A RESTAURAÇÃO DE DEUS

 

PREFÁCIO

 

Antes de iniciarmos este estudo gostaria de fazer uma observação. Não deixem de ler em suas bíblias os versículos citados entre parêntesis, porque eles são a parte mais importante deste estudo. Eles não foram descritos porque ficaria um estudo muito extenso. Não é o texto que tem valor, e sim a Palavra de Deus. Ela é que é viva e eficaz. O texto é como Esdras fez, para dar sentido ao que estamos falando. O sentido é nosso, mas a Palavra é de Deus.

A finalidade deste estudo não é para que você o leia simplesmente, mas que medite com as Escrituras. Façam como os Bereanos que examinavam tudo para ver se é assim mesmo como está sendo dito.

 

A PALAVRA DE DEUS 

  

Há um encargo em meu coração para compartilhar sobre a obra da restauração de Deus, - como o Senhor nos ensina em Atos 3.21 - dentro da medida da fé que o Senhor tem me repartido. Como a visão daqueles 4 seres viventes de Apocalipse, cheio de olhos, e com 4 rostos diferentes, os evangelhos também revelam a Pessoa de Cristo de 4 formas diferentes: como rei, como servo, como homem e como o Filho de Deus. Isso nos mostra que nenhum homem, individualmente falando, pode conhecer a Cristo em sua totalidade. Isso só é possível com todos os santos, com toda a Igreja (Ef. 3.18).

Nós vemos apenas em parte, e em parte profetizamos (I Cor. 13.9). Há irmãos muito preciosos que tem exaustivamente compartilhado sobre a restauração de Deus, com muito mais amplitude, mas eu gostaria de contribuir, com a graça do nosso Senhor, com uma pequena porção de fé à Igreja. Somente a Igreja pode ter toda a porção de Cristo; de conter Cristo em sua plenitude.

Alguns se referindo à restauração, dizem que Deus está restaurando a Igreja. Restaurar é recuperar algo que foi perdido ou destruído, portanto, o Senhor nunca irá restaurar a Igreja e sim o seu testemunho, porque a Igreja nunca foi destruída nem perdida. Jesus não se enganou com a sua Igreja quando a criou pela ressurreição. Ele sabia que ela precisava desde o princípio ser santificada, e para isto, tem sido desde então, purificada pela lavagem da água pela palavra (Ef. 5.26).

O que é preciso ser restaurado é o testemunho de Deus através da Igreja. Mas quando falamos também sobre testemunho, podemos cair no erro de achar que ele se dá na forma. Testemunho é algo visível, mas a tentação é que demos testemunho através de uma forma de reunião, ou uma assembléia sem nome; com mudanças de práticas como a ceia, batismo e principalmente uma unidade mostrada pela reunião de todos os cristãos locais em um mesmo lugar.

Isso tem sido um mal maior no meio da cristandade. Em nome de uma unidade, se tem causado mais divisões. Na igreja de Corinto tinha um grupo que se dizia ser de Cristo e não de Paulo ou Cefas, mas Paulo os inclui entre aqueles que promoviam dissensões. Mas por que alguém que se diz de Cristo pode promover dissensões? Porque eles se consideravam um grupo especial, um grupo de elite que não se misturava aos outros. Eles não diziam que todos eram de Cristo, mas que somente eles eram. Nós somos de Cristo, nós somos a igreja, e aí por diante.

A divisão na maioria das vezes não se mostra de forma visível. A divisão é gerada e nutrida no coração. Em Corinto eles estavam juntos, mas os seus corações estavam divididos. Isto mostra claramente que a forma visível de unidade, baseado na forma é sempre uma farsa. Por isso o Senhor não está restaurando a Igreja, porque ela nunca esteve destruída, mas o seu testemunho.

Se o testemunho não tem acontecido pela forma visível, qual é o testemunho que está sendo restaurado? O testemunho do seu Filho. O testemunho que Deus dá é acerca do Seu Filho, e este é o testemunho a ser restaurado (I Jo. 5.10). O testemunho da presença e autoridade do seu Filho Jesus como o cabeça do corpo da Igreja. Cristo como Luz e Vida do seu povo: "Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens" João 1.4.

O homem desde o princípio nunca buscou de Deus a sua vontade, mas sempre quis criar o seu modelo para seguir. O homem sempre quer servir a Deus com as suas próprias mãos, daí cria um modelo próprio. Isto vemos claramente na torre de Babel ou no bezerro de ouro no deserto. Mas qual é a diferença quando criamos um modelo humano de igreja? Condenamo-los, mas criamos o nosso próprio modelo.

Mas mesmo não aceitando um modelo humano, podemos cair num outro erro: não ter modelo algum. O homem é extremamente tendencioso a ser extremista. Quando não estamos num extremo, estamos no outro. Não podemos tomar modelo algum, mas se somos cooperadores de Deus nesta obra - vejam bem, apenas cooperadores - temos que crer que existe por trás dela um arquiteto e edificador (Heb. 11.10).

O molde que o homem criou para fazer o bezerro de ouro não podia ser aceito por Deus, mas por outro lado, Deus não iria admitir que alguma coisa fosse modificada ou até mesmo embelezada no seu tabernáculo. Tudo era para ser feito conforme o modelo que tinha sido mostrado a Moisés no monte (Êx. 25.40). O modelo era do céu, porque tudo era uma figura de Cristo, tudo mostrava Cristo. Quando Deus olhava para o tabernáculo, mesmo que fora construído com materiais terrenos, ele via o Seu Filho.

A Igreja do Senhor é assim também. Ainda que nós não vejamos nada, Ele vê a beleza, a formosura, o caráter do Seu Filho sendo formado nela. Mas não somente isto, Ele também quer através da Igreja, mostrar aos principados e potestades, a sua multiforme sabedoria (Ef. 3.10). Agora não somente para Ele ver, mas para todo o céu ver. Aleluia!

Davi também desejou fazer uma casa para Deus, mas na mesma noite o Senhor disse a ele: "Edificar-me-ás tu uma casa para minha habitação?" II Samuel 7.5. Parece uma incoerência Deus dizer para ele não fazer, e depois mandá-lo preparar todo o material para que fosse feita! Porque o templo estava no coração de Deus, mas Ele e não Davi é que iria edificar a casa (II Sam. 7.11).

Então, depois de Davi preparar tudo, ele teve o cuidado de dizer ao seu filho Salomão: "Tudo isto... fez-me entender o Senhor, por escrito da sua mão, a saber, todas as obras desta planta" I Crônicas 28.19. A Palavra de Deus é a planta da Casa de Deus.

Por isso a primeira coisa a ser restaurada, tendo em vista o testemunho de Deus, é como Deus fez através do rei Josias, do escriba Esdras e muitos outros: que é voltarmos para a Sua Palavra. Somente ela é viva e eficaz. Não há nada na Palavra de Deus que seja perverso. Toda ela testifica de Cristo. Não a letra, mas o Espírito, porque a letra mata, mas o Espírito vivifica.

Temos que buscar na Palavra, mas indo a Ele para ter Vida (Jo. 5.39-40). A Palavra é lâmpada para os nossos pés, e luz para o nosso caminho (Sal. 119.105). Ela é divinamente inspirada e útil (II Tim.3.16). Tudo o que antes foi escrito para o nosso ensino foi escrito (Rom. 15.4).

Ela é o instrumento de Deus para trazer revelação, isto é, luz, para que na sua luz possamos ver a Luz (Sal. 36.9), a Luz dos homens. Porque não havendo profecia, ou visão, o povo se corrompe, se deteriora (Prov. 29.18).

E então, não como visionários, mas olhando firmemente para Jesus, autor e consumador da nossa fé, que possamos alcançar um bom testemunho pela fé (Heb. 11.2). O testemunho se dá pela Vida e não pela profecia ou visão.

 

A VISÃO 

  

Como vimos anteriormente, o Senhor nos faz primeiramente retornar à Sua Palavra, mas de que adianta as Escrituras se não houver visão espiritual? Como diz Paulo em II Coríntios 3.15, até o dia de hoje ela é lida, mas um véu está colocado sobre o coração deles. A Palavra de Deus pode ser lida, mas se o Senhor não abrir os olhos dos cegos, como disse na sinagoga da Galiléia lendo o livro de Isaías, eles iriam permanecer como estavam (Lucas 4.18).

Depois que o povo de Israel entrou na terra prometida, continuou gozando da mão poderosa e graciosa do Senhor. O Senhor fez com que tudo que tinha dado a Israel fosse escrito, para que eles tivessem cuidado de fazer tudo conforme estava escrito, e então fariam prosperar o seu caminho, e seriam bem sucedidos (Jos. 1.8). Mas com o tempo a visão ia se desvanecendo; não por causa do Senhor, mas por eles mesmos, e as Escrituras se tornavam apenas letra novamente.

Mas o tempo foi passando e chegou um tempo, no tempo do profeta Eli, que a visão se tornara muita rara (I Sam. 3.1). Eles tinham as Escrituras que era lida de tempo em tempo, mas a visão era muita rara. Contudo a lâmpada do Senhor nunca se apaga (I Sam. 3.3); Cristo, a luz do mundo não pode ser apagado. Deus então levantou Samuel, e então a visão foi restaurada: "E continuou o Senhor a aparecer em Siló; porquanto o Senhor se manifestava a Samuel em Siló pela palavra do Senhor" I Samuel 3.21.

A tendência natural não é que as Escrituras sejam esquecidas, mas que a visão seja ofuscada. A lâmpada, a candeia que alumia no lugar escuro não esteja completamente acesa (II Ped. 1.19). O apóstolo Paulo também nos adverte isto em I Tessalonicenses 5.19, quando diz: "Não apagueis o Espírito". A letra sem o Espírito é uma candeia sem luz.

Mas a promessa do Senhor é que o pavio que fumega nunca será apagado. Isto é uma grande esperança, mas por outro lado, o tempo que está quase apagando é muito triste, as visões se tornam muito raras.

Mas no período de Samuel até Salomão, o povo de Israel tem um tempo muito glorioso, mas depois vem novamente a decadência, onde a visão se torna menos frequente. Depois de um período obscuro, novamente o Senhor restaura a visão aos cegos através dos reis Ezequias e principalmente de Josias (II Crôn. 34.17-21).

Podemos notar pela Palavra que novamente depois de um longo tempo, e depois de um cativeiro de 70 anos, o Senhor reacende a sua lâmpada pelo escriba Esdras. O Senhor despertou o seu espírito para subir a Jerusalém e restaurar o templo (Esdras 1.5), e então novamente a candeia foi totalmente acesa; Deus preparou o coração de Esdras para primeiramente buscar e cumprir a lei do Senhor e depois para ensinar, trazendo com isto luz para todo o povo de Israel (Esd. 7.10, Nee. 8.8).

Depois disso passou um longo tempo novamente até que a candeia fosse reascendida por Cristo. Enquanto esteve no mundo Ele era a Luz (Jo. 9.5). Agora não mais um tipo ou figura de Cristo, mas o próprio Jesus, a Palavra Viva, o Verbo encarnado (Jo. 1.14). Depois no Pentecostes o Espírito deu um testemunho visível disso, através das línguas de fogo que pousaram sobre cada um deles, que agora a Luz estaria neles; que a Igreja seria agora a luz do mundo (Atos 2.3).

O texto que vimos acima de I Samuel 3.21 nos confirma de forma muito clara isto. Quem Samuel via? O Senhor se manifestando. E como o Senhor se manifestava a Samuel? Pela sua Palavra. O que Samuel viu, a palavra somente ou o Senhor? O Senhor claro, pela Sua Palavra.

A visão dada a Samuel trouxe a Davi, uma figura preciosa de Cristo. Toda visão de Deus nos leva a Cristo, e toda visão fora de Cristo é uma tentação de Satanás. Um testemunho disso é o cego de nascença de João 9. Ali o Senhor nos ensina o caminho de alguém a qual a visão é restaurada. Ela começa com o Senhor abrindo os nossos olhos, para no final nos fazer ver a Cristo, para que possamos adorá-lo em verdade.

O termo 'visão da igreja' se tornou algo comum entre alguns cristãos, mas para muitos esta dita 'visão' não está trazendo realidade. Isto porque a visão que temos que ter não é de algo, mas sim de uma Pessoa: Cristo. Muitos usam o testemunho de Paulo ao rei Agripa (At. 26.19), para citar que ele não foi rebelde à visão celestial, mas se referindo à visão como visão da igreja. A visão que ele teve não foi da igreja, mas de Cristo e depois da Igreja nEle.

Paulo não pregava a igreja, mas a Cristo. Ele seria infiel à visão se tivesse pregado a igreja. Os apóstolos também estiveram por três anos com Jesus, mas não o viram. Apenas depois da sua ressurreição é que tiveram os olhos abertos para vê-lo através das Escrituras (Luc. 24.44-45), e daí pregaram a Ele pelas Escrituras (At. 4.31-33 e 5.42).

Não podemos nos gloriar numa 'visão' que não traz a Vida. O inimigo é muito sutil nessas coisas. O Senhor nos ensina a olhar firmemente para Jesus, mas o inimigo nos diz para olharmos um pouquinho para a direita ou para a esquerda. Pronto, se dermos ouvidos a ele a visão ficará embotada. O que é olhar firmemente? Você pode dizer que está olhando firmemente se desviar os olhos um pouquinho? Certamente que não.

Por isso não creio que alguém possa ter alguma visão celestial fora da Pessoa de Cristo. O Senhor nunca começa pela edificação, mas pelo fundamento. E toda edificação também está determinada por Deus para iniciar à partir de uma pedra angular: Cristo (I Ped. 2.7-8 ). Para nós, os que cremos, ela é a preciosidade, mas para os que se dizem 'edificadores', ela é rejeitada. Claro, eles são falsos edificadores, porque quem edifica é Deus, é Cristo, e somente eles (Heb. 11.10; Mat. 16.18; Ef. 5.29).

Que o Senhor abra os olhos do nosso entendimento para que tenhamos uma visão real. Não de algo que está em Cristo, mas como o cego de nascença, de Cristo para adorá-lo. E nEle, olhando firmemente para Ele, possamos ver tudo, desde a serpente levantada - que é a obra na cruz  (Jo. 3.14), até a sua Igreja gloriosa (Apoc. 21.10-11). Olhando para Ele seremos salvos (Isa. 45.22), seremos iluminados (Salmos 34.5).

O Senhor por sua misericórdia tornará as nossas trevas em luz, e as coisas tortas ele endireitará. Muitos cegos verão o Senhor e o adorarão em espírito e em verdade (Isa. 42.16-18). Ele disse, e o fará, mas não podemos nos esquecer das cinco virgens insensatas que estavam com as lâmpadas se apagando. Isto mostra que neste exato momento, há irmãos prudentes que estão olhando, conhecendo e prosseguindo no conhecimento dEle, e há outros que estão como cegos, infrutíferos no conhecimento dEle, vendo somente o que está perto.

 

A PEDRA ANGULAR 

  

Como vimos anteriormente, o Senhor primeiro nos leva à Sua Palavra e então restaura a vista aos cegos, nos dando visão espiritual. Mas a finalidade da revelação da Palavra e da visão é nos levar a Cristo. As Escrituras é uma candeia que alumia em lugar escuro, até que a estrela da alva, a estrela da manhã, a aurora lá do alto surja em nossos corações (II Ped. 1.19; Apoc. 22.16). Aquele que disse a Palavra é o mesmo que resplandece em nossos corações, para iluminar (II Cor. 4.6).

Não que no coração de Deus Cristo não esteja em primeiro lugar, mas para que em Cristo tenhamos vida, é necessário que primeiro o Senhor restaure a Sua Palavra e por ela a visão. Como vamos ver a seguir, Ele primeiro envia a Sua Palavra, e dá visão para que à partir de Cristo comece a edificação, ou a restauração daquilo que já tinha sido edificado e que agora está destruído.

A Palavra de Deus é viva, não somente palavras, por isso é que o Verbo se fez carne. A Palavra enviada não pode voltar para Ele vazia (Isa. 55.11). A candeia alumia em lugar escuro, a profecia é para este tempo, mas um dia ela cessará, um dia essa candeia será apagada (I Cor. 13.8), mas o sol da justiça que resplandeceu em nossos corações jamais será apagado. Quando o último inimigo for vencido, aí não haverá mais noite; não necessitaremos da luz da lâmpada, nem da luz do sol, porque o Senhor Deus nos alumiará pelos séculos dos séculos (Apoc. 22.5). Aleluia!

Aprouve a Deus que em Cristo convergissem todas as coisas; que Ele tivesse toda a preeminência, isto é, que tudo que tivesse algum valor espiritual e eterno estivesse apenas nEle (Col. 1.18). Ele é o Alfa e o Ômega de todas as coisas; o princípio, meio e fim (Apoc. 1.8). Porque dEle, e por Ele, e para Ele são todas as coisas. Ele é a pedra angular, a pedra de esquina por onde começa toda a edificação de Deus.

Não pode haver algum tipo de visão espiritual fora de Cristo. Toda visão fora de Cristo é falsa, é um embuste, uma armadilha, uma mentira astuciosa, ainda que seja usada a Palavra de Deus. Esse é outro grande erro, criar algo baseado na Palavra de Deus, mas sem o Cristo da Palavra. Como Jacó que chamou o lugar da visão que teve de casa de Deus, para depois conhecer o Deus da Casa de Deus (Gên. 35.7). Ele viu somente depois, mas muitos que vieram depois dele não viram a Deus, somente o lugar que Jacó teve a visão, e aquele lugar se tornou um tropeço para o povo.

Quando Deus criou o mundo criou tudo para Cristo. Ele é antes de todas as coisas, e tudo subsiste por Ele. O Verbo estava no princípio com Deus, e o Verbo era Deus. Tudo foi criado por Ele e para Ele, e sem Ele, nada do que foi feito se fez (Jo. 1.3). Deus fez assim para que em Cristo habitasse toda a plenitude (Col. 1.10). 

Por isso, depois de Deus criar os céus e a terra, ele disse: "Haja luz. E houve luz... E Deus chamou a luz Dia, e as trevas noite. E foi a tarde e a manhã o dia primeiro" Gênesis 1.3-4. O que é essa luz, ou melhor, quem é essa luz? A mesma Escritura nos diz em II Coríntios 4.6 que é Cristo: "Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo".

Notem também que a palavra "Dia" está em letra maiúscula, indicando que o Dia é uma pessoa. Ele é o primeiro Dia para o universo, e Ele é o primeiro Dia da nossa vida cristã. Sem Ele não há luz, não há Dia, é tudo trevas. Não que havia trevas na eternidade passada, mas depois de tudo criado, sem Cristo tudo era sem forma e vazio; em trevas e só abismos (Gên. 1.1-2).

Quando Deus plantou um jardim no Éden, Ele começou a fazer brotar da terra toda qualidade de árvores, mas Ele começou pelo meio do jardim. A primeira árvore que plantou foi a árvore da vida (Gên. 2.8-9). Quando o homem caiu em pecado, a primeira coisa que Deus fez ao homem, ainda dentro do jardim, foi vesti-los com túnicas de peles de animais que sacrificara (Gên. 3.21). Deus não poderia olhar para a sua criatura em pecado, então passou a olhar para a justiça do Seu Filho.

Quando Deus enviou o dilúvio sobre a terra Ele mandou Noé construir uma arca. Qual é a figura da arca, sendo usada para a salvação da sua família? Cristo claro. Tudo tipifica Cristo. Se você não o vê nas Escrituras, você tem conhecido apenas a letra.

E quando Noé saiu da arca qual foi a primeira coisa que fez depois de receber revelação do Espírito tipificado pela pomba? Fez um altar e sacrificou a Deus, e depois plantou uma vinha. Que figuras tão bendita de Cristo! Tudo tem que iniciar por Ele, porque somente nEle há Vida. - O altar é o assunto que iremos ver a seguir.

Quando o povo saiu do Egito, Deus mandou que eles tomassem para cada casa um cordeiro, e que fosse morto e o seu sangue passado nas vergas das portas. Nada inicia sem um sacrifício e por Cristo. Mesmo antes da fundação do mundo o cordeiro já tinha sido morto (Apoc. 13.8). A criação não existiu antes do sacrifício de Cristo.

Quando Deus mandou Moisés construir o tabernáculo, que tudo tipificava a Igreja, a unidade entre judeus e gentios, a primeira peça a ser construída e introduzida no tabernáculo foi a arca do pacto que tipifica Cristo. E dentro dela três coisas: as tábuas da lei que mostra o caráter, a natureza divina de Deus em Cristo, o maná que tipifica Cristo como o pão da Vida, e a vara de Arão que tipifica o ramo cortado da terra dos viventes, mas que ressuscitou, e nos deu vida eterna.  

Por isso que tudo o que é criado começa por Cristo e é para Cristo. Quando há uma queda, uma destruição,  Deus envia a Sua Palavra, dá visão e começa a restaurar por Cristo. Sempre que Deus retorna para restaurar, Ele sempre inicia pelo seu Filho. Nada pode ser iniciado sem Cristo. Se todo desvio é dEle é lógico que temos que retornar para Ele.

Com a igreja primitiva também foi assim. Antes dEle subir ao céu ordenou aos seus discípulos que ficassem em Jerusalém, porque Ele enviaria a promessa do Pai, e do alto seriam revestidos de poder (Luc. 24.49). Depois de dez dias o Senhor derramou o Espírito sobre eles (Atos 1.8; 2.1-3). Tudo começa por Ele, porque o Senhor é o Espírito, e Ele também disse que estaria conosco todos os dias, até a consumação dos séculos. É a sua presença pelo seu Espírito.

No final, quando Deus criar novos céus e uma nova terra, o Senhor fará descer sobre ela a Nova Jerusalém. Esta nova cidade também será edificada como o jardim do Éden, à partir do seu centro, que nos mostra Cristo novamente, aquele que tem toda a preeminência: "No meio da sua praça, e de um e de outro lado do rio, estava a árvore da vida, que produz doze frutos, dando seu fruto de mês em mês; e as folhas da árvore são para a saúde das nações" Apocalipse 22.2.

O primeiro Dia, como vimos, é Cristo, e o último também. Portanto, qualquer restauração que haja em qualquer tempo deve iniciar por Ele, porque nEle subsistem todas as coisas, e sem Ele, por melhor que seja, é sem forma, vazio, abismos, trevas, miserável, pobre, cego e nu.

Vamos continuar então a ver na Palavra, pela restauração do templo em Jerusalém como o Senhor caminha na restauração do seu testemunho. Vamos caminhar nos livros de Esdras e Neemias para compartilhar aquilo que o Senhor tem despertado em nosso coração. Uma pequena contribuição com alegria.

Tudo o que veremos a seguir segue falando de Cristo, o testemunho de Deus que precisa ser restaurado.

 

O ALTAR 

  

Como vimos anteriormente, o Senhor nos faz primeiramente retornar à Sua Palavra, depois reacende a sua lâmpada trazendo visão espiritual, mas com o propósito de que Cristo tenha toda a preeminência. Ele é antes de todas as coisas, e tudo subsiste por Ele. O Alfa e o Ômega, o princípio e o fim de tudo. E como também vimos, toda restauração de Deus começa pelo seu Filho, porque Ele é o testemunho de Deus.

Como também já citamos, irmãos preciosos tem exaustivamente falado pelo Espírito, usando os livros de Esdras e Neemias para ensinar a Igreja sobre a restauração do testemunho do Senhor. Mas, como o orvalho de Hermon que desce a cada manhã sobre os montes de Sião, e o maná que é dado a cada dia também pela manhã, que o Espírito traga um frescor e um novo alimento para a Igreja de Jesus Cristo; o qual esperamos que Ele o faça em Nome de Jesus. As torrentes do rio Jordão começam com o orvalho que desce do Hermon. O pão nosso de cada dia, que desce dos céus, do trono de Deus, se torna doce em nosso paladar.

O Senhor antes de fazer a obra da criação realizou um grande projeto a partir do seu Filho Jesus (Heb. 11.10). Ele é o arquiteto e edificador dessa obra, e sempre que o homem se desvia desse projeto, desse propósito eterno de Deus em Cristo, Ele o faz voltar. Lembrando que todo desvio é de Cristo e para Ele temos que retornar, porque todo o prazer do Pai está nEle e toda a sua vontade será satisfeita. O que todos devemos temer, é que mesmo que este projeto já esteja acabado desde antes da fundação do mundo, Ele pode dizer em qualquer tempo na sua ira: "Não entrarão no meu descanso" Hebreus 4.3.

Olhando para este projeto, para este propósito eterno, vemos então, depois dos 70 anos do cativeiro na Babilônia, Deus restaurando a Sua Palavra que insistentemente foi enviada ao seu povo e desprezada, quando ainda estavam em Israel (II Cron. 36.15-16). Então Deus abriu os olhos de Daniel para ver pelas Escrituras que os 70 anos determinados ao povo de Israel tinha se cumprido (Dan. 9.2). Daniel então, apesar de não retornar a Jerusalém, teve a visão que Deus iria restaurar o templo de Israel, fazendo o seu povo retornar para a terra, e orou pelo povo.

Que coisa bendita é a oração segundo a vontade de Deus! Deus nunca se esquece da sua promessa. Mesmo diante da incredulidade e desprezo do homem, Ele sempre faz uma promessa, sempre jura por si mesmo (Heb. 6.13-18). Daí traz a luz à Sua Palavra aos remanescentes, para que estes unidos ao Seu coração possam orar e serem cooperadores na sua obra.

Assim Deus fez, não com todos a princípio, mas com os remanescentes, pois na restauração, eles sempre são os que cooperam com o Senhor. Deus então estimula os seus espíritos para subirem a Jerusalém para restaurar o templo (Esd. 1.5). A restauração é como um despertar de um sono para os remanescentes (II Cron. 36.22-23, Esd. 1.1).

É claro e notório que Deus tem feito uma restauração preciosa do seu testemunho em todo o mundo, e que muitos tem tido a graça de serem participantes; vendo a princípio, clamando e caminhando em cada ponto. Não usa a todos porque Deus segue o seu padrão como podemos ver na restauração do templo, mas o seu coração, apesar de usar os seus remanescentes, é para todos. Ainda que inicie com os apóstolos, profetas, mestres e santos aperfeiçoados, Ele deseja que todos cheguem (Ef. 4.13). Só não poderão entrar os que não crerem (Heb. 3.19).

Como Deus segue o seu projeto, o seu desenho inicial, a restauração do templo de Israel traz traços muito preciosos para nós olharmos como segue a restauração que Deus tem feito. O Senhor envia a Sua Palavra, traz a visão e a primeira coisa que restabelece é a primazia, a preeminência da Pessoa de Cristo. E isto vemos claramente na restauração do altar, depois dos alicerces, depois do muro e das portas, porque o templo ou o edifício somos nós, a Casa espiritual, a Sua Igreja.

A obra de restauração também requer paciência, não por causa de Deus, mas por causa da fraqueza do homem e dos combates do inimigo, o qual o Senhor deixa para que o seu povo conheça que Ele é o Senhor, e que goze de todas as vitórias alcançadas por Cristo. O Senhor deixa o inimigo para exercitar o seu povo (Jz. 3.1-2), tão somente para que por Cristo também sejam mais do que vencedores.

Desde que começaram a restaurar houve muitas interrupções, o que fez com que a obra estivesse acabada somente em 46 anos (Jo. 2.20). Com Davi e Salomão, como com Jesus, a obra de construção foi rápida, mas a restauração sempre demora mais. Para terminar são necessárias 2 gerações; uma que restaura o altar e os alicerces, e outra que restaura os muros com as suas portas.

A ordem deveria ser inversa, pois seria necessário restaurar os muros com as suas portas e depois o altar, mas vemos que Deus sempre inicia pelo seu Filho, e através do seu sacrifício. Lembremos que antes de Deus criar os céus e a terra, o seu altar foi a primeira coisa a ser levantado, pois o Cordeiro já tinha sido imolado, e o sangue já tinha sido derramado (Apoc. 13.8).

O altar é a primeira coisa a ser levantado e também a ser restaurado, porque o altar representa a Cristo e sua obra sacrificial na cruz. O homem ficou em inimizade contra Deus por causa da queda de Adão, e separado da vida de Deus (Ef. 4.18). Separado da vida de Deus e destituído da sua glória (Rom. 3.23), como filhos da ira (Ef. 2.3).

Para tornarmos a viver com Deus é necessário primeiro uma reconciliação, e ela só pode ser alcançada pela morte. Os pecados só são justificados com o sacrifício de um inocente, e o pecador com a morte (Isa. 22.14; Rom. 6.7). Portanto, é necessário que o pecador, ainda que seja colocado um substituto para o sacrifício, se identifique com aquele que está sendo oferecido em sacrifício. Abel ofereceu um melhor sacrifício, ele viu o Cordeiro de Deus ali, Cristo sendo sacrificado, como também se viu morrendo juntamente com Ele. Quando Deus justifica não vê a morte do substituto somente, mas também do pecador.

Cristo é o cordeiro que foi sacrificado, mas Ele também é o altar. Qualquer homem só pode viver com Deus se for incluído ali. Por isso Deus não aceitou a Caim e a sua oferta. Ele não viu necessidade de se reconciliar com Deus, portanto ele só pensou no sacrifício e não no altar. Pensou que poderia ser aceito como um pecador. Ele não viu necessidade de uma morte e de justificação.

Quando as Escrituras relatam que homens no passado levantaram altares ao Senhor, nos revela que eles estavam se entregando ao Senhor, estavam colocando as suas vidas sobre o altar - o altar é testemunho disso - como sacrifício pelo pecado, e também como consagração, para que em Cristo tivessem Vida.

Portanto, a restauração do altar restaura a vida do homem com Deus, tanto no que diz respeito à reconciliação quanto à vida espiritual a seguir. Com Deus e com a Igreja, pois a realidade da Igreja são homens e mulheres justificados pela fé, que agora também oferecem os seus corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. De homens e mulheres cristãos que foram perdoados, justificados e que agora se consideram mortos para o pecado e vivos para Deus em Cristo Jesus (Rom. 6.11). Quando o altar é restaurado toda a comunhão com o Pai, com o Filho, e uns com os outros também é restaurada.

Todas as coisas a serem restauradas por Deus dizem respeito ao seu Filho, por isso a restauração é do testemunho de Deus, que de seu Filho testificou (I Jo. 5.9), e o altar é a primeira representação dEle. Na figura do altar, como a primeira coisa a ser restaurada no templo, mostra que o Senhor restaura a obra de justiça de Deus em Cristo na cruz, no que diz respeito à salvação, perdão, justificação como também de santificação. A Palavra da cruz é loucura para os que perecem, mas para nós que somos salvos é o poder de Deus (I Cor. 1.18).

Sem o altar e o cordeiro a ser sacrificado, isto é, sem Cristo, nada começa com Deus. Deus não aceita o homem pecador para viver com Ele, pois luz e trevas não podem ter comunhão. Se alguém diz que conhece a Deus e anda em trevas é mentiroso (I Jo. 1.6). Por isso Deus começa pelo altar, começa pela reconciliação, começa em nada propor, senão a Jesus Cristo, e este crucificado (I Cor. 2.2), e depois continua com a santificação, até que sejamos perfeitos, à estatura de varão perfeito, à medida completa de Cristo (Ef. 4.13).

Não há obra de restauração se primeiro não for restaurado o testemunho do Senhor quanto à Cristo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Nada inicia sem que o homem tome este Cordeiro e o ofereça em seu lugar a Deus, e se veja nEle, morto juntamente com Ele. E pela fé neste sacrifício seja justificado pelo sangue, morte e ressurreição de Cristo. O altar e o Cordeiro para o sacrifício, que são um só: Cristo Jesus.

