Guardai-vos daqueles que pregam a mensagem da prosperidade

 

 "Confirmando os ânimos dos discípulos, 

exortando-os a permanecer na fé, 

pois que por muitas tribulações nos 

importa entrar no reino de Deus."
Atos 14.26.  

  Há uma mensagem que nestes últimos anos fez as suas raízes no seio de muitas igrejas, e é uma mensagem que fez os seus danos e os continua a fazer muito; mas juntamente com o dano, os que a pregam fizeram também muitos seguidores; é chamada ‘da prosperidade’, mas não da prosperidade da alma, porque ela não é tida em nenhuma conta, mas da prosperidade econômica e financeira, a qual é pregada e exaltada como se fosse a coisa mais importante para um crente. Estes faladores vãos e enganadores ensinam coisas que não deveriam, e isto o fazem por torpe ganância e porque procuram a glória dos homens. Entre as coisas que eles dizem estão estas: ‘Nós crentes em Cristo Jesus somos filhos do Rei dos reis e, portanto, como convém a filhos de um rei, devemos viver como reis’, o que equivale a dizer que devemos vestir como vestem os príncipes, devemos morar em casas luxuosas e ter carros luxuosos e muitos bens materiais na terra. Nos seus discursos os adjetivos ‘modesto’, ‘humilde’, ‘simples’ são evitados, não são mencionados porque eles (segundo eles) não se adequam aos bens materiais que um filho de Deus deve possuir. Para eles quem é rico materialmente tem muita fé em Deus e é uma pessoa abençoada porque faz a vontade de Deus, enquanto quem é pobre tem pouca fé em Deus e não é uma pessoa abençoada por Deus porque não faz a vontade de Deus. Eles falam muitas vezes e voluntariamente de dinheiro, de bens materiais, de riquezas, e para sustentar a sua doutrina tomam algumas passagens do antigo concerto e do novo concerto (naturalmente aquelas que eles pensam que confirmam a sua doutrina e que lhes são cômodas), mas de muitas palavras de Jesus e dos apóstolos não querem não só falar delas, mas nem tampouco ouvir falar, tanto são arrogantes. A estes pregadores agrada falar das riquezas materiais que possuíram Abraão, Isaque, Jacó, Salomão e Jó: ora, nós não temos nada a dizer contra as riquezas que possuíram estes homens porque a Escritura ensina que, em verdade foi Deus a dar-lhes todos aqueles bens e eles os obtiveram de modo lícito sem fraude, mas ao mesmo tempo não suportamos que eles não só falem quase sempre de dinheiro e de bênçãos materiais, mas também evitem falar do tipo de vida que Jesus Cristo, o Filho de Deus, levou sobre a terra nos dias da sua carne, e de muitos ensinamentos seus, como também evitem voluntariamente falar do tipo de vida que levaram os santos apóstolos e de muitos ensinamentos seus.

Jesus Cristo, sendo rico por amor de nós se fez pobre

Jesus Cristo é o Filho de Deus; ele disse: "Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve" (Mat. 11:29,30), portanto nós sabemos que Cristo nos deixou um exemplo de vida e que devemos segui-lo. E quem ousaria dizer que Cristo em alguma coisa não foi exemplo?

Começamos por dizer que Cristo, o Filho de Deus, quando nasceu foi posto numa manjedoura conforme está escrito que Maria "deu à luz o seu filho primogênito, e envolveu-o em panos, e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem" (Lucas 2:7). A manjedoura é um lugar humilde, e exatamente numa manjedoura foi posto o rei dos Judeus quando nasceu; Deus poderia fazer com que se liberasse um lugar na estalagem para José e Maria, mas não o permitiu, no entanto o menino que Maria deu à luz era o Filho do Altíssimo. Em seguida José com Maria e o menino se mudaram para uma casa porque foi numa casa que os magos vindos do Oriente encontraram o menino e o adoraram, conforme está escrito: "E, entrando na casa, acharam o menino com Maria sua mãe e, prostrando-se, o adoraram; e abrindo os seus tesouros, ofertaram-lhe dádivas: ouro, incenso e mirra" (Mat. 2:11); também aqui é necessário dizer que a Escritura não fala de um palácio mas diz simplesmente: "Na casa". Pelo que respeita às dádivas que os magos ofereceram a Jesus é necessário dizer que elas não foram conservadas por Jesus como seu tesouro pessoal na terra, porque ele mesmo disse: "Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam" (Mat. 6:19), e digo isto porque há gente perversa que faz insinuações sobre o fim que estas dádivas tiveram em seguida. Nós as suas insinuações as destruímos porque sabemos que Jesus nasceu sem pecado e viveu de maneira irrepreensível durante todos os dias da sua carne (por isso também durante os anos da sua meninice e da sua adolescência). 

Jesus, o Filho de Deus, nasceu segundo a carne não só num lugar humilde, mas também de pessoas humildes, de fato o seu Pai o fez nascer segundo a carne numa família pobre e não numa família rica da casa de David daquele tempo (coisa que Deus poderia ter feito, mas não o fez porque não era segundo a sua vontade). Com base na lei de Moisés, a mulher, depois de dar à luz um filho (quando os dias da sua purificação se cumprissem) devia oferecer um holocausto e um sacrifício pelo pecado, conforme está escrito: "E, quando forem cumpridos os dias da sua purificação, seja por filho ou por filha, trará um cordeiro de um ano para holocausto, e um pombinho ou uma rola para oferta pelo pecado, à porta da tenda da revelação, o ao sacerdote, o qual o oferecerá perante o Senhor, e fará, expiação por ela; então ela será limpa do fluxo do seu sangue... Mas, se as suas posses não bastarem para um cordeiro, então tomará duas rolas, ou dois pombinhos: um para o holocausto e outro para a oferta pelo pecado; assim o sacerdote fará expiação por ela, e ela será limpa" (Lev. 12:6-8). Lucas, a tal propósito, diz: "E, cumprindo-se os dias da purificação dela, segundo a lei de Moisés, o levaram a Jerusalém, para o apresentarem ao Senhor (Segundo o que está escrito na lei do Senhor: Todo o macho primogênito será consagrado ao Senhor); e para darem a oferta segundo o disposto na lei do Senhor: Um par de rolas ou dois pombinhos" (Lucas 2:22-24); por estas palavras se deduz claramente que José e Maria eram pobres.

Jesus mesmo viveu pobre neste mundo porque está escrito: "Porque já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza enriquecêsseis" (2 Cor. 8:9); e de fato não tinha nem sequer um lugar onde reclinar a cabeça conforme ele disse: "As raposas têm covis, e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça" (Lucas 9:58). Mas de que casa luxuosa era proprietário Jesus sobre a terra? O Rei dos Judeus, quando viveu na terra, não viveu num palácio real, não usou roupas magníficas e nem tampouco viveu em delícias como ao invés fazem os reis da terra; ele disse que "aqueles que trajam roupas preciosas, e vivem em delícias, estão nos paços reais" (Lucas 7:25), mas ele não estava entre aqueles; no entanto era o rei de Israel. Ele teria podido permitir-se a viver como rei, mas renunciou a isso; ele preferiu aniquilar-se a si mesmo e tomar a forma de servo para servir.

O Rei de Israel nos dias da sua carne não se vestiu de púrpura nem tampouco pôs uma coroa de ouro na cabeça; as suas vestes modestas consistiam em vestidos e numa túnica a qual "tecida toda de alto a baixo, não tinha costura" (João 19:23). Foram aqueles que o escarneceram que o vestiram de púrpura de fato está escrito: "E os soldados o levaram dentro à sala, que é a da audiência, e convocaram toda a corte. E vestiram-no de púrpura.." (Mar. 15:16,17); foram ainda os soldados que lhe puseram uma coroa na cabeça, mas de espinhos, conforme está escrito: "E tecendo uma coroa de espinhos, lha puseram na cabeça.." (Mar. 15:17). 

Era o Rei dos Judeus, mas depois que matou a fome a milhares de pessoas com apenas cinco pães e dois peixes, quando soube que vinham para arrebatá-lo para fazê-lo rei "tornou a retirar-se, ele só, para o monte" (João 6:15). Ele não procurou a glória dos homens, mas a do Pai que o tinha enviado. Se tivesse procurado a glória dos homens, quando soube que as pessoas vinham para arrebatá-lo para o fazerem rei não se teria retirado para o monte sozinho.

Quando Jesus entrou em Jerusalém não entrou montado sobre um cavalo branco ou levado pelos seus discípulos numa liteira real como faziam os reis antigos, mas montado sobre o filho de uma jumenta conforme está escrito: "E achou Jesus um jumentinho, e assentou-se sobre ele, como está escrito: Não temas, ó filha de Sião; eis que o teu Rei vem assentado sobre o filho de uma jumenta!" (João 12:14,15; Zac. 9:9). Jesus era humilde de coração, mas isto não se limitou a dizê-lo com a boca, mas o demonstrou também com fatos; Ele nunca ambicionou coisas altas, mas se deixou acomodar às humildes. Eu repito: Viveu pobre; sim irmãos, é assim, na verdade ele não tinha consigo nem sequer as didracmas com a quais pagar o imposto anual que todo o israelita, da idade de vinte anos para cima, devia pagar para a manutenção do culto, de fato disse a Pedro: "Vai ao mar, lança o anzol, tira o primeiro peixe que subir, e abrindo-lhe a boca, encontrarás um estáter; toma-o, e dá-o por mim e por ti." (Mat. 17:27).

Jesus era pobre, mas teria podido se tornar um homem muito rico materialmente se tivesse começado a pedir compensações pelos seus ensinamentos e pelas suas curas, mas Ele não cuidou que a piedade seja causa de ganho, como ao invés fazem hoje muitos pregadores corruptos de entendimento e extraviados; Jesus Cristo exerceu "a piedade com contentamento." (1 Tim. 6:6), deixando-nos o exemplo a seguir.  

