A Representação do Deus Invisível
de T. Austin-Sparks
Capítulo 1 – Representação, um princípio de Deus
"E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem,
conforme a nossa semelhança..." (Gên. 1:26).
"Cristo... o qual é a imagem do Deus
invisível, o primogênito de toda a criação"
(Col. 1:15).
"...nos quais o deus deste século cegou o
entendimento dos incrédulos, para que não lhes
resplandeça a luz do Evangelho da glória de
Cristo, que é a imagem de Deus." (2 Cor.
4:4).
"Porque os que de antemão conheceu, também os
predestinou para serem conformados à imagem
de Seu Filho, para que Ele seja o primogênito
entre muitos irmãos." (Rom. 8:29).
"E vos revistais do novo homem, que está sendo
renovado para o pleno conhecimento, segundo a
imagem daquele que o criou; onde não há
grego, nem judeu, nem circuncisão, nem
incircuncisão, bárbaro, cita, escravo ou livre,
mas Cristo é tudo em todos." (Col. 3:10-11).
Ler:
Efésios. 4:13,15-16; 5:22-32; João 20:21-23;
Atos 1:8.
Na primeira e segunda série de passagens, há uma
palavra comum a todos elas, como você observou.
É a palavra ‘imagem’.
Em nossa língua inglesa temos, no Novo
Testamento, duas palavras – ídolo e
ícone. Heb. 1:3 - "a imagem exata de Sua
Pessoa". Rotherham traduz, "a representação
exata de Sua imagem" ou "de Sua substância". É
esta palavra ‘representação’ que tem tomado
conta de mim, e que parece ser a chave para a
nossa meditação.
Representação: um Princípio Eterno
Você irá ver que, nas passagens que acabamos de
ler, esta é a idéia dominante; primeiramente em
relação ao Senhor Jesus: representação de
Deus. É dito que Ele é a imagem de Deus, a
imagem do Deus invisível. Então, o pensamento é
transferido para os eleitos, a igreja, os
predestinados a serem conformados à imagem de
Filho, um novo homem renovado conforme a imagem
daquele que o criou; e ao longo disto, passagens
nas quais a presente palavra não ocorre, mas
onde o pensamento ainda é a idéia principal -
"a medida da estatura de Cristo", "um
varão perfeito" (Ef. 4:13). Isto com
referência à Igreja, o povo do Senhor –
representação.
Então, aquelas passagens finais trazem a coisa
para um campo muito prático - "Como o Pai
Me enviou a Mim, assim Eu vos envio a vós"
– colocando a ênfase na palavra ‘como’.
Então, com a pergunta que pode surgir, "Quem é
suficiente para essas coisas?" A resposta é,
"Recebereis poder, quando o Espírito Santo
descer sobre vós: e series minhas testemunhas",
esta última palavra é apenas outra palavra para
representantes.
(a) Antes da Criação
Isto, então, é um pensamento eterno, um
pensamento que saiu da eternidade, Deus propondo
ser representado em Seu universo, ter
representação no homem, e este pensamento eterno
está por trás de tudo. É antes da criação, antes
da queda, e, portanto, antes da redenção. Este
pensamento se mantém lá atrás, como que
governando todo o projeto de Deus para o futuro.
É como se Deus decidisse que Ele teria uma
representação de si mesmo, o Deus invisível,
numa forma visível, numa forma humana, para que
Ele pudesse ser visto, ser conhecido, ser
compreendido; e, mais do que isto, Ele iria
constituir, na base do companheirismo, de um
relacionamento vivo em termos de representação,
aquele que representá-lo-ia não meramente de
forma oficial, mas em natureza, conforme o seu
coração. Isto significa que Deus iria se fazer
conhecido, que iria dar a si mesmo, que iria
trazer a criação para dentro de uma experiência
que seria mais do que uma obediência mecânica à
sua vontade soberana; uma agradável, desejável,
e amável comunhão com Ele mesmo, com o seu
próprio coração, ao longo da linha do
consentimento, e não da compulsão. Isto é o que
significa ‘representação’, em resumo. É
exatamente o que isto significa no caso do
Senhor Jesus sendo imagem do Deus invisível, e
exatamente o que significa em relação à Igreja
sendo conformada à imagem do Filho.
(b) Na Criação
A criação é trazida à existência por meio deste
pensamento único de Deus, para que toda a
criação pudesse, numa variedade de formas,
expressá-Lo, representá-Lo, falar Dele, para que
todas as ordenações do céu e da terra como
estabelecidas por Deus, e que todas as relações
na criação, pudessem representar os pensamentos
de Deus. Se tivéssemos olhos para ver,
poderíamos ver os pensamentos de Deus em tudo o
que Ele criou. Toda a criação é uma
corporificação deste desejo de Deus de ser
representado.
(c) Na Redenção
Mas não apenas isso, pois, quando chegamos à
questão da redenção, é a mesma coisa. Da postura
de Deus em relação à necessidade que surgiu, a
representação está no coração disso, e a
representação na redenção é dupla, possui dois
lados. Devido ao que tinha acontecido à criação,
e por causa do julgamento pronunciado sobre ela
– morte - há uma anulação da ordem das coisas.
Se a sentença fosse executada de forma absoluta,
a criação seria descartada do universo de Deus,
não sobraria nada. Porém, a representação
novamente é a forma de redenção, e, na pessoa do
Filho, uma posição representativa é tomada sob
julgamento, condenação, e morte, e Nele,
representativamente, a criação deixa de existir,
morre. Nós hoje seguramente chegamos a este
aspecto de coisas com gratidão, isto é, que você
e eu fomos salvos da terrível totalidade do
julgamento sobre a criação porque Alguém foi o
nosso representante naquele julgamento. Ele, de
forma representativa, morreu como um maldito,
julgando e condenando a criação por causa do
pecado. Ele morreu por nós e como nós, e nós
morremos Nele. Esta é uma verdade simples e
familiar.
Mas há o outro lado da redenção. Na
ressurreição, na exaltação em glória, Ele também
é o nosso representante. O pensamento Divino da
representação é tomado novamente, agora não em
desespero, mas em esperança. "Bendito seja o
Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que,
segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de
novo para uma viva esperança, pela ressurreição
de Jesus Cristo dentre os mortos" (1 Ped. 1:3).
Na ressurreição Cristo é o nosso representante;
na glória Ele é o nosso representante, e tão
verdadeiramente como fomos incluídos na morte,
assim também fomos incluídos Nele na glória, na
exaltação. Como o ‘Capitão da nossa salvação’,
Ele está trazendo ‘muitos filhos à glória’, onde
Ele está como representante deles.
Em Romanos 8:29. "Porque os que dantes
conheceu, também os predestinou para serem
conformes à imagem de seu Filho",
introduziram duas pequenas palavras - "para
serem". Estas palavras não ocorrem no
original, absolutamente. Foram colocadas porque
soa abrupto e inadequado deixá-las de fora e
apenas dizer: ‘predestinados conforme o seu
Filho’. Antes do mundo existir, nós éramos
assim, no pensamento e no propósito de Deus, que
não está sujeito ao tempo. Não há passado,
presente e futuro para Deus. Todo o futuro é
para Ele um só momento. Quando Ele determinou,
determinou em Cristo. Você e eu podemos estar
sendo submetidos a um processo de conformação à
imagem de Cristo, mas isto é apenas do nosso
lado. Do lado de Deus, está tudo terminado, está
eternamente realizado antes mesmo que começasse.
Isto é um poderoso fundamento para a fé, que, em
relação a Deus, não há acaso ou mudança sobre
isto. Tudo é um fato consumado.
“Predestinados conforme à imagem…”
Assim, você vê que este pensamento Divino, que
este pensamento eterno de representação,
realmente está por trás de tudo: da criação, da
redenção, da morte, da ressurreição, da glória.
(d) Na Igreja
Isto vai diretamente ao centro de nossas vidas,
na condição de povo do Senhor. O pensamento
Divino a nosso respeito é exatamente este: que
estamos aqui para um único propósito no
pensamento de Deus – representá-Lo. A Igreja é
constituída para este único propósito –
representá-Lo. Todos os procedimentos de Deus
para conosco têm apenas isto em vista: a
perfeita representação. Isto não é outra coisa
senão dizer, de outra forma, que a disciplina, a
correção de Deus são para aperfeiçoar a nossa
representação Dele; isto é, fazer-nos mais
semelhantes a Ele, não sendo, portanto, uma
coisa em si mesma, mas Ele ordenou que esta
fosse a agência de Sua própria revelação. De Sua
própria manifestação. "A imagem do Deus
invisível". Isto com referência a Cristo. A
imagem, podemos dizer, do Cristo invisível é o
pensamento Divino para a Igreja e todos os seus
membros.
Parece-me ser esta a própria essência desta
idéia - "a igreja que é o Seu corpo”. Existe
tal coisa como o ‘ler o espírito um do outro’,
mesmo que isto seja excessivamente difícil sem
os seus corpos! O que conhecemos uns dos outros
interiormente, conhecemos muito amplamente por
meio de nossos corpos. Até mesmo nossas
personalidades são expressas através de nossos
corpos. Se estamos familiarizados com uma
pessoa, mais ou menos isto se dá por meio de
algumas expressões. Uma criancinha que está lá
dentro de casa sabe que o papai está chegando da
rua. Por quê? Porque ela conhece os passos do
pai.
Você pode estar num quarto e outras pessoas
estarem em outro, e você, ao ouvi-las falando, é
capaz de dizer: Está acontecendo isso e aquilo;
eu conheço a voz deles! Você sabe que elas estão
lá porque aquelas vozes lhes pertencem. Somos
conhecidos por algumas expressões físicas. Nós
vemos uns aos outros, tocamos uns aos outros,
lemos e registramos a vida interior uns dos
outros por meio de um olhar na face, de um tom
de voz, de um simples gesto, de um simples
grunhido! Sim, e toda uma história repousa na
mais leve indicação física se formos sensíveis
uns para os outros.
A Igreja, que é o Seu Corpo, se mantém em
relação a Ele neste mesmo sentido, e Ele, por
Seu Espírito estando presente, habitando, é
indicado por meio de Seus membros. O propósito
da Igreja como Seu Corpo é representá-Lo, e esta
é a própria essência, de tudo – digamos – obra
missionária, todo ministério, todo serviço. A
idéia dominante de todo serviço ou ministério é
a representação; não primeiramente as coisas
ditas, pregadas, proclamadas, mas o que somos, o
que é carregado de Cristo por meio de nosso ser.
No caso do Senhor Jesus isto era predominante.
Era a Sua presença que causou o impacto Divino
sobre esta terra; algumas vezes o Seu silêncio
era mais terrível do que Suas palavras. Quando
Ele, naquela Sexta da Paixão, naquela primeira
Sexta da Paixão, ficou em silêncio, aquilo foi
um terrível silêncio que os homens não puderam
suportar, sob tal silêncio eles estremeceram e,
por algum meio, fariam que Ele falasse e
quebrasse aquele silêncio. Quando Ele chegou ao
território dos Gadarenos, aqueles possessos por
demônios começaram a gritar sem que houvesse
qualquer palavra de Jesus. Era a sua presença!
Isto é representação.
Que coisa poderosa é esta representação se ela
estiver lá no poder do Espírito Santo. Você nem
sempre tem que começar a pregar. Se você é um
homem cheio do Espírito, sua presença irá fazer
os pecadores se sentirem desconfortáveis e os
santos ficarem alegres. O que estou tentando
enfatizar é a verdade, o princípio, a lei, da
representação.
Com relação a esta questão de representação,
gostaria de fazê-lo se ocupar preeminentemente
com ela em relação ao próprio Senhor Jesus. Ele
é a soma de todos os pensamentos Divinos, e a
encarnação é a suprema expressão deste único
pensamento de Deus para ser verdadeira, plena e
perfeitamente representada; de modo que era
possível para o Senhor Jesus dizer:
“Aquele que vê a Mim vê o Pai” (João
14:9). Aí está o mistério de Cristo.
O que é o mistério de Cristo? O mistério de
Cristo é o Deus encoberto nesta
Representatividade. Você diz, uma
representatividade de Deus, e ainda Deus
encoberto? – uma contradição! Não, não há
contradição; não necessariamente encoberto,
pois, para o Novo Testamento, mistério não é
algo que não pode ser conhecido, mas algo que,
por certas razões, não tem sido conhecido, mas
que pode sê-lo. Quando essas razões são
colocadas de lado, aquilo que tem sido um
mistério deixa, então, de ser um mistério.
Você pode ver isto nos dias da Sua carne. Aí
está Deus em representação, mas como muitos o
viam? “Aquele que vê a Mim vê o Pai”.
Porém, penso que esta palavra ‘ver’ significa
algo muito mais do que apenas olhar para Ele
como homem. “Aquele que vê a Mim…”.
“Que dizem os homens que Eu sou?”
Alguns dizem isto, e outros dizem aquilo. Pedro
disse: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus
vivo’. E Ele respondeu:
‘Bem aventurado és tu, Simão Bar Jonas, pois não
foi carne nem sangue que te revelou isto, mas
meu Pai que está no céu”. (Mat.
16:13-17). Isto é o que significa ‘ver’; é por
revelação. É isto que é o mistério. O fato está
lá, a verdadeira representação de Deus em
pessoa, contudo irreconhecido, não visto.
“O deus deste século cegou o entendimento dos
incrédulos, para que não lhes resplandeça a luz
do Evangelho da glória de Cristo, que é a imagem
de Deus”. (2 Cor. 4:4). Mistério é a
incapacidade de os homens verem um grande fato
presente, porém ainda encoberto.
Agora, a Ressurreição e o Pentecoste parecem-me
que significam apenas uma única coisa – a visão
de Cristo. Você se lembra quando Jesus foi
considerado como morto e enterrado, até mesmo os
discípulos ficaram em desespero e tiveram a fé e
a esperança encoberta, e alguns foram muito
tristes pelo caminho de Emaús, e suas palavras
foram: “Tínhamos esperança de que fosse
Ele quem iria redimir Israel”. (Lucas
24:21). Mas, antes que chegasse o final deste
episódio, Jesus lhes abriu o entendimento, para
que pudessem compreender as Escrituras. Tendo
aberto as Escrituras desde o início, falou-lhes
das coisas concernentes a Ele; abriu o
entendimento deles, e era apenas isto que estava
marcando as suas aparições durante aqueles
quarenta dias após sua ressurreição. Eles
entraram num caminho totalmente novo ao vê-lo.
Oh não, agora não meramente vendo-o de forma
física, que Ele estava vivo, que tinha um corpo;
não foi meramente isto que estava nascendo neles
muito poderosamente. Eles estavam vendo quem
era Jesus; o mistério de sua Pessoa estava sendo
revelado.
Eles O estavam vendo, e o dia de Pentecoste
parece que trouxe isto a um pleno nascimento. Os
quarenta dias estavam se movendo para o
Pentecoste, e, então, naquele dia, pela vinda do
Espírito Santo, a coisa consumou-se, e no pleno
fulgor de quem Ele era, nasceu a igreja.
Parece-me que a Igreja nasceu – sim, pelo
Espírito Santo, mas pelo Espírito Santo
revelando aos homens quem Jesus era afinal de
contas. Parece-me que foi assim que cada um
entrou para a Igreja. Eles viram, por uma
operação do Espírito Santo, quem Jesus era. Foi
assim que Paulo entrou para Igreja, no caminho
de Damasco; ele viu quem era o Jesus de Nazaré.
No dia de Pentecoste, Pedro se pôs em pé
juntamente com os onze, e, sob o poder do
Espírito Santo, e abriram suas bocas, e a
declaração espontânea foi sobre quem era Jesus,
e eles eram homens com uma nova revelação.
Oh, eu sei que, da parte de nosso ponto de vista
fundamentalista, isto não é muito. Não suponho
que haja aqui alguém que não creia que Jesus é o
Filho de Deus, Deus manifestado em carne. Todos
cremos nisto, com um pouquinho de fé; mas qual é
o efeito disso? Qual foi o efeito disso lá no
princípio? O testemunho, a representação, não é
simplesmente atestar fatos históricos, nem fatos
doutrinários. Quando aqueles homens saíram como
testemunhas de Jesus, não foi apenas para dizer
coisas que, embora fossem verdades, eram apenas
verdades. Eles saíram no poder de o terem visto,
tendo os seus olhos abertos para o Senhor Jesus.
Era como se tivessem sido homens que se moviam
nas sombras durante aqueles anos, apalpando,
algumas vezes sentindo segurança, uma certa
quantidade de segurança, mas, então,
questionamentos, incertezas entrando, sombras o
tempo todo. Porém, finalmente os céus se
abriram, o esplendor irrompeu, e eles viram. Foi
nessa luz que eles foram constituídos como
testemunhas, representantes. Foi nessa luz que a
Igreja nasceu. Foi nessa luz que a Igreja
prosseguiu o seu caminho tão efetivamente. O
fato foi que, onde quer que eles chegassem, era
o impacto de Deus em Cristo por meio da presença
deles. Essa presença sacudiu o inferno, porque o
inferno sentiu novamente – Deus está aqui! Essa
presença tocou homens que estavam presos e
debaixo do controle e influência de
inteligências superiores, inteligências
espirituais.
Sabemos quão verdade isto é agora em medida, que
a presença de um verdadeiro filho de Deus, sem
palavras, provoca os homens, incomoda-os,
aborrece-os, irrita-os. Eles querem você fora do
caminho, não gostam de você. Eles não sabem por
que, mas querem se livrar de você. Você quase
pode sentir que eles têm uma inteligência
sobrenatural a respeito de sua pessoa, embora
eles não percebam. Se você lhes perguntar o
porquê, eles não sabem. Há outra coisa mais
profunda, eles sentem algo que os deixa
desconfortáveis. É a presença de Deus no filho
de Deus, e Deus é representado pela presença de
seus filhos. É assim que foi com Cristo.
“Como o Pai me enviou a Mim, eu vos envio a
vós.” É desta maneira – representação.
Representação Baseada na Identificação
Mas devemos perceber que a representação se
mantém na base da identificação. É a identidade
de Cristo com Deus, o Pai, que significa tudo.