O novo céu e a nova terra é testemunho disso. Lá não haverá mais altar, nem santuário, pois tudo será o Senhor e o Senhor será tudo (Apoc. 21.22). O que ficará é o testemunho do Cordeiro que foi morto, porque as chagas continuarão em suas mãos e pés pela eternidade. Tudo será esquecido, menos aquilo que iniciou a nossa reconciliação e vida com Deus; que Ele foi morto, mas agora vive pelos séculos dos séculos. Amém. 

 

O FUNDAMENTO

  

Como vimos anteriormente, a primeira coisa que Deus restaura no seu testemunho é o altar, é a obra sacrificial de Cristo. Vimos que este altar já tinha sido levantado desde antes da fundação do mundo, e o Cordeiro já tinha sido imolado (I Ped. 1.19-20). Isto porque Deus não pode conviver com o mal, com o pecado do homem. Se este altar não tivesse sido levantado, quando Adão pecou, a ira de Deus o teria consumido.

Mas vemos claramente que a sua ira estava aplacada, porque logo em seguida, mesmo como pecadores, Deus lhes falou sobre a vinda de um filho da mulher que traria a Vida novamente (Gên. 3.15). E como resultado disso o Senhor os vestiu com peles; os vestiu com a justiça do Cordeiro ainda dentro do Éden, profetizando que ainda que fossem expulsos dali por causa do pecado, o homem retornaria ao jardim de Deus, e teria novamente acesso à árvore da vida. João entendeu isso quando disse: "(Porque a vida foi manifestada, e nós a vimos, e testificamos dela, e vos anunciamos a vida eterna, que estava com o Pai, e nos foi manifestada)" I João 1.2.

Mas quando o povo de Israel, que retornou da Babilônia levantou o altar, e começou a sacrificar, encontrou dificuldades para reedificar o templo, tanto na oposição dos inimigos quanto na questão financeira. Então Deus levantou Ageu e Zacarias para profetizar ao povo. Que benditos são os profetas do Senhor! Quanto a Igreja necessita nesses dias de profetas levantados pelo Senhor para que a sua obra continue, ainda que haja grandes impedimentos. Para o Senhor não há impossíveis.

Deus começou esta obra e irá completá-la até o dia de Cristo. Talvez haja impedimentos por causa da fraqueza e incredulidade do homem, mas ela será completada naquele dia. O Senhor poderia realizar esta obra sozinho, mas aprouve a Ele nos fazer seus cooperadores; homens fracos, desprezíveis, sem sabedoria, sem nobreza, mas escolheu essa classe de homens, para que nenhum mortal se glorie na sua presença (I Cor. 1.27-29).

Mas algo que precisamos compreender claramente, como o Senhor nos ensina em Zacarias 4.6, ainda que Ele use homens para estar ao seu lado, com a função de auxiliar, - o que cabe à mulher, figura da Igreja -, não é pela força, nem pela violência que vem qualquer edificação, mas pelo seu Espírito. Normalmente o homem quer imprimir força nesta restauração, mas toda força que fizer, ainda que seja mínima, se tornará em violência para com a Igreja. Temamos isto!

O livro de Esdras e Ageu nos mostra claramente que quando Deus começa a restaurar o seu testemunho, achamos que se o altar for erguido já será o suficiente. Quando o Senhor começa a restaurar o seu testemunho, muitos acham que é suficiente pregar apenas a obra de justiça de Deus em Cristo na cruz. Se o evangelho da graça for pregado e vidas forem alcançadas por ele, Deus ficará totalmente satisfeito, mas isto é um engano. Deus quer uma Casa também; quer um edifício, quer que uma casa espiritual seja levantada, com sacerdócios santos e sacrifícios espirituais agradáveis a Ele por Jesus Cristo (I Ped. 2.5).

Primeiro é necessário que o altar seja levantado, porque não pode haver vida com Deus sem reconciliação, porque a restauração começa com um mediador e uma mediação entre Deus e os homens; o altar e o Cordeiro. Mas a partir da reconciliação Deus deseja que um edifício esteja bem ajustado, crescendo para templo santo no Senhor. Um edifício para morada de Deus no Espírito (Ef. 2.21-22). E este edifício começa pelo fundamento.

Deus usa uma expressão muito clara em Ageu quando fala que eles estavam forrando as suas casas, enquanto a casa de Deus estava destruída (Ag. 1.9). Pelas dificuldades achavam que ainda não era o tempo de se edificar, e estavam contentes apenas com o altar e os sacrifícios (Ag. 1.2). Por causa das dificuldades, muitos após a reconciliação com Deus, acham que ainda não é tempo de edificar. A partir da regeneração somos incluídos pelo Espírito em um corpo (I Cor. 12.12), para funcionar como membros neste corpo. O Senhor deseja que a edificação venha em seguida ao novo nascimento, e para isto enviou o seu Espírito. Não somente ver, mas entrar no Reino (Jo. 3.3-5).

Mas por causa da nossa fraqueza e falta de entendimento podemos ficar anos somente com o altar. Aí o Senhor envia os seus profetas para despertar os seus remanescentes, aqueles que iniciaram a restauração. O altar, isto é, a obra sacrificial de Cristo nunca será esquecida, mesmo que o propósito no momento seja a edificação. Não há edificação sem reconciliação, mas o Senhor também não quer somente a reconciliação, mas também uma habitação.

Por isso após ser levantado o altar, Deus inicia a sua restauração pelo fundamento, porque não há edificação sem fundamento. Até o altar, a restauração do testemunho do Senhor se dá apenas no que diz respeito à reconciliação, mas à partir do fundamento Deus começa a restaurar no que diz respeito à edificação. Primeiro somos reconciliados com Deus, mas a partir daí, como uma nação santa, um povo de propriedade exclusiva de Deus, Ele começa a edificação da Sua Casa, do templo santo no Senhor.

Em Hebreus, capítulo 11, no verso 10, o Senhor nos diz sobre o seu projeto em Cristo: "Porque esperava a cidade que tem fundamentos, da qual o arquiteto e edificador é Deus". Neste verso o Espírito nos fala da obra do Pai, do seu propósito eterno em Cristo desde antes da fundação do mundo. Uma obra que foi projetada por Ele e está sendo edificada na Pessoa de Jesus Cristo.

O arquiteto é aquele que projeta e edifica a obra. O projeto de Deus é uma cidade que tem fundamentos, e vemos esta cidade em Apocalipse 21 e 22. Mas qualquer coisa que possa estar em qualquer projeto, deve ser todo posto primeiramente no fundamento. Não se pode edificar sem antes estabelecer o fundamento. Por outro lado, o fundamento também mostra toda a obra a ser edificada. Uma vez que o fundamento está pronto, está lançado, ele nos mostra - ainda que não haja nenhuma edificação - a obra projetada.

Isto nos ensina o quê? Que todo o projeto de Deus de edificação já está determinado na Pessoa de Cristo que é o fundamento. Quando olhamos para Jesus, como o fundamento, isto já nos dá uma visão do que está para ser edificado, do propósito eterno de Deus mesmo que não claramente aos nossos olhos em todos os seus detalhes. Em Cristo já podemos ver o que será o edifício e a cidade de Deus.

Outra coisa que o fundamento nos ensina, é que não é possível modificar a edificação depois, porque ela já está determinada pelo fundamento. Caso alguém queira fazer alguma modificação, teria que retirar o fundamento e lançar outro. Por isso é que este fundamento já foi lançado e tudo o que sair fora dele, tem que retornar para ele. Todo sábio construtor, como diz Paulo, começa pelo fundamento, e ninguém pode lançar outro, além desse que já foi lançado por Deus (I Cor. 3.10-11). Toda restauração, no que diz respeito à edificação, nada mais é do que retornar ao fundamento, retornar à Cristo.

Jesus é o fundamento desse grande projeto de Deus; é a pedra de edifício, a principal pedra  de esquina (I Ped. 2.6). O fundamento de Deus fala de uma Pessoa, mas não uma pessoa individualmente, porque sobre este fundamento será edificada uma cidade (Apoc. 21.19). Esta cidade é a Sua Igreja, onde Cristo é o cabeça e a Igreja é o seu complemento (Ef. 1.22-23). Uma cidade que começa por um edifício santo, um edifício de pedras vivas, e que se tornará límpida como o jaspe cristalino (Apoc. 21.9-11).

Hoje ainda não vemos a cidade pronta, mas já podemos ver o fundamento e a edificação que o Pai já tem feito em seu Filho, a pedra eleita e preciosa (I Ped. 2.6). Podemos já pelo fundamento e pela parte que já está edificada, ter uma noção do que será esta cidade. Portanto, fiquemos cientes que o Pai não edificará em outro fundamento.

O Senhor terminará a sua obra. Ele não ficará confundido, e também ninguém zombará dEle porque começou e não pôde terminar (Lucas 14.28-29). Ele completará também em nós a sua obra, porque a Sua Glória não poderá ser ofuscada nesta cidade (Fil. 1.6). O fundamento de Deus permanece firme, e o seu propósito de edificação também. Toda edificação fora desse fundamento irá ruir (Mat. 7.26).

Por isso, como Ele diz em Ageu 2, dos versos 1 a 9, ainda que a sua Casa nesta restauração não seja como a primeira na sua glória, devemos olhar para a glória da última casa; porque a glória da última casa, que já nos é revelada pelo fundamento, será muito maior do que a primeira. Ainda que tenhamos muitas dificuldades, fraquezas, incapacidades e impedimentos, Ele nos diz que é para nos esforçarmos, e trabalhar, porque o seu Espírito habita no nosso meio. O ouro, a prata e as pedras preciosas para a edificação também é, e vem dEle.

 

A CASA DE DEUS

 

Olhando para a Palavra de Deus e para a restauração do testemunho do Senhor, vemos que a Casa de Deus só é edificada depois do altar e do fundamento. No princípio da Igreja também vemos esta ordem: Primeiro o Cordeiro de Deus sendo sacrificado, depois ressuscitado e andando com os discípulos por 40 dias. Ele sendo estabelecido como o fundamento, a pedra angular, e depois o Espírito sendo derramado formando e edificando o Corpo.

É que nós olhamos para o que vemos, mas Deus não vê como vê o homem. Todo o prazer de Deus está em seu Filho e quando Ele não vê o Filho, ainda que para nós, o que temos e vivemos pareça riqueza, para Ele é miserabilidade, nudez, pobreza, e cegueira (Apoc. 3.17). Na restauração, Deus não usa o que está caído, mas tira para fora as que são suas, e as faz retornar para Ele. Vai adiante delas e elas o seguem (Jo. 10.4).

Na restauração do segundo templo em Israel, todo o povo que foi despertado a restaurar não estava na terra, mas na Babilônia. Isto traz alguma luz para você? O que significa a Babilônia, ou Babel para Deus? Deus nunca edificará na Babilônia, por isso tira de lá as que são suas, e as traz para a terra, para Cristo, o lugar onde escolheu para ali por o seu Nome.

Igreja quer dizer isto mesmo: aqueles que ele tirou para fora. A Casa de Deus nunca poderá ser edificada em terra estranha. Nunca poderá ser edificada junto a outros deuses, e nunca poderá ser substituída por outro projeto, principalmente por um projeto humano. Mas queremos enfatizar algo importante: o povo na restauração é trazido da Babilônia. Não é a diáspora, no qual o povo volta de outras terras, mas na restauração da Casa o povo vem da Babilônia, do mundo religioso e idólatra.

Deus deseja uma Casa para Ele, e este é o seu projeto inicial. O projeto não era a salvação, mas uma edificação. A salvação só foi necessária por causa do pecado. Tanto é assim que quando Ele diz: "far-lhe-ei uma ajudadora que lhe seja idônea" (Gên. 2.18), esta palavra "far-lhe-ei" no hebraico, seria melhor traduzido por 'edificarei'.

As Escrituras é muito clara quando afirma que nós somos a sua noiva e futura esposa; pedras vivas, edificadas à partir da pedra angular, do último Adão: Cristo. Deus não quer pedras apenas, e muito menos um monte de pedras espalhadas. Como diz o apóstolo Pedro, Cristo é a pedra angular, e nós achegados a Ele, isto é, uma pedra encaixada a outra pedra, e outras sendo postas acima das outras, a partir dEle, somos edificados como casa espiritual, para sermos sacerdócio santo, a fim de oferecermos sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por Jesus Cristo (I Pd. 2.4-5).

O escritor de Hebreus também se refere a esta edificação feita por Deus como a Sua Casa, quando diz: "Porque toda a casa é edificada por alguém, mas o que edificou todas as coisas é Deus. E, na verdade, Moisés foi fiel em toda a sua casa, como servo, para testemunho das coisas que se haviam de anunciar; mas Cristo, como Filho, sobre a sua própria casa; a qual casa somos nós, se tão somente conservarmos firme a confiança e a glória da esperança até ao fim" Hebreus 3.4-6.

Esta Casa somos nós; são todos os que crêem. Tanto no tabernáculo, como no templo, a sua glória, o seu 'shekinah' só se manifestou porque tudo foi feito conforme o modelo que foi dado por Deus, e o modelo era do céu. O que era modelo se tornou realidade no dia de Pentecostes, quando a sua glória desceu sobre aquelas 120 pessoas. Após isso, permanece sobre a sua Igreja em todas as gerações, até o dia de hoje. A partir daí não foi mais necessário o templo, e ele foi totalmente destruído e segue até hoje. O povo de Israel quer reerguê-lo, mas Deus não necessita mais dele, pois já tem o seu santuário.

Em João 2, dos versos 13 a 21, Jesus profetiza acerca da sua Igreja. O título fala de purificação do templo, mas Jesus não desejava purificar aquele templo; naquele momento estava falando que aquilo que sempre foi uma figura, ia se tornar realidade nEle. O templo ao qual Ele se referia, era o templo do seu corpo, não o físico, pois já profetizava sobre a Casa do seu Pai, a Casa espiritual que é o seu Corpo, o qual Ele é a cabeça, e os filhos de Deus o seu complemento (Ef. 1.22-23).

Jesus chamou aquele templo de casa de negócios, porque tudo o que não é a Sua Casa, e que não tem a Sua Presença, a glória de Deus, é uma casa de negócios. Aquilo que por muitos é chamada de casa de Deus se tornou uma casa de negócios (Jer. 7). Deus não habita em templos feitos por mãos humanas. Se o Senhor Jesus não for o cabeça da igreja, se a sua Presença e a Sua Glória não estiverem nela, nunca irá considerá-la como a Sua Igreja.

Aquilo que se conforma ao mundo é chamado por Deus de Babilônia, que teve o seu início em Babel. As coisas de Deus se discernem espiritualmente, e tudo o que é aparente, visível, não pode ser chamado de Sua Casa. A Casa de Deus é um templo vivo, edificada com pedras vivas, a partir da pedra angular. Ela é espiritual, é celestial.

A Casa de Deus também não tem beleza exterior. Como no tabernáculo, a sua glória só podia ser vista no seu interior. Quem olhava de fora via algo esquisito, apenas peles de animais, mas o seu interior era glorioso. Por fora mostrava a humanidade de Cristo, mas por dentro a sua divindade.

Ao contrário do mundo que quer mostrar coisas visíveis e que sejam atrativas aos homens, a Igreja do Senhor não tem beleza nem formosura para que a desejem. Ela é pobre e fraca na sua aparência (Apoc. 2.9 e 3.8). Um dia será gloriosa, como pedra preciosíssima, diáfana como o cristal, mas hoje tem a mesma aparência do tabernáculo e de Cristo em sua humanidade. Quem a vê de fora não acha nada atrativo nela, porque a sua Glória está no interior, na Pessoa de Cristo, que é a vida dos seus santos e que está no meio do seu povo.

No tabernáculo, os pecadores só podiam entrar no átrio, somente os sacerdotes viam a sua Glória interior, e apenas o sumo sacerdote via toda a sua Glória no santíssimo. Hoje, como sacerdotes reais, podemos ver a Sua Glória e ministrar na Sua Casa. Somente o nosso Sumo Sacerdote conhece toda a Sua Glória. Somente Ele penetrou os céus fisicamente, mas já podemos gozar da Sua Glória na medida em que já somos a Sua Casa. E por Cristo, temos acesso ao santíssimo lugar, pelo caminho novo e vivo que Ele nos inaugurou (Heb. 10.19-20); este santíssimo é o nosso próprio Deus.

Se tentarmos visualizar a Casa de Deus, ou sem entendimento chamarmos um lugar de Sua Casa ou Sua Igreja, correremos o risco de perder aquilo que o Senhor tem edificado. Quando Deus deu a Moisés e a Davi o desenho da Casa, esse desenho era do céu. Hoje gozamos daquilo que é o verdadeiro tabernáculo que Deus fundou e não o homem (Heb. 8.2). Hoje vivemos a realidade daquilo que para eles era apenas um modelo, uma figura. Esta realidade é espiritual e não visível.

Se não olharmos com os olhos espirituais, vamos estar em grande confusão, e continuar causando divisões entre o povo de Deus. Todo filho de Deus ministra neste santuário, pois é um sacerdote real. Quando Deus olha para a Sua Igreja a vê completa, com Cristo como o cabeça dela, uma parte do seu complemento no céu, e outra aqui na terra (Ef. 3.14-15). Por isso três dão testemunho no céu, e três na terra, mas o Espírito é o único que dá no céu e na terra, porque este é o seu ministério, o de dar testemunho (I João 5.7-8).

A Casa de Deus ou a Igreja de Jesus Cristo são todos os santos no céu e na terra, e o Senhor Jesus a cabeça sobre todos. Por isso todo filho de Deus já chegou ao monte de Sião, à Cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, à Universal Assembléia e igreja dos primogênitos inscritos nos céus, e a Deus, ao juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados, e a Jesus cabeça sobre todos (Heb. 12.22-24). Não é algo palpável como diz o verso 18, mas de fé. Um reino inabalável.

Se chamarmos um lugar de igreja, ou excluirmos qualquer irmão, mesmo alguém que já esteja no céu, ainda não entendemos o que é a Casa de Deus, ou a Igreja do Deus vivo. Como diz um irmão, se você disser que vai à igreja na quarta-feira ou no domingo, ou que esqueceu o guarda-chuvas ou a bíblia na igreja, você ainda não sabe o que verdadeiramente é a Igreja. O que chamamos de igreja, aquilo que é visível, palpável, o Senhor chama de mundo na parábola do joio e do trigo (Mat. 13.36-43).

A Casa de Deus é espiritual e só os verdadeiros adoradores conseguem vê-la. Como Jesus disse à mulher samaritana, quem adora no monte, ou precisa de um templo para adorar, adora o que não conhece (João 4.20-24). Deus é Espírito e tudo o que se relaciona com o seu mundo também é espiritual. Há muitos que se chamam adoradores, mas Deus procura verdadeiros adoradores, como disse Jesus, que o adorem em espírito e em verdade.

Em Hebreus 3.5, a Palavra diz que Moisés foi fiel sobre a casa de Deus como servo. Essa deve ser a nossa atitude para com a Casa de Deus. Ele com todo o conhecimento do Egito podia colocar as suas mãos e conhecimento para edificar o tabernáculo, mas não o fez, se portou como um servo fiel.

Davi também queria fazer uma casa para Deus, e Deus revelou a ele a Igreja quando disse: "...o Senhor te declara que ele te fará casa... senão que também falaste da casa do teu servo para tempos distantes" II Samuel 7.11 e 19. Se Deus deixasse Davi fazer uma casa para Ele, e com certeza ele já tinha o projeto em seu coração, como seria? Ele tinha capacidade e condições financeiras para fazer, pois já tinha feito uma linda construção para ele, mas Deus não aceitou o seu projeto, ainda que majestoso, porque certamente não expressava Cristo, mas a glória humana.

Deus é quem nos tem feito Casa. Ele é o arquiteto e edificador dessa obra. Na construção do tabernáculo e do templo Moisés e Davi foram servos fiéis, servos obedientes. Da mesma forma como o Senhor os guardou de fazerem uma casa para Ele, que o Senhor nos guarde também de fazer algo para Deus com as nossas próprias mãos, inteligência, e condições financeiras.

 

O MINISTÉRIO SACERDOTAL

 

A Casa de Deus é espiritual, mas ela tem a parte prática que é o serviço da Casa, ou o ministério sacerdotal. Como em toda a restauração de Deus, na restauração do seu testemunho, o ministério sacerdotal na Casa de Deus que pertence a Cristo também tem que ser restaurado. Paulo nos ensina em I Timóteo capítulo 1, no verso 12, que o serviço da Casa de Deus pertence a Cristo. Todo o ministério pertence a Ele, mas que aprouve a Ele nos colocar, no SEU ministério.

Por isso só há um ministério sacerdotal, o sacerdócio de Melquisedeque, o ministério eterno de Cristo. Todo filho de Deus é um sacerdote, e por ser segundo a ordem de Melquisedeque tem um sacerdócio real, e todo verdadeiro sacerdote estará ligado a este ministério e ordem. Um sacerdócio real e eterno de justiça e de paz (Heb. 7.2). Não um sacerdócio levantado pelos homens, mas pelo poder de uma vida indissolúvel (Heb. 7.16). Aleluia! Tudo é Cristo, e tudo é por Cristo.

Todo sacerdócio tem duas funções, ministrar coisas espirituais a Deus e levar aos homens instrução e conhecimento de Deus (Mal. 2.7). Ministrar a Deus e aos homens pela vontade de Deus (II Cor. 8.5). Cristo em nós é o apóstolo e sumo sacerdote da nossa confissão que necessitamos considerar (Heb. 3.1). Por isso todo filho de Deus é edificado como Casa espiritual e sacerdócio santo, a fim de oferecer sacrifícios espirituais. Mas só é possível ser agradável a Deus se for por Jesus Cristo (I Pd. 2.5).

Como vimos anteriormente, o modelo que Deus deu a Moisés e Davi era o modelo de um tabernáculo celestial. Ele era um modelo de Cristo, porque ele tomou um tabernáculo quando se fez carne (Jo. 1.14), e a partir da sua ressurreição estabeleceu um santuário celestial, que é o novo homem (II Cor. 5.1-2). Ele como o cabeça e nós como o seu Corpo, o seu complemento (Ef. 1.22-23).

Por isso temos que ver pelos olhos espirituais o verdadeiro tabernáculo de Deus (Heb. 8.1-2). No templo e no tabernáculo havia, podemos assim dizer, 4 partes: o santíssimo, o santo lugar, o átrio ou pátio exterior, e o arraial. Duas partes internas e gloriosas, e duas partes externas. Duas que são ministradas a Deus e duas que são ministradas aos homens, ainda que o pátio exterior e o arraial estivessem divididos por cortinas. Isto mostra uma diferença entre os pecadores, e isto veremos mais adiante.

Como vimos o pecador não podia ver a glória interior do santuário. Somente o sumo sacerdote e os sacerdotes podiam ver. Quem fazia o serviço do tabernáculo era somente Arão e seus filhos, mas isto não estava no coração de Deus desde o princípio. No princípio Deus queria que todo o povo fosse uma nação sacerdotal, e este continua sendo o Seu propósito hoje para todo filho de Deus (Êx. 19.6).

Quando somos transportados do império das trevas, para o reino de Cristo (Col. 1.13), somos feitos reis e sacerdotes sobre a terra. A partir daí não precisamos mais ver a glória de Deus somente na criação (Sal. 19.1), na parte externa deste tabernáculo celestial, mas recebemos, passamos a conhecer e ser transformados por esta glória na face de Jesus Cristo (Jo. 17.22, II Cor. 4.6, II Cor. 3.18). Depois de chamados e justificados, somos glorificados (Rom. 8.31).

O sacerdote podia entrar em três partes: no arraial, no átrio e no santo lugar, mas somente o sumo sacerdote podia entrar também no santíssimo lugar. Isto nos mostra que somente Cristo, além dos outros lugares, entrou fisicamente no santíssimo lugar, pois ele teve que sair e ser sacrificado fora da porta. Agora temos um homem, um sumo sacerdote que entrou no próprio céu para comparecer por nós perante a face de Deus (Heb 9.24).

Por Ele temos acesso ao santíssimo lugar em espírito e em verdade, pois o véu que separava já não separa mais; foi rasgado de cima para baixo. Fisicamente não podemos penetrar os céus, mas temos por Cristo, acesso ao Pai em um mesmo espírito (Ef. 2.18). E tudo o que Ele tem ouvido do Pai, nos tem dado a conhecer (Jo. 15.15).

Cristo está por nós, no próprio céu, assentado à destra de Deus, e nós como sacerdotes reais ministramos na Casa de Deus no santo lugar. Mas todo ministério sacerdotal é a Deus e aos homens. Por isso ministramos no santíssimo e no santo lugar a Deus e no átrio e no arraial aos homens, aos pecadores (Heb. 13.13).

Sem entrar em muitos detalhes, pois isto pode ser conhecido por livros e pela ministração de outros irmãos que considero mais capazes, gostaria de olhar com a ajuda do Espírito para o ministério sacerdotal em si, para os serviços que se fazem na Casa de Deus. Vermos por estas quatro partes e pelas mobílias internas do tabernáculo e do templo, quais são os serviços que Cristo ministra através dos seus santos, dos seus sacerdotes.

No santíssimo lugar temos o ministério específico de Cristo, como o sumo sacerdote, no santo lugar o sacerdócio de todos os santos que são feitos a Deus em Sua Casa. No pátio externo aos pecadores que estão se aproximando de Deus, se achegando para conhecer a Deus, e no arraial a todos os pecadores. Todos eles são ministérios de Cristo, mas um é específico dele como sumo sacerdote e três são dEle através dos santos.

Por isso todo homem que ministra algo espiritual e verdadeiro, aceitável e na presença de Deus, só é possível por Jesus Cristo (II Cor. 12.19). Portanto, o título pertence somente a Ele; seja de apóstolo, profeta, pastor, mestre ou qualquer outro ministério, a glória pertence a Ele. Somente nEle está todo o prazer de Deus, e nós só podemos ser agradáveis, ou aceitáveis a Deus no Amado (Ef. 1.6). Todo o que se gloria, glorie-se no Senhor. Tomemos o encargo e deixemos o cargo e a glória para quem é digno.

O primeiro ministério interno a Deus era realizado pelo sumo sacerdote no santíssimo lugar. Cristo como o nosso sumo sacerdote inaugurou por nós um caminho novo e vivo, através do véu, isto é, da sua carne. Hoje podemos entrar por Ele na presença de Deus com inteira certeza de fé, porque com o seu sangue ele purificou todas as coisas (Heb. 9.26); Ele nos comprou, e nos fez reis e sacerdotes para Deus (Apoc. 5.10).

Dentro do santíssimo lugar estavam a arca da aliança e o incensário de ouro (Heb. 9.3-4). Do incensário vamos falar depois, junto com a mesa dos pães e o candelabro de ouro, porque estas peças falam dos ministérios sacerdotais dos santos. Ainda que estivesse no santíssimo, vamos incluí-lo com as outras duas peças, porque como o véu não existe mais, e ele ficava defronte do véu que separava o santíssimo do santo lugar, foi incluído agora para ser ministrados não somente pelo sumo sacerdote, mas por nós também,  como um serviço mútuo.

A arca é a primeira peça a ser colocada no tabernáculo porque ela representa a aliança que Deus fez conosco por Cristo, e também porque tudo começa por Cristo; tudo provém dEle. A arca e todas as peças que a compunham, tanto externas como internas, representam tudo o que já está consumado em Cristo na presença de Deus. Tudo o que já está em Cristo e que agora está sendo conformado em nós, os seus filhos. Ele é o varão perfeito que já está assentado nos céus, e que através do seu ministério, do ministério da cabeça, todos os santos estão sendo conformados à sua imagem.

A arca na parte externa nos revela a humanidade de Cristo, que como homem morto e ressurreto, trouxe uma reconciliação e uma comunhão perfeita de Deus com o homem que foi morto e ressurreto juntamente com Ele. Tudo na base da justiça pelo sangue que satisfez toda a exigência de Deus (Rom. 3.21-22, 8.3-4), diante de um trono de graça e misericórdia (Heb 4.16). Tudo diante dos olhos do Pai e do seu Espírito representado pelos dois querubins de glória (Heb. 9.5).

Na parte interna da arca mostra a divindade de Cristo e os seus atributos, que é o propósito de Deus para que todo filho chegue, isto é, à estatura de varão perfeito.  Lá tinha as tábuas da lei que representa o caráter e a santidade de Cristo na nova criatura; o vaso de ouro com o maná, que é o pão que dá vida e que alimenta todo homem, pois comemos desse pão, mas também somos pão para outros por Cristo; e por último a vara de Arão que mostra a vida ressurreta, eterna e frutífera de Cristo em nós, diante de Deus pela eternidade.

Depois do santíssimo, temos o santo lugar. No momento iremos deixar o santo lugar e o altar do incenso para a última parte deste estudo sobre a restauração de Deus, que fala do serviço sacerdotal de todos os santos, e ver agora qual é o nosso ministério sacerdotal em favor dos homens pecadores. O serviço no pátio externo, onde os sacrifícios eram realizados, e fora das portas, para fora do tabernáculo, dentro do arraial.

Deus mandou colocar o tabernáculo fora do arraial porque Ele desejava que todo aquele que fosse ao tabernáculo, fosse para se aproximar de Deus. Fosse verdadeiramente para O buscar, e não por obrigação, ou porque ao vê-lo se recordava (Êx. 33.7). O pátio externo nos ensina o serviço da Casa de Deus em apresentar a Cristo e este crucificado aos homens que estão sendo chamados por Deus, aos pecadores que estão se achegando a Deus para O buscar. Estes são como fala Paulo em I Coríntios 14.24-25, para serem convencidos e julgados por todos, e para que os segredos do seu coração sejam manifestos.

Já o arraial, isto é, fora da porta como nos diz Hebreus 13.13, nos ensina o serviço sacerdotal quanto à pregação do evangelho a toda criatura. É o ide de Jesus por todo o mundo (Mc. 16.15). Todos estes são ministérios de todos os santos, de todo sacerdote real e não de algum grupo especial ou qualificado de irmãos. Como veremos a seguir, todos ministram dentro e fora na Casa de Deus; ministram coisas espirituais a Deus e aos homens. Como Cristo, pois é por Ele, cuidam das coisas do Pai, e crescem em sabedoria, estatura e em graça diante Deus e dos homens (Luc. 2.49-52).

Algo importante também lembrar é que os sacerdotes não ficavam todo o tempo no ministério, ou no serviço da Casa. Eles continuavam sendo sacerdotes, mas tinham os turnos de serviço (Luc. 1.8, I Cron. 9.25), e o restante do tempo cada um cuidava da sua casa. Isto nos ensina que os que são casados não podem estar todo o tempo no serviço, pois tem também que cuidar da sua casa. Como nos ensina Paulo em I Coríntios 7.33-34, toda pessoa solteira pode e deve cuidar somente das coisas do Senhor, mas o que é casado estará dividido, pois terá também que cuidar das coisas do mundo em como há de agradar a sua esposa, e em governar a sua casa.

As duas instituições, a Igreja e a família foram criadas por Deus, e, portanto, são importantes e necessárias de serem cuidadas diante dEle. Em seguida queremos olhar para o serviço dos sacerdotes que se faz na Casa para Deus. Os sacrifícios espirituais agradáveis a Deus que estamos sendo edificados para cumprirmos de forma graciosa. Que o Senhor nos dê graça para enxergar e andar.

 

A MESA DOS PÃES DA PRESENÇA

 

Como vimos anteriormente, o ministério sacerdotal pela figura do tabernáculo ou do templo são figuras celestiais (Heb. 9.23, 8.1-2). São coisas espirituais que dizem respeito a Cristo, o testemunho de Deus a ser restaurado. Por serem espirituais e celestiais eles devem ser vistos com olhos espirituais, por fé e por revelação do Espírito de Deus.