Os pregadores da prosperidade econômica ousam até dizer que quem é pobre na terra não tem uma grande fé em Deus, mas dela tem muito pouca. Mas o que querem dizer com isto? Que Jesus Cristo, sendo pobre não tinha uma grande fé em Deus? Ou porventura que Jesus era um homem de pouca fé porque não possuía nada na terra? Jesus Cristo teve uma grande fé em Deus e o demonstrou seja com o fazer muitíssimos sinais e prodígios e obras poderosas em nome de seu Pai, seja com o não pedir ofertas para si, e seja com o depor a sua vida por nós. O Justo viveu pela fé, enquanto estes faladores vãos e rebeldes mostram a sua incredulidade porque pedem dinheiro como fazem os mendigos; alguns deles choram mesmo ao pedi-lo, outros maldizem os que não lhes dão nada ou lhes dão pouco; estes são mercadores que põem à venda as suas pregações; cada um deles estabelece a sua própria tarifa (que sobe à medida que se torna mais famoso). Mas onde está toda esta grande fé que dizem ter em Deus, estes que vivem nas delícias, nos deleites da vida, no meio do luxo desenfreado? Dizem ter fé em Deus, mas com efeito têm fé, e muita, nos seus caminhos tortuosos e nas suas riquezas que acumularam oprimindo os fiéis com passagens da Escritura que dizem respeito a dar. Roubaram as ovelhas do Senhor, ceifaram-lhes o dinheiro das suas mãos com os mais variados pretextos; acumularam bens em grande quantidade com fraude e depois ousam dizer: ‘Veja como Deus me abençoou? Veja? ‘O Senhor honra aqueles que o honram’, e outras belas palavras, mas falsas. E os simples crêem neles, mas nenhum ou quase nenhum entre os seus ouvintes sabe quanto estes pregadores roubaram e espoliaram dos seus bens.

Estes pregadores falam dos seus bens como se Deus os lhes tivesse dado pela sua reta e justa conduta; dizem ser como Abraão, mas não o são, porque são como Balaão; Abraão sim foi chamado amigo de Deus, mas estes não são amigos de Deus mas sim inimigos de Deus porque são amigos do mundo (conforme está escrito: "Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus" [Tiago 4:4]).

Os apóstolos eram pobres mas enriqueciam a muitos 

Também os apóstolos eram pobres de fato. Paulo aos Coríntios escreveu dele e dos seus cooperadores: "Pobres, mas enriquecendo a muitos; como nada tendo, e possuindo tudo!" (2 Cor. 6:10). Eram pobres materialmente mas enriqueciam a muitos espiritualmente; por meio deles a igreja foi edificada e por meio dos escritos de Paulo que era pobre e não tinha nada, a igreja sobre a face da terra é ainda edificada, enriquecida e consolada. A mesma coisa não se pode dizer dos que pregam o Evangelho e destroem a vinha do Senhor porque não cuidam de maneira nenhuma dela, estando virados para o seu próprio caminho; é certo que são ricos materialmente mas pobres espiritualmente, e os santos, não são enriquecidos por meio deles, nem por voz e nem tampouco por meio dos seus livros áridos e muito caros que falam sobretudo de bênçãos materiais, ou melhor, de como ser cristão e fazer dinheiro.

Então, os apóstolos do Senhor, se bem que pobres enriqueciam muitos; mas de que maneira os enriqueciam? Que bens preciosos lhes comunicavam? Tomemos por exemplo Paulo; ele disse aos Romanos: "E bem sei que, indo ter convosco, chegarei com a plenitude das benções de Cristo" (Rom. 15:29); portanto ele estava convicto que Cristo abençoaria aquela igreja através dele (porque iria ter com eles com a plenitude das bênçãos de Cristo); vejamos de que maneira. No início da epístola disse aos santos de Roma: "Porque desejo muito ver-vos, para vos comunicar algum dom espiritual, a fim de que sejais fortalecidos" (Rom. 1:11); destas palavras se deduz que Paulo enriquecia os santos comunicando-lhes dons espirituais (isso significa que o Espírito Santo através dele comunicava dons aos santos segundo a vontade de Deus). Deus, mediante a imposição das mãos de Paulo, comunicava o dom do seu Santo Espírito (Paulo a Timóteo disse: "Te lembro que despertes o dom de Deus que existe em ti pela imposição das minhas mãos" [2 Tim. 1:6]), e juntamente com o Espírito Santo (quando o queria Deus) também dons espirituais, como no caso daqueles cerca de doze discípulos de Éfeso dos quais está escrito que "impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas, e profetizavam" (Actos 19:6). O Senhor curava também muitos doentes através de Paulo (em Éfeso "Deus pelas mãos de Paulo fazia maravilhas extraordinárias. De sorte que até os lenços e aventais se levavam do seu corpo aos enfermos, e as enfermidades fugiam deles, e os espíritos malignos saíam" [Actos 19:11,12]) por isso muitos doentes através dele receberam a cura que é também ela uma benção de Cristo que não se pode comprar com dinheiro. Paulo enriquecia os santos em sabedoria e em conhecimento, porque transmitia-lhes a sabedoria e o conhecimento que ele tinha recebido do próprio Senhor; nós próprios reconhecemos de ter sido enriquecidos em sabedoria e em conhecimento através das epístolas de Paulo. Isaías disse que "sabedoria e conhecimento, e o temor do Senhor será o seu tesouro" (Is. 33:6), e é por isso que os apóstolos a quem Deus deu sabedoria e conhecimento estavam aptos para enriquecer os que os ouviam falar. 

Devo lembrar-vos irmãos que quando se fala de Paulo, fala-se de um homem de Deus que não  procurou nem o seu próprio interesse e nem tampouco as dádivas materiais dos santos na realidade disse aos Filipenses: "Não que procure dádivas, mas procuro o fruto que cresça para a vossa conta" (Fil. 4:17); quantos hoje podem dizer a mesma coisa? Deus o sabe. Certamente poucos. Alguns que pregam não procuram o fruto que cresça para a conta dos crentes, de maneira nenhuma, estão é empenhados a procurar os bens materiais dos crentes; nunca estão contentes com o que têm; quanto mais têm mais querem ter. Entre estes estão aqueles que pregam a mensagem da prosperidade que demonstram não querer enriquecer os crentes como faziam os apóstolos, mas de querer eles mesmos enriquecer com os bens materiais dos crentes. Estes, em vez de desejar os dons do Espírito Santo desejam o ouro e a prata dos crentes; estes em vez de edificar a casa de Deus querem edificar os seus palácios e construir os seus impérios na terra. Fazem o contrário dos apóstolos; mas aliás não pode ser doutra forma, porque estes, quanto à fé, naufragaram. Ide ver e verificai o tipo de vida que fazem os que pregam esta particular mensagem e vereis com os vossos olhos que a estes bens espirituais e edificar a igreja não importa mesmo nada, digo mesmo nada, porque é gente que ambiciona as coisas da terra e cobiçosa de torpe ganância.

Também o apóstolo Pedro era pobre, mas enriquecia a muitos. Tomemos por exemplo aquilo que Deus operou, à porta do templo dita ‘Formosa’, mediante este seu servo. Está escrito: "E era trazido um homem que desde o ventre de sua mãe era coxo, o qual todos os dias punham à porta do templo, chamada Formosa, para pedir esmola aos que entravam.  O qual, vendo a Pedro e a João que iam entrando no templo, pediu que lhe dessem uma esmola. E Pedro, com João, fitando os olhos nele, disse: Olha para nós. E olhou para eles, esperando receber deles alguma coisa. E disse Pedro: Não tenho prata nem ouro; mas o que tenho isso te dou. Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda. E, tomando-o pela mão direita, o levantou, e logo os seus pés e artelhos se firmaram. E, saltando ele, pôs-se em pé, e andou..." (Actos 3:2-8); como podeis ver Pedro não tinha consigo nem prata e nem ouro para repartir com aquele homem que mendigava, mas ele tinha dons espirituais que punha ao serviço dos outros para que deles recebessem o bem. Neste caso, o Senhor, através de Pedro, deu uma perfeita cura àquele coxo. Este episódio leva-nos a refletir sobre a importância da fé e dos dons do Espírito Santo. Certo, é bom dar esmolas, porque isso entra na vontade de Deus, mas também é bom desejar ardentemente os dons do Espírito Santo, a fim de ver a igreja edificada e de ver os doentes curados pelo poder de Deus. Quando ao invés se começa a pensar nas coisas da terra começa-se a não desejar mais ardentemente os dons espirituais e por isso deixa-se de querer edificar a igreja. Paulo, falando dos dons espirituais, disse aos Coríntios: "Vós, como desejais dons espirituais, procurai abundar neles, para edificação da igreja" (1 Cor. 14:12); os pregadores de Mamom, ao invés disso te exortam a procurar abundar sempre mais em bens materiais. Procuram fazer-te vir a querer enriquecer materialmente, mas não a querer enriquecer espiritualmente. Muitas vezes dizem que no início eram pobres e depois se tornaram ricos; mas a trágica realidade é que alguns deles eram ricos espiritualmente ao início do seu ministério e depois empobreceram até se tornarem miseráveis. Irmãos, a sorte que espera todos aqueles que se deixam tomar pelo querer enriquecer é esta, por isso cuidemos de nós mesmos para não nos acharmos na mesma condição espiritual do anjo da igreja de Laodicéia.

Em Cristo fomos enriquecidos 

Vejamos agora quais são os bens que fazem rico quem os possui.

Antes de tudo é necessário dizer que "Cristo é tudo em todos" (Col. 3:11) e que n`Ele nós temos tudo plenamente "porque o seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e à piedade, pelo conhecimento daquele que nos chamou" (2 Ped. 1:3). Jesus Cristo é aquele tesouro escondido no campo que encontramos; Ele é a pedra preciosa que nós encontramos; Ele é o nosso ouro. Jesus Cristo é o dom celestial que Deus nos deu; Ele é o verdadeiro Deus e a vida eterna. Jesus é também a nossa paz e a nossa esperança, portanto quem recebeu Cristo Jesus possui todas as coisas e mesmo se é pobre segundo o mundo é rico para com Deus.