Os dois são idênticos. Jesus não disse: ‘Aquele
que vê a Mim vê o representante de Deus’. Isto
pode significar qualquer coisa. Você pode enviar
qualquer coisa ou qualquer um como seu
representante. Mas Jesus disse, ‘Aquele que vê a
Mim vê o Pai’, vê Deus; não um representante de
Deus, não alguém enviado como uma espécie de
embaixador, completamente diferente, duas
personalidades, duas naturezas numa diferente
categoria, mas idêntico. A presença de Cristo é
a presença de Deus, e Deus está presente em
Cristo.
Você pode perguntar: como isto funciona em
relação à Igreja e ao membro do Corpo? Em
princípio isto é verdadeiro, e nisso é
descoberta toda a exigência de que devemos abrir
mão de nossa própria independência, de nossa
vida separada, de interesse próprio, de
motivação própria, e, de forma crescente,
chegarmos à posição onde ‘não somos mais nós,
mas Cristo’. Oh sim, sempre haverá aquelas
coisas sobre nós que ainda permanecem como
nossas marcas e características humanas, mas a
implicação real e essencial é que a nossa
presença não será realmente nossa, mas será a
presença do Senhor; tem que haver dentro de nós,
bem lá no centro do nosso ser, pela residência
do Espírito de Cristo, uma identificação com Ele
de modo que Ele e nós sejamos um; um em vida, em
motivação, em pensamento, em desejo, e seja lá o
que as pessoas possam dizer sobre nossas
fragilidades, fraquezas e imperfeições, se forem
honestas terão que dizer: Apesar disso, quando
você encontra fulano, você realmente encontra o
Senhor! Será uma coisa terrível se as pessoas
forem incapazes de falar isto, e tiverem que
dizer o contrário: Quando você encontra fulano,
como um professo filho de Deus, não há nada do
Senhor nele, e você sai afligido. Isto é algo
terrível.
É uma negação de nossa própria existência como
membros do Corpo de Cristo se tolerarmos aquelas
coisas que são uma contradição em relação a
Cristo; como a falta de perdão, como abrigar em
nossos corações uma atitude ou um espírito
rancoroso, de mágoa, de orgulho ferido, de
divisão. Onde ficamos nós como cristãos, o que é
vida cristã, para que somos cristãos, o que
temos admitido, o que temos aceito? Temos nós
aceito coisas em forma de doutrina de modo
meramente profissional, um negócio, um tipo de
coisa completamente fora de relação com a nossa
própria personalidade, com a nossa própria
natureza? Bem, isto não é o cristianismo do Novo
Testamento, isto não é a real vida cristã. O
fato é o seguinte: se formos verdadeiramente
cristãos (e “se alguém não tem o Espírito
de Cristo esse tal não é Dele” - Romanos
8:9), se realmente tivermos o Espírito Santo,
esta deve ser a coisa mais verdadeira ao nosso
respeito, que jamais possamos deixar de nos
desesperar com a nossa falta de perdão, que
jamais tenhamos orgulho ferido sem ficarmos
completamente desarranjados em nossas vidas
espirituais com isso, que jamais deixemos de nos
parecer como cristãos sem que tenhamos uma crise
com isso.
Há algo vivo lá dentro. Por quê? Por causa da
identificação no Espírito Santo; o Espírito
Santo é o Espírito de Cristo e Ele entrou em nós
para nos fazer um com Cristo, para que não
vivamos uma vida desligada de Cristo,
simplesmente prosseguindo de alguma forma
indefinidamente sem ser encontrado pelo Senhor.
Isto é completamente impossível na base de uma
vida no Espírito Santo, e não há outra base para
um cristão. Muitos de nós agradecemos o Senhor
de todo coração por ser este o tipo de
experiência que temos, por sentirmos a nossa
miséria devido a algum pensamento ou atitude não
cristã. Agradecemos a Deus por isto; isto mostra
que as coisas estão vivas. Se pudermos abrigar
algo não cristão em nossos corações sem termos
uma má hora, então temos razão para questionar
se de fato somos nascidos de novo. Cada má hora
é uma evidência de que estamos vivos, pois
pessoas mortas não sofrem.
A identificação é básica para a representação, e
uma coisa vital, orgânica, não algo meramente
doutrinária.
Representação Baseada na Soberania do Espírito
Bem, isto é o que o Pentecoste fez. Pedro,
coloca-se em pé com os onze, e o que diz? Ele
ouviu o Senhor dizer: “Sereis minhas
testemunhas em Jerusalém, em toda Judéia e
Samaria, e até os confins da terra”. Não
muito tempo antes, alguns deles haviam falado
sobre essas mesmas pessoas para quem agora eram
representantes de Cristo, mensageiros do seu
Evangelho da graça: “Senhor, quer que
peçamos que caia fogo do céu e os consuma?”
Você não pode continuar desta maneira quando
segue sob o controle do Espírito Santo. Queimar
as pessoas com fogo do céu? – esta não é uma
vida governada pelo Espírito Santo. Você entende
o que eu quero dizer.
Quanto a Pedro, isto irá levá-lo a um longo
caminho adiante, porém ele irá ser tirado de sua
profundidade. É algo glorioso ver o que o
Espírito Santo faz quando realmente é soberano.
Ele faz você dizer coisas completamente fora do
alcance de suas tradições e intenções, ainda que
você não se dê conta. “Até os confins da
terra!” Pedro irá endossar isto.
Novamente em seu discurso no Pentecoste ele irá
usar palavras como essas: “Porque
a promessa vos diz respeito a vós, a vossos
filhos, e a todos os que estão longe, a tantos
quantos Deus nosso Senhor chamar."
(Ato 2:39). Ele fala isso sob o poder do
Espírito Santo, porém não compreende o seu real
significado. Um pouco mais adiante Deus lhe
manda ir à casa de um gentio, em Cesaréia. Ele
vê um lençol cheio de todo tipo de animais
quadrúpedes e répteis da terra, e aves do céu, e
uma voz que lhe diz: “Levanta, Pedro, mata
e come!” Porém Pedro responde:
“Não, Senhor!” E isto se sucede por três
vezes, e o lençol é recolhido aos céus. Três
homens chegam à porta. (Atos 10). – “Tantos
quantos Deus nosso Senhor chamar.”
Ele disse isto pelo Espírito Santo, porém não
compreendeu o significado. Agora ele se depara
com esta situação. O Espírito Santo irá tirá-lo
de sua profundidade, de sua tradição. Isto é o
que o Espírito faz quando assume o controle de
uma vida. Ele faz exigências bem além daquilo
que estamos preparados no momento.
Assim, a crise irá prová-lo para ver se você
está pronto para se ajustar ao Espírito. Caso
contrário, a sua representação do Senhor
fracassa. Você está pronto para se ajustar? O
Espírito irá ter o seu caminho de forma
completa? “Assim como o Pai me enviou a
mim, assim Eu vos envio a vós... Recebei o
Espírito Santo”.
O envio dos representantes foi na base da
absoluta soberania do Espírito Santo, e nós
somente iremos representar Cristo completamente
por meio desta soberania, a soberania do
Espírito, porque somente o Espírito é grande o
bastante para trazer Cristo, somente o Espírito
é grande o bastante para representar a Cristo.
Podemos nós representar a Cristo? Nós ainda não
conhecemos nada sobre Cristo. Nossos pensamentos
sobre Ele iriam fazer dele um Cristo pequeno.
Pedro, com todas as grandes coisas que diz em
Pentecoste, em sua própria interpretação dessas
coisas teria restringido Cristo apenas aos
judeus, mas descobriu que o Espírito Santo quis
significar muito mais do que ele compreendia
sobre Cristo, e sobre o que significava a
representação de Cristo. Assim, é somente pelo
Espírito Santo que uma representação adequada de
Cristo pode ser feita.
Espero que possamos compreender o porquê de
estarmos aqui, o que isto significa. Isto é uma
coisa muito real, este assunto de Cristo sendo
representado, trazido à vista, nossa presença
significando isto. Oh, estou certo de que todos
nós sentimos isto, se as coisas tivessem sido
mantidas rigorosamente em seus lugares durante
todo o caminho, o impacto sobre este mundo seria
infinitamente maior do que tem sido. A coisa tem
se tornado mecânica; não podemos dizer que a
Igreja em todas as suas partes tem realmente
trazido o impacto de Cristo sobre esta terra.
Talvez tenhamos que voltar em algum ponto sobre
este assunto. Não em doutrinas, em palavras, em
verdades; mas numa ponderosa obra do Espírito
Santo dentro de nós, que resulte em nós sermos
capazes de dizer: “Aprouve a Deus revelar
seu Filho em mim” (Gal. 1:16); a
representação tem que primeiramente ser
interior, depois vem a pregação; não é a
assinatura de uma declaração de doutrinas
fundamentais, mas a revelação de Cristo no
coração.
CAPÍTULO 2 – REPRESENTAÇÃO NA BASE DA
IDENTIFICAÇÃO
Ler:
Gên. 1:26; Col. 1:15; 2 Cor. 4:4; Rom. 8:29;
Col. 3:10,11; Ef. 4:13,15,16; 5:22-32; Jo.
20:21-23; Mat. 28:18-20; At 1:8.
A Identificação do Filho com o Pai
Penso que poderíamos continuar nossa meditação
no ponto onde mais imediatamente se refere ao
Senhor Jesus. Na conclusão de nossa meditação
anterior, estivemos especialmente enfatizando
que o princípio desta representação está baseado
na identificação. O Senhor Jesus era muito
particular e muito enfático quando esteve aqui,
na questão de sua relação com o Pai. Ele manteve
isto sempre à vista. Naturalmente, muitas
conseqüências surgiram por causa disso. Não
iremos abordar a conseqüência por enquanto,
lembremos: “Aquele que vê a Mim vê o Pai”
(João 14:9). “Eu e meu Pai somos
um” (João 10:30). “Mostra-nos o
Pai... Há tanto tempo tenho estado convosco, e
ainda não me conheces?” (João 14:8,9).
Assim podemos reunir uma quantidade tremenda de
textos que sustentam esta identificação do Filho
com o Pai, de Cristo com o Pai. Nosso ponto
principal neste momento é: Nós não estamos
lidando com dois, mas estamos lidando com um.
Isto para dizer que não estamos travando
conhecimento de Cristo separado de Deus,
separado do Pai. Quando O encontramos e nos
relacionamos com Ele, encontramos o Pai.
E, o que mais, de outro lado Deus se recusa a
encontrar conosco em qualquer outra base, exceto
em Seu Filho. “Ninguém vem ao Pai a não
ser por Mim” (João 14:6), e toda ida a
Deus de forma independente e separada do Filho
não terá outro resultado: O Pai irá nos reportar
ao Filho, Ele não irá agir separado do Filho. A
unidade é absoluta, e é divina e zelosamente
guardada e preservada. É identificação.
A história de Israel desde então pode ser
resumida neste único princípio, nesta única lei.
Israel se recusou a aceitar a Cristo como Filho
de Deus, colocou-o de lado e tentou se aproximar
de Deus, e encontrou uma porta fechada. A partir
daquele dia a porta que leva a Deus tem estado
fechada para Israel. O Pai tem dito de forma
muito efetiva e ponderosa a Israel: Não há
caminho independente; se isto significa mil ou
dois mil anos, o tempo não irá alterar isto;
você ainda estará na posição em que terá que vir
por meio do Filho, se quiser encontrar a Mim!
Esta é a situação de Israel hoje. Deus é muito
zeloso sobre isto.
Por que isto? A resposta poderia ser dada de
muitas maneiras, mas, para a nossa presente
consideração, é uma questão da intenção de Deus
de trazer Cristo, Seu Filho, à herança que
designou para Ele: o domínio. ‘Adão era uma
figura de Cristo, que viria’ (Romanos. 5:14), e
Deus disse: “Façamos o homem conforme a
nossa imagem, conforme a nossa semelhança: e
tenham eles domínio” (Gen.
1:26). Este ‘eles’ é muito significativo.
(Nota do tradutor: No inglês está escrito: “Let
them have dominion.” ao pé da letra:
“Deixe que eles tenham domínio”.) Não
iremos falar disto agora. “E tenham eles
domínio.”—“Uma figura daquele que estava para
vir”. Diz o escritor da carta aos
Hebreus.
“Porque
não foi aos anjos que sujeitou o mundo futuro,
de que falamos. Mas em certo lugar testificou
alguém, dizendo: Que é o homem, para que dele te
lembres? Ou o filho do homem, para que o
visites? Tu o fizeste um pouco menor do que os
anjos, de glória e de honra o coroaste, e o
constituíste sobre as obras de tuas mãos; todas
as coisas lhe sujeitaste debaixo dos pés. Ora,
visto que lhe sujeitou todas as coisas, nada
deixou que lhe não esteja sujeito. Mas agora
ainda não vemos que todas as coisas lhe estejam
sujeitas. Vemos, porém, coroado de glória e de
honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor
do que os anjos, por causa da paixão da morte,
para que, pela graça de Deus, provasse a morte
por todos.”
(Heb. 2:5-9; KJV: ASV).
Aqui está o Antítipo, aqui está aquele
que é maior do que Adão, aqui está Aquele de
quem Adão era uma figura, eternamente destinado
a ter domínio, com todas as coisas colocadas
abaixo Dele, Jesus, e Deus se mantém muito
ligado ao plano em relação ao Seu Filho. O Filho
é o representante supremo de Deus, aquele que
concentra todas as coisas, para os propósitos
executivos de domínio, e a união deles é
absoluta. Tanto é assim que, se todos os
propósitos de Deus estão estreitamente ligados e
investidos em Seu Filho, Ele deve trazer este
Filho ao Seu lugar, este deve ser Seu negócio
supremo, que o Filho seja como Deus.
Este pensamento é um pensamento do Velho
Testamento em tipo, e um pensamento do Novo
Testamento em realidade. Você sabe que através
de todo o Velho Testamento Deus teve os Seus
representantes, e esses representantes eram, em
seus dias, como Deus. A declaração a Moisés é
uma declaração extrema. Quando Deus o enviou a
Faraó, Ele disse a Moisés: “Você será como
Deus a Faraó” (Êxodo 7:1), e em efeito,
quando Faraó se encontrou com Moisés, na verdade
encontrou-se com o próprio Deus, estava tratando
com Deus. Fossem os patriarcas, ou os profetas,
em virtude da unção Divina neles, eles estavam
lá como Deus, tratar com eles era tratar com
Deus. O próprio termo ‘Filho do Homem’, como
usado no Novo Testamento, implica esta
representação, Deus representado; não Deus
separado, Deus de lado, mas Deus envolvido. Não
importa o quanto você tenha que esperar, o fim é
absolutamente certo.
Jeremias representava Deus naquele lugar. Bem,
aquelas pessoas podiam fazer todo tipo de coisa
com Jeremias: podiam rejeitar sua palavra,
podiam jogá-lo na masmorra, chegaram ao ponto de
quase matá-lo, a ponto dos oficiais irem ao rei
para dizer: Se não tirares aquele homem do
calabouço, certamente morrerá! Eles podiam fazer
isto, e os anos podem se passar de modo a
parecer que Jeremias não tenha sido vingado, mas
será escrito no futuro, agora num certo tempo no
reino de Ciro: “para que a palavra do
Senhor dita pela boca de Jeremias seja
cumprida...” (Esdras 1:1). Não importa,
esperem o tempo que quiserem, façam o quiserem,
é com Deus que vocês estão lidando; isto é
representação. Oh, o Velho Testamento está cheio
disso em princípio, e tudo isto está reunido em
Cristo; Ele é a totalidade de tudo isso.
Não é necessário para mim, numa congregação como
esta, enfatizar este grande fato, que temos que
lidar com Deus quando tocamos o Senhor Jesus.
Quando temos que tratar com o Senhor Jesus,
estamos tratando com Deus numa forma muito maior
do que qualquer profeta do Velho Testamento, e
já era grande o bastante então.
A Identificação da Igreja Com Cristo
Com quem estamos lidando? Bem, ao longo desta
linha de representação, chegamos à dispensação
atual, e à natureza dela. A presente dispensação
é a dispensação da Igreja, e a Igreja está aqui
neste mesmíssimo terreno, e, se você e eu fomos
batizados em Cristo, então fomos batizados em
Seu Corpo. Não vamos pensar em Igreja como uma
coisa objetiva e separada de nós mesmos. Nós
estamos nela, isto tem que se tornar uma questão
de aplicação pessoal quando falamos, não
pensemos objetivamente na Igreja, mas pensemos
em nós mesmos como membros de Cristo.
Bem, agora, esta identificação com Cristo ocorre
da mesma maneira como ocorria a identificação de
Cristo com o Pai. Esse é o porquê de eu ler
Efésios 5:21-32, sobre maridos e esposas, e
esposas e maridos, e o porquê de eu ter
enfatizado aquela estranha palavra em Gênesis —“Tenham
eles domínio” e você percebe que
isto se repete novamente em Gênesis 5:1 e 2.
“No dia que Deus criou o homem, à semelhança
de Deus o criou; macho e fêmea os criou, e os
abençoou; e deu-lhes o nome de Adão”
chamou-os de Homem. Esta passagem em Efésios
5, sobre maridos e esposas, traz este princípio,
e, se apenas pudéssemos enxergar isto, tenho
certeza de que seria tremendamente proveitoso, e
nos colocaria numa posição acima das visões
modernas deste mundo sobre esta questão.
Aí está este propósito eterno, este pensamento
Divino, o suporte desta relação, deste
pensamento de Deus em representação na base da
identificação, e a frase a ser grifada é:
como Cristo e a Igreja, a Igreja e Cristo.
A unidade aqui, a identificação, é o
pensamento e a intenção Divina. Você não está
lidando com duas coisas distintas aqui, duas
vidas independentes, duas pessoas separadas. “Ele
os fez macho e fêmea, e chamou-os homem”,
chamou um plural de singular! E isto é o que
Deus fez com Cristo e a Igreja; isto é o que Ele
fez entre Ele mesmo e o Seu Filho, chamou um
plural de singular, em efeito. E Deus está
dizendo aqui, em outras palavras, que a esposa
perde sua própria identidade independente quando
se casa, ela perde sua própria vida separada.
