ser interior se o Senhor sempre
nos pedisse fazer as coisas que são o maior
prazer para a nossa carne.
Não há nada mais provador que o
serviço ao Senhor, porque esse serviço nos leva
inteiramente de um âmbito a outro. Sim, já sei
que homens fora de Cristo servem; entregam-se a
si mesmos. Não é minha intenção indagar quanto
do serviço humano se faz por motivos ou
interesses pessoais, por autossatisfação e
autogratificação, porque fazer um bom trabalho
traz muito frequentemente uma grande satisfação
a quem o faz. Não me corresponde a procurar
quanta ambição há por trás deste trabalho ou
busca de fama, influência, êxito, prosperidade e
assim sucessivamente; mas isto sei, que quando
realmente chegamos às mãos do Senhor, a
pergunta ou o assunto do serviço se converte
para nós em Sua forma de encontrarmos a Ele.
Agora, voltando para Israel.
«Deixa ir a meu filho, para que me sirva».
Essa é a palavra que podemos dizer que foi
escrita sobre a saída de Israel do Egito. Esse
era o objetivo. Moisés foi desafiado
completamente nessa questão todo o tempo. Israel
também tinha compreendido algo do seu
significado, e Faraó, por outro lado, foi
reconhecendo a importância daquele serviço ao
Senhor no deserto. A própria ideia de Israel de
sair para servir ao Senhor no deserto era uma
ideia muito romântica, e sem dúvida houve muito
entusiasmo associado a este serviço.
Aquela ideia de servir ao Senhor
era uma ideia atrativa, uma ideia cativante. Mas
tinham que seguir, marchar no deserto e ver se,
depois de tudo, a ideia demonstrava ser tão
romântica como eles esperavam. Todo o entusiasmo
deles morreu: todo elemento de romance
desapareceu. O assunto tomou uma forma que
requeria algo muito maior que todo o entusiasmo
que eles eram capazes de demonstrar, e sua
atitude se tornou em desilusão. Oh, isto não é o
que esperávamos! Isto é algo completamente
diferente! Pensamos isto e aquilo. Nunca
pensamos que seria assim!
Mais cedo ou mais tarde, quando
chegamos às mãos do Senhor, isso é o que
acontece. Quaisquer que sejam as nossas
expectativas, chegamos ao ponto em que
descobrimos que o serviço ao Senhor nos prova na
própria essência do nosso ser, e o ponto de
apoio é, sobretudo, se estamos obtendo alguma
gratificação, prazer ou satisfação pessoal
nisto, ou se estamos tendo tal devoção ao Senhor
que somos achados em Seu serviço e plenamente
nisso, só porque é para Ele, para o Seu prazer,
para a Sua satisfação, pelo que Ele é e por Suas
misericórdias. Deus nos põe totalmente em aperto
nesta questão.
Agora, isto funciona simplesmente
em milhares de formas práticas, todos os dias.
Se o Senhor apenas nos deixasse lhe servir nesta
direção, quão encantador, quão satisfatório
seria! Que felizes seríamos! O princípio de
serviço é uma coisa; a forma do serviço é algo
muito distinto, e ali somos provados. Não somos
provamos em nada menos que em nossa devoção ao
Senhor. A pergunta que se faz todo o tempo é:
Pode isto de alguma forma servir aos interesses
do Senhor, ser uma contribuição ao conjunto?
Não devemos perguntar como ou no
que devemos servir com o nosso espírito. Você
tem o espírito de serviço e não terá nenhuma
dificuldade sobre a forma do serviço. São as
pessoas que não tem o espírito de serviço que
sempre se encontra em dificuldades sobre o
como do serviço. Eles estão em espera de
algo que coincida totalmente com a sua ideia de
serviço. Eles têm as suas ideias sobre o que é o
serviço ao Senhor e, até que as suas ideias
tenham a possibilidade de realizar-se, o serviço
não existe para eles. Oh não!
A voz do verdadeiro servidor se
ouve nas palavras: «…a quem sirvo em meu
espírito». Aí começa. O espírito de serviço
resolve todas as outras interrogações. Não
comece perguntando onde servirá ao Senhor, como
servirá, o que vais fazer por ele, mas considera
que o Senhor te possui total e absolutamente,
que está enamorado por ele, que pode dizer que
as suas misericórdias capturaram o seu coração.