Os dons espirituais, os de ministério, e o conhecimento das coisas de Deus são bens preciosos. Paulo escreveu aos Coríntios: "Sempre dou graças ao meu Deus por vós pela graça de Deus que vos foi dada em Jesus Cristo. Porque em tudo fostes enriquecidos nele, em toda a palavra e em todo o conhecimento (Como o testemunho de Cristo foi mesmo confirmado entre vós). De maneira que nenhum dom vos falta..." (1 Cor. 1:4-7). Por estas palavras se deduz que os dons do Espírito Santo, os dons de ministério e todo o conhecimento espiritual das coisas de Deus constituem bens espirituais preciosos, pelo que quem os possui é rico.

A fé é um bem precioso.Tiago, na sua epístola, diz: "Porventura não escolheu Deus aos pobres deste mundo para serem ricos na fé, e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam?" (Tiago 2:5). Deus escolheu os pobres segundo o mundo para enriquecê-los na fé, portanto a fé que nós crentes recebemos de Deus, (conforme está escrito: "Isto não vem de vós, é dom de Deus" [Ef. 2:8]) é um bem precioso que faz ricos os que a possuem.

Também Pedro confirmou que a nossa fé é valorosa quando disse ao início da sua segunda epístola: "Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que conosco alcançaram fé igualmente preciosa na justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo" (2 Ped. 1:1). Irmãos, vos deveis dar conta que a fé que recebestes não a têm todos (conforme está escrito: "A fé não é de todos" [2 Tess. 3:2]) e tem um grande valor diante de Deus, portanto não a lanceis fora, porque em tal caso lançareis fora a salvação da vossa alma condenando-vos a vós mesmos. 

Sabei porém que existe também uma fé fingida que não vale nada, exatamente porque é fingida. Das palavras de Tiago compreende-se também que os que creram (sendo herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo) são herdeiros do reino de Cristo e de Deus, por isso mesmo se pobres materialmente são ricos e felizes. Jesus testificou a bem-aventurança dos pobres que tinham crido nele quando, "levantando ele os olhos para os seus discípulos, dizia: Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus" (Lucas 6:20). Nós proclamamos que os pobres dentre os santos são felizes e ricos porque aprouve a Deus fazê-los herdeiros do seu reino.  

 A sabedoria de Deus é um bem precioso  

Está escrito: "Bem-aventurado o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire conhecimento; porque é melhor a sua mercadoria do que artigos de prata, e maior o seu lucro que o ouro mais fino. Mais preciosa é do que os rubis, e tudo o que mais possas desejar não se pode comparar a ela" (Prov. 3:13-15). Ora, como Deus disse ao homem: "Eis que o temor do Senhor é a sabedoria" (Jó 28:28), consequentemente quem tem temor de Deus tem também a sabedoria divina (porque o temor de Deus produz sabedoria), mas quem não teme Deus não tem sabedoria. Oh, quão precioso é o temor de Deus para quem o possui! Ele é verdadeiramente o seu tesouro, conforme está escrito em Isaías: "O temor do Senhor é o seu tesouro [de Sião]" (Is. 33:6).  

Salomão foi um homem muito sábio porque possuiu muita sabedoria, mas também foi um homem muito rico materialmente. As riquezas que Salomão possuiu foram verdadeiramente enormes; basta dizer a tal respeito que "o peso do ouro, que vinha em um ano a Salomão, era de seiscentos e sessenta e seis talentos de ouro (tende conhecimento que um talento equivalia cerca de quarenta e cinco quilos) afora o que os negociantes e mercadores traziam; também todos os reis da Arábia, e os governadores da mesma terra traziam a Salomão ouro e prata" (2 Cron. 9:13,14), e que no seu tempo "a prata reputava-se por nada" (2 Cron. 9:20) porque "fez o rei que em Jerusalém houvesse prata como pedras" (1 Re 10:27). 

No entanto, o mesmo Salomão disse: "Há ouro e abundância de rubis, mas os lábios do conhecimento são jóia mais preciosa" (Prov. 20:15), e ainda: "Quão melhor é adquirir a sabedoria do que o ouro" (Prov. 16:16). Assim pensava Salomão que foi o maior de todos os reis da terra em sabedoria e riquezas; mas infelizmente hoje nem todos pensam da mesma maneira, porque também no nosso meio alguns consideram as riquezas materiais mais preciosas que a sabedoria de Deus e se enganam grandemente. 

Os que falam melhor de riquezas materiais que da sabedoria se desviaram; os que exaltam os bens materiais (e se percebe quando se ouve falar) acima da sabedoria de Deus são homens corruptos de entendimento privados do temor de Deus; guardai-vos desta gente para não vos corromper e vos desviar da fé.

A Palavra de Deus é um bem muito mais precioso que as riquezas materiais de fato está escrito: "Melhor é para mim a lei da tua boca do que milhares de moedas de ouro ou prata" (Sal. 119:72), e: "Amo os teus mandamentos mais do que o ouro, e ainda mais do que o ouro fino" (Sal. 119:127), e ainda: "Os juízos do Senhor são verdadeiros e justos juntamente. Mais desejáveis são do que o ouro, sim, do que muito ouro fino" (Sal. 19:9,10). Vede irmãos, os que amam o ouro e a prata não são saciados nem com o ouro e nem ainda com a prata, mas os que amam a Palavra de Deus são saciados por ela, porque ela os consola quando estão abatidos, os fortifica quando estão fracos, os repreende para que não se encham de ais, os guia em todas as circunstâncias da sua vida e os instrui em toda a sabedoria. O dinheiro não está apto para fazer o que faz a palavra de Deus, portanto, se bem que útil a todos nós, ele não deve e não pode ser reputado mais importante que a Palavra de Deus. Como são ricos os que fazem morar abundantemente a Palavra de Deus no seu coração! Mas como são pobres aqueles que ao invés não fazem morar a Palavra de Cristo no seu coração! Amam o dinheiro mais que a Palavra de Deus, que loucura! Têm a carteira cheia de dinheiro, mas o coração vazio ou quase da Palavra de Cristo. Querem guardar com cuidado o seu dinheiro, mas não querem guardar a Palavra de Deus no seu coração, porque não têm mais prazer nela e não lhe prestam mais atenção.

As sagradas Escrituras não são mais objeto da sua meditação e do seu diligente estudo; não, porque eles agora estudam e meditam como enganar o seu próximo para se enriquecerem o mais rapidamente possível. Eles competem nesta carreira atrás do luxo, ou melhor, atrás do vento, com aqueles que têm um coração teimoso como o seu; são pobres e miseráveis, demonstram sê-lo, mas também de o querer ser. 

Ter um bom nome e ser estimado são bens preciosos  

 Está escrito: "Vale mais ter um bom nome do que muitas riquezas; e o ser estimado é melhor do que a riqueza e o ouro" (Prov. 22:1). 

Os que têm um bom nome e gozam da estima do próximo são os que temem a Deus e observam os seus mandamentos; para estes o bom nome e a estima são coisas mais importantes que as riquezas e o dinheiro, e por isso preferem ter pouco com temor de Deus e com um bom testemunho, que grandes rendas sem equidade e com um mau testemunho.

Quero que saibais também que ao invés dos que querem enriquecer não têm nem um bom nome e nem são estimados porque eles "caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas" (1 Tim. 6:9). Isto é o que acontece aos que deixam de estar contentes com o que têm e começam a amar o dinheiro. Guardai-vos pois destes pregadores ávidos de ganho a quem não importa nada nem o bom nome e nem a estima, porque se vos deixais arrastar para os seus caminhos vos corrompereis como eles.

Estes com os seus falatórios não dão bom testemunho dos crentes pobres na verdade os fazem passar por gente que tem pouca fé; mas eu quero lembrar-vos que na carta aos Hebreus estão escritas as seguintes palavras em referência aos antigos: "Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos ao fio da espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados (Dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, e montes, e pelas covas e cavernas da terra" (Heb. 11:37,38). Eis como andaram eles vestidos (de peles de ovelhas e de cabras e não de vestes preciosas); eis qual era a sua condição social (desamparados, e não milionários); eis como eles foram tratados pelo mundo de então (foram aflitos e maltratados, e não premiados com troféus); eis como foram obrigados a andar (pelos desertos, montes, covas e cavernas da terra); mas sabeis o que diz a Escritura destes dos quais o mundo não era digno? Isto: "E todos estes, tendo tido bom testemunho pela sua fé, não alcançaram a promessa" (Heb. 11:39). Portanto, se por um lado eles foram desamparados, aflitos e maltratados, por outro eles agradaram a Deus pela sua fé e pela sua conduta. 

As boas obras constituem riquezas 

Paulo disse a Timóteo para ordenar aos que eram ricos neste mundo para que "enriqueçam em boas obras" (1 Tim. 6:18); portanto os que são zelosos nas boas obras e abundam nelas são ricos para com Deus mesmo se são pobres. 

  Os que não esquecem de exercitar a beneficiência e de repartir com os outros dos seus bens se conduzem como sábios, e ajuntam tesouros no céu e por isso aos olhos de Deus são ricos se bem que possam ser pobres aos olhos dos homens. Paulo, escrevendo aos Coríntios, fez-lhes conhecer a graça de Deus dada às igrejas da Macedónia por contribuírem à coleta destinada aos pobres dentre os santos; ele disse-lhes: "Irmãos, vos fazemos conhecer a graça de Deus que foi dada às igrejas da Macedônia; como, em muita prova de tribulação, a abundância do seu gozo e sua profunda pobreza abundaram em riquezas da sua generosidade. Porque, dou-lhes testemunho de que, segundo as suas posses, e ainda acima das suas posses, deram voluntariamente, pedindo-nos, com muito encarecimento, o privilégio de participarem deste serviço a favor dos santos" (2 Cor. 8:1-4). Estas igrejas da Macedónia, se bem que profundamente pobres se demonstraram ricas em boas obras porque contribuíram generosamente à coleta destinada aos santos, dando para lá daquilo que podiam, e disto deu testemunho Paulo.  

Jesus, a fiel Testemunha, deu este testemunho (semelhante ao de Paulo) acerca do anjo da igreja de Esmirna, de fato lhe disse: "Conheço a tua tribulação e a tua pobreza (mas tu és rico).." (Ap. 2:9).  