Agora seu único ideal é a vida e vocação de seu
marido, em que ela se imerge, e os dois se
tornam um, assim como a Igreja e Cristo. Quando
entramos na Igreja, abandonamos a nossa própria
identidade independente e separada. Tudo o que é
nosso, pessoal e privativo, é abandonado, e
somos imergidos no Corpo de Cristo, para que a
Igreja e Cristo sejam uma só carne, os dois são
um: Eu sei que a visão moderna sobre a posição
da mulher neste mundo não irá aceitar isto, mas
você não precisa se incomodar com ela. Espero
que você fique firme nestes princípios.
Deus conferiu tudo a Seu Filho, e você herda
tudo. O Senhor está simplesmente dizendo que
este relacionamento terreno deve ser uma
representação de algo celestial, que, se
este relacionamento entre maridos e esposas, e
esposas e maridos, fossem conforme o planejado,
o esposo representaria Deus neste mundo, como um
servo, um ministro de Deus — não entenda mal
isto; não quero dizer que ele colocaria uma gola
clerical e entraria “no ministério” — ele seria
um representante de Deus numa forma positiva, e
sua esposa estaria trabalhando dentro disso; não
separada numa vida e ministério independente,
mas negando tudo o que é pessoal. Esta é a idéia
Divina, e assim ela entraria nos dons Divinos,
na vocação Divina, na benção Divina; ela obteria
sua porção nesta relação e, com a perda daquilo
que é meramente pessoal e privativo, entraria em
algo muito mais amplo. Este é o pensamento
Divino, e a benção Divina está nesta direção e
não em outra. Assuma isto, mas não como uma
idéia meramente humana, como os modernistas e as
pessoas do mundo dizem: Esta é a idéia de Paulo
a respeito das mulheres, e nós não aceitamos
isto! Não, este é um pensamento Divino, e sua
visão é Cristo e a Igreja, e a Igreja e Cristo.
O ponto aqui é a identificação, que nesta linha
onde aquele relacionamento é correto, o efeito é
o seguinte: que quando você encontra a esposa,
você encontra o marido. Quero dizer, que ela não
irá agir de forma independente, ela irá
expressar o pensamento de seu marido, irá se
referir ao seu marido, e ao encontrá-la, você
encontra o marido. Não adianta tentar manipular
este tipo de mulher, fazê-la agir em segredo
quando seu marido está ausente. Oh não, você não
consegue separá-la de seu marido; ela está
ligada a ele, eles são um, de modo que você não
consegue conhecê-la separada dele. Não é uma
questão de se o marido está presente ou ausente,
se ele é visto ou não; você se depara com ele o
tempo todo. Este é o relacionamento.
O Senhor está dizendo isto a respeito de Cristo
e da Igreja, e Ele está dizendo que a
identificação é de tal ordem que, quando você
conhece a Igreja, os membros de Seu Corpo, você
não está conhecendo algo em separado, você está
conhecendo o próprio Cristo. “Eis que
estou convosco todos os dias até a consumação
dos séculos” (Mat. 28:20). Este é o
princípio. Isto não é uma coisa meramente
individual, foi dito a Igreja: o núcleo estava
lá e foi dito a Igreja: “Estou sempre convosco,
até a consumação dos séculos” “Estou
convosco.” Como? No meio, em você, pelo
Espírito.
Identificação e Autoridade
E este é o significado dessas palavras:
“Recebei o Espírito Santo:
Àqueles a quem perdoardes os pecados lhes são
perdoados”
(João 20:22,23). Isto é tremendo: a Igreja na
posição de Cristo dizendo: seus pecados estão
perdoados. Sim, a Igreja debaixo da unção do
Espírito Santo, se de fato estiver cheia do
Espírito, se for governada pelo Espírito, é seu
direito e prerrogativa dizer: “Os seus
pecados estão perdoados” nos termos,
naturalmente, que condicionam todo perdão,
principalmente o arrependimento e a fé. “...e
àqueles a quem os retiverdes lhes são retidos”
(KJV). A Igreja diz: Olhe aqui, meu irmão, minha
irmã, você está violando o princípio Divino e
nós lhe declaramos muito solenemente diante de
Deus que você não tem entrada diante de Deus até
que coloque as coisas em ordem: na autoridade do
Espírito Santo dizemos isto a você. E Deus se
coloca de lado, e não importa, você pode esperar
uma geração, uma vida toda, aquele irmão, aquela
irmã, não irá chegar lá separado da obediência
àquele conselho. Eles pensam que o dia está
chegando quando eles podem ser absolvidos ao
longo de sua própria linha. Absolutamente! Irão
morrer culpados se não reconhecerem que, numa
representação da Igreja governada pelo Espírito
Santo, eles estão lidando com o próprio Cristo.
Naturalmente, sei que a Igreja Romana tem tomado
isto para si, e é sobre esta mesma base que a
Igreja Romana existe e opera, porém,
naturalmente, num terreno temporal. Eles têm
tirado a coisa do governo do Espírito Santo e a
tornado uma questão puramente de oficio
sacerdotal. Sempre que você chegar à verdade,
você irá se deparar com um erro que simula a
verdade, uma imitação da verdade. Mas a verdade
está aqui, e é algo tremendo estar no Corpo de
Cristo; é tremendo estar numa representação
local deste Corpo de Cristo, a Igreja. Ela traz
você para o terreno executivo, e eu sinto muito
fortemente que o que precisamos em nosso dia,
talvez mais do que qualquer outra coisa, é que a
Igreja realmente funcione como representante
local. Parece haver tal clamor por um novo
funcionar da Igreja em sua expressão local ao
longo da linha da oração, e oração de caráter
executiva.
Em Jerusalém havia a Igreja, e frisamos que cada
vez mais eles são encontrados em oração. Quando
Pedro estava na prisão, a Igreja fez súplicas a
Deus. Ela agiu sobre esta questão, e trouxe o
Senhor para o terreno do Salmos 2, e Pedro foi
libertado. A função da Igreja _ digo a você que
esta é uma grande necessidade, que o Senhor
tenha este Corpo localmente representado, que é
Ele mesmo em expressão, Ele mesmo em efeito, Ele
mesmo em execução, operando neles, através
deles, pelo Espírito Santo. É disto que se
precisa hoje para fazer frente a este tremendo
esforço das forças do mal. Quem entre o povo do
Senhor não está consciente deste empenho das
forças do mal? O que está acontecendo no mundo
de hoje? Você pode ver em contrapartida esta
guerra no campo espiritual em quase todos os
detalhes: intensa malignidade, maldade, ódio,
violência, mentira e falsidade; que o tempo está
abreviado; e uma concentração de cada pedacinho
diabólico de ingenuidade para a destruição. E
aqui dentro desses últimos dias temos tido uma
retomada daquela conversa sobre petróleo; a
idéia em questão é que o tempo está abreviado,
que o dia está se encurtando; o inimigo irá
recorrer a qualquer artifício, embora
perverso. Esta é a idéia. Mas olhe ao
longe. Você vê isto no campo espiritual, você
sente. O inimigo está pronto para esmagar,
mutilar, aniquilar o verdadeiro filho de Deus se
ele puder, e sua intensidade nunca foi tão
grande. Por quê? Por que o seu tempo é curto.
“O diabo desceu a vós, tendo grande ira,
sabendo que pouco tempo lhe resta”
(Apoc. 12:12). O dia está acabando para ele.
Como isto será resolvido? Eu de novo digo a
você que é a Igreja que tem que resolver
isto. Confesso que eu não posso solucionar isto
sozinho; você não pode solucionar isto
sozinho. Precisamos de cooperação, temos que vir
ao nosso terreno da identificação com Cristo e
deixar Ele representativamente resolver isto.
Ninguém mais, mas somente Cristo pode resolver
isto. “Toda autoridade me foi dada no céu
e na terra... e estou convosco” (Mat.
28:18,20). Isto não pode ser apenas aceito como
óbvio. Parece-me que a Igreja tem que entrar
numa posição de fé naquele terreno e agir com
Cristo. Submeto isto a você, mas eu sinto
intensamente que há um apelo e uma necessidade
de que os filhos do Senhor onde quer que
estejam, como representando a Igreja, mesmo que
sejam dois ou três na localidade, que realmente
ajam sobre esta questão exclusivamente no nome
do Senhor. “No nome de Jesus” — é
apenas outra maneira de dizer:
Representativamente dizemos, representativamente
agimos, é Cristo por meio de nós; considerando
que o Espírito Santo tenha o Seu lugar. Bem,
como você vê, identificação significa
representação. Esta unidade com o Senhor
significa que Ele tem um caminho para Se
expressar. Bem, isto abre todas aquelas questões
de unidade com o Senhor, unidade desimpedida,
unidade imaculada com o Senhor, de modo que Ele
tenha um caminho livre de expressão.
A identificação e os Relações Humanas
Esta identificação com Cristo, e Sua vinda ao
longo desta linha, se pudéssemos vê-la, se os
nossos olhos fossem abertos — e eu gostaria que
os nossos olhos fossem abertos para isto —
estabelece um negócio muito real, solene e sério
para o povo do Senhor na questão dos
relacionamentos humanos. Como melhor posso
passar isto a você e explicar o que quero dizer?
Você sabe, alguns de nós temos estado em muitos
diferentes países do mundo, entre outras nações,
e uma de nossas maiores dificuldades geralmente
tem sido o caráter nacional das pessoas a quem
estamos ministrando. Não preciso mencionar
diferentes nações e suas características, mas,
como você sabe, diferentes nacionalidades
realmente diferem muito uma da outra em sua
constituição. A mim me parece que elas
representam todos os temperamentos da
humanidade. Alguns são muito emotivos; outros
são intensamente práticos; outros mentais, no
bom sentido — eu ia dizer intelectuais, mas esta
não é a palavra mais apropriada — vivendo sempre
no terreno da mente.
Eles precisam ter a coisa completamente
esmiuçada pela razão, e se mantém neste terreno.
Bem, as pessoas diferem, e o nosso problema
freqüentemente tem sido este — Oh, não podemos
chegar a lugar algum aqui, absolutamente, por
causa desta superficialidade, ou desta
intelectualidade, desta intensa disposição
nacional! E você pode desistir se aceitar isto,
e trabalhar apenas nesta base. Mas entendemos
que tudo isto tem que ser relegado a segundo
plano e não permitir que domine tudo. Cristo é
totalmente diferente de tudo isto, Ele é de uma
disposição e de uma constituição peculiar. O
Espírito Santo é todo poderoso, e, se o Espírito
Santo puder trazer Cristo para dentro dessas
vidas, não importa como possam elas ser
constituídas, Ele introduz aquilo que irá
trabalhar de forma calma, profunda e seguramente
a fim de substituir e transcender tudo nelas.
Dê-Lhe tempo e você irá descobrir algo lá que é
completamente diferente daquela disposição
natural, totalmente diferente da constituição
natural. É algo diferente, e isto irá continuar
o seu caminho. Isto é Cristo. Aí está a
universalidade do Espírito Santo.
Agora isto é exatamente o que aconteceu no dia
de Pentecoste em Jerusalém. Lá estavam
representantes de todas as nações debaixo do
céu; Partos, Elamitas, habitantes da
Mesopotâmia, estavam todos lá. Isto foi
estratégico da parte do Espírito Santo, e aquele
dia Ele veio e falou através dos apóstolos,
sendo compreendido por todos. Isto foi algo que
espantou aquelas pessoas. Aqui estamos nós,
todas as nações e línguas debaixo do céu,
contudo os ouvimos falar cada um em sua própria
língua maternal, como se fosse apenas uma só
língua que estivesse sendo falada. A
universalidade de Cristo, a universalidade do
Espírito Santo! Pode não ter ficado claro como a
coisa foi feita, mas houve evidentemente um
milagre do Espírito que transcendia o discurso
confuso entre os homens. Isto estabelece um
princípio, que Cristo simplesmente ignora as
diferenças de nacionalidades e de constituição
humana, e Ele mesmo é uma constituição, uma
base, que pode chegar a todos e constituí-los em
um só na realidade mais íntima, tornar todos em
um.
Este é o significado daquelas palavras que
citamos — “E
vos vestistes do novo, que se renova para o
conhecimento, segundo a imagem daquele que o
criou; onde não há grego, nem judeu,
circuncisão, nem incircuncisão, bárbaro, cita,
servo ou livre; mas Cristo é tudo em todos.”
(Col. 3:10,11). O Espírito Santo pode fazer de
todas as nacionalidades, temperamentos,
constituições, uma unidade que é Cristo, mais
profunda do que aquilo que somos em nós mesmos.
Somos todos diferentes. Se nos encontrássemos e
tentássemos prosseguir numa base meramente
humana, nossas diferenças iriam se conflitar o
tempo todo e criariam dificuldades imensas. Mas,
se procurarmos relegar essas diferenças a
segundo plano e considerarmos o fato de que,
sendo membros do Corpo de Cristo, todos nós
temos algo em comum, e que é este algo em comum
que deve ser a base de nossa relação e avanço,
que deve ser nutrido, defendido e buscado, então
haverá a edificação do Corpo, e o aumento de
Cristo; e este é o caminho da representação.
Vamos deliberadamente rejeitar aquela atitude
que diz: Eu não consigo caminhar com fulano.
Desisto! Vamos dizer: Fulano é um filho de Deus,
há algo de Cristo ali e eu vou me apegar a isto.
Isto, meu amado irmão, faz o aumento, e este,
também, é o caminho da representação.
Eu sei isto, que quando há algum negócio real
para os filhos do Senhor fazerem, se for apenas
dois deles, marido e mulher, ou dois num lugar,
alguma questão real que precisa ser tratada
corporativamente, o inimigo age em cima de todos
os tipos de condições humanas para paralisar
aquilo. Ele está em ação em todo o tempo,
geralmente em vantagem, antes que reconheçamos o
negócio que está para se levantar, ele está
agindo sobre aqueles elementos humanos para nos
separar um do outro, para trazer tensão ao
relacionamento, para criar fantasmas na mente de
um contra o outro, ele mente. E esses fantasmas
parecem tão verdadeiros! Fulano disse uma
coisa, e você percebe como ele disse? Como ele
olhou? — e você dá uma interpretação que não é
verdadeira! O inimigo levanta uma construção;
nada é tão pequeno para ele, e ele está tentando
separar você das pessoas, colocar tensão no
relacionamento, porque há uma questão. Mais cedo
ou mais tarde você será requerido a concordar em
alguma questão, e você não irá conseguir; o
inimigo tem olhado para isto antecipadamente,
lançando sementes de destruição e discórdia. São
coisas reais, e não imaginárias; são frutos de
experiência e observação.
O que estou dizendo é o seguinte: que precisamos
prosseguir no terreno de Cristo, se é para
Cristo ser expresso, e procurar manter distância
deste terreno de judeu e grego, de circuncisão e
incircuncisão, bábaro, cita, etc. Fique naquele
terreno onde Cristo é tudo em todos, agarre-se
neste terreno, e, então, Ele virá. Representação
de Cristo significa identificação com Cristo, e
esta é a única identificação que você e eu
iremos encontrar aqui, a menos que seja
identificação com o diabo. Há somente duas
alternativas.
Quero crer que você não esteja confuso, mas sim
que está tendo vislumbre de luz, e que iremos
reconhecer por que estamos aqui. Estamos aqui
nesta terra como representantes do Senhor. Mas
não é que estamos aqui ou lá, e que Cristo
esteja longe; estamos aqui para sermos vasos nos
quais Ele está, e Ele está aqui porque nós
estamos aqui. Esta é a implicação de nossa
presença. Oh, que isto não possa ser apenas uma
teoria, mas que cada vez mais possa ser um fato,
pelo motivo de vivermos em Espírito, que nossa
presença possa significar a todas as
inteligências invisíveis, como também aos
homens, que Cristo está aqui pelo Espírito. O
Senhor permita que seja desta maneira.
Capítulo 3 – Representação pelo Espírito
Ler:
Lucas 24:46-49; João 20:21-23; Atos 1:8; ASV.
“E disse-lhes: Assim está escrito, e assim
convinha que o Cristo padecesse, e ao terceiro
dia ressuscitasse dentre os mortos, e em seu
nome se pregasse o arrependimento e a remissão
dos pecados, em todas as nações, começando por
Jerusalém. E destas coisas sois vós testemunhas.
E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai;
ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do
alto sejais revestidos de poder.”
“Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja
convosco; assim como o Pai me enviou, também eu
vos envio a vós. E, havendo dito isto, assoprou
sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito
Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados lhes
são perdoados; e àqueles a quem os retiverdes
lhes são retidos.”
“Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que
há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas,
tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e
Samaria, e até aos confins da terra.”
Continuando a nossa questão sobre o grande
pensamento Divino da representação, estaremos
agora especialmente ocupados com a simples
ênfase do lugar do Espírito Santo em relação a
isto.
Em nossas meditações anteriores, vimos este
pensamento Divino como revelado nas Escrituras;
primeiramente Deus fazendo o homem à Sua própria
imagem, conforme a Sua própria semelhança; e,
então, o pensamento plenamente assumido em
Cristo, que é repetidamente declarado ser a
imagem do Deus invisível; e finalmente o
pensamento levado para a Igreja, os eleitos, os
quais devem ser conformados à imagem do Filho,
tudo falando muito claramente desta intenção de
Deus em ser representado, em ser conhecido por
meio da representação.
A Obra Representativa de Cristo por meio do
Espírito Santo
Agora, o Espírito Santo tem um lugar vital em
tudo isso. Quando o Senhor Jesus assumiu
oficialmente esta fase ou função particular de
Sua vida e obra, você sabe que foi então que o
Espírito Santo ficou especificamente em
evidência em Sua vida e ministério. É verdade
que Jesus foi gerado pelo Espírito Santo, e é
verdade que Ele era o próprio Deus, porém, na
obra oficial para a qual Ele veio a este mundo,
a obra do Filho do Homem, que é um termo ou
título representativo, Ele se coloca em posição
de representar o homem, a raça humana. O
evangelho de Lucas, como você sabe, é
particularmente e peculiarmente o evangelho
escrito para a raça humana, como Mateus é o
evangelho para os judeus, e o título particular
de Lucas para Cristo é ‘Filho do Homem’,
representante. Jesus assume o lugar do homem
como Deus pretendeu que ele fosse, a fim de
trazer o homem em Sua própria Pessoa
inclusivamente para o destino designado por
Deus.