A figura do santíssimo, do átrio e do arraial como vimos, agora sem o véu que separava o santo do santíssimo, nos revela a Deus, que está assentado no seu trono de glória, e chega por Cristo ao homem pecador para buscar e se reconciliar com ele, na base da justiça do sangue, da morte e ressurreição do seu Filho, o Cordeiro de Deus. Como Deus já veio ao homem pecador por Cristo, agora o pecador também pode ir a Deus, se reconciliar com Ele por Cristo, e entrar com ousadia no santíssimo para O conhecer (Heb. 10.19-20).

Todo este serviço da Casa de Deus que se faz a Deus e aos homens pela vontade de Deus é feito pelo ministério sacerdotal de Cristo através dos filhos de Deus, os sacerdotes reais. Agora com a graça e misericórdia do Espírito, gostaríamos de ver o serviço que se faz a Deus no santo lugar, e depois no santíssimo em comunhão com os espíritos dos justos aperfeiçoados, e com Cristo. Vermos pelo tabernáculo o testemunho de Deus, isto é, a Pessoa, obra, ministério, e o fruto da alma de Cristo que o deixou satisfeito (Isa. 53.11), a sua amada Igreja.

O tabernáculo também mostra o nosso tempo, a Igreja ainda num processo de santificação, sendo retiradas as rugas e as manchas. Por fora, isto é, no átrio e na aparência externa do tabernáculo a nossa carne. O santo lugar é a nossa alma e o santíssimo o nosso espírito. Este é outro lado da figura do tabernáculo, mas que também mostra a Igreja em processo de edificação (Mat 16.18, Ef. 2.22).

O templo, apesar de ser uma figura e não ter agora mais nenhum valor, mostra a Igreja gloriosa; mostra a Casa de Deus para tempos distantes como disse Davi (I Cron. 17.17)), já edificada em glória e em excelência (I Cron. 22.5). Tudo o que no tabernáculo era 1, no templo era 10, isto é, mostra a totalidade. Inclusive dentro da arca no templo não havia mais o maná, nem a vara de Arão como no tabernáculo, somente as tábuas da lei. Isto nos ensina que tudo cessará, mas permanecerá a sua justiça e a sua verdade escritas nas tábuas do coração (Heb 8.10, II Cor. 3.3), que são desde a eternidade e duram para sempre (Sal. 119.160).

No tabernáculo, dentro do santo lugar havia a mesa dos pães da preposição, e o candelabro de ouro (Heb. 9.2). A mesa era colocada do lado oposto do candelabro que vamos ver a seguir, para que a mesa, os pães e os que ministravam à mesa fossem iluminados. Somente os sacerdotes podiam participar e ministrar nesta mesa (Lev. 24.9). Só eles podiam preparar os pães, apresentá-los diante de Deus por sete dias, e comê-los depois (Lev. 24.5-9). Isto nos ensina que somente os filhos de Deus podem participar desta mesa.

Como já falamos, não vamos entrar nos detalhes dos móveis, mas no que eles representam como ministério sacerdotal dos filhos de Deus. A mesa dos pães representa a comunhão dos santos, a comunhão do Corpo de Cristo; a comunhão santa de todos os santos no alimento espiritual que procede do pão da vida que é Cristo e de Cristo por nós, pois também somos pão para Ele e para os outros irmãos. A oferta continua de alimento espiritual (Nee. 10.33). Esta é a mesa do Senhor como diz Paulo em I Coríntios 10, versos 16 e 17.

Por isso eram 12 os pães da proposição, os pães da presença (Lev. 25.30). A mesa fala da comunhão de Cristo pelo homem, por isso o número 12. A Mesa do Senhor é o gozo de Deus em Cristo expresso no homem e através do homem {6 + 6 (Eram colocados em duas fileiras. O 6 é o número do homem)}. As tribos de Israel e os apóstolos têm o mesmo número porque todos expressam o gozo de Deus no homem, e através do homem que ministra sacrifícios espirituais a Deus, como sacerdotes reais que são.

Os doze pães também significam que na mesa do Senhor nada falta. Nenhum ministério ou dom falta para esta comunhão no Espírito. A mesa nos revela a plenitude ministerial de Cristo nos seus santos. Na Casa de Deus não cabe o monólogo, nem um monopólio. A mesa é a comunhão,  a ministração de todos os ministérios e dons de Cristo através de todos os santos. No homem (6) e pelo homem (6) a Deus (6 + 6 = 12).

A mesa mostra algo precioso também com o número 12. Tanto o tabernáculo, como o templo, a Igreja como a cidade e a própria mesa tem a forma quadrangular e não triangular, figura do engano, da trindade maligna, porque o seu propósito eterno é a comunhão do Pai, do Filho, do Espírito com o seu povo, a sua Igreja. Os dons são do Espírito, os ministérios de Cristo e as operações de Deus (I Cor. 12.4-6), e nós os cooperadores nessa comunhão, mas Deus é o que opera tudo e em todos {3 (Trindade) x 4 (Quatro lados)= 12}.

A mesa mostra que todos ministram o pão a todos e comem deste pão. A mesa mostra que todo ministério que não apresenta a Cristo a Deus é falso. Todo sacerdote real se alimenta de Cristo e apresenta Cristo para a comunhão dos homens. Como vimos, o ministério sacerdotal na mesa é para Deus, pois está no santo lugar. Por isso é que falamos de Cristo na presença do próprio Deus (II Cor. 2.17, 4.12).

Eles eram apresentados por sete dias, isto é, todos os dias da semana. O pão estava de forma continua. Isto nos ensina que a comunhão não depende de lugar ou horário, mas é continuo diante de Deus com Cristo e com todos os santos. Mesmo que tenhamos momentos pessoais de comunhão com alguns irmãos, a nossa comunhão em espírito e no Espírito é continua. Para a comunhão com o Senhor e com os santos não existe limite de espaço ou tempo.

Isto é algo muito importante de compreendermos porque achamos que para a comunhão é necessário estarmos fisicamente presentes. Se fosse assim o Senhor não poderia dizer que o povo de Israel perseverava na comunhão (Atos 2.42). Eram oito mil os discípulos em Jerusalém, e na maioria das vezes eles se reuniam nas casas (Atos 2.46). Imaginando que em média coubessem 30 pessoas em uma casa, e se alguém procurasse não estar na mesma casa todos os dias, um discípulo demoraria cerca de um ano para estar com todos os irmãos. Mas se prosseguisse neste propósito, já na primeira mudança de casa perderia a comunhão com os primeiros.

Amados irmãos, como é difícil compreendermos as coisas espiritualmente! E depois que todos foram espalhados, não tiveram mais comunhão? Claro, em todo o tempo, e isto nos mostra a mesa dos pães da proposição. Paulo também diz sobre a família no céu e na terra que tomam o nome (Ef. 3.15). Você não tem comunhão com eles, com os que já dormiram em Cristo? Claro que sim. E com Cristo? Temos plena comunhão com Cristo. Se para esta comunhão fosse necessário estar fisicamente presente, então não poderíamos ter comunhão com o próprio Senhor, só com o seu Espírito.

A mesa mostra claramente que a nossa comunhão é com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo. A comunhão é um ministério sacerdotal pelo Senhor, mas diante de Deus. Cada um de nós foi chamado individualmente para a comunhão de seu Filho Jesus Cristo (I Cor. 1.9). Esta é a comunhão para a qual somos chamados, mas também temos comunhão uns com os outros  (I Jo. 1.3-4), e onde estiverem dois ou três reunidos no seu nome, aí Ele está. Para que haja comunhão é necessário que a sua Presença esteja. Sem Ele não há comunhão. Não há pão, e não pode ser agradável ao Senhor. A comunhão é daquilo que é comum em nós: Cristo. Comunhão sem Cristo é um mero movimento social; é um humanismo.

Mas há o outro lado também, a comunhão uns com os outros. Não podemos desprezar a parte prática, a comunhão pessoal, pois os sacerdotes tinham que estar presentes para fazerem o pão e apresentarem perante o Senhor cada dia; mas eram alguns e não todos os sacerdotes. A parte visível da comunhão para nós é a Ceia do Senhor. Mas por ser prática não deixa de ser espiritual. Paulo diz: "Porventura o cálice de bênçãos que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é porventura a comunhão do Corpo de Cristo? Pois nós, embora muitos, somos um só pão, um só corpo; porque todos participamos de um mesmo pão" I Coríntios 10.16-17.

A comunhão do sangue de Cristo é que todos foram perdoados e reconciliados com Deus pelo mesmo sangue. E não somente isto, pois a comunhão do sangue vai além, ela também inclui a ministração do perdão uns aos outros (Ef. 4.32). Com o pão é a mesma coisa, pois fomos incluídos no mesmo corpo partido de Cristo, e todos agora participam do mesmo alimento espiritual, como também somos pão para o Senhor e para os outros irmãos.

Se há uma coisa que necessitamos de revelação é a ceia do Senhor. A ceia não pode ser um mero formalismo, mas necessitamos entender que quem parte o pão é o próprio Senhor. Ele é quem disse: “Este é o meu corpo que é partido por vós” I Cor. 11.24. Assim como aconteceu com os dois discípulos no caminho de Emaús, Ele é quem parte o pão, e no partir os nossos olhos são abertos e o nosso coração deve arder (Luc. 24.30-32).

Como no corpo alguns membros são mais próximos de outros, no Corpo de Cristo sempre haverá alguns membros que estarão mais próximos uns dos outros. Não podemos exigir que os dedos da mão tenham a mesma proximidade com os dedos do pé do que tem com a mão, com o braço e o antebraço. Não é porque não estamos tão próximos fisicamente que não estamos vivendo em comunhão, como UM. Estão vivendo no corpo e todos têm igual comunhão com a cabeça e uns com os outros.

Gostaríamos de ter comunhão pessoal e física com muitos irmãos, mas isto é praticamente impossível. Neste exato momento há muitos irmãos que estão exercendo o seu sacerdócio e que nem conhecemos em vários lugares do mundo. Apesar disso a nossa comunhão com o Pai, com o Filho e com todos os santos que estão na terra e no céu pode ser em todo o tempo, no Espírito. Não é porque não estamos fisicamente presentes que não podemos ter comunhão com Cristo, com Davi, Moisés e outros que nem conhecemos.

Por isso ainda que Deus visse 12 pães, via neles um só pão e todos comendo de um mesmo pão. Isto é claramente representado pelas 12 pedras que Elias juntou quando reparou o altar do Senhor. Ainda que as tribos estivessem divididas, Ele via um só povo (I Reis 18.31-32). Deus dá testemunho do seu Filho e não de unidade. Se Ele não dá, porque nós queremos dar? Unidade ou comunhão é em Cristo, e ela somente pode ser vista por Deus. Se a unidade fosse mostrada de forma visível não seriam 12 pães, mas somente um. Eram doze as tribos, e eram doze os apóstolos, mas eles mostravam um só povo, um ministério (Atos 1.17), e só um Senhor. Há um só corpo.

Este foi o pecado do homem quando quis edificar em Babel uma torre. Gênesis 11, o verso 1 diz que eles eram UM. Mas aí eles quiseram fazer algo para que essa unidade deles permanecesse, então disseram: "Eia façamos..., Eia edifiquemos..., façamos um nome..." (v.4). O pecado é não crer; não crer no que Deus fez, no que Deus vê e se alegra. Querer fazer é não ter comunhão com Ele, é estar fora do descanso de Deus: “Porque aquele que entrou no seu repouso, ele próprio repousou de suas obras, como Deus das suas” Hebreus 4.10. 

Quando falamos de comunhão pensamos de forma egoísta. Desejamos estar em comunhão para benefício próprio, e muitas vezes até escolhemos pessoas, mas na mesa vemos que esta comunhão é para Deus e não para nós. Para que esta comunhão aconteça realmente é necessário que sejamos do mesmo trigo, daquele que caiu na terra e morreu; sermos fruto dEle. Depois temos que ser triturados juntos, tornando-se uma fina farinha, onde se perde a identidade. Depois amassados e unidos pelo óleo do Espírito.

Mas não somente isto, depois temos que ir para o forno para sermos pão, temos que ser provados na fornalha. Como tudo que é edificação provém dEle, o fogo também o é, porque tem que vir na temperatura e no tempo certo; só o Senhor sabe como provar, e o tempo da provação. Há muito trabalho de Deus em nós para que sejamos massa nova e pão para a comunhão, mas tudo é para o homem e pelo homem. Deus faz tudo através dos seus sacerdotes, porque é algo espiritual; é dEle, por Ele e para Ele.

Como falamos anteriormente, temos que ver as coisas de Deus de forma espiritual, porque senão teremos muitas dificuldades para entendê-las. Elas só podem ser entendidas espiritualmente, reveladas pelo Espírito. É para isto que recebemos o Espírito que provêm de Deus (I Cor. 2.12-13). Mesmo que alguém não esteja ministrando na mesa do Senhor, que esteja cuidando das coisas do mundo há outros que estão, pois os serviços na Casa de Deus são contínuos, em todo o tempo, nunca cessam. Aleluia!

 

O CANDELABRO DE OURO

 

Como vimos anteriormente, o ministério sacerdotal pela figura do tabernáculo ou do templo são figuras celestiais (Heb. 9.23, 8.1-2). São coisas espirituais que dizem respeito a Cristo, o testemunho de Deus a ser restaurado. Por serem espirituais e celestiais eles devem ser vistos com olhos espirituais, por fé e por revelação do Espírito de Deus.

A primeira mobília que vimos - não na ordem que eram colocadas no tabernáculo ou no templo -, é a mesa dos pães da proposição. Toda a mesa é Cristo, aliás, tudo é Cristo. Se Deus olhar e não ver o seu Filho não irá ter prazer, porque todo o seu prazer esta em seu Filho. E nisto também se refere a restauração que temos visto, a restauração do testemunho do Senhor.

A mesa nos ensina a restauração no que diz respeito à comunhão, mas esta comunhão só é possível em Cristo e na Luz da Sua Palavra pelo Espírito. Não é possível haver comunhão sem Luz, por isso Deus colocou do lado oposto à mesa o candelabro de ouro. O candelabro iluminava o ambiente e a mesa dos pães. O candelabro era todo de ouro, inclusive os utensílios para a limpeza dos pavios. Isto nos ensina que tudo provêm de Deus, tudo é divino, tudo tem que ser por Cristo. Os homens podem ser instrumentos, mas na Casa de Deus só Ele pode operar algo que tenha valor espiritual, ou valor eterno.

A Igreja também tem a figura do candelabro porque a sua função é ser luz para o mundo (Apoc. 1.20). A Igreja é como uma cidade edificada sobre um monte que não se pode esconder (Mat. 5.14). Que preciosa figura Jesus dá aqui! Mas quão pobre é pensarmos que Ele está falando de um lugar de reunião, ou daquilo que chamam de igreja. Os dois versos seguintes, isto é, o 15 e 16 do mesmo capítulo 5 de Mateus, Jesus não deixa dúvida quando diz que a luz é Ele em nós, resplandecendo diante dos homens: "Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus". Nós somos a candeia e Ele é a luz.

Na mesa havia 12 pães como vimos, porque ela é o gozo do Senhor por Cristo no homem e através do homem, mas no candelabro, apesar da luz irradiar pelas lâmpadas que são os santos, os sacerdotes reais, tudo provém de Cristo, do Espírito de Cristo. O candelabro não era de madeira de acácia coberto de ouro, mas era de ouro puro. Tudo nEle era divino, tanto o óleo como o fogo proveram de Deus (Lev. 9.22-24). Isto nos ensina que mesmo que a Luz na Casa de Deus venha através dos homens, para ser luz verdadeira, tudo deve provir somente de Cristo. Caso contrário será fogo estranho.

O ministério da Palavra não cabe a carne do homem. No ministério da Palavra nada pode ser do homem, nada do EU pode ser usado. Como podemos ver Cristo se manifesta através dos homens, mas só o que provém dEle pode ser santo e ter algum valor espiritual a Deus. Todo o serviço da Casa de Deus no santo e no santíssimo é a Deus, mas como podemos ver, só pode ser agradável a Deus se for por meio de Jesus Cristo. Para isso temos sido edificados e aperfeiçoados como sacerdotes reais (Heb. 13.21).

O candelabro, a Luz do Senhor por Cristo, pelo ministério da Palavra manifestado pelo Espírito é que se mantém acesa a comunhão entre os santos, a comunhão na mesa do Senhor. Sem esta Luz a comunhão não seria agradável. Não há comunhão sem a Palavra, pois tudo é no Espírito. O candelabro é a figura dos ministérios da Palavra vindos por Cristo através dos seus santos, trazendo justiça, paz e alegria no Espírito Santo, como também edificação, consolação e exortação (I Cor. 14.3).

As Escrituras confirmam isto quando diz que no tempo de Samuel esta lâmpada estava se apagando (I Sam. 3.3). A Palavra de Deus era muito rara, isto é, não havia visões freqüentes (v.1). Sabemos que não havendo visão, não havendo luz o povo se corrompe (Pv. 29.18). O candelabro sem luz perde a sua função (Apoc. 2.5), por isso era mantido sempre aceso, e cuidado para que a Luz do Senhor se mantivesse na maior intensidade.

Para que mantivesse a maior intensidade de luz os pavios eram aparados para que fosse retirada a parte queimada. Como lâmpadas que somos, o Senhor cuida para que esta luz resplandeça sempre e intensamente através de nós (Isa. 60.1); mas como vimos, isto não é obra do homem e sim divina, pois a espevitadeira e o cinzeiro também eram de ouro. Só o Senhor sabe a necessidade de cada um; só Ele sabe qual a medida e qual o tempo de nos limpar. Alguns homens tomam isto para si, tomam lugares de destaque e com ele passam a direcionar os irmãos. Alguns se põe até no lugar do cabeça, como cobrindo outros irmãos, mas na verdade estão usurpando um lugar que não lhes pertence. Com certeza darão conta disto.

O candelabro mostra que a manifestação de Deus a nós é pela Sua Palavra (I Sam. 3.21). Desde o princípio da criação do homem é assim. No jardim do Éden Adão e a mulher não viram nada, mas a comunhão inicial e também depois do pecado com Deus foi pela Sua Palavra. Assim também é com Cristo e com todos os irmãos. Não há comunhão fora de Cristo e fora da Sua Palavra. Assim é que o Senhor se manifesta a nós, e assim é que temos comunhão uns com os outros: em Cristo por Sua Palavra.

A Palavra de Deus é ministrada em todo o sacerdócio, no que diz respeito a Deus e no que diz respeito aos homens. Tanto no santíssimo, como no santo, no átrio e no arraial, a Palavra de Deus é o instrumento de ministração dos sacerdotes. Por isso Isaías diz no capítulo 55, no verso 10 o seguinte: "Porque, assim como desce a chuva e a neve dos céus, e para lá não tornam, mas regam a terra, e a fazem produzir, e brotar, e dar semente ao semeador, e pão ao que come, assim será a minha palavra, que sair da minha boca".

A Palavra de Deus que sai da boca de Deus tem duas funções: dar semente ao que semeia e pão ao que come. A semente é para ser ministrada aos homens no átrio e no arraial, e o pão é para ser ministrado a Deus no santo lugar. Não comemos a semente, mas comemos o pão e semeamos a semente. O pão é lançado sobre as águas e a semente na terra (Ecl. 11.1, e 6). Um para a regeneração e o outro para a santificação.

O candelabro junto com a bacia de bronze eram as únicas peças que não tinham medida, o que nos revela que não há medida para a Luz do Senhor ao seu povo, nem o seu poder purificador. E também a luz era mantida acesa, mostrando que esta luz será pela eternidade. Vida eterna é conhecer a Deus e a Jesus Cristo (Jo. 15.3).

Mas ele também traz algo precioso porque era forjado em uma só peça. Era uma obra de artífice, de ouro batido (Êx. 25.31). Isto nos ensina que todo ministério da Palavra é de Cristo através dos homens, mas não há ministério pessoal; não há ministério em favor de algo que não seja a Igreja de Cristo.

O candelabro estava no santo lugar porque ele tem o aspecto do testemunho antes da obra. No ministério da Palavra todos tem um só ministério, o ministério de Cristo (At. 1.17, I Tim. 1.12). Todo ministério sacerdotal é na Casa de Deus com um único propósito, porque há um só corpo. Todo ministério visa a edificação do Corpo de Cristo. Na Casa de Deus todos procedem de uma só ordem sacerdotal, de um só seminário ou escola, a do Espírito de Deus. Todos são ensinados por Deus (Jo. 6.45).

Da haste central saíam seis braços, três de um lado e três de outro (Êx. 25.32). Sempre que olharmos para qualquer peça nunca podemos nos esquecer que tudo revela a Cristo, e se há algum aspecto humano, sempre é por Cristo. Porque além de tudo ser dEle, tudo é por Ele, e tudo é para Ele. Todo o trabalho de Deus em nós é que Ele seja tudo em todos.

O candelabro tem a figura de irradiar luz através de Cristo que é o próprio candelabro com as suas sete pontas que são os sete espíritos do Senhor (Apoc. 3.1, Isa. 11.2), para que na Sua luz possamos ver a Luz (Sal. 36.9). No candelabro havia sete lâmpadas, mas mostra pela haste central que nEle há uma unidade, há uma só luz, um só Espírito. Esta unidade também é mostrada na figura da Igreja como o candelabro nos sete elementos de Efésios capítulo 4, nos versos 4 a 6 que são: Um corpo, um Espírito, uma vocação, um Senhor, uma fé, um batismo e um Deus de todos, que é sobre todos, por todos e em todos. Uma só peça, todo de ouro, tudo por Deus.

Mas o candelabro também tem a figura do ministério sacerdotal de Cristo através dos filhos de Deus como Igreja, que são lâmpadas. O candelabro que ilumina o ambiente é a luz para a comunhão (I Jo. 1.5), com e através de todos os santos que são as lâmpadas. Todo o serviço prestado ao Senhor é realizado à Luz da Sua Palavra, através das lâmpadas que é o espírito do homem (Pv. 20.27), mas todos mantendo uma perfeita unidade.

Na figura do candelabro, a haste central é Cristo, porque tudo sempre provém dEle. Agora os três braços à esquerda e os três braços à direita revelam também os ministérios de Cristo através dos seis ministérios da Palavra que se faz pelos filhos de Deus. O número 6 é o número do homem, mas os 6 braços representam os braços do Senhor manifestando a sua graça e poder através do homem (Sal. 89.13, Isa. 53.1).

Em Efésios capítulo 4, nos versos 11 e 12, também temos os seis ministérios da Palavra a favor dos santos, entre eles os apóstolos, os profetas, os evangelistas, os pastores, os doutores, e os santos aperfeiçoados. Os cinco ministérios que equipam os santos para que esses possam fazer a obra do ministério para a edificação do corpo de Cristo. Apesar de sabermos que são cinco os ministérios da Palavra, os ministérios dos santos não são sem a Palavra. Todos por Cristo iluminam a Casa de Deus, e tudo pela Sua Palavra.

Mas há algo precioso também no candelabro que diz respeito ao ministério sacerdotal dos santos através da Luz da Sua Palavra. É que no candelabro tinham taças, botões e flores (Êx. 25.33-36), e  a soma de todas as peças dá 66, isto é, corresponde aos 66 livros da Bíblia. 66 porque foram escritos para o homem.

Mas não somente isto, se tomarmos os três braços da parte esquerda do candelabro e somarmos todas as peças, e depois somarmos com as doze peças do pedestal ou haste central temos o número 39 que representam os 39 livros do Antigo Testamento. O que sobra são as 27 peças dos 3 braços da direita que corresponde aos 27 livros do Novo Testamento. Os doze do meio são considerados os profetas menores, mas são os que fazem a ligação preciosa entre o Velho e o Novo Testamento. Muito precioso e revelador.

Como a mesa da proposição mostra a comunhão de todos os santos, dos que estão nos céus e dos que estão na terra, o candelabro também ilumina a comunhão dos que estão na terra com os que estão nos céus. Ele mostra a obra do Espírito dando testemunho a toda a família de Deus nos céus e na terra (Ef. 3.15). Por isso Ele diz em Levítico 24, dos versos 1 a 4: "a fim de manter a lâmpada acesa continuamente... desde a tarde até a manhã... conservará em ordem as lâmpadas perante o Senhor continuamente".

Como já vimos em I João no capítulo 5, nos versos 7 e 8 três são os que testificam no céu: o Pai, a Palavra e o Espírito, e estes três são um. E três são os que testificam na terra: o Espírito, a água, e o sangue, e estes três concordam num. Agora não são mais as figuras daquilo que é celestial, mas a realidade celestial, a realidade divina e espiritual que procede do céu. Não são ministérios figurativos, mas a realidade do Espírito naquilo que é celestial. Aleluia! A Igreja é celestial.

Como nos ensina Deus por Isaías 11, o verso 2, recebemos pelo Espírito do Senhor, o óleo puro do Senhor, pela luz da Palavra: a sabedoria, o entendimento, o conselho, o fortalecimento, o conhecimento e o temor do Senhor. Quão rica tem sido a comunhão com o Pai e com o seu Filho Jesus e uns com os outros! É um gozo completo. É realidade espiritual, viva e eficaz (Heb. 4.12) e não somente palavras. As suas palavras são espírito e são vida, e tudo vivificado pelo Espírito (Jo. 6.63).

Ao contrário dos tempos de Samuel, o Senhor tem iluminado de forma abundante e contínua a nossa comunhão neste tempo, por isso devemos atentar com mais diligência para as coisas que temos ouvido (Heb. 2.1). Não desprezar aquele que nos fala, porque a sua Palavra tem vindo lá do céu (Heb. 12.25). O Senhor tem nos enviado a sua Luz para que olhemos para Ele e sejamos iluminados e não fiquemos confundidos (Sal. 34.5).

Como o candelabro deveria ficar aceso constantemente, a nossa luz também deve brilhar diante de Deus e dos homens constantemente, porque se a luz que há em nós forem trevas, quão grande serão tais trevas (Mat. 6.23).

O santo lugar é onde os santos na Presença e na Luz do Senhor têm uma santa comunhão e gozam de todos os privilégios celestiais e divinos. Não para alguns homens especiais, mas para todos os filhos de Deus; para toda a nação santa, para todos os sacerdotes reais. Onde todos podem gozar por Cristo do serviço que se faz a Deus e aos homens pela vontade de Deus na Casa de Deus. Por amor e não por preço.

Quão pobre é pensarmos que somos a Igreja só quando estamos congregados. Quão miserável é pensarmos que a Palavra e a comunhão só podem acontecer quando nos congregamos em algum lugar. A queda é tanta que muitos chamam de igreja um local ou um edifício feito por mãos humanas. A Igreja é espiritual e estamos nela em todo o tempo.

Nós podemos gozar dela em todo o tempo, tanto da Luz como da comunhão continuamente, sem limite de espaço ou tempo. Por Cristo estamos na presença do próprio Deus, com todos os santos em comunhão, no céu e na terra. Em espírito e em verdade, podendo ministrar coisas espirituais a Deus e aos homens.

 

O ALTAR DE OURO, DE INCENSO

 

A última mobília que iremos ver com a graça e misericórdia do Senhor, que estava no tabernáculo e no templo é o altar de ouro, o altar de incenso. Como vimos anteriormente, havia no pátio externo o altar de bronze. Sobre este altar eram feitos os sacrifícios, o que nos fala da obra sacrifical de Cristo, e do ministério sacerdotal aos pecadores que estão se achegando a Deus. Agora, no santíssimo temos o altar de ouro que representa outro ministério sacerdotal dos santos na Casa de Deus que são as orações, as intercessões.

Este altar ficava defronte da arca da aliança, depois do véu que separava o santo do santíssimo lugar. O altar de ouro era cuidado pelo sumo sacerdote, o que nos mostra o ministério intercessor de Cristo (Hb. 7.25). O altar de incenso por estar no santíssimo mostra também o ministério de adoração e intercessão de Cristo em comunhão com a Igreja, porque o véu que separava foi rasgado. Este é o ministério pessoal de Cristo hoje como o nosso Sumo Sacerdote, e dos santos que já dormiram em Cristo (Apoc. 6.9-10).

O altar do incenso era a peça mais alta de todas as outras mobílias. Ela era quadrada e tinha quatro argolas nos cantos para serem transportadas (Êx. 30.2-4). Isto nos mostra que ela não só incluem os santos aqui na terra, como também os que estão no céu. As argolas mostram que o altar poderia ser carregado de ambos os lados. Debaixo do verdadeiro altar de ouro, aquele que está no tabernáculo celestial é que estão as almas dos filhos de Deus que já dormiram em Cristo e que aguardam a redenção do seu corpo (Apoc. 8.3). Como já vimos, Cristo é ministro e Sumo Sacerdote deste verdadeiro santuário que Deus fundou e não o homem (Hb. 8.1-2).

Como é precioso quando enxergamos a Casa de Deus de forma espiritual! Só os principados e potestades podem ver na totalidade a multiforme sabedoria de Deus através da Igreja. Como podemos nós ou o homem ver com os olhos físicos esta Igreja se ela compõe toda a família de Deus nos céus e na terra? Também só o nosso Sumo Sacerdote pode percorrê-la para ministrá-la na sua totalidade através de todos os santos. A Igreja não é para o homem, mas para Deus, e no seu todo só pode ser vista pela fé. O cabeça e parte da Igreja nos céus, e os seus pés, isto é, o restante do seu corpo tocando aqui na terra (Ef. 3.15, 1.22-23, Atos 7.49).

Este altar representa tudo o que nós sacerdotes alcançamos por graça na comunhão com o Pai, com o seu Filho e com os santos na Luz da sua Palavra pelo Espírito. A oração dos santos é para Deus o verdadeiro ministério sacerdotal no que diz respeito ao culto e comunhão através de Cristo. Antes não podíamos entrar no santíssimo lugar porque havia um véu que separava, mas agora não há mais o véu, e as orações fazem parte do ministério sacerdotal que se faz a Deus e aos homens pela vontade de Deus, mas tudo na Presença do próprio Deus.

Hoje podemos entrar no santíssimo lugar pelo sangue de Jesus, pelo caminho novo e vivo que Ele nos inaugurou, porque um dia Ele mesmo se ofereceu, e tomou o incensário e o incenso aromático e levou para dentro do véu, e encheu o lugar santíssimo de aroma suave quando disse: "E por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade. E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim; para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um. Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que os tens amado a eles como me tens amado a mim" João 17.19-23.

Antes de o Espírito ser derramado sobre a Igreja, somente alguns homens podiam gozar da presença do Espírito neles. Estes eram homens especiais que o Senhor levantava para profetizar (I Pd. 1.11). Só eles tinham acesso a Deus por este Espírito, mas quando Pedro pregou depois do Pentecostes, ele disse: “Estes homens não estão embriagados, como vós pensais, sendo a terceira hora do dia. Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel: E nos últimos dias acontecerá, diz Deus, que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne” Atos. 2.15-17. Agora não mais sobre homens especiais, mas sobre toda a carne. Todo aquele que é nascido de Deus tem o Espírito, e tem por este Espírito acesso direto ao Pai (Ef. 2.18).

O altar de incenso é o testemunho precioso da obra que Cristo realizou na cruz. Não há mais nada que impede um pecador de receber perdão e justificação, pois o altar de incenso que ficava no santíssimo, mostra que agora temos livre acesso como sacerdotes reais, e isto é o testemunho da nossa glorificação (Rom. 8.30). Este altar antes era ministrado somente pelo sumo sacerdote; este ministério era somente de Cristo, mas agora também é em comunhão conosco, porque o véu não separa mais.