Segundo estas Escrituras há pobres entre os santos que são ricos para com Deus porque possuem tesouros no céu; e como os tesouros no céu se fazem dando esmolas e fazendo toda a boa obra é necessário concluir que estes pobres são ricos na fé, porque demonstram com o observar da Palavra de Deus, de ter plena confiança nela. Mas vós pensais que um homem com pouca fé venderia alguma vez os seus bens para dar esmolas como disse Jesus? Mas pensais que um crente pobre que dá acima das suas posses tenha pouca fé em Deus? Mas porventura não são os ricos que dão o seu supérfluo que mostram ter pouca fé em Deus? Vos lembrais daquela pobre viúva que deitou na caixa das ofertas apenas duas moedas? Que disse Jesus dela? Ele disse que ela tinha deitado na caixa mais que todos aqueles ricos que nela deitavam muito. Porquê? Porque ela deitou lá dentro tudo aquilo que possuía para viver, enquanto os ricos deitaram lá do seu supérfluo. Aquela pobre viúva demonstrou a sua fé em Deus e o seu amor para com o Senhor desta maneira. Aquela pobre mulher sim era rica na fé e em boas obras!  

Os que ao invés não querem repartir com os outros os seus bens demonstram falta de confiança na Palavra de Deus. São os ricos avarentos que demonstram não ter fé em Deus, e não os pobres que dão com liberdade.  

Portanto não é de maneira nenhuma verdade que quem é pobre não tem uma grande fé em Deus; eu estou seguro que quando estivermos lá em cima no céu assistiremos a uma inversão das classificações feitas por muitos na terra, porque veremos irmãos que na terra eram pobres segundo o mundo, muito ricos, e alguns que eram ricos segundo este mundo que ao invés possuirão tesouros inferiores aos deles. Teremos modo assim de nos regozijarmos ao ver manifestada diante dos nossos olhos a excelsa justiça de Deus; ainda um breve tempo e assistiremos também a isto.  

O espírito benigno e pacífico tem um grande valor  

Pedro disse às mulheres na sua primeira epístola: "O vosso adorno não seja o enfeite exterior, como as tranças dos cabelos, o uso de jóias de ouro, ou o luxo dos vestidos, mas seja o do íntimo do coração, no incorruptível traje de um espírito benigno e pacífico, que é precioso diante de Deus. Porque assim se adornavam antigamente também as santas mulheres que esperavam em Deus " (1 Ped. 3:3,4).  

A mulher que tem o seu coração enfeitado com este adorno incorruptível é uma mulher rica, porque possui algo que é de grande preço, algo que tem mais valor até que jóias de ouro e vestidos luxuosos. As mulheres altivas querem mostrar que são ricas usando jóias de ouro e vestidos suntuosos; a mulher que teme a Deus ao invés quer mostrar que é rica no Senhor seguindo o bem dos outros e seguindo a paz com todos.  

Portanto, segundo a Escritura, entre uma mulher rica vestida suntuosamente e ornamentada com jóias de ouro muito caras, mas ao mesmo tempo astuta de coração, rixosa e irritadiça, e uma mulher pobre, mas forte e virtuosa que veste modestamente e tem um coração adornado de um espírito benigno e pacífico, a mais rica é esta última.  

O vitupério de Cristo é uma riqueza  

Esta expressão poderá parecer estranha e inverossímil, mas na verdade tem um fundamento escritural. A Escritura diz: "Pela fé Moisés, sendo já grande, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, escolhendo antes ser maltratado com o povo de Deus, do que por um pouco de tempo ter o gozo do pecado; tendo por maiores riquezas o vitupério de Cristo do que os tesouros do Egito; porque tinha em vista a recompensa" (Heb. 11:24-26).  

Como podeis ver Moisés recusou de ser chamado filho da filha de Faraó e escolheu ser maltratado junto com o povo de Israel porque considerou o vitupério que logo teria por causa de Cristo uma riqueza; uma riqueza maior até do que os tesouros do Egito. Também nós devemos reputar o vitupério de Cristo riqueza maior que os tesouros deste mundo, porque o vitupério de Cristo tem uma grande recompensa por parte de Deus. Bem-aventurados e ricos são todos aqueles que são vituperados por causa de Cristo! Esta é uma expressão que os de fora consideram absurda e feita por gente que perdeu o senso, mas não temais porque ela tem a plena confirmação de Jesus Cristo que agora ainda diz: "Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem, e quando vos expulsarem da sua companhia, e vos injuriarem, e rejeitarem o vosso nome como indigno, por causa do Filho do homem. Regozijai-vos nesse dia e exultai, porque eis que é grande o vosso galardão no céu; pois assim faziam os seus pais aos profetas" (Lucas 6:22,23).  

É necessário dizer, porém que nem todos hoje pensam como pensava Moisés, na verdade alguns consideram as riquezas materiais superiores ao vitupério de Cristo. Estes que têm este sentimento devem fazer-se loucos para se tornarem sábios e ricos para com Deus.  

A prova da nossa fé é muito preciosa

Pedro disse: "Pelo poder de Deus sois guardados, mediante a fé, para a salvação que está preparada para se revelar nos últimos tempos; na qual exultais, ainda que agora por um pouco de tempo, sendo necessário, estejais contristados por várias provações, para que a prova da vossa fé, mais preciosa do que o ouro que perece, embora provado pelo fogo, redunde para louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo..." (1 Ped. 1:5-7).  

Caros irmãos, a prova que fazemos em Cristo e com a qual a nossa fé é provada, é muito mais preciosa do que o ouro que perece, ainda que o ouro seja provado pelo fogo. Quero mostrar-vos como as riquezas têm um valor inferior à prova da nossa fé pondo em confronto o que as riquezas proporcionam com o que a nossa tribulação produz. 

As riquezas fazem isto: proporcionam grande número de amigos, mas também muitas dores, aborrecimentos e preocupações aos que as desejam e delas tomam posse; mas não só, elas enganam os que confiam nelas e impedem à Palavra de dar fruto neles e no fim os afundam na destruição e na perdição. Esta é a razão pela qual Salomão disse que "quem amar as riquezas nunca se fartará do ganho" (Ecl. 5:10) e que "de nada aproveitam as riquezas no dia da ira" (Prov. 11:4). Mas o que produz ao invés a tribulação? Paulo diz que "a tribulação produz a paciência, e a paciência a experiência, e a experiência a esperança" (Rom. 5:3,4); como podeis ver a tribulação produz diretamente paciência e indiretamente produz também experiência e esperança. Tiago confirmou as palavras de Paulo dizendo: "A prova da vossa fé opera a paciência. Tenha, porém, a paciência a sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos, sem faltar em coisa alguma" (Tiago 1:3,4). Mediante as tribulações nós somos aperfeiçoados por Deus e por isso damos graças a Deus também por elas, porque elas produzem em nós a paciência, aquela paciência que nos é tão preciosa na nossa vida e de que temos necessidade para obter o que Deus nos prometeu. Se as tribulações não nos proporcionassem a nós crentes bem, Paulo não teria dito: "Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo" (2 Cor. 12:10); mas ele dizia estas palavras porque ele experimentava o poder de Deus no meio das suas tribulações e porque por meio delas ele era fortificado por Deus, assim que podia dizer: "Porque quando estou fraco então sou forte" (2 Cor. 12:10).  

Nunca leram a Escritura que diz: "O que oprime o pobre o enriquece" (Prov. 22:16 Luz.)? Sabe porque o pobre se torna rico quando é oprimido? Porque a sua tribulação lhe produz paciência e um peso eterno de glória conforme está escrito: "Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente" (2 Cor. 4:17), sim, porque as nossas tribulações nos proporcionam também glória; isto o confirmou também Pedro com estas palavras: "Para que a prova da vossa fé, mais preciosa do que o ouro que perece, embora provado pelo fogo, redunde para louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo" (1 Ped. 1:7). São estas as razões pelas quais nós podemos dizer com toda a confiança que o ganho que se tira das tribulações é muito mais precioso que o que se extrai do ouro que é provado pelo fogo.  

Uma das características daqueles que pregam a mensagem da prosperidade é que não querem falar de sofrimento, de perseguições, como se fossem coisas que os crentes não devam experimentar durante a sua vida. Mas as aflições e as perseguições são a ordem do dia na vida daqueles crentes que querem viver plenamente em Cristo Jesus, portanto não se pode não falar delas porque isto significaria fazer parecer à vida de quem se converte ao Senhor como uma vida sem aflições. A razão pela qual estes não pregam sobre estes assuntos é porque eles sabem que os discursos à volta das bênçãos materiais são muito mais agradáveis de ouvir do que aqueles à volta das perseguições e dos sofrimentos; eles consideram que um cristão não deve sofrer por causa da justiça, mas um cristão que não sofre que tipo de cristão é? Como podem dizer tais heresias quando Jesus mesmo disse: "No mundo tereis aflições... Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós" (João 16:33; 15:20), e os apóstolos disseram que "por muitas tribulações nos importa entrar no reino de Deus" (Atos 14:22). Não se pode demonstrar nem com as Escrituras nem ainda com os fatos que os crentes não são chamados a sofrer neste mundo, antes as Escrituras e os fatos testificam exatamente o contrário. Tomemos as seguintes palavras de Paulo aos Coríntios: "Até esta presente hora sofremos fome, e sede, e estamos nus, e recebemos bofetadas, e não temos pousada certa,  e nos afadigamos, trabalhando com nossas próprias mãos. Somos injuriados, e bendizemos; somos perseguidos, e sofremos; somos blasfemados, e rogamos; até ao presente temos chegado a ser como o lixo deste mundo, e como a escória de todos" (1 Cor. 4:11-13); não estão porventura a demonstrar que os que anunciam a Palavra de Deus têm muitos inimigos e sofrem perseguições de todo o gênero? Porém elas não agradam a estes pregadores. O seu Evangelho é privado de tribulações; as suas pregações versam sobre o sucesso e sobre o dinheiro; mas aliás, como poderiam alguma vez porem-se a pregar a renuncia a si mesmo quando eles mesmos ainda não renunciaram?  