Ele, o Homem inclusivo, irá avançar por todos os
estágios do curso do homem para aquele fim
divinamente designado, e, quando finalmente
glorificado e exaltado à destra de Deus, irá
permanecer como representante dessa nova raça,
dessa nova criação. Digo que, como Filho do
Homem, Jesus irá avançar por todos os estágios
do progresso do homem rumo àquele destino
glorioso, pois irá ficar lá como as primícias, o
primogênito entre muitos irmãos. Esta mesma fase
está ligada a este pensamento da representação.
Ele é “a imagem do Deus invisível, o
primogênito de toda criação” (Col.
1:15); representante, primogênito. Assim como os
primeiros frutos da colheita representavam toda
a colheita, e o agricultor pegava aqueles
primeiros frutos e os oferecia a Deus como sinal
de toda colheita que se seguiria, assim Cristo
foi as primícias de toda a criação, e o
primogênito entre muitos irmãos, e Ele ocupa
esta posição à destra de Deus hoje,
representativamente, como sinal de tudo o que
virá. Mas desde o primeiro passo, através de
cada estágio daquele curso rumo a glória, o Seu
caminho se dá por meio do Espírito.
A Cruz, o Primeiro Passo
Em certo sentido, num real e verdadeiro sentido,
o Jordão foi o primeiro passo em direção à
glória. A cruz é sempre o primeiro passo para a
glória; não haverá nenhuma glória se não houver
cruz, e a medida da glória será a medida da
cruz. Vamos deixar este assunto aqui e voltarmos
a ele mais adiante. O Jordão foi o primeiro
passo rumo à glorificação, não apenas a
glorificação de Cristo de forma pessoal, mas a
glorificação do homem, os muitos filhos a serem
levados à glória por meio Dele, toda a colheita
a ser levada à glória por meio Dele, os muitos
irmãos que virão por meio Dele. Digo, num real
sentido, o Jordão foi o primeiro passo rumo à
glória, e no Jordão, como já salientamos, a
idéia predominante é a representação. Uma raça
que não pode ser glorificada deve ser colocada
de lado, a fim de abrir espaço para uma nova
raça que pode ser glorificada. Uma humanidade
que jamais poderá chegar à glória precisa ser
removida do terreno que pertence aquele homem
que pode chegar à glória. Assim,
representativamente no Jordão, no batismo de
Jesus, em Sua morte e sepultamento em tipo, Ele
assume o lugar de uma raça, de uma humanidade,
que jamais poderia ser glorificada, e que é
removida Nele, representativamente.
Na realidade da Cruz, da qual o Jordão era um
tipo, temos essa benção concretizada. Tudo o que
em nós jamais poderá ser glorificado foi
removido. Você está preocupado, obcecado e
perturbado com tudo isto em você que não pode
ser glorificado? Bem, se você tem a Cristo como
seu representante, e tem se mantido em Sua obra
representativa a seu favor, tudo aquilo que
impedia a sua chegada à glória foi removido,
cada pedacinho dele; e Deus está trabalhando
conosco neste terreno. A última fase desta obra
terá a ver com nossos corpos mortais; eles serão
transformados, e feitos semelhantes ao corpo da
Sua glória. Estamos chegando à glória em cada
parte de nosso ser redimido, porque tudo que não
pode ser glorificado foi representativamente
tirado do caminho. Este é, naturalmente, o
terreno para a nossa fé.
Quando Jesus saiu do Jordão, que é o tipo de sua
ressurreição, Ele ocupa a posição de
representante de uma raça que não pode ser
glorificada, e, em certo ponto em Sua vida,
essas duas coisas (morte e glória) foram
trazidas juntas em um só momento. No monte da
transfiguração, Moisés e Elias falavam com Ele
sobre a morte, ou sobre o êxodo que Ele iria
realizar em Jerusalém, e, naquele mesmo
instante, Ele foi glorificado. A morte e
a glória vieram juntas num só momento
Nele. Isto se deu com Ele porque representa
perfeitamente o propósito de Deus. Isto é
representação.
Porém, esta nova criação, este novo homem,
capacitado para chegar à glória, a ser
glorificado, esta nova raça reunida Nele como
seu Cabeça, como sua primícia, como seu
primogênito, somente poderá chegar à glória se
permanecer no terreno da nova criação, no
terreno da ressurreição. O Espírito Santo assume
o controle; e assim, ao sair da água, o céu foi
aberto, e o Espírito Santo, em forma de pomba,
desceu sobre Ele. O Espírito Santo toma conta,
por assim dizer, de toda essa questão de fazer
esta nova raça chegar à glória, de aperfeiçoar
esta nova criação para a glória. Esta é a obra
do Espírito Santo do começo ao fim.
O que foi verdade em relação ao Senhor Jesus
como Cabeça deve também ser verdade em relação a
todo o Corpo, e o Pentecostes é a contrapartida
do lado da ressurreição do Jordão, onde o Corpo,
trazido para o terreno da ressurreição, é
comandado pelo Espírito Santo, a fim de ser
levado através de todo o percurso e estágios de
aperfeiçoamento até a glória. Há uma pequena
frase nas cartas de Pedro sobre “o
Espírito de glória repousando sobre você”.
(1 Ped. 4:14).
Assim, nossa ênfase está aí, este é o objeto do
Espírito Santo, esta é a necessidade para o
Espírito Santo; pois nada é possível em relação
a todo plano Divino, separado do Espírito Santo.
A Atestação do Pai a respeito do Filho
Mas há uma segunda parte, outro lado ou aspecto
disso. O Espírito certamente vem, a unção toma o
seu lugar, mas acima da unção a voz Divina é
ouvida do céu dizendo: “Este é o meu Filho
amado em quem me comprazo” (Mat. 3:4).
Com a unção vem a atestação. Deus está chamando
a atenção para uma Pessoa, está indicando
Alguém, está apontando para uma Pessoa, e em
efeito está dizendo: Este é o meu representante!
Você sabe que no monte da transfiguração, quando
Pedro em sua impulsividade seria achado ditando,
aconselhando, sugerindo o que deveria ser feito,
a voz, aquela mesma voz, veio novamente:
“Este é o meu Filho amado em quem me comprazo; a
Ele ouvi”; submetendo tudo a Ele:
governo, direção. “A Ele ouvi”. É
a voz da atestação do céu ali no Jordão e no
Monte, individualizando a Jesus como
representante de Deus. Novamente temos
representação.
Agora, essas duas coisas seguem juntas. São
apenas dois aspectos de uma mesma coisa, porque
a unção significa que o próprio Deus se
compromete com esta Pessoa. Este é o significado
da unção. Como estávamos dizendo em nossa
meditação anterior, onde a unção está você se
encontra, e trata com o próprio Deus. “A
ninguém permitiu que os oprimisse, e por amor
deles repreendeu reis, dizendo: Não toqueis os
meus ungidos, e aos meus profetas não façais
mal.” (1 Cron. 16:21,22; ASV). Você terá
que tratar com Deus se tocar no ungido ou
naquele sobre o qual repousa a unção, ou
naqueles que são ungidos. Deus se compromete com
o ungido. Por isso, se Deus está comprometido,
envolvido, relacionado com alguém, este é
representante, e é como se o próprio Deus
estivesse agindo ali. O Espírito Santo
constituiu aquele vaso de representação por meio
de Sua vinda e presença; Deus está presente.
Isto significa que todos os direitos da
soberania Divina foram assumidos pelo Espírito
Santo e trazidos para dentro daquele que está
ungido, aquele que é habitado pelo Espírito.
Todos os direitos da soberania Divina estão no
Espírito Santo, e, se o Espírito Santo está
presente, está presente com todos os direitos da
soberania Divina.
Realmente gostaria que você tivesse um vislumbre
disso, pois sinto que isto seja tremendamente
importante para nós como membros do Corpo de
Cristo, habitados pelo Espírito Santo. Nós
apenas tocamos vagamente neste assunto no dia de
ontem, e sinto que há algo mais a ser dito sobre
isso.
A Autoridade do Espírito Santo
Quando esta contrapartida do Jordão, morte,
ressurreição, o céu aberto, a descida do
Espírito e a unção, quando a contrapartida disso
ocorre no Pentecostes, o Espírito Santo vem em
termos de autoridade Divina para permanecer
presente, e isto é algo que você e eu temos que
reconhecer, a que temos que nos ajoelhar
absolutamente. Pode ser que não tenhamos
reconhecido suficientemente que receber o
Espírito Santo da unção significa que a
autoridade sobre nossas vidas é tirada de nossas
mãos. Você tem pedido pelo Espírito Santo? Você
tem orado para ser cheio com o Espírito Santo?
Você tem reconhecido a tremenda importância da
habitação do Espírito Santo? Se ainda não,
então, naturalmente, isto será responsável por
todos os tipos de fraqueza, carências, retardo
no crescimento, falta de poder no serviço,
ineficiência na vida, e uma porção de outras
coisas. Mas, se você tem visto a tremenda
importância da presença do Espírito Santo em
poder, em plenitude na vida _ e eu realmente
creio que você tem visto _ então, tendo buscado
o Espírito, você tem, consciente ou
inconscientemente, intencional ou não
intencionalmente, pedido que toda a autoridade
de sua vida seja tirada de suas próprias mãos,
para que ela possa ser inteiramente transferida
para outra pessoa; e isto envolve você mais do
que você imagina. Este é o ponto que tentamos
abordar ontem.
No dia de Pentecostes, o Espírito Santo veio em
termo de autoridade, e assumiu o comando. E,
fazendo isso, fez com que os homens dissessem
coisas de importância das quais aceitaram dentro
do limite de seus próprios entendimentos, é
verdade. Sim, eles não se opuseram às coisas que
disseram, até o ponto que podiam entendê-las,
porém, embora concordassem com elas, apenas
foram até o limite de suas apreciações, do
entendimento que tinham sobre elas. Mas o
Espírito Santo queria significar infinitamente
mais do que aquilo, e logo esses mesmos homens
que estavam concordantes dentro do limite de
seus entendimentos e apreciações das coisas que
diziam, foram confrontados com o fato de que as
coisas que eles haviam dito envolviam-os muito
mais do que tinham compreendido. E esta é uma
questão prática da autoridade do Espírito Santo.
Pedro estava muito concordante, conforme a sua
compreensão, conforme o alcance de sua
apreciação, a respeito do que o Senhor tinha
dito sobre “aos confins da terra”;
... “a todos os que estão longe, e a
todos quantos o Senhor nosso Deus chamar”
(Atos 2:39). Porém, não irão se passar muitos
dias antes que ele se choque contra isto,
exatamente aquilo que ele próprio tinha dito, e
venha a descobrir que aquilo significava muito
mais do que ele imaginava, quando chegou em
Cesaréia, na casa de um gentio. “a todos
quantos estão longe, e a tantos quantos o Senhor
nosso Deus chamar!” Pedro diz: `Não,
Senhor’; e aí acontece uma batalha. Mas você
percebe que o Espírito Santo, quando faz Pedro
terminar a tarefa, chega naquela situação de
forma poderosa. É uma questão da qual o Espírito
Santo está encarregado, e o veredicto, a
conclusão da questão toda é o relatório de Pedro
em Jerusalém _ “Quem sou eu para que pudesse
resistir a Deus?”. “Portanto, se Deus lhes
deu o mesmo dom que a nós, quando havemos crido
no Senhor Jesus Cristo, quem era então eu, para
que pudesse resistir a Deus? “ (Atos
11:17). Aí está um homem tendo que se curvar
diante da autoridade do Espírito Santo.
Agora, o que queremos certificar nesta questão?
O seguinte: Se você e eu realmente chegarmos ao
lugar onde o Espírito Santo como Senhor se torna
residente em nós, seremos confrontados com esta
grande lei da autoridade absoluta do Espírito
Santo para fazer o que quiser conosco, e para
nos levar completamente além de nossas próprias
intenções, de nossos preconceitos, de nossas
tradições, de toda nossa história passada, para
nos levar além de nosso presente alcance mental
daquilo que agora concebemos ser o certo e o
errado. Nós todos temos um horizonte mental fixo
hoje. Neste momento todos nós colocaríamos certo
limite e uma fronteira naquilo que consideramos
ser o certo e errado, ao que podemos e não
podemos fazer. Movemo-nos dentro de nossa
própria interpretação mental das coisas, e este
é o nosso limite.
Nós iremos limitar o Espírito Santo a isto? Se
assim o fizermos, jamais chegaremos ao propósito
final de Deus. O que iremos descobrir é que o
Espírito Santo requer de tempo em tempo que nos
livremos de nossas cercas, e deixemos que Ele
nos leve completamente para fora de nossas
próprias fronteiras de aceitação e
interpretação. Ele irá requerer isto, este é o
seu direito soberano, e o nosso progresso em
direção ao propósito final de Deus, e, preste
atenção, a medida na qual podemos
verdadeiramente ser representantes de Deus aqui
depende inteiramente desta aptidão de
ajustamento à nova revelação ou indicação dada
pelo Espírito Santo, de nossa capacidade ou
sensibilidade ao ajuste que o Espírito irá nos
mostrar.
Parece-me que muito freqüentemente o Senhor liga
nossas vidas a uma emergência, a uma crise, a
fim de trazer algo novo. O fato é, naturalmente,
que nós não iremos nos mover para algo mais em
relação ao Senhor, exceto se formos compelidos.
É assim que funciona, e por melhor e mais
precioso que possa ter sido o agir do Senhor
para conosco, revelando-nos, comunicando-nos, o
melhor que Ele já nos deu terá que ser trazido
ao lugar onde não mais satisfaça as nossas
necessidades de forma mais plena, a fim de que
possamos nos mover para algo maior. Este é o
caminho do progresso. Talvez tenhamos tido
revelações maravilhosas, maravilhosos
tratamentos do Senhor conosco; coisas
aconteceram em nossas vidas que ofuscaram tudo o
que passou, e sentimos que alcançamos a
plenitude. Mas não, existe algo, além disso.
Naquele momento isto era o mais longe que
podíamos chegar, mas nossa experiência e nossa
história nos diz que aquelas coisas que eram
tão grandes, tão maravilhosas, tão
interessantes, precisam se tornar como se não
fossem tudo aquilo, com um crescente senso de
nova necessidade, nova exigência, e nova crise
se levanta na qual temos que conhecer algo
maior. E o Senhor força situações como essa. É o
caminho do alargamento, do crescimento.
Parece-me que este é o Seu único modo prático de
nos manter avançando. Mas é a autoridade do
Espírito Santo trazendo essas crises e fazendo
essas exigências; e suponho que esta será a
nossa experiência até o fim. Se realmente
estamos debaixo do governo do Espírito Santo,
nunca alcançaremos o fim aqui, haverá sempre
algo mais adiante; mas, para chegarmos lá, temos
que perder o contentamento com aquilo que temos.
Uma das marcas trágicas do cristianismo é a
medida de contentamento com este cristianismo
evangélico. A grande necessidade hoje é de um
senso de necessidade por toda parte, entre os
cristãos e no mundo, de um senso desesperado de
necessidade. A igreja nunca irá crescer até que
este intenso senso de necessidade por algo maior
cresça. Os homens nunca chegarão a Cristo até
que tenham um senso real de necessidade.
O Novo Testamento está cheio desta obra do
Espírito Santo, agindo soberanamente para
precipitar situações nas quais um novo
conhecimento do Senhor se torne indispensável
para a vida, para a própria existência, e,
quando isto é trazido, o caminho é aberto para o
Senhor revelar a Si mesmo; e isto é o
crescimento da representação. O Espírito Santo,
em Sua soberania, nos prende em seu método passo
a passo; Ele nunca age mecanicamente, Ele age
somente em vida. Assim você vê, no livro de
Atos, os Atos do Espírito Santo, que Ele sempre
mantém os servos do Senhor com a comida
racionada em relação ao que Ele estava fazendo.
Ele nunca colocava a autoridade nas mãos deles,
mas sempre a retinha em Suas próprias mãos. No
livro de Atos você não consegue ter um programa
missionário; não há programa lá. Os homens,
naturalmente, colocaram hoje o Novo Testamento
dentro de um programa missionário, embora de
fato não houvesse.
O Espírito Santo Direcionando o Serviço
Isto é visto na escolha e no envio dos
representantes de Cristo. Você vê isto em
Antioquia; Paulo e Barnabé estão lá, e, durante
todo um ano, os homens com os quais um grande
destino estava ligado por pré-ordenação tiveram
que permanecer lá debaixo das mãos de Deus, e
aguardar o tempo de Deus. Isto especialmente
ocorreu no caso de Paulo, conhecido de Deus
desde toda a eternidade como o homem de uma
tremenda missão. Mas mesmo assim, embora avisado
pelo Senhor de sua missão desde o início _
“porque te apareci por isto, para te pôr por
ministro e testemunha” (Atos 26:16) —
ele não pode tomar a autoridade de sua chamada
missionária em suas mãos e executá-la. Ele
precisou entrar naquela companhia em Antioquia,
aquela representação do Corpo, e esperar pelo
Espírito Santo. Ele esperou doze meses lá em
Antioquia, talvez um pouco mais, e, então, o
Espírito Santo disse: “Separai-me para mim
a Saulo e Barnabé para a obra que os tenho
chamado”. (Atos 13:2). O Espírito Santo
está segurando esta questão da obra da vida
deles em suas mãos como soberano. Eles não
puderam decidir quando assumi-la, mesmo que
pudessem saber em seus corações muito
definidamente qual obra era.
Então, quando eles partem, não lhes é permitido
sentar e esboçar uma linha de ação, um esquema,
um plano, um cronograma. Seguem debaixo da
soberania do Espírito. Chegam a certo ponto e
Paulo pensa em Éfeso, e sua mente natural
consagrada ao Senhor começa a trabalhar. Éfeso é
uma grande cidade, uma cidade muito influente.
Se apenas ele pudesse chegar a Éfeso e plantasse
lá a igreja, e fizesse com que as coisas
andassem, já seria algo incrível! Sim, penso que
pela causa do Senhor deveríamos ir a Éfeso! Mas
eles não tiveram permissão do Espírito para
pregar a Palavra na Ásia. Bem, Bitínia é um bom
lugar, um lugar muito importante, e se mostra
uma grande porta de oportunidade: seria melhor
irmos para Bitínia! Não, o Espírito Santo não
lhes deu permissão para irem a Bitínia; e,
enquanto permaneciam onde estavam, sem permissão
para pregar na Ásia ou Bitínia, Paulo teve uma
visão à noite, um homem da Macedônia, e a Europa
é indicada primeiro. Éfeso e Bitínia irão vir na
ordem do Espírito, no tempo soberano do
Espírito, e o tempo soberano do Espírito ainda
não era naquela direção. O tempo soberano do
Espírito é no momento em outra direção, Europa,
Filipos. (Atos 16:6–10).
