A RESTAURAÇÃO DE DEUS - PARTE XI

O MURO COM AS SUAS PORTAS

 

Vimos anteriormente à restauração do testemunho do Senhor no que diz respeito ao ministério sacerdotal de Cristo através dos filhos de Deus, dos sacerdotes reais. Continuando pela Palavra de Deus vemos que o passo seguinte da restauração é o muro e as portas da cidade de Jerusalém. No tabernáculo havia uma porta apenas de entrada, como no templo também, mas o templo estava na cidade de Jerusalém e a cidade tinha um muro que a cercava com 10 portas de entrada e saída.

Como já citamos anteriormente, o que no tabernáculo era 1, no templo era 10. O tabernáculo como a figura da Igreja do Senhor neste tempo, cheio de rugas e manchas, e o templo e a cidade a figura da Igreja gloriosa. Mas o tabernáculo e o templo também tinham outra figura, a peregrinação e a habitação do Senhor. Como disse a Davi quando este quis fazer uma casa para Ele, que Ele peregrinava com o povo, pois habitava em tendas e em tabernáculos (II Sam. 7.6), mas depois em Jerusalém ele encontrou um lugar para sua habitação (Dt. 12.5, Sal. 132.13). Assim também foi com o Senhor Jesus, que peregrinou no tabernáculo do seu corpo, e não tinha lugar para recostar a cabeça (Mt 8.20), mas agora Ele encontrou lugar, em sua Jerusalém Celestial, a Igreja.

No tabernáculo havia uma separação feita por cortinas. Elas separavam o tabernáculo do lado externo, do arraial. Em Jerusalém também havia um muro que separava a cidade do resto do mundo. O muro é uma figura de separação das coisas que são de Deus, das que são dos homens; das que são celestiais com as que são deste mundo. Ele é o muro de separação, com o fim de separar o que é santo do que é profano (Ez. 42.20). A cidade com o seu muro, como figura da Igreja, nos mostram que para Deus a Igreja é santa, e mesmo que parte dela esteja neste mundo, é separada para Deus.

Mas como vimos também anteriormente, o tabernáculo tem a figura das três partes que compõe o homem: corpo, alma e espírito. Mas o que está fora tem relação com o mundo, que também tem três coisas: a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida (I Jo. 2.16). Como vamos ver cada porta restaurada tem como finalidade estabelecer a Cristo, o testemunho a ser restaurado. O muro e as portas neste sentido são para separar o vil do precioso, o que é do homem em relação ao mundo, do que é de Cristo em relação a Deus. Separar o que é vaidade, do que é a verdade; as coisas vis da preciosidade.

A restauração do muro e das portas da cidade nos mostra claramente todo processo de Deus hoje com a sua Igreja, que é santificar a Cristo como Senhor e cabeça do Corpo da Igreja e de convergir, centralizar tudo nEle. Como vamos ver na restauração das portas da cidade de Jerusalém, todas elas representam Cristo a ser restaurado, e algo de Cristo para ser levado ao mundo. Também aquilo que não é de Cristo ser tirado do meio da Igreja. É o Cristo que devemos levar ao mundo, aos homens pecadores, e aquilo que não é de Cristo tem que ser despojado de nós, dos membros da Igreja. Levar a boa notícia, e santificar-se. Estar e ser enviado ao mundo, mas continuar separado do mundo (Jo. 17.18-19).

Esta é a função do muro de separação, que tudo o que provenha de Deus seja de dentro para fora, não de fora para dentro. O que é santo e que está dentro do muro de separação deve ser levado para fora, para as gentes, mas o que está fora e que pertence ao mundo deve ficar fora, e tudo que ainda pertence ao mundo também deve ser retirado para fora. O mundo é a figura do velho homem, e a Igreja o novo homem. A Igreja deve ser despojada do velho e revestida do novo. A Igreja está sendo revestida de tudo o que é de Cristo, e tudo o que não é dEle deve ser despojado; toda mancha e toda ruga será retirada.

Mas Deus tem outro propósito também na restauração do muro e das portas que é proteger o seu povo dos ataques do inimigo, porque há um inimigo feroz andando ao derredor (I Pd. 5.9). Mas o propósito principal de Deus quanto à restauração do testemunho do Senhor no que diz respeito ao muro não é barrar o inimigo, mas a edificação da Igreja através do seu Filho. A restauração é uma edificação, e a edificação é que vai servir automaticamente de proteção.