A sua mensagem é atraente e sedutora também por esta característica, porque é privada destes assuntos. Toda a mensagem que não põe em relevo as aflições que um crente deve padecer sobre a terra encontrará sempre muitas pessoas dispostas a aceitá-la, porque hoje quase ninguém quer ouvir falar de ter que sofrer pelo Evangelho. Quase todos querem apenas ouvir que Deus nos ama, que não nos fará faltar nada, que é bom e pronto a perdoar quem vai a ele. E se depois a estas palavras se acrescenta que quem vai ao Senhor não terá mais problemas, e Deus o fará prosperar economicamente e o fará viver sobre esta terra como filho de um rei, então a mensagem encontra ainda um mais largo consenso. Guardai-vos de não serdes enganados por estes faladores vãos, porque Jesus disse: "Quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim" (Mat. 10:38), e ainda: "Assim, pois, qualquer de vós, que não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo" (Lucas 14:33), enquanto estes quereriam fazer-vos seguir o Senhor sem levar a vossa cruz e sem renunciar a vós mesmos. Isto é impossível fazê-lo, porque a vereda cristã é cheia de sofrimento e de renúncia; as pisadas de Cristo não as encontramos numa estrada cômoda onde não há necessidades, perseguições, e angústias, mas numa estrada apertada onde quotidianamente há lutas a enfrentar e aflições a padecer por causa da justiça. Foi sobre esta que comecei a caminhar e é sobre este que quero terminar de caminhar com o meu Senhor; as estradas cômodas sem perseguições, mas com os prazeres da vida à mão não têm nada que ver com o caminho santo, não entreis por elas porque elas conduzem para longe do Senhor e dos seus mandamentos.  

Ser pobre segundo o mundo não é uma desonra para os Cristãos

Vejamos agora uma das afirmações que mais frequentemente se ouve fazer por estes pregadores e ela é a seguinte expressão: ‘Deus não quer que haja pobres no meio do seu povo, mas quer que todos os seus filhos sejam ricos materialmente’.  

Antes de tudo é necessário dizer que da maneira como falam esses faladores vãos parece que os crentes pobres são os que têm o que é necessário ao corpo, isto é, do que se alimentar e do que se cobrir, que moram em casas modestas e têm um carro modesto, e que vestem vestes modestas e que estão contentes com o que têm. Julgai vós mesmos: ‘Mas como podemos aceitar uma tal definição de pobre?  

Segundo a Escritura os pobres são os necessitados que têm necessidade de coisas necessárias como comida, roupa e outras coisas úteis; mas além disso, ainda segundo a Escritura, no meio do povo de Deus pobres houveram desde os tempos antigos e haverão também durante a nossa geração. Ora, mas como é possível que haja pobres no meio do povo de Deus? A razão é que nem todos os crentes vivem na mesma nação e gozam das mesmas circunstâncias favoráveis do ponto de vista climático, econômico e político. Explico este conceito. Ora, a Escritura diz que não basta sermos "sábios para ter pão, nem ser inteligente para ter riquezas... porque todos dependem do tempo e das circunstâncias" (Ecl. 9:11 Luz). Vejamos com as Escrituras como mudando as circunstâncias muda também a situação econômica das pessoas.  

Durante a vida de Jacó aconteceu que Deus "chamou a fome sobre a terra, quebrantou todo o sustento do pão" (Sal. 105:16); isto aconteceu porque Deus fez vir sobre toda a terra uma grande fome. Cuide porque foi Deus que enviou a fome, porque tinha estabelecido fazer descer Jacó e a sua parentela ao Egito. A descida de Israel ao Egito (onde entretanto José se tinha tornado governador do país e onde havia trigo) estava anunciada por Deus a Abraão e Deus se usou da fome para fazer descer Israel ao Egito. Ora, tende presente que Jacó, quando ouviu dizer que no Egito havia trigo disse aos seus filhos: "Eis que tenho ouvido que há mantimentos no Egito; descei para lá, e comprai-nos dali, para que vivamos e não morramos" (Gen. 42:2), e isto para entender como por causa daquela fome enviada por Deus, Jacó que era um homem que Deus tinha abençoado dando-lhe bois, ovelhas, cabras, jumentos e camelos em grande número, se encontrou perto da morte porque estava sem pão necessário para viver (e tudo isso por vontade de Deus). Neste caso a pobreza desceu sobre a terra de Canaã pelo querer de Deus, e Jacó padeceu as consequências dela. De qualquer forma é necessário recordar que Deus libertou Jacó e a sua parentela da morte mediante um grande livramento operado por meio de José (de fato José, quando se deu a conhecer aos seus irmãos disse-lhes: "Pelo que Deus me enviou adiante de vós, para conservar vossa sucessão na terra, e para guardar-vos em vida por um grande livramento" [Gen. 45:7]).  

Deus fere as nações sobre a terra também não fazendo chover sobre elas e quando isto acontece, a abundância é menor e começa a miséria, porque se seca a terra e ela não produz mais nada, e porque os animais não encontrando o que beber e morrem de sede. Quando acontece isto, também os crentes daquela nação sofrem as consequências porque se vêem a encontrar em necessidade.  

Aos dias do profeta Elias, Deus não fez chover sobre Israel por três anos e seis meses porque o seu povo o tinha abandonado, tinha matado os seus profetas e se tinha voltado para os ídolos. A seca foi enviada por Deus como flagelo sobre Israel, e como naquele tempo vivia Elias, assim também ele se encontrou em necessidade. Mas Deus proveu ao seu sustento enviando-o primeiro junto ao ribeiro de Querite onde por um certo tempo Deus lhe enviou os corvos a lhe levar pão e carne pela manhã e à noite, depois, quando o ribeiro secou porque não chovia, Deus o enviou para junto de uma pobre viúva de Sarepta de Sidom à qual tinha ordenado para lhe dar de comer. Elias era um homem justo e santo que obedecia à voz de Deus, contudo se encontrou na penúria por vontade de Deus, por causa de uma seca. Não é que Elias se encontrou em necessidade porque desobedeceu a Deus e Deus o puniu; não se pode dizer tampouco que Elias se encontrou em necessidade porque se tinha afastado de Deus e Deus o amaldiçoou. Elias era um santo homem que era movido por um grande zelo pelo Eterno e no meio da penúria em que se encontrou Deus operou prodígios em seu favor; primeiro ordenou aos corvos para lhe levar de comer, e depois em Sarepta não fez acabar a farinha da panela e não fez faltar da botija o azeite daquela viúva até ao dia que veio de novo a chuva sobre a terra.  

Depois que Deus libertou os Israelitas da mão de Faraó estabeleceu com eles o seu pacto no qual prometeu que os abençoaria se eles dessem ouvidos à sua voz, observando os seus mandamentos. Mas Deus lhes disse também que os amaldiçoaria e os empobreceria muito no caso se eles o abandonassem e se virassem para os ídolos das nações. Isto foi o que aconteceu a Israel quando se desviou da lei de Deus, portanto Deus o fez pobre por causa da sua maldade. Temos uma prova disso no livro de juízes, quando a Escritura fala da condição econômica em que veio a se encontrar Israel depois que desobedeceu a Deus. Está escrito: "Porém os filhos de Israel fizeram o que era mau aos olhos do Senhor; e o Senhor os deu nas mãos dos midianitas por sete anos. E, prevalecendo à mão dos midianitas sobre Israel, fizeram os filhos de Israel para si, por causa dos midianitas, as covas que estão nos montes, as cavernas e as fortificações. Porque sucedia que, semeando Israel, os midianitas e os amalequitas, e também os do oriente, contra ele subiam. E punham-se contra ele em campo, e destruíam os frutos da terra, até chegarem a Gaza; e não deixavam mantimento em Israel, nem ovelhas, nem bois, nem jumentos. Porque subiam com os seus gados e tendas; vinham como gafanhotos, em grande multidão que não se podia contar, nem a eles nem aos seus camelos; e entravam na terra, para a destruir. Assim Israel empobreceu muito..." (Juízes. 6:1-6). Como podeis ver neste caso, Deus enviou espoliadores para roubar Israel dos seus mantimentos por causa da teimosia do seu coração. O seu povo tornou-se pobre porque Deus o empobreceu (recordai-vos que está escrito que "o Senhor empobrece" [1 Sam. 2:7]).  

Ainda hoje Deus pune as nações e as empobrece enviando contra elas exércitos estrangeiros que se apoderam dos seus bens materiais, dos seus animais e dos produtos da sua terra; quando isto acontece, é inevitável que também os crentes que habitam naquela nação sofram as consequências disto, vendo diminuir vertiginosamente também os seus bens materiais. Quando acontece isto nós podemos dizer que a pobreza sobrevém por vontade de Deus, e portanto se os crentes daquela nação começam a padecer necessidade, começam-no por vontade de Deus. Sabei que quando Deus quer ensinar-nos a padecer necessidade (Paulo estava ensinado por Deus "tanto a ter abundância, como a padecer necessidade" [Fil. 4:12]) o faz, e ninguém o pode impedir. Portanto, sabei que Deus se pode usar também de uma futura guerra para nos ensinar a nós crentes aqui no país onde vivemos a padecer necessidade.  

Deus pode também pôr no governo um déspota (um ditador) para reduzir a população de uma nação à miséria ou se não à miséria, em angústias; e também neste caso, também a igreja de Deus naquela nação sofreria as consequências disso, e se encontraria não mais em abundância mas a padecer necessidade.  

Na antiguidade Deus estabeleceu sobre Israel o rei Saul, filho de Quis, e fez conhecer ao povo de Israel o modo de agir deste rei ainda antes que ele se sentasse no seu trono por vontade de Deus. Eis o que disse Samuel por ordem de Deus ao povo: "Este será o modo de agir do rei que houver de reinar sobre vós: tomará os vossos filhos, e os porá sobre os seus carros, e para serem seus cavaleiros, e para correrem adiante dos seus carros; e os porá por chefes de mil e chefes de cinqüenta, para lavrarem os seus campos, fazerem as suas colheitas e fabricarem as suas armas de guerra e os petrechos de seus carros. Tomará as vossas filhas para perfumistas, cozinheiras e padeiras. Tomará o melhor das vossas terras, das vossas vinhas e dos vossos olivais, e o dará aos seus servos. Tomará o dízimo das vossas sementes e das vossas vinhas, para dar aos seus oficiais e aos seus servos. Também os vossos servos e as vossas servas, e os vossos melhores mancebos, e os vossos jumentos tomará, e os empregará no seu trabalho" (1 Sam. 8:11-16). Que Saul oprimiu o povo é confirmado pelo fato que enquanto ele perseguia Davi, "ajuntaram-se a ele todos os que se achavam em aperto, todos os endividados, e todos os amargurados de espírito; e ele (Davi) se fez chefe deles.." (1 Sam. 22:2).  