Produtividade e Vitalidade Relacionados à
Soberania do Espírito
Agora, tudo isto é apenas tomar certos
fragmentos para indicar e enfatizar que o
Espírito Santo, vindo em um vaso, vem em termos
de absoluta soberania Divina, para tirar o
controle de nossas vidas das nossas mãos, e isto
porque o Espírito Santo jamais pode vir e fazer
a sua obra até que você passe pelo Jordão. Até
que a cruz seja um fato, um fato realizado, não
pode haver nenhum governo soberano do Espírito
Santo, realizando todo o programa Divino; pois a
cruz significa despojamento do corpo pecaminoso
da carne. Paulo é tão consagrado a Deus, a
Cristo, como jamais um homem foi nesta terra,
com uma exceção, até mesmo Paulo com sua
absoluta consagração ao Senhor não pode assumir
este programa missionário e segui-lo por si
mesmo. Ele tem que ser um escravo de Jesus
Cristo, tem que ficar debaixo da autoridade do
Espírito Santo, tem que reconhecer quando o
Espírito não permite.
Teria havido, e haveria hoje, muito mais
produtividade se a igreja fosse governada desta
mesma forma. O que aconteceu é que o texto de
Marcos 16:15 – “Ide por todo o mundo”
_ tornou-se um programa que qualquer um pode
adotar à vontade. Tudo o que você tem a fazer é
economizar e adotar o negócio, e ir a todo o
mundo, e pregar o Evangelho. Bem, Deus me livre
que eu possa depreciar qualquer coisa que vise
pregar o evangelho: este não é o ponto. Mas o
que dizer do efeito disso tudo,
comparativamente, após dois mil anos? Metade do
mundo ainda não foi tocado após dois mil anos.
Olhe para a diferença entre os poucos anos
apostólicos, com a área então coberta e o
impacto registrado, e todos os séculos que se
seguiram.
Não é isto um argumento para esta questão, que
você não pode adotar o manifesto e a comissão
missionária e ir, e executá-la você mesmo; que
este é um assunto para o Espírito Santo? E,
embora o que estou dizendo possa parecer algo
negativo, eu o tenho como positivo. Quando o
Espírito Santo assume o controle da situação,
Ele irá realizar, mas Ele tem que ser soberano.
A cruz, portanto, abre o caminho para a
soberania do Espírito Santo, e a cruz significa
que até mesmo mentes naturais consagradas têm
que ter algo mais do que a sua própria
consagração como fator governante. Assim, muitos
dizem ou pensam: Se apenas eu estiver consagrado
ao Senhor, então posso fazer tudo aquilo que
vier à minha cabeça que servirá ao Senhor! Oh
não, este pode ser zelo, mas sem entendimento; e
isto pode ser desperdício.
A Soberania do Espírito Santo em Relação ao Seu
Perfeito Conhecimento
Não vamos nos delongar mais na questão, mas
apenas tocar o seu âmago: o Espírito Santo exige
exercer o direito de autoridade absoluta em
nossa vida, tirando a autoridade de nossas
próprias mãos; e isto, naturalmente,
progressivamente. Embora possamos conhecer muita
coisa, não conhecemos tudo que está na mente do
Espírito. O Espírito de Deus nunca cresce, Sua
mente não aumenta. Você nunca pensa sobre a
mente do Espírito crescendo, você nunca pensa em
Deus crescendo. Digo isto reverentemente. O
Espírito Santo jamais obtém um novo
conhecimento. Desde o princípio, o Espírito
Santo possui todo conhecimento que pode ser
obtido, o seu conhecimento é perfeito.
Este é o significado daquela maravilhosa palavra
no livro de Apocalipse, onde tudo está consumado
e trazido ao seu final pleno: “Diz aquele
que possui os sete Espíritos de Deus”.
(Apoc. 3:1). É um termo figurativo ou simbólico
que significa que Ele possui o conhecimento
perfeito, a perfeição do conhecimento
espiritual. Ele tem isto desde o princípio, e
digo novamente, o Espírito Santo jamais adquire
um fragmento sequer de novo conhecimento na
medida em que avança; Ele o tem desde o
princípio. Quando Ele veio, tinha tão completo
conhecimento das coisas como sempre o terá. O
conhecimento do Espírito é absolutamente final,
mas em relação a nós mesmos: o que conhecemos?
No muito conhecemos um mero fragmento daquilo
que o Espírito Santo conhece e quer significar.
Isto quer dizer que vamos obter muito mais
conhecimento na medida em que avançarmos.
Podemos apenas conseguir este aumento de
conhecimento se estivermos preparados para
aprender as coisas tudo de novo.
Você compreende o que eu quero dizer? Não há
esperança a não ser que o Espírito Santo possa,
em sua soberania, apenas nos mostrar que não
conhecemos nada, e que temos tudo a aprender, e
que Seu conhecimento é infinito e sempre estará
milhas à frente de nós, e, por isso, um
ajustamento de nossa parte será necessário cada
vez mais. Você chegou numa posição a respeito da
verdade, a respeito da luz, a respeito dos
caminhos de Deus, a respeito da mente do Senhor,
a respeito do que você deve e não deve fazer, e
daquilo que jamais irá fazer? Você chegou a uma
posição fixa? Se for este o caso, você fechou a
porta para o Espírito Santo. Ninguém que crê no
Espírito Santo poderia possivelmente dizer: Eu
jamais irei fazer isto! Pedro disse isso: Jamais
comi coisa imunda! Jamais irei comer! Esta foi a
sua posição, mas a soberania do Espírito Santo
mostrou que tudo sobre o propósito de Deus em
seu apostolado dependeu de ele abandonar aquela
posição fechada: e ele também podia até citar a
Escritura a fim de defender sua posição! Isto
não importa.
Uma das coisas notáveis sobre o Novo Testamento
é o desbloqueio que ele dá para as
interpretações do Velho Testamento. Não importa
que os judeus e judaizantes que perseguiam Paulo
por toda a parte pudessem dizer: Este homem fala
muita coisa sobre o Velho Testamento que não
está lá, este homem está colocando construções
sobre o Velho Testamento que não cabe, ele tira
do Velho Testamento algo que não está lá! Olhe o
que Paulo diz sobre as coisas do Velho
Testamento. Não consigo ver que significa isto
no Velho Testamento. Parece que ele está usando
o Velho Testamento e colocando uma construção
que não significava aquilo.
É algo extraordinário como no Velho Testamento é
dado um significado que você jamais poderia
descobrir sem o Novo Testamento. O Espírito
Santo sabe o que diz, e Ele diz muito mais do
que os homens jamais têm visto. A própria
Escritura que você cita pode significar mais do
que você jamais pensou que ela significasse.
Penso que isto é suficiente para mostrar a você
quão necessário é para nós estarmos numa posição
onde estejamos realmente abertos ao Senhor, e
realmente debaixo do governo do Espírito Santo,
prontos para deixarmos a nossa posição mais
estimada, se o Espírito Santo mostrar um novo
caminho. Dizer isto não é dizer que temos que
ficar inconstantes e levados por derredor por
todo vento de doutrina e astúcia dos homens, ou
que iremos simplesmente seguir qualquer coisa
que vier.
Não penso que o Espírito Santo alguma vez negue
a Si mesmo. O que Ele disse uma vez não irá
contradizê-lo. Porém, o que possa parecer
contradição talvez seja que o Espírito Santo
esteja transcendendo aquilo que tenha dito
anteriormente. Assim como um milagre não é uma
violação da lei natural, mas um transcender da
lei natural, assim também o Espírito Santo nunca
irá contradizer ou violar alguma coisa que tenha
dito antes, mas irá transcendê-lo e, quando
assim o faz, pode parecer uma contradição. Pode
ser que você seja capaz de dizer: Estou muito
certo de que o Senhor tenha me conduzido em
certo tempo numa certa direção, mas Ele tem me
levado para outra direção agora! Isto não é
necessariamente uma contradição, é uma
transcendência, um mover. Naquele tempo você não
podia ter dado um passo mais adiante, Ele podia
apenas levá-lo até ali. Mas em Sua própria
mente, aquilo era apenas um passo que iria levar
a outro, e ainda há mais outro, e você deixa um
monte de coisa para trás em tal processo. Mas,
oh, o ponto é que o Espírito Santo será capaz de
fazer aquilo que pretende.
Até mesmo no caso do Senhor Jesus foi desta
maneira. Ele tinha uma mente natural e uma
natureza sem pecado, porém Ele não usava aquilo
separado de Seu Pai, e, se Alguém com uma mente
natural sem pecado fazia isto, o que dizer de
nós? Quanto mais necessário é para o Espírito
Santo ser soberano em nosso caso. Tudo a
respeito do poder está nesta direção: “E
recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito
Santo”. (Atos 1:8).
A Ameaça da Mente Natural
Penso que podemos ficar com este simples exemplo
por ora, principalmente esta necessidade do
Espírito Santo ser soberano. Ele deve. Há boas
pessoas, pessoas piedosas, que não vêem, e não
irão concordar, e surge o problema: Oh, eles são
piedosos, são consagrados, têm vivido para Deus
por muitos anos, e, contudo são tão contrários a
certas coisas que parecem ser tão evidentemente
à vontade do Espírito; e essas pessoas negam.
Qual é a explicação? Bem, pode haver várias
explicações, mas sugiro que esta seja uma
explicação possível em muitos casos,
principalmente que a mente natural jamais
conheceu a cruz; sim, a mente natural
consagrada. Não estou falando da mente natural
ímpia. A mente natural consagrada nunca conheceu
a cruz. Nossa própria mente é ainda nossa mente,
é o nosso julgamento, mesmo após termos sido
salvos. O que dissemos sobre Paulo, e Éfeso, e
Bitínia, e outros casos, é verdadeiro sobre as
pessoas mais consagradas. Elas ainda têm uma
mente a que podem seguir que não é a mente do
Espírito. A mente do Espírito está agindo numa
outra direção em relação à delas. Elas seguiriam
este caminho pelo Senhor. Oh, tão devotos ao
Senhor, é tudo pelos interesses do Senhor; elas
seguiriam este caminho, mas o Espírito está
tomando um outro curso.
Sobre o quê, toda questão repousa em tal
ocasião? Sobre se a cruz foi plantada
suficientemente em profundidade naquela vida
quanto a tirar a soberania da vontade de suas
mãos, para que o Espírito seja soberano. Isto é
algo muito importante. Você está seguro de que a
soberania de vontade foi tirada de suas mãos e
passada para as mãos do Espírito Santo, e que é
a soberania do Espírito que está governando, e
que não é meramente o caso de você estar seguro
de si mesmo, fixado em sua própria convicção
sobre algo? Você pode ser um filho de Deus muito
devoto, e, contudo, este pode ser o seu caso. É
uma possibilidade terrível de o Espírito não ser
soberano em muitos filhos de Deus devotos,
devido às suas próprias vontades ainda serem
soberanas. Não há o que fazer neste caso; é um
beco sem saída, é uma porta fechada. Se iremos
estar aqui naquela representação crescente do
Senhor, temos que estar na mesma base que o
Senhor estava. Isto para dizer que, do primeiro
ao último passo é o Espírito quem deve ser
soberano, e isto pelo poder da cruz.
Capítulo 4 – A Representação é a essência do
Serviço
[Nota: No fim do capítulo 3 da revista
AWAT estavam as palavras `a ser continuado’,
porém nenhum capítulo mais foi publicado.
Contudo, nos manuscritos que foram deixados
desses capítulos faltantes, foram achados e
estão aqui incluídos como capítulos 4-6.]
“Diziam outros: Estas palavras não são de
endemoninhado. Pode, porventura, um demônio
abrir os olhos aos cegos? E em Jerusalém havia a
festa da dedicação, e era inverno.”
(João 10:21-22).
“Mas recebereis o poder do Espírito Santo, que
há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas,
tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e
Samaria, e até aos confins da terra. E, quando
dizia isto, vendo-o eles, foi elevado às
alturas, e uma nuvem o recebeu, ocultando-o a
seus olhos."
(Atos 1:8-9).
Temos sido levados a estar ocupados com o
pensamento Divino da representação: O
Senhor presente e conhecido por meio da
representação. Vimos que este pensamento Divino
está reunido em plenitude na pessoa do Senhor
Jesus. Todos os meios de representação do Velho
Testamento, fossem eles pessoais, no caso dos
profetas, reis e sacerdotes, fossem na linha do
testemunho, de Abel em diante, ou fossem em
tipos, símbolos, sinais, tudo apontava para
Cristo e estava reunido Nele como o
representante consumador de Deus. Então vimos
como este pensamento Divino na ascensão de
Cristo foi transferido no e por
meio do Espírito Santo à Igreja e aos seus
membros como um Corpo, o próprio significado do
que é representação, e que a Igreja com todos os
seus membros, espalhados como possam estar por
toda a terra, simplesmente entra em toda esta
sucessão espiritual a fim de perpetuar este
pensamento Divino de estar aqui para representar
o Senhor. Falamos muito sobre isto ao longo de
muitas diferentes linhas.
Agora vamos nos ocupar com outro aspecto
específico desta questão de representação para
Deus, e isto é representação como sendo o
próprio coração e essência do serviço. Em nossa
meditação anterior, vimos que a questão toda da
representação foi assumida pelo Espírito Santo,
e que este pensamento Divino, do começo ao fim,
cada passo e estágio, está nas mãos do Espírito
Santo. O que temos a dizer sobre serviço
imediatamente se liga a isto e resulta disso. Há
muitas idéias sobre o serviço cristão, sobre o
serviço de Cristo, sobre a obra de Deus. Será
bom se procurarmos realmente nos ajustar à
natureza essencial do serviço, colocando de lado
todas as nossas noções sobre esta matéria e
realmente chegar ao coração da questão.
Qual é o âmago e a essência do serviço do
Senhor, da obra do Senhor? A resposta é
encontrada na seguinte palavra _
representação. Isto pode incluir muitas
coisas; pode cobrir muito terreno, mas pode ser
de fato uma questão muito simples. Significa
simplesmente o seguinte: a nossa estada neste
mundo implicando a Pessoa do Senhor; o próprio
fato de que estamos aqui a fim de levar a
implicação da Pessoa de Cristo. Isto carrega
muito positivamente o fato de que o Senhor Jesus
não partiu deste mundo, não deixou esta terra,
mas que, embora na glória, também está aqui na
terra de forma muito definitiva e positiva. Pode
muito freqüentemente ser quase impossível falar
muito sobre isto. Agora, não faça disso uma
desculpa para o silêncio. Algumas vezes é
impossível dizer muito, outras vezes é
impossível fazer muito, para engajar nas várias
formas de atividades em que é chamado o serviço
do Senhor.
Pode haver limitações muito severas e
dificuldades podem estar por todos os lados.
Isto não afeta necessariamente a questão do
serviço do Senhor, absolutamente; este não é o
ponto. Na primeira instância, o serviço do
Senhor não é a quantidade dita, nem o número de
atividades em que estamos engajados. O serviço
do Senhor é uma questão de SER, em
primeira instância. Esta tremenda implicação é
desempenhada efetiva e positivamente num vaso,
numa testemunha, num ser; a implicação de que
Deus está aqui, o Senhor está aqui, o Senhor
está aqui neste mundo, o Senhor está no meio, o
Senhor está acessível, o Senhor está perto, o
Senhor é real, o Senhor está vivo, o Senhor está
disposto, está pronto, o Senhor está à mão _
tudo isto como uma implicação multifacetada de
nosso estar na terra. Este é o serviço do
Senhor. Este é o próprio coração e essência do
serviço.
O Espírito Santo _ o Espírito do Serviço
Agora, precisamos dissecar isto e procurar
compreender o que significa. Dissemos que o
Espírito Santo vem para constituir a igreja na
base do ‘Cristo está aqui’. Da mesma
forma como no Jordão o Espírito veio sobre o
Senhor Jesus, e a partir daquele momento
constituiu-O como representante de Deus de forma
pública e mais definida, assim também Ele veio
no Pentecostes para constituir o Corpo de Cristo
nessa mesma base, como sendo a continuação
daquela representação. O Espírito Santo veio
para constituir a representação.
Nesta meditação nós voltamos ao seguinte: que o
Espírito é, muito decidida e positivamente, o
Espírito do serviço. Isto pode ser um começo
muito simples, mas nos fará bem se lembrarmos
disso. Sempre tem sido o caso de que, quando o
Espírito Santo realmente obtém o seu lugar numa
vida, esta mesma vida muito rapidamente passa a
ser governada e dominada pelo Espírito do
serviço, e sinto que algo deve estar errado
se um cristão alguma vez perder o Espírito do
serviço. Se alguma vez você ou eu perdermos este
desejo para com o serviço do Senhor, algo estará
errado. Não estou falando sobre formas de
serviço. Estou falando sobre o Espírito do
serviço.
Assim, descobrimos que, bem no início, o
Espírito Santo criou este desejo para com
o serviço do Senhor; tornou-se a energia mais
poderosa para o serviço. Um tremendo
interesse foi plantado no coração daqueles
que receberam o Espírito, no sentido de o Senhor
ser conhecido pelos outros, de o Senhor ser
levado aos outros, de o Senhor ter o Seu lugar
nas pessoas e em toda a terra _ um interesse
real sobre isto. Esta é uma marca do Espírito
Santo. Há algo errado se isto não for encontrado
em nós; um interesse real de que Cristo possa
ter Seu lugar, de que seja trazido para o Seu
lugar nas pessoas deste mundo. Perguntemos
honestamente agora aos nossos corações _ Isto é
verdade no meu caso?
