A RESTAURAÇÃO DE DEUS - PARTE XVI

A PORTA DO MONTURO

 

A porta do monturo foi a quinta porta a ser restaurada nos muros de Jerusalém. Em Neemias capítulo 3, no verso 14 diz: "E a porta do monturo reparou-a Malquias, filho de Recabe, líder do distrito de Bete-Haquerem; este a edificou, e lhe levantou as portas com as suas fechaduras e os seus ferrolhos".

A porta do monturo é a porta pela qual o lixo que era produzido dentro dos muros era jogado para fora. O Senhor não se engana conosco, pois ele conhece a nossa realidade, mesmo já estando em Cristo e sendo uma nova criatura. Nós ainda estamos num processo de salvação, isto é, estamos sendo conformados à imagem do seu Filho. Após a regeneração ainda é necessário uma obra de santificação. Todo esse processo de Deus é para que cheguemos à estatura de varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo (Ef. 4.13).

Malquias quer dizer 'Jeová é Rei'. Jesus nos fez reino e sacerdotes para Deus (Apoc. 1.6). Reino é o lugar onde um rei reina. O Senhor reina, e Ele reina em nós, porque o reino de Deus está dentro de nós (Luc. 17.20-21). O nome Malquias nos ensina que esta obra de despojamento, de tirar o lixo do meio do seu povo, de santificar o seu povo é obra dEle; faz parte do seu Reino em nós. Talvez seja por isso que somente Malquias foi citado para restaurar esta porta. Somente Ele pode fazer.

Bete-Haquerem era um distrito onde Malquias habitava e era líder, e quer dizer 'Casa da Vinha'. O Senhor nos considera a sua Casa e a sua vinha, uma vinha de excelente vide, que é o próprio Senhor Jesus (Jo. 15.1-2). O que Israel não produziu ao Senhor (Isa. 5.1-4), Jesus agora, como a videira excelente e nós como as suas varas, damos por Ele o fruto para Deus. E não somente isto, porque o propósito de Deus de plantar uma vinha é lhe dar o bom vinho, isto é, ter alegria, gozo e ser glorificado no seu povo (Jo. 15.8). Mas para se obter o vinho é necessário esmagar a uva no lagar, depois colocá-la num lugar para que a casca, a borra, a sujeira separe do suco.

Depois vem a segunda parte de fermentação lenta onde o vinho é colocado em outros recipientes para no final retirar o restante da borra que fica no fundo. Depois de retirada toda a sujeira vem mais um período para a maturação. Por isso a Igreja também é chamada de 'Casa da Vinha'. Para se obter o bom vinho é necessário retirar todo o restolho, tudo o que não pertence ao bom vinho. Toda a parte sólida é retirada, da mesma forma que o lixo é retirado para fora pela porta do monturo. Esta é a obra de santificação.

Em Levítico, capítulo 23, o Senhor fala das festas. Estas festas eram figuras, sombras da Pessoa de Cristo. Primeiro ela fala da festa da Páscoa, que representa a obra sacrificial de Cristo a qual todos nós fomos incluídos na sua morte e ressurreição. Tem o lado substitutivo do Cordeiro sendo morto em nosso lugar, mas também há o lado identificativo, porque eles comeram da carne do cordeiro e passaram o sangue nas vergas das portas. Por isso Jesus disse: "Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele" João 6.54-56.

Somente saber que Ele morreu por nós não é suficiente, porque há o lado identificativo que morremos e ressuscitamos juntamente com Ele. Por isso Jesus disse que temos que comer a sua carne e beber o seu sangue. Na páscoa dos judeus, e páscoa quer dizer 'libertação', eles não fizeram um sacrifício, mas comeram a carne do cordeiro, e comeram tudo. Comer a sua carne e beber o seu sangue é crer que fomos incluídos, que participamos da sua morte e ressurreição. O sacrifício de Cristo se tornou algo orgânico para nós, pois Ele agora vive em nós (Gal. 2.20).

Mas depois de comermos a sua carne e bebermos o seu sangue, Paulo diz: "Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós. Por isso façamos a festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da maldade e da malícia, mas com os ázimos da sinceridade e da verdade" I Coríntios 5.7-8.

Paulo está dizendo que a obra em Cristo está consumada, e que agora a nossa festa deve ser com pães ázimos, pães sem fermento, que é a festa seguinte à páscoa em Levítico 23. Porque como Igreja somos um só pão, e este pão deve ser sem fermento. Mas Deus não se engana, por isso na festa dos movimentos ele manda fazer dois pães, um com fermento e o outro sem fermento (v.17). O pão sem fermento é Cristo e o pão com fermento somos nós, a Sua Igreja, que ainda necessita ser santificada, purificada pela Palavra.

Por isso é necessário a porta do monturo, e a restauração dela. Mas podemos pensar: - As portas não são Cristo, como Cristo pode ser uma porta de lixo? É que Cristo foi feito para nós também santificação (I Cor. 1.30). A santificação, ou ficar cada vez mais santo é uma Pessoa e não uma obra à parte dEle. O sacrifício de Cristo nos santificou de uma vez para sempre, mas agora a Sua palavra vem vivificar a sua Palavra em nós (Jo. 17.17). O que é santo tem que ser santificado ainda (Apoc. 22.11), e esta santificação é conhecimento e crescimento nEle, e isto pela sua Palavra. Somos santificados pela verdade em Jesus (Ef. 4.21). 