No caso se subisse ao poder um ditador e os crentes começassem a ser perseguidos e a serem presos, aconteceria que muitas famílias seriam privadas dos seus chefes de família e viriam a encontrar-se em necessidade. Isto foi o que aconteceu durante a perseguição dos crentes em muitas nações: maridos aprisionados por causa do Evangelho não puderam mais prover às necessidades dos da sua casa os quais deixaram de viver em abundância e começaram a experimentar a pobreza. Nós sabemos que as perseguições contra os santos acontecem porque Deus as permite a fim de purificar os santos; de fato, é sabido que durantes as perseguições os crentes são humilhados por Deus e nesta humilhação começam a mostrar o intenso amor fraterno que na abundância e durante o período de liberdade tinha vindo a faltar por causa do egoísmo e da soberba. Os crentes, durante a perseguição, começam a experimentar restrições econômicas de todos os gêneros, mas por outro lado começam a mostrar grande solidariedade para com os mais atingidos pela perseguição.  

Na caso das autoridades começarem a perseguir os santos espoliando-os os seus bens por causa do Evangelho, os crentes que tinham vivido até então na abundância começariam a experimentar a penúria por vontade de Deus, mas tudo isso os santos o aceitariam com alegria (a Escritura diz: "Com alegria aceitastes a espoliação dos vossos bens, sabendo que vós tendes uma possessão melhor e permanente" [Heb. 10:34]).  

Mas todas estas circunstâncias adversas, se por um lado produzem miséria e pobreza, pelo outro fornecem aos crentes que vivem na abundância a oportunidade de fazer o bem em prol daqueles crentes que venham a se encontrar na penúria, portanto no fim até cooperam para o bem daqueles que amam a Deus.  

Mas é normal portanto que entre o povo de Deus hajam, crentes pobres ou isso constitui um fato anormal? Por aquilo que ensina a Escritura não é necessário nos maravilharmos pela presença de pobres entre os santos, antes queria dizer que não pode ser doutra forma porque Jesus disse: "Os pobres sempre os tendes convosco..." (João 12:8), e na lei está escrito que "nunca deixará de haver pobres na terra" (Deut. 15:11). 

Agora vejamos se é verdade que Deus quer que nós nos tornemos ricos porque ser pobre constitui uma desonra para os crentes, como dizem estes pregadores.  

Antes de tudo é necessário dizer que se fosse assim Jesus não fez a vontade de Deus porque ele viveu pobre sobre a terra por todo o tempo da sua vida terrena; desonrou porventura Deus com este tipo de vida Jesus, o Filho do Rei dos reis? De maneira nenhuma, doutra forma Ele não teria podido dizer aos Judeus: "Honro a meu Pai" (João 8:49). Jesus conhecia a vontade de seu Pai; porque então não quis se tornar rico? Porque é que ele que tinha uma grande fé em Deus nunca pediu a Deus para lhe dar riquezas e para o fazer viver uma vida em delícias como se adequa ao filho de um rei? A resposta está contida nestas palavras de Jesus: "Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou" (João 6:38).  

Se nós pois disséssemos que Deus quer que nós todos nos tornemos ricos isso significaria que nós deveremos querer enriquecer sobre a terra porque esta é a vontade de Deus para conosco. Mas neste caso seria como dizer que Deus quer que nós caiamos em tentação; porque digo isto? Porque a Escritura diz que "os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína" (1 Tim. 6:9), portanto, como Deus quer que nós permaneçamos em pé temos que deduzir que não é a sua vontade que nós nos tornemos ricos neste mundo (mas porque é que estes pregadores nunca dizem que Deus quer que nos tornemos ricos no outro mundo, no vindouro?).  

Mas há uma outra coisa a dizer: se esta é a vontade de Deus para com todos nós, então nós temos o direito de pedir a Deus riquezas em abundância com a confiança que Ele nos ouvirá porque João diz: "Esta é a confiança que temos nele, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve" (1 João 5:14); mas então seria anulada a Escritura que diz: "Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites" (Tiago 4:3)! Como podeis ver os discursos destes são anulados pela Escritura de maneira inequívoca.  

Agora quero que prestais atenção nas seguintes palavras do apóstolo Paulo aos santos de Tessalónica, a fim de perceber que ser pobre não é de forma alguma nem um escândalo e nem ainda uma desonra para a doutrina de Deus como ao invés fazem perceber estes faladores vãos.  

Paulo aos Coríntios, falando dos santos das igrejas da Macedônia (entre as quais estava também a dos Tessalonicenses) disse: "Também, irmãos, vos fazemos conhecer a graça de Deus que foi dada às igrejas da Macedônia; como, em muita prova de tribulação, a abundância do seu gozo e sua profunda pobreza abundaram em riquezas da sua generosidade. Porque, dou-lhes testemunho de que, segundo as suas posses, e ainda acima das suas posses, deram voluntariamente, pedindo-nos, com muito encarecimento, o privilégio de participarem deste serviço a favor dos santos" (2 Cor. 8:1-4). Os santos de Tessalônica portanto eram pobres, porque Paulo falou de profunda pobreza referindo-se às igrejas da Macedônia. Ora, mas se isto fosse uma desonra para eles ou Deus quisesse que eles se tornassem ricos Paulo lhes teria feito saber de algum modo nas epístolas que lhes escreveu, mas nas duas epístolas aos Tessalonicenses não encontramos rastro de nada disso. Antes, é necessário dizer que os santos de Tessalônica, se bem que profundamente pobres, eram um exemplo tanto para os crentes da Macedônia (que se encontravam na pobreza) como para os da Acáia, que estavam na abundância como a igreja de Corinto, por exemplo. Por isto Paulo e os seus cooperadores davam graças a Deus pelos santos de Tessalônica: ele escreveu-lhes: "Sempre devemos, irmãos, dar graças a Deus por vós, como é justo, porque a vossa fé cresce muitíssimo e o amor de cada um de vós aumenta de uns para com os outros, de maneira que nós mesmos nos gloriamos de vós nas igrejas de Deus por causa da vossa paciência e fé, e em todas as vossas perseguições e aflições que suportais" (2 Tess. 1:3,4); como podeis ver aqueles irmãos se bem que pobres materialmente eram ricos em fé e em boas obras, e além disso se mantinham firmes na fé no meio das suas aflições e por causa disso os apóstolos se gloriavam deles.

Para Paulo e os seus cooperadores os santos de Tessalônica andavam de modo digno de Deus e por isso agradavam a Deus de fato, e ele lhes escreveu:  "Finalmente, irmãos, vos rogamos e exortamos no Senhor Jesus, que assim como recebestes de nós, de que maneira convém andar e agradar a Deus, assim andai, para que possais progredir cada vez mais" (1 Tess. 4:1). Mas que desonra para a doutrina de Deus constituía o fato de aqueles crentes serem pobres?

E depois, o repito, se a vontade de Deus para com aqueles crentes pobres fosse a de eles se tornarem ricos, Paulo lhes teria feito saber, mas a propósito da vontade de Deus para com eles não lhes escreveu nada disso. 

Para estes faladores vãos o ser rico é o tema sobre o qual versam todas as suas pregações; a consideram uma coisa tão importante que enfadam os crentes com estes discursos; mas achais que um apóstolo como Paulo, a quem Deus deu a graça de dar assim tantos mandamentos aos santos de todas as igrejas dos Gentios, fossem eles ricos materialmente ou pobres, teriam alguma vez deixado de falar de uma coisa tão importante? E depois, se a profunda pobreza daqueles crentes tivesse sido uma desonra para o Evangelho Paulo não lhes teria dito: "Porque, qual é a nossa esperança, ou gozo, ou coroa de glória? Porventura não o sois vós também diante de nosso Senhor Jesus Cristo na sua vinda?  Na verdade vós sois a nossa glória e gozo" (1 Tess. 2:19,20). Na verdade aqueles irmãos pobres de Tessalônica se tinham tornado um exemplo para muitos e muitos crentes, portanto eles honravam a doutrina de Deus; enquanto devemos dizer que esses pregadores da prosperidade juntamente com os seus seguidores não servem de forma alguma de exemplo aos crentes mas só de escândalo e de tropeço, exatamente porque são arrogantes, presunçosos e dados aos prazeres da vida.  

Mas como fazem estes para dizer que são discípulos do Mestre, quando falam e vivem de uma maneira nitidamente contrária àquela de que falou e viveu Jesus nos dias da sua carne? Não se envergonham, nem tampouco sabem o que é envergonhar-se; em verdade gloriam-se no que é vergonhoso.  

Todos os nossos caminhos dependem de Deus 

A Sabedoria diz que não basta "ser inteligente para ter riquezas... porque todos dependem do tempo e das circunstâncias" (Ecl. 9:11 Luz), e isto é verdade, na verdade um crente pode-se tornar rico embora não querendo enriquecer, mas isto acontece quando e se Deus o permite na sua vida.  

Está escrito: "A casa e os bens são herança dos pais" (Prov. 19:14), por isso pode acontecer que um crente que não ambiciona de forma alguma coisas da terra e que não quer de maneira nenhuma enriquecer, se torne de repente rico por causa de uma herança lhe deixada pelo pai ou pelos avós; na Escritura temos o exemplo de Isaque que herdou tudo o que tinha Abraão seu pai, conforme está escrito: "Porém Abraão deu tudo o que tinha a Isaque" (Gen. 25:5).  