Não sabemos exatamente por que o apóstolo Paulo,
quando chegou a Éfeso e encontrou certos
discípulos ali, imediatamente apontou esta
questão para eles _ “Disse-lhes:
Recebestes vós já o Espírito Santo quando
crestes?” (Atos 19:2). Não sabemos
exatamente por que ele fez esta pergunta. Pode
ter sido por qualquer uma daquelas coisas que
denunciam a ausência do Espírito. Paulo
simplesmente chegou à conclusão de que aquelas
pessoas não mostravam qualquer evidência de
terem recebido o Espírito: há uma falta disso,
ou daquilo outro. Mas nós podemos tomar a
questão e, se for verdade que você ou eu estamos
destituídos de um interesse real para com o
serviço do Senhor, esta questão precisa ser
feita. Você recebeu o Espírito Santo quando
creu, ou tem você de alguma forma encharcado o
Espírito Santo com outras coisas em sua vida, de
modo que Ele está incapacitado de funcionar
normalmente? Sua função normal será colocar lá
no fundo, como a coisa mais poderosa em nossos
corações, um real interesse de que o Senhor
Jesus alcance o Seu lugar em outras vidas em
círculos cada vez maiores. O Espírito Santo é de
fato o Espírito do serviço, e devemos
verdadeiramente fazer a nós mesmos esta
pergunta, caso não estejamos impulsionados por
este Espírito de serviço. A maior questão
surge: O que aconteceu ao Espírito Santo em
relação a nós? Enfrentemos o fato. Nós não
sabemos o que irá acontecer nos dias futuros.
Pode ser que o Senhor precise de uma nova força
de representantes, pois há uma crescente
demanda, não há dúvida sobre isto.
Se alguns serão ou não enviados especificamente
nesta capacidade, isto não altera este fato, de
que cada um de nós, tendo recebido o Espírito,
deva carregar esta marca do Espírito: um
profundo e perene desejo de servir ao Senhor no
seguinte aspecto: de que Ele possa ser trazido
para o seu lugar em tantas vidas quanto seja
possível. O Espírito do serviço. Lembremos
disto. Tudo irá ter o seu começo a partir disso.
Pode ser que não haja um interesse adequado, uma
real paixão em servir ao Senhor. Agora,
honestamente, você irá responder ao Senhor em
seu próprio coração sobre esta questão? Faça
você mesmo à pergunta: - Tenho eu, acima de
todos os interesses na vida, um desejo em servir
ao Senhor? Não é: ‘como vou servir o Senhor?’.
Não é se vou largar tudo o que estou fazendo
agora para ser um ministro, ou missionário. Não
estou falando disso. Estou falando sobre o
espírito do serviço, e a coisa é: Estou eu,
acima de tudo, interessado no serviço do Senhor,
em servir ao Senhor? Pode ser que eu vá servir
nesta linha, nesta capacidade, ou em outra; isto
não importa. O assunto é servir. Acima de todas
as outras coisas que eu faça, embora possa fazer
muita coisa, que o serviço ao Senhor esteja me
controlando, esteja me dominando. É servir ao
Senhor; que minha vida realmente sirva o Senhor.
Eu não vou servir ao mundo, não vou servir a mim
mesmo, minhas próprias ambições ou reputação. É
ao Senhor e o seu serviço. Suporte este apelo,
pois o Senhor sabe por que Ele está dando esta
ênfase.
Eu simplesmente repito aqui aquilo que está tão
claro como à luz do dia quando você chega ao
Novo Testamento, e olha para o fato da vinda do
Espírito Santo: que Ele produz um grande
interesse no sentido de que o Senhor Jesus possa
ser servido. Ninguém pode fugir disso.
A Natureza do Serviço
Isto sendo verdade, o fundamento do serviço, que
o Espírito Santo é o Espírito de serviço, e que
aqueles que têm o Espírito Santo são governados
por um espírito de serviço e que você realmente
não pode ter uma vida cheia do Espírito sem um
real interesse pelo serviço do Senhor, e sendo
assim, podemos prosseguir a fim de ver qual a
natureza do serviço. O que o Espírito Santo faz
para realizar o serviço? É aí, talvez, onde
algum ajuste seja necessário. Estou muito certo
que, em geral no cristianismo evangélico, um
ajustamento seja necessário nesta questão. Em
primeiro lugar o Espírito Santo não faz obreiros
oficiais, isto é, Ele não faz missionários
oficialmente; Ele não faz ministros
oficialmente; Ele não faz oficiais como tais, em
primeiro lugar. Pensamos sobre a entrada para a
obra do Senhor e, imediatamente obtemos certas
formas e modelos de serviço. Pensamos sobre um
missionário, isto é, uma classe, um tipo
particular de pessoa; um ministro, isto é, de
novo um tipo particular de pessoa. Ele é
distinto de todas as demais pessoas em várias
maneiras. Você pode dizer que ele é um ministro,
ele chama a si mesmo de ministro, ele é
diferente. Isto é uma coisa oficial; ou pensamos
em muitas outras formas de obra cristã oficial
como serviço ao Senhor, mas o Espírito não
começa aí, absolutamente.
O que o Espírito Santo faz é formar pessoas. Ele
constitui representantes, Ele trata com
indivíduos. Ele não lhes dá, em primeiro lugar,
algo para falar; Ele faz algo dentro deles, e a
partir daí é que vem, então, toda a fala deles.
Ele não lhes diz o que fazer; Ele trabalha
dentro deles e, então, eles vão e executam
aquilo; o negócio vem para fora, é resultado
espontâneo de algo realizado dentro deles. E,
onde isto não é verdade, você tem todo tipo de
posições falsas e artificiais. Muitos jovens,
homens e mulheres, estão prontos para largar o
emprego e se tornarem missionários. Há algo
romântico nisto. Eles poderiam servir o Senhor
muito melhor se você os colocasse no coração de
Timbuktu. Mas aqui eles estão no coração de uma
necessidade premente, e não estão servindo ao
Senhor, absolutamente. Isto é falso e
artificial. O Espírito Santo não faz isto. O
Espírito Santo faz testemunhas ou representantes
— e, se você não é um representante onde você
está, não pense que mudando para algum
território estrangeiro, onde as pessoas sejam
pagãs, que você irá ser um representante lá. Não
funciona desta maneira, não debaixo do regime do
Espírito Santo.
Somos representantes constituídos e, quando
somos representantes, então o Espírito Santo
dispõe de nós e nos coloca aqui ou ali, onde Ele
quer. Em Sua soberania Ele indica o lugar, mas
não designa oficiais, Ele designa pessoas. Um
simples oficial representa absolutamente muito
pouco, e o Senhor sabe que Geazi pode ser um
servo oficial do profeta, que pode cuidar do
bastão do profeta, e, em sua capacidade, pode
entrar com sua insígnia de oficial no quarto de
morte, onde jaz o corpo, e pode manipular a
insígnia, colocando-a desta ou daquela forma,
porém nada acontece. A mulher percebeu as
intenções de Geazi e disse: Eu não vou com você,
vou aguardar o profeta! Quando o profeta chega,
na condição de homem ungido de Deus, deitou-se
sobre o rapaz, identificou-se com o rapaz de uma
forma vital, que foi literalmente trazido de
volta da morte para a vida. Isto não é algo
oficial, é algo vital, é uma pessoa (2 Reis
4:17-37).
“Por que não pudemos nós expulsá-lo?”
disseram os discípulos após aquele infame
fracasso ao pé do Monte da Transfiguração (Mat.
17:19). Bem, talvez não possamos dar uma
resposta a isto diferente daquela dada pelo
Senhor, mas talvez eles tivessem tentado a coisa
de uma forma oficial: Nós somos discípulos de
Cristo! Eles, evidentemente, tinham feito uma
tentativa de expulsar aquela casta de demônio.
Porém o Senhor disse, em efeito: A coisa precisa
ser feita de forma vital, e não de forma
oficial. Vocês não podem fazer isto simplesmente
por ostentarem o nome de discípulo, vocês
precisam ser uma representação Divina!
Esses são princípios do serviço. O Senhor faz
pessoas, faz homens e mulheres, o Espírito Santo
faz isto. Ele não faz oficiais. O serviço do
Senhor é fundamentalmente pessoal e surge
daquilo que o Senhor faz em nós, e isto se
reporta a Cristo vindo para a situação por nosso
intermédio. Estou certo de que nenhum de nós
desejaria alguma coisa a mais do que isto: que a
nossa própria presença pudesse significar em
influência e em efeito a presença de Cristo.
Todos os tipos de perigos estão associados a
isto, pois você sabe quão tolas as pessoas são,
que imediatamente após o Senhor fazer algo
através de um canal, de um instrumento, as
pessoas começam a fazer algo destas pessoas.
‘Oh, vamos chamar fulano, se tão somente fulano
vir’, e começam a fazer algo daquele vaso, e da
próxima vez a coisa não acontece. É o Senhor, e
Ele é muito zeloso, e você jamais pode tomar
algo por certo. Você tem que reconhecer o tempo
todo que é o Senhor, que este é o serviço do
Senhor. Este é o porquê de ser tão necessário
que as pessoas que realmente trazem Cristo à
situação estejam completamente crucificadas,
que jamais tomem quaisquer glórias para si
mesmas, que jamais permitam que as pessoas as
tornem em ‘peritos’ em questões
espirituais, mas que seja o Senhor. Se não fosse
o Senhor, nada seria possível. Somente um homem
ou uma mulher crucificada pode servir o Senhor
realmente, porque o serviço é trazer o Senhor
para a situação. Tudo é o Senhor.
Há muita história por trás do que acabei de
dizer. Se não estou enganado, esta é a
explicação para todo o sofrimento de Paulo. Se
existiram homens que já trouxeram o Senhor Jesus
para a situação, Paulo foi um deles. Se a
presença de algum homem já significou a presença
do Senhor, a presença de Paulo significou isto.
Porém não havia nada no terreno natural onde
Paulo estivesse interessado, que lhe desse
alguma coisa que pudesse tirar proveito. Se não
estivermos equivocados, a leitura correta da
vida de Paulo é a seguinte: que ele próprio
estava muito freqüentemente inconsciente de
qualquer demonstração da presença de Deus. Se
tivéssemos perguntado a ele, este teria dito:
‘Não, tudo o que estou consciente é da extrema
fraqueza, dependência, necessidade, impotência;
não estou sempre consciente do grandessíssimo
poder de Deus sobre mim, não estou sempre
consciente de estar erguido completamente acima
de minhas enfermidades, de minhas fraquezas, não
estou o tempo todo consciente de tudo isso; se
alguma coisa está acontecendo, está acontecendo
a despeito de todos os tipos de coisas que
incapacitam, que limitam e procuram derrotar e
me destruir; o Senhor está fazendo, apesar de
todas essas coisas!’ Creio que esta foi a
verdadeira história de Paulo. O Senhor o
sustentou.
É o mistério de Cristo. Veja o Senhor Jesus aqui
nos dias de sua carne. Olhe para Ele puramente
ao longo da linha humana. O que você vê? Bem, os
homens não viram nada além de um homem, talvez
um homem muito comum. Evidentemente não há nada
sobre Jesus na condição de homem que
sobressaísse às pessoas, que os fizesse sentir:
Temos aqui um super-homem! Não, nada disso.
Provavelmente eles viram fraqueza. “O
seu parecer estava tão desfigurado, mais do que
o de outro qualquer”
(Isa. 52:14). Eles viram fadiga. Não havia
diferença entre Ele e nós, em relação a sua
humanidade, mas há algo além disso, algo que
você não consegue explicar. Não é natural,
absolutamente, não pode ser explicado por
qualquer outra linha. Há algo a mais aqui. Este
é o mistério de Cristo. É Deus aqui presente
nesta fraqueza.
E o princípio é levado para os seus servos e
para a sua Igreja. Se você procurar qualquer
explicação ao longo de qualquer linha humana,
você não irá encontrar. Você irá encontrar muita
coisa que parece fornecer um fundo para se
perguntar se algo mais irá ser possível, e o
mistério de Cristo é isto, que ele vai e vem
novamente, mas não se livra dessas fraquezas e
limitações humanas. A coisa prossegue, a
despeito de tudo.
Creio que temos que chegar a alguma aceitação
neste ponto. Tem que ser algo que coloquemos
diante do Senhor. Isto significa o seguinte:
que naturalmente podemos morrer centenas de
vezes, milhares de vezes; de cada ponto de vista
natural, você pode ter um seguro de vida muito
curto, mas nós viveremos até aos setenta,
oitenta, noventa anos de idade _ até Deus dizer:
Chega! Penso que temos que chegar a uma posição
firme sobre isto: que não iremos morrer, se
estivermos aqui representando o Senhor, até o
Senhor dizer: `Chega!’ embora as melhores
opiniões humanas, e toda sabedoria e
conhecimento científico possam dizer, `Não!’
Creio que isto é algo que temos que colocar
diante de Deus. Algumas pessoas muitas vezes já
sentiram que o fim tinha chegado, mas não
chegou. A vida surge mais uma vez, e você não
consegue explicar. Não é histeria absolutamente,
é Deus, o mistério de Cristo. Não vamos nós nos
acomodar a isto e dizer: Isto será assim até o
Senhor dizer: ‘acabou’. Você tem os seus maus
tempos e sente que o Senhor tenha feito isto com
você, que você acabou. Mas não aceite nada até
que o Senhor diga que acabou, e você sabe quando
o Senhor diz que acabou.
A questão é a seguinte: É o que o Senhor é, e
não o que nós somos, o que fazemos,
absolutamente; é o Senhor em evidência. Este é o
serviço do Senhor. O Senhor está vindo por nosso
intermédio desta forma representativa, e tudo é
Ele. Este é o método do Espírito Santo, esta é à
maneira de o Espírito Santo fazer as coisas.
Este é o serviço do Senhor. Oh, não é o nosso
sair e pregar esta ou aquela doutrina, ou todas
as doutrinas de Cristo. É que nós estamos na
vontade de Deus por causa de Cristo, implicando
Cristo, significando Cristo, e, se isto for
verdadeiro, o inferno será provocado, pois o
inferno está sempre determinado a que Cristo não
tenha o seu lugar.
O que estamos dizendo é que a questão não é uma
questão de ofício, mas de qualificação, e
qualificação espiritual, que, por meio da unção
do Espírito, Cristo seja trazido por nosso
intermédio; isto é representação.
Podemos aplicar isto. Naturalmente, a coisa
começa com o individual. Tem que ser verdade em
cada um de nós, individualmente, exatamente no
lugar onde estamos. Este tem que ser o
significado de nossas vidas. Chamamos a nós
mesmos de ‘cristãos’. Bem, Cristo _ o que é
isto? A palavra exata é ‘O Ungido’. Toda
unção no Velho Testamento aponta para Ele e está
reunido Nele: o Cristo. Aponta para o Cristo, o
Ungido. Cristo; então os ungidos, e nós vimos
que a unção significa Deus comprometido, Deus
presente. Isto é o que significa ser cristão. O
que é ser um cristão? — uma pessoa ungida; e
unção significa que Deus por meio de seu
Espírito está presente. Assim, onde quer que
estejamos na vontade de Deus, Deus por meio de
Seu Espírito está presente ali, e isto é para
ser individualmente também, e este é
fundamentalmente o serviço do Senhor.
Representação Universal no Corpo
Mas, naturalmente, o Espírito Santo não para aí.
Este pensamento Divino é um pensamento coletivo,
um pensamento corporativo. Deve afetar e
envolver o individual, mas, derradeiramente,
culmina na representação universal em um só
Corpo, a Igreja; Deus representado na Igreja, e,
então, no Novo Testamento, a única Igreja
universal, o Corpo de Cristo, localmente
representado. Não é simplesmente uma questão de
colocar certo número de pessoas juntas num mesmo
lugar, pessoas que aceitam certos ensinamentos
e, por isso, têm um credo em comum, e se reúnem.
O Espírito Santo está fazendo algo mais profundo
do que isto. A coisa não é primeiramente
externa, objetiva. O que o Espírito Santo está
fazendo é trazer à existência em cada localidade
uma representação corporativa de Cristo, que
nesta companhia Cristo esteja corporativamente
presente. "Onde estiverem dois ou três
reunidos em meu nome ali eu estou" (Mat.
18:20); é Cristo presente. Este é o significado,
este é o propósito, de uma companhia local de
pessoas do Senhor, e há algo, como temos dito,
sobre a expressão corporativa de Cristo que é de
peculiar valor, significado e poder.
Sei que alguns irão descobrir o problema do seu
sofrimento neste mesmo terreno. "Estou sozinho
aqui." Bem, você não está. Em primeiro lugar,
você deve se lembrar do fato de que você é um
membro de um grande Corpo, e, em termos de
coisas espirituais, não há separação. Que
possamos compreender isto que soa como algo um
tanto que abstrato, mas que é algo de tremenda
importância e realidade. Há muita pressão hoje
sendo sentida pelos filhos de Deus; um conflito
terrível, e, quando você procura por uma
explicação, simplesmente não consegue
encontrá-la. Alguns de nós, aqui no norte, temos
sentido uma pressão terrível, um conflito, uma
tensão, como se o inimigo estivesse a ponto de
nos destruir completamente, e olhamos
imediatamente ao nosso redor, para procurar uma
explicação, mas não a temos. Não podemos
realmente dar uma resposta para a questão em
relação ao que significa - isto a partir daquilo
que está imediatamente ao nosso redor. Não é que
algo tremendo esteja acontecendo ao nosso redor,
tão grande que o inimigo está a ponto de nos
matar por causa disso. Qual é a explicação? Digo
a você, com base no Novo Testamento, que:
“se um membro sofre, todos os membros sofrem”
(1 Cor. 12:26), e não há muitos membros do Corpo
ao redor do mundo que estão sofrendo imensamente
nestes dias?
E, se este Corpo que está completamente ligado
por meio de um grande sistema de nervos
espirituais, e o Corpo é uma verdadeira metáfora
ou um pensamento representativo para a Igreja,
não é simplesmente uma organização, não é um
edifício de pedras frias e sem vida, mas um
Corpo que está completamente ligado de um
extremo ao outro por meio do mais vívido sistema
de nervos, de modo que você não pode tocar
qualquer ponto com uma agulha sem afetar o corpo
todo. É desta forma com o nosso corpo físico, e,
se isto for transferido para o Corpo de Cristo,
onde o Espírito Santo é o sistema nervoso que
liga todo o Corpo, não será que aqueles membros
que estão sofrendo tanto não possam estar
registrando seus sofrimentos aos outros membros
do Corpo que são sensíveis, que estão vivos?