É no altar de incenso que os filhos de Deus levam a Deus em adoração o que foi ministrado no santo lugar, como também o que foi ministrado no átrio e no arraial em favor dos homens, como cheiro agradável, santo e puro ao Senhor (Êx. 30.35). Este é o bom perfume de Cristo que é exalado pelos santos. Porque para Deus somos o bom perfume de Cristo (II Cor. 2.14-15). Mas como na especiaria do incenso havia ingredientes doces e amargos, Cristo em nós é cheiro de vida e cheiro de morte. Vida para os que se salvam e morte para os que se perdem. Salvação e juízo.

O altar de ouro também mostra a culminação da vida de um sacerdote real, que na purificação dos pecados pela luz da comunhão (I Jo. 1.5), pode se achegar ao altar de ouro e ser cheiro agradável ao Senhor. No altar não pode haver cheiro do homem, somente de Cristo. O altar de ouro é lugar somente para os santos que andam na luz, para os que têm os corações purificados da má consciência e o corpo lavado com água limpa (Hb. 10.22), em comunhão com os espíritos dos justos aperfeiçoados e Cristo.

Nem todos chegarão a este altar, mas o Senhor quer nos mostrar pelas medidas das portas a sua vontade. Tanto a entrada do pátio, como a entrada do santo e a do santíssimo totalizavam 100 côvados. Isto nos ensina que Deus deseja que entremos na vida cristã, no sacerdócio e na vida santa de forma plena. É fato que não podemos entrar em Cristo apenas com uma porcentagem que não seja 100%, mas Deus não quer que fiquemos no átrio, mas entremos por Cristo para uma vida santa e também gloriosa. Deus com isto mostra que deseja que todos cheguem para ministrar coisas espirituais e para oferecer incenso, mas nem todos estão dispostos a tomar a sua cruz e perder a sua vida.

No altar de incenso nenhuma petição pode ser própria, nada do que é do homem pode ser oferecido, somente o que é suave e agradável ao Senhor. O incenso do altar de ouro não é para nós mesmos; não é para o nosso proveito, mas é santo e puro ao Senhor (Êx. 30.37). Não que Deus não sinta o cheiro quando é do homem, mas será considerado como incenso estranho (Êx. 30.9); será reconhecido como para deleite do homem e não de Deus (Tg. 4.3). Pensamos que toda oração é para pedir algo a Deus, mas o altar de ouro nos mostra que aqui o cheiro é suave a Deus e não a nós. Creio que esta oração que chega como suave cheiro e agradável ao Senhor nunca é para os nossos próprios interesses, mas sempre ao Senhor, e aos do Senhor em favor dos outros. Deve ser segundo a vontade de Deus (I Jo. 5.14).

Para nos achegarmos ao altar de incenso para oferecer cheiro agradável ao Senhor em nossas orações, orações que é o seu contentamento (Pv. 15.8), tudo o que é do homem, seja o pecado, seja o seu EU deve ser tratado antes no átrio ou no santo lugar. Deus só pode aceitar a comunhão das nossas orações com Cristo e com os espíritos dos justos aperfeiçoados no santíssimo lugar, se tudo o que for nosso, o que for do homem for despojado, e revestido de Cristo (Col. 3.8-14). O perfume do incenso é arte do perfumista, e o único perfumista capaz de oferecer este incenso é Cristo. Ele é o perfumista, o incenso e o próprio altar. Aleluia!

Na mesa dos pães podemos ver o homem representado nos 6 pães enfileirados, assim como nas lâmpadas do candelabro de ouro, mas no altar de incenso não. Neste altar tudo é santo, tudo é divino, é de ouro, puro e santo. O altar de incenso nos mostra quem deve ser adorado: Deus; mas também nos mostra a essência para a adoração que é Cristo. E ainda mais, o meio para que isto se cumpra: o Espírito Santo. Este incenso não é qualquer petição, é pedir como convém em adoração a Deus. É algo tão santo e puro que uma vez que entendemos sobre este altar, vemos que não temos capacidade por nós mesmos de oferecer algo a Deus. Graças ao Senhor que em Cristo, e no poder do Espírito podemos (Rom. 8.26). Há também o dom de línguas que nos ajuda neste ministério (I Co. 14.2).

As Escrituras quando dá testemunho do ministério sacerdotal dos santos nas orações, sempre é como intercessores. Quando Jesus ora por si mesmo ele apenas apresenta a Deus as suas fraquezas, mas em seguida se sujeita inteiramente à vontade de Deus. Assim é também nas duas vezes com Paulo. No caminho de Damasco (Atos 9) e depois quanto ao espinho na carne (II Cor. 12). Mas no caso de Paulo, ambas é para trazer revelação e não para adoração. A adoração vem em seguida, depois da revelação. O que não é intercessor não serve para adoração. Toda oração que não é intercessora será revelada pelo altar de bronze, pelo mesa dos pães e pelo candelabro, pela comunhão através do ministério da Palavra de Deus e pela obra de Cristo na cruz, porque tudo converge para Ele no seu sacrifício, e depois pela voz do Senhor no santo lugar.

Isto é algo fundamental no que diz respeito à oração como incenso no altar de ouro. Vamos imaginar uma oração que nos é comum. Por exemplo: - Senhor me supra financeiramente este mês. Ou: - Senhor me cure desta enfermidade. Estas são orações que serão reveladas no santo lugar, na comunhão pela Luz da Sua Palavra, na base da obra da cruz. Neste caso o Senhor dirá: - Quanto as suas necessidades, não te deixarei, nem nunca te desampararei. Eu suprirei todas as vossas necessidades em glória, por Cristo Jesus. Quanto as suas enfermidades, já as levei todas no corpo do meu Filho sobre o madeiro. Pelas suas pisaduras estais sarados. A graça do meu Filho te basta. Amém.

Já no santíssimo lugar, no altar de ouro a oração é em adoração, com revelação. Depois de ser revelada a Sua Palavra podemos entrar no santíssimo, pelo sangue de Cristo, e adorarmos ao Senhor dizendo assim (claro que é um exemplo porque necessitamos do auxílio e poder do Espírito, porque sem o Espírito de Cristo não há como o incenso exalar o suave cheiro): - Senhor grande em força e poder, bondoso e misericordioso, que não deixa nem nunca desampara os seus filhos, pois és fiel. Deus nosso Pai, que não poupou o seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós; pelo sangue precioso de Jesus nos achegamos a ti, e te louvamos por nos dar em Cristo tudo o que diz respeito à vida e a piedade. Por isso descansamos na sua providência, pois como o Senhor nos deu o seu Filho, como também não nos dará com Ele graciosamente todas as coisas! Obrigado por tão grande amor, e pela cura porque tu és o nosso Jeová Rafá (Êx. 15.26), o Deus que perdoa e que sara todas as nossas enfermidades (Sal. 103.3). Amém.

O ministério sacerdotal que se faz na Casa de Deus quanto às orações são no Espírito e sem cessar. Tanto a comunhão, como o ministério da Palavra e as orações são um ministério continuo na Casa de Deus; nunca cessam, é um estatuto perpétuo por todas as gerações (Êx. 30.8). Vemos claramente o testemunho do Senhor através desses ministérios no início da Igreja, em Atos capítulo 2, no verso 42. Eles perseveravam na doutrina dos apóstolo, na comunhão, no partir do pão e nas orações. O partir do pão, como já vimos, faz parte da mesa do Senhor. Este é o nosso tempo, mas este ministério vem perseverando na Casa de Deus de geração a geração.

Na essência aromática havia três tipos de especiarias. E elas tinham que ser temperadas com sal (Êx. 30.34). Uma parte delas moída, e a outra para ser colocada diante do testemunho. Que figura bendita de Cristo e do nosso conhecimento dEle no ministério intercessor! Segundo o entendimento que tenho, que não é definitivo diante da autoridade do Espírito e da Igreja, é que no ministério intercessor são necessários três ingredientes: a fé, a esperança e o amor, que são frutos de Cristo. Tudo conservado pela aliança de Deus conosco em Cristo. O sal como nos diz Levítico capítulo 2, no verso 3, é o que conserva tudo, é a aliança eterna do Senhor conosco em Cristo. Sem esta aliança em Cristo tudo seria morto e estéril, mas em Cristo tudo foi sarado (II Reis 2.21). Aleluia!

Por isso algo que é fundamental no sacerdócio que se faz na Casa de Deus, que está ligado ao altar de ouro nas Escrituras é a santidade pessoal. Por isso os sacerdotes só entravam para o ministério aos trinta anos de idade. Há um tempo necessário de crescimento na vida cristã. Mas da idade de vinte anos já eram chamados para serem ensinados e preparados.

A pia de bronze mostra que mesmo os sacerdotes que estavam prontos para o sacerdócio não podiam entrar para o serviço sem antes lavar as mãos e os pés. Nesta pia não havia sangue para perdão, mas água para purificação. Lembra do que disse Jesus a Pedro em João capítulo 13, no verso 8? Isso mesmo, para o ministério sacerdotal é necessário que as nossas mãos e os pés estejam limpos; isto é, as nossas obras e os nossos caminhos estejam santificados. O coração purificado e o corpo lavado (Hb. 10.22).

Sabemos que já estamos lavados, que já estamos limpos pela Palavra que Ele tem nos falado (Jo. 15.3). Não a Palavra como letra, mas a Palavra viva e eficaz (Heb.4.12). Esta Palavra que Jesus se refere é a Palavra que já nos lavou, que já é realidade em nós, que é vida em nós {revelado pelos espelhos das mulheres que compunham a base da pia de bronze, que também fala Tiago (Êx. 38.8, Tg. 1.23)}. Se a Palavra não for realidade em nós com toda certeza o nosso ministério sacerdotal estará comprometido. Como diz Tiago, será como contemplar o rosto natural no espelho e logo se esquecer de como é. O rosto tem que resplandecer a glória do Senhor (II Cor. 3.18).

Ligado a pia está o óleo da unção. Se não estivermos limpos certamente faltará o óleo sobre a nossa cabeça; faltará unção no nosso ministério sacerdotal porque as obras das nossas mãos estarão comprometidas. A falta de pureza compromete a unção, o enchimento e o poder do Espírito que tudo tem nos ensinado (I Jo. 2.27). Ela fará com que não sejamos agradáveis a Deus (Ecl. 9.7-8). A unção é a graça e poder do Espírito para toda boa obra na Casa de Deus; para toda obra preparada por Ele de antemão. A carne aqui para nada aproveita (Êx. 30.38, Jo. 6.63). Esta Palavra é para mim, antes de ser para os irmãos.

Como o incenso tinha especiarias, o óleo da unção também. Enquanto o óleo da unção desce da cabeça (Sal. 133), o incenso, as orações, súplicas e ações de graça em adoração sobem para Deus. Enquanto o incenso mostra as orações com fé, esperança e amor, tudo temperado com a aliança em Cristo, a unção que vem pelo Espírito revela toda a graça de Cristo à sua Igreja. Tanto o incenso como o óleo levavam 4 especiarias. Vejam o número quatro novamente! Como a figura quadrangular da Igreja, os quatro ingredientes das especiarias mostram a comunhão do Pai, do Filho, do Espírito e da Igreja, isto é, de Deus Pai, de Jesus Cristo e do Espírito Santo descendo, manifestando-se, revelando à Igreja o seu amor, graça, e comunhão (I Cor. 13.13), subindo depois a Ele como resultado o suave cheiro de fé, esperança e amor. O amor faz parte das duas coisas, do que resulta o óleo e o incenso, pois, amamos a Deus porque Ele nos amou primeiro (I Jo. 4.19). O amor é o vínculo da perfeição (Col. 3.14).

Por isso, para que a Casa de Deus seja de alimento espiritual, comunhão, e verdadeira intercessão e adoração temos que ser moídos, isto é, tratados, preparados, lavados e ungidos pelo Senhor, tudo pelo caminho da cruz. Tendo em si mesmos o testemunho de Deus: Cristo. Sem esta unção e pureza não podemos oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus. Mas temos que lembrar sempre, que esse tratamento não vem dos irmãos, nem dos homens, mas de Deus.

Além do ministério sacerdotal de Cristo a ser restaurado na Casa de Deus, é necessário também vermos pela restauração do muro e das portas, a continuação do testemunho do Senhor a ser restaurado por Deus. O muro e as portas nos revelam a separação, a santidade do povo de Deus do mundo. A separação do que é santo do que é profano, do puro do que é impuro, do vil do que é precioso. Do que pode ser aberto e do que tem que ser fechado. Como também para proteger o povo do inimigo.

 

O MURO COM AS SUAS PORTAS

 

Vimos anteriormente à restauração do testemunho do Senhor no que diz respeito ao ministério sacerdotal de Cristo através dos filhos de Deus, dos sacerdotes reais. Continuando pela Palavra de Deus vemos que o passo seguinte da restauração é o muro e as portas da cidade de Jerusalém. No tabernáculo havia uma porta apenas de entrada, como no templo também, mas o templo estava na cidade de Jerusalém e a cidade tinha um muro que a cercava com 10 portas de entrada e saída.

Como já citamos anteriormente, o que no tabernáculo era 1, no templo era 10. O tabernáculo como a figura da Igreja do Senhor neste tempo, cheio de rugas e manchas, e o templo e a cidade a figura da Igreja gloriosa. Mas o tabernáculo e o templo também tinham outra figura, a peregrinação e a habitação do Senhor. Como disse a Davi quando este quis fazer uma casa para Ele, Ele disse que peregrinava com o povo, pois habitava em tendas e em tabernáculos (II Sam. 7.6), mas depois em Jerusalém ele encontrou um lugar para a sua habitação (Dt. 12.5, Sal. 132.13). Assim também foi com o Senhor Jesus, que peregrinou no tabernáculo do seu corpo, e não tinha lugar para recostar a cabeça (Mt 8.20), mas agora Ele encontrou lugar, em sua Jerusalém Celestial, a Igreja.

No tabernáculo havia uma separação feita por cortinas. Elas separavam o tabernáculo do lado externo, do arraial. Em Jerusalém também havia um muro que separava a cidade do resto do mundo. O muro é uma figura de separação das coisas que são de Deus, das que são dos homens; das que são celestiais com as que são deste mundo. Ele é o muro de separação, com o fim de separar o que é santo do que é profano (Ez. 42.20). A cidade com o seu muro, como figura da Igreja, nos mostram que para Deus a Igreja é santa, e mesmo que parte dela esteja neste mundo, é separada para Deus.

Mas como vimos também anteriormente, o tabernáculo tem a figura das três partes que compõe o homem: corpo, alma e espírito. Mas o que está fora tem relação com o mundo, que também tem três coisas: a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida (I Jo. 2.16). Como vamos ver, cada porta restaurada tem como finalidade estabelecer a Cristo, o testemunho a ser restaurado. O muro e as portas neste sentido são para separar o vil do precioso, o que é do homem em relação ao mundo, do que é de Cristo em relação a Deus. Separar o que é vaidade, do que é a verdade; as coisas vis da preciosidade.

A restauração do muro e das portas da cidade nos mostra claramente todo processo de Deus hoje com a sua Igreja, que é santificar a Cristo como Senhor e cabeça do Corpo da Igreja, como também de convergir, centralizar tudo nEle. Como vamos ver na restauração das portas da cidade de Jerusalém, todas elas representam Cristo a ser restaurado, e algo de Cristo para ser levado ao mundo. Também aquilo que não é de Cristo de ser tirado do meio da Igreja. É o Cristo que devemos levar ao mundo, aos homens pecadores, e aquilo que não é de Cristo tem que ser despojado de nós, dos membros da Igreja. Levar a boa notícia, e santificar-se. Estar e ser enviado ao mundo, mas continuar separado do mundo (Jo. 17.18-19).

Esta é a função do muro de separação, que tudo o que provenha de Deus seja de dentro para fora, não de fora para dentro. O que é santo e que está dentro do muro de separação deve ser levado para fora, para as gentes, mas o que está fora e que pertence ao mundo deve ficar fora, e tudo que ainda pertence ao mundo também deve ser retirado para fora. O mundo é a figura do velho homem, e a Igreja o novo homem. A Igreja deve ser despojada do velho e revestida do novo. A Igreja está sendo revestida de tudo o que é de Cristo, e tudo o que não é dEle deve ser despojado; toda mancha e toda ruga será retirada da Igreja.

Mas Deus tem outro propósito também na restauração do muro e das portas que é proteger o seu povo dos ataques do inimigo, porque há um inimigo feroz andando ao derredor (I Pd. 5.9). Mas o propósito principal de Deus quanto à restauração do testemunho do Senhor no que diz respeito ao muro não é barrar o inimigo, mas a edificação da Igreja através do seu Filho. A restauração é uma edificação, e a edificação é que vai servir automaticamente de proteção.

A partir do momento que começamos a edificar sobre Ele, a própria edificação nos guarda do inimigo. É a mesma coisa que nos diz Tiago capítulo 4, no verso 7: "Sujeitai-vos, pois, a Deus e resisti ao diabo e ele fugirá de vós". Não é para resistir ao diabo, mas para nos sujeitarmos a Deus. Sujeitando-nos a Deus estaremos automaticamente resistindo ao diabo. Os nossos olhos têm que estar postos em Cristo e não no inimigo.

Sim, porque este é todo o trabalho da Igreja: edificação e batalha espiritual. Mas a batalha é para edificação. O livro de Neemias nos ensina isto com muita clareza na reconstrução do muro e na restauração das portas. Enquanto eles restauravam o muro os inimigos se levantaram ferozmente. Por um tempo foram impedidos, mas em seguida retomaram a obra e terminaram. Com uma mão seguravam a pá e com a outra a espada (Nee. 4.17). Mas quando eles terminaram os inimigos temeram, porque souberam que Deus é quem fez a obra (Nee. 6.16).

O Senhor Jesus também nos ensina sobre esta edificação e luta em Lucas no capítulo 14, nos versos 27 a 33. Nesses versículos Ele nos fala da construção de uma torre e da batalha dos reis. Jesus quando falou sobre isto estava falando aos que querem ser discípulos, aos que perdem a sua vida, àqueles que tomam a sua cruz e o segue. O Senhor não pode edificar e batalhar com aqueles que amam a sua vida ou buscam os seus próprios interesses.

O apóstolo Paulo também faz uma relação semelhante desta edificação e batalha com a vida de um fiel cristão no capítulo 2 de II Timóteo, nos versos 3 a 6. Ali ele fala de um soldado, um atleta e um lavrador. Não há folga para o verdadeiro cristão. Ou ele está batalhando, ou correndo ou cooperando na lavoura de Deus. Preparo, capacitação, batalha espiritual e edificação. Somente um cristão que se nega a si mesmo, toma cada dia a sua cruz e o segue pode ser um bom soldado de Cristo; um soldado que não se envolve com as coisas dessa vida. Que tem o seu coração separado das coisas deste mundo.

Isto mesmo, a separação começa primeiro em nós. Primeiro o Senhor nos separa, nos chama para Ele, depois nos usa para cooperar na restauração do seu testemunho. Primeiro nos torna embaixadores, depois nos põe em uma embaixada. A Igreja é esta embaixada, uma área celestial neste mundo, um lugar santo e separado. Ali, como nas embaixadas humanas, é um território estrangeiro. Nem mesmo o governo do local tem autoridade sobre aquela área. Assim também é com a Igreja. Ainda que estejamos no terreno do inimigo, pois o mundo jaz no maligno, ele não tem autoridade sobre esta área. As portas do inferno não prevalecem sobre ela (Mt. 16.18). O maligno não nos toca (I Jo. 5.19).

A Igreja com o seu muro e suas portas nos mostram também que há uma separação de reinos: o reino de Deus e os reinos deste mundo. O império das trevas e o reino do Filho do seu amor (Col. 1.13). Mas é precioso notarmos que há um só Rei; o outro é chamado de príncipe, de príncipe deste mundo. Ele não é rei deste mundo, porque há um só Rei e Senhor de tudo. Este mesmo Rei é quem julgou este príncipe e o venceu na cruz (Jo. 12.31).

Hoje, mesmo que tenhamos uma batalha, entramos nela na base da vitória que Cristo consumou. Em todas essas coisas já somos mais do que vencedores. O Senhor não nos faz entrar numa batalha para perder, mas para gozarmos em nós mesmos da vitória que Cristo alcançou por nós. A batalha como podemos ver em Juízes capítulo 3, nos versos 1 e 2, é para nos exercitar na guerra, é para edificação. É para nos manter exercitados, diligentes, vigilantes como também conhecer o Senhor dos Exércitos; conhecer o nosso general que vai adiante e que batalha por nós; que nos conduz à vitória (II Cron. 20.17).

O livro de Efésios também fala desta edificação da Igreja e da batalha espiritual. Primeiro o Senhor nos fala do que fez por nós, onde nos colocou: assentados nos lugares celestiais juntamente com Cristo, com todos os inimigos debaixo dos seus pés (Ef. 2.6, 1.22). Depois fala que derramou os seus dons segundo a sua graça para capacitar e equipar os seus santos para a edificação do seu Corpo (Ef. 4.10-13). E por último nos deu uma armadura para a batalha (Ef. 6.11). Ele nos capacita, nos equipa para a edificação, e nos fortalece para a batalha (Ef. 6.10).

Por isso a edificação está ligada à batalha, porque a batalha reforça a edificação. O inimigo não foi deixado por Deus para nos vencer, mas para nos ajudar na edificação. Se não compreendermos isto, o inimigo servirá só de impedimento, e será mesmo, a ponto de fazer parar a obra como podemos ver em Esdras e Neemias por 17 anos. Podemos notar isto desde o princípio. O inimigo é citado a primeira vez no Éden, e por último no final, quando toda a obra de Deus se completar com o homem. Quando Deus findar sua obra com o homem, o inimigo será lançado no lago de fogo (Apoc. 21.7-10), porque não haverá mais necessidade de batalhas e edificação.

Voltando ao texto de Juízes 3 que vimos acima, quem deixou aqueles inimigos ficar na terra? O próprio Deus. Mas com que propósito? Os novos que não sabiam guerrear aprendessem a guerra.  Sem batalha não há edificação. João em sua primeira carta, no capítulo 2, no verso 13, fala deste crescimento na vida cristã. O filhinho está debaixo do cuidado do Pai, os jovens são colocados a batalhar, e os pais para suprirem com a sua maturidade espiritual os filhinhos e os jovens. Os pais já foram jovens e os jovens já foram filhinhos, mas agora como jovens vencem o maligno. Batalham e crescem espiritualmente. Aleluia!

Quando pensamos apenas em nossas lutas individuais, isto nos mostra que ainda somos filhinhos, que ainda estamos debaixo do cuidado do Pai, e inaptos para as batalhas que são dEle. É como alguém que não tem idade ainda para ser um soldado de Cristo. O soldado de Cristo não é para pelejar as suas próprias pelejas, mas foi alistado para as batalhas de Cristo, para agradar a Ele (II Tim. 2.4). Como Davi, não somos chamados para pelejar as nossas próprias batalhas, mas as batalhas de Deus. Quando é que o Senhor será vencido se batalharmos as suas batalhas? Nunca. Louvado seja o seu Santo Nome (Nee 4.14, 20). Nesta batalha um discípulo persegue a mil, porque é o Senhor quem batalha por ele (Jos. 23.10).

Nesta batalha, as armas da nossa milícia não são carnais, mas poderosas em Deus (II Cor. 10.4). Toda nossa vitória está na palavra de Deus, se ela estiver em nós (I Jo. 2.14). Não como letra, mas como vida. Se formos apresentar a letra o inimigo terá muito mais argumentos que nós. Não é a letra, mas o Espírito que é vida. Nós o vencemos nas batalhas aqui neste mundo pela Palavra que está em nós, que é o testemunho de Cristo, e diante do trono de Deus, nas acusações do diabo, pelo Seu sangue (Apoc. 12.11).  O nosso Pastor já preparou para nós antes de toda batalha uma mesa perante os nossos inimigos (Sal. 23.5). Já estamos totalmente supridos para qualquer batalha espiritual, por Cristo. Maior é o que está em nós, do que aquele que está no mundo (I Jo. 4.4).

Lembrando novamente o que já dissemos, como diz este texto de Apocalipse capítulo 12, no verso 11, eles não amaram a sua vida até a morte. Quem é que não ama a sua vida? Aquele que a odeia. Se a amarmos vamos perdê-la, mas se a perdermos vamos ganhá-la para a vida eterna. Este é o caminho da cruz, da morte do EU, da nossa carne. E então se cumpre a edificação pela batalha: o vil se torna precioso, o profano se torna santo, o que é carnal se torna espiritual, e o que é do mundo se torna celestial.

As batalhas de Deus para edificação são coletivas e não individuais. A armadura de Deus não cabe num homem, pois é muito grande. Não é um homem agora que batalha, mas um Corpo. Mas o resultado além de ser coletivo é também individual. Não são as batalhas individuais que vão trazer edificação coletiva, mas a batalha coletiva, do Corpo, da Igreja de Deus é que irá trazer também o resultado individual.

O muro é Cristo, e as portas também são, pois Ele é a nossa santificação, como também o nosso escudo e segurança. Não é nós que nos separamos, que construímos um muro, mas Ele mesmo em nós que nos faz separados do mundo. Ele é o testemunho de Deus a ser restaurado.

Conhecendo a Ele somos libertos, somos santificados, somos transformados de glória em glória pelo seu Espírito; conformados à sua imagem. Ele também é a nossa armadura, o guarda de Israel, o Senhor que batalha por nós e que já venceu o inimigo. Verdadeiramente temos uma cidade forte, porque Cristo é o nosso muro e o nosso antemuro, a nossa salvação (Isa. 26.1).

 

A PORTA DAS OVELHAS

 

Vimos anteriormente à restauração do testemunho do Senhor no que diz respeito ao muro e as portas da cidade de Jerusalém. A restauração do muro e das portas da cidade nos mostra claramente todo processo de Deus hoje com a sua Igreja, que é santificar a Cristo como Senhor e cabeça do Corpo da Igreja, e de convergir, centralizar tudo nEle. Como vamos ver na restauração das portas da cidade de Jerusalém, todas elas representam Cristo a ser edificado, e algo de Cristo para ser levado ao mundo. Também aquilo que não é de Cristo ser tirado do meio da Igreja.

Como vimos, Deus tem outro propósito também na restauração do muro e das portas que é proteger o seu povo dos ataques do inimigo, porque há um inimigo feroz andando ao derredor (I Pd. 5.9). Mas o propósito principal de Deus quanto à restauração do testemunho do Senhor no que diz respeito ao muro não é barrar o inimigo, mas a edificação da Igreja através do seu Filho. A restauração é uma edificação, e a edificação é que vai servir automaticamente de proteção.

O muro é Cristo, e as portas também são, pois Ele é a nossa santificação, como também o nosso escudo e segurança. Conhecendo a Ele somos libertos, somos santificados, somos transformados de glória em glória pelo seu Espírito; conformados à sua imagem. Ele também é a nossa armadura, o guarda de Israel, o Senhor que batalha por nós e que já venceu o inimigo. Verdadeiramente temos uma cidade forte, porque Cristo é o nosso muro e o nosso antemuro, e a nossa salvação (Isa. 26.1). Como também a porta que entramos, saímos e achamos pastagens.

Por isso a primeira porta que foi restaurada no muro de Jerusalém, no livro de Neemias é a porta das ovelhas: "E levantou-se Eliasibe, o sumo sacerdote, com os seus irmãos, os sacerdotes, e reedificaram a porta das ovelhas, a qual consagraram; e levantaram as suas portas, e até à torre de Meá consagraram, e até à torre de Hananel" Neemias 3.1-2.

Vemos que esta porta começou a ser restaurada pelo sumo sacerdote Eliasibe e seus irmãos sacerdotes. Vemos por este texto das Escrituras Deus restaurando o testemunho do Senhor e colocando Cristo à frente sempre, como o nosso Sumo Sacerdote, e os seus irmãos, que também são sacerdotes, no trabalho de restauração juntamente com Ele. Com isso Deus está restaurando também, como era no princípio, o ministério sacerdotal. O nome Eliasibe quer dizer 'Deus restaura'.

Esta porta ficava entre duas torres, a de Meá e a de Hananel. Meá quer dizer um cento, e Hananel quer dizer 'Deus tem sido gracioso'. Muito sugestivo não? A porta das ovelhas nós já sabemos quem é, pois Jesus falou sobre ela em João capítulo 10, nos versos 7 e 9 dizendo: "Eu sou a porta das ovelhas..., quem entrar por mim salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens". Juntando a porta com as duas torres temos a revelação que o Senhor é à porta da salvação para as ovelhas. Ele é 100% gracioso, e a salvação do nosso Senhor também é 100% por Graça.

Outra coisa preciosa nesta porta é que não especifica que ela tenha tranca ou ferrolhos. A porta das ovelhas não possuía tranca, não possui nada que impeça de alguém entrar por ela. Isto nos ensina que apesar da cidade ter um muro de separação, separando o santo do profano e o vil do precioso; separando um reino de outro reino e também para deter o inimigo, a Igreja do Senhor tem uma porta aberta para todo aquele que crer e entrar por Cristo, pela porta das ovelhas.

A Igreja do Senhor não tem porteiros e não têm trancas, somente guardas. O dos fariseus tinha os que não entravam e os que não deixavam entrar, mas na Igreja de Cristo não. Ela é uma Casa de Oração para todos os povos. Ela se abriu e permaneceu aberta para todos os homens; homens de toda a tribo, língua, povo e nação. Ela é como as portas da nova Jerusalém que nem de dia, nem de noite se fecharão (Apoc. 21.25).

O aspecto prático da Pessoa de Cristo, como a porta das ovelhas que não tem ferrolhos nem tranca, é o seu coração inclusivo. Ele é a porta que sem distinção fez entrar homens e mulheres, escravos e livres, bárbaros e citas, para ser um com Ele (Gálatas 3.28). Por Ele, pela porta das ovelhas, entraram toda classe de homens: de renome e as que são consideradas escória, ricos e pobres, sãos e doentes, religiosos e descrentes. Todos que creram e entraram, saíram e acharam pastagens. Todos encontraram lugar.

Um exemplo claro disso estava entre os que foram chamados por Jesus. Um deles, Mateus, era da pior classe de publicanos (Lucas 5.27). Uma classe odiada pelos judeus. O outro, Natanael, que era um verdadeiro israelita onde não havia dolo (João 1.47). Esta porta, como no templo de Israel, é a primeira que deve ser restaurada na Igreja do Senhor. Não em teoria, nem por doutrina, mas de fato e em verdade. Caso esta porta não seja restaurada primeiro, não diferenciaremos em nada dos fariseus. Quanto a isto o Senhor nos diz: "Portanto recebei-vos uns aos outros, como também Cristo nos recebeu para glória de Deus" Romanos 15.7.

Os guardas eram colocados nesta porta não para barrar as ovelhas, mas para impedir que qualquer coisa que não fosse ovelha tentasse entrar por ela. O verdadeiro guarda barra as outras coisas, mas nunca as ovelhas. Esta porta também nos mostra que ninguém pode entrar para viver com Deus, na presença do próprio Deus se não entrar por Cristo. Ele como o Cordeiro de Deus também entrou por ela, se deu a si mesmo por nós, para que por Ele agora possamos ter total acesso a Deus. Ele é a porta estreita e o caminho estreito que conduz à vida (Mt. 7.14).

Ele é a porta por onde entramos e saímos como Jesus mesmo disse. Nesta palavra de Jesus vemos dois sentidos desta porta das ovelhas. A primeira delas é que Ele como a porta estava dizendo da sua morte e ressurreição. Quando Ele foi pregado na cruz e levantado da terra, Ele nos atraiu no seu corpo (Jo. 12.32). Entramos nEle pelo seu poder para participarmos da sua morte. Fomos batizados na sua morte (Rom. 6.3), para que quando Deus ressuscitasse a Jesus dentre os mortos, nos fizesse sair por Ele para uma nova vida (Rom. 6.4).