Há uma outra maneira em que um crente pode-se tornar rico sem o querer, e isso acontece quando Deus mesmo faz prosperar o trabalho daquele crente de uma maneira prodigiosa, de uma maneira sobrenatural, mantendo a integridade do crente. De Isaque está escrito: "E semeou Isaque naquela mesma terra, e colheu naquele mesmo ano cem medidas, porque o Senhor o abençoava. E engrandeceu-se o homem, e ia enriquecendo-se, até que se tornou mui poderoso. E tinha possessão de ovelhas, e possessão de vacas, e muita gente de serviço" (Gen. 26:12-14); como podeis ver, Isaque semeou e naquele ano específico colheu cem medidas, isso significa que Deus operou um prodígio em favor de Isaque porque para colher cem medidas (o cêntuplo) é preciso uma intervenção de Deus. Deus estava com Isaque e isto o reconheceriam também os Filisteus que o invejavam de fato, um dia eles lhe disseram: "Havemos visto, na verdade, que o Senhor é contigo" (Gen. 26:28). 

Também com Jacó é necessário dizer que foi Deus que operou em seu favor para enriquecê-lo. Este homem quando foi para Padã - Arã passou o Jordão com o seu cajado e quando voltou daquela terra voltou com numerosos rebanhos de ovelhas, com muitas cabras, com muitas vacas e touros, com muitos camelos e muitos jumentos. Vejamos como pode acontecer tudo isso. Jacó, em casa de Labão, esteve vinte anos e no curso destes anos ele trabalhou catorze anos pelas suas duas filhas Lia e Raquel que se tornaram suas mulheres e outros seis anos pelas suas ovelhas; no fim dos vinte anos ele recebeu de Deus a ordem de voltar à terra dos seus pais e à sua parentela e chamando Lia e Raquel disse-lhes: "Vejo que o rosto de vosso pai não é para comigo como anteriormente; porém o Deus de meu pai tem estado comigo; e vós mesmas sabeis que com todo o meu esforço tenho servido a vosso pai; mas vosso pai me enganou e mudou o salário dez vezes; porém Deus não lhe permitiu que me fizesse mal. Quando ele dizia assim: Os salpicados serão o teu salário; então todos os rebanhos davam salpicados. E quando ele dizia assim: Os listrados serão o teu salário, então todos os rebanhos davam listrados. Assim Deus tirou o gado de vosso pai, e deu-o a mim. E sucedeu que, ao tempo em que o rebanho concebia, eu levantei os meus olhos e vi em sonhos, e eis que os bodes, que cobriam as ovelhas, eram listrados, salpicados e malhados. E disse-me o anjo de Deus no sonho: Jacó! E eu disse: Eis-me aqui. E disse ele: Levanta agora os teus olhos e vê todos os bodes que cobrem o rebanho, que são listrados, salpicados e malhados; porque tenho visto tudo o que Labão te fez.." (Gen. 31:5-12). Deus viu que Labão enganava Jacó e lhe tirou o gado e o deu a Jacó; isto é o que Deus operou em prol de Jacó. Ainda hoje Deus opera da mesma maneira, e tira os bens ao pecador e os dá a quem é agradável aos seus olhos, e não há ninguém que o possa impedir. As Escrituras que confirmam isto são as seguintes:

"A riqueza do pecador é reservada para o justo" (Prov. 13:22). "O que aumenta os seus bens com usura e ganância ajunta-os para o que se compadece do pobre" (Prov. 28:8). "Porque ao homem que é bom diante dele, dá Deus sabedoria e conhecimento e alegria; mas ao pecador dá trabalho, para que ele ajunte, e amontoe, para dá-lo ao que é bom perante Deus" (Ecl. 2:26).

    Também Jó foi um homem muito rico, mas ao mesmo tempo íntegro e reto; vejamos como Jó entrou em possessão de todos os bens que possuía. A Escritura diz: "Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; e era este homem íntegro, reto e temente a Deus e desviava-se do mal. E nasceram-lhe sete filhos e três filhas. E o seu gado era de sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois e quinhentas jumentas; eram também muitíssimos os servos a seu serviço, de maneira que este homem era maior do que todos os do oriente" (Jó 1:1-3). Ora, muitas vezes, quando se fala de Jó nos lembramos das suas riquezas, mas não da sua integridade, e isto é um erro porque se deveria lembrar ambas as coisas porque elas estão intimamente ligadas entre si na verdade na origem das suas riquezas estava o temor que ele tinha de Deus. Jó era um homem reto que temia a Deus e desviava-se do mal; ele praticava a justiça repartindo seus bens com quem estava necessitado; na realidade fazia exultar o coração da viúva, tomava conta do órfão, era o olho do cego, o pé do coxo, o pai dos pobres, era um voluntarioso hospedeiro dos forasteiros e além disso tinha uma conduta pessoal irrepreensível e exemplar. Deus viu como se conduzia este seu servo e abençoou a ele e a obra das suas mãos e isto o reconheceu até Satanás de fato disse a Deus de Jacó: "A obra de suas mãos abençoaste e o seu gado se tem aumentado na terra" (Jó 1:10).  

Mas Jó não foi íntegro somente quando teve abundância e quando a benção de Deus repousava sobre ele e sobre tudo o que possuía, mas também quando teve na penúria porque perdeu tudo o que possuía e quando foi ferido por Satanás de úlceras malignas desde a planta do pé até ao alto da cabeça. Ele se manteve firme na sua integridade e não blasfemou contra Deus no meio da pobreza e dos seus atrozes sofrimentos (ele disse: "O Senhor o deu, e o Senhor o tomou: bendito seja o nome do Senhor" [Jó 1:21], e à sua mulher que o incitou a abandonar Deus respondeu: "Como fala qualquer doida, assim falas tu; receberemos o bem de Deus, e não receberíamos o mal?" [Jó 2:10]) como ao invés Satanás pensava que faria (segundo o que ele disse a Deus: "Toca-lhe em tudo quanto tem... toca-lhe nos ossos, e na carne, e verás se não blasfema contra ti na tua face!" [Jó 1:11; 2:5]), demonstrando assim temer a Deus não porque Deus o tinha abençoado, mas porque ele amava Deus. Deus provou Jó e viu que Jó, mesmo privado dos seus numerosos bens e da sua saúde, se manteve firme na sua integridade e não blasfemou o seu nome e virou o cativeiro de Jó conforme está escrito: "E o Senhor virou o cativeiro de Jó, quando orava pelos seus amigos; e o Senhor acrescentou, em dobro, a tudo quanto Jó antes possuía.... assim abençoou o Senhor o último estado de Jó, mais do que o primeiro; pois teve catorze mil ovelhas, e seis mil camelos, e mil juntas de bois, e mil jumentas" (Jó 42:10,12). Também neste caso naturalmente, Deus operou uma das suas maravilhas para fazer se tornar Jó proprietário de todos aqueles bens. É verdadeira a Palavra que diz: "A bênção do Senhor é que enriquece" (Prov. 10:22), de fato o Senhor enriquece materialmente, mas é também verdadeira a palavra que diz: "O Senhor empobrece" (1 Sam. 2:7), por isso temamos Deus, observemos os seus mandamentos e por certo Deus não nos fará faltar nada do que necessitamos; a sua benção repousará sobre as nossas famílias porque Ele "ama os justos" (Sal. 146:8) e abençoa a sua morada.

Vejamos agora as riquezas que possuiu Salomão porque elas lhe foram dadas por Deus sem que Salomão as tivesse pedido; também este é um exemplo de como por causa da benção de Deus, um homem se pode tornar rico de modo honesto.  

A Escritura diz: "E em Gibeom apareceu o Senhor a Salomão de noite em sonho; e disse-lhe Deus: Pede o que queres que eu te dê... E disse Salomão: ‘...A teu servo, pois, dá um coração entendido para julgar a teu povo, para que prudentemente discirna entre o bem e o mal; porque quem poderia julgar a este teu tão grande povo? E esta palavra pareceu boa aos olhos do Senhor, de que Salomão pedisse isso. E disse-lhe Deus: Porquanto pediste isso, e não pediste para ti muitos dias, nem pediste para ti riquezas, nem pediste a vida de teus inimigos; mas pediste para ti entendimento, para discernires o que é justo; eis que faço segundo as tuas palavras; eis que te dou um coração tão sábio e entendido, que antes de ti igual não houve, e depois de ti igual não se levantará. E também até o que não pediste te dou, assim riquezas como glória; de modo que não haverá um igual entre os reis, por todos os teus dias..." (1 Re 3:5,6,9-13). Salomão não era nem invejoso e nem tampouco cobiçoso de torpe ganância e quando Deus lhe disse para pedir o que desejava, ele pediu sabedoria, e este seu pedido agradou a Deus que lhe a deu; mas Deus lhe deu também o que ele não lhe tinha pedido, isto é, riquezas e glória. Ora, é verdade que Salomão foi muito rico, mas vos recordo que Jesus disse: "Eis que está aqui quem é maior do que Salomão" (Mat. 12:42), para significar que ele era superior a Salomão mesmo se não podia gloriar-se sobre a terra de muitos bens materiais quantos pode gloriar-se deles o rei Salomão. Eu considero que nós também devemos pedir a Deus sabedoria para nos conduzirmos de modo digno de Deus sobre a terra porque este pedido é segundo a vontade de Deus na realidade está escrito: "E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-á dada" (Tiago 1:5); mas nós devemos também nos guardar de pedir mal a Deus (porque movidos pela inveja amarga e pela vanglória) porque neste caso não receberemos e se cumpriria a palavra que diz: "Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites" (Tiago 4:3).

Antigamente viveu um homem, que se bem que disse ser o mais estúpido dos homens e de não ter o entendimento de um homem, também fez um pedido sábio a Deus, e este seu pedido está transcrito no livro dos provérbios. O nome deste homem é Agur, filho de Jaque, e o seu pedido é o seguinte: "Duas coisas te pedi; não mas negues, antes que morra: Afasta de mim a vaidade e a palavra mentirosa; não me dês nem a pobreza nem a riqueza; dá-me só o pão que me é necessário; para que, porventura, estando farto não te negue, e venha a dizer: Quem é o Senhor? ou que, empobrecendo, não venha a furtar,  e profane o nome de Deus" (Prov. 30:7-9). O que acontece hoje ao invés é que há homens que se acham inteligentes que não só desprezam este pedido, mas não ousariam tampouco fazê-lo a Deus, porque segundo eles não se adequa a filhos de um rei; julgai vós mesmos o que digo.