Quanto mais sensíveis estivermos ao Espírito
Santo, mais sofreremos com os outros membros do
Corpo. O Espírito Santo quer nos atrair para
sofrermos com eles e por eles, e,
embora não conhecendo, não tendo qualquer
informação quanto ao que esteja acontecendo,
contudo interpretando o significado. Há uma
grande necessidade de nos posicionarmos
firmemente, não somente por nossas próprias
vidas, mas pela vida de muitas outras pessoas.
Não há qualquer dúvida sobre isto; o Espírito
Santo está trabalhando para a representação
corporativa de Cristo, e o diabo está pronto
para espalhar os santos, e, espalhando-os,
dividi-los e destruí-los; mas o Espírito Santo
está reagindo a isto, porque esta representação
significa muito.
O Poder do Espírito Santo
Vou encerrar com esta nota: “Recebereis
poder ao descer sobre vós o Espírito Santo, e
ser-me-eis testemunhas em Jerusalém, na Judéia e
Samaria, e até aos confins da terra”.
E minha última nota é esta: que para todo
este serviço do Senhor, esta representação, este
trazer o Senhor, este permanecer firme em nossa
posição contra as forças do mal que estão
inclinadas a expulsar Cristo deste mundo, este
sofrer como os seus representantes, para tudo
isto, podemos fazer a pergunta: Quem é
suficiente para essas coisas? A resposta é:
“Recebereis poder ao descer sobre vós o
Espírito Santo”. O Espírito Santo
constitui os vasos e o serviço. Ele é o Espírito
do serviço e é o fator constituinte nos vasos do
serviço. Ele é o poder pelo qual esta
representação é mantida na terra.
“Recebereis poder…”
O Senhor sabia perfeitamente que aqueles homens
jamais iriam conseguir representá-Lo. Ele
conhecia Pedro o suficiente, apesar de suas
jactâncias. Ele conhecia aqueles homens e, por
isso, disse: "Ficai em Jerusalém até que
do alto sejais revestidos de poder”.
(Lucas 24:49). “Recebereis poder ao descer
sobre vós o Espírito Santo”. Então
podemos ver o que aconteceu. O homem com toda a
sua jactância sobre o que iria fazer, sofrer e
morrer, fugiu e negou o seu Senhor com
juramentos e imprecações diante de uma simples
servente _ este é o valor de sua coragem quando
submetida ao teste. Mas não há medo algum
naquele homem posto em pé no dia de Pentecoste,
confrontando os assassinos de Cristo, lançando
sobre eles a culpa por sua morte. “Quando
viram a ousadia de Pedro e de João…”
(Atos 4:13). Isto é o que o Espírito Santo
pode fazer por nós. O Espírito Santo pode mudar
um covarde numa pessoa corajosa e ousada. Ele é
o Espírito de coragem, e Ele fez muitas outras
coisas também. “E recebereis poder ao
descer sobre vós o Espírito Santo.” Esta
é a nossa esperança, nossa segurança _ o
Espírito Santo. Deixemos que Ele tenha o seu
espaço, asseguremo-nos de que Ele tenha livre
curso para nos transformar em verdadeiros
servos, isto é, representantes do Senhor.
Capítulo 5 – A Dinâmica da Representação
"E estavam ali, olhando de longe, muitas
mulheres que tinham seguido Jesus desde a
Galiléia, para servi-lo; entre as quais estavam
Maria Madalena, e Maria, mãe de Tiago e de José,
e a mãe dos filhos de Zebedeu. E estavam ali
Maria Madalena e a outra Maria, assentadas
defronte do sepulcro; e, no fim do sábado,
quando já despontava o primeiro dia da semana,
Maria Madalena e a outra Maria foram ver o
sepulcro."
(Mat. 27:55-56,61; 28:1).
"E algumas mulheres que haviam sido curadas de
espíritos malignos e de enfermidades: Maria,
chamada Madalena, da qual saíram sete demônios"
(Lucas 8:2).
"E Maria estava chorando fora, junto ao
sepulcro. Estando ela, pois, chorando,
abaixou-se para o sepulcro. E viu dois anjos
vestidos de branco, assentados onde jazera o
corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés.
E disseram-lhe eles: Mulher, por que choras? Ela
lhes disse: Porque levaram o meu Senhor, e não
sei onde o puseram. E, tendo dito isto,
voltou-se para trás, e viu Jesus em pé, mas não
sabia que era Jesus. Disse-lhe Jesus: Mulher,
por que choras? Quem buscas? Ela, cuidando que
era o hortelão, disse-lhe: Senhor, se tu o
levaste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei.
Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, voltando-se,
disse-lhe: Raboni (que quer dizer, Mestre).
Disse-lhe Jesus: Não me detenhas, porque ainda
não subi para meu Pai, mas vai para meus irmãos,
e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso
Pai, meu Deus e vosso Deus. Maria Madalena foi e
anunciou aos discípulos que vira o Senhor, e que
ele lhe dissera isto."
(João 20:11-18).
"Todos estes perseveravam unanimemente em oração
e súplicas, com as mulheres, e Maria mãe de
Jesus, e com seus irmãos." (Atos
1:14).
Uma palavra muito simples está em meu coração
neste momento. É impressionante observar quão
freqüentemente Maria Madalena é mencionada,
quanto ela é evidenciada. Ela é encontrada em
cada um dos evangelhos e, sem dúvida alguma,
está incluída no grupo das mulheres em Atos
1:14; e ela ocupa um lugar de considerável
significância e valor. Não podemos fazer outra
coisa se não perguntar por que deve ela ser
mantida tanto em evidência, ser mencionada tanto
pelo seu próprio nome. Isto não é por acaso;
não é suficiente dizer que todos esses apóstolos
que escreveram estes registros ficaram
evidentemente impressionados com esta mulher, e
com outras, e que eles descobriram, ao escrever
a história da vida, morte e ressurreição de
Cristo, que não podiam simplesmente deixar essas
pessoas de fora. Penso que temos que ir mais
fundo do que isto, crendo que o Espírito Santo
tem algo em mente, se essas Escrituras são
inspiradas por Ele, e nós procuramos ver o que
isto pode ser.
Começando pelo fim, descobrimos que Maria
Madalena foi a primeira testemunha da
ressurreição do Senhor. Nessas meditações temos
estado muito ocupados com testemunhas. “E
sereis minhas testemunhas.” (Atos 1:8).
A primeira testemunha, a primeira representante
do Senhor a testemunhar que Ele estava vivo, que
Ele tinha ressuscitado, foi Maria Madalena.
Parece-me que ela está aqui para indicar o
serviço da nova dispensação, o serviço de Cristo
_ ser uma testemunha Dele; representá-Lo. Este
serviço do Senhor começa com ela, e por quê? O
pensamento que está em minha mente é o seguinte:
que aqui está o serviço do Senhor novamente. E o
que está bem no âmago do serviço do Senhor? O
que é isto que realmente faz uma testemunha, um
representante? O que é isto que constitui este
testemunho em pessoa para o Senhor ressurreto?
— penso que Maria Madalena nos responde esta
questão de forma muito simples, porém com muita
força. A dinâmica, o poder, a essência do
serviço do Senhor é uma devoção de amor
ardente pela pessoa do Senhor. Isto é
simples, mas fundamental.
Em primeiro lugar você percebe que ela é uma
mulher que tem uma grande necessidade _
necessidade de libertação, de salvação, de
misericórdia, de graça _ que é uma mulher que
está em grande dificuldade e aflição, e o Senhor
a livra de todas as suas desgraças. A partir
daquele momento ela jamais fica longe Dele; ela
é uma de um grupo de tais mulheres que O seguem
por onde quer que Ele vá, e O servem. Então, na
última cena, ela está lá com a mãe terrena de
nosso Senhor, a pouca distância da cruz,
assistindo, sofrendo, naquelas últimas horas.
Ela é, talvez, a última ou uma das últimas a
deixar o local. Então ela é a primeira a
retornar ao sepulcro; antes do raiar do dia, ela
retorna com o coração partido. João 20:11-18 é,
talvez, a história mais comovente do Novo
Testamento. O grito de seu coração _
“Senhor, se tu o levaste, dize-me onde o
puseste." Então Jesus disse a ela:
"Maria!" Ela se vira e diz:
“Raboni, Mestre!” Não é esta toda a
corporificação de um amor pessoal pelo Senhor,
de um poderoso amor pessoal por Sua Pessoa? E é
a partir disso que o testemunho dela nasce e que
ela se torna a primeira pregadora da
dispensação.
É a partir disso que todo o verdadeiro
ministério de Cristo através de toda a
dispensação nasce. Esta é a natureza do
ministério. Podemos dizer isto em poucas
palavras e de forma muito simples, porém, embora
resumido e simples, contudo vamos procurar
reconhecer a suprema importância disto: que o
serviço do Senhor não consiste em primeiramente
sair e fazer coisas, ou dizer coisas, propagar
doutrinas ou verdades, ou interpretações,
estabelecer movimentos, comunidades ou igrejas.
O serviço do Senhor é o fluir espontâneo de um
amor pessoal pelo Senhor. E, quando você vai
para o Pentecostes, e a prossegue a partir daí,
é apenas isto.
Parece que a vinda do Espírito Santo foi um
batizar dos crentes no amor de Cristo, pois, a
partir daquele momento da chegada do Espírito,
eles não tinham mais nada para falar a não ser o
Senhor Jesus. Eles simplesmente estavam plenos
Dele! A conversa deles estava cheia Dele, a
pregação deles estava cheia Dele, o testemunho
deles era totalmente concernente a Ele, e foi
sempre assim. Foi assim com o grande apóstolo
dos gentios _ Paulo. "Deus", disse ele,
“aprouve a Deus revelar seu Filho em mim, para
que O pregasse entre as nações” (Gal.
1:15,16). “O amor de Cristo nos
constrange” (2 Cor. 5:14), “o amor de
Deus está derramado em nossos corações pelo
Espírito Santo” (Rom. 5:5). Esta era a
dinâmica do serviço.
Agora, isto é simples e funciona de duas
maneiras. Toda atividade, obra, e tudo aquilo
que é chamado de ‘serviço’ ao Senhor, sem este
amor por trás, está carente do poder verdadeiro
para um serviço frutífero, mas, se o amor
estiver presente, não poderemos deixar de ser
servos do Senhor. Nada pode fazer de nós
verdadeiros servos do Senhor, somente um amor
ardente por Ele mesmo. Nada pode substituir
isto. Mas, dado isto, não há qualquer
necessidade de algum tipo de ordenação humana,
de separação eclesiástica. Você, sem sombra de
dúvida, é servo do Senhor se tiver um
satisfatório amor por Ele mesmo em seu coração.
Todo nosso valor para o Senhor depende da medida
do nosso amor por Ele mesmo. Isto é tudo. Não há
nada profundo sobre isto, mas é uma prova.
Podemos fazer muitas coisas, como a igreja em
Éfeso mais tarde. Ela fez muitas coisas, mas o
Senhor disse: “Tenho algo contra ti, que
esquecestes o teu primeiro amor” (Apoc.
2:4). E, em efeito, Ele disse: Não há
justificativa para que seu candelabro permaneça,
é meramente uma profissão vazia, um vaso de
aparência exterior, sem o Senhor lá dentro, sem
a luz interior. E, a menos que este primeiro
amor seja recuperado, trata-se apenas de uma
simples confissão, de meramente fazer muitas
coisas, mas aquilo que justifica a nossa
existência é aquele amor, e somente ele. Nada a
não ser o amor irá nos manter caminhando. É o
poder da resistência através dos anos, e será
algo terrível chegarmos a uma vida cristã sem
este amor pelo Senhor em nosso coração. É
somente este amor que realmente torna a vida
cristã possível debaixo de toda a pressão ao
longo dos anos.
Estou muito certo de que, no caso do apóstolo,
com todo o seu sofrimento e com tudo o que ele
teve que enfrentar, o que o manteve prosseguindo
foi aquela chama de amor em seu coração pelo
próprio Senhor. Através do sofrimento, nada,
exceto o amor pelo Senhor, irá nos manter
prosseguindo.
E assim, sem acrescentar mais nada a isto, eu
apenas digo a você e ao meu próprio coração, que
o que você e eu precisamos é de uma recuperação,
restauração, de um aumento. Quer seja que o
tenhamos, ou o tenhamos perdido, ou que nunca o
tenhamos tido, o que precisamos é desta chama
poderosa de amor pelo Senhor, e não sermos
meramente obreiros profissionais, servos de Deus
de alguma maneira profissional. Não, o que
precisamos é que este amor pelo Senhor seja
intensificado e, a partir disto, tudo mais virá,
e, sem isto, a vida cristã é uma coisa
miserável, um fardo a levar, enquanto que o amor
pelo Senhor faz de nós testemunhas.
Assim, Maria Madalena simplesmente nos vem como
a maior de todas as lições. Ela está lá, a
última na cruz, a primeira na ressurreição, a
primeira testemunha da dispensação. É uma
mulher. Agora, naturalmente, você pode tomar
isto erroneamente, você pode tomar isto
tecnicamente, e dizer que isto imediatamente
justifica o ministério das mulheres e mulheres
tendo o primeiro lugar. Eu nada tenho a dizer
contra o ministério das mulheres, mas o que eu
creio que o Espírito Santo quer significar aqui
é que as mulheres no Novo Testamento representam
o lado afetivo, o princípio da afeição, do amor,
e da devoção e do serviço em termos de amor. É
isto o que as mulheres representam lá, e parece
que esta mulher resume tudo isto. Mas você
enxerga o pano de fundo – uma devoção de coração
pelo Senhor que produz seu maravilhoso
ministério (de Maria Madalena), que produz seu
ministério representativo para a dispensação.
Pois o ministério desta mulher foi
representativo da dispensação — que o que
produziu este ministério e esta representação
foi o senso que ela tinha de dívida impagável
para com o Senhor por sua graça. E qual é o
ministério de valor que não tem isto por trás?
Paulo diz: “Sou devedor” (Rom.
1:14) e esta é a dinâmica de seu ministério.
Maria Madalena diria: Sou devedora; devo tudo a
Ele!
Se você e eu chegarmos a um vívido e suficiente
senso de nossa dívida impagável para com o
Senhor por sua maravilhosa graça a nós, iremos
ser testemunhas sem sombra de dúvida, iremos
servir o Senhor sem sombra de dúvida. Oh, então,
que haja uma renovação em nossos corações do
senso de nossa dívida impagável! Naturalmente,
você tem que ser paciente com a simplicidade
desta palavra, mas penso que ela toca o centro
das coisas, embora simples. Não fiquemos
preocupados a respeito de coisas, absolutamente.
O assunto com que devemos nos preocupar é com o
nosso próprio relacionamento com o Senhor, com
aquela devoção a Ele. O Senhor nos livre de
termos algo da vida cristã que seja menos do que
aquilo que está nesta atitude de amor _
“Mestre! Raboni!”
Não creio que possamos reproduzir a pronúncia,
o tom, com que Maria expressou esta palavra
naquele momento. Desejaria que pudéssemos obter
os dois timbres de voz, quando o Mestre disse:
“Maria!” Você não consegue
capturar isto, mas pode imaginar algo. E no tom
familiar que ela ouviu Ele se dirigir a ela
antes; ela captou o timbre de voz e disse:
“Mestre!” É o Senhor, Mestre? A
profundidade disso! Eu não quero ser
sentimental, mas há algo aí que indica isto, que
leva à possessão da primeira nota do serviço
dispensacional. A dispensação toda, a era toda,
está reunida nesta mulher naquilo que ela
representa. Todo serviço ao Senhor nasce disso _
Mestre! Naquele sentido: `Tu és aquele a quem
tudo para mim está ligado’.
Bem, o Senhor fala mais do que minhas palavras
podem dizer nesta questão.
Capítulo 6 – A Maneira de Obter Conhecimento
Necessário para a Representação
“... declarado Filho de Deus em poder, … pela
ressurreição dos mortos, Jesus Cristo, nosso
Senhor”
(Rom. 1:4).
“... até que todos cheguemos à unidade da fé, e
ao conhecimento do Filho de Deus, a homem
perfeito, à medida da estatura completa de
Cristo”
(Ef. 4:13).
“E, na verdade, tenho também por perda todas as
coisas, pela excelência do conhecimento de
Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a
perda de todas estas coisas, e as considero como
escória, para que possa ganhar a Cristo, ...Para
conhecê-lo, e à virtude da sua ressurreição, e à
comunicação de suas aflições, sendo feito
conforme à sua morte”
(Fil. 3:8,10).
Há uma questão que quero trazer-lhe agora a
qual, talvez, diferentemente da meditação
anterior, irá exigir um pouco mais de exercício
de sua parte, não apenas exercício mental, mas
irá exigir um doar-se intensamente de nós
mesmos, a fim de que compreendamos a grande
implicação que aqui repousa.
Antes de entrarmos neste ponto ou questão
específica, preciso lembrá-lo da grande
importância que as Escrituras vinculam ao
conhecimento espiritual. Há toda uma diferença
entre conhecimento espiritual e conhecimento
mental, ou simples conhecimento da cabeça. Nós
podemos dizer com certeza, em conformidade com
as Escrituras, que tudo para a vida do filho de
Deus depende do conhecimento espiritual, e está
ao conhecimento espiritual. “E
a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só,
por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a
quem enviaste.”
(João 17:3). Assim, a vida eternal está ligada a
certo conhecimento, e, a partir desta primeira
coisa na história do filho de Deus (isto é, a
vida eterna pelo conhecimento) tudo mais está
ligado a um particular e específico
conhecimento. Isto é, temos que conhecer numa
forma espiritual para crescermos na vida
espiritual.
Você percebe quanta importância os apóstolos
associaram a isto. “tenho
também por perda todas as coisas, pela
excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu
Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas
coisas, e as considero como escória, para que
possa ganhar a Cristo.”
E a coisa não está completa, mesmo àquela
altura, pois Paulo, mais adiante, continua
afirmando, como se algo ainda estivesse à frente
— prossigo, para que possa conhecê-Lo! Paulo é
um homem que possui um vasto conhecimento do
Senhor, porém ele é alguém que está tão
consciente da tremenda importância e valor do
conhecimento espiritual a ponto de abrir mão de
todas as outras coisas que são de valor para os
homens pela excelência do conhecimento de Jesus
Cristo.