Eu sou do Senhor, tão verdadeiramente como Rute
estava aos pés de Boaz, no lugar de entrega e
sujeição absoluta a Ele, para sempre. Busque
estar aos pés do teu Senhor, casado com Cristo,
e todas as outras questões sobre o serviço
deixarão de existir. O Senhor poderá fazer o que
lhe agrada e você não terá questionamentos nem
debates.
Então, a questão do serviço
parece ser definitivamente do espírito. Isso é
tratar muito ligeiramente o assunto.
O serviço tem três aspectos
Só quero mencionar uma coisa a
mais, que o serviço tem três aspectos, tanto
como posso ver, na palavra de Deus; três e só
três. Acima de tudo e sobre tudo, o culto;
porque, de fato, para isso Israel saiu para o
deserto, e isso é o que Deus chama serviço:
«…para que me sirva». Quando eles chegaram
ao seu destino, era um assunto de culto. Não
podiam fazer muito mais em um deserto, em uma
terra que não foi semeada.
Escutemos o que o Senhor disse
deles no momento da sua saída. «Lembrei-me de
ti, da fidelidade da tua juventude, do amor do
teu desposamento, quando andava atrás de mim no
deserto, em terra não semeada» (Jer. 2: 2).
Isso é culto, quando Deus pode nos ter em um
lugar, estado e posição de devoção a ele, quando
nós não podemos fazer nada mais, estando em um
lugar estéril. Oh!, nós podemos dar ao Senhor
muito do que chamamos culto quando estamos tendo
um bom momento, quando está ocorrendo todo tipo
de coisas interessantes no que chamamos o
serviço do Senhor.
Mas quando nos encontramos em um
deserto, em uma terra não semeada, quer dizer,
quando nós estamos separados destas atividades
auto gratificantes no serviço, isolados das
coisas, e nos encontramos em silêncio diante do
próprio Senhor e só temos ao Senhor e o coração
está com ele, então tem o que Deus chama o
serviço mais alto. Ele nos tem para si mesmo.
Assim foi ali no deserto para com Israel, onde o
Senhor pôde ter a Israel para Si mesmo e achar a
Israel lhe respondendo e estando satisfeito com
Ele. Isso é o que Deus chama o serviço mais
alto, isso é o culto. Portanto a interpretação
alternativa dessas palavras em Romanos 12: 1 é
«vosso culto espiritual»: «vosso
serviço racional».
Não vou falar destas três coisas,
só vou mencioná-las, mas a forma mais alta de
serviço a Deus é o culto; quer dizer, onde o
Senhor é o único objeto da nossa devoção, não
pelo que obtemos, não pela bênção que se acumula
em nós, não por prazer ou satisfação do nosso
próprio ser, mas apenas por Ele mesmo. Ele chama
a isso serviço. É maravilhoso, creio, o serviço
que se presta ao Senhor, além disso, é Sua
própria satisfação. Quer dizer, se o Senhor
tiver uma vida que é realmente de adoração,
dedicada, dada a ele por Sua própria causa, há
uma influência que emana daquela vida, há um
poder nessa vida, há um testemunho naquela vida.
Aí é onde começa o serviço, e é um serviço
inconsciente; é um serviço de frutificação
inconsciente, só para o Senhor.
Em seguida, há outras duas fases
mais do serviço. Uma delas é o ministério aos
santos, e a outra, é obvio, é o testemunho ao
mundo. Três aspectos do serviço; culto,
ministério aos santos, testemunho ao mundo.
Quando você diz isto, pode transformá-lo em
dois: primeiro, Deus operando diretamente, e em
segundo e terceiro lugar o trabalho do homem, e
Deus operando indiretamente. Como tenho dito,
não falarei em detalhe sobre essas três coisas,
mas quero dizer isto, que, na palavra de Deus,
todo o povo do Senhor é considerado em todas e
em cada uma destas fases do serviço; todas as
pessoas do Senhor, do menor até o maior. Os
adoradores não são uma classe por si mesmos.
Suponho que vocês aceitarão a declaração de que
todas as pessoas do Senhor são consideradas
adoradores, totalmente para o Senhor. Bom, isso
é o serviço; esse é o serviço do povo do Senhor
para Ele.
Todo o povo do Senhor é também
considerado participante no serviço aos santos.