  Resumindo: um crente pode tornar-se também rico (e portanto não o excluímos), mantendo a sua integridade, quando Deus o permite e se Deus o permite. Mas isto não nos leva a dizer aos crentes: ‘Deus quer que vós enriqueçais materialmente porque esta é a sua vontade para convosco, e se vós não sois ricos não estais na vontade de Deus’, ou: ‘Se não sois ricos materialmente é porque tendes pouca fé em Deus ou porque não pediste a Deus para sê-lo’. O fato é que esses pregadores com os seus falatórios tendem a fazer sentir um crente que está contente com as coisas que tem, um miserável que não tem fé em Deus e que não faz a vontade de Deus, e o risco que corre o crente ouvindo as suas palavras é o de deixar de estar contente com as coisas que tem e de querer tornar-se rico, o que significaria sair da vontade de Deus.  

Para o que serve a nossa abundância

Há diversas passagens da Escritura que testificam de diversas maneiras que Deus abençoa os justos também materialmente. Não podemos demonstrar o contrário, antes de tudo porque isto o testifica a sagrada Escritura que não pode ser anulada, e depois também porque nós mesmos experimentamos a veracidade das palavras de Deus.

Jesus disse: "Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando, vos deitarão no vosso regaço; porque com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo" (Lucas 6:38).  

Ora, como podeis ver, dar é um mandamento de Deus e nós sabemos que "o que teme o mandamento será galardoado" (Prov. 13:13), portanto também quem dá é galardoado por Deus, porque obedece à ordem de Cristo Jesus. 

A Escritura nos ensina que será feito conosco como fizermos aos outros, conforme está escrito: "Como tu fizeste, assim se fará contigo" (Oba. 15), e isto é verdade também no que concerne ao dar, pois Jesus disse: "Dai, e ser-vos-á dado" (Lucas 6:38), portanto se nós provermos às necessidades dos santos, Deus proverá às nossas ("o que regar também será regado" [Prov. 11:25]); se nós damos abundantemente, por certo nos será dado abundantemente ("o que semeia em abundância, em abundância ceifará" [2 Cor. 9:6] e: "Um dá liberalmente, e se torna mais rico" [Prov. 11:24]). Para vos fazer compreender este conceito vos recordo algumas palavras que Paulo dirigiu aos Filipenses e aos Coríntios.  

Paulo, depois de ter dito aos Filipenses que tinha recebido a oferta que eles lhe tinham enviado através de Epafrodito, disse-lhes: "O meu Deus, segundo as suas riquezas, suprirá todas as vossas necessidades em glória, por Cristo Jesus" (Fil. 4:19). Como podeis ver Paulo estava certo que como os Filipenses se tinham lembrado dele tendo renovado o seu cuidado para com ele, assim Deus se lembraria também deles provendo abundantemente a todas as suas necessidades. Deus é justo e nos abençoa materialmente na medida que nós abençoamos materialmente os outros.

Aos Coríntios, Paulo, depois de ter dito: "Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria" (2 Cor. 9:7), diz: "E Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça... Ora, aquele que dá a semente ao que semeia, e pão para comer, também dará e multiplicará a vossa sementeira..." (2 Cor. 9:8,10). Também neste caso o dar precede o receber de Deus, a recompensa, primeiro Paulo ordenou aos santos para semearem e depois disse-lhes que Deus multiplicaria a sua sementeira. É claro que a colheita será abundante se a sementeira foi abundante, mas será pouca se a sementeira tiver sido pouca, exatamente porque nós seremos recompensados com a medida que usamos em dar.  

Esta lei de dar com a relativa benção material prometida por Deus aos que observam esta lei, está contida também na lei de Moisés de fato a propósito de dar ao irmão necessitado está escrito: "Livremente lhe darás, e não fique pesaroso o teu coração quando lhe deres; pois por esta causa te abençoará o Senhor teu Deus em toda a tua obra, e em tudo no que puseres a mão" (Deut. 15:10). Como podeis ver, estas palavras "por esta causa" indicam que Deus prometeu abençoar-nos materialmente, multiplicando a nossa sementeira, se nós nos guardarmos de toda a avareza e dermos aos irmãos necessitados com liberdade e com um coração não pesaroso mas alegre. 

Também no livro dos provérbios há uma promessa de benção material dirigida àquele que obedece à ordem de repartir com os outros os seus bens.Na verdade Salomão depois de ter dito: "Honra ao Senhor com os teus bens, e com as primícias de toda a tua renda" (Prov. 3:9), diz: "E se encherão os teus celeiros, e transbordarão de vinho os teus lagares" (Prov. 3:10); também essas palavras confirmam que o Senhor abençoa também materialmente os que o honram com os seus bens materiais. 

Quando Deus multiplica a nossa sementeira e permite assim que nós, membros da sua família, estejamos na abundância, e Ele o faz por um objetivo bem preciso; vejamos qual. 

Paulo, depois de ter dito: "Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria" (2 Cor. 9:7), diz: "E Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a fim de que tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda a boa obra" (2 Cor. 9:8), e também: "Dará e multiplicará a vossa sementeira.... enquanto em tudo enriqueceis para toda a liberalidade.." (2 Cor. 9:10,11). Eis porque o Senhor faz abundar em nós toda a graça e multiplica a nossa sementeira, para que, tendo sempre as coisas necessárias, nós abundemos em toda a boa obra e supramos às necessidades dos necessitados dentre os santos, de fato Paulo escreveu aos santos de Corinto: "Neste tempo presente, a vossa abundância supra a falta dos outros" (2 Cor. 8:14). Ora, como é atualmente o vosso tempo presente? É um tempo favorável do ponto de vista econômico? Bem, se assim é, esta vossa abundância serve a vós para as vossas necessidades, mas serve também para suprir às necessidades dos pobres dentre os santos e "os pobres sempre os tendes convosco e, quando quiserdes, podeis fazer-lhes bem" (Mar. 14:7), disse Jesus. Isto se deve fazer por princípio de igualdade conforme está escrito: "Digo isto não para que haja alívio para outros e aperto para vós, mas para que haja igualdade... e assim haja igualdade; como está escrito: Ao que muito colheu, não sobrou; e ao que pouco colheu, não faltou" (2 Cor. 8:13-15). Entre o povo de Deus houve sempre quem muito colheu e quem pouco colheu e isto também hoje se pode ver no meio da irmandade espalhada pelo mundo. Se quem muito colheu se preocupa em suprir à necessidade de quem pouco colheu a este último não virá a faltar nada, e ao que muito colheu não sobrará.

Irmãos, nesta nação pela graça de Deus há ainda muita abundância, nós não sabemos até quando isto durará, mas sabemos que nós devemos lembrar dos pobres repartindo com eles os nossos bens materiais porque isto é bom e aceitável perante Deus conforme está escrito: "Porque com tais sacrifícios Deus se agrada" (Heb. 13:16). Longe de nós o pensamento que a nossa abundância serve para suprir somente às nossas necessidades ou que Deus nos dá abundantemente todas as coisas para que delas gozemos exclusivamente para nós; vigiemos e não façamos como Israel que depois de ter sido tirado a salvo da terra do Egito com mão poderosa, e depois de ter experimentado a bondade de Deus e a sua fidelidade no deserto por quarenta anos, depois que entrou na terra prometida esqueceu Deus e se desviou da lei de Deus indo servir os ídolos das nações. O esqueceu depois que comeu com fartura, depois que construiu e habitou em belas casas, depois que viu os seus bois e as suas ovelhas multiplicar, depois que viu abundar todos os seus bens. Israel não aprendeu a servir a Deus com alegria e de bom coração no meio da abundância e por isso Deus deu o seu povo nas mãos dos seus inimigos, na mão dos espoliadores que os reduziram a grande miséria; eles atraíram a ira de Deus sobre eles porque se desviaram do seu pacto no meio da abundância que Deus lhes concedeu. 

Mas também não esqueçamos como viviam os habitantes de Sodoma e das cidades circunvizinhas: "soberba, fartura de pão, e abundância de ociosidade teve ela e suas filhas; mas nunca fortaleceu a mão do pobre e do necessitado" (Ez. 16:49). Vós deveis saber que toda a planície do Jordão onde exatamente Sodoma e as outras cidades estavam situadas, "antes do Senhor ter destruído Sodoma e Gomorra", "era toda bem regada e era como o jardim do Senhor, como a terra do Egito, quando se entra em Zoar" (Gen. 13:10), portanto aquela planície era fértil e produzia com fartura; mas os habitantes daquela cidade, embora dispondo de muitos bens, recusaram estender as suas mãos aos necessitados porque eram orgulhosos e soberbos, e Deus os puniu por causa da sua soberba além de por todas as outras abominações que eles cometiam diante de si. A sabedoria diz: "Abominação é ao Senhor todo o altivo de coração; não ficará impune" (Prov. 16:5), e na realidade aquelas cidades altivas não permaneceram impunes.

Nesta nação a grande abundância que hoje existe poderia vir a faltar em pouco tempo porque Deus, no curso do tempo, muda as circunstâncias; elas não permanecem para sempre as mesmas, e isto o aprendemos por aquilo que aconteceu em Portugal e na Europa nos séculos passados; anos de abundância foram interrompidos por guerras, fomes, pestilências, e a eles seguiram anos de grande miséria. Lembrai-vos que milhares de anos atrás no Egito, durante a vida de José filho de Jacó, pela vontade de Deus vieram primeiro sete anos de grande abundância e depois sete anos de grande fome. Deus muda os tempos e o faz segundo a sua vontade; hoje esta nação está, pela graça de Deus, entre as nações mais desenvolvidas e mais ricas, mas daqui a breve prazo poderia também ser contada entre as mais pobres. Não nos iludamos; hoje são os irmãos pobres na África, na América do Sul, e na Ásia a receber as nossas ofertas, as nossas roupas e os nossos gêneros alimentícios, mas daqui a pouco poderia verificar-se o contrário e isso a seguir a uma radical e profunda transformação das circunstâncias, e então a sua abundância serviria para suprir às nossas necessidades.

Texto original: "Guardatevi da quelli che predicano il messaggio della prosperità"

Autor: Giacinto Butindaro - Traduzido por Hugo Castro. - http://portoghese.lanuovavia.net/ 

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