É por Cristo que somos santificados e purificados, e Ele faz isto pela lavagem da água pela Palavra, a fim de apresentar a si mesmo uma Igreja gloriosa, sem mácula nem ruga, mas santa e irrepreensível (Ef. 5.26-27). Em Cristo somos salvos, pois ele é a porta das ovelhas, e em Cristo somos santificados, porque Ele é a porta do monturo. João Batista disse: "É necessário que ele cresça e eu diminua" João 3.30. João Batista não disse que ele precisava diminuir para Cristo crescer, mas que Cristo cresça, e Cristo crescendo automaticamente nós iremos diminuir. Santificação não é obra nossa, mas dEle.

Assim é também com a Igreja. Sim, porque o despojamento das coisas do velho homem é coletivo. O tratamento de Deus é individual, mas o despojamento e o revestimento é coletivo. Se percebermos o texto abaixo, vamos notar que ele está em Efésios, e este livro fala do mistério de Cristo: a Igreja. E para que isto aconteça é necessário que a nossa mente seja renovada; tem que haver uma renovação no espírito do nosso entendimento: "Que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano; e vos renoveis no espírito da vossa mente; e vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade" Efésios 4.22-24. O lixo que produzimos para dentro do muro é coletivo, por isso o despojar está no plural (vos), e não no singular.

A porta do monturo é conhecimento de Cristo no despojar das coisas do velho. Esta porta faz parte da edificação e tem trancas e ferrolhos também na parte de dentro, porque não é para o lixo entrar, somente sair. Por Cristo não entra nada que não seja santo. O testemunho disso é o que Deus nos ensina em Efésios 1.22-23 e Hebreus 2.8. Em Efésios diz que todas as coisas estão sujeitas debaixo dos seus pés. Em Cristo esta obra está completa, está consumada. Não há mais nada a ser feito em Cristo, mas em Hebreus diz que ainda não vemos todas as coisas sujeitas a Ele. O que ainda não está sujeito a Ele é o que ainda falta completar em nós. E o que ainda é nosso é o lixo, a casca, a borra, o restolho do velho homem que tem que ser retirado. 

Em Cristo tudo está consumado, mas em nós esta obra ainda não foi completada. Ainda não alcançamos tudo aquilo que Cristo alcançou por nós na sua morte e ressurreição. Ainda não chegamos à perfeição, nem mesmo à ressurreição dos mortos (Fil. 3). Por isso é necessário a porta do monturo. Tudo o que é do velho homem tem que ser despojado; não por nós mesmos, mas por Cristo, por aquele que reina. É no conhecimento dEle que somos revestidos do novo, e sendo revestidos do novo, o velho automaticamente sai, é lançado fora pela porta do monturo, pelo próprio Cristo. Uma vez que revestimos do novo o velho é lançado fora.

Mas para que consideremos as nossas coisas como lixo é necessário que elas emitam mau cheiro. Nós não temos como discernir os nossos próprios erros, o Senhor tem que expurgar os que nos são ocultos (Sal. 19.12). O expurgo é o lixo, mas não podemos nos esquecer que todos nós produzimos lixo. Ninguém que viva dentro dos muros, no viver com a Igreja, consegue viver sem produzir lixo. Ainda que alguns cheguem a uma maturidade, o Senhor não vê o lixo de forma individual, mas coletiva. Por isso o Senhor nos ensina que temos que ter cuidado uns dos outros. Ainda falta que os pés sejam lavados, e não podemos lavar os nossos próprios pés, mas os pés uns dos outros.

Para Deus não há lixo reciclável. O Senhor não faz reforma em nós, não põe vinho novo em odre velho. Tudo o que é do velho deve ser despojado. Tudo o que é do velho tem que ser lançado para fora e temos que nos revestir de tudo o que é do novo. Aquele que está em Cristo é uma nova criatura, as coisas velhas já passaram, eis que tudo, absolutamente tudo se fez novo por Deus (II Cor. 5.17). Tudo o que não é do novo depois será lançado num fogo eterno; será incinerado eternamente. Neste caso o fogo não será para purificação, porque o cheiro será de enxofre.

Após a regeneração, que aqui é representado pela porta das ovelhas, o Senhor nos leva a anunciar o evangelho. Depois nos ensina a Sua Palavra, nos enche dela, e então nos leva à prática da Palavra. Então começa a obra de santificação, do despojar das coisas do velho e o revestimento do novo homem. O propósito é para que nós sejamos cheios do Espírito, que é a porta da fonte, que veremos a seguir. O Espírito é santo, por isso não pode haver mistura do santo com o profano. O que é profano tem que ser retirado, posto para fora, porque esta é a função dos muros e das portas, separar o santo do profano.

Muitos de nós queremos logo o enchimento do Espírito. O desejo de toda a Igreja é que o Espírito tenha livre acesso e manifeste em nós de forma abundante a sua graça, mas isto não acontecerá enquanto estivermos cheios de nós mesmos, cheios das coisas do velho homem. Primeiro o Senhor tem que nos limpar, nos purificar de toda a injustiça, para que depois possa derramar o seu Espírito de forma abundante. Na Casa de Deus não pode haver cheiro de incenso e cheiro de lixo, o bom perfume de Cristo e o mau cheiro de Adão. Nem suor pode haver em sua Casa!

Não podemos mais entristecer o Espírito, antes devemos ter os nossos corações purificados da má consciência e o corpo lavado com água limpa,  e assim o Espírito poderá derramar o seu óleo precioso que desce do cabeça, e que vai até a orla dos vestidos. Continua...

 

Obs: Amados irmãos, não deixem de ler os versículos acima citados entre parêntesis, porque eles são a parte mais importante desta meditação. Não é o texto escrito que tem valor, mas a Palavra de Deus. Ela é que é viva e eficaz. O texto é como Esdras fez, para dar sentido ao que estamos falando. O sentido é nosso, mas a Palavra é de Deus. Amém.

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