É um assunto que cada vez devemos enfrentar mais
e mais e é justamente isto o que trata o
capítulo 4 da carta aos Efésios. Certamente, o
Senhor deu dons especiais à igreja; alguns
apóstolos e alguns profetas, e evangelistas,
pastores e mestres. Com que propósito estes
foram dados? Para o aperfeiçoamento dos santos
para a obra do ministério. Creio que isso é o
que Paulo queria dizer. A avaliação deve ser
organizada de acordo com esse sentido. Foi para
o aperfeiçoamento dos santos, para levar a todos
os santos a uma posição onde eles possam cumprir
com a obra do ministério.
O restante do capítulo o deixa
claro. Vocês veem o que quer dizer: «…de
quem todo o corpo, bem consertado e unido entre
si por todas as juntas que se ajudam mutuamente,
segundo a própria atividade de cada membro,
recebe o seu crescimento para ir edificando-se
em amor» (Ef. 4:16). O corpo, com cada uma
das suas partes trabalhando de acordo com a sua
medida, se auto edifica. É o que chamamos
‘mutualidade’. O serviço do Senhor, em
segunda instância, é o ministério mútuo dos
santos, a mútua edificação do corpo de Cristo.
Não é apenas uma pessoa ministrando aos santos,
mas todos os santos se ministrando um ao outro
na medida espiritual e cada um em sua medida.
Isto tem um lugar muito importante na palavra de
Deus, tanto no Antigo como no Novo Testamento.
Então, por último, é o testemunho
ao mundo. Parece-me que este terceiro aspecto de
serviço tomou preeminência, como se os outros
fossem secundários. O testemunho ao mundo –pode
chamá-lo evangelização ou ganhar almas– se
converteu no serviço ao Senhor. Isso é o que
hoje as pessoas chamam «trabalhar para o
Senhor»; muitas pessoas têm isto em mente. Não
quero desprezar a importância deste aspecto do
serviço, senão fortalecê-lo. Aqui, de novo,
quero dizer que a palavra de Deus considera
também a todo o povo do Senhor neste aspecto do
ministério ou serviço. Todas as pessoas do
Senhor são testemunhas. Pode não ser um
evangelista no sentido específico, mas é uma
testemunha, e isso é uma parte do serviço do
Senhor em que todos nós devemos permanecer
fiéis.
Aqui, então, estão os três
aspectos do serviço, e todos nós fomos
considerados como participantes neles; culto,
ministério aos santos, testemunhas para o mundo.
Sim, em cada um de nós, individualmente, recai
este serviço triplo ao Senhor.
O serviço e a casa de Deus
Agora, amados, para finalizar,
quero lhes recordar que o serviço sempre começa
na Casa. Se buscares no Novo Testamento,
encontrarás que a base de todo serviço é a
assembleia local. A assembleia local tem em si
todos os elementos de serviço necessários para
servir. É ali que se expressa a forma mais alta
de serviço, ou seja, o culto, e a assembleia
local está constituída sobre a base do culto.
Estamos pelo Senhor, para o Senhor; somos do
Senhor. A assembleia local também está
constituída sobre o princípio do ministério
mútuo de uns aos outros; e, além disso, deveria
estar expressando em sua vida e em todos os
valores de uma assembleia local, os recursos e
energias para testemunho ao mundo.
Agora, isto abre um grande
assunto. A assembleia local é o lugar para a
capacitação e treinamento para o serviço. Quando
há uma verdadeira vida de assembleia,
proporciona-se uma garantia contra toda uma
série de riscos que estão conectados com o
serviço; e isso significa mais um grande
assunto. Mas quero que vocês cheguem a uma
compreensão –sem detalhar– do que é o serviço e
o que ele significa, e especialmente lhes deixar
com esta urgência em seus corações, que a prova
da nossa relação com o Senhor se encontra,
primeiro, no espírito de culto e devoção a ele;
e em segundo lugar, em quão envolvidos estamos
na edificação do seu povo e no caminho desse
ministério; e em seguida, o espírito de serviço
é provado por nosso testemunho ao mundo, nossa
preocupação pelos interesses do Senhor para os
nãos convertidos. Esta é a tripla prova do
espírito de serviço.
Que o Senhor nos encontre na
companhia daquele servo dele que disse: «…a
quem sirvo em meu espírito… que sirvamos sob o
novo regime do espírito… que apresenteis os
vossos corpos em sacrifício vivo… vosso culto
racional». E que em nenhum de nós haja nunca
na presença do mundo uma vacilação para declarar
nossa lealdade como aquele servo do Senhor nas
palavras: «…de quem sou e a quem sirvo…».
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