À partir do momento que começamos a edificar sobre Ele, a própria edificação nos guarda do inimigo. É a mesma coisa que nos diz Tiago capítulo 4, no verso 7: "Sujeitai-vos, pois, a Deus e resisti ao diabo e ele fugirá de vós". Não é para resistir ao diabo, mas para nos sujeitarmos a Deus. Sujeitando-nos a Deus estaremos automaticamente resistindo ao diabo. Os nossos olhos têm que estar postos em Cristo e não no inimigo.

Sim, porque este é todo o trabalho da Igreja: edificação e batalha espiritual. Mas a batalha é para edificação. O livro de Neemias nos ensina isto com muita clareza na reconstrução do muro e na restauração das portas. Enquanto eles restauravam o muro os inimigos se levantaram ferozmente. Por um tempo foram impedidos, mas em seguida retomaram a obra e terminaram. Com uma mão seguravam a pá e com a outra a espada (Nee. 4.17). Mas quando eles terminaram os inimigos temeram, porque souberam que Deus é quem fez a obra (Nee. 6.16).

O Senhor Jesus também nos ensina sobre esta edificação e luta em Lucas no capítulo 14, nos versos 27 a 33. Nesses versículos Ele nos fala da construção de uma torre e da batalha dos reis. Jesus quando falou sobre isto estava falando aos que querem ser discípulos, aos que perdem a sua vida, àqueles que tomam a sua cruz e o segue. O Senhor não pode edificar e batalhar com aqueles que amam a sua vida ou buscam os seus próprios interesses.

O apóstolo Paulo também faz uma relação semelhante desta edificação e batalha com a vida de um fiel cristão no capítulo 2 de II Timóteo, nos versos 3 a 6. Ali ele fala de um soldado, um atleta e um lavrador. Não há folga para o verdadeiro cristão. Ou ele está batalhando, ou correndo ou cooperando na lavoura de Deus. Preparo, capacitação, batalha espiritual e edificação. Somente um cristão que se nega a si mesmo, toma cada dia a sua cruz e o segue pode ser um bom soldado de Cristo; um soldado que não se envolve com as coisas dessa vida. Que tem o seu coração separado das coisas deste mundo.

Isto mesmo, a separação começa primeiro em nós. Primeiro o Senhor nos separando, nos chamando para Ele, depois nos usa para cooperar na restauração do seu testemunho. Primeiro nos torna embaixadores, depois nos põe em uma embaixada. A Igreja é esta embaixada, uma área celestial neste mundo, um lugar santo e separado. Ali, como nas embaixadas humanas, é um território estrangeiro. Nem mesmo o governo do local tem autoridade sobre aquela área. Assim também é com a Igreja. Ainda que estejamos no terreno do inimigo, pois o mundo jaz nele, ele não tem autoridade sobre esta área. As portas do inferno não prevalecem sobre ela (Mt. 16.18). O maligno não nos toca (I Jo. 5.19).

A Igreja com o seu muro e suas portas nos mostram também que há uma separação de reinos: o reino de Deus e os reinos deste mundo. O império das trevas e o reino do Filho do seu amor (Col. 1.13). Mas é precioso notarmos que há um só Rei; o outro é chamado de príncipe, de príncipe deste mundo. Ele não é rei deste mundo, porque há um só Rei e Senhor de tudo. Este mesmo Rei é quem julgou este príncipe e o venceu na cruz (Jo. 12.31).

Hoje, mesmo que tenhamos uma batalha, entramos nela na base da vitória que Cristo consumou. Em todas essas coisas já somos mais do que vencedores. O Senhor não nos faz entrar numa batalha para perder, mas para gozarmos em nós mesmos da vitória que Cristo alcançou por nós. A batalha como podemos ver em Juízes capítulo 3, nos versos 1 e 2, é para nos exercitar na guerra, é para edificação. É para nos manter exercitados, diligentes, vigilantes como também conhecer o Senhor dos Exércitos; conhecer o nosso general que vai adiante e que batalha por nós; que nos conduz à vitória (II Cron. 20.17).

O livro de Efésios também fala desta edificação da Igreja e da batalha espiritual. Primeiro o Senhor nos fala do que fez por nós, onde nos colocou: assentados nos lugares celestiais juntamente com Cristo, com todos os inimigos debaixo dos seus pés (Ef. 2.6, 1.22). Depois fala que derramou os seus dons segundo a sua graça para capacitar e equipar os seus santos para a edificação do seu Corpo (Ef. 4.10-13). E por último nos deu uma armadura para a batalha (Ef. 6.11). Ele nos capacita, nos equipa para a edificação, e nos fortalece para a batalha (Ef. 6.10).

Por isso a edificação está ligada à batalha, porque a batalha reforça a edificação. O inimigo não foi deixado por Deus para nos vencer, mas para nos ajudar na edificação. Se não compreendermos isto, o inimigo servirá só de impedimento, e será mesmo, a ponto de fazer parar a obra como podemos ver em Esdras e Neemias por 17 anos. Podemos notar isto desde o princípio. O inimigo é citado a primeira vez no Éden, e por último no final, quando toda a obra de Deus se completar com o homem. Quando Deus findar sua obra com o homem, o inimigo será lançado no lago de fogo (Apoc. 21.7-10), porque não haverá mais necessidade de edificação.

Voltando ao texto de Juízes 3 que vimos acima, quem deixou aqueles inimigos? O próprio Deus. Mas com que propósito? Os novos que não sabiam guerrear aprendesse a guerra.  Sem batalha não há edificação. João em sua primeira carta, no capítulo 2, no verso 13, fala deste crescimento na vida cristã. O filhinho está debaixo do cuidado do Pai, os jovens são colocados a batalhar, e os pais para suprirem com a sua maturidade espiritual os filhinhos e os jovens. Os pais já foram jovens e os jovens já foram filhinhos, mas agora como jovens venceram o maligno. Batalharam e cresceram espiritualmente. Aleluia!

Quando pensamos só em nossas lutas individuais, isto nos mostra que ainda somos filhinhos, que ainda estamos debaixo do cuidado do Pai, e inaptos para as batalhas que são dEle. É como alguém que não tem idade ainda para ser um soldado de Cristo. O soldado de Cristo não é para pelejar as suas próprias pelejas, mas foi alistado para as batalhas de Cristo, para agradar a Ele (II Tim. 2.4). Como Davi, não somos chamados para pelejar as nossas próprias batalhas, mas as batalhas de Deus. Quando é que o Senhor será vencido se batalharmos as suas batalhas? Nunca. Louvado seja o seu Santo Nome (Nee 4.14, 20). Nesta batalha um discípulo persegue a mil, porque é o Senhor quem batalha por ele (Jos. 23.10).

Nesta batalha, as armas da nossa milícia não são carnais, mas poderosas em Deus (II Cor. 10.4). Toda nossa vitória está na palavra de Deus, se ela estiver em nós (I Jo. 2.14). Não como letra, mas como vida. Se formos apresentar a letra o inimigo terá muito mais argumentos que nós. Não é a letra, mas o Espírito que é vida. Nós o vencemos nas batalhas aqui neste mundo pela Palavra que está em nós, que é o testemunho de Cristo, e diante do trono de Deus, nas acusações do diabo, pelo Seu sangue (Apoc. 12.11).  O nosso Pastor já preparou para nós antes de toda batalha uma mesa perante os nossos inimigos (Sal. 23.5).

Lembrando novamente o que já dissemos, como diz este texto de Apocalipse capítulo 12, no verso 11, eles não amaram a sua vida até a morte. Quem é que não ama a sua vida? Aquele que a odeia. Se a amarmos vamos perdê-la, mas se a perdermos vamos ganhá-la para a vida eterna. Este é o caminho da cruz, da morte do eu, da nossa carne. E então se cumpre a edificação pela batalha: o vil se torna precioso, o profano se torna santo, o que é carnal se torna espiritual, e o que é do mundo se torna celestial.

As batalhas de Deus para edificação são coletivas e não individuais. A armadura de Deus não cabe num homem, pois é muito grande. Não é um homem agora que batalha, mas um Corpo. Mas o resultado além de ser coletivo é também individual. Não são as batalhas individuais que vão trazer edificação coletiva, mas a batalha coletiva, do Corpo, da Igreja de Deus é que irá trazer também o resultado individual.

O muro é Cristo, e as portas também são, pois Ele é a nossa santificação, como também o nosso escudo e segurança. Não é nós que nos separamos, que construímos um muro, mas Ele mesmo em nós que nos faz separado do mundo. Ele é o testemunho de Deus a ser restaurado.

Conhecendo a Ele somos libertos, somos santificados, somos transformados de glória em glória pelo seu Espírito; conformados à sua imagem. Ele também é a nossa armadura, o guarda de Israel, o Senhor que batalha por nós e que já venceu o inimigo. Verdadeiramente temos uma cidade forte, porque Cristo é o nosso muro e o nosso antemuro, a nossa salvação (Isa. 26.1). Continua... 

 

Obs: Amados irmãos, não deixem de ler os versículos acima citados entre parêntesis, porque eles são a parte mais importante desta meditação. Não é o texto escrito que tem valor, mas a Palavra de Deus. Ela é que é viva e eficaz. O texto é como Esdras fez, para dar sentido ao que estamos falando. O sentido é nosso, mas a Palavra é de Deus. Amém.

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