Entramos e saímos por Ele e achamos pastagens. Esta porta não tem ferrolhos nem trancas porque Ele morreu por todos. Todos que crêem nEle tem acesso por esta porta que conduz à vida. A graça de Deus, isto é, 100% da graça de Deus, se manifestou salvadora a todos os homens (Tt. 2.11). Esta porta estará sempre aberta para todo aquele que quiser entrar por ela, só não pode tentar entrar por outra porta, porque todas elas estarão trancadas. Como vamos ver a seguir, não há fechadura para o lado de fora das outras portas. E se alguém quiser subir por outra parte será considerado ladrão e salteador (Jo.10.1).

O segundo aspecto desta porta é que para as suas ovelhas, ela está sempre aberta para entrar e sair. Não que saímos da Igreja como figura da cidade, mas como muitos encontraram alimento no Egito, pois Deus os levou para lá dando fome em Canaã, nós também somos alimentados no mundo, através da vida ainda neste mundo. É que nós achamos que só somos alimentados na Igreja, mas não. Como Deus mostrou por Abraão, Isaque, Jacó, Israel e o próprio Jesus, o Senhor nos pastoreia no mundo também, e nos dá pastos e águas lá, e não somente na Igreja.

Somos levados pelo nosso pastor aos vales, aos montes, e pastoreados por Ele lá. Muitos de nós pensamos assim: 'Ah! Quando me aposentar vou servir ao Senhor totalmente'. Imagine se o Senhor tivesse que esperar nós nos aposentarmos para servi-lo! Não, um jovem já cuida das coisas do Senhor em como há de agradar o seu Senhor. Os casados cuidam das coisas do mundo também (I Cor. 7.33). O Senhor nos alimenta espiritualmente onde estivermos, seja em nossa casa, em nosso trabalho, em nossos negócios, em qualquer lugar no mundo. O mundo só nos impede de crescer espiritualmente se o amarmos, se deixarmos que as suas seduções sufoquem a Palavra (Luc. 8.14).

O Senhor nos dá descanso e nos ensina também fora, isto é, nos alimenta espiritualmente também no mundo. Por isso esta porta está sempre aberta, não só para entrarmos por ela, mas também para sairmos por ela e acharmos pastagens. Não podemos nos reclusar na Igreja achando com isto que só encontramos algo espiritual lá. A benção é o Pastor, e andamos com Ele por onde quer que Ele vá. Se Ele entra, entramos com Ele, se Ele sai, saímos com Ele. Ele nunca nos deixa e nunca nos desampara, nada nos faltará. Ele está sempre conosco. A sua bondade e misericórdia nos seguem todos os dias da nossa vida, e até a consumação dos séculos.

Mas há outro aspecto precioso também desta porta. A porta das ovelhas é que entravam as ovelhas que eram levadas para o sacrifício. Jesus entrou por ela primeiro, quando entrou montado num jumentinho, para depois ser sacrificado. Esta porta também significa outro aspecto de quem entra para a Igreja, a de que somos entregues todos os dias como ovelha para o matadouro (Rom. 8.36). Viver como Igreja é constantemente andar negando a si mesmo, tomando cada dia a sua cruz e seguindo-O (Lc. 9.23). O cabrito esperneia e grita quando vai morrer, mas a ovelha não. Não devemos espernear nem gritar porque temos sido levados para o matadouro, pelo caminho da cruz, mas dar graças de sermos chamados para isto, para dar a vida pelos irmãos (I Jo. 3.16).

João em seu evangelho cita certos aspectos de Jesus que os outros evangelhos não citam. No capítulo 5 de João, um pouco antes de explicar a sua missão, ele curou um paralítico no poço de Betesda. Este poço, como diz o verso 2, ficava próximo à porta das ovelhas. Mas este paralítico não foi a Jesus para ser curado, mas esperava ser curado pelas águas agitadas por um anjo (v. 4). Betesda quer dizer 'Lugar ou Casa de Misericórdia'. Isto nos ensina que a porta das ovelhas é 100% graça de Deus, mas antes de entrarmos pela porta das ovelhas, já encontramos Jesus em Betesda, um lugar de misericórdia, a qual não depende de quem quer, nem de quem corre, mas de Deus usar da sua misericórdia (Rm. 9.15-16).

Isto nos ensina que antes de entrarmos pela porta das ovelhas, até mesmo como aquele homem que jazia 38 anos procurando em águas agitadas e não conseguia o que buscava, o Senhor foi a ele para buscá-lo por sua mão misericordiosa. O paralítico não o buscava, como nós tampouco, mas Ele veio a nós com a sua mão misericordiosa e nos curou, e nos levou para dentro pela porta das ovelhas, por sua salvação e Vida. Aleluia! O trono de Deus há muita graça, 100% graça, mas para acharmos graça, temos que primeiro alcançar misericórdia (Hb. 4.16). Sermos socorridos em tempo oportuno.

A porta das ovelhas é baixa e não alta; não se entra com altivez.

 

A PORTA DO PEIXE

 

Como vimos, a primeira porta que foi restaurada nos muros de Jerusalém, no livro de Neemias é a porta das ovelhas. Vimos que esta porta não tem tranca nem ferrolhos. Algumas portas tinham trancas, mas a porta das ovelhas não possuía tranca. Isto nos ensina que apesar da cidade ter um muro de separação, separando o santo do profano e o vil do precioso; separando um reino de outro reino e também para deter o inimigo, a Igreja do Senhor tem uma porta aberta para todo aquele que crer e entrar por Cristo, pela porta das ovelhas.

A segunda porta que foi restaurada nos muros de Jerusalém é a porta do peixe: "E a porta do peixe edificaram os filhos de Hassenaá; a qual emadeiraram, e levantaram as suas portas com as suas fechaduras e os seus ferrolhos. E ao seu lado reparou Meremote, filho de Urias, o filho de Coz; e ao seu lado reparou Mesulão, filho de Berequias, o filho de Mesezabeel; e ao seu lado reparou Zadoque, filho de Baana. E ao seu lado repararam os tecoítas; porém os seus nobres não submeteram a cerviz ao serviço de seu senhor" Neemias 3.3-5.

A porta do peixe diz respeito ao evangelismo como um ministério da Igreja. Creio que esta é a porta a qual nos leva para fora no arraial, pela qual devemos levar o seu vitupério (Heb. 13.13). Como vimos, o muro é para fazer separação, e as portas são para que Cristo possa ser conhecido dos que estão dentro dos muros e dos que estão fora. A porta do peixe é a porta que saímos para pregar a Jesus Cristo como as boas novas de Deus.

Jesus, assim que chamou os seus discípulos se referiu a esta porta quando disse: "Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens" Mat. 4.19. Tanto para o evangelho da graça como para o evangelho do reino Jesus usa o peixe como figura do homem pecador a ser alcançado: "Igualmente o reino dos céus é semelhante a uma rede lançada ao mar, e que apanha toda a qualidade de peixes. E, estando cheia, a puxam para a praia; e, assentando-se, apanham para os cestos os bons; os ruins, porém, lançam fora" Mateus 13.47-48.

O texto de Isaías capítulo 52, no verso 7, também fala da pregação do evangelho, nestes dois aspectos: Graça e Reino, quando diz: "Quão formosos são, sobre os montes, os pés do que anuncia as boas novas, que faz ouvir a paz, do que anuncia o bem, que faz ouvir a salvação, do que diz a Sião: O teu Deus reina". Fazer ouvir a salvação, e que o nosso Senhor reina. Quando este evangelho, o do reino, for pregado a todas as nações, então virá o fim (Mt. 24.14). O evangelho são as boas novas em uma Pessoa: Jesus Cristo (Rom. 1.1-3).

Esta porta tem trancas e ferrolhos, mas elas se encontram no lado de dentro dos muros. Ela é trancada para os que estão fora não entre por ela, mas pela porta das ovelhas. Ninguém entra pelo evangelho em si, mas pela Pessoa de quem o evangelho se refere, de Cristo, a porta das ovelhas.

A porta do peixe só pode ser aberta por dentro do muro, para os que estão dentro saíam e pregue o evangelho a toda criatura. Por isso o Senhor disse: "Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura" Marcos 16.15. Ele não disse: - Vinde à igreja para ouvir o evangelho. A reunião da Igreja é para o ensino, comunhão, partir do pão e orações como já vimos, mas o evangelho é para os pecadores que estão fora. A ordem do Senhor é 'Ide'.

Como já vimos no ministério sacerdotal, o filho de Deus, como um sacerdote real, ministra coisas espirituais a Deus e aos homens pela vontade de Deus. A Deus no santo e no santíssimo lugar, e aos homens no  átrio, àqueles que estão se achegando a Deus, e fora do arraial, no mundo, aos homens pecadores. A Igreja é uma embaixada, e os filhos de Deus são os embaixadores da parte de Cristo que tem a incumbência do ministério da reconciliação; como se Deus por nós rogasse para que os pecadores se reconciliem com Ele (II Cor. 5.20).

O nome daqueles que restauraram esta porta é muito significativo também. Hassenaá quer dizer 'Luz'. Meremote quer dizer 'Alturas'. Mesulão quer dizer 'Amigo'. Zadoque quer dizer 'Reto, Justo', e tecoítas, filhos de Tecoa quer dizer 'Firmes’. O evangelho traz luz das alturas, e nos faz amigos de Deus, justos e firmes no Senhor. O evangelho é Cristo, a Luz, a estrela da manhã surgindo em nossos corações (II Cor. 4.6), nos fazendo nascer do alto, de Deus (Jo. 3.3). Novas criaturas em Cristo, não mais servos, mas amigos (Jo. 15.15). Fazendo de homens pecadores homens justos, sendo Ele a nossa justiça (Jer. 33.16), e fundados e firmes na fé, no evangelho que ouvimos (Col. 1.23).

Algo precioso nestes textos de Neemias é que o Espírito Santo deu testemunho que sempre há alguém ao lado do outro para restaurar. Isto não é obra humana, e muito menos de um ou de alguns homens, mas de Deus usando os seus filhos em comunhão, lado a lado neste trabalho. Como já citamos anteriormente, nem todos são chamados para entrar neste ministério de restauração, mas o propósito de Deus é para todos, que todos cheguem à estatura completa de Cristo, ao pleno conhecimento do Filho de Deus. Aqueles que são chamados têm um coração inclusivo, e também compreende que este trabalho cabe a muitos, cada um com a sua medida de fé e do dom de Cristo (Rom. 12.3, Ef. 4.7). Pensa sobriamente, segundo a graça que Deus deu a cada um. São muitos fazendo a obra, mas com um só coração e propósito: glorificar a Cristo, e restaurar o testemunho de Deus.

O evangelho a ser pregado é algo que precisamos considerar também. Paulo já dizia naquela época: "Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho; o qual não é outro..." Gálatas 1.6-7. Jesus disse que é fácil sabermos se alguém que prega foi ou não enviado por Deus, quando diz: "Quem fala de si mesmo busca a sua própria glória; mas o que busca a glória daquele que o enviou, esse é verdadeiro, e não há nele injustiça" João 7.18.

Há muitos evangelhos sendo pregado hoje em dia, o qual não é outro, senão anátema, maldição. Quando o evangelho ou qualquer outra pregação não tem a Cristo, não aponta para Ele é anátema. Se um pregador não for cristocêntrico, com certeza estará falando de si mesmo e buscando a sua própria glória. Não há evangelho quando não se fala de Cristo, e este morto e ressuscitado (I Cor. 2.2). Morto, mas que agora reina (At. 2.36). E isto era o que os apóstolos pregaram no poder do Espírito à partir do Pentecostes: "E os apóstolos davam, com grande poder, testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça" Atos 4.33.

Paulo em Romanos, fala no capítulo 1, no verso 15, que gostaria de anunciar também aos romanos o evangelho. De que evangelho ele fala, sendo que ele não escreve a pessoas incrédulas, que não conhecem ao Senhor Jesus, mas sim a irmãos em Cristo? E todos eles eram irmãos já amadurecidos como nos apresenta em Romanos capítulo 16!

A princípio vemos nas Escrituras o evangelho da graça: "Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira, e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus" At. 20.24. Este evangelho nos fala de toda a graça de Deus que nos foi dada em Cristo naquela cruz. O evangelho da graça é Cristo crucificado, a Palavra da cruz: "Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus" I Cor. 1.17-18.

Quando cremos no evangelho da graça, nascemos de novo e entramos no reino de Deus (João 3.3-5). Uma vez no reino, o Senhor nos apresenta o evangelho do reino. O evangelho da graça nos fala das boas novas em Cristo para a nossa salvação, o evangelho do reino nos fala das boas novas sobre o reino em Cristo: "E percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas e pregando o evangelho do reino..." Mat. 4.23.

Grande parte da pregação de Jesus foi sobre o evangelho do reino, o evangelho para os filhos de Deus. Se ouvirmos sobre o evangelho do reino antes de ouvir o evangelho da graça, corremos o risco de achar que a salvação é pelas obras, mas não. O evangelho da graça é toda a graça que nos foi dada por Deus em Cristo, já o evangelho do reino é para que os santos que estão em Cristo sejam o reino: "Palavra fiel é esta: que, se morrermos com ele, também com ele viveremos; se sofrermos, também com ele reinaremos..." II Tim. 2.11-12.

Tanto o evangelho da graça, como o evangelho do reino fala de tudo o que Deus nos deu em Cristo, o Filho do Deus vivo. Como diz Paulo em Romanos 1, o evangelho é a Graça e o Reino em Cristo, não algo separado dEle. A Graça é Cristo e o Reino também, por isso Ele disse: "O reino de Deus não vem com aparência exterior. Nem dirão: Ei-lo aqui, ou: Ei-lo ali; porque eis que o reino de Deus está dentre de vós" Lucas 17.20-21. Isto é o evangelho, a Graça e o Reino por Cristo em nós. Aleluia!

A porta do peixe é a segunda porta a ser restaurada, porque à partir da regeneração, de entrarmos pela porta das ovelhas, o Senhor já nos chama a sair e pregar o evangelho. Qualquer filho de Deus, por mais novo que seja está apto para pregar o evangelho; ele pode anunciar as grandezas daquele que o tirou das trevas para a sua maravilhosa luz (I Pd. 2.9). É por aqui que começa o ministério sacerdotal de todo filho de Deus, o ministério a favor dos homens pecadores.

Nem todos irão ter ministérios da Palavra. Nem todos serão apóstolos, profetas, pastores ou mestres, mas todos os filhos de Deus, sem exceção, são chamados para pregar o evangelho. Muitos após serem salvos foram enviados por Jesus para anunciar o evangelho, dentre eles a mulher samaritana (Jo 4.39), o endemoninhado de gadareno (Mc. 5.19), e os próprios apóstolos. Para a obra do ministério para edificação do corpo de Cristo temos que ser aperfeiçoados, mas para pregar o evangelho não. Muitos dão muito fruto no princípio da sua conversão, na alegria do primeiro amor. O fruto do justo é árvore de vida, e o que ganha almas é sábio (Pv. 11.30).

Muitos quando os olhos são abertos para ver a Cristo, e nEle o seu mistério que é a Igreja, ficam centrados apenas na edificação da igreja, mas isto é um erro. A partir do momento que Cristo é restaurado como o tudo, Ele ensina que a Igreja seja missionária. Esta porta nos ensina isto. Esta é a função da Igreja para com o mundo, para com os homens pecadores. Se a Igreja cuidar somente da edificação, de regar, irá se tornar uma terra alagada, um pântano. Deus tem uma lavoura, mas primeiro é necessário plantar, para depois regar. Não se pode regar algo que ainda não foi plantado.

É verdade que não se pode esquecer de regar também e ficar só no plantio, mas cada coisa tem o seu tempo e propósito. Como diz Paulo: um planta, o outro rega, e Deus dá o crescimento (I Cor. 3.7). A Palavra de Deus, como já citamos, é semente para o que semeia e pão para o que come, como também água para regar (Isa. 55.10-11). 

A porta do peixe também tem a figura da madre de uma mulher. Ela é uma porta bendita que estará sempre aberta uma vez que é restaurada. Ela é a madre da Jerusalém que é de cima, do alto, a qual é a nossa mãe, que faz nascerem filhos da promessa (Gal. 4.21-28). Ela é como uma estéril que tem muitos filhos, pois a Igreja é estéril em si mesma, porque por ela mesma não pode gerar filhos. Todos nascem de Deus, por milagre (Jo.1.12). Ele abriu a madre, a porta do peixe, e ela estará aberta para fazer nascer: "Abriria eu a madre, e não geraria? diz o Senhor; geraria eu, e fecharia a madre? diz o teu Deus" (Isaías 66.7-11).

Saíamos, pois, por esta porta, e lancemos sobre a Palavra de Cristo as redes, e teremos uma pesca maravilhosa. "Pela manhã semeia a tua semente, e à tarde não retires a tua mão, porque tu não sabes qual prosperará, se esta, se aquela, ou se ambas serão igualmente boas" Eclesiastes 11.6.

O Senhor também diz: "Quem observa o vento, nunca semeará, e o que olha para as nuvens nunca segará." Eclesiastes 11.4. Quem fica olhando para as dificuldades e para o tempo nunca semeará, e consequentemente não colherá. Não importa diante de qual circunstância ou tempo você esteja, temos que lançar a semente sobre a terra. E como disse Jesus na parábola do semeador, sempre a semente achará uma boa terra (Mat. 13).

Outra coisa também sobre o evangelismo é que as vezes nos deparamos com situações que achamos que não convém falar de Cristo. As vezes um bêbado, um enfermo ou em coma, mas temos que lembrar o que nos ensina o Senhor em Ezequiel 37, nos vales de ossos secos. Podem esses ossos viver? Profetiza ao Espírito, e o Espírito se encarregará de vivificar aquela Palavra. Nenhuma Palavra de Deus volta para Ele vazia (Isa. 55.11).

No final do verso 5 do capítulo 3 de Neemias, na versão CMTHG, diz que os nobres não meteram o pescoço no serviço do seu Senhor. O Espírito não deixou de relatar isto, porque é de muita importância para nós. O que é meter o pescoço no serviço do Senhor? É colocar o nosso pescoço na canga com o Senhor, tanto para aprender dEle, como para fazer a sua vontade (Mt. 11.28-30).

Aqui o Espírito relata que nós podemos nos tornar nobres, não nobres no sentido bíblico como os Bereanos, mas aqueles que estão cheios de conhecimento, cheios de orgulho espiritual. Podemos nos assentar como nobres, como aqueles que se servem das coisas do Senhor, mas não servem ao Senhor, não entram no seu serviço. Considerando-nos superiores aos outros. Tornamo-nos daqueles que não negam a si mesmos, e não tomam a cada dia a sua cruz para segui-lo.

Que o Senhor nos guarde de nos sentirmos nobres, capazes, cheios, superiores, mas muito poucos atentos no seu serviço, em servirmos ao nosso Senhor. Na restauração há muito trabalho, e não podemos nos sentir nobres e nos eximirmos do serviço, de servirmos de coração ao nosso Senhor.

Um dia seremos reis sobre a terra; assentados com Ele no seu trono. Mas isto só será possível se cumprirmos bem o nosso ministério sacerdotal, que é o nosso serviço agora, para este tempo. Ninguém reinará sem antes cumprir bem o seu ministério sacerdotal, porque maldito aquele que faz a obra do Senhor negligentemente (Jer. 48.10).

 

A PORTA VELHA

 

A porta velha é a terceira porta que foi restaurada nos muros de Jerusalém. Assim diz em Neemias capítulo 3, nos versos 6 a 11: "E a porta velha repararam-na Joiada, filho de Paséia, e Mesulão, filho de Besodias; estes a emadeiraram, e levantaram as suas portas com as suas fechaduras e os seus ferrolhos. E ao seu lado repararam Melatias, o gibeonita, e Jadom, meronotita, homens de Gibeom e Mizpá, que pertenciam ao domínio do governador dalém do rio. Ao seu lado reparou Uziel, filho de Haraías, um dos ourives; e ao seu lado reparou Hananias, filho de um dos boticários; e fortificaram a Jerusalém até ao muro largo. E ao seu lado reparou Refaías, filho de Hur, líder da metade de Jerusalém. E ao seu lado reparou Jedaías, filho de Harumafe, e defronte de sua casa e ao seu lado reparou Hatus, filho de Hasabnéias. A outra porção reparou Malquias, filho de Harim, e Hasube, filho de Paate-Moabe; como também a torre dos fornos. E ao seu lado reparou Salum, filho de Haloés, líder da outra meia parte de Jerusalém, ele e suas filhas".

A restauração da porta velha se refere à restauração do testemunho da Pessoa de Cristo em todo ensino da Palavra de Deus, daquilo que era desde o princípio. Porta velha não porque se tornou velha ou obsoleta, mas porque Deus não quer nenhuma novidade que esteja fora de Cristo; nada que seja moderno, e que exclua o Filho do Deus Vivo. João em sua primeira carta resgata todo o ensino acerca desta porta quando a igreja se encontrava em queda, quando disse: "Portanto, o que desde o princípio ouvistes permaneça em vós. Se em vós permanecer o que desde o princípio ouvistes, também permanecereis no Filho e no Pai" I João 2.24.

João também nesta mesma carta fala de alguém se torna maduro espiritualmente, ou um pai, quando conhece aquele que é desde o princípio (I Jo. 2.14). Toda restauração nos faz retornar ao princípio, porque o princípio é a revelação mais pura, quando ainda não foi contaminada. Como já falamos anteriormente, a restauração de Deus é do seu testemunho, e este testemunho é acerca do Seu Filho. Na sua restauração Deus faz retornar tudo ao princípio, tudo para Cristo, para o seu projeto inicial e único, por isto esta porta é chamada de velha.

Como podemos notar pelos nomes que restauraram essa porta, quase todos são homens de renome. Como nos ensina o texto, eles eram ourives, boticários, e líderes da cidade; e também cita Salum ajudado pelas suas filhas. O Espírito Santo nunca deixa que o trabalho no Senhor seja esquecido, por isso lembra aqui o trabalho das filhas de Salum, ainda que não fosse trabalho para mulheres. Salum quer dizer 'retribuição'. Pelo visto esta família prestou este serviço ao Senhor em retribuição à misericórdia manifestada sobre a sua casa. Não por obrigação, mas por amor ao Senhor.

Apesar da obra de restauração estar relacionada com o ministério dos homens, as mulheres tem um papel muito precioso na Igreja. Paulo em todas as cartas sempre deu testemunho das irmãs que serviram a Igreja e que trabalharam no Senhor (Rom. 16.1, 12). O Senhor Jesus também disse de uma mulher em Betânia, que em João capítulo 12, no verso 3, diz que foi Maria, a qual o ungiu com um balsamo de nardo puro de grande valor, que por onde quer que este evangelho fosse pregado em todo o mundo, também seria referido o que ela fez, para memória sua (Mat. 26.13).

As irmãs em Cristo são as que têm os enfeites preciosos, que estão no coração, no incorruptível traje de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus (I Pd. 1.4). As irmãs são os membros mais afetivos do corpo de Cristo, do espírito mais quebrantado, que tocam mais o coração do Senhor nas orações. Aos homens cabe tomar a espada e a armadura e sair para a batalha, e às irmãs de receberem os seus mortos pela ressurreição (Heb. 11.35).

Esta porta nos ensina que a partir da regeneração e do 'ide' de Jesus, de levar o evangelho a toda criatura, a Igreja deve retornar ao princípio do ensino da Palavra. Ela deve retornar para a Palavra de Deus, isto é, para o Cristo da Palavra de Deus. Tudo o que não é Cristo é considerado pelo Espírito como um modismo, uma novidade que não traz Vida. O ensino passa a ser uma novidade, mas esta novidade é tirada do velho tesouro como disse Jesus: "Por isso, todo o escriba instruído acerca do reino dos céus é semelhante a um pai de família, que tira do seu tesouro coisas novas e velhas" Mateus 13.52.

O Senhor sempre que exorta o seu povo, faz retorná-los ao princípio. A porta velha resgata aquilo que Deus estabeleceu como princípio e que não pode ser removido: "Assim diz o Senhor: Ponde-vos nos caminhos, e vede, e perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho, e andai por ele; e achareis descanso para as vossas almas" Jeremias 6.16. Cristo é o caminho, como também o princípio e o fim, o Alfa e o Ômega de tudo: "Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, o primeiro e o derradeiro" Apocalipse 22.13.

Depois que a igreja caiu num tempo escuro, o Senhor, cerca de 1450 anos depois de Cristo, através de Martin Lutero, fez o povo retornar para a Sua Palavra, revelando pelo seu Espírito a justificação pela fé. Cerca de 300 anos depois, por causa de um clamor do seu povo, Deus trouxe a sua Igreja de volta para a Sua Palavra revelando a sua santificação pela fé. Cerca de 100 anos depois o Senhor pelo seu Espírito trouxe a Igreja a revelação da Sua Palavra quanto à glorificação pela fé.

Tudo sempre esteve na Sua Palavra, mas por séculos ficou como que encoberto, até que o Senhor trouxe luz e fez com que o seu povo retornasse ao princípio da revelação. Que a justificação, santificação e glorificação estão tudo em Cristo. Agora não podemos remover os marcos antigos que foram estabelecidos por nossos pais, mas retornar a eles. O Espírito não pode seguir adiante com a edificação da Igreja se ela perder esses marcos antigos (Prov. 22.28). Eles já foram estabelecidos, e para que possamos prosseguir em graça e em estatura temos que fazer com que estes marcos antigos estejam estabelecidos na vida de cada cristão.

Não pode haver crescimento espiritual sem primeiro haver justificação. Depois da justificação pela fé é necessária a santificação. Neste tempo ouvimos muito sobre edificação da Igreja, mas se esta edificação não estiver fundamentada na obra da Cruz, quando vier a tempestade irá ruir. É uma edificação sem fundamento. Jesus sempre desejou a sua amada esposa, a Igreja, mas primeiro Ele teve que se entregar por ela. Qualquer um que queira participar da Igreja do Senhor primeiro precisa ser justificado, e depois santificado e glorificado. Sem santificação ninguém verá o Senhor (Hb. 12.14).

Mas esta porta também tem tranca e ferrolhos, e a tranca e os ferrolhos como a porta do peixe e as outras portas, não pode ser aberta pelo lado de fora, somente pelo lado de dentro. Por isso ela também nos ensina que o que é do velho homem, e que está fora, no mundo, não pode entrar para dentro dos muros, somente o que é do velho pode ser retirado para fora. E há muito do velho para ser despojado da Igreja: "Que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano" Efésios 4.24.

Esta porta nos ensina também que o despojamento não é individual. Eu como um cristão individual não posso me despojar das coisas do velho homem em mim mesmo. Tanto o velho como o novo homem são coletivos. Este texto acima está em Efésios e este livro nos fala da Igreja, da vida cristã coletiva. Por isso cada cristão necessita da comunhão dos santos, e juntos haver um despojamento. Não adianta um se despojar e o outro não. As coisas do velho estão para dentro dos muros e devem ser tirados para fora.

Tanto não é individual que a restauração é feita por várias pessoas mesmo que seja em apenas uma porta. E cada um restaurava ao lado do outro. Isto nos ensina que esta obra da restauração não é feita por um só como já dissemos, mas por vários irmãos, um ao lado do outro. No mesmo propósito, na mesma obra, e cada um com a sua medida de fé, cada um com a sua medida do dom de Cristo. Um ao lado do outro. Cada um em sua medida, mas com um único propósito.

A porta velha também nos ensina que as coisas velhas já passaram e tudo se fez novo. O que está dentro dos muros e das portas é do Novo Homem, e tudo o que é do velho homem deve ser despojado. Não é despojar o velho homem, porque dentro não há nada velho, tudo se fez novo. O que tem que ser despojado são as coisas do velho homem, as sua manias, as suas paixões, as suas concupiscências: "Mas agora, despojai-vos também de tudo: da ira, da cólera, da malícia, da maledicência, das palavras torpes da vossa boca. Não mintais uns aos outros, pois que já vos despistes do velho homem com os seus feitos, e vos vestistes do novo, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou; onde não há grego, nem judeu, circuncisão, nem incircuncisão, bárbaro, cita, servo ou livre; mas Cristo é tudo em todos" Colossenses 3.8-11.

Este despojamento é o processo de santificação pela fé. Como Paulo nos ensina em Efésios capítulo 5, nos versos 25 a 27, Jesus se entregou pela Igreja, a fim de purificá-la e santificá-la, e apresentá-la a si mesmo uma Igreja gloriosa. E como está escrito no texto de Colossenses 3.11, acima, a obra de glorificação é que Cristo seja tudo em todos. Para isto somos transformados de glória em glória na sua imagem, pelo Espírito do Senhor (II Cor. 3.18).

O velho homem tem a figura da estátua de Nabucodonozor que começou com ouro e terminou com ferro misturado com barro. Naquela estátua vemos a decadência do homem. Tudo o que é do velho homem terminou na cruz do calvário em Cristo. Ali, Ele como o segundo homem se tornou o último Adão. Quando Jesus foi colocado na cruz, ele crucificou o nosso velho homem, para que o corpo do pecado fosse destruído, e não servíssemos mais ao pecado como escravos (Rm. 6.6). Jesus por sua obra na cruz é a pedra que foi tirada sem o auxílio de mãos, o qual feriu os pés da estátua e os esmiuçou (Dn. 2.34-35).

A pedra esmiuçou toda a estátua e ela foi espalhada pelo vento, e não se achou mais lugar para ela. Mas a pedra se tornou um monte e encheu toda a terra. Aleluia! O homem que começou sendo formado pelo barro, se exaltou e se tornou a cabeça de ouro, mas depois viu a sua glória ir se desvanecendo para prata, bronze, ferro e o barro novamente. Do pó ele veio e ao pó voltará (Ecl. 12.7). Ele retornou ao barro, ao pó, ao seu lugar de origem. Mas Jesus foi exaltado a Príncipe e Salvador, Senhor e Cristo. Exaltado à destra de Deus, e recebeu um Nome que está acima de todo o nome, para que ao Nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus é o Senhor, para a glória de Deus Pai (Fil. 2.9-11).

O velho homem foi destruído e espalhado aos quatro ventos. Não há mais lugar para ele dentro dos muros de Jerusalém, para dentro do Corpo de Cristo. Esta porta fala do velho que deve ser restaurado e preservado, mas também do velho que foi destruído e que deve ser despojado. O velho que deve ser restaurado é tudo o que é do novo desde o princípio, e o velho que deve ser retirado é tudo o que diz respeito à velha vida, ao velho Adão. A porta do monturo, que vamos ver depois, nos fala mais especificamente do que tem que ser despojado, do lixo que há para dentro da Casa de Deus. Um lixo que ainda produzimos e que tem que ser lançado fora.

Que o Senhor abra os olhos do nosso entendimento para compreendermos mais claramente o caminho que devemos seguir, porque a restauração não se faz com doutrina, mas com prática. Eles não falaram de um projeto de restauração, mas puseram a mão à obra. Não é saber da restauração e ficar sentado como os nobres que não se dispuseram à obra. Restauração é realidade, é vida do Senhor Jesus. Isto só é possível com uma mudança de mente, uma renovação do nosso entendimento (Rm. 12.2, Ef. 4.23). Despojar do velho e revestir do novo.

 

A PORTA DO VALE

 

A porta do vale foi a quarta porta a ser restaurada nos muros de Jerusalém. Em Neemias capítulo 3, no verso 13 diz: "A porta do vale reparou-a Hanum e os moradores de Zanoa; estes a edificaram, e lhe levantaram as portas com as suas fechaduras e os seus ferrolhos, como também mil côvados do muro, até a porta do monturo".