Então, aí está este grande prospecto apresentado
e aberto em Efésios 4. O Senhor ressurreto deu
dons aos homens; deu ministérios, apóstolos,
profetas, e assim por diante, para o
aperfeiçoamento dos santos, para a edificação do
Corpo de Cristo: “até que todos cheguemos
à unidade da fé, e do conhecimento do Filho de
Deus”. Isto quase nos dá a impressão de
que aquilo que está subentendido implicasse no
seguinte: que o alvo deste Corpo de Cristo que
Paulo está falando, a Igreja, que é o Corpo de
Cristo, seja o pleno conhecimento do Filho de
Deus. Tudo deve estar ligado a este pleno
conhecimento do Filho de Deus.
Agora, naturalmente, nós compreendemos isto em
pequena proporção, a partir de nossa própria
experiência e história espiritual. Cada um de
nós que possui uma vida e uma história
espiritual real sabe muito bem que devemos o
nosso crescimento espiritual ao conhecimento
espiritual que tem chegado a nós. Dizemos:
Quando cheguei a conhecer (seja o que possa
ser), quando cheguei a conhecer de uma forma
espiritual, isto fez toda a diferença. A partir
do instante que cheguei a conhecer desta forma,
houve uma diferença; tenho estado diferente, tem
significado muito para mim isto que vim a
conhecer! Todas as diferenças são feitas ao
longo desta linha de progressivo e crescente
conhecimento, conhecimento espiritual,
conhecimento interior.
Assim, a Palavra nos revelaria o seguinte: que
tudo o que Deus tem intencionado em Cristo para
os santos, o grande destino, a grande vocação, o
grande resultado — e que chamado é, que chamado
celestial, como diz o apóstolo — tudo isto é
para ser alcançado por meio do conhecimento
espiritual, por meio de um progressivo e
continuo chegar a um fresco conhecimento
interior. Podemos dizer: Eu sei, cheguei a
conhecer, e estou chegando a conhecer, e o
Senhor está me levando a conhecer! É desta
forma, este é o caminho. Isto é simples, mas eu
simplesmente queria de início enfatizar e
lembrar você do grande valor e importância que
está ligado ao conhecimento espiritual.
A Lei do Conhecimento Espiritual
Agora, a coisa que quero transmitir, como
somente o Senhor pode me capacitar, é a lei que
é encontrada em toda a Escritura; a lei do
conhecimento espiritual. Tenho visto que existe
uma lei encoberta nas Escrituras que governa
toda esta questão do conhecimento espiritual. No
Velho Testamento, naturalmente, ela é
apresentada muito amplamente de uma forma
típica, porém a lei é espiritual, e ela governa
este conhecimento, que é o aumento, o
crescimento e o progresso espiritual na vida do
filho de Deus. A lei é a seguinte: existe um
lugar específico, a fim de obtermos o
conhecimento.
Se você voltar ao Velho Testamento, naturalmente
irá encontrar muito disto em forma de tipo, de
figura. Por exemplo, a luz do propósito de Deus
foi apenas revelada a Abraão quando ele entrou
na terra, não quando ele estava na Mesopotâmia.
Deus lhe disse para sair da Mesopotâmia, e Deus
não lhe revelou o Seu propósito até que ele
entrasse na terra. Era preciso estar em certo
lugar antes que Abraão obtivesse conhecimento.
A luz de Deus e do nome de Deus não foi revelada
a Jacó quando ele estava em Parã (Gen. 21:21),
nem quando ele estava num país estrangeiro, mas
quando ele estava no lugar em Betel. Ele não
obteve a luz de Deus, do nome de Deus, até que
tivesse chegado naquele lugar.
A luz quanto à Divina habitação no tabernáculo
jamais foi dada a Israel no Egito, mas
esperou-se até que eles chegassem ao lugar onde
era para estar o tabernáculo no deserto.
Um lugar foi necessário, a fim de se obter o
conhecimento, e o Velho Testamento está repleto
disto. Você sabe que os nomes dos lugares no
Velho Testamento são sempre simbólicos. Você
sabe o quanto está associado a Gilgal. Você
precisa chegar a Gilgal, a fim de obter certo
conhecimento espiritual — Betel, Hebrom — e
assim você prossegue, e o Senhor fixou lugares
no Velho Testamento para a revelação de Si
mesmo. “Onde Eu coloquei o meu nome”
(Ex. 20:24), se vocês chegarem lá, irão me
conhecer. Vocês não irão me conhecer fora desse
lugar, em qualquer outra parte; vocês precisam
chegar ao lugar que tenho apontado, lá Eu irei
encontrar vocês! Isto é um tipo.
No Novo Testamento, no lado espiritual disto,
naturalmente não se trata de lugares
geográficos, não é um local de reunião. Você não
tem que ir Honor Oak (uma
zona suburbana londrina),
ou a qualquer outro lugar para obter a luz! Não
são lugares geográficos, mas é a um lugar
espiritual que você tem que chegar, a fim de
adquirir o conhecimento.
Bem, isto abre um vasto e amplo terreno, e nós
indicamos apenas um ou dois desses lugares que
são os lugares de conhecimento espiritual os
quais têm a ver com a nossa chegada ao pleno
conhecimento do Filho de Deus, à estatura
completa de Cristo.
Ressurreição
“...declarado (marcado) Filho de Deus em poder,
segundo o Espírito de santificação, pela
ressurreição dentre os mortos”.
O conhecimento, a luz do conhecimento da
ressurreição, requer que cheguemos a um lugar, e
este lugar é o lugar de morte. Isto é simples e
bem conhecido, mas é uma lei. É uma lei escrita
no Velho Testamento em tipo e figura muitas
vezes. A ressurreição exige que você chegue
verdadeiramente ao lugar de morte. A lei é
tornada clara no Novo Testamento. Você tem que
estar no lugar de morte e sepultamento antes que
possa conhecer a Cristo e o poder de Sua
ressurreição, antes que possa ter este
conhecimento de ressurreição com o qual tanta
coisa está ligada. Oh, tudo de início está
ligado a isto, para que conheçamos a união com
Cristo na ressurreição, não como verdade, não
como doutrina, um credo, mas de uma forma
interior, um conhecimento espiritual.
Há um parágrafo notável em Ezequiel 39.
Naturalmente, há o lado profético disso, mas há
também o lado espiritual, como sempre há na
profecia. Gogue e Magogue vêm do norte para a
terra, e, então, o povo de Deus retorna do
cativeiro para a terra, e o Senhor entra em
juízo contra Gogue e Magogue, os quais invadiram
a Sua terra e mataram a muitos. E, então, o
Senhor chama todo o povo para se levantar e
enterrar os mortos que foram assassinados. É
para eles enterrarem durante um período de sete
meses, uma obra espiritual perfeita de
sepultamento dos mortos. Todo o povo tem que
fazer isto, mas é necessário que haja certa
companhia designada para percorrer a terra, e,
onde quer que encontre mesmo que seja um osso
exposto, ela deve por uma marca. E, então, esta
companhia designada que vai e coloca esta marca
deve enterrá-lo; assim, censuravelmente está
algo morto e não enterrado que Ele irá por à
vista. Eles não podem possuir a terra; não podem
vir e se alegrar com a herança enquanto houver
algo morto que não esteja enterrado.
Eu me lembro de um irmão que uma vez falou sobre
batismo. Ele disse: `Quando você veio para o
Senhor e viu que Cristo morreu por você, você
não viu quando Cristo morreu, você viu? Bem, por
que você não tem o seu cadáver enterrado! O
único lugar para uma pessoa morta é a
sepultura!” Bem, isto é muito radical.
Este é o pensamento de Deus. Cristo é a herança,
Cristo é a terra, toda a plenitude representada
por Canaã está em Cristo, toda a riqueza, a
terra que mana leite e mel. E o povo do Senhor
não pode entrar e possuir e aumentar sua herança
em Cristo, o pleno conhecimento de Cristo, se
houver algo morto que não esteja enterrado. O
Senhor diz que estamos mortos, que estamos
crucificados com Cristo (Rom. 6:6), e o
princípio do Novo Testamento é este: que a coisa
precisa ser colocada fora do caminho, fora da
vista, antes que possamos entrar na plenitude,
na possessão plena. É simplesmente enfatizando
esta lei da Palavra de Deus por toda a parte, a
fim de obter o conhecimento da ressurreição;
devemos chegar ao lugar de morte e sepultamento,
isto é, primeiramente colocando de lado todo o
corpo da carne e, então, de todo o homem
natural. É somente quando você e eu na vida
natural estivermos sepultados, estivermos fora
do caminho, fora de vista, que podemos conhecer
a Cristo. Nós permanecemos em nossa própria luz
quando não estamos sepultados, quando não
estamos fora do caminho; quando não chegamos ao
lugar de morte, estamos obstruindo a luz do
pleno conhecimento de Cristo.
Você sabe quão verdadeiro isto é, quando o homem
natural está em evidência, o homem espiritual
fica encoberto. Quando a mente natural está
ativa nas coisas de Deus, o Espírito Santo não
nos mostra as coisas de Deus. Esta mente natural
tem que sair do caminho para conhecer a
ressurreição, a qual não é apenas algo que
ocorre uma vez por todas, mas é algo em que
sempre há mais para ser conhecido. Paulo diz:
“…para que possa conhecê-Lo, e o poder de sua
ressurreição”. (Fil. 3:10). Paulo já
estava no caminho por um longo tempo quando ele
disse isto. “Ora, àquele que é poderoso
para fazer tudo muito mais abundantemente além
daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder
que em nós opera...” (o poder de sua
ressurreição). Isto depende inteiramente da obra
da morte, de nosso chegar ao lugar de morte. A
lei é esta: que quanto mais chegarmos ao lugar
de morte da vida natural, da vida independente,
mais chegamos ao lugar do pleno conhecimento do
Filho de Deus em termos de ressurreição.
Filiação
A luz da filiação requer um lugar. Você sabe que
este é todo o argumento da carta aos Gálatas.
Era uma questão de filiação, e o apóstolo está
dizendo: `Antes que vocês conheçam filiação,
vocês têm que chegar a um lugar onde a filiação
é conhecida, e a vida de filiação somente é
obtida quando vocês chegarem ao lugar do
Espírito dominando a carne.’ Eu não posso ficar
com Gálatas ao longo dessas linhas, mas aqui
está a verdade. Filiação é algo muito mais do
que ser nascido de novo, do que apenas ser um
filho de Deus. Filiação é chegar ao pleno
conhecimento do Filho de Deus, é crescer Nele em
todas as coisas. Filiação é algo a mais. Você
não pode chegar ao conhecimento de tudo o que
significa filiação, como sendo algo mais do que
infância, a menos que chegue ao lugar onde o
Espírito tenha predomínio sobre a carne. É um
lugar; um lugar de crise.
Pode ser como o Jaboque de Jacó onde aquela
força da vida própria é tocada e mirrada em seu
próprio tendão, na própria força da carne. A
vida própria de Jacó é profundamente afetada a
partir do céu, e, então, seu nome é trocado para
um nome celestial _ Israel, um príncipe de Deus,
um povo espiritual, não mais carnal. Você vê, a
lei do conhecimento do Filho de Deus depende do
nosso chegar a um lugar.
Não nos diz isto quão sem esperança é tentarmos
obter conhecimento espiritual por meio de
estudo, de informação? Nenhum de nós jamais
obtêm isto a partir de livros, de pessoas. Isto
tem que vir por meio do nosso chegar a uma
posição espiritual. Temos que chegar num certo
lugar. Não podemos obter isto de outras pessoas.
Podemos obter ajuda ouvindo e lendo, mas não
podemos adquirir este pleno conhecimento do
Filho de Deus dessa forma. Temos que chegar a um
lugar, temos que ter uma crise. O conhecimento
da filiação depende do lugar onde o Espírito
está estabelecido como soberano Senhor sobre a
carne.
A Autoridade Soberana de Cristo
A luz do conhecimento da autoridade soberana de
Cristo exige um lugar. Isto é Colossenses — a
autoridade soberana de Cristo, a sua autoridade
suprema como algo que realmente funciona. Cristo
é o Cabeça soberano da igreja; Cristo está
exaltado acima de todos os principados e
poderes, Cristo é preeminente, transcendente.
Esta é a grande verdade, mas isto não será
proveitoso o suficiente para mim se for apenas
uma verdade. Eu quero que isto se torne uma
realidade em minha experiência; esta poderosa
autoridade de Cristo tem que se tornar uma
realidade na vida diária. De alguma forma eu
tenho que entrar nisto onde eu possa me agarrar
a esta autoridade e apelar para ela, e que ela
funcione; onde as forças do mal sejam vencidas
por esta autoridade em minha experiência quando
investirem contra mim; a autoridade soberana de
Cristo tem que me cobrir, que me proteger, que
me guardar das forças do mal e me libertar.
Preciso conhecer sua autoridade; preciso
conhecê-Lo em sua autoridade soberana.
Para conhecer isto eu preciso chegar ao lugar de
ligação com a Cabeça no Corpo. "Ligado à
cabeça" — esta é a palavra de
Colossenses, "...ligado à cabeça da qual
todo o corpo, provido e organizado pelas juntas
e ligaduras vai crescendo..." (2:19) Eu
tenho que estar alinhado aos membros do Seu
corpo de uma maneira espiritual sob esta
autoridade; isto é: Tenho que renunciar todo o
terreno independente, desligado e sem conexão. É
uma posição. Se o inimigo conseguir nos separar,
ele irá nos roubar os benefícios da autoridade
soberana de Cristo. Se for para conhecermos o
valor de Cristo como nosso Cabeça soberano em
toda autoridade, precisamos entrar num
relacionamento com esta Cabeça juntamente com
outros membros. "Ligado à cabeça, da qual
todo o corpo…” .
O Crescimento Pleno
Você chega a Efésios “...ao conhecimento
do Filho de Deus, à estatura de homem
perfeito...” (4:13). O que isto exige?
Bem, se Colossenses me vê em relação com outros
crentes ligado à Cabeça, Efésios me vê em
relação a outros crentes trabalhando juntos
corporativamente. Colossenses é o aspecto
superior da Cabeça. Efésios é o aspecto visível
do corpo a outros membros, e esses se
complementam. Para chegarmos ao crescimento
pleno e ao conhecimento pleno do Filho de Deus
precisamos chegar ao lugar onde o corpo é uma
realidade, não apenas uma doutrina, ou uma
verdade. Muito freqüentemente, quando falamos
sobre este assunto do Corpo de Cristo, a Igreja
que é o Corpo de Cristo, a resposta de muitas
pessoas é: Naturalmente! Sabemos disso, todos os
crentes são um só Corpo, eles são todos membros
de Cristo, e são todos um só Corpo! Sim, isto é
fato, é verdade, mas o que dizer sobre o
funcionamento prático disso de uma forma
espiritual? Isto é algo diferente. É estranho
que as pessoas que sustentam isto possam ainda,
sem qualquer questionamento, continuar com os
cismas, com as divisões e com todos os tipos de
distinções aqui nesta terra entre os cristãos.
Eles podem ser convertidos em mil denominadores
e esta verdade do Corpo não é uma coisa eficaz,
que simplesmente descarta tudo isso, que rejeita
todo o terreno de cisma, de divisão, e todo tipo
de departamento humano entre os cristãos. A
coisa não tem este efeito em muitas pessoas.
Bem, você diz: isto importa? Olhe para a igreja,
olhe para os filhos de Deus hoje. Onde está o
pleno conhecimento do Filho de Deus? Onde está
este crescimento até a plenitude de Cristo? Oh,
há uma espantosa e trágica ignorância entre a
maioria do povo de Deus a respeito do próprio
Senhor. A ignorância é terrível e o resultado é
que o poder espiritual é de fato muito pequeno.
Realmente importa que cheguemos ao pleno
conhecimento do Filho de Deus, realmente importa
que cresçamos Nele, que alcancemos a plenitude
de Cristo, a estatura de Cristo. Realmente
importa que a verdade sobre o Corpo seja uma
coisa prática, não apenas teórica. Você tem que
chegar ao lugar onde você abandone qualquer
outro terreno que não seja o terreno da absoluta
e eficaz unidade espiritual do povo de Deus.
Ocupar tal terreno significa limitação e perda,
como prova a história da igreja, e como
demonstra toda atividade do inimigo. Dividir o
povo de Deus é enfraquecê-lo e limitá-lo. Trazer
o povo de Deus em unidade espiritual é
edificá-lo e torná-lo uma força que o inimigo é
obrigado a reconhecer.
Você lembra-se desta lei? Ela está em toda parte
no Velho Testamento. O Senhor diz ‘Em certo
lugar Eu irei encontrá-los’. Você pode ir a
qualquer lugar em todo esse universo e você não
irá obter este conhecimento. Até mesmo Saulo de
Tarso, eleito desde a eternidade, escolhido
desde os tempos eternos para ser apóstolo de
Deus aos gentios, conhecido de antemão e
pré-ordenado, irá fazer esta pergunta: “Senhor,
que farei?”(Atos 22:10), e a resposta
será: “Vá a Damasco e lá te será dito o
que te é ordenado fazer”. Não era que
Damasco fosse algo a mais do que qualquer outro
lugar, mas a igreja estava lá, e o Senhor não
iria tratar com homem algum, mesmo um apóstolo
destinado, em qualquer outro lugar diferente
daquele. Ele diz: Eu estou em meu Corpo; irei
tratar com você em meu Corpo! Esta é uma lei
espiritual. Se você tem vagado pelo mundo, peça
ao Senhor para lhe mostrar este lugar
espiritual, esta posição espiritual, onde você
irá encontrar aquilo que está procurando. No
caso de muitos de nós, o Senhor precisou tratar
conosco, a fim de nos levar para um lugar
espiritual, para nos mostrar algo. Quando o
Senhor nos trouxe para esse lugar, então
enxergamos. Descobrimos que lá o Senhor ordena a
benção, até mesmo vida para sempre.
*A
tradução deste estudo foi feita voluntariamente por Valdinei N. da
Silva, que, por reconhecer a excelência do conteúdo, coloca o mesmo ao alcance da Igreja de
Cristo, para sua edificação. Peço aos irmãos que possuírem
conhecimentos mais aprofundados em tradução, que colaborem, enviando as
suas preciosas observações e retificações para:
valdineibr@gmail.com
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