Na porta velha temos 12 homens reparando, mas na porta do vale apenas um homem, apenas Hanum é referido e os moradores de Zanoa. Hanum quer dizer ‘favorecido’ e Zanoa quer dizer ‘água suja’. Zanoa era uma cidade que coube aos filhos de Judá, a tribo à qual Jesus descende (Jos. 15.34). O Senhor nos ensina com esses nomes que somos favorecidos com a água suja que encontramos no vale. Quando vemos esta água no vale é que damos valor à água pura que sai do trono de Deus, da água que quem beber dela nunca terá sede.

A porta do vale nos fala da vida de conhecimento mais profunda em Cristo. O que no monte recebemos como revelação de Deus, as coisas altas do Senhor na Sua Palavra, no vale é onde encontramos a nossa realidade, a realidade da Vida do Senhor Jesus em nós. Um exemplo disso é Moisés que subiu ao monte para ouvir ao Senhor, mas foi no vale que ele encontrou a realidade diante das circunstâncias. O monte representa a nossa vida de visão, e no vale a nossa experiência de conhecimento de Cristo.

Na verdade a nossa vida está para dentro dos muros, mas a nossa experiência está fora, no vale. Esta porta também tem fechaduras e ferrolhos porque Deus não vai manifestar o seu conhecimento ao mundo, mas vai nos levar ao mundo para ganharmos conhecimento dEle naquilo que recebemos como ensinamento dentro. Ele nos faz saber coisas grandes e ocultas que não sabemos (Jer. 33.3), mas é o vale, as tribulações, as aflições, as necessidades que irão nos fazer conhecê-Lo. É no vale que damos o verdadeiro fruto (Cant. 6.11).

Para dentro dos muros ouvimos sobre o Deus soberano e fiel, que não muda e é poderoso, mas no vale é que o conhecemos como o nosso Pastor que não nos deixa e não nos desampara, e que mesmo que cheguemos ao vale da sombra da morte, Ele está conosco. A sua vara e o seu cajado nos consola. É no vale que nós conhecemos que verdadeiramente a sua bondade e a sua misericórdia nos seguem todos os dias da nossa vida (Sal. 23).

O vale é o lugar de fertilidade, o lugar do fruto. Enquanto na Palavra, como em muitos lugares nos ensina que homens foram levados a altos montes para terem visão, a nós, a Sua Igreja, o Senhor também leva aos mesmos montes (Mat. 17.1, Apoc. 21.10). Mas é no vale que a videira é plantada, junto a ribeiro de águas, para dar fruto. Não é o conhecimento que temos que glorifica a Deus, mas o fruto que damos (Jo. 15.8).

Mas há outro aspecto da porta do vale, o tratamento de Deus conosco para nos fazer baixar à medida de Cristo. Todo o vale será exaltado, e todo o monte e todo o outeiro será abatido como disse o Senhor em Isaías, no capítulo 40, no verso 4. Se ficarmos apenas com o ensino, com a letra, isto nunca nos trará benefício. Na continuação do versículo ele diz: e o que é torcido se endireitará, e o que é áspero se aplainará. Somos endireitados e aplainados no vale, no mundo, pelas intempéries desta vida.

Nós necessitamos ser endireitados, aplanados e abaixados por Deus e Cristo exaltado. A Palavra nos ensina que a ciência incha, mas o amor edifica (I Cor. 8.1). Se ficarmos somente dentro dos muros vamos apenas nos inchar, mas quando descemos ao vale, então as tribulações produzem a experiência, e a experiência a esperança e a esperança não traz confusão. Tudo isso o Senhor nos concede para conhecermos o amor de Deus que está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado (Rom. 5.4). Necessitamos do vale para conhecermos o amor de Deus em nós.

Alguns irmãos falam do tratamento de irmãos através de outros irmãos na Igreja. Sinceramente eu não consigo ver assim. É verdade que isso acontece, mas creio que não deveria ser assim, que isso é uma anormalidade. Tanto é que a porta do monturo que veremos a seguir é para por para fora as coisas, as manias do velho homem e revestir do novo homem. Como disse Jesus, no mundo tereis aflições, e muitas são as aflições do justo, mas Ele venceu o mundo, por isso Ele nos livra de todas.

O Senhor não disse que na Igreja tereis aflições. Os irmãos me perdoem se estiver errado. É assim que vemos acontecer no meio do povo de Deus, irmão ferindo irmãos, e como já fizemos isto, mas creio que isso não é normal, não é da vontade de Deus. Creio que a Igreja é lugar de comunhão, de amor mútuo, companheirismo, de consolo, de estímulo, de humildade, de perdão, de suporte; um lugar de descanso para a alma, porque se refere a Cristo. Não posso admitir que para crescer tenho que ferir irmãos e que também tenho que ser ferido, desprezar, julgar,  ou coisa parecida. Creio que deve ser ao contrário. Quando um membro sofre todos os membros sofrem com ele, e quando um membro se regozija, todos se regozijam com ele (I Cor. 12.26).

Este tratamento vem de qualquer coisa à parte do corpo de Cristo, mas não dele próprio. No corpo de Cristo é para termos cuidado uns dos outros (I Cor. 12.25), e não nos mordermos, nos devorarmos, nos consumir uns aos outros: "Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Se vós, porém, vos mordeis e devorais uns aos outros, vede não vos consumais também uns aos outros" Gálatas 5.14-15. Por isso a porta do vale deve ser restaurada, senão a Igreja se torna o vale. A Igreja não é o vale, mas uma cidade edificada sobre um monte.

A porta do vale nos leva ao vale. Ninguém entra por esta porta. Apesar do vale colaborar para que as ovelhas entrem pela porta das ovelhas, elas não entram pela porta do vale, porque tem trancas e ferrolhos. O vale pode colaborar na salvação, porque a tristeza que é segundo Deus, que opera arrependimento para a salvação vem do vale (II Cor. 7.10). Deus levou Jacó para o Egito para tirar o povo de lá, mas a experiência que ele teve com Deus foi no vale de Jaboque (Gên. 32.22-24). Isto nos ensina que é sempre do vale que também viemos, depois somos levados para o Egito, depois para o deserto e depois Canaã, entrando pela porta das ovelhas, daí retornamos ao vale e ao Egito para sermos edificados. Esse é o caminho para os remidos (Isa. 35.8).

Não só Jacó, mas também Abraão, Isaque, José e o próprio Jesus foram levados para o Egito. Deus é um Deus de montes, mas também é um Deus de vales (I Reis 20.28). Ele não somente faz nós andarmos nos lugares altos, mas também nos leva aos lugares férteis, para uma realidade de vida, onde verdadeiramente damos fruto. É no mundo que somos provados e aprovados, com o fim de sermos perfeitos e completos, não faltando em coisa alguma (Tg. 1.3-4).

As experiências que temos no vale antes de entrarmos para dentro dos muros, isto é, as aflições, as dores, as tristezas que tivemos no mundo antes de entrarmos por Cristo, para a glória dos filhos de Deus, não tem nenhum sentido eterno. Só servem para a morte, porque a tristeza segundo o mundo opera a morte (II Cor. 7.10), mas quando somos membros do corpo de Cristo e saímos pela porta do vale, a experiência que ela nos leva se torna depois um eterno peso de glória, muito excelente (II Cor. 4.17).

Deus é um Deus de montes e de vales porque não aprova uma vida de aparência. Uma vida de sacerdócio de aparência externa, daqueles que dizem e não fazem. Que atam fardos pesados sobre as pessoas, mas nem com um dedo ajudam carregar. Uma vida que tem aparência de piedade, mas nega-lhe o poder. Confessam que conhecem a Deus, mas negam-no com as suas obras (II Tim. 3.5, Tt 1.10). Obras para serem vistas pelos homens. Gostam de serem chamados de mestres, mas não passam de sepulcros caiados (Mat 23).

A porta do vale é muito necessária porque não adiantaria conhecermos as coisas reveladas por Deus se elas não se tornarem realidade em nós. Muitas das coisas que o Senhor nos ensina só passam a ser entendidas no vale, na prática. Às vezes demoram anos para experimentarmos aquilo que nos foi revelado por Deus. Grande parte das coisas que o Senhor nos dá por revelação só poderão se tornar realidade quando aprendidas no vale.

A porta do vale também tem um aspecto precioso para a Igreja, porque depois ela traz a realidade para dentro das portas. O que ouvimos e nos é ensinado por Deus é tratado fora, no vale, para depois se tornar realidade para a Igreja. Na edificação do templo de Israel, as pedras eram lavradas fora, na pedreira. Quando ela vinha, já vinha para servir de edificação. O barulho de martelo não era ouvido no templo, somente na pedreira (I Reis 6.7).

A partir do momento que entramos pela porta das ovelhas, por Cristo para a vida cristã, somos impelidos a pregar o evangelho, a falar das grandezas daquele que nos tirou das trevas para a sua maravilhosa luz. Aí o Senhor começa a edificar a sua Igreja trazendo os seus filhos para as verdades que são desde o princípio e depois os leva para o vale, onde essas verdades se tornam realidade espiritual para a Igreja. Só então o Senhor começa a tirar as coisas que não pertencem ao novo homem, e isto iremos ver na próxima porta a ser restaurada, a porta do monturo.

Que o Senhor nos ensine por elas a ordem de sua restauração, da restauração do testemunho do Senhor, para que possamos compreender um pouco mais qual o processo a seguir.

A PORTA DO MONTURO

 

A porta do monturo foi a quinta porta a ser restaurada nos muros de Jerusalém. Em Neemias capítulo 3, no verso 14 diz: "E a porta do monturo reparou-a Malquias, filho de Recabe, líder do distrito de Bete-Haquerem; este a edificou, e lhe levantou as portas com as suas fechaduras e os seus ferrolhos".

A porta do monturo é a porta pela qual o lixo que era produzido dentro dos muros era jogado para fora. O Senhor não se engana conosco, pois ele conhece a nossa realidade, mesmo já estando em Cristo e sendo uma nova criatura. Nós ainda estamos num processo de salvação, isto é, estamos sendo conformados à imagem de Cristo. Após a regeneração ainda é necessário uma obra de santificação. Todo esse processo de Deus é para que cheguemos à estatura de varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo (Ef. 4.13).

Malquias quer dizer 'Jeová é Rei'. Jesus nos fez reino e sacerdotes para Deus (Apoc. 1.6). Reino é o lugar onde um rei reina. O Senhor reina, e Ele reina em nós, porque o reino de Deus está dentro de nós (Luc. 17.20-21). O nome Malquias nos ensina que esta obra de despojamento, de tirar o lixo do meio do seu povo, de santificar o seu povo é obra dEle; faz parte do seu Reino em nós. Talvez seja por isso que somente Malquias foi citado para restaurar esta porta. Somente Ele pode fazer.

Bete-Haquerem era um distrito onde Malquias habitava e era líder, e quer dizer 'Casa da Vinha'. O Senhor nos considera a sua Casa e a sua vinha, uma vinha de excelente vide, que é o próprio Senhor Jesus (Jo. 15.1-2). O que Israel não produziu ao Senhor (Isa. 5.1-4), Jesus agora, como a videira excelente e nós como as suas varas, damos por Ele o fruto para Deus. E não somente isto, porque o propósito de Deus de plantar uma vinha é lhe dar o bom vinho, isto é, ter alegria, gozo e ser glorificado no seu povo (Jo. 15.8). Mas para se obter o vinho é necessário esmagar a uva no lagar, depois colocá-la num lugar para que a casca, a borra, a sujeira seja separada do suco.

Depois vem a segunda parte, que é uma fermentação lenta, onde o vinho é colocado em outros recipientes para no final retirar o restante da borra que fica no fundo. Depois de retirada toda a sujeira vem mais um período para a maturação. Por isso a Igreja também é chamada de 'Casa da Vinha'. Para se obter o bom vinho é necessário retirar todo o restolho, tudo o que não pertence ao bom vinho. Toda a parte sólida é retirada, da mesma forma que o lixo é retirado para fora pela porta do monturo. Esta é a obra de santificação.

Em Levítico, capítulo 23, o Senhor fala das festas. Estas festas eram figuras, sombras da Pessoa de Cristo. Primeiro ela fala da festa da Páscoa, que representa a obra sacrificial de Cristo a qual todos nós fomos incluídos na sua morte e ressurreição. Tem o lado substitutivo do Cordeiro sendo morto em nosso lugar, mas também há o lado identificativo, porque eles comeram da carne do cordeiro e passaram o sangue nas vergas das portas. Por isso Jesus disse: "Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele" João 6.54-56.

Somente saber que Ele morreu por nós não é suficiente, porque há o lado identificativo que morremos e ressuscitamos juntamente com Ele. Por isso Jesus disse que temos que comer a sua carne e beber o seu sangue. Na páscoa dos judeus, e páscoa quer dizer 'libertação', eles não fizeram um sacrifício, mas comeram a carne do cordeiro, e comeram tudo. Comer a sua carne e beber o seu sangue é crer que fomos incluídos, que participamos da sua morte e ressurreição. O sacrifício de Cristo se tornou algo orgânico para nós, pois Ele agora vive em nós (Gal. 2.20).

Mas depois de comermos a sua carne e bebermos o seu sangue, Paulo diz: "Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós. Por isso façamos a festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da maldade e da malícia, mas com os ázimos da sinceridade e da verdade" I Coríntios 5.7-8.

Paulo está dizendo que a obra em Cristo está consumada, e que agora a nossa festa deve ser com pães ázimos, pães sem fermento, que é a festa seguinte à páscoa em Levítico 23. Porque como Igreja somos um só pão, e este pão deve ser sem fermento. Mas Deus não se engana, por isso na festa dos movimentos ele manda fazer dois pães, um com fermento e o outro sem fermento (v.17). O pão sem fermento é Cristo e o pão com fermento somos nós, a Sua Igreja, que ainda necessita ser santificada, purificada pela Palavra.

Por isso é necessário a porta do monturo, e a restauração dela. Mas podemos pensar: - As portas não são Cristo, como Cristo pode ser uma porta de lixo? É que Cristo foi feito para nós também santificação (I Cor. 1.30). A santificação, ou ficar cada vez mais santo é uma Pessoa e não uma obra à parte dEle. O sacrifício de Cristo nos santificou de uma vez para sempre, mas agora Ele vem vivificar a sua Palavra em nós (Jo. 17.17). O que é santo tem que ser santificado ainda (Apoc. 22.11), e esta santificação é conhecimento e crescimento nEle, e isto pela sua Palavra. Somos santificados pela verdade em Jesus (Ef. 4.21). 

É por Cristo que somos santificados e purificados, e Ele faz isto pela lavagem da água pela Palavra, a fim de apresentar a si mesmo uma Igreja gloriosa, sem mácula nem ruga, mas santa e irrepreensível (Ef. 5.26-27). Em Cristo somos salvos, pois ele é a porta das ovelhas, e em Cristo somos santificados, porque Ele é a porta do monturo. João Batista disse: "É necessário que ele cresça e eu diminua" João 3.30. João Batista não disse que ele precisava diminuir para Cristo crescer, mas que Cristo cresça, e Cristo crescendo automaticamente nós iremos diminuir. Santificação não é obra nossa, mas dEle.

Assim é também com a Igreja. Sim, porque o despojamento das coisas do velho homem é coletivo. O tratamento de Deus é individual, mas o despojamento e o revestimento são coletivos. Se percebermos o texto abaixo, vamos notar que ele está em Efésios, e este livro fala do mistério de Cristo: a Igreja. E para que isto aconteça é necessário que a nossa mente seja renovada; tem que haver uma renovação no espírito do nosso entendimento: "Que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano; e vos renoveis no espírito da vossa mente; e vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade" Efésios 4.22-24. O lixo que produzimos para dentro do muro é coletivo, por isso o despojar está no plural (vos), e não no singular.

A porta do monturo é conhecimento de Cristo no despojar das coisas do velho. Esta porta faz parte da edificação e tem trancas e ferrolhos também na parte de dentro, porque não é para o lixo entrar, somente sair. Por Cristo não entra nada que não seja santo. O testemunho disso é o que Deus nos ensina em Efésios 1.22-23 e Hebreus 2.8. Em Efésios diz que todas as coisas estão sujeitas debaixo dos seus pés. Em Cristo esta obra está completa, está consumada. Não há mais nada a ser feito em Cristo, mas em Hebreus diz que ainda não vemos todas as coisas sujeitas a Ele. O que ainda não está sujeito a Ele é o que ainda falta completar em nós. E o que ainda é nosso é o lixo, a casca, a borra, o restolho do velho homem que tem que ser separado do santo, do puro. 

Em Cristo tudo está consumado, mas em nós esta obra ainda não foi completada. Ainda não alcançamos tudo aquilo que Cristo alcançou por nós na sua morte e ressurreição. Ainda não chegamos à perfeição, nem mesmo à ressurreição dos mortos (Fil. 3). Por isso é necessário a porta do monturo. Tudo o que é do velho homem tem que ser despojado; não por nós mesmos, mas por Cristo, por aquele que reina. É no conhecimento dEle que somos revestidos do novo, e sendo revestidos do novo, o velho automaticamente sai, é lançado fora pela porta do monturo, pelo próprio Cristo. Uma vez que revestimos do novo o velho é lançado fora.

Mas para que consideremos as nossas coisas como lixo é necessário que elas emitam mau cheiro. Nós não temos como discernir os nossos próprios erros, o Senhor tem que expurgar os que nos são ocultos (Sal. 19.12). O expurgo é o lixo, mas não podemos nos esquecer que todos nós produzimos lixo. Ninguém que viva dentro dos muros, no viver com a Igreja, consegue viver sem produzir lixo. Ainda que alguns cheguem a uma maturidade, o Senhor não vê o lixo de forma individual, mas coletiva. Por isso o Senhor nos ensina que temos que ter cuidado uns dos outros. Ainda falta que os pés sejam lavados, e não podemos lavar os nossos próprios pés, mas os pés uns dos outros.

Para Deus não há lixo reciclável. O Senhor não faz reforma em nós, não põe vinho novo em odre velho. Tudo o que é do velho deve ser despojado. Tudo o que é do velho tem que ser lançado para fora e temos que nos revestir de tudo o que é do novo. Aquele que está em Cristo é uma nova criatura, as coisas velhas já passaram, eis que tudo, absolutamente tudo foi feito novo por Deus (II Cor. 5.17). Tudo o que não é do novo depois será lançado num fogo eterno; será incinerado eternamente. Neste caso o fogo não será para purificação, porque o cheiro será de enxofre.

Após a regeneração, que aqui é representado pela porta das ovelhas, o Senhor nos leva a anunciar o evangelho. Depois nos ensina a Sua Palavra, nos enche dela, e então nos leva à prática da Palavra. Então começa a obra de santificação, do despojar das coisas do velho e o revestimento do novo homem. O propósito é para que nós sejamos cheios do Espírito, que é a porta da fonte, que veremos a seguir. O Espírito é santo, por isso não pode haver mistura do santo com o profano. O que é profano tem que ser retirado, posto para fora, porque esta é a função dos muros e das portas, separar o santo do profano.

Muitos de nós queremos logo o enchimento do Espírito. O desejo de toda a Igreja é que o Espírito tenha livre acesso e manifeste em nós de forma abundante a sua graça, mas isto não acontecerá enquanto estivermos cheios de nós mesmos, cheios das coisas do velho homem. Primeiro o Senhor tem que nos limpar, nos purificar de toda a injustiça, para que depois possa derramar o seu Espírito de forma abundante. Na Casa de Deus não pode haver cheiro de incenso e cheiro de lixo; o bom perfume de Cristo e o mau cheiro de Adão. Nem suor pode haver em sua Casa!

Não podemos mais entristecer o Espírito, antes devemos ter os nossos corações purificados da má consciência e o corpo lavado com água limpa,  e assim o Espírito poderá derramar o seu óleo precioso que desce do cabeça, e que vai até a orla dos vestidos.

 

A PORTA DA FONTE

 

A porta da fonte foi a sexta porta a ser restaurada nos muros de Jerusalém. Em Neemias capítulo 3, no verso 15 diz: "E a porta da fonte reparou-a Salum, filho de Col-Hosé, líder do distrito de Mizpá; este a edificou, e a cobriu, e lhe levantou as portas com as suas fechaduras e os seus ferrolhos, como também o muro do tanque de Hasselá, ao pé do jardim do rei, e até aos degraus que descem da cidade de Davi".

A porta da fonte nos fala de Cristo através do Espírito Santo como fonte de vida em nós. Não somente da fonte que nos dessedentou, mas também daquela que mata a sede de outros através de nós. Jesus é a fonte de vida para nós, e também a fonte de vida que brota através de nós, do nosso interior para outros: "Jesus respondeu, e disse-lhe: Qualquer que beber desta água tornará a ter sede; mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna. Se alguém tem sede, venha a mim, e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre" João 4.13-14 e 7.37-38.

A porta da fonte é Cristo, mas o Senhor é o Espírito (II Cor. 3.17), e o Espírito é o que vivifica (Jo. 6.63). Como somos ensinados por Deus em sua Palavra, os três: o Pai, o Filho e o Espírito Santo são um em essência, mas três pessoas distintas. O Espírito não se glorifica a si mesmo, mas a Cristo (Jo. 16.14). O Espírito habita em nós, mas como é precioso ver que o Filho glorifica o Pai e o Espírito glorifica o Filho. Por isso que em Romanos, no capítulo 8, no verso 9, o Senhor diz: "Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele". Quem é o Espírito Santo? O Espírito de Deus e o Espírito de Cristo. Os três são um.

Por isso Jesus é a porta da fonte a ser restaurada porque muitos desprezaram esta fonte, e não mais a usam como fonte de vida, porque fizeram dos seus próprios conhecimentos, da sua própria sabedoria, habilidades, e justiças próprias, águas que não são vivas para a sua provisão. Por isso o Senhor reclama dizendo: "Porque o meu povo fez duas maldades: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm águas" Jeremias 2.13. Toda água empossada ou retida deixa de ser viva, de ser manancial.

A vida cristã começa com águas purificadoras, com o lavar da regeneração (Tt 3.5), com a aspersão de água pura sobre nós, a fim de sermos purificados das nossas imundícias (Ez. 36.25), mas depois uma fonte passa a jorrar em nós, que nos leva à vida abundante em Cristo. Começa com pouca água, mas depois é água em abundância, uma vida em abundância: "E saiu aquele homem para o oriente, tendo na mão um cordel de medir; e mediu mil côvados, e me fez passar pelas águas, águas que me davam pelos artelhos, ...e me fez passar pelas águas, águas que me davam pelos joelhos; e outra vez ...me fez passar pelas águas que me davam pelos lombos. E mediu mais mil, e era um rio, que eu não podia atravessar, porque as águas eram profundas, águas que se deviam passar a nado, rio pelo qual não se podia passar" Ezequiel 47.3-5.

Por isso o Senhor nos ensina em Efésios capítulo 5, no verso 18 para nos enchermos do Espírito. O encher do Espírito é para os que já nasceram do Espírito (Jo. 3.5). O nascimento no Espírito é para entrar no reino de Deus, e o enchimento do Espírito é a capacitação para andarmos por fé e herdarmos o reino dos céus, para sair ao encontro do noivo para as bodas. Jesus nos ensina isto claramente pela parábola das dez virgens (Mat. 25). Nesta parábola Jesus conta que cinco virgens eram prudentes e cinco insensatas.

Nesta parábola Jesus não está falando de salvação ou perdição, mas de estarmos aptos para o reino. Todas as dez eram virgens,  - e virgem é a figura da regeneração. Mas somente cinco tinham além das suas lâmpadas as suas botijas também cheias com óleo. Isto é, elas não somente tinham o Espírito, mas estavam cheias dEle, pois o óleo é a figura do Espírito Santo (Êx. 25.6). Como a água, o óleo tem a mesma figura. O óleo quanto à salvação enche  o nosso espírito, a lâmpada do Senhor, mas para que sejamos benção para a Igreja, para outros, temos que nos encher do Espírito, de estar também com as botijas cheias de óleo.

Esta é a necessidade de todo aquele que quer ser instrumento na edificação do Corpo de Cristo. Para qualquer trabalho, por menor que seja, o membro deve estar cheio do Espírito. O testemunho disso foi quando houve no princípio da igreja uma necessidade, quando os irmãos que se dedicavam ao ministério da Palavra necessitaram que a mesa das viúvas dos gregos fosse servida. Mesmo para este trabalho eles viram a necessidade que este ministério fosse cuidado por homens cheios do Espírito Santo (Atos 5.1-6).

O apóstolo Paulo, em I Coríntios capítulo 10, também faz uma alegoria desta necessidade de ser regenerado e cheio do Espírito, com a nação de Israel, quando esta saiu do Egito para entrar na terra de Canaã. Ele diz que o povo foi batizado em Moisés, na nuvem e no mar, e todos comeram de uma mesma comida espiritual, e beberam de uma mesma bebida espiritual, porque bebiam da pedra espiritual que os seguia; e a pedra era Cristo. Mas Deus não se agradou da maior parte deles, por isso ficaram prostrados no deserto. E isto foi escrito para aviso nosso. E em Hebreus capítulo 3, no verso 19, diz que eles não puderam entrar por incredulidade.

É muito sério este assunto. O livro de Hebreus fala da necessidade de crescimento na vida cristã. O Egito é a figura do mundo. O cordeiro assado com ervas amargas e comido, o sangue passado nas vergas das portas, Moisés na nuvem e no mar são figuras do sacrifício de Cristo, do batismo nas águas, da fé em Deus. A comida e a bebida espiritual são figuras da iluminação, da participação do Espírito Santo, de provar dons celestiais e a Palavra de Deus, como também as virtudes do mundo vindouro (Heb. 6.1-5).

Este é o tempo em que estamos sendo ensinados por Deus. Ensinados que tudo está em Cristo e que necessitamos ir a Cristo para termos vida (Jo. 6.44-45, 5.39-40). Não somente conhecer a letra, mas o Espírito que vivifica. Ter em nós mesmos o testemunho de Deus (I Jo. 5.10). No deserto, ou neste tempo pela qual Deus está nos conduzindo para passarmos o Jordão, que é uma figura da obra real do Espírito em nós, e da entrada na terra, que é a plenitude em Cristo, é para ser por pouco tempo. No deserto somos alimentados de forma externa por Deus, mas na terra, em Cristo, no descanso de Deus, o alimento vem da própria terra, da própria Pessoa de Cristo (Heb. 4.3). No deserto o maná descia do céu, mas quando eles entraram na terra o maná cessou e a própria terra começou a produzir o seu fruto (Josué 5.12).

Por isso não é suficiente conhecermos apenas a obra sacrificial de Cristo, do seu derramamento de sangue para perdão dos pecados; sermos batizados nas águas e nos tornarmos membros de uma congregação, é necessário ter Vida nEle. Temos que passar o Jordão, uma obra real do Espírito, de novo nascimento, e entrar na plenitude da terra; entrarmos no descanso de Deus e seguirmos para a perfeição; sermos achado nEle, e alcançar aquilo por que fomos alcançados por Cristo como diz o apóstolo Paulo (Fil. 3.9-12). No deserto vemos as obras de Deus, mas na terra somos sustentados por Cristo, vemos a glória de Deus na face de Cristo (II Cor. 4.6).

No deserto Deus peregrinou com o povo, mas em Canaã Ele encontrou um lugar para repousar, uma cidade que Ele escolheu para ali colocar o seu Nome (I Reis 11.36, Nee. 1.9). O que isto nos ensina também? Voltamos aqui à figura do tabernáculo e do templo. No deserto Deus peregrinou com o povo no tabernáculo, mas em Jerusalém a sua glória se manifestou no templo. Um tem a figura de Deus em seu tabernáculo peregrinando neste mundo, isto é, em Jesus Cristo (Jo. 1.14). Já o templo é a glória de Deus se manifestando em Cristo, como o cabeça do Corpo da Igreja. Que figura bendita.

O que Deus quer nos ensinar com isto? Que uma vez que Deus nos chama para fora do Egito, do mundo, o seu propósito de nos ensinar pela Sua Palavra a obra de justiça que Ele fez em Cristo naquela cruz é nos conduzir a Cristo, para que justificados pela fé tenhamos paz com Ele. O alimento e a água espiritual no deserto não são suficientes, porque eles não nos dão vida eterna. As Escrituras testificam dEle, e somente nEle podemos ter Vida (Jo. 5.29-40). As Escrituras não têm vida em si mesma, porque a letra mata. É necessário nascer do Espírito e depois nos enchermos dEle. Passar o Jordão e possuir a terra. Não é conquistá-la. Tanto a salvação como o enchimento do Espírito não é algo a ser conquistado, mas a ser possuído por fé, aquilo que foi conquistado por Cristo.

A porta da fonte contrasta com o deserto. Enquanto no deserto a água procede de uma pedra, na vida em Cristo, a fonte, o manancial das águas vivas brota de dentro de nós. É necessária a passagem pelo deserto, mas o Senhor não deseja que fiquemos muito tempo nele, e muito menos como Israel por 40 anos, e depois perecendo por incredulidade. Deve ser só uma passagem rápida; apenas o tempo necessário para sermos ensinados por Deus. Infelizmente a vida cristã se tornou para muitos um nome de que estão vivos, estando mortos (Apoc. 3.1). Ou manter uma vida espiritual morna, isto é, desgraçada, miserável, pobre, cega e nu de Cristo, da verdadeira Vida, da Vida com abundância (Apoc. 3.16-17).

Assim como Deus tem a sua fonte de Vida em Cristo, Satanás também tem uma fonte, chamada de fonte do dragão, que está fora dos muros, entre a porta do vale e a porta do monturo (Nee. 2.13). Como vimos, o vale é o mundo, o lugar aonde o Senhor nos leva para conhecê-lo, e o monturo é o lixo, as coisas do velho homem a serem despojadas. Esta fonte é oferecida aos filhos de Deus no mundo. A fonte do dragão são as concupiscências da carne, as concupiscências dos olhos e a soberba da vida que procede do mundo. Esta é uma fonte ilusória, de águas amargas, uma fonte que mata, rouba e destrói.

Há riquezas insondáveis nestes textos da Palavra de Deus em Neemias capítulo 3, que não posso alcançar sózinho, mas que o Espírito pode trazer revelação à Igreja. São muitos os que repararam esta porta e o muro, pois vai do versículo 15 até o 25. Isto nos mostra que a obra do Espírito para com a Igreja é muito extensa. Ela vai da regeneração até a primeira ressurreição, o arrebatamento, e a entrada no reino. Só estará pronta quando o Espírito e a noiva disserem 'Vem' (Apoc. 22.17). Todo o ministério agora, até a volta de Cristo é do Espírito Santo. A restauração desta porta e do muro é do jardim do rei, o qual é a sua amada (Cant. 5.1) até os degraus da cidade de Davi, que é Sião (II Sam. 5.7), figura da cidade do Deus vivo, da Jerusalém Celestial (Heb. 12.22).

Passa pela casa dos valentes e pela casa das armas, daqueles que cresceram em Cristo, dos jovens espirituais que vencem o maligno (I Jo. 2.14) onde tomamos a armadura de Deus para as lutas espirituais, para resistir o dia mau (Ef. 6.13). Mas algo precioso é como culmina no verso 25, com a torre que sai da casa real superior, que fala do reino, um reino superior, o reino dos céus, o reinado de Cristo, e do tribunal de Cristo que é junto ao pátio da prisão, daqueles que estarão fora do reino, presos até pagar o último ceitil: "Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta. Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão. Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil" Mateus 5.23-26.

A porta da fonte é uma porta preciosa para a Igreja, mas que não pode ser restaurada antes das outras portas, e principalmente da porta do monturo. É verdade que o Espírito está desde a porta das ovelhas, mas a porta da fonte fala do encher-se do Espírito. A porta da fonte é a Vida abundante e glorificada de Cristo em nós pelo seu Espírito. É a riqueza de glória na sua herança nos santos e a excelente grandeza do seu poder para conosco, os que cremos (Ef. 1.18-19). Esta fonte, isto é, este Espírito que habita em nós, é o que ressuscitou a Jesus dentre os mortos e o que também vivificará os nossos corpos mortais naquele dia (Rom. 8.11). Que o Senhor nos dê olhos espirituais para ver.

 

A PORTA DAS ÁGUAS

 

A porta das águas foi a sétima porta a ser restaurada nos muros de Jerusalém. Em Neemias capítulo 3, nos versos 26 e 27 diz: "E os servidores do templo que habitavam em Ofel, até defronte da porta das águas, para o oriente, e até à torre alta. Depois repararam os tecoítas outra porção, defronte da torre grande e alta, e até ao muro de Ofel".

A porta da fonte nos fala de Cristo através do Espírito Santo como fonte de vida em nós, mas a porta das águas nos fala da Palavra de Deus, a palavra que sai da boca e do trono de Deus, e que não volta para Ele vazia (Is. 55.11). A porta das águas é a palavra 'rhema' que santifica e purifica a Igreja, para que ela seja apresentada a Ele uma igreja gloriosa, sem mácula nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível. A porta das águas são as águas santificadoras e purificadoras (Ef. 5.26-27).

Esta porta também não cita que tinha trancas e ferrolhos. Talvez seja porque esta fonte é aberta para todos, tanto justos como injustos. O Senhor disse: - Quem tem sede venha a mim e beba. O apóstolo Paulo também diz em II Timóteo, capítulo 2, no verso 9, que a palavra de Deus não está presa.

A Palavra de Deus é mencionada na própria Escritura como letra e como vida, mas a letra mata, e o Espírito é o que vivifica (II Cor. 3.6). No grego é chamada de 'logos' e 'rhema'. 'Logos' é a palavra dita por Deus e escrita para o nosso ensino (Rm. 15.4). 'Logos' são as Escrituras e o 'rhema' é a palavra dita por Deus novamente, dita aos nossos ouvidos espirituais (Apoc. 3.6), e vivificada pelo Espírito: "O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida" João 6.63.

O 'logos' é tudo aquilo que Deus disse e que mandou escrever nas tábuas de pedra, nos pergaminhos e depois impressa. O 'logos' também pode ser tudo aquilo que adquirimos com a leitura das Escrituras, o 'rhema' é tudo aquilo que nos é revelado por Deus, aquilo que Ele escreve em nossos corações pelo Espírito; naquilo que somos transformados na imagem gloriosa de Cristo: "Porque já é manifesto que vós sois a carta de Cristo, ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração" II Coríntios 3.3.

Isto é, o 'logos' são as Escrituras, tudo aquilo que adquirimos com a letra, e o 'rhema' são as águas tanto regeneradoras como santificadoras. O Senhor é o manancial, a porta da fonte e a porta das águas purificadoras que saem do trono de Deus. Essas águas é a água da vida: "E mostrou-me o rio puro da água da vida, claro como cristal, que procedia do trono de Deus e do Cordeiro" Apocalipse 22.1. Quando Jesus disse a mulher samaritana: "Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna" , estava lhe dizendo que Ele era a fonte e que dEle procederia a água da vida.

Por isso a porta das águas vem depois da porta da fonte. Uma vez que a fonte, o testemunho de Deus é restaurado em nós, a água da vida que procede dEle não só mata a nossa sede, como também faz que através desta fonte saltemos para a vida eterna. De nós mesmos só pode vir o 'logos', a letra, mas de Cristo em nós procede a água viva, os rios de água viva (Jo. 7.38). Por isso, toda a ministração da Palavra de Deus para ter vida, para ser 'rhema' para alguém, tem que vir de Cristo em nós: "Visto que buscais uma prova de Cristo que fala em mim, o qual não é fraco para convosco, antes é poderoso entre vós" II Coríntios 13.3.

A porta das águas nos ensina que é de Cristo, e só dEle que pode proceder estas águas purificadoras. Jesus quando falava da sua missão disse: "Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida" João 5.24. Aqui ou em qualquer outra parte, Jesus diz que não é usando à nossa própria força, inteligência ou eloqüência para falar a Palavra de Deus que ela irá se tornar vida aos outros, mas somente quando um pecador ouve a Sua voz, isto é, Ele falando em nós. Como na mulher samaritana, Ele é a fonte e a água da vida, porque a Palavra que é ouvida por alguém tem que proceder dEle também. Não é nós falando, mas Cristo falando em nós. Quem ouve a voz dEle, que procede de dentro de nós, dos rios de água viva, passa da morte para a vida.

Ele confirma isto quando diz logo em seguida, no verso 25: "Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão". De que mortos Jesus fala? Dos mortos em delitos e pecados (Ef. 2.1-6), porque no verso anterior Ele diz que esses mortos, ao ouvir a Sua Palavra, passam da morte para a vida. E onde está o Filho de Deus para que os mortos o ouçam? Em nós. Por isso Jesus disse: "Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre". Como é que as Escrituras dizem dEle? Não como conheceram aqueles que viveram com Cristo segundo a carne. E como é que o conhecemos hoje? Vivendo em nós pelo seu Espírito: "...mas Cristo vive em mim..." Gálatas 2.20.

Por isso que é do nosso ventre, do nosso interior que correm os rios de água viva. É no nosso coração que Cristo habita pela fé (Ef. 3.17). Essa água viva só pode proceder da fonte da água da vida. A fonte é Cristo e a água para ser viva tem que proceder dEle. Não podemos nos esquecer que sem Ele somos um sepulcro aberto (Rm. 3.13); de nós mesmos só podemos lançar lama e lodo: "Mas os ímpios são como o mar bravo, porque não se pode aquietar, e as suas águas lançam de si lama e lodo" Isaías 57.20. Por isso fomos tirados de um charco de lodo, de um poço de perdição (Sal. 40.2).

Como diz Provérbios capítulo 4, no verso 23, toda a fonte da vida procede do nosso coração, de Cristo. A água vem do trono de Deus, passa por Cristo que é a fonte e jorra por nós através do Espírito Santo. Que coisa bendita! E esta fonte de água da vida é uma fonte aberta, que jorra dia e noite (Zac. 13.1). Uma fonte que brota de uma terra seca que somos nós, do ermo, de um deserto: "E o Senhor te guiará continuamente, e fartará a tua alma em lugares áridos, e fortificará os teus ossos; e serás como um jardim regado, e como um manancial, cujas águas nunca faltam" Isaías 58.11. Aleluia!

No caso da santificação, a lavagem da água pela palavra, também tem que proceder dEle. Quantas vezes não queremos edificar ou exortar a Igreja e só trazemos morte? A inclinação da carne é morte (Rom. 8.6). O juízo vem sobre nós quando queremos nos tornar mestres (Tg. 3.1). A nossa língua é um membro que precisa de muita misericórdia do Senhor. Tem que ser governada por Cristo, porque ela pode ser um instrumento, um canal para que essa água viva flua, como também pode se tornar um mundo de iniquidade, inflamada pelo inferno. Pode proferir bênçãos, como também maldição (Tg. 3.4-10).

Creio que a língua é um dos membros do nosso corpo que mais necessita da misericórdia e santificação do Senhor. Este pequeno membro tem naturalmente peçonha de áspide, veneno de víbora peçonhenta, e que pode até inflamar o curso da natureza. Algo que é natural no homem pode se tornar carnal e diabólico (Tg. 3.14-15). Temos que entender que a nossa boca pode ser uma fonte de água doce ou água amargosa. Fonte de vida e de morte, para outros e para nós mesmos, porque toda palavra fútil será julgada naquele dia, porque pelas nossas palavras seremos justificados ou condenados (Mt. 12.36-37). Por este pequeno membro podemos alegrar ou entristecer o Espírito que está em nós, a fonte dos rios de água viva. Senhor ponha uma guarda à minha boca, guarda a porta dos meus lábios (Sal. 141.3), e que só seja aberta quando for a porta da fonte e a porta das águas, em nome de Jesus. Amém.      

Deus tem dois símbolos para lavar: o sangue e a água. Em Hebreus capítulo 9, no verso 22 nos diz que "quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue". Quase todas as coisas, mas não todas as coisas. O restante é purificado com água. Em Levítico vemos muitas coisas sendo purificadas com água. Por quê? Porque o sangue purifica tudo o que diz respeito a redenção, a remissão e perdão dos nossos pecados, e a água a tudo o que diz respeito a santificação. As nossas vestes são lavadas pelo sangue do cordeiro (Apoc. 22.14 versão CMTEG),  agora necessitamos lavar os pés (Jo. 13.10), porque os pés ainda contêm o pó deste mundo.

Esta água, como pudemos ver, procedem de Cristo para a santificação, e o sangue agora, depois da redenção, é usado na comunhão. O cálice de bênçãos que abençoamos é a comunhão do sangue de Cristo, a comunhão do perdão mútuo do Senhor a nós e através de nós aos irmãos (I Cor. 10.16). Quando João nos diz em sua primeira carta que o sangue nos purifica de todo pecado, ele está falando da luz da comunhão. Não é perdão, mas purificação. O sangue também tem um processo de purificação, mas na comunhão entre os santos, no perdão uns aos outros, na purificação de pecados. Já as águas purificadoras vêm do próprio Senhor, porque Ele é o único que pode santificar a sua Igreja, que pode purificá-la pela lavagem da água pela Palavra. Por isso Ele diz: "Eu sou o Deus que vos santifico" Levítico 23.32.

Jesus é o que alimenta, edifica e santifica a sua Igreja, e tudo é feito pela Sua Palavra, a água viva que procede dEle vivendo nos seus santos. Por isso, no ministério da Palavra, mesmo que sejam homens dados como dons à Igreja como nos ensina Efésios no capítulo 4, nos versos 8 a 11, ou os próprios dons do Espírito nos homens, como nos ensina o Senhor em I Coríntios, no capítulo 12, no verso 28, temos que ver que tudo é Cristo. Tudo o que edifica, alimenta e santifica sai da porta da fonte, da única fonte que jorra os rios de água viva, das águas que saem do trono de Deus.

Jesus disse: "...porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer. Mas, quando vier aquele, o Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar" João 15.15 e 16.13-14. Essas águas saem do trono de Deus, passam pela porta da fonte e saem pela porta das águas. Deus, o Filho e o Espírito que vivifica.

Na porta das águas, novamente vemos aqui os tecoítas ajudando na restauração. Como já vimos na porta do peixe, os tecoítas são os filhos de Tecoa que quer dizer 'firme'. Somente aqueles que são sustentados pelo Senhor podem participar desta restauração, deste ministério. Esses são os ministros da Palavra e os santos aperfeiçoados. Antes de sermos firmados por Ele causamos mais destruição do que restauração ou edificação. Por isso creio que como um sacerdote, que somente aos 20 anos de idade podia começar a ajudar e aprender o ofício, e somente aos 30 anos entrava no ministério, assim também é conosco.

Não estou dizendo de vida biológica, mas de vida em Cristo, de nascido de novo em Cristo. Quanto à pregação do evangelho não é necessário se ter maturidade, ela pode ser feito por qualquer um, desde o seu primeiro dia de vida no Senhor, mas no ministério para a edificação do Corpo de Cristo é necessário maturidade espiritual, vida tratada pelo Senhor e pela cruz.

Para que alguém seja um apóstolo, um profeta, um evangelista ou um pastor e doutor são anos sendo tratados pelo Senhor. São homens dados como dons a Igreja (Sal. 68.18), tratados pelo caminho da cruz, para que possam, como aquelas cinco travessas no tabernáculo, sustentar as tábuas que passava pelas cinco argolas em cada tábua (Êx. 26.26-27). As tábuas são figuras de cada um de nós, com encaixes para que outros estejam juntos, unidos em amor, com cinco argolas onde as travessas passavam. Essas cinco travessas representam os cinco ministérios da Palavra que aperfeiçoam, que equipam, capacitam os santos para a obra da edificação do corpo de Cristo.

E os outros tecoítas são a figura desses santos que são equipados, capacitados, aperfeiçoados por esses cinco ministérios da Palavra, e que firmados por essas cinco travessas, fazem a obra do ministério, para a edificação do corpo de Cristo. Não são os apóstolos, os profetas, os evangelistas, os pastores e doutores que fazem a edificação do corpo de Cristo, mas esses santos aperfeiçoados. Por isso são tecoítas, homens firmados e aperfeiçoados pelo Senhor para a sua obra.

Os que restauraram esta porta, restauraram defronte da torre grande e alta, e também restauraram o muro, até o muro de Ofel. Ofel quer dizer 'elevado, outeiro', que tem relação com a torre grande e alta. Isto nos ensina que o propósito do Senhor em sua santificação é nos conformar à imagem do seu Filho, a varão perfeito; é sermos participantes da sua santidade (Hb. 12.10). Que aquilo que Deus deu a Jesus e a posição que o Senhor o colocou, exaltado à sua destra, também aconteça conosco. Que o que já está completamente sujeito aos seus pés (Ef. 1.22-23), também esteja sobre os nossos: "E o Deus de paz esmagará em breve Satanás debaixo dos vossos pés" Romanos 16.20.

Sobre essas lutas espirituais nas regiões celestiais é que nos fala a próxima porta que foi restaurada, a porta dos cavalos. Aqui não são as nossas lutas pessoais contra o inimigo, mas as batalhas de Deus, do homem valente e celestial, munido de uma armadura celestial. Essas lutas pertencem a Igreja até a volta do Senhor. Lutas que dizem respeito ás coisas celestiais e nas regiões celestiais e não nas daqui da terra. Não são lutas contra carne e sangue, mas contra principados e potestades. Que o Senhor abra os nossos olhos de Geazi e nos dê os olhos de Eliseu (II Reis 6.16-17).

O Senhor tem restaurado esta porta das águas, porque Ele diz: - A mim me deixaram, o manancial das águas vivas e cavaram para si cisternas rotas que não retêm água. Se deixaram este manancial, que tipo de água a cristandade tem bebido? Ele diz: - De cisternas rachadas. Água quente, águas que não são vivas. Não são águas que procedem do seu trono, de um manancial de águas vivas.

 

A PORTA DOS CAVALOS

 

A porta dos cavalos foi a oitava porta a ser restaurada nos muros de Jerusalém. Em Neemias capítulo 3, nos versos 28 e 29 diz: "Desde acima da porta dos cavalos repararam os sacerdotes, cada um defronte da sua casa. Depois deles reparou Zadoque, filho de Imer, defronte da sua casa".

É necessário lermos o texto de II Crônicas, capítulo 32, dos versos 2 a 8, porque fala da nossa próxima porta a ser restaurada, a porta dos cavalos: "Vendo, pois, Ezequias que Senaqueribe vinha, e que estava resolvido contra Jerusalém, teve conselho com os seus príncipes e os seus homens valentes, para que se tapassem as fontes das águas que havia fora da cidade; e eles o ajudaram. Assim muito povo se ajuntou, e tapou todas as fontes, como também o ribeiro que se estendia pelo meio da terra, dizendo: Por que viriam os reis da Assíria, e achariam tantas águas? E ele se animou, e edificou todo o muro quebrado até às torres, e levantou o outro muro por fora; e fortificou a Milo na cidade de Davi, e fez armas e escudos em abundância. E pôs capitães de guerra sobre o povo, e reuniu-os na praça da porta da cidade, e falou-lhes ao coração, dizendo: Esforçai-vos, e tende bom ânimo; não temais, nem vos espanteis, por causa do rei da Assíria, nem por causa de toda a multidão que está com ele, porque há um maior conosco do que com ele. Com ele está o braço de carne, mas conosco o Senhor nosso Deus, para nos ajudar, e para guerrear por nós. E o povo descansou nas palavras de Ezequias, rei de Judá".

Esta porta leva este nome porque para Deus, e conseqüentemente para o povo de Israel, o cavalo sempre teve a figura de um instrumento de batalha. Este animal pode também ser usado como animal de carga ou arado, mas nas Escrituras vemos o boi como animal de arado e o jumento de carga. O cavalo sempre foi preparado para as batalhas: "Prepara-se o cavalo para o dia da batalha, porém do Senhor vem a vitória" Provérbios 21.31.

Nas Escrituras encontramos em muitos lugares essas figuras como batalhas do povo de Deus contra Satanás e suas hostes. Os faraós, reis da Assíria, de Tiro, da Babilônia muitas vezes foram escritos como figuras, mas estava falando de Satanás. Tudo o que foi escrito para nosso ensino foi escrito (Rm. 15.4). A figura do muro e das portas como vimos anteriormente, é para separar o povo de Deus e também para protegê-los contra os inimigos. Não que confiamos em muros de pedras, mas no Senhor que é o nosso muro e também as nossas portas. 

A porta dos cavalos nos ensina sobre as batalhas espirituais dos santos. Não das batalhas pessoais, do nosso dia a dia, mas das batalhas da Igreja, do povo de Deus contra hostes espirituais da maldade. Esta porta não fala das batalhas das coisas aqui da terra, mas nos lugares celestiais (Ef. 6.12). Não são lutas contra a carne ou sangue humano, mas contra principados e potestades.

Essas lutas não são as tentações pessoais que cada um de nós tem no dia a dia, mas contra as astutas ciladas do diabo, as ciladas contra a Igreja do Senhor. Não são as nossas batalhas, mas as batalhas de Jesus Cristo em favor da Sua Igreja. São lutas para o estabelecimento do governo de Jesus aqui na terra, do governo no monte de Sião.

Davi nos dá uma visão mais clara sobre quais são essas batalhas, já que Davi não batalhou as suas batalhas, mas as batalhas de Deus. Davi é entre outros personagens bíblicos uma figura de Cristo, do rei que o Senhor exaltou para reinar sobre o seu povo de geração a geração (Sal. 89.3-4). Essas batalhas são exaustivamente escritas por muitos santos em todas as épocas, e que podem ser encontradas em livros, com referências principalmente nos livros de Josué, Juízes, Esdras e Neemias.

Mas essas batalhas não podem ser aprendidas teoricamente, como doutrina, elas têm que ser experimentadas, conhecidas no Senhor. Temos que aprender essas guerras, porque esta é a nossa geração, e Satanás continua combatendo contra o povo de Deus. Essas lutas iniciaram no jardim do Éden, e só vão encerrar quando o último inimigo for vencido, isto é, a morte (I Cor. 15.26). Neste momento vamos olhar para algumas batalhas de Davi.

A primeira delas foi contra o gigante Golias. Esta luta representa a vitória de Cristo na cruz, contra aquele que tinha o império da morte (Heb. 2.14). Jesus veio na fraqueza da nossa carne, para que na carne condenasse o pecado (Rm. 8.3). Com um só golpe ele destruiu o que tinha o império da morte e com a própria arma de Satanás, a morte, despojou os principados e potestades, e triunfou deles na mesma cruz (Col. 2.15). Ele feriu a cabeça da serpente (Gên. 3.15).

Davi foi ungido rei sobre Israel (I Sam. 16.1), mas só tomou posse do reino depois que Saul morreu. Assim como Davi não tocou em Saul até o tempo determinado por Deus, Satanás também ainda é o príncipe deste mundo, mas o será até o tempo determinado por Deus, o dia que está reservado ao Pai (At. 1.7). Jesus, depois da sua ressurreição, ainda andou por quarenta dias entre os irmãos, mas depois disso foi exaltado à destra de Deus já como Senhor e Cristo; ungido por Deus e já estabelecido como rei sobre Sião (Sal. 2), como o cabeça do corpo da Igreja (Ef. 1.22-23), mas assim como Davi teve que esperar o tempo de Deus para assumir o reino de Israel, o reino desse mundo só passará a ser de Jesus no dia em que Satanás for preso e lançado no abismo (Apoc. 20.2-3).

Quando Davi começou a reinar, ele estava em Hebrom, mas a sua primeira conquista foi o monte de Sião (II Sam. 5.5-7). Este monte não pode ser tomado desde o tempo de Josué porque era uma cidade fortificada. Sião é o testemunho precioso da conquista e do governo do Senhor Jesus; do império da morte que reinava e que ninguém podia tomá-lo. Ninguém era digno de tomar o livro e abrir os seus selos, mas o Leão da tribo de Judá venceu (Apoc. 5.5). Aleluia! Satanás achou que este império nunca seria destruído, porque não havia nenhum homem digno, mas o Filho do homem foi o único digno de tomar Sião. Tudo já foi colocado debaixo dos seus pés.

Sião é a cidade do Deus vivo, da Jerusalém celestial, é a Igreja do Senhor, dos primogênitos inscritos nos céus (Heb. 12.22-23). Sião é chamada a cidade de Davi (II Sam. 5.9), a figura da cidade do grande Rei, de um Rei e um reino que não pode ser abalado (Sal. 125.1). Sião é o santo monte de Deus, o símbolo do poder do Rei dos reis e do Senhor dos senhores. É a morada do Altíssimo (Sal. 76.2), a perfeição da formosura do Senhor (Sal. 50.2), o lugar da sua glória (Sal. 102.16). Uma fortaleza onde o Senhor domina sobre os seus inimigos (Sal. 110.2).

Este lugar é a Igreja de Jesus Cristo, o seu monte de Sião, a sua morada, onde expressa a sua perfeita formosura, uma fortaleza onde domina sobre os seus inimigos. Será que já compreendemos isto? Somos a cidade de Deus, a sua morada, o lugar onde Ele escolheu para colocar o seu Nome. Ele diz nos Salmos 132, nos versos 13 a 16 que a desejou, que a abençoará, e a alimentará. Um lugar para saltar de prazer: "Porque o Senhor escolheu a Sião; desejou-a para a sua habitação, dizendo: Este é o meu repouso para sempre; aqui habitarei, pois o desejei. Abençoarei abundantemente o seu mantimento; fartarei de pão os seus necessitados. Vestirei os seus sacerdotes de salvação, e os seus santos saltarão de prazer". Oh Senhor, dilata o nosso coração para temer o teu nome, e para crermos que o Senhor é a nossa fortaleza diante dos nossos inimigos.

Somos a Sião conquistada pelo poder do Senhor e chamada de Sua cidade. Aleluia! Não vamos ser, já somos, e as portas do inferno, a porta do dragão (Nee. 2.13) não prevalecerão contra ela. A partir da conquista de Sião ela se tornou um lugar de controvérsias e batalhas. As batalhas desde então nunca cessaram e até que o Senhor traga o seu reino (Isa. 2.3) para este mundo essas lutas continuarão, porque Sião é um símbolo de poder, e a Igreja é o poder do Senhor aqui neste mundo, no campo do inimigo, no meio daquilo que considera seu (I Jo. 5.19).

Os profetas chamam de a 'controvérsia de Sião', porque quase todas as guerras, em todos os tempos foram sempre contra Sião, e Jerusalém sempre está envolvida. Satanás não tem outro objetivo de destruição senão contra o povo de Deus. A nossa luta é contra ele, e a sua luta é contra a Igreja. Não há nenhum lugar nas Escrituras que dizem que Satanás é inimigo de Deus, mas que é o inimigo das nossas almas, do povo de Deus (I Pd. 5.9). Tanto é assim que as duas últimas grandes batalhas ainda estão por vir, a de Armagedom (Apoc. 16.16), e a batalha final (Apoc. 20.8-9), e todas elas contra o Senhor e os seus santos.

Mas Davi teve uma ajuda muito preciosa antes de tomar Sião e assumir o reino sobre Israel: a ajuda dos seus valentes. Mas quem eram os valentes de Davi? Eram os quatrocentos homens endividados, desgostosos e que se achava em aperto (I Sam. 22.2). As Escrituras deram testemunho de sua valentia, mas antes eram homens miseráveis. Essa é uma figura nossa, dos miseráveis, cegos, coxos e aleijados que o Senhor buscou nos becos das ruas (Luc. 14.21), e que por sua graça e poder quer nos tornar seus soldados, atletas e lavradores (II Tim. 2.3-6). Que tenhamos o Senhor por capitão sobre nós, como foi Davi sobre eles (I Sam. 22.2).

Por isso o Senhor nos ensina em Efésios capítulo 6, dos versos 10 a 18, a nos fortalecermos nele e a vestirmos de toda a armadura de Deus. Isto mostra que não temos capacidade e nem suficiência em nós mesmos de enfrentar este inimigo, porque eles são mais fortes do que nós. Como vimos no texto acima, sempre o inimigo será mais poderoso e experimentado na guerra que nós. Por isso temos que nos fortalecer no Senhor, na força do seu poder e vestirmos de toda a armadura de Deus. Uma força e uma armadura que provém dEle. Esta armadura não cabe em uma pessoa, pois ela é muito grande, é necessário todo o Corpo de Cristo, todos os seus membros para vesti-la.

O apóstolo Paulo fala algo importante sobre o inimigo que não podemos subestimar: os seus ardis (II Cor. 2.10-11). Se há uma arma eficaz que Satanás se mune é fazer com que o subestimemos. Que somos capazes de vencê-lo apenas com a nossa capacidade e conhecimento, até mesmo da Palavra de Deus. A auto-confiança é um dos seus principais dardos, e em seguida sempre nos tenta com a presunção. Por isso que só um jovem espiritual vence o maligno, aquele que tem a Palavra dentro dele como vida (I Jo. 2.14).

Enquanto somos mais novos temos que ser cuidados pelos mais velhos, para que não caiamos na condenação do diabo (I Tim. 3.6). Da mesma maneira que os sacerdotes, um homem só estava pronto para participar das guerras a partir dos 30 anos de idade. Aos 20 anos já começava a aprender a guerra, mas aos 30 anos estava maduro para participar delas. O ministério de Cristo e de Davi começaram também aos 30 anos de idade (II Sam. 5.4; Luc. 3.23). Creio que assim é conosco também, mas novamente quero afirmar que falo de tempo de vida com o Senhor e não idade biológica. A princípio aprendemos a guerra em nossas batalhas pessoais, em nossa casa, para depois começarmos a sermos exercitados nas batalhas de Deus, nas batalhas da Sua Igreja.

Por isso o texto de Neemias que iniciamos, que fala sobre a restauração da porta dos cavalos, diz que os sacerdotes a restauraram defronte das suas casas. Isto é muito significativo em dois aspectos, a maturidade espiritual e o governo das suas casas. Por isso Paulo diz que aquele que não sabe governar a sua casa, não pode cuidar da igreja de Deus (I Tim. 3.5). Somente aqueles que podem ter a sua casa como testemunho pode entrar nessas batalhas; caso contrário, ficará envergonhado diante do inimigo.

A nossa casa deve estar em ordem primeiro para que então tenhamos testemunho para cuidar e batalhar no Senhor. Zadoque quer dizer ‘reto’. E este homem também edificou diante de sua casa. A casa desse homem reto era o espelho para a restauração da porta dos cavalos. Por isso que a primeira igreja é a nossa casa, e se ela estiver bem estruturada e edificada é porque já fomos exercitados e tratados pelo Senhor lá, para que sejamos uma benção para a Casa de Deus, como instrumentos na restauração de Deus do seu testemunho.

Por isso Paulo fala na primeira carta a Timóteo, que se alguém aspira o episcopado, excelente obra deseja (I Tim. 3.1). Aqui não é um ministério levantado pelo Espírito ou um dom. Por isso é escrito que é algo que se deseja. Mas como podemos desejar algo sem que sejamos chamados? É que aqui fala de alguém de tem maturidade no casamento e na criação de filhos. Aqui não pode ser qualquer um, mas alguém que já tem os seus filhos casados, e que já passou por todo um processo em seu casamento. Um bispo ou um ancião não pode ser alguém que foi separado e está com a segunda mulher, ou que não tem um testemunho de sujeição dos filhos.

Ele pode aspirar porque o que o qualifica é a sua vida. Depois de criar os filhos e ensiná-los no caminho que deve andar, e depois de ter um bom testemunho diante da Igreja, pode então ajudar a outros. As irmãs mais velhas podem ajudar as mais novas a serem operosas donas de casas, e a ajudar os seus maridos nessa empreitada (Tito 2.3-5). Por isso logo em seguida ele diz que não sejam neófitos para que não caiam na condenação do diabo. Como uma pessoa pode cair na condenação do diabo? Não é por ser novo na fé, mas por não ter um testemunho de vida de casado e de pais zelosos na criação dos seus filhos, e querer ensinar a outros. Só esses são aptos para serem anciões e ajudar a outros; só esses podem aspirar serem cuidadores da Igreja do Senhor.

A expressão ‘defronte da sua casa’ serve como um parâmetro para todos nós. Como está a sua casa? Como ela estiver, assim será a Casa de Deus se você tocar a mão nela. Quantos não cuidam mais ou menos da sua casa e querem governar a Igreja de Deus. O Senhor diz que o governo é sobre a nossa casa, para que o cuidado seja sobre a sua Casa. Só há governo sobre a sua própria casa e não sobre a casa de outrem. Por isso o Senhor é quem governa a Sua Casa e nós temos que governar bem a nossa própria casa, para estarmos aptos para servir na restauração.

Vemos então que a porta dos cavalos fala das batalhas espirituais contra a Igreja. Somos como ovelhas levadas para o matadouro, mas também como cavalos para a batalha. Não que o Senhor confie em nós (Sal. 20.7), nem que confia na nossa força (Sal. 33.17), e muito menos em nosso entendimento (Sal. 32.9), mas somos preparados para as batalhas do Senhor, cuja vitória vem do Senhor (Prov. 21.31). Se o Senhor é por nós, quem será contra nós? Ele peleja com os seus santos (Jd. 1.14), e seu nome é Fiel e Verdadeiro (Apoc. 19.11), e tudo sobre o Monte de Sião.

 

A PORTA ORIENTAL

 

A porta oriental foi a nona porta a ser restaurada nos muros de Jerusalém. Em Neemias capítulo 3, nos versos 29 e 30 diz: "...e depois dele reparou Semaías, filho de Secanias, guarda da porta oriental. Depois dele reparou Hananias, filho de Selemias, e Hanum, filho de Zalafe, o sexto, outra porção; depois dele reparou Mesulão, filho de Berequias, defronte da sua câmara".

A porta oriental nos ensina sobre a volta de Cristo, a vinda do Senhor pela segunda vez. Pelas profecias bíblicas, quando o Senhor voltar pela segunda vez, ele colocará os seus pés sobre o Monte das Oliveiras que é defronte do templo e da porta oriental, no lugar de onde o Senhor fez o seu sermão profético antes de subir aos céus. Quando Ele voltar entrará na cidade pela porta oriental, que também é chamada de 'a porta do Rei' (I Cron. 9.18): "E, assentando-se ele no Monte das Oliveiras, defronte do templo, Pedro, e Tiago, e João e André lhe perguntaram em particular: Dize-nos, quando serão essas coisas, e que sinal haverá quando todas elas estiverem para se cumprir" Marcos 13.3-4.

Semaías quer dizer 'o Senhor tem ouvido'. Hananias quer dizer 'o Senhor é clemente'. Hanum quer dizer 'favorecido', e Mesulão que também reparou a porta do peixe quer dizer 'amigo'. Estes nomes estão todos relacionados com a igreja de Filadélfia. Filel é o amor de amigo em grego, do nosso amigo Jesus que tem ouvido o clamor do seu povo. Um povo que tem pouca força, mas tem guardado a sua Palavra e não tem negado o seu Nome. O Senhor tem ouvido o clamor do seu povo e os livrará, os favorecerá no tempo que há de vir para provar os que habitam sobre a terra (Apoc. 3.7-12).

A volta do Senhor é um evento que a Igreja espera desde o seu início. Antes mesmo do Pentecostes, quando Jesus subia aos céus, os seus discípulos já queriam saber quando seria a sua volta (Atos 1.6-7). A volta do Senhor já era tão esperada naquele tempo, que vários irmãos em Tessalônica já não queriam mais trabalhar. Eles não viam necessidade, já que o Senhor iria voltar em breve (II Tess. 3.10-11). Segundo alguns estudiosos, as cartas de Paulo aos tessalonicenses foram as suas primeiras cartas, e o seu tema central foi sobre a volta do Senhor.

O Senhor Jesus também instruiu os seus discípulos sobre o reino e a sua volta em muitas vezes, e estão relatadas em todos os evangelhos. A volta do Senhor sempre foi o desejo dos seus santos, um clamor do Espírito junto com a sua noiva (Apoc. 22.17). Esta é a bem-aventurada esperança da Igreja e a glória do nosso grande Deus e salvador Jesus Cristo: "Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Salvador Jesus Cristo" Tito 2.13.

Tanto é assim que as Escrituras começam com o Gênesis e termina com o Apocalipse. Gênesis quer dizer origens, e Apocalipse quer dizer 'revelação', 'desvelação', ou retirada do véu. Enquanto que em Gênesis são lançadas as sementes (Gên. 1.11, 3.15), em Apocalipse são feitas as vindimas, as colheitas de tudo o que foi plantado, tanto a vida eterna como a corrupção e condenação (Apoc. 14.18). Gênesis é o princípio de tudo, de fazer nascer, de lançar os alicerces e Apocalipse é a culminação de toda a criação de Deus, e que desvela sobre a grande tribulação, a segunda volta de Cristo, o estabelecimento do reino milenar, e por fim do juízo final e os novos céus e nova terra com a Igreja, a Nova Jerusalém na eternidade.

O que seria da Igreja sem o livro de Apocalipse? A obra de Deus continuaria sendo um mistério, algo encoberto com um véu. O Apocalipse faz parte da revelação do mistério de Deus, porque Apocalipse é a revelação de Jesus Cristo, que Deus deu para mostrar à Igreja as coisas que brevemente irão acontecer (Apoc. 1.1). Apocalipse e a revelação de Cristo entronizado; daquele que foi morto, mas agora vive para sempre e que agora tem as chaves da morte e do inferno (Apoc. 1.12-18).

O livro de Gênesis nos fala do propósito de Deus, do eterno propósito de Deus em Cristo, ainda que por figura, mas o livro de Apocalipse nos dá a revelação completa daquele que foi exaltado muito acima de todo principado e potestade, e de todo nome que se nomeia. Daquele que todas as coisas estão sujeitas debaixo dos seus pés, e que foi constituído como cabeça do corpo da Igreja. Fala daquele por quem tudo foi criado, e que pertence toda a glória. Fala daquele que venceu, e que é o único que é digno de receber glória, honra, poder e majestade, e que por isso os céus o adoram, e de dia e de noite proclamam: Santo, Santo, Santo.

A porta oriental nos fala deste testemunho de Deus a ser restaurado, da esperança da Igreja na volta do seu Senhor. A partir da regeneração, todo o trabalho do Espírito com a Igreja é prepará-la para as bodas. Este é um dos principais ministérios que o Senhor encarregou o Espírito (Jo. 16.13). Depois que ouvimos o evangelho da graça, o Espírito passa a ministrar à Igreja o evangelho do reino. A porta oriental nos fala do evangelho do reino, assim como a porta das ovelhas nos fala do evangelho da graça. É por esta porta que entraremos com o nosso Senhor, Salvador e grande Rei Jesus Cristo para reinar com Ele por mil anos. É por ela que entrará o Rei da Glória (Sal. 24).

A porta das ovelhas nos fala do Cordeiro de Deus que foi morto, mas que pela glória de Deus ressuscitou, mas a porta oriental nos fala do Cordeiro que foi morto, mas que agora está assentado à destra da majestade nas alturas. A porta das ovelhas mostra a obra sacrificial de Cristo e a nossa salvação, mas a porta oriental nos fala da nossa entrada no seu reino, e de reinar juntamente com Ele. No reino que o Pai deu a Ele por mil anos.

A restauração desta porta também significa amar a sua vinda; preparar a sua volta. Como diz Pedro, temos que aguardar e apressar o dia de Deus (II Pd. 3.12). Os eventos que o Senhor foi realizando durante o tempo da história do homem foram vistos por aqueles que viviam em cada época. A nossa geração poderá até passar o tempo da grande tribulação, um tempo previsto nas Escrituras que nunca houve, nem nunca haverá desde o princípio da criação (Mt. 24.21), mas o retorno de Cristo será um evento que toda a Igreja verá e participará. Na volta do Senhor os mortos irão ressuscitar e os que estiverem vivos serão transformados, e então todos iremos para o encontro com o Senhor nos ares (I Cor. 15.52, I Tess. 4.17).

Esta porta tem o nome de oriental porque ela fica do lado leste do muro que dá de frente para o templo, alinhada com a porta de entrada do templo. Como vimos anteriormente, a porta do templo ficava para o lado do sol nascente, porque Cristo é o sol da Justiça e a resplandecente estrela da manhã. Como nos ensinam as Escrituras, o aparecimento de Cristo vai ser do oriente e depois vai até o ocidente (Mat. 24.27). Quando Jesus veio a primeira vez o sinal que os reis magos viram através da estrela também foi do oriente (Mat. 2.2).

Esta entrada, onde era a antiga porta oriental se encontra fechada no dia de hoje. Ela é chamada de porta dourada por ter um aspecto de cor dourada. Dizem que ela foi fechada pelos árabes no século IX porque os judeus diziam que o Messias viria e entraria por aquela porta para libertá-los. No sentido de evitar este cumprimento profético eles selaram esta porta. Mas não há nada por acaso na Palavra de Deus. O que aconteceu é que eles estavam cumprindo uma profecia bíblica que diz: "Fez-me voltar para a porta exterior do santuário, a qual olha para o oriente; e estava fechada. E me disse o Senhor: Esta porta estará fechada; não se abrirá nem entrará por ela homem, porque o Senhor Deus de Israel entrou por ela; estará, portanto, fechada" Ezequiel 44.1-2.

Dizem que por duas vezes tentaram abrir esta porta, mas não tiveram êxito; e não terão, pois a profecia diz que somente será aberta pelo Messias. O texto de Zacarias capítulo 14, nos versos 4 e 5 diz que quando o Senhor vier, Ele fenderá com os seus pés o Monte das Oliveiras. Creio que esta fenda é que deverá abrir esta porta, porque ela irá do oriente para o ocidente: "E naquele dia estarão os seus pés sobre o monte das Oliveiras, que está defronte de Jerusalém para o oriente; e o monte das Oliveiras será fendido pelo meio, para o oriente e para o ocidente, e haverá um vale muito grande; e metade do monte se apartará para o norte, e a outra metade dele para o sul. E fugireis pelo vale dos meus montes, pois o vale dos montes chegará até Azel; e fugireis assim como fugistes de diante do terremoto nos dias de Uzias, rei de Judá. Então virá o Senhor meu Deus, e todos os santos contigo".

Eu sempre pensei que o lugar do templo de Israel estava tomado pelo Domo da Rocha, o templo muçulmano, mas não. Um irmão compartilhando comigo me disse que o lugar está vago. Olhando pela imagem de satélite podemos ver que a área do templo está livre, e se encontra ao lado direito do templo muçulmano, defronte da porta oriental. A referência é a porta oriental que fica do lado oposto do muro das lamentações. Por isso creio que este será o símbolo da falsa paz, onde será autorizada a reconstrução do templo de Israel e onde muçulmanos e judeus irão adorar juntos no monte Moriá. Ambos como descendentes de Abraão e filhos de Isaque e Ismael.

A reconstrução do templo de Israel é um dos sinais mais evidentes da volta de Cristo depois do estabelecimento do estado judeu e da reconquista da terra. Até o ano de 1948 a igreja vivia sem um referencial para a volta de Cristo, mas a partir desta data a volta de Cristo se tornou um dos assuntos mais ensinados pelo Espírito à Igreja. Muitas das profecias bíblicas foram totalmente cumpridas quando Israel retornou para a sua terra, quando Israel voltou a ser nação novamente. Por isso Israel se tornou um referencial para a Igreja de Deus.

Até 1948 a Igreja viveu um tempo meio escuro quanto às profecias sobre a volta de Cristo. Os irmãos do passado pouco tocaram no livro de Apocalipse, e os que fizeram, o fizeram com muitas reservas. Somente no meio do século XIX o irmão Robert Govett compartilhou sobre o Apocalipse e se referiu ao reino. Mas o próprio irmão Spurgeon disse que os escrito de Govett foram de 100 anos além do seu próprio tempo. Os escritos de Govett também influenciaram muito o irmão Watchman Nee. Os estudos sobre o Apocalipse de Watchman Nee têm como base os escritos de Govett. Tanto é assim que quando ele foi abordado sobre publicar os seus estudos sobre o Apocalipse ele disse: - Não é preciso, já foi escrito pelo irmão Govett. Leiam os escritos dele que vocês terão todo o conteúdo que foi compartilhado.

Mas após 1948 as profecias sobre os finais dos tempos foram descortinadas para a Igreja. A partir daí o Espírito tem levantado muitos irmãos a falar sobre os tempos finais. De todas as profecias relacionadas a Israel agora, a mais aguardada pela Igreja é a reconstrução do templo. Quando isto acontecer saberemos que o tempo está muito próximo. Para a Igreja este é um dos principais eventos, por isso o Espírito tem cuidado para que ela esteja ciente e totalmente preparada. A Igreja não será surpreendida na volta de Cristo, mas estará preparada e esperando.

Quando o Senhor fala que virá como um ladrão de noite não está dizendo para aqueles que o esperam, para aqueles que amam a sua vinda, mas para aqueles que estão envolvidos com as coisas desta vida, em amizade com o mundo. Este dia não vai surpreender os que andam na luz: "Porque vós mesmos sabeis muito bem que o dia do Senhor virá como o ladrão de noite; pois que, quando disserem: Há paz e segurança, então lhes sobrevirá repentina destruição, como as dores de parto àquela que está grávida, e de modo nenhum escaparão. Mas vós, irmãos, já não estais em trevas, para que aquele dia vos surpreenda como um ladrão; porque todos vós sois filhos da luz e filhos do dia; nós não somos da noite nem das trevas" I Tessalonicenses 5.2-5.

Este dia não vai surpreender os filhos que andam na luz porque eles estarão desejando a sua vinda, e apressando este dia. O clamor da Igreja, preparada e ataviada junto com o Espírito, está dizendo: Vem amado Jesus (Apoc. 22.17). Todo aquele que anda na luz permanece nEle como ensina o Espírito, e quando Ele se manifestar não ficarão confundidos na sua vinda (I Jo. 2.27-28). Esses são os que verão os acontecimentos e estarão com os seus olhos voltados para cima, esperando a sua redenção (Luc. 21.28); discernindo os tempos (Mt. 16.3).

Por isso a restauração desta porta, da porta oriental é muito importante para Deus. Cada porta está colocada em seu próprio lugar e sequência. Nenhuma é por acaso, e todas como podemos ver tem o seu lugar próprio. Há uma sequência na restauração das portas e do muro de Jerusalém, e elas não são por acaso. O Senhor usa esta sequência na sua restauração. Por ela podemos ver em que ponto estamos da restauração e qual será a próxima fase.

 

A PORTA DE MIFCADE

 

A porta de Mifcade foi a décima e última porta a ser restaurada nos muros de Jerusalém. Em Neemias capítulo 3, no verso 31 diz: "Depois dele reparou Malquias, filho de um ourives, até à casa dos servidores do templo e mercadores, defronte da porta de Mifcade, e até à câmara do canto".

Por graça e misericórdia de Deus chegamos ao fim deste estudo da restauração de Deus, olhando para a última porta do muro de Jerusalém que se chama a porta de Mifcade. Há alguns estudos que falam sobre 12 portas, mas para mim as 10 portas têm melhor relação com a figura do templo que tudo era em número de 10. Mifcade quer dizer guarda, guardião, e esta porta nos revela o Senhor Jesus não como um guarda que cuida contra os ataques do inimigo, mas como um guardião de todos os tesouros de Deus. É como um administrador das riquezas de Deus, mas também é a própria riqueza, porque nele estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento (Col. 2.3). Todas as riquezas o Pai guardou nEle; todas as riquezas Ele fez convergir em Cristo, tanto as que estão nos céus, como as que estão na terra (Ef. 1.10).

A porta de Mifcade nos mostra que Jesus é o guardião das riquezas do reino e da eternidade. Malquias quer dizer 'Jeová é Rei', portanto esta porta nos fala também do reinado de Cristo, como filho de um ourives. Sabemos que o ouro é figura da divindade, das obras de Deus, prata das obras de Cristo e pedras preciosas das obras do Espírito Santo; e que madeira, feno e palha são as obras do homem (I Cor. 3.13). O apóstolo Paulo relaciona isto com o tribunal de Cristo e com o prejuízo e galardão que cada um receberá pela maneira como edificou sobre o fundamento que é Cristo.

Depois que o Senhor entrar pela porta oriental, Ele assumirá o reino por mil anos, e os vencedores reinarão juntamente com Ele. Este reino é o galardão que o Pai deu a Cristo pela sua vitória. O galardão é para os vencedores assentar-se com Ele no seu trono, para reinar juntamente com Ele; e este galardão também está nEle: "E, eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra. Ao que vencer lhe concederei que se assente comigo no meu trono; assim como eu venci, e me assentei com meu Pai no seu trono" Apocalipse 22.12, 3.21.

Filho de um ourives também nos faz lembrar do texto de Ageu, capítulo 2, no verso 8, que diz: "Minha é a prata, e meu é o ouro, disse o Senhor dos Exércitos". Jesus aqui representa este filho de um ourives porque tudo o que Deus faz é de ouro, é divino e eterno. Mas Jesus também foi posto como fogo de ourives e sabão de lavandeiro (Mal 3.2-3), porque no novo céu e na nova terra não entrará lá coisa alguma impura (Apoc. 21.27). Jesus é o que purifica e purificará o homem.

Por isso é que o apóstolo Paulo nos ensina que antes de entrarmos com Ele no seu reino, iremos passar pelo fogo, pelo tribunal de Cristo, e o fogo proverá a obra de cada um. O seu tribunal será o último aspecto da purificação, porque o ouro, a prata e as pedras preciosas, passando pelo fogo ficam mais puros, e se houver alguma impureza ou obra que não seja divina irá se queimar. Por isso é que Paulo diz que se a obra que cada um edificou for de madeira, feno e palha, esse sofrerá prejuízo, e se permanecer receberá galardão (I Cor. 3.13-15).

O tribunal de Cristo não é para julgar eternamente. Esse juízo será estabelecido no final do milênio, e se chamará 'o grande trono branco' (Apoc. 20.11-12), e será para os ímpios. O tribunal de Cristo é para julgar as obras dos santos, o que foi feito no corpo, tanto o bem como o mal (II Cor. 5.10). Este é o julgamento da Casa de Deus que nos fala Pedro (I Pd. 4.17). Os cristãos, os filhos de Deus, não participarão do juízo final, porque foram justificados pela fé na obra redentora de Cristo na cruz, mas todos os filhos irão comparecer diante do tribunal de Cristo.

Qual é o galardão, e qual o detrimento ou prejuízo? A participação ou perda do reinado juntamente com Cristo, no seu reino milenar. Jesus ensinou muitas vezes sobre isto aos seus discípulos, e continua nos ensinando hoje pelo seu Espírito: "Mas eu vos digo que muitos virão do oriente e do ocidente, e assentar-se-ão à mesa com Abraão, e Isaque, e Jacó, no reino dos céus; e os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes" Mateus 8.11-12.

Em seguida, no texto que iniciamos de Neemias 3.31, nos diz que edificou "até à casa dos servidores do templo e mercadores". Que expressão bendita e reveladora o Espírito nos dá aqui para confirmar o que estamos aprendendo do Senhor! Se lembrarmos o que o Senhor disse aos seus discípulos no sermão profético, nos capítulos 24 e 25 de Mateus, sobre a parábola dos dois servos e dos talentos, iremos compreender com mais clareza o que o Senhor deixou escrito aqui.

Nestes dois capítulos Jesus está falando sobre o princípio das dores e o reino. Mateus é o evangelho que revela a Cristo como o Rei, por isso é que Mateus usa a expressão 'reino dos céus', diferente dos outros evangelhos. Ele usa esta expressão para se referir ao reino milenar de Cristo, que é um período dentro do Reino de Deus. O reino de Deus é de eternidade a eternidade (Sal. 90.2), mas o reinado de Cristo, ou dos céus, iniciou com a sua vinda (Mat. 3.2), e foi estabelecido nos filhos de Deus depois da ressurreição (Apoc. 1.6), e culminará depois nos mil anos. Tanto é assim que depois de reinar por mil anos, Jesus irá devolver o reino ao Pai, e se sujeitará àquele que lhe sujeitou todas as coisas (I Cor. 15.24-28).

Podemos notar que dos versos 45 a 51 de Mateus 24, Ele fala dos servidores do templo e dos versos 14 a 30 do capítulo 25, Ele fala dos mercadores. Ali Jesus fala dos servos bons e fiéis e dos maus e infiéis que irão entrar, ou ficar fora do gozo do seu Senhor.  Os servidores do templo são os irmãos que são colocados como mordomos, ou servos para alimentar os conservos, isto é, o povo de Deus. O mantimento da Casa de Deus é a Palavra de Deus; é o pão que desce do céu e que nos serve de alimento (Isa. 55.10). Este é o alimento verdadeiro da Casa do Tesouro, da Casa de Deus que nos fala Malaquias 3.10.

Em Lucas, capítulo 19, no verso 12, o Espírito nos deixa uma expressão preciosa para confirmar que se trata do reino, e que Mateus não fala. Ele diz: "Disse pois: Certo homem nobre partiu para uma terra remota, a fim de tomar para si um reino e voltar depois". Nós sabemos bem quem é este homem nobre, aliás, o único homem nobre que já existiu: Jesus. Ele irá tomar para si um reino, isto é, no tempo determinado o Pai irá lhe dar este reino, e assim que tomar o reino Ele irá voltar. O verso 27 nos ensina que esses não são os seus inimigos, mas os seus servos, os mercadores a quem Ele confiou os seus bens.

Em Lucas capítulo 19 há mais outra expressão esclarecedora. Jesus diz: "sobre dez... sobre cinco cidades terás autoridade". Mateus e Lucas nos ensinam claramente que Jesus fala do reino milenar. Um tempo em que Ele irá reinar sobre toda a terra, e que os seus vencedores irão se assentar com Ele no seu reino, reinando sobre as cidades da terra. Este reinar não será individual, mas dos membros da Igreja, dos membros do Corpo de Cristo em cada cidade. É que o trabalho de edificação do Corpo de Cristo não se faz individualmente, mas coletivamente. A obra para a edificação do Corpo de Cristo não é feita também por um único homem, nem por um único período de tempo, mas por todos os santos em todas as gerações, e isto desde o princípio.

Cada um de nós deve ter a sua parcela na edificação do Corpo de Cristo, e esta Casa de Deus só pode ter materiais como ouro, prata e pedras preciosas. Por isso a Palavra diz que cada um deve ver como edifica sobre Ele (I Cor. 3.10). Isto é representado também na restauração do templo de Israel. Foram necessárias duas gerações e muitos homens para que a restauração fosse completada. Não foram Neemias e Esdras que fizeram sozinhos. Uns restauraram o templo e outros restauraram os muros e as portas. No final, cada um receberá o galardão segundo o seu trabalho (I Cor. 3.8).

Paulo e Pedro também usam uma expressão muito bendita para os servidores do templo, para os irmãos que são colocados na Igreja para dar o sustento para o povo de Deus a seu tempo (Mt. 24.45). Esses irmãos são chamados de ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios e da multiforme graça de Deus (I Cor. 4.1, I Pd. 4.10). São chamados despenseiros porque são como despensas enchidas por Deus para que os seus filhos sejam alimentados. Todos nós temos uma despensa em casa, e Deus também tem as suas despensas em sua Casa. Em nossa casa às vezes podemos achá-la vazia, mas as de Deus estão sempre cheias de todo tipo de alimento. As despensas de Deus, ou os seus despenseiros, sempre estarão cheios da Palavra para que o povo de Deus também fique cheio do conhecimento da sua vontade, em toda sabedoria e entendimento espiritual (Col. 1.9).

Por isso Jesus exorta em Mateus 24, nos versos 45 a 51, aos servidores do templo que sejam achados fiéis naquele dia. No tribunal de Cristo Ele irá julgar a obra de cada um. Se o despenseiro foi achado fiel, e os conservos não o ouviram, ele será julgado fiel, e os conservos irão sofrer o prejuízo. Mas se o servo for infiel, e começar a espancar os seus conservos, e a comer e beber com os ébrios, então este servo será cortado ao meio, e a sua parte será dada com os infiéis e hipócritas (ver também Lucas 12.42-48). Já os conservos que não ouviram sofrerão poucos açoites.

Os mercadores são aqueles aos quais o Senhor entregou todos os seus bens. Os despenseiros aperfeiçoam os santos, mas quem faz a obra de edificação do Corpo de Cristo são os santos, são os que Jesus chama de seus mercadores. A uns ele deu 5 talentos, a outros 2 e a outros apenas 1, segundo a capacidade de cada um (Mt. 25.15). Segundo a capacidade de cada um porque Jesus sabe que há membros fortes e membros fracos. Ele sendo justo não requereria de um membro fraco que lhe devolvesse acima da sua capacidade. Por isso é que Ele só requererá o que for dado a cada um. Ao que foi dado muito, Ele requererá muito, e ao que foi dado pouco, lhe requererá pouco (Luc. 12.48).

Nesta expressão 'servos do templo e mercadores' estão englobados todos os cristãos. Se um filho de Deus não é um despenseiro, ele é um mercador. Se o Senhor não te deixou como um mordomo para alimentar os filhos de Deus, ele te colocou como um mercador de todos os seus bens. Uns alimentam e os outros negociam. Não um negócio para este mundo, mas para que as riquezas insondáveis de Cristo sejam manifestadas a todos, ou como nos ensina o texto de Efésios, capítulo 4, no verso 13: "Até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo".

Por isso a porta de Mifcade também tem relação com a Igreja do Senhor, e não somente com o Senhor. Aliás, todas as portas têm relação com a Igreja, e com a restauração de Deus, do seu testemunho através da Sua Igreja. Porque não só Jesus é o que guarda essas riquezas, mas a Igreja também a contém e a guarda. O Pai confiou a Jesus a chave de Davi, e Ele confiou à Igreja as chaves do reino. A chave do reino é a chave de Davi, porque tudo que se relaciona a Davi tem relação com um rei e com um reino (Isa. 55.3). Chave que abre e ninguém fecha, e fecha e ninguém abre (Apoc. 3.7, Isa. 22.22). Por isso Ele disse: "Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu" Mateus 18.18.

O texto de Apocalipse 3, no verso 7, fala da chave de Davi, e sabemos a quem o Senhor confiou esta chave. Ele é este fiel depositário das riquezas de Deus. É nEle que estão guardados todos os tesouros. O Senhor usa esta expressão 'a chave de Davi' porque se refere aos administradores que Davi confiou as chaves de tudo o que tinha preparado para Salomão fazer o templo do Senhor. Tudo o que Davi tinha preparado, tanto materiais como ouro, prata, bronze foram confiados a eles. Davi é uma figura de Cristo, e os tesouros que Davi tinha reservado é uma figura do tesouro em Cristo que o Pai depositou nEle. Lembrando que tudo o que foi preparado por Davi era para a Casa de Deus, para serem colocadas na Casa de Deus.

No texto de Isaías 22, dos versos 15 a 25 mostra dois desses administradores do rei Ezequias que se chamavam Sebna e Hilquias. Hilquias era mordomo e Sebna escrivão do rei (II Reis 18.18). A eles foram confiadas as riquezas do rei e do templo, e Hilquias foi considerado fiel e Sebna infiel. Um a figura de Cristo e o outro a figura de Adão. Do primeiro e do segundo homem em quem estavam depositados todos os propósitos eternos de Deus. Por isso tudo agora está confiado somente a Cristo e Cristo agora a tem depositado na Igreja. No caso de Adão, o maior foi abençoado pelo menor, isto é, Adão no fim também foi abençoado em Cristo. 

Esta chave foi colocada nas mãos do Senhor, mas antes de partir Ele deu à Igreja que guardasse essa chave e este tesouro. Este tesouro agora foi depositado em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não da nossa parte (II Cor. 4.7). Somente a Igreja contém esta chave e este tesouro e mais ninguém; as riquezas incompreensíveis de Cristo. E como Paulo pelo Espírito diz, a igreja é a única que pode dispensar este mistério que esteve oculto desde os séculos em Deus, que tudo criou por meio de Jesus Cristo, para que agora, por ela, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus (Ef. 3.8-10).

É verdade que até tudo ser restaurado haverá muita luta como foi com o templo de Israel, mas o Senhor cumprirá todo o seu intento, como foi cumprido aquele. Lembrando o texto de Atos, capítulo 3, o verso 21, diz que o céu conterá a Jesus, até a restauração de todas as coisas. Em Neemias vemos que foram 46 anos até que tudo foi restaurado, com muitas interrupções por parte dos inimigos. Mas depois que tudo foi terminado, os inimigos temeram, e se sentiram humilhados: "E sucedeu que, ouvindo-o todos os nossos inimigos, todos os povos que havia em redor de nós temeram, e abateram-se muito a seus próprios olhos; porque reconheceram que o nosso Deus fizera esta obra" Neemias 6.16.

Assim será também com Satanás e os seus anjos. Hoje todo o combate de Satanás é contra a Igreja de Deus. Primeiro contra a salvação dos homens, para que não lhes resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus (II Cor. 4.4). Depois que alguém é salvo, que é tirado do seu império de trevas, e transportado para o reino do seu Filho amado, então ele combate para que estes não cresçam, e que o testemunho do Senhor não seja restaurado. Sabemos das lutas, mas também já conhecemos Aquele em quem está toda a vitória e em quem somos mais do que vencedores. Creio que as lutas só existem para que aconteçam as festas. Caso não houvesse lutas não haveria vitória e pelas vitórias as festas. Por isso cada batalha terá uma vitória, e cada vitória terá uma festa. Aleluia! 

Como aqueles foram chamados a restaurar, hoje também somos chamados para restaurar o testemunho do Senhor. Não na nossa capacidade, porque temos que ver como aqueles, que viram que os inimigos eram mais numerosos e fortes que eles. Mas como eles, podemos dizer que o nosso Deus é quem fará esta obra. Que o Senhor fortalecerá as nossas mãos (Nee. 6.9). É uma grande obra (Nee. 6.3), mas esta é uma obra de Deus e não nossa. Uma obra que não temos capacidade nem de pensar alguma coisa por nós mesmos, mas que toda a suficiência vem dEle (II Cor. 3.5-6).

Não é uma obra para os tímidos e medrosos como no caso dos 22 mil que retornaram para as suas casas na batalha de Gideão contra os midianitas (Juízes 6). Também não é uma obra para os 9.700 homens que eram fortes e capazes. Essa é uma obra para aqueles trezentos que não eram tímidos nem medrosos, nem se achavam fortes e capazes. Eles eram homens que confiavam no seu Deus, e estavam dispostos a servi-lo.

Mas não podemos nos esquecer que como no caso de Gideão, e no caso da restauração do templo de Israel, Deus usou alguns homens, mas o seu propósito era para todo o povo. A vitória de alguns se tornou a vitória de todo o povo. Por isso que em Mateus capítulo 20, dos versos 1 a 16, Jesus conta uma parábola para mostrar como é o reino dos céus. Alguns trabalhadores foram ajustados na primeira hora, outros a terceira hora, outros a sexta, e por último alguns à última hora. E todos receberam a mesma paga, o mesmo salário. E depois de ter feito tudo, consideremo-nos servos inúteis, porque fizemos só o que devíamos fazer (Luc. 17.10).

 

CONCLUSÃO

 

A restauração é algo muito precioso que o Senhor tem trazido à Igreja, porque ela nos mostra todo o plano de Deus, todo o seu projeto em Cristo. O que Ele deixou em figuras no passado, hoje é uma realidade para nós. Por um lado é muito precioso, mas por outro nos traz muito temor. Porque se o que era figura o Senhor vingou toda desobediência, como escaparemos nós se negligenciarmos tão grande salvação? Eles virão de longe, não alcançando as promessas, mas Deus proveu uma coisa melhor para nós, para que eles sem nós não fossem aperfeiçoados (Heb. 11.40).

Paulo vendo a queda do povo de Deus escreve a Timóteo: "Lembra-te de que Jesus Cristo, que é da descendência de Davi, ressuscitou dentre os mortos..." II Timóteo 2.8. Paulo lembrava a seu amado irmão Timóteo que não esquecesse que Jesus Cristo é da descendência de Davi, isto é, que Ele é o descendente a quem Deus fez as promessas e deu o reino, o trono de Davi. E que por Deus o ter ressuscitado dentre os mortos, no dia determinado essa promessa irá se cumprir, é só uma questão de tempo.

Este lembrete de Paulo a Timóteo também é uma exortação para nós; que Jesus Cristo ressuscitou dentre os mortos e está assentado à destra da majestade nas alturas, e que virá em breve possuir por herança o reino que está preparado para Ele e para os benditos do Pai desde a fundação do mundo (Mt. 25.34). Um reino que Ele também prometeu para os que o amam (Tg. 2.5). E Paulo ainda completa: "Palavra fiel é esta: que, se morrermos com ele, também com ele viveremos; se perseverarmos, também com ele reinaremos; se o negarmos, também ele nos negará; se formos infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo" II Timóteo 2.11.

Aquele que perseverar até o fim com Ele reinará. O escritor de Hebreus também nos exorta e nos estimula a perseverarmos quando diz: "Temamos, pois, que, porventura, deixada a promessa de entrar no seu repouso, pareça que algum de vós fica para trás. Porque também a nós foram pregadas as boas novas, como a eles, mas a palavra da pregação nada lhes aproveitou, porquanto não estava misturada com a fé naqueles que a ouviram" Hebreus 4.1-2. Aqueles que não ouviram não entrarão no seu descanso, um descanso sabático que resta para o povo de Deus (v.9).

No capítulo 12, no verso 28 ele completa: "Por isso, tendo recebido um reino que não pode ser abalado, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus agradavelmente, com reverência e piedade". Portanto não é um reino que temos que alcançar, mas que já temos por Cristo. A exortação do Espírito é para permanecermos nEle (Jo. 15.6) para que alcancemos o fim da nossa fé, a salvação das nossas almas (I Pd. 1.9).

Creio que o nosso propósito se cumpriu, em levar para a Igreja algum orvalho fresco sobre a restauração de Deus. Compartilhamos à medida que temos recebido do Espírito de Deus, comparando coisas espirituais; a irmãos que são espirituais. Sabemos que a revelação para a Sua Igreja é muito maior. E se há algo diverso aqui, espero que os irmãos me suportem e esperem que o Senhor nos revelará.

Porque dEle provém tudo, e é por Ele que algo se torna realidade, e no fim tudo é para Ele. Glória, pois a Ele eternamente. Amém. Ninguém que olhar para Ele firmemente ficará confundido. Que o amor do Pai, a graça de nosso Senhor Jesus Cristo e a comunhão do Espírito Santo seja com todos. Amém. 

 

 

Edward Burke Junior

Londrina-PR – Ago/